CONTEÚDO LOCAL
COMO PODEM AS PME TER ACESSO A MAIS OPORTUNIDADES NAS GRANDES EMPRESAS?
INOVAÇÕES DAQUI
RADAR DA BEIRA: A TECNOLOGICA AO SERVIÇO DA DETECÇÃO DE EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS
ECONOMIC BRIEFING
A PRIMEIRA SESSÃO ANUAL DE UM EVENTO
QUE PERSPECTIVA A ECONOMIA NACIONAL
CEO TALKS • LUÍS ALMEIDA, TRANSCOM
“FORMAREMOS MAIS PARA ACOMPANHARMOS O CRESCIMENTO DE MOÇAMBIQUE”
CRÉDITOS DE CARBONO
ESTAMOS A VENDER SAÚDE AO PLANETA
Como funciona este mercado que atrai um crescente interesse global e no qual Moçambique está bem posicionado
MOÇAMBIQUE
Maio • 2023 • Ano 06 • Nº 60 • 350MZN
6 OBSERVAÇÃO
Uma crise a caminho nos Combustíveis?
O corte de oferta do petróleo anunciado pela OPEP poderá afectar o mercado interno e desencadear uma nova crise
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OPINIÃO
“Uma Crise de Confiança no Sistema Bancário Internacional”, Wilson Tomás, Research Analyst do Banco Big Moçambique
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OPINIÃO
71 ÓCIO
74 Escape A emoção de João Tamura ao reviver memórias de infância no regresso a Portugal 76 Gourmet Ao sabor do Txapita, uma nova atracção especializada em hambúrgueres, frango e pregos, no coração de Maputo 77 Adega Como estão os vinhos produzidos em 2013, dez anos depois? 78 Empreendedor Uma ocasião para contemplar magníficas obras de cerâmica da artista Lara Zoig 80 Networking “The Golf Cup Millennium bim”, uma ideia que pretende despertar o gosto pela prática do golfe 81 Artes “Brisa do nada”, a beleza pelaa arte que se constrói a partir de material reciclado pe la artista plástica Lica Sebastião 82 Ao volante do Hyundai IONIQ 6, distiguido como o melhor veículo eléctrico do ano
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CONTEÚDO LOCAL
Como é que a nova geração de empresários se deve preparar para aproveitar as oportunidades dos grandes projectos? Uma lição dos empresários mais experientes
OPINIÃO
“Certificações Aplicáveis aos Destinos Turísticos – Quais os Benefícios para Moçambique”, Vicente Bento, Partner e Operations Manager na Insite
“Reflectindo Sobre Moçambique Independente: Pessoas, Instituições, Recursos Naturais e Utopias”, Salim Cripton Valá, PCA da Bolsa de Valores de Moçambique 20 22
NAÇÃO CRÉDITOS DE CARBONO
22 O que podemos ganhar Como funciona o mercado de carbono e como Moçambique pode utilizá-lo para potenciar um desenvolvimento sustentável?
32 Opinião “Para Além do Lucro: Implementação de Estratégias de Sustentabilidade”, Ilia da Silva, director de Transformação do Absa Bank Moçambique
34 Entrevista “Créditos de carbono serão cruciais para o desenvolvimento”, António Guiso, director da South Pole
38 O potencial de África Que estágio de desenvolvimento pode o continente alcançar se materializar a Iniciativa dos Mercados Africanos de Carbono?
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OPINIÃO
“Culturas Regenerativas – do Saber-se Parte para o Sentir-se Parte”, Susana Cravo, Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org
P OWERED BY FNB
“FNB acolhe conversa “de Mulheres para Mulheres”, com as convidadas Jocelyne Machevo, Sónia Sultuane e Nancy Mafundza Come
P OWERED BY STANDARD BANK
Economic Briefing O Standard Bank realizou a 27 de Abril, em Maputo, a primeira sessão anual do Economic Briefing, um evento que chega este ano à sua 18.ª edição
51 E SPECIAL INOVAÇÕES DAQUI
52 Radares meteorológicos Moçambique já conta com equipamento de ponta e de alta precisão para alertas antecipados de eventos climáticos violentos. Saiba como funciona 56 Bravantic Conheça a história de uma das empresas com impacto na promoção da transição digital em Moçambique
60
P OWERED BY HCB
“Os resultados demonstram robustez…”, Boavida Lopes Muhambe - Presidente do Conselho de Administração da HCB
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OPINIÃO
“Incubadoras de Negócios em África: Uma Moda Passageira ou uma Ferramenta de Desenvolvimento que Veio para Ficar?”, João Gomes - Partner @BlueBiz
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MERCADO E FINANÇAS
No âmbito do Pacote das Medidas de Aceleração Económica do Governo, foram introduzidas profundas alterações na Pauta Aduaneira. O que mudou?
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CEO TALKS
Luís de Almeida, administrador-delegado da Transcom, fala da estratégia de ensino seguida pelo ISUTC e o ITC e do impacto da formação no mercado de trabalho do futuro
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44
Celso Chambisso Editor Executivo da Economia & Mercado
O Caminho para o Crescimento Sustentável
Há um mercado que se vem revelando crucial no contexto dos esforços globais para a redução das emissões de carbono, e Moçambique já escreve o seu nome na lista dos mais interventivos nessa batalha, com créditos comprovados de que pode ser um destino preferencial de investimentos nesse mercado. Trata-se do mercado de carbono, onde são transaccionados os chamados créditos de carbono. De que estamos a falar?
Hoje, no mundo, existe uma série de mecanismos que compensa projectos de empresas, de governos e até das comunidades comprometidas em reduzir as emissões de gases com efeito estufa para a atmosfera – os créditos de carbono, que já são, inclusive, comercializados entre países.
Com estas iniciativas, a questão da preservação do meio ambiente deixa de ser preocupação exclusiva dos ambientalistas - que, ao defenderem a causa, geralmente não olham apenas para os benefícios económicos - e passa a integrar a matriz das prioridades dos estrategas em desenvolvimento económico puro, porquanto serve como instrumento de captação de divisas.
Assim, assiste-se a um mundo em que economistas, políticos, investidores e comunidades começam a ter uma visão alinhada com a dos ambientalistas no que diz respeito à necessidade de salvar o planeta. A este respeito, desde 2021, as notícias já revelavam Moçambique como um dos actores globais de relevo.
Naquele ano, recebeu pagamentos de um fundo fiduciário do Banco Mundial para reduzir as emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal, através de um programa conhecido como REDD+ (Redução de Emissões do Desmatamento, Degradação Florestal e aumen-
to das reservas de carbono). Foram 6,4 milhões de dólares pela redução de 1,28 milhões de toneladas de emissões reduzidas de carbono em 2018, o primeiro dos quatro planeados pelo programa através do Acordo de Pagamento por Reduções de Emissões (ERPA) feito através da Parceria para o Fundo de Carbono Florestal (FCPF) entre o Governo e o Banco Mundial.
Já no ano passado, o País voltou a encaixar créditos de carbono, desta vez no montante de 50 milhões de dólares, também em resultado do compromisso assumido pelo Governo com a redução de emissões de gases por desmatamento, naquela que foi considerada a primeira verificação do Programa de Gestão Integrada da Paisagem da Zambézia em Moçambique no âmbito do Fundo de Carbono do “Forest Carbon Partnership” (FCPF).
Para este encaixe, pesou o facto de se ter conseguido mais de dois milhões de reduções de emissões por desmatamento. Foram os primeiros créditos a serem emitidos sob o FCPF em todo o mundo e pagos pelo Fundo de Carbono.
É este (por muitos pouco conhecido) mercado que a E&M traz ao leitor nesta edição, procurando abordar o seu real peso e o potencial de que se reveste enquanto instrumento capaz de ajudar a transformar o modo de vida e os processos produtivos das comunidades, das empresas e a visão do Governo pela preservação do ambiente.
Um olhar ao que se passa pelo mundo e uma entrevista a um especialista da South Pole para África – empresa global vocacionada para orientar empresas e governos no alcance das metas de redução da emissão de carbono – ajudam a perceber o quanto este mercado se está a consolidar como um verdadeiro veículo para o alcance do desenvolvimento sustentável.
MAIO 2023 • Nº 60
DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos
EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso
JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Hermenegildo Langa, Nário Sixpene, Yana de Almeida
PAGINAÇÃO José Mundundo
FOTOGRAFIA Mariano Silva
REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos
DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com
CONSELHO CONSULTIVO
Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO
E PUBLICIDADE Media4Development
Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
RPO Produção Gráfica
TIRAGEM 4 500 exemplares
EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE
Media4Development
NÚMERO DE REGISTO
01/GABINFO-DEPC/2018
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 4
E DITORIAL
OBSERVAÇÃO 6 www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023
Moçambique, 2023
À Beira de Uma Crise?
A recente decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) de reduzir a oferta do petróleo veio acelerar a instabilidade do mercado moçambicano que, há muito, opõe os operadores e as autoridades quanto aos mecanismos de fixação de preços e de compensações para evitar o agravamento.
O presidente da Associação Moçambicana de Empresas Petrolíferas, Michel Hussene, alerta para uma eventual escassez de combustíveis em breve, alegando a incapacidade financeira das gasolineiras de importarem mais combustível. “As empresas chegaram ao limite, não têm mais capacidade de manter-se activas no mercado. O que nós apelamos é que se não houver uma mudança do panorama que viemos apresentar aos meios de comunicação e ao público em geral, chegaremos a uma situação de ruptura de stocks e de escassez de combustíveis”, revelou. É que o aviso da OPEP chega numa altura de instabilidade interna caracterizada por factores como o não pagamento de compensações pelo Governo às gasolineiras, que não tem sido acompanhado pelos ajustes ao nível doméstico, apesar da pressão do mercado internacional.
Se esta ameaça se verificar, o desempenho normal do sector produtivo deverá ser afectado por via do aumento da inflação a ponto de comprometer a estabilidade macroeconómica de Moçambique.
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 7
Dívida pública
FMI alerta que o endividamento público pode ultrapassar 100% do PIB este ano
O Fundo Monetário Internacional (FMI) revela que a dívida pública de Moçambique pode aumentar para mais de 100% este ano e no próximo, apesar do crescimento económico previsto de 5% este ano e 8,2% em 2024.
No mais recente relatório da instituição, intitulado Perspectivas Económicas Regionais para a África Subsaariana, consta que a dívida pública moçambicana em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) pode subir de 76,1% em 2022 para 102,8% este ano, e 103,1% no próximo ano. Assim, com excepção de Cabo Verde e da Eritreia, Moçambique é o país com o rácio da dívida pública sobre o PIB mais elevado de toda a região subsaariana, com quase o dobro da média da região, nos 55,5%.
No relatório, a instituição financeira projecta que os países ricos em recursos naturais não petrolíferos registem fortes retomas em 2023 e 2024, em alguns casos impulsionadas por novos projectos de mineração, com destaque para o minériode ferro na Libéria e Serra Leoa, e matérias-primas de energias renováveis na República Democrática do Congo e no Mali.
Na África do Sul, a actividade económica deverá recuperar em 2024, à medida que a crise energética for abrandar e o ambiente externo melhorar. No entanto, projecta-se que o crescimento dos países exportadores de petróleo desacelere em 2024 para 3,1% em relação a 3,3% em 2023, devido à descida contínua dos preços do petróleo bruto no mercado internacional e aos abrandamentos da produção.
Em termos regionais, o Fundo Monetário Internacional prevê que o crescimento da África Subsaariana desacelere para 3,6% em 2023.
Finanças AMOMIF e FIDA Anunciam 9,3 milhões de meticais para programa de assistência técnica aos operadores de microfinanças
O Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (FIDA), através do Projecto de Financiamento a Empresas Rurais (REFP, na sigla em inglês), vai levar a cabo, este ano, um programa de assistência técnica e financeira avaliado em 9,3 milhões de meticais, com o propósito de abranger instituições de microfinanças filiadas na Associação Moçambicana de Operadores de Microfinanças (AMOMIF). De acordo com o presidente do conselho directivo da AMOMIF, António Souto, a aprovação do programa
Telecomunicações
resulta de negociações que têm como objectivo defender a importância de uma indústria microfinanceira constituída por órgãos formais, com boa governação e sustentabilidade. “Nas economias e sociedades comuns com grande peso do sector informal, a indústria microfinanceira tem um papel decisivo na inclusão financeira. Hoje é indispensável reforçar as parcerias entre os microbancos e os operadores de microfinanças, pois sem isso os prestadores de serviços microfinanceiros vão à falência” explicou António Souto.
INCM vai alterar regras de registo de cartões SIM
Serviços de Telecomunicações e que estabelece normas para o registo de assinantes a observar pelos operadores desses serviços, pelos seus agentes distribuidores e/ou revendedores, pelas entidades públicas e privadas e pelas pessoas singulares que detêm e utilizam dispositivos de comunicação.
A Autoridade Reguladora das Comunicações de Moçambique (INCM) pretende impor novas regras para o registo de cartões SIM para todos os 15 milhões de assinantes de serviços de telecomunicações no País nos próximos seis meses.
A nova regulamentação visa promover a utilização responsável dos serviços públicos de telecomunicações e equipamentos conexos, contribuindo para a segurança e qualidade dos serviços nas redes de telecomunicações.
As regras são suportadas pelo Decreto n.º 13/2023, de 11 de Abril, que aprova o Regulamento de Registo de
Num seminário de divulgação da regulamentação realizado recentemente, e que contou com a presença de representantes de operadores de telecomunicações e bancos em Maputo, o cientista de dados da INCM, Reinaldo Zezela, explicou que uma das novas regras consiste no fornecimento, por parte do assinante, de dados biométricos (impressões digitais e reconhecimento facial), bem como de documentos de identificação, como o bilhete de identidade, carta de condução, passaporte, etc., no momento da inscrição.
