E S P E C I A L C U LT U R A
PERFIL
eunice muñoz
“A vida é uma coisa maravilhosa”
Nascida no seio de uma família de artistas, o palco era o destino inevitável de Eunice Muñoz. O que ninguém podia prever é que a menina de 5 anos que deu os primeiros passos em cima das tábuas do teatro desmontável dos pais, a Trupe Carmo, viria a ser uma das grandes actrizes portuguesas de sempre e, certamente, a maior do século XX. Em 1941, com apenas 13 anos, estreou-se no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, numa produção da Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro, que, reconhecendo ali um talento prodigioso, rapidamente arranjou forma de a integrar no grupo.
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A. RIBEIRO DOS SANTOS
Quando, aos 15, interpretou a jovem Maria de “Frei Luís de Sousa”, de Garrett, a sua reputação ficou selada, tanto para o público como para a crítica. Desses tempos iniciais, formativos, Eunice Muñoz disse a Vítor Pavão dos Santos – numa longa entrevista publicada pela editora Bicho do Mato, no livro “Acima de Tudo Amar a Vida” – que Amélia Rey Colaço e mestre Ribeirinho foram as figuras que mais a marcaram, pelo que tinham para lhe ensinar. Ainda assim, e mesmo já a trabalhar como
profissional, foi para a Escola de Teatro do Conservatório Nacional, de onde saiu com a classificação final de 18 valores. O cinema chega a seguir. Em 1946, aparece pela primeira vez no grande écrã, no filme “Camões”, de Leitão de Barros. Ao longo da carreira fará mais de uma dezena de incursões na sétima arte, mas o filme de estreia foi desde logo um marco, valendo-lhe o prémio de melhor actriz cinematográfica do ano. Os aplausos chegavam abundantemente, de todos os lados, mas a vida profissional não foi isenta de percalços. Na década de 50, decidida a experimentar outra via, Eunice abandonou o teatro,