Anais do I Diálogos Convergentes do IX Curta O Gênero, AGO 2021

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EIXO 1 - GÊNERO, CORPO E SEXUALIDADES MELISSA REIS: ESTÓRIAS DA VIDA DE UMA TRAVESTI Jean Souza dos Anjos jeanjos09@gmail.com Doutorando em Sociologia (PPGS/UECE)

1 APRESENTAÇÃO Conheci Melissa Reis, em 2015, na Cabana do Preto Velho da Mata Escura / Ilê Asé Ojú Oyá, terreiro de Umbanda e Candomblé localizado no bairro Bom Jardim, periferia de Fortaleza, Ceará. Melissa se tornou minha principal interlocutora na pesquisa sobre a Festa da Rainha Pombagira Sete Encruzilhadas13 que ocorre no referido terreiro, sempre em novembro. Melissa é a cambone da Pombagira, isto é, ela assessora a entidade em tudo. Cambone tem a função, dentro dos terreiros, de cuidar das organizações dos rituais. Melissa, por exemplo, segura a taça de bebida da Pombagira, suas cigarrilhas e fica sempre ao seu lado durante todo o tempo em que ela está incorporada. A Pombagira é uma mulher. Ela é uma entidade que desafia os valores morais de uma sociedade machista e patriarcal. Pombagira bebe, fuma, dança e gargalha realizando, assim, seu trabalho espiritual no mundo material. Ela provoca e subverte a lógica que submete a mulher ao mundo doméstico. Sendo um Exu Mulher, vive nas encruzilhadas e nas ruas. Sua manifestação no mundo é força e comunicação. Por transgredir as normas sociais impostas, inclusive as de gênero e sexualidade, Pombagira é respeitada e temida por todos e todas. Neste sentido, Pombagira é o que ela quiser. Este trabalho apresenta estórias da vida de Melissa Reis entrelaçadas com o mundo social e religioso em que vive. Sua vida está intimamente ligada à Umbanda

13 Este trabalho é parte da minha dissertação de mestrado em Antropologia no PPGA Associado da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), defendida em 2019. A pesquisa teve apoio financeiro da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). Amor, festa, devoção: a rainha Pombagira Sete Encruzilhas. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/50245 Acesso em: 04 jun. 2021.

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