EIXO 1 - GÊNERO, CORPO E SEXUALIDADES LUGAR DO CORPO: INDIVIDUAÇÃO E ALTERIDADE A PARTIR DE LEONILSON Lúcio Flávio Gondim da Silva luciofgondim@gmail.com Universidade Federal do Ceará (UFC) Marina Baltazar Mattos marinagmattos@gmail.com Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 1 APRESENTAÇÃO Judith Butler (2002), desde o título de seu livro, Cuerpos que importan, pressupõe que há, perante a lógica colonial, neoliberal e conservadora, alguns (corpos) que não importam. Segundo a autora, são abjetos, ininteligíveis ou deslegítimos, teoricamente, não se materializam, dentro de uma ontologia desafiadora. Mas justamente a partir de sua ambivalência constituinte, esses corpos existem: como poder excluído, disruptivo, contradição normativa proposital, efeito de pressuposição através da performance. Diante dessa leitura, procura-se pensar a existência de corpos abjetos dentro e fora da literatura e suas expansões, para além da sua constituição enquanto materialidade. Poderia tratar-se de diversas subalternidades que têm reivindicado sua fala, mas, escolhemos, aqui, partir das obras do artista plástico cearense José Leonilson - trabalhos que falam por si só e carregam uma multidão consigo, inclusive a produzir constante significado, legitimidade, lugar de fala e representatividade. Ao se colocar como um corpo homossexual que expõe desejos e interditos, relacionando-se diretamente com os sofrimentos de outros corpos socialmente indesejáveis, Leonilson perfomatiza, segundo Paul B. Preciado (2014), uma contraversão: No âmbito do contrato contrassexual, os corpos se reconhecem a si mesmos não como homens ou mulheres, e sim como falantes, e reconhecem os outros corpos como falantes. Reconhecem em si mesmos a possibilidade de aceder a todas as práticas significantes, assim como a todas as posições de enunciação, enquanto sujeitos, que a história determinou como masculinas, femininas ou perversas. (PRECIADO, 2014, p.21). 13