EIXO 1 - GÊNERO, CORPO E SEXUALIDADES “BIXA, NUNCA SE ESQUEÇA DAQUILO QUE PRECISA LEMBRAR PARA VIVER”#. Manoel Nogueira Maia Neto maianeto.mn@gmail.com Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) 1 APRESENTAÇÃO /INTERESSE DO TRABALHO A SER APRESENTADO Numa discussão, estávamos em um quarto-kitnet alugado. Eu em pé; ele, numa cadeira. Era pela manhã, prato sujo e xícara usada na mesa. A insistência veio de mim. "Esse é o problema: comunicação. Eu me canso de ficar adivinhando ou interpretando o que você quer dizer. Isso [dificuldade de expressar] não é meu. Fala, criatura! Diz!". "Falar é coisa de branco", respondeu. Então, ele começou uma contação de cenas que envolviam o atual trabalho (com gente branca, sem noção) até aparecerem histórias mais antigas, de uma vida. Sala de aula, grupos de pessoas, falar-falar-falar. Estar num lugar de falatório, de mostrar, de como gente branca faz. Lattes, lugares onde foi, as referências e referências não tão usadas, ter "dinheiro" do tipo que não é problema. Mãe, tio, avó, alguém estende a mão. Pessoal que usa a palavra "herança", que teve/tem "mesada" há anos. Já ele não. Estar nesse falatório com gente assim cansa. Dá vontade de revirar os olhos, ignorar, rir da cara. Todo dia isso. E eu ia concordando. Alguns puxavam assunto, insistiam. "Conhece [nome de referência italiana]? Já viu o trabalho de [autor francês]? Sério, não sabe? Mas e teus projetos, o que vai fazer agora?". Branco fala muito, sabe muito, manda muito. Branco impõe muito, mata muito, mente muito e isso tudo porque teme muito. Teme muito. Se liga, nóis tamo voltando para acertar as conta, doido, vai ficar barato não (SILVA, 2018, p. 15). 38