À luz das novas regras, os subscritores passarão a ter um Número Único de Telecomunicações (NUTEL) gerado pela INCM para a identificação única de qualquer assinante, independentemente do operador.
Logística Moçambique quer ampliar capacidade do pipeline dos combustíveis para o Zimbabué
O Governo anunciou a intenção de apostar na expansão da sua capacidade logística de transporte de combustíveis para atender à crescente demanda destes produtos por parte dos países do hinterland, anunciou recentemente o ministro dos Transportes e Comu-
nicações, Mateus Magala. Para responder a esta preocupação, Magala orientou a Companhia do Pipeline Moçambique–Zimbabué (empresa gestora do oleoduto que transporta combustíveis do porto da beira ao Zimbabué), e a empresa Portos e Caminhos de Ferro
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 8 RADAR
de Moçambique (entidade gestora do terminal de combustíveis do porto da Beira) a trabalharem juntos para o aumento da capacidade de manuseamento e transporte de combustíveis para atender à crescente demanda dos países do hinterland, nomeadamente o Zimbabué, a República Democrática do Congo, o Maláui e a Zâmbia, com especial atenção na preocupação apresentada pelo governo zambiano. No trabalho a ser feito para a expansão da capacidade
do corredor da Beira no manuseamento e transporte de combustíveis, o ministro sublinhou que será privilegiada uma abordagem integrada para permitir que a capacidade de recepção do Porto corresponda às necessidades do consumidor final e da capacidade das infra-estruturas de transporte do pipeline. O pipeline Moçambique–Zimbabué tem capacidade de cerca de 2,2 milhões de metros cúbicos por ano e vai aumentar gradualmente para cinco milhões.
Administração pública Governo aprova regulamento de recuperação e gestão de activos
O Executivo aprovou, a 18 de Abril, o decreto que aprova o regulamento de gestão de activos apreendidos ou recuperados a favor do Estado.
O regulamento, aprovado na 13.ª sessão ordinária do Conselho de Ministros, “estabelece os procedimentos administrativos de gestão de activos apreendidos ou recuperados e do Gabinete de Gestão de Activos e aplica-se a este no âmbito da sua actuação com os Gabinetes Centrais e Provinciais de Recu-
Extractivas
peração de Activos e com outras autoridades judiciárias, no quadro de processos nacionais ou actos decorrentes da cooperação jurídica e judiciária internacional”, lê-se na nota de imprensa do Conselho de Ministros.
Outro instrumento que foi apreciado e aprovado naquela sessão foi o novo decreto que revê o n.º 39/2017, de 28 de Julho, e que aprova o regulamento da mera comunicação prévia para o exercício de actividades económicas.
TotalEnergies e ExxonMobil vão exportar GNL de Moçambique a partir de 2027
O economista do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), Thibault Lemaire, anteviu, recentemente, que os consórcios liderados pela francesa TotalEnergies e a americana ExxonMobil comecem a produção do Gás Natural Liquefeito (GNL) em 2027 e 2029, respectivamente. “Prevê-se o arranque da produção de dois projectos de explora-
ção de GNL onshore (em terra) em 2027 e 2029, o que terá um impacto positivo no crescimento por via da produção, nas receitas fiscais e na conta corrente”, disse o economista do FMI, dando por adquirido que a TotalEnergies vai mesmo regressar a Moçambique após a suspensão dos trabalhos devido à violência no Norte do País, e que a ExxonMobil vai prosseguir brevemente com a Decisão Final de Investimento (DFI) positiva para Moçambique.
Thibault Lemaire declarou, igualmente, que o País “continua a enfrentar desafios significativos de desenvolvimento, nomeadamente devido à maior frequência e gravidade das catástrofes naturais relacionadas com as alterações climáticas”.
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Os Mercados Globais de Carbono
Neste relatório produzido pela Hinrich Foundation em parceria com a Visual Capitalist, ficamos a perceber como os mercados de carbono funcionam, a sua evolução e onde estão a ser efectivamente implementados.
As alterações climáticas, um dos maiores desafios que o mundo enfrenta actualmente, levaram a que quase todos os países do mundo estabelecessem um objectivo de atingir emissões net zero até 2050.
Para tal, todos os países terão de encontrar formas de reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis. Uma solução são os mercados de carbono, que dão às empresas e aos indivíduos um lugar para comprar e vender os créditos desse tipo de emissão, ou as licenças negociáveis que dão ao seu detentor o
No grande traduzir os países
Total das emissões globais
% do total
Um olhar sobre as emissões globais e o mercado de carbono
direito de emitir uma determinada quantidade de CO2. Quando combinados com limites impostos pelos Governos sobre a poluição, este tipo de créditos criam um incentivo económico para as empresas reduzirem as suas emissões.
Por exemplo, uma empresa que polui para além dos limites locais tem duas opções: pode querer atenuar as suas emissões investindo em tecnologias mais limpas ou comprar créditos de carbono para se manter dentro do cumprimento. Entretanto, as receitas destes créditos podem financiar outros projectos de redução de emissões, tais como um parque eólico ou solar.
A este nível, África posiciona-se como o continente, por excelência, vendedor deste tipo de crédito aos mercados mais poluentes do mundo.
Os três maiores poluidores do mundo são responsáveis por mais de metade das emissões globais.
Ao longo da história moderna, o crescimento económico assentou nos combustíveis fósseis.
entre 1820 e 2018 Emissões anuais de CO2
outras regiões do mundo que seguem o seu exemplo.
Global Carbon Project (2022), Madison Project (2020), Visual Capitalist
NÚMEROS EM CONTA
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Desde 2005, a UE assumiu um papel pioneiro na área do mercado de carbono. Mas há
União
China Emissões anuais de CO2 (em gigatoneladas) Mundo GDP China 30,9% Resto do Mundo 21,7% India 7,3% Irão 2,0% Japão 2,9% Coreia do Norte 1,7% Indonésia 1,7% Arábia Saudita 1,8% Canadá 1,5% EUA 13,5% Aust. 1,1% México 1,1% Brasil 1,3% Itália 0,9% Alemanaha 1,8% Rússia 4,7% Turquia 1,2% Polónia 0,9% Reino Un. 0,9% África do Sul 1,2% Aumento
PIB Mundial Alemanha FONTE Banco Mundial, Bloomberg NEF 2022
Europeias Outros Califórnia Coreia do Sul
FONTE
Wilson Tomás • Research, Banco BIG Moçambique
Uma Crise de Confiança no Sistema Bancário Internacional
Osector financeiro internacional em Março ficou marcado por uma elevada volatilidade, em consequência de uma crise de confiança no sector bancário que resultou na queda de dois bancos norte-americanos, o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank, e um na Suíça, o Credit Suisse.
Desde o primeiro semestre de 2022, tem-se assistido nas principais economias uma tendência crescente das yields por consequência da adopção de uma postura hawkish dos maiores bancos centrais, com subidas sucessivas das taxas de juros, com o objectivo de controlar a inflação. Esta subida das taxas de juro tem gerado perdas acumuladas por reavaliação nas carteiras de obrigações dos bancos.
O banco SVB foi encerrado pelo Departamento de Protecção Financeira e Inovação da Califórnia, após uma redução material no valor dos seus investimentos, e a retirada de elevadas somas de dinheiro por parte dos seus depositantes num curto período.
O banco, entre 2019 e 2022, observou um crescimento expressivo do balanço (USD 209 mil milhões em activos), que resultou de um aumento significativo de depósitos, liquidez que foi usada para a aquisição de obrigações e para a concessão de crédito.
Entretanto, na actual conjuntura de subida de taxas de juros, em que as yields das obrigações têm estado a aumentar, levou a que estas obrigações perdessem valor. Por outro lado, alguns clientes do banco, a sua maioria associados ao sector da indústria tecnológica, enfrentaram dificuldades financeiras neste período e iniciaram um processo de levantamento dos seus depósitos, que rapidamente se tornou num movimento em “bola de neve”.
Para satisfazer esta perda de liquidez, o banco foi forçado a vender parte
da sua carteira de obrigações, realizando perdas financeiras. A maior parte dos depósitos do banco estavam acima do limite de garantia do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) em caso de insolvência, o que incentivou os clientes a procurarem levantar cada vez mais rapidamente os depósitos, registando-se um total de USD 42 mil milhões em tentativas de levantamento em cerca de 48 horas.
Ainda nos Estados Unidos, após as notícias da queda do SVB, os depositantes de outros bancos regionais, em particular os não cobertos pelo FDIC, entraram em pânico, o que levou ao encerramento do Signature Bank.
Este banco, para além de deter grandes somas em depósitos não garantidos (USD 79,5 mil milhões) e estar exposto ao sector das criptomoedas, apresentava um risco excessivo de liquidez, pois somente 5% do seu activo era mantido em caixa, contra uma média de 13% na indústria.
Os reguladores temiam o contágio contínuo no sector bancário e fecharam o Signature Bank, para além de terem tomado medidas de disponibilização de liquidez aos bancos, como forma de tentar conter o pânico que já se havia instalado.
Do outro lado do Atlântico, poucos dias mais tarde assistiu-se ao colapso do Credit Suisse, que por razões diferentes do que aconteceu nos Estados Unidos, em particular uma série de escândalos, a queda contínua do preço das acções e as declarações do seu maior accionista de que não estaria disposto a injectar mais capital no Banco no meio desta crise bancária, contribuíram para maiores saídas de liquidez e ditaram o seu colapso.
O Credit Suisse enfrentou vários escândalos nos últimos anos, entre eles a espionagem a colaboradores, o envolvimento na estruturação e colocação das dívidas ocultas em Moçambique, o colapso de dois fundos de investimento em
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 12 OPINIÃO
Após o colapso destes três bancos, gerou-se um clima de elevada incerteza no sistema financeiro global, gerando grandes preocupações por parte dos principais depositantes e entidades reguladoras
que o banco estava fortemente envolvido e uma sucessiva troca de executivos.
Após o colapso destes três bancos, gerou-se um clima de elevada incerteza no sistema financeiro global, gerando grandes preocupações por parte dos principais depositantes e entidades reguladoras de várias economias mundiais. Estes eventos fizeram com que as acções de vários bancos cotados em Bolsa desvalorizassem, dada a falta de confiança no sistema pelos investidores.
Uma situação que se estabilizou assim que começaram a surgir informações sobre as garantias de devolução integral dos depósitos pelo FDIC, a proposta de aquisição do SVB pelo First Citizens Bank nos Estados Unidos e a aquisição do Credit Suisse pelo seu antigo concorrente, o UBS, avaliada em cerca de USD 3,3 mil milhões.
Estes movimentos, aliados às facilidades de liquidez concedidas pelos bancos centrais contribuíram para apoiar o sistema bancário global e evitar o colapso do mesmo, reduzindo desta forma os
riscos sistémicos de contágio e de perda de confiança. O Fundo Monetário Internacional (FMI) entende que a recente instabilidade no sistema bancário, principalmente nos Estados Unidos, poderá aumentar a severidade e a duração da recessão que estimam para 2023.
Alguns analistas defendem que o custo económico do stress no sistema bancário apenas se sentirá após alguns meses, à medida que os bancos restringem cada vez mais os critérios de concessão de crédito e reduzem a disponibilidade de crédito às famílias e empresas.
Em Moçambique, estes eventos não parecem constituir um perigo para o sistema financeiro nacional, até porque, no cenário actual, estes parecem distantes da realidade do País tendo em consideração diversas perspectivas.
Na perspectiva de contágio, o risco é reduzido por se tratar de uma economia mais fechada onde os accionistas dos bancos que operam em Moçambique estão pouco expostos aos bancos ou às regiões que foram mais afectados,
e as obrigações emitidas no País são predominantemente de taxa variável, com menor impacto nos resultados dos bancos em caso de subida de taxas de juros.
Na perspectiva de confiança, após os casos de insolvência e intervenção ocorridos há cerca de seis, sete anos, em bancos nacionais, os bancos têm conseguido manter rácios de solvabilidade e liquidez adequados, não existindo preocupações materiais relativamente ao risco de continuidade dos bancos no País.
Numa perspectiva macroeconómica, o Banco de Moçambique tem estado, desde 2021, a adoptar uma postura hawkish com algum sucesso, tendo conseguido manter a inflação muito próxima do target de referência (abaixo de um dígito) o que contribui para a estabilidade nas yields das obrigações.
Contudo, a volatilidade dos mercados financeiros internacionais continua muito elevada, e a visibilidade futura é muito reduzida no que concerne ao rumo que a economia global vai tomar nos tempos que se avizinham.
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 13
O Credit Suisse é uma das instituições financeiras que não resistiu ao colapso
Reflectindo Sobre Moçambique Independente: Pessoas, Instituições, Recursos Naturais E Utopias
Falta menos de três meses para Moçambique completar 48 anos de independência nacional. A aproximação do dia 25 de Junho foi o mote para esta reflexão breve sobre os sonhos, o caminho trilhado, os resultados alcançados, os desafios enfrentados e o que se pode enxergar além do horizonte.
O que será o nosso País daqui a 30 anos? Será um País com parte significativa da sua população pobre, com crianças enfrentando problemas de desnutrição crónica, com famílias consumindo água inadequada, padecendo de enfermidades simples de prever e sem habitação apropriada?
Ou queremos que em 2053 tenhamos no País escolas e universidades para todos, com famílias saudáveis, bem alimentadas, que participem activamente na vida da Nação e que caminham orgulhosos perante a história?
Que respostas daremos aos nossos netos quando nos perguntarem, daqui a 30 anos, “mas, afinal, o que fizeram vocês para preparar um futuro de progresso, bem-estar e prosperidade para nós?” Que respostas vamos poder dar-lhes?
