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FRANCISCO RIBEIRO TELLES, EMBAIXADOR COORDENADOR PARA AS COMEMORAÇÕES DO BICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL: UM PROCESSO SINGULAR
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ste ano comemora-se o segundo centenário da Independência do Brasil. Na sua origem, esteve um acontecimento excecional e único, pela sua audácia e amplitude: o abandono do familiar território europeu, berço da nacionalidade e situado no continente-sede do poder internacional da época, em favor de uma periférica colónia tropical, situada no outro lado do Atlântico, por parte de milhares de pessoas que representavam a quase totalidade das instituições do governo, da cultura e da nobreza portuguesas. O Rei de Portugal tornou-se único monarca europeu a residir no Novo Mundo e soube, com habilidade política, responder aos desafios que abalaram o reino: a invasão de Napoleão, os interesses dos aliados britânicos no Brasil, os revolucionários liberais em Portugal e o separatismo dos súditos 30
brasileiros. Pouco tempo depois da mudança da família real para o Brasil, a colónia era elevada à condição de parte Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves, no que constituiu uma experiência inovadora, num mundo em que ainda não se falava de parcerias estratégicas. Foi um dos impérios mais vastos do mundo, juntando territórios nos quatro continentes e que deixou marcas indeléveis nos destinos dos dois países. Também a unidade territorial da América portuguesa após o ocaso do sistema colonial, em contraste com a fragmentação ocorrida na América espanhola, conferiu à independência do Brasil um caráter de absoluta originalidade, alicerçado na
consolidação de um idioma comum. Hoje, o português é uma das línguas mais dinâmicas do mundo e a sua relevância geopolítica e económica é inquestionável. A contribuição do Brasil para esta riqueza é inestimável, sendo que quase 4/5 dos atuais falantes da língua portuguesa se encontram em solo brasileiro. Por todas estas razões, Portugal não podia deixar de se associar à efeméride do segundo centenário da Independência do Brasil. Assim, o Governo português e diversas outras instituições públicas e privadas (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)