E S P E C I A L C U LT U R A
PERFIL
Cesária Évora
A Diva nem alegre nem triste que levou a “morna” ao mundo
Representava de alguma forma “a noção de ser cabo-verdiano”, nas palavras de José Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde à data da morte de Cesária Évora, no dia 17 de Dezembro de 2011, aos 70 anos de idade. Cize, como também era conhecida, cedo foi aclamada como a Rainha da Morna no Mindelo, onde nasceu e deu os primeiros passos como intérprete. Cantou com o irmão na praça principal da cidade onde cresceu, e foi ganhando notoriedade. Aos 16 anos, cantou em bares e eventos, onde encantava as audiências, maiores ou menores, na capital
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RICARDO DAVID LOPES
de São Vicente, a ilha onde passeava e cantava descalça, uma tradição que manteve e que viria a dar nome a um álbum, em 1988. Pela vida da que viria a ser chamada precisamente como Diva dos Pés Descalços, passaram então nomes como o do compositor cabo-verdiano B. Leza, ou do igualmente compositor Gregório Gonçalves, e aos 20 anos, actuando para a “Congelo” (companhia de pescas de origem portuguesa), começou a ser remunerada pela sua arte.
A independência do arquipélago, em 1975, leva-a a abandonar os palcos e, mais tarde, o seu país, em 1985, após ter sido escolhida pela Organização das Mulheres de Cabo Verde como uma de quatro cantoras a figurar no álbum “Mudjer”. Bana, cantor e empresário cabo-verdiano radicado em Portugal chamou-a a este país, onde Cesária voltou aos palcos e conheceu José da Silva, outro cabo-verdiano radicado em França e que seria o seu agente ao longo de toda a carreira. Levou-a a actuar em Paris, onde gravou “La Diva aux pieds nus”. Seguiu-se “Miss Perfumado”, em 1992, que consagra o início,