Gostaria de responder que trabalhámos para edificar um País estável, culto, saudável, ético e democrático, de justiça social e com oportunidades iguais para todos, um Povo que caminha de cabeça erguida, onde a voz do Povo não sirva para esconder a fome, pobreza e miséria, mas para exaltar a sua riqueza cultural, espiritual, intelectual, material e humanística.
Depois da longa noite colonial, Moçambique alcança a sua independência nacional com insuficiência de recursos humanos, com poucos quadros capacitados para o desafio de implantar um Estado Pós-Colonial eficiente e eficaz, com instituições frágeis para dar o suporte
Reflectindo Sobre
Moçambique Independente: Pessoas, Instituições, Recursos Naturais e Utopias
na implementação adequada de políticas públicas de promoção do desenvolvimento socioeconómico equilibrado e sustentável.
Por outro lado, e devido ao efeito da “Guerra Fria”, o País viu-se num contexto regional hostil, com os regimes do Apartheid e de Ian Smith a gerarem instabilidade e a travarem o seu desenvolvimento, a par do efeito nefasto das calamidades naturais e da guerra que o paralisou.
O Prof. Muhammad Yunus (2007)1, autor do livro “O Banqueiro dos Pobres” e laureado com o Prémio Nobel da Paz 2006, advoga que só podemos construir aquilo que imaginamos e idealizamos. Só podemos construir um mundo
projecto de tamanha envergadura, num contexto regional e global turbulento, onde o espaço de manobra para os países pobres como o nosso é mais limitado?
Os factores produtivos clássicos como terra, capital e trabalho, incluindo na equação a tecnologia, como é que podem ser devidamente combinados para gerar riqueza e prosperidade partilhada na terra de Eduardo Mondlane e Samora Machel?
Como explorar o potencial dormente, fazendo com que pessoas, instituições e recursos naturais possam engendrar um novo tipo de crescimento, que seja rápido e robusto, mas que seja igualmente inclusivo e com face humana?
Gostaria de chamar para a discussão as perspectivas de Amartya Sen (1999)2, Paul Collier (2010)3, Daren Acemoglu & James Robinson (2013)4 e Carlos Lopes (2020)5, que podem fornecer a moldura analítica para fazer a leitura do percurso económico e desenvolvimentista moçambicano.
sem pobreza se idealizarmos esse tipo de mundo, se acreditarmos que isso é possível e trabalharmos afincadamente para materializar essa utopia, pois temos dados que provam que a pobreza global resulta mais da má distribuição da riqueza e não do facto de a humanidade não gerar riqueza suficiente para que todas as pessoas do mundo possam viver com dignidade.
Será que, para o nosso caso, nós temos uma concepção consistente e compreensiva sobre o que é viver livre da pobreza, acreditamos que isso é possível de atingir e tudo fazemos para o alcance desse objectivo estratégico? Será que temos a capacidade de implementar um
Na visão de Sen (1999), é fundamental alargar as liberdades substantivas que as pessoas usufruem, removendo os vários tipos de restrições que deixam às pessoas poucas escolhas e limitadas oportunidades para exercerem uma acção racional, ampliando o seu acesso à educação, saúde, tecnologia, renda, emprego, ao financiamento e aos mercados.
Na óptica de Sen, o crescimento económico deve ser entendido como um meio de atingir outros objectivos e não como um objectivo em si, ou seja, para o autor, o problema da pobreza não é a falta de produto agrícola, mas a falta de renda, poder aquisitivo, condições para entrar no mercado e capacidades em termos de educação e saúde, dando ênfase especial às habilitações, aptidões e competências susceptíveis de serem adquiridas pelos pobres economicamente activos, que em Moçambique desenvolvem actividades económicas ligadas à agricultura, pescas e pequenos negó-
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 14 OPINIÃO
Os factores produtivos clássicos como terra, capital e trabalho... como é que podem ser devidamente combinados para gerar riqueza na terra de Eduardo Mondlane e Samora Machel?
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique
cios, numa base fundamentalmente informal e orientados principalmente para a subsistência.
Esta abordagem foi, de certa forma, desenvolvida por José Negrão (2005)6 ao analisar o comportamento económico das famílias rurais africanas no delta do Zambeze, onde constatou que as funções de produção, bem-estar social e distribuição estão integradas, sendo importante perceber a lógica e racionalidade das decisões económicas tomadas pelas famílias rurais.
Tendo em conta alguns dos principais constrangimentos que Moçambique vem atravessando nos últimos anos, como as calamidades naturais, instabilidade e conflitos, congelamento do apoio dos parceiros de cooperação ao País, crises económico-financeiras e epidemiológicas, volatilidade do preço das matérias-primas no mercado internacional e quebra nas cadeias globais de produção e distribuição (Valá, 2021)7, como conceber e implementar políticas públicas que integrem os pobres na economia de mercado e que as pessoas e famílias pobres tenham acesso à educação, aos serviços essenciais de saúde e água, às tecnologias, ao financiamento e aos mercados?
Collier (2010) refere que há motivos para satisfação, pois a pobreza está a reduzir-se em 80% no mundo. Todavia, concentra-se em cerca de 50 Estados que
considera “falhados”, em que vivem mil milhões de habitantes, cujos problemas desafiam as abordagens tradicionais para combater a pobreza, colocam em confronto os corruptos e os reformadores, e os corruptos estão a ganhar mais espaço. Nesses 50 países há quatro armadilhas que entravam o desenvolvimento, como conflitos armados e instabilidade, dependência excessiva da extracção e exportação de recursos naturais (maldição dos recursos), localização geográfica (interioridade e maus vizinhos) e má governação (incluindo políticas erráticas e fragilidade institucional).
Algumas dessas armadilhas não estão presentes no nosso País ou apenas têm que ver com outros países? A ajuda externa tem tido impacto positivo no desenvolvimento sustentável de Moçambique? A globalização económica está a trazer benefícios tangíveis para a nossa Nação? As pessoas e instituições estão devidamente preparadas para assumir e vencer os desafios complexos de desenvolvimento do País?
Tal como noutros países e sociedades, o comportamento dos diferentes agentes económicos e sociais é influenciado pelas instituições, entendendo-se estas como um conjunto de regras, normas e costumes, formais e informais, que governam as relações entre os indivíduos e os grupos sociais e definem os direitos e
fazem cumprir os deveres no relacionamento entre as pessoas.
Quanto maior é a legitimidade e a maleabilidade das instituições, maior é a equidade na distribuição dos rendimentos e menores são os custos de transacção. A família e o casamento são as instituições mais antigas e constituem o exemplo daquelas cuja lógica e dinâmica difere de país para país ou mesmo dentro de um mesmo país, consoante as regras consuetudinárias. O Estado é uma das instituições exógenas à sociedade de maior destaque, actuando “de fora para dentro” ao transportar e impor custos de transacção elevados.
Isso acontece porque o Estado não regula as formas de negociação, participa no processo em condições de monopólio, alimenta a burocracia, é permissível à corrupção e é apático quanto às dinâmicas de mercado.
As sociedades saudáveis contam com uma série de instituições que tornem menos prováveis os grandes conflitos sociais e as falhas colossais de coordenação. O império da lei, um judiciário de qualidade, instituições políticas representativas, eleições livres, sindicatos independentes, parcerias sociais, media independente, representação institucionalizada de grupos minoritários, um Parlamento que represente a pluralidade política e social e a previdência social
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É preciso contornar armadilhas que entravam o desenvolvimento, como a dependência excessiva da extracção de recursos
são alguns exemplos de tais instituições. O que faz com que esses arranjos funcionem como instituições de administração de conflitos é o facto de impor uma dupla “tecnologia de compromisso”, dando garantias aos vencedores e aos perdedores que ambos têm espaço para contribuir construtivamente para o desenvolvimento da Nação.
Quando os cidadãos têm acesso às instituições económicas do País, que lhes permitem escolher livremente a sua profissão, adquirir instrução e competências, o ambiente económico incentiva os empregadores a investir na melhor tecnologia e isso leva a que sejam pagos melhores salários.
As instituições económicas e políticas inclusivas geram prosperidade, porque fazem respeitar os direitos de propriedade, criam condições equitativas para todos e incentivam o investimento e a inovação, enquanto as instituições económicas e políticas extractivas criam círculos viciosos de pobreza.
Em linha com a perspectiva de Douglas North (1990)8, posicionam-se Acemoglu & Robinson (2013), ao criticar as instituições internacionais como o Banco Mundial e o FMI por não reconhecerem o papel vital das instituições para o desenvolvimento económico e a estabilidade dos países.
Os autores defendem que nos países pobres há muitas falhas de mercado e falhas de governo que é possível corrigir com bons conselhos, políticas públicas compreensivas, boa capacidade de implementação e monitoria. Tal como precisamos de entender melhorar as liga-
ções entre um bom desempenho económico e o papel das instituições em Moçambique, é vital explorar na plenitude a visão que postula que desenvolvimento está intrinsecamente ligado à liberdade e que o capital humano é fundamental para assegurar que desenvolvimento económico e desenvolvimento social caminhem juntos e se reforçam quando estão em interacção.
Há muita gente bem-intencionada que concorda que recursos naturais valiosos – como ouro, diamantes, petróleo, gás natural, rubis, grafite, carvão mineral, areias pesadas, entre outros – levam uma nação, de forma rápida, para a prosperidade e geração de riqueza partilhada.
A evidência empírica tem mostrado que são raros os países que vivem da renda de recursos naturais e são simultaneamente ricos. Alguns países com recursos naturais valiosos, porque têm instituições políticas e económicas frágeis, optam por viver dependendo da renda dos recursos naturais, secundarizando as actividades económicas tradicionais.
Temos muitos exemplos de países cujos recursos naturais valiosos geraram instabilidade e conflitos, golpes de Estado, corrupção, intriga política e ganância, levando ao fenómeno conhecido como a “maldição dos recursos naturais” e, como as receitas dos recursos naturais são voláteis, provocam uma taxa de câmbio sobreavaliada, que afecta o desenvolvimento de um sector industrial internacionalmente competitivo, levando à ocorrência frequente de crises, naquilo que é conhecido como a “doen-
ça holandesa”. Nenhum país pobre e com reservas de recursos naturais está livre dos problemas de desenvolvimento relacionados com má governação, políticas erráticas, corrupção, instabilidade e falta de previsibilidade.
Na véspera de completar 48 anos de independência política, Moçambique tem ainda um longo e sinuoso caminho a percorrer para o alcance da emancipação económica. Carlos Lopes (2020), reputado economista de Guiné Bissau, não tem dúvidas ao afirmar que a maioria dos países africanos precisam de modernizar a agricultura, diversificar a sua malha económica, transformando as suas estruturas económicas e apostando inequivocamente na industrialização, para assim favorecer o crescimento económico de qualidade, gerar mais empregos e focar-se em quatro acessos decisivos: a educação relevante e de qualidade, a digitalização, o financiamento e os mercados. O nosso sonho e futuro colectivo vai estar muito dependente desses quatro acessos, dando importância estratégica às pessoas, reforçando as instituições e aproveitando os ventos da globalização para ter ganhos económicos concretos e tangíveis.
Hoje estamos mais bem preparados para avançar de forma rápida e segura no caminho do progresso e prosperidade, mas teremos de entender e ter consciência que há novos problemas e armadilhas na nossa trajectória. Como vamos transformar a nossa Nação nos próximos 30 anos? Temos de pensar, a sério, nisso hoje…
Maputo, 23 de Abril de 2023
1 Muhammad Yunus (2007). O Banqueiro dos Pobres Oeiras: Difel.
2 Amartya Sen (1999). Development as Freedom. Oxford: Oxford University Press.
3 Paul Collier (2010). Os Milhões da Pobreza. Alfragide: Casa das Letras.
4 Daron Acemoglu & James Robinson (2013). Porque Falham as Nações: As origens do poder, da prosperidade e da pobreza. Lisboa: Tema e Debates.
5 Carlos Lopes (2020). África em Transformação: Desenvolvimento económico na era da dúvida. Lisboa: Tinta da China Edições.
6 José Negrão (2005). Cem Anos de Economia da Família Rural Africana: O delta do Zambeze em análise retrospectiva. Maputo: Texto Editores.
7 Salim Valá (2021). Economia Globalizada & Paradoxos de Desenvolvimento: Reflexões inconclusivas Maputo: Escolar Editora.
8 Douglass North (1990). Institutions, Institutional Change and Economic Performance. Cambridge: Cambridge University Press.
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Muita gente concorda que recursos valiosos levam a uma rápida geração de riqueza
Uma Lição para os Newcomer
“Como é que as PME podem ter acesso a mais oportunidades e fazer parte da cadeia de forncecedores das grandes empresas?”
Será a questão de muitos milhões de dólares e de milhares de empresários moçambicanos que puderam ouvir algumas respostas de quem sabe no Business Pitch que decorreu em Maputo em Abril.
Dezenas de pequenas empresas das mais diversas áreas de actividade – tecnológicas, do comércio e de serviços –, criadas por jovens empreendedores, aderiram, em meados do passado mês de Abril, a um convite para o chamado business pitch, na cidade de Maputo.
Mais do que contarem a história que norteou o seu surgimento, as motivações para terem abraçado a actividade empresarial e as ambições para o futuro, os novos empreendedores tinham, fundamentalmente, a tarefa de ouvir dos empresários mais experientes (dirigentes e donos de algumas das grandes empresas) os factores de sucesso e, sobretudo, a fórmula para atingir o topo através das ligações com as grandes empresas.
Num país ainda sem uma lei de Conteúdo Local, o business pitch, promovido pela Believer Team Leader – uma empresa moçambicana que apoia o empreendedorismo, servindo como elo entre as PME e as grandes empresas para promover o Conteúdo Local – foi a ocasião para mostrar que é possível avançar sem esperar pela respectiva lei. A primeira lição veio do empresário Salimo Abdula, PCA da Intelec Holdings e ex-presidente da Confederação Empresarial da CPLP. Mas foi mais focada na responsabilidade a ser assumida pelas multinacionais do que na que recai sobre as próprias PME. Abdula começou por reconhecer que o Conteúdo Local deve ser tomado como “uma ferramenta para alavancar as PME, uma vez que muitos jovens estão ávidos de transportar tecnologias novas para diferentes áreas
do empreendedorismo no País e precisam de âncora para serem sustentáveis, e essa âncora é precisamente o Conteúdo Local”.
A par do esforço que os jovens empresários devem empreender para firmar negócios com os grandes empreendimentos, o empresário sugere que os megaprojectos têm o papel de “trazer valor acrescentado para o empoderamento da juventude”, nomeadamente através da divulgação de oportunidades, de uma melhor comunicação sobre as suas necessidades e de sessões de formação.
Referiu, igualmente, que a questão do Conteúdo Local e os megaprojectos (tanto públicos quanto privados) têm de contemplar uma forte componente de protecção no sentido de privilegiar a absorção do fornecimento de bens e serviços produzidos por jovens empreendedores.
Mas quem deve garantir que isso acontece? “É preciso que os pequenos empresários se empenhem, permanentemente, em conquistar o seu espaço junto das grandes empresas”, recomendou.
Uma chamada às boas práticas
Enquanto Salimo Abdula manteve foco nos grandes projectos, Simone Santi, presidente da Associação dos Empresários Europeus em Moçambique (EUROCAM) – uma das entidades que intervêm no apoio às empresas de Cabo Delgado com vista à sua integração no negócio de exploração do gás na Bacia do Rovuma – optou por dedicar a sua intervenção na postura que as empresas nacionais devem assumir para se projectarem. Simone Santi avisou os jovens empresários
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 18 CONTEÚDO LOCAL
A par do esforço que os jovens empresários devem empreender, os megaprojectos têm o papel de “trazer valor acrescentado para o seu empoderamento”, defende Salimo Abdula
Texto Filomena Bande • Fotografia Believer Team Leader
a saberem separar as necessidades pessoais das empresariais. Entende que antes de pensarem em melhorar o próprio padrão de vida devem investir no fortalecimento do seu empreendimento ao nível do capital humano, capital financeiro, parcerias, tecnologia, entre outros aspectos. Lembrou, no entanto, que a maior parte dos empreendimentos criados por jovens acabam por “cair” antes de se consolidarem porque estes não resistem à tentação de gastar em bens de consumo como carros de luxo.
A importância dos parques industriais
O segredo para estabelecer a tão ansiada ligação entre as PME e as multinacionais pode estar na instalação dos parques industriais, segundo Onório Manuel, director-geral da MozParks – entidade que investe, desenvolve e opera Zonas Económicas Sustentáveis, incluindo eco-parques industriais, agro-parques, Zonas Francas Industriais (ZFI) e Zonas Económicas Especiais (ZEE) e que tem como foco, entre outros aspectos, o estímulo ao empreendedorismo e a atracção de investimentos.
Para Onório Manuel, o projecto de construção de parques industriais, só por si, constitui uma das bases para que as PME possam encontrar infra-estruturas mínimas para poderem servir os grandes projectos. “A estratégia da abertura de parques industriais pela MozParks tem-se mostrado bastante eficaz para promover as actividades das PME”, revelou Onório Manuel, avançando o exemplo da província de Nampula, ao redor da mineradora australiana Kenmare (que explora as areias pesadas de Moma). Há dois anos, aquele empreendimento apresentava uma certa desaceleração no desenvolvimento de actividades empresariais, mas começou a mostrar ritmo favorável a partir do ano passado, quando foi criado o parque industrial de Topuito. “Com a criação desse parque, houve uma realocação de dez investidores que já estavam fora de Moçambique.
Ou seja, quando não houver parques industriais à volta dos megaprojectos, será certo que, mesmo que esses megaprojectos estejam em Moçambique, não contribuam para o desenvolvimento nacional porque a sua cadeia de valor está fora do País”, argumentou. E disse mais: “Uma vez criado esse ecossistema (parques industriais), mesmo que as PME nacionais não estejam capacitadas para trabalhar directamente com os megaprojectos, terão a oportunidade de ser subcontratadas por outras empresas directamente ligadas às multinacionais.
Assim, construímos essa cadeia de valor que é extremamente importante para criar oportunidades e tenha como consequência o desenvolvimento das próprias PME”, esclareceu.
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Vicente Bento • Partner e Operations Manager na Insite
Certificações Aplicáveis aos Destinos Turísticos –Quais os Benefícios para Moçambique
Oturismo é uma das principais indústrias em todo o mundo, gerando empregos e receitas para países e regiões, sendo responsável por 10,4% do PIB global e empregando cerca de 330 milhões de pessoas em todo o mundo.
Apesar de ser o motor de muitas economias, o turismo em Moçambique é responsável apenas por 2,5% do PIB nacional, empregando cerca de 150 mil pessoas.
O que fazer então para alavancar este sector e qual o contributo das certificações aplicáveis aos destinos? Neste artigo de opinião, tentarei explicar a importância das certificações ambientais no sector do turismo e hotelaria, em particular em Moçambique.
Impactos do turismo nos destinos
Apesar de o turismo trazer inegáveis vantagens para os países e seus destinos, o seu crescimento desenfreado, e não planeado, traz impactos negativos não só para o Meio Ambiente, mas também para as Comunidades Locais.
O tráfego de veículos em áreas naturais, e até mesmo a construção de infra-estruturas turísticas, pode levar à degradação da vegetação, à erosão do solo e à perda de biodiversidade.
Em épocas de pico, os consumos de água e energia em hotéis e resorts podem exceder significativamente a capacidade de carga que o destino possui, levando à escassez destes preciosos recursos para quem mais precisa.
Outro dos impactos ambientais negativos prende-se com a produção de resíduos, principalmente embalagens de plástico, vidro e lixo orgânico, neste último caso fruto do desperdício alimentar.
A nível social, o turismo pode também contribuir para a degradação cultural dos destinos, levando à perda das tradições e valores das comunidades,
assim como a um aumento do custo de vida que muitas das vezes é insuportável para a população local e que obriga à deslocação da mesma para outros locais mais “baratos”
Pensamento estratégico
É, pois, importante pensar de uma forma estratégica as questões do turismo para que todos se beneficiem deste sector e não apenas alguns. Para mitigar esses impactos, surgiram as certificações ambientais que atestam o compromisso das empresas e dos destinos com a sustentabilidade.
Entre as principais acções do Plano Estratégico do Turismo de Moçambique, encontra-se a promoção do turismo sustentável, a diversificação dos produtos turísticos e a melhoria dos padrões de qualidade dos serviços turísticos.
Neste âmbito, a aposta na certificação de destinos como a Reserva Natural de Maputo, as Ilhas de Bazaruto, o Parque Nacional Gorongosa ou a Ilha de Moçambique seria essencial para captar cada vez mais turistas preocupados com as questões ambientais e sociais.
Em que consiste este tipo de certificações?
Uma certificação ambiental do destino é um processo pelo qual um destino turístico é avaliado em relação às suas práticas sustentáveis, recebendo uma certificação reconhecida internacionalmente pelo cumprimento de determinados critérios ambientais, sociais e económicos.
Este tipo de certificações do destino pode ser aplicado a destinos turísticos, tais como cidades, parques naturais, regiões turísticas ou praias.
Os critérios que geralmente são avaliados incluem a protecção dos recursos naturais e culturais do destino, a gestão adequada de resíduos, a promoção de práticas sustentáveis de turismo e a participação das comunida-
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 20 OPINIÃO
Para que um destino turístico possa seguir o caminho rumo à sustentabilidade é necessário que haja um esforço conjunto de diversos agentes, incluindo o Governo, o sector privado, a sociedade civil, etc.
des locais no desenvolvimento da região. Existem várias certificações, reconhecidas internacionalmente, que são concedidas a destinos que cumprem com os critérios de sustentabilidade, os quais respondem inclusivamente aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Algumas das mais conhecidas são a EarthCheck, a Biosphere e a Green Destinations.
Todas elas não só avaliam a sustentabilidade dos destinos, como também os promovem a nível mundial, o que representa uma ferramenta eficaz de marketing para o destino, atraindo turistas que buscam destinos ambientalmente responsáveis e conscientes.
Bons exemplos a seguir em África
O Quénia é um dos países líder em turismo sustentável em África há muitos anos, tendo uma grande variedade de áreas protegidas, incluindo parques nacionais e santuários de vida selvagem, fazendo esforços para equilibrar o crescimento do turismo com a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável das suas comunidades.
A criação da Certificação Ecoturística do Quénia (Kenya Ecotourism Certification Scheme - KES) é um exemplo do compromisso do país para com a sustentabilidade.
Como fazer com que um destino turístico siga o caminho rumo à sustentabilidade
Para que um destino turístico possa seguir o caminho rumo à sustentabilidade é necessário que haja um esforço conjunto de diversos agentes, incluindo o Governo, sector privado, a sociedade civil e as comunidades locais. Desse modo, o estabelecimento de políticas públicas claras e objectivas para promover a sustentabilidade do turismo são essenciais.
Muitos países optam por criar incentivos fiscais para empresas que adoptam práticas sustentáveis, assim como definir normas ambientais para a actividade turística e hoteleira.
Por outro lado, o sector privado pode também contribuir por meio da adopção de práticas sustentáveis na sua operação como, por exemplo, a redução do
consumo de energia e água, a gestão de resíduos e a conservação do património cultural e natural.
O envolvimento da sociedade civil e da população local é também crucial para que os benefícios gerados pela actividade turística sejam distribuídos de forma justa e equitativa.
Em conclusão, é importante notar que, de acordo com o Índice de Competitividade em Viagens e Turismo (Travel & Tourism Competitiveness Index) do Fórum Económico Mundial, Moçambique ocupa uma posição relativamente baixa em termos de competitividade no turismo em relação a outros países africanos. Isso destaca a necessidade de mais esforços para promover o turismo sustentável e a certificação ambiental no País.
Um destino turístico ambientalmente certificado contribui para a melhoria da sua imagem, atrai mais turistas e melhora a qualidade de vida das comunidades locais e todas as partes interessadas. O turismo de Moçambique só tem a ganhar se enveredar por este caminho.
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Seria importante criar incentivos fiscais para empresas que adoptam práticas sustentáveis na actividade turística
NAÇÃO | CRÉDITOS DE CARBONO
Como Podemos Vender Saúde ao Mundo?
Enquanto todos nos focamos num crescimento baseado nos recursos naturais, agricultura, infraestruturas, diversificação da economia… há um mercado que vai passando despercebido, mas que tem o condão de inverter a rota do desenvolvimento para uma perspectiva de baixo (comunidades) para cima (economia no seu todo). É o mercado de carbono. Moçambique é já um dos actores importantes em África enquanto mercado que tem a oferecer sustentabilidade ambiental ao mundo e ganhar milhões com isso. Estaremos a explorar adequadamente esta oportunidade? O que temos de fazer e o que é feito pelo mundo fora? É o que já vamos saber
Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock
& D.R.
Photo
Créditos de Carbono
Reduzir o desmatamento, evitar a queima de combustíveis fósseis, adoptar o uso das energias renováveis e combater práticas de produção agrícola nocivas ao ambiente deixou de ser um objectivo meramente ambiental e passou a ser também uma importante fonte de divisas para os países.
E Moçambique já as está a ganhar dentro do contexto das várias iniciativas que compõem o mercado de carbono, que existe há já algum tempo, mas de que pouco se fala.
Uma análise recente a este mercado indica que, no ano passado, a emissão de créditos de carbono em Moçambique aumentou 1894%, sem precedentes, atingindo 1,7 milhões de créditos, um aumento assinalável se comparado com os cerca de 86 mil créditos do ano anterior.
A análise, publicada pela FurtherAfrica – uma plataforma online de conteúdos com foco na história do desenvolvimento e crescimento do continente africano – revela que esse aumento é notável porque, historicamente, Moçambique, como a maioria dos outros países da África, tem beneficiado pouco dos mecanismos do mercado de carbono.
Ou seja, no período compreendido entre 2005 e 2019 (15 anos), o País tinha registado apenas 24 projectos com 121 836 créditos emitidos.
Mas, de repente, o cenário mudou drasticamente: desde o início de 2020, 30 novos projectos de carbono foram registados e mais de 1,8 milhão de créditos foram emitidos.
Outros 33 projectos de carbono iniciaram o processo de registo. Consta também o facto de que grande parte dos créditos de carbono emitidos no País no ano passado veio de projectos de troca de combustível, purificação da água e produção e massificação dos fogões eficientes.
Quanto ao potencial de Moçambique, projecções da Iniciativa dos Mercados de Carbono em África (ACME) –uma colaboração entre a Aliança Global de Energia para as Pessoas e o Planeta (GEAPP), a Energia Sustentável para Todos e a Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) –estimaram que é possível gerar entre 10 milhões e 25 milhões de créditos de carbono por ano até 2030, com um valor anual em encaixes que varia entre 200 milhões e 500 milhões de dólares.
Com efeito, e graças aos avanços alcançados nos últimos anos na redução
das emissões, em 2021, o País ganhou 50 milhões de dólares em créditos de carbono, dinheiro que resultou do compromisso do Governo com a redução de emissões por desmatamento no âmbito do Fundo de Carbono do “Forest Carbon Partnership” (FCPF).
Tornou-se, assim, no primeiro país a receber pagamentos de um fundo fiduciário do Banco Mundial para reduzir as emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal - conhecido como REDD+.
No mesmo ano, Moçambique tinha recebido, igualmente do Banco Mundial, 6,4 milhões de dólares por reduzir 1,28 milhão de toneladas de emissões de carbono.
Comecemos por perceber o que são créditos de carbono
O conceito surgiu a partir do Protocolo de Kyoto, de 1997, que visava a diminuição dos gases de efeito estufa. Esses créditos fazem parte de um mecanismo de flexibilização que auxilia os países que possuem metas de redução da emissão de gases poluentes a alcançá-las. A cada tonelada não emitida, gera-se um crédito de carbono.
Assim, quando um país consegue reduzir a emissão dessa tonelada, recebe os créditos que estarão disponíveis para serem comercializados com os países que não alcançaram as suas metas. Para melhor compreender o funcionamento deste mercado, a E&M conver-
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NAÇÃO | CRÉDITOS DE CARBONO
sou com o director para financiamentos inovadores da Biofund, Sean Marek Dyas Nazerali.
A primeira coisa que fez questão de esclarecer, na conversa, é que a Biofund não está envolvida, de maneira nenhuma, no mercado de carbono, apesar de ser uma organização com interesse e várias intervenções com res-
peito à preservação do meio ambiente. Para melhor explicar o mercado, comparou as emissões de carbono com o envio de camadas e mais camadas de cobertores para a atmosfera, acabando por causar o aquecimento global e, por consequência, tempestades mais fortes. “Tal como existem muitos processos que emitem carbono, na natureza
existem outros que absorvem carbono do ar, como as árvores no seu processo de desenvolvimento.
Os oceanos também sugam carbono da atmosfera e todos estes processos contribuem para a limpeza do ar. Então, o conceito geral por detrás dos créditos de carbono é o de sugar quantidades de carbono que estão na atmosfera.
A ideia é que, se alguém pode fazer algo para tirar um ‘cobertor’, então pode transaccionar com o que fabrica tais ‘cobertores’. Ou seja, o fabricante paga a quem retira os ‘cobertores’ e assim o impacto é zero.
E esse processo é tecnicamente designado por sequestro de carbono”, explicou. Um ponto positivo a favor de
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Existem muitos processos que emitem carbono. Na natureza, existem outros que absorvem carbono do ar, como as árvores no seu processo de desenvolvimento
Moçambique, ainda de acordo com Sean Marek Dyas Nazerali, é que o carbono pode ser sequestrado em qualquer lugar (o que potencia os ganhos financeiros), mesmo que o País não seja um grande emissor.
Mas é também verdade que Moçambique emite uma certa quantidade de carbono, principalmente através do desmatamento.
Por isso, evitar esta prática é a maneira mais decisiva de reduzir as emissões e há aqui uma oportunidade de fazer uma série de investimentos neste âmbito, parte dos quais já está em curso.
E o que está a ser feito?
A E&M ouviu também a directora do Banco Mundial para Moçambique, Madagáscar, Ilhas Maurícias, Seychelles e Comores, Idah Pswarayi-Riddihough.
A responsável revelou que a sua instituição está a despender muito dinheiro em apoio ao fim do desmatamento
em nove distritos da província da Zambézia (Alto Molocué, Gilé, Gurué, Ile, Maganja da Costa, Mocuba, Mocubela, Mulevala e Pebane). Nesses locais, as comunidades estão a receber incentivos para substituírem o uso do carvão e da lenha, bem como a receberem treinamento para evitarem a agricultura baseada no desmatamento.
Em troca, recebem uma parcela previamente acordada dos pagamentos em relação à sua contribuição “Neste quadro, existe um Plano de Partilha de Benefícios preparado junto das estruturas locais e das comunidades para garantir que os benefícios sejam canalizados aos que mais contribuíram pa-
ra a redução do desmatamento. É uma estratégia, segundo a representante do Banco Mundial, que garante a contínua promoção da restauração de áreas degradadas, ao mesmo tempo que estimula modelos agrícolas favoráveis à conservação do ambiente.
Estima-se que cerca de 43% ou 34 milhões de hectares de todo o País estejam cobertos por florestas naturais que foram severamente degradadas ao longo dos anos.
E o Banco Mundial acredita que este programa tem grande potencial para a melhoria da qualidade de vida das populações rurais abrangidas. A meta da instituição é que, até ao final de 2024,
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Quando um país consegue reduzir a emissão de carbono, recebe os créditos que estarão disponíveis para serem comercializados com outros paises
COMO FUNCIONA O MERCADO DOS CRÉDITOS DE CARBONO
Com o mercado de créditos de carbono, a redução das emissões de gases de efeito estufa passou a ter valor económico: além do compromisso com o futuro do planeta, é também uma estratégia de mercado que oferece a possibilidade de liderança num cenário de desenvolvimento de economias de baixo carbono. Veja como funciona
O mercado consiste na compra de créditos de carbono por países que não conseguirem atingir as suas metas de redução de gases do efeito estufa.
Quem vende esses créditos negociados no mercado internacional são aquelas nações que reduziram as suas emissões
Assim, um crédito de carbono é a representação de uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera.
Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de carbono.
Antecipar preços de carbono é uma tarefa complexa. Por ter características de commodity e custos de transacção indexados ao dólar, tendem a ser negociados em moeda estrangeira, o que representa um desafio na avaliação de comportamento futuro. Além disso, o próprio carbono tende a apresentar uma trajectória de preços incerta nos diferentes horizontes temporais e para os diferentes locais.
A redução da emissão de outros gases também pode ser convertida em créditos de carbono, utilizando-se o conceito de carbono equivalente*
* O dióxido de carbono equivalente é o resultado da multiplicação dos toneladas emitidos de gases de efeito estufa pelo seu potencial de aquecimento global.
Uma taxa de emissões que cresce a aproximadamente 1,2% ao ano ante um desafio global de ao menos 7% de redução é, evidentemente, uma diferença de magnitude relevante. O aspecto principal ainda reside no facto de que créditos de carbono só garantem a contribuição para uma trajectória mais alinhada com os desafios de evitar o colapso climático quando permitem um balanço negativo de emissões de CO2 na atmosfera.
Há dois – o regulado e o voluntário. O regulado, que é obrigatório e maior. Neste, os governos impõem metas de redução progressivas para os sectores envolvidos e o preço do carbono é três vezes maior do que no voluntário. Já os mercados voluntários, como o moçambicano, foram criados por empresas com interesse de neutralizar suas emissões com vistas a colaborar com os esforços globais de descarbonização.
DELOITTE INTRODUZ “CLIMATE FUND” EM MOÇAMBIQUE
Noutras geografias, a consultora já tem projectos avançados nos mercados de carbono. Mas o potencial de Moçambique despertou o interesse desta consultora no mercado doméstico, segundo o Country Managing Partner e CEO da empresa, João Machado
No Brasil, a Deloitte está a desenvolver o projecto #DeloitteCarbonoZero, através do qual realiza compensações por meio de créditos de carbono a favor das comunidades, para evitar o desmatamento em algumas partes daquele país. Qual é o grande propósito da empresa ao assumir esta postura?
Através do seu programa “World Climate”, a Deloitte assumiu a nível global o compromisso de descarbonizar as suas operações, atingindo em 2030 as metas de neutralidade estabelecidas internacionalmente no âmbito da iniciativa “Science Based Targets”, lançada, entre outros, pelas Nações Unidas.
Neste caminho, além de reduzir progressivamente as suas emissões (centrando-se na energia utilizada nos seus edifícios, nas deslocações das suas pessoas em contexto profissional, nas suas frotas automóveis, entre outros), a Deloitte tem calculado a sua pegada carbónica anualmente e tem compensado a mesma investindo em projectos que contribuam para absorver as emissões produzidas.
Acreditamos que o caminho para a descarbonização é possível e que apenas se faz em conjunto e de forma colaborativa entre todos: as pessoas, os Governos e as empresas, assumindo estas um papel muito importante, uma vez que são quem produz os bens e serviços consumidos pelos primeiros, tendo a responsabilidade de o fazer de forma mais sustentável e ambientalmente responsável.
Em Moçambique existe alguma iniciativa do género a ser desenvolvida pela Deloitte Moçambique ou alguma perspectiva de que um dia possa apoiar um projecto deste género?
A Deloitte Moçambique, em conjunto com a Deloitte noutras geografias africanas e europeias, encontra-se no processo de criação do que chamamos “Climate Fund”, o qual visa, além de se envolver em projectos de sensibilização, procurar focar as acções de compensação carbónica nas geografias de actuação dos seus fundadores, incluindo Moçambique. Assim, a Deloitte Moçambique encontra-se em procura activa de projectos que se enquadrem nestes objectivos, tendo até ao momento encontrado um projecto no norte do País com um imenso potencial para contribuir para estes objectivos.
Entretanto, Moçambique já tem alguma visibilidade internacional enquanto re-
ceptor de compensações pela redução da emissão de carbono, através de diversos mecanismos. Olhando para a experiência que a Deloitte tem sobre os projectos similares que desenvolve pelo mundo, como é que estes benefícios são transformados em factores de desenvolvimento sustentável mais efectivo?
O caminho para a redução das emissões de carbono, incluindo as compensações carbónicas (visando a sua neutralidade), devem ser entendidas como o caminho necessário não apenas para a sustentabilidade global, mas também a forma de evitar prejuízos, a médio e longo prazo, gigantescos. De acordo com o estudo da Deloitte “Global Turning Point”, se a humanidade não actuar de modo que evite o aquecimento global em 3ºC, teremos um previsível prejuízo global de cerca de 178 biliões de dólares. Ao invés, se actuarmos de forma a evitar o aquecimento global acima dos 1,5ºC, teremos um efeito positivo nas nossas economias. Ou seja, mesmo de um ponto de vista económico, comprova-se que esta é a única via que a humanidade pode e deve seguir.
Qual deve ser a postura das empresas face a esta nova realidade que nos empurra para a adopção de uma postura amiga do ambiente? Será necessária uma reestruturação das organizações para acomodar as necessidades dos novos desafios?
Atravessamos um período transformacional intenso para as organizações. O custo imediato que este representa não é mais do que um investimento no futuro próximo de sobrevivência da própria empresa. Aquelas que ficarem de fora deste movimento, dificilmente sobreviverão, uma vez que os ecossistemas em que operam e a sociedade em geral exigirão o cumprimento das metas que são impostas internacionalmente.
Moçambique possa evitar emissões de dez milhões de toneladas de carbono. O Forest Carbon Partnership Facility (FCPF), programa lançado em 2008 e através do qual o Banco Mundial intervém no mercado de carbono em Moçambique, é uma parceria global de governos, empresas, sociedade civil e organizações de povos indígenas com foco na redução de emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal, conservação de de stock de carbono florestal, gestão sustentável de florestas e aumento de de stock de carbono florestal em países em desenvolvimento.
O projecto dos fogões melhorados da MozCarbon
Uma das fontes de rendimento através dos créditos de carbono é a utilização de fogões melhorados. Ouvimos a MozCarbon, empresa responsável que é a empresa responsável por apoiar esta iniciativa, actuando transversalmente nos sectores de tecnologia limpa para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e promover o desenvolvimento sustentável em todos os seus componentes (ambiental, social e económico).
De acordo com aquela, a Global Alliance for Clean Cookstoves mostra que em Moçambique uma grande pro-
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João Machado, Country Managing Partner/ CEO, Deloitte Moçambique
porção da população (96%) ainda depende de combustíveis sólidos (lenha e carvão) para cozinhar. Isso apresenta sérios problemas, incluindo mortes relacionadas com a poluição do ar interno (13 mil anualmente, das quais 50% são crianças), desmatamento e combustíveis e fogões de cozinha inseguros e caros.
A partir desta realidade, a empresa está a implementar um programa de actividades denominado Cozinha Eficiente e Limpa para Agregados Familiares Moçambicanos de Baixo Rendimento, cuja meta é distribuir e monitorar o uso de pelo menos 250 mil fogões melhorados de biomassa (lenha e carvão) em todo o País.
A empresa garante que esta iniciativa é capaz de gerar uma poupança mensal de pelo menos 50% no orçamento alocado à energia para cozinha (carvão e lenha) pelos agregados familiares e permitir a utilização dessas economias noutras necessidades da família, bem como a redução de fumos, diminuindo significativamente as doenças respiratórias, que são uma das
principais causas de morte em Moçambique. Acresce a estas vantagens que os fogões são vendidos a preços acessíveis a agregados familiares urbanos e periurbanos de baixo rendimento, através de um subsídio até 60% do custo do preço de mercado.
As grandes preocupações do mercado de carbono
Apesar da já bem aceite e reconhecida importância, a questão em torno da eficácia deste mercado ainda dá que falar. Especialistas ao redor do mundo consideram que é aqui que se coloca o problema de “adicionalidade”.
Por exemplo, se um proprietário de terra é pago para não cortar árvores, mas não tinha planos de cortá-las em primeiro lugar, o projecto não oferece economia adicional de emissões. O proprietário é pago para não fazer nada e as emissões do comprador não são compensadas.
Ou seja, fornecer créditos de carbono para projectos que teriam sido implementados de qualquer maneira oferece mitigação climática zero e pode resultar em emissões globais maiores do que se os créditos não tivessem sido
emitidos. Analistas entendem que este é um sério desafio para os mercados de compensação de carbono porque a adicionalidade não é mensurável, apesar das alegações da indústria.
Por outras palavras, embora os gestores de projectos possam alegar que não podem prosseguir sem financiamento, não há como saber se essas alegações são verdadeiras. Uma segunda questão aqui levantada é a permanência.
Quer dizer que as compensações de carbono devem ser permanentes porque as emissões permanecem na atmosfera por centenas de anos. E há o entendimento de que é quase impossível garantir que as emissões sejam compensadas por tanto tempo.
Argumentam, no entanto, que, no caso de projectos de redução de carbono, as emissões globais permanecem
TIPOS DE CRÉDITO DE CARBONO
Existem dois – o regulado e o voluntário. A diferença é que o regulado é obrigatório e maior. Os governos impõem metas de redução progressivas para os sectores envolvidos. Os mercados regulados são mais exigentes em relação aos sistemas de verificação das certificações dos créditos de carbono e as empresas que não cumprirem com as metas de redução podem ser penalizadas. Além disso, neste mercado, o preço do carbono é três vezes maior do que no mercado voluntário. Este tipo de crédito não se verifica em Moçambique.
Já os mercados voluntários, como os que vigoram em Moçambique, foram criados por empresas com interesse de neutralizar as suas emissões de modo a colaborar com os esforços globais de descarbonização (a compra e venda de carbono é por interesse das empresas). Os inventários de emissões são feitos de forma voluntária. No entanto, investidores e consumidores têm cada vez mais exigido a elaboração de inventários, relatórios de monitoramento de emissões e divulgação de metas de redução.
positivas. Exemplos de créditos de redução de carbono incluem investimentos em energia renovável.
Mesmo que o fornecedor do crédito de carbono não esteja a gerar emissões, o comprador continua a emitir e, portanto, o nível geral de emissões é positivo.
E a conclusão é que “a neutralidade de carbono não pode ser alcançada usando créditos de redução de carbono”.
Assim, deveria haver mais financiamento disponível para actividades de redução de carbono em África, mas os investidores não deveriam receber créditos de carbono para compensar as suas próprias emissões ao apoiar essas actividades. Tais investimentos seriam filantrópicos – para o bem do planeta, não para equilibrar as contas de carbono.
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No caso de projectos de redução de carbono, as emissões globais permanecem positivas. E os exemplos incluem investimentos nas renováveis
Para além do Lucro: Implementação de Estratégias de Sustentabilidade
“Os negócios devem ser uma força para o bem social, e não apenas para gerar lucros.” -
Marc Benioff
Marc Benioff, fundador e CEO da Salesforce, acredita que as empresas têm um papel crucial a desempenhar na criação de mudanças positivas na sociedade.
Ele é um defensor do modelo de negócios “1-1-1”, que destina 1% da receita, 1% do tempo dos funcionários e 1% dos produtos da empresa para causas sociais. Essa abordagem é um exemplo de como as empresas podem ir para além do lucro e fazer a diferença nas comunidades onde estão inseridas.
Nos dias de hoje, a sustentabilidade é um tema cada vez mais relevante no mundo dos negócios. A importância de integrar práticas sustentáveis em todas as áreas da empresa está a tornar-se cada vez mais evidente.
As empresas precisam de assumir a responsabilidade pelas suas acções e garantir que fazem a sua parte quanto à preservação do meio ambiente, ao mesmo tempo que contribuem para a criação de uma sociedade mais justa e equitativa.
Ao longo deste artigo, tendo como base esta premissa, vamos explorar como as empresas podem implementar estratégias de sustentabilidade e partilhar alguns exemplos de empresas moçambicanas de sectores distintos que foram para além do lucro e obtiveram um papel diferenciador e impactante nas comunidades onde operam.
Inovação social e ambiental
As empresas podem investir em inovações que contribuam para a solução de problemas sociais e ambientais, como o uso de fontes de energia renovável, a gestão de resíduos e a redução das emissões de carbono. Ao investir em tecnologia verde, poderão reduzir custos operacionais e aumentar a eficiência energética.
Inclusão e Diversidade
As empresas estão continuamente a trabalhar para aumentar a diversidade e a inclusão das suas equipas. Elas reconhecem que a diversidade é uma vantagem competitiva e que a inclusão é essencial para a construção de uma cultura empresarial saudável. Ao adoptar políticas de inclusão e diversidade, podem melhorar a inovação, o desempenho e a satisfação dos colaboradores.
Liderança catalisadora e “future-ready”
Uma liderança catalisadora é fundamental para o sucesso de uma estratégia de sustentabilidade.
É necessário que a liderança da empresa esteja comprometida e activa com a sustentabilidade e que possua habilidades para liderar a implementação de mudanças.
Os líderes devem ser os porta-vozes das aspirações da sociedade, indivíduos éticos, transparentes, respeitosos às pessoas e ao meio ambiente. Devem, sobretudo, liderar com valores, para assim poderem gerar valor económico e prosperidade.
Uma liderança “future-ready” é aquela que está preparada para enfrentar os desafios do futuro, considerando a importância da sustentabilidade em todas as áreas da vida e negócios. Essa liderança é capaz de pensar a longo prazo, agir com responsabilidade social e ambiental e promover a inovação sustentável nas suas actividades.
As empresas que são “future-ready” estão mais preparadas para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança e têm mais chances de prosperar a longo prazo.
Agenda de responsabilidade social corporativa focada no propósito
Trata-se de uma estratégia empresarial que procura alinhar as acções e os valores da empresa com um propósito social ou ambiental específico.
Isso inclui uma ampla variedade de iniciativas, como a redução das emissões de gases de efeito estufa, o uso de
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Ilia da Silva • Director de Transformação do Absa Bank Moçambique
Os líderes devem ser os porta-vozes das aspirações da sociedade, indivíduos éticos, transparentes, respeitosos às pessoas e ao meio ambiente.
Devem, sobretudo, liderar com valores, para assim poderem gerar valor económico e prosperidade
energia renovável, a redução de resíduos, a conservação de recursos naturais e a promoção de práticas de trabalho justas.
Para implementar uma agenda de responsabilidade social corporativa, as empresas devem avaliar cuidadosamente as suas operações e identificar oportunidades de melhoria.
Isso pode incluir a adopção de novas tecnologias, a revisão de processos de produção e até mesmo a mudança para fornecedores mais sustentáveis.
Além disso, as empresas devem comunicar claramente as suas metas e progresso em relação à sustentabilidade. Isto permite envolver os colaboradores, os clientes e os accionistas e demonstra um compromisso com a responsabilidade social e ambiental.
Alguns exemplos da implementação da força para o bem social em Moçambique
(i) A Coca-Cola Sabco (Moçambique)
SA – CCSM é um exemplo de liderança catalisadora e “future-ready” na questão da reciclagem de resíduos e no apoio às comunidades locais. A Coca-Cola Company anunciou a sua ambição de liderar a indústria de embalagens sustentáveis.
A empresa definiu a meta de tornar todas as suas embalagens 100% recicláveis globalmente até 2025, além de colectar e reciclar o equivalente a 100% das garrafas plásticas PET vendidas nos seus mercados até 2030, através do programa “Mundo sem Resíduos/World Without Waste”. Na implementação do programa em Moçambique, a CCSM conta com a ajuda de cinco empresas que exportam o PET para a África do Sul, onde é depois transformado em polyester ou resina para produção de novas garrafas. Anualmente, a CCSM investe cerca de 31 milhões de meticais no programa de reciclagem, que impacta cerca de 6.600 jovens e mulheres, gerando renda para cerca de 40.000 famílias. Além disso, a empresa também tem outras iniciativas de sustentabilidade, como o abastecimento de água para as comunidades através da construção de furos de água. Com esse compromisso, a CCSM procura criar um impacto positivo em toda a sua cadeia de valor e liderar a transição para uma economia circular e sustentável.
(ii) A Maragra Açúcar SA é um bom exemplo de como uma empresa po-
de ter uma agenda forte de Responsabilidade Social Corporativa focada no seu propósito que é produzir açúcar de alta qualidade de forma responsável e sustentável, desenvolvendo as comunidades onde actua. A empresa ajuda a comunidade local, ao criar emprego, ao oferecer programas de educação e formação, ao fornecer serviços de saúde, como maternidade, água e luz, além do programa de combate à malária nas comunidades onde operam. Adicionalmente, é amiga do meio ambiente e usa práticas agrícolas responsáveis. Na fábrica optaram pela reutilização da água e estão a apoiar o Governo num projecto de gestão de água.
(iii) O Absa Bank Moçambique é um exemplo de como a inclusão e a diversidade podem ser incorporadas numa empresa. O Absa Bank Moçambique promove a diversidade na sua equipa e nas suas práticas de recrutamento, reconhecendo que a inclusão é uma fonte de inovação e competitividade. O banco tem-se mostrado pioneiro em iniciativas de inclusão de género, sendo que, há mais de dois anos, apresenta a paridade de género na sua força laboral e é a primeira instituição financeira com uma representação feminina de 55% em cargos de gestão de topo. Em suma, a implementação de estratégias de sustentabilidade é um aspecto essencial para o sucesso e resiliência a longo prazo de qualquer organização.
A inovação social e ambiental torna-se necessária para desenvolver soluções mais eficientes e sustentáveis, reduzindo o impacto ambiental das operações empresariais.
A inclusão e a diversidade são fundamentais para garantir que todas as vozes sejam ouvidas e que as empresas possam promover a igualdade de oportunidades.
A agenda de Responsabilidade Social e Corporativa focada no propósito ajuda a criar um alinhamento com os valores da empresa e com as expectativas da sociedade, promovendo a transparência e a responsabilidade.
Por fim, mas não menos importante, a liderança catalisadora e “future-ready” são importantes para guiar a empresa na transição para um modelo de negócios mais sustentável e para prepará-la para enfrentar os desafios do futuro.
Ao adoptar essas estratégias, as empresas podem tornar-se líderes em sustentabilidade e contribuir para um mundo mais justo, inclusivo e sustentável.
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A busca pela sustentabilidade pode ser uma tarefa compexa, mas vale sempre a pena
“Créditos de Carbono Serão Cruciais para o Desenvolvimento”
Como é que se transformam créditos de carbono em bem-estar para as comunidades e para o País, de um modo geral? António Guiso, director da South Pole para África, entidade que integra a Carbonsink Moçambique, traz as respostas sobre um mercado, até aqui, pouco conhecido mas que está em amplo crescimento
Em Janeiro de 2022, a South Pole juntou-se à Carbonsink – uma empresa líder em consultoria climática no mercado italiano – para acelerar a ambição climática e intensificar a transição para uma sociedade inteligente em relação ao clima. Com recursos combinados, a Carbonsink e a South Pole aconselham empresas sobre acções climáticas, promovem soluções digitais de última geração para sistemas de gestão de carbono e desenvolvem projectos inovadores à medida que a demanda por créditos de carbono de alta qualidade continua a crescer.
Em conjunto, ambas as empresas têm acesso a um portefólio internacional de créditos de carbono certificados que, até ao momento, possui mais de 1 000 projectos de mitigação de alta qualidade em todo o mundo e mais de um milhar de colaboradores nos seis continentes. Esta união aumenta também a presença da South Pole em África, onde a Carbonsink já desenvolveu mais de 30 projectos de carbono através do seu escritório em Moçambique, onde está a operar desde 2012, tendo estabelecido uma empresa local em 2018.
Juntamente com a South Pole, agora tem escritórios em três países africanos, nomeadamente no Quénia, África do Sul e Moçambique e é a maior implementadora do continente. É na voz desta entidade, mais concretamente do director da South Pole para África, António Guiso, que exploramos a essência do mercado de carbono em Moçambique, África e no mundo.
Como é que, pela vossa experiência, os países africanos, incluindo Moçambique, encaram a necessi-
dade de descarbonização hoje, sobretudo olhando para a possibilidade de este fenómeno poder trazer compensações para as comunidades e para a economia?
O continente africano carrega o fardo mais pesado dos efeitos das mudanças climáticas, apesar de contribuir com menos de 4% das emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE). No entanto, limitar o papel de África no diálogo climático apenas a perdas, danos, adaptação e resiliência desacelera o potencial do continente para desempenhar um papel crucial no futuro climático do planeta.
Assim, não parece ser construtivo ignorar o potencial de África em contribuir para combater as alterações climáticas ao nível mundial, no seu papel de líder mundial na limitação das emissões, estimulando a restauração do clima e orientando o continente para os seus pontos fortes que se traduzem em novos segmentos importantes de oportunidades económicas.
As substanciais florestas remanescentes, pastagens, turfeiras e mangais já desempenham um papel crítico na desaceleração das mudanças climáticas e da degradação ambiental. Mas, apesar do seu valor como pulmões importantes para o mundo, praticamente nenhuma compensação é dada às comunidades que as protegeram. Precisamos urgentemente de fortalecer e aprofundar os mercados de carbono e outros mecanismos para reconhecer a riqueza natural de África e compensar aqueles que já trabalham não apenas para protegê-la, mas para fazê-la crescer.
A vossa intervenção para a descarbonização é feita em dois âmbitos:
o empresarial e o governamental. Em que consiste cada um dos dois contextos e que diferença se estabelece entre eles?
Existe um ditado que diz que “não se pode melhorar o que não se pode medir” – portanto, um dos primeiros passos mais importantes na descarbonização é analisar a pegada de gases de efeito estufa da empresa, fábrica ou mesmo país em questão.
Essa análise permite que o usuário identifique todos os processos e actividades que contribuem para os seus impactos de gases de efeito estufa e desenvolva estratégias ambiciosas e baseadas na ciência para reduzir essa pegada como, por exemplo, melhorando a eficiência dos seus escritórios e cadeias de valor, adoptando tecnologias e práticas energeticamente eficientes (embora a introdução de novas medidas para reutilizar e reciclar produtos residuais consuma muita energia e não seja simples de transformar).
É aqui que a compensação por meio da criação de créditos de carbono certificados pode contribuir para equilibrar essas emissões residuais reduzindo, ainda mais, os impactos das mu-
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Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
danças climáticas. Gases de efeito estufa onde uma cadeia de valores não pode ser mais descarbonizada, a compensação pode ser usada para apoiar os efeitos positivos da acção climática onde for necessário. O mesmo princípio pode ser aplicado ao nível das famílias, fábricas ou mesmo ao nível dos governos nacionais.
Gostava que falasse um pouco mais dos mecanismos de compensação que existem e em que medida podem ser aplicados em benefício das comunidades e das famílias, citando exemplos dos avanços já testemunhados em diferentes partes do mundo e, se for o caso, também aqui em Moçambique.
É importante destacar que, para gerar créditos de carbono certificados, os
projectos de mitigação devem passar por um rigoroso processo que garanta a sua integridade. Esse processo envolve diversos parceiros desde o desenhador do projecto, quem o desenvolve, até aos auditores externos que validam a sua metodologia de geração de créditos, aos órgãos independentes que verificam se as reduções de CO2 realmente ocorreram conforme o planeado, os padrões de certificação de créditos de carbono até, por fim, chegarem ao registo público, ou seja, ao mercado.
Esse processo e a verificação e monitoria independentes por várias partes interessadas certificam os créditos de alta qualidade e o impacto positivo que o projecto tem no clima e nas comunidades. De facto, os projectos de mitigação que geram créditos de carbono certificados, para além de combaterem as
mudanças climáticas, geram impactos positivos ‘além do carbono’: garantindo benefícios sociais, económicos e ambientais à escala global, alinhados aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Existem vários tipos de projectos de mitigação, todos com grandes benefícios socioeconómicos para as comunidades locais, incluindo, nomeadamente, os projectos de protecção florestal, que reduzem os impactos negativos do desmatamento e, ao canalizar financiamento, tecnologia e conhecimentos para as comunidades rurais dependentes da floresta e pobres em recursos, ajudam a transformar as economias locais para que não dependam mais da extracção de madeira, promovem o acesso aos cuidados de saúde e água potável e criam oportunidades de melhoria na qualidade de vida, como educação e protecção dos ecossistemas naturais e a biodiversidade animal. Os projectos de energia renovável (hidroeléctrica, solar, eólica) garantem a transição de energia verde para os países em desenvolvimento e têm um efeito positivo nas economias e meios de subsistência, criando novas oportunidades de emprego. A agricultura regenerativa garante boas colheitas adaptando-se às mudanças climáticas e, por fim, os projectos baseados na comunidade, como a distribuição de fogões eficientes, têm grandes impactos socioeconómicos e de saúde, melhorando a vida das comunidades onde são implementados.
E como funciona o mercado do carbono?
O Mercado Voluntário de Carbono (VCM), que é essencialmente um mercado descentralizado onde actores privados compram e vendem voluntariamente créditos de carbono que representam reduções certificadas ou reduções de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, é essencial para canalizar fundos para financiar acções climáticas e apoio aos projectos de mitigação.
Graças ao financiamento voluntário de carbono, a Carbonsink foi capaz de activar projectos para a produção e venda de fogões eficientes em Maputo, contribuindo para o alívio à pobreza entre a população através da distribuição de novos fogões eficientes com baixo impacto ambiental.
Até ao momento, mais de 60 mil fogões eficientes foram distribuídos para domicílios em Maputo, graças ao financiamento climático de créditos de carbono. Para além de reduzir as emissões de CO2, a degradação florestal e o desmatamento, o projecto contribui
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“Os projectos geram créditos de carbono, além de combater as mudanças climáticas, geram benefícios sociais, económicos e ambientais”, António Guiso, director da South Pole para África
Graças ao financiamento voluntário de carbono, a Carbonsink desenvolveu a produção e venda de fogões eficientes que reduzem as emissões e causam menor impacto na saúde dos utilizadores
para melhorar a saúde das comunidades ao reduzir a exposição a fumos nocivos, melhora as condições socioeconómicas das mulheres dando-lhes tempo para realizar outras tarefas e melhora os meios de subsistência das comunidades, criando oportunidades de trabalho.
Além disso, o Mercado Voluntário de Carbono permite fluxos de financiamento significativos para incorporar iniciativas de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação plus (REDD+) e reflorestamento por meio da certificação e comercialização de créditos de carbono gerados por projectos e programas que visam a redução do desmatamento.
De longe parece haver muito mais interesse dos países pobres em aderir aos programas de descarbonização (talvez por causa das compensações) do que os desenvolvidos, que são os que mais emitem CO2. Pode comentar?
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC), que é o tratado interna-
cional mais importante que coordena a resposta global às mudanças climáticas, distingue entre nações desenvolvidas ricas e países mais pobres e menos desenvolvidos sobre as responsabilidades pela acção climática em termos de compromissos com a descarbonização e as formas pelas quais eles podem beneficiar-se da acção climática.
O tratado obriga as nações desenvolvidas a comprometerem-se com acções significativas de descarbonização e transformação das suas economias, em reconhecimento à sua maior responsabilidade nas emissões globais e nos impactos climáticos decorrentes. Em contraste, as nações menos desenvolvidas têm mais flexibilidade para adoptar acções voluntárias de descarbonização e têm mais opções para fazer uso de apoio e financiamento internacional para avançar para um futuro de baixa emissão, o que pode incluir a promoção de projectos de compensação de carbono como um mecanismo para atrair apoio financeiro e adoptar práticas sustentáveis em sectores como florestas, agricultura, energia, transporte, etc.
Também gostaria que se referisse aos requisitos importantes no quadro legal que possibilitam uma transformação favorável à descarbonização? E, já agora, o que será preciso mudar, ao nível legal, para Moçambique se posicionar enquanto destino verdadeiramente atractivo para esta indústria emergente?
O artigo 6 da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima reconhece que os países podem procurar cooperação voluntária na implementação das suas Contribuições Nacionalmente Determinadas para permitir uma maior ambição de mitigação e promover o desenvolvimento sustentável. O artigo 6 também fornece uma via exclusiva para o sector privado se envolver directamente no alcance das metas estabelecidas em Paris.
Neste sentido, a South Pole trabalha em estreita colaboração com o Governo de Moçambique, com investidores privados e organizações internacionais para conseguir um ambiente favorável de negócios para o mercado de carbono, que inclui o desenvolvimento de um quadro legal robusto de carbono assim como políticas relevantes.
Qual é o volume de recursos que hoje movimentam os créditos de carbono ao nível global, e como deve evoluir nos próximos anos no mundo e, em particular, em África?
O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (PIMC) confirma a importância dos mercados de carbono - e em particular do Mercado Voluntário de Carbonopara canalizar o financiamento para onde for necessário no sentido de proteger a natureza e apoiar o desenvolvimento sustentável em países menos desenvolvidos nesta década crítica.
Existem múltiplos mercados de carbono, sendo o mais importante para Moçambique o Mercado Voluntário de Carbono. Globalmente, o volume de créditos negociados no ano passado ultrapassou 2 mil milhões de dólares, e espera-se que aumente para algo entre 10 a 40 mil milhões de dólares até 2030.
Prevê-se também que a participação de África neste mercado continue a crescer à medida que os formuladores de políticas despertam para a possibilidade do financiamento do carbono como uma ferramenta para o desenvolvimento socioeconómico, gestão de recursos naturais e uma transição energética justa.
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O Potencial de África
Durante a COP 27, foi criada a Iniciativa dos Mercados Africanos de Carbono (ACMI) com ambições, digamos, ousadas. Espera-se que atraia somas significativas em investimentos através de empresas, consumidores e governos. Mas o que é que, de facto, se está a fazer e até onde África é capaz de se impor no panorama global?
Cientistas e estrategas em questões relacionadas com as mudanças climáticas e com as compensações de carbono ao redor do mundo vêm colocando África entre os lugares que, por serem os mais afectados pelos efeitos negativos das mudanças climáticas, poderão, igualmente, ser os maiores beneficiários dessas compensações.
Este optimismo ganhou expressão com a criação da Iniciativa dos Mercados de Carbono da África (ACMI), em Novembro de 2022 durante a COP27, com uma ousada meta de longo prazo para o continente, que é a de atingir 300 milhões de créditos anualmente até 2030. Esse nível de ambição libertaria 6 mil milhões de dólares em receita e sustentaria 30 milhões de empregos. Até 2050, a ACMI tem como objectivo atingir mais de 1,5 mil milhões de créditos anualmente em toda a África, alavancando mais de 120 mil milhões de dólares e apoiando a criação de mais de 110 milhões de empregos.
Na COP 27, 200 milhões de dólares foram garantidos em compromissos de empresas dos mercado avançados. Nesta conferência, sete países africanos safricanos - Moçambique, Quénia, Gabão, Maláui, Togo, Nigéria e Burundi - inscreveram-se para desenvolver planos nacionais de activação de carbono. Mas nem todos olham para esta questão com o mesmo optimismo. Por exemplo, alguns analistas do departamento das Nações Unidas para as mudanças climáticas defendem que não está claro se os investimentos em créditos de carbono no continente resultam em algum benefício climático significativo. “O tempo vai dizer”, referem. E argumentam que
os projectos existentes de compensação de carbono carecem de credibilidade, ainda que isso não signifique que os créditos de carbono não possam ser mais úteis no futuro. “Ser transparente sobre o que os projectos realmente entregam, em vez do que esperamos que eles entreguem, é fundamental. Dados os recursos limitados disponíveis para mitigar as mudanças climáticas, precisamos de mais do que boas intenções”, defendem, cépticos, os analistas da ONU.
E porque África deve apostar?
Líderes africanos e de outras organizações vêem nas compensações de carbono uma importante oportunidade de geração de rendimentos, com projecções de um crescimento sustentável num horizonte de seis a sete anos.
O secretário-executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para a África, António Pedro, enfatiza que o continente está no centro da oportunidade de desenvolver o mercado voluntário de crédito de carbono de uma forma que acelere a acção climática, promova a criação de valor compartilhado e crie meios de subsistência sustentáveis para as comunidades neste momento de incerteza económica global.
Acrescenta que, para recuperar das diversas crises que mais afectam o continente (pandemia do covid-19, volatilidade do preço das commodities, conflitos políticos, terrorismo, crise alimentar, crise energética, crises humanitárias, etc.), é preciso repensar a mudança do modelo económico de África para investir em cadeias de valor sustentáveis que gerem empregos e resiliência. Por isso vê na Iniciativa dos Mercados de Carbono da África “cami-
A Bacia do Congo é mais resistente às alterações climáticas do que a floresta tropical amazónica. Os países abrangidos requerem financiamento privado para protegerem as suas árvores e mudar para combustíveis mais verdes
nhos realistas, transparentes e confiáveis para o investimento”.
Por seu turno, o Presidente do Quénia, William Ruto, considera que os povos africanos têm o potencial de desempenhar um papel único, indispensável e globalmente significativo na prevenção e mitigação de emissões, protecção e restauração de ecossistemas cruciais. A actualização urgente dessas intervenções críticas oferece à humanidade a sua melhor oportunidade de prevalecer na disputa existencial com a catástrofe induzida pelas mudanças climáticas.
Ainda para o chefe de Estado queniano, a boa notícia é que o mundo tem uma oportunidade de ouro para alcançar rapidamente esses objectivos, desenvolvendo um mecanismo robusto, transparente e sustentável por meio do qual um mercado de créditos de carbono pode gerar renda atractiva e oportunidades de desenvolvimento para as comunidades que estão na linha
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Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock Photo
de frente na luta contra as mudanças climáticas. Damilola Ogunbiyi, co-presidente da UN-Energy, também considera que a Iniciativa Africana do Mercado de Carbono será uma oportunidade de transformação para África, com o potencial de desbloquear milhares de milhões de dólares em mudanças climáticas para apoiar as economias enquanto expande o acesso à energia, criando empregos, protegendo a biodiversidade e impulsionando a acção climática em direcção aos objectivos conjuntos do Acordo de Paris. Joseph Nganga, vice-presidente para o continente africano da Aliança Global de Energia para as Pessoas e o Planeta, observou que os níveis actuais de financiamento climático ficam aquém das necessidades do continente, que requer 3 biliões de dólares para implementar o Acordo de Paris.
Segundo o responsável, os mercados voluntários de carbono podem desempenhar um papel crucial no preenchimento dessa lacuna financei-
UM OLHAR AOS PROJECTOS DE ÁFRICA
Além de Moçambique, o Banco Mundial já vem apoiando projectos em África, cujo impacto já se faz sentir há quase uma década e com ganhos significativos. Conheça alguns exemplos
EGIPTO
O projecto de sucata e reciclagem de veículos levou à substituição de mais de 40 mil táxis antigos na cidade capital, Cairo, e ajudou a evitar o equivalente a 130 mil toneladas de dióxido de carbono entre 2013 e 2014.
ETIÓPIA
O Projecto de Regeneração Natural ajudou a restaurar 2700 hectares de terra no país e se tornou-se num modelo para outros esforços de regeneração administrados por agricultores no Níger, Chade e Burkina Faso.
QUÉNIA
Projecto de Expansão Geotérmica da Unidade 3 de Olkaria II, o primeiro mecanismo de desenvolvimento limpo, ajudou a adicionar 35 megawatts de electricidade à rede nacional e emitiu mais de 230 mil créditos de carbono.
MADAGÁSCAR
O Projecto de Conservação da Biodiversidade (REDD+) do Corredor Ankeniheny-Zahamena gerou quatro milhões de créditos de carbono e proporcionou benefícios substanciais à comunidade, como a piscicultura, produção de arroz e de feijão.
MARROCOS
O Programa Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos não apenas mitigou as emissões de gases, mas também gerou benefícios ambientais e sociais locais, como a melhoria da qualidade do ar, reduzindo a poluição.
NIGÉRIA
O Projecto de Compostagem de Resíduos Sólidos Earthcare, a primeira actividade de compostagem no país a ser registada no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, emitiu cerca de 30 mil créditos de carbono até ao final de 2015.
ÁFRICA DO SUL
O projecto de conversão de gás em electricidade do aterro sanitário de Durban está a adicionar três megawatts de electricidade àquele município e emitiu cerca de várias centenas de milhares de créditos de carbono.
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Projectos de reciclagem de resíduos, de implementação de fontes renováveis de energia, etc., têm vindo a ganhar destaque nas prioridades de investimento em África, o que faz prever aumentos significativos de créditos de carbono
ra, mas o seu potencial está longe de ser concretizado. Ainda assim, sublinha que “a Iniciativa dos Mercados de Carbono de África pode ajudar-nos a alcançar uma transição energética mais rápida e equitativa, uma transição que apoie vidas e meios de subsistência com energia limpa e confiável, ao mesmo tempo em que combate a ameaça existencial do nosso tempo, a mudança climática.”
O potencial: “pulmões” que valem dólares
Não é por acaso que os entendidos na matéria atribuem ao continente um espaço relevante no contexto global. África abriga a segunda maior floresta tropical do mundo, depois da Amazónia. Situada na Bacia do Congo e conhecida como os “pulmões de África”, cobre 268 milhões de hectares na África Central, que abrange seis países: a República Centro Africana, Camarões, Gabão, Guiné Equatorial, República do Congo e a República Democrática do Congo (RDC), o seu maior território. É uma região com um ecossistema que desempenha um papel fundamental na mitigação do clima através da absorção de gases com efeito de estufa e armazenamento de carbono no solo e nas árvores.
A Bacia do Congo possui ecossistemas ricos em carbono, tornando-a essencial para o planeta e para toda a humanidade, devido ao seu inigualável sumidouro de carbono. Do mesmo modo, dois dos países da Bacia, a RDC e o Congo, estão classificados entre os líderes mundiais da turfa tropical, conhecida como “Cuvette Centrale”, que cobre uma área de 145 mil quilómetros quadrados, e acredita-se que detém o equivalente a três anos de emissões globais. As turfeiras são especialmente importantes na conservação da biodiversidade e no sequestro de carbono.
São, igualmente, o maior depósito natural de carbono terrestre e são vitais para mitigar e prevenir os efeitos tumultuosos das alterações climáticas, minimizando o risco de cheias e secas, a preservação da biodiversidade, a guarda segura da qualidade da água, a prevenção da intrusão da água do mar e a regulação dos fluxos de água. As turfeiras são também conhecidas por fornecer alimentos, fibras e outros produtos locais que sustentam as economias.
A Bacia do Congo é mais resistente às alterações climáticas do que a floresta tropical amazónica, com as suas árvores altas que absorvem cerca de 1,2
mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. Os países abrangidos pela floresta tropical requerem financiamento privado para protegerem as suas árvores e mudar para combustíveis mais verdes e desflorestação lenta.
… E os ganhos financeiros que produzem
Nos Camarões, por exemplo, o Dutch Green Business Group (DGB), uma empresa líder em compensação de carbono e restauração de ecossistemas, anunciou que os seus dois projectos de carbono de grande escala, que se espera venham a originar mais de 6,9 milhões de créditos de carbono ao longo da vida do seu projecto, entraram na fase de desenvolvimento.
Em Maio de 2022, a República Democrática do Congo entrou num esquema de créditos de um bilião de dólares com a dClimate, uma empresa de investimento de carbono que conta, entre os seus financiadores, com empresários como Mark Cuban e Sergey Nazarov. O acordo, liderado pelo Presidente daquele país, Félix Tshisekedi, e pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, deverá manter-se em vigor durante dez anos e vale quase mil milhões de dólares, divididos em dez prestações anuais.
Em 2021, Moçambique (apesar de não ser parte dos “pulmões” de África) ganhou créditos de carbono na ordem de 50 milhões de dólares, resultantes do compromisso do Governo com a redução de emissões de gases por desmatamento. A primeira verificação do Programa de Gestão Integrada da Paisagem da Zambézia em Moçambique no âmbito do Fundo de Carbono do “Forest Carbon Partnership” (FCPF) concluiu, nessa altura, a verificação de mais de 2 milhões de reduções de emissões, resultantes de uma melhor gestão do desmatamento.
O Gabão (já de volta aos “pulmões” de África) tem sido um participante activo neste cenário e foi o primeiro país africano a receber financiamento no valor de 17 milhões de dólares, em 2021, para travar a desflorestação da Iniciativa Florestal da África Central (CAFI), um programa lançado em 2019 e apoiado pela ONU que planeia desembolsar um total de 150 milhões de dólares dentro dos próximos dez anos. Além disso, em meados de 2022, o Fundo de Investimento Estratégico Gabonês (FGIS) aderiu à aliança Net-Zero Asset Owner, uma iniciativa lançada pela ONU que se compromete a fazer a transição de várias carteiras de investimento para a neutralidade de carbono.
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Culturas Regenerativas – Do Saber-se Parte para o Sentir-se Parte
No rescaldo do Dia da Terra, que coincidiu com uma exposição em Lisboa sobre as Mulheres de Mahungo, escrevo hoje sobre uma inquietação antiga e reavivada pela brilhante apresentação da Professora Maristela Barenco C. de Mello, a que tive o privilégio de assistir há poucas semanas, no âmbito do 1.º Encontro de Eco-Mitologia em Português:
Como se passa da condição de saber-se parte da natureza, para a condição de sentir-se parte da natureza?
E se sentimos, porque preferimos perpetuar estilos de vida destrutivos, para satisfazer desejos que passaram a ser necessidades compulsivas?
A busca do saber desligou-nos do sentir. A hiper-racionalização e adição por teorias, factos, quantificação e controlo, e a habitual repulsa e medo do desconhecido, imprevisível e complexo desconectou-nos de sabedoria crucial: a do sentir, a visceral, a instintiva, a intuitiva, a voz interna que sabe, o corpo que sente. Que aliás, à luz da modernidade, são vistos como primitivos (no sentido verdadeiramente pejorativo), como nos relembram vários autores, entre os quais Sofia Batalha – a organizadora deste evento, que incentiva no seu trabalho e na recente obra “O Pequeno Livro da Imanência” um convite que considero urgente: o de inscender.
Numa sociedade viciada em saber, ascender, progredir e conquistar, é urgente desacelerar, descer à terra, ao corpo, sentir as coisas como são: as agradáveis e belas e as estranhas e insuportáveis.
Assim como é importante continuar a questionar a hegemonia, a descolonizar a consciência e o imaginário.
A Professora Maristela Mello começou por nos presentear com uma citação que para mim, que viajo entre os mundos, me diz muito:
“Para dar início à viagem não basta sair do continente. É preciso perdê-lo como referência (...) O olhar universal do
navegador recria alhures a casa que deixou (...) fazendo da terra que se parte a mesma que se chega (...)” Ana Godoy, “A Menor das Ecologias”.
Vejo recriados modelos de pensamento, terras, programas e políticas, formas de viver e trabalhar, tantas vezes incongruentes com a essência dos Lugares, e reconheço que é preciso muita coragem e muita humildade para, regularmente, nos darmos conta – e assumirmos – (d)os papéis de colonizador e de colonizado que Tod@s ocupamos e voltar ao Lugar de Co-Participante e de Aprendiz-Praticante.
É difícil desaprender, por vezes é assustador enfrentar o desconhecido e é muito mais cómodo fazer “como sabemos”, “como estamos habituados” e à luz das nossas referências.
Como Professora Universitária, Maristela Mello partilhou que o seu trabalho na Academia é trazer perguntas aos alunos para os quais não temos resposta. “É o de mostrar o quanto a ciência tem subalternizado a vida. E o de mostrar à vida o quanto nós nos temos subalternizado diante da ciência.”
Frequentemente sentimo-nos na obrigação de justificar quais os estudos que estão a ser feitos sobre o que dizemos, mas pouco nos importamos com o saber ancestral que perdemos e de que, às vezes, até temos vergonha.
Para esta Professora, é preciso trazer para dentro da ciência e da academia, uma visão e comunicação da vida que possa de novo reintegrar o planeta.
“A ciência é a instituição que é um aparato do sistema colonial. Não adianta falar em descolonização se não fazemos a crítica epistemológica sobre as formas de conhecimento que produzimos. Não dá para pensar as coisas sem pensar na instância que pensa as coisas.”
Lembra-nos da ambivalência do Ser Humano – que, por um lado, é arrogante por ser o último a chegar mas querer mandar e controlar, e que, por outro, somos todos atravessados pelo trauma de
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“É difícil desaprender, por vezes é assustador enfrentar o desconhecido e é muito mais cómodo fazer “como sabemos”, “como estamos habituados” e à luz das nossas referências”
Susana Cravo • Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org
inúmeros processos de colonização e de fragmentação, que nos trazem duas grandes consequências:
- Operamos com concepções que assentam sobre premissas – filosóficas, paradigmáticas, epistemológicas, que são incompatíveis com os modelos que queremos propor – a maneira como educamos por exemplo, está longe de nos ajudar a “sentirmo-nos parte”;
- Continuamos a perpetuar a colonização dos modos de viver. Somos consumidores terminais de formas de pensar, geradas/perpetuadas por sistemas mediáticos, tecnológicos, económicos, educacionais. (Maristella Mello)
Sublinho que a Academia foi dos sistemas mais coloniais em que participei, quer como aluna, quer como trabalhadora. Hoje, muitas destas instituições revestem-se de uma “modernização” e, não obstante a evolução que felizmente tem havido, o conservadorismo e a falta de cooperação prática e efectiva com outros actores do ecossistema social, ecológico, económico, cultural dificulta que a Educação faça o seu principal trabalho: apoiar os alunos no seu percurso de Aprendiz-Peregrino-Praticante, que será um trabalho para toda a vida.
E, como nos diz a Professora Helena Marújo – Titular da cátedra UNESCO em Educação para a Paz Global Sustentável, “é preciso renovar uma dimensão de ci-
dadania para a contribuição de bem comum (...) para um olhar que não seja o da competitividade ou bem-estar pessoal, (...) de inspirar e tocar, não apenas do ponto de vista do conhecimento científico, que obviamente é fundamental no processo educativo, mas no que diz respeito à construção do Ser Humano – que pessoas precisamos de ter na vida, para cada contexto, cultura, momento histórico.”
A própria Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação (UNESCO 2022) diz: “a biosfera é um importante espaço de aprendizagem (...) o conhecimento e os ensinamentos indígenas fundamentados na terra e na água, bem como muitas cosmologias africanas e asiáticas, postulam relações nas quais os não humanos são entendidos, não apenas como seres com os seus próprios direitos, mas como educadores e professores com os quais os humanos podem aprender em relação.”
Já para Achille Mbembe, “o fundamental é recuperar o sentido da nossa humanidade original: a capacidade de preservar o que nos é comum, de restituir e reparar, uma e outra vez, as relações entre nós e entre nós e os outros seres vivos.”
Voltando à Professora Maristela Mello, para ela e o seu grupo de estudo, a aposta é “num trabalho micro-político quotidiano, de tentar compreender as formas
inconscientes e as formas de desejo que imperam sobre os nossos discursos politizados e incoerentes.”
Precisamos de deixar, entre outras coisas, o olhar do navegador, os continentes de referências, as monoculturas de pensamento, a alienação geopolítica de querer “ser Europeu/Ocidental”, de objectificar tudo o que é vivo, de dar primazia à ciência em vez da vida! É preciso ter a coragem de deixar a “verdade” que trazemos na mochila e a “terra-mestra” (arrogante e imperial) que porta a verdade do mundo.
O projecto ocidental é, sim, colonial. Mas deixemo-nos de romantismos, passamos todos pelos papéis de colonizador e colonizado, de carrascos e de vítimas. E de salvadores também. Aliás, a própria cooperação, desenvolvimento e a filantropia – que andam muitas vezes de mãos dadas com outros papéis, nada ingénuos – enfrentam a crise inevitável de não saber muito bem como sair do paradigma de Fazer o Bem (Herói/Salvador) e vir para o paradigma do Desenvolvimento Regenerativo (interdependente, biointeligente, auto-expressivo e em permanente evolução).
E então como é que voltamos a sentirmo-nos parte? Em vez de apenas saber?
O dia 22 de Abril, para mim, amanheceu com esta frase: “o que nós mais precisamos de fazer é ouvir dentro de nós a terra chorando” (Thich Nhat Hanh). Mas entardeceu com a frase de uma Mulher de Mahungo, em resposta à pergunta que lhe fizeram sobre o que as pessoas aprendem quando passam uma experiência em Mahungo: “acima de tudo, eu acho que as pessoas se sentem muito amadas” (Carolina Cossa).
As duas frases são sábias.
É preciso ouvir o choro da terra, no corpo, aqui, no Lugar onde estou. Escutar verdadeiramente as tempestades e ciclones, a cólera e outros surtos, novos, que cada vez mais se vão generalizar, os solos cansados e estéreis. E é também crucial sentir-se amado, conectado, parte do Lugar e da Terra, para ter vontade de agir. É desta interconectividade e pertença que nasce a nossa compaixão-acção: A prontidão para ajudar e, sobretudo, para co-criar sistemas regenerativos, resilientes aos desafios que enfrentamos.
Este Sentir-se parte que é fundamental, precisa de ser resgatado, e isso não se faz com o lado esquerdo do cérebro, com o cartesianismo, em salas fechadas e enfadonhas, nem sozinhos. Faz-se com o coração, com a intuição, com o corpo inteiro, na sala-mestra da biosfera, sensorial e experiencial e em comunidade.
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Actividade com os jovens da aldeia de Mahungo na estufa sustentável da Escolinha Kutsaca
FNB acolhe conversa de "Mulheres para Mulheres”
nada e encorajando as mulheres a seguirem os seus sonhos, tanto a nível pessoal como profissional.
“Ao longo dos últimos anos, as mulheres têm assumido seu protagonismo no mundo corporativo, quebrando preconceitos e rótulos sobre as suas competências profissionais. Mas as conquistas não anulam o quanto ainda precisamos de evoluir e de discutir o assunto dentro das empresas. As lideranças femininas colaboram para uma maior diversidade nas organizações, gerando mais inovação e produtividade.
Neste Mês da Mulher Moçambicana, o FNB Moçambique deu voz a histórias inspiradoras num ambiente aconchegante e convidativo, contadas “de Mulheres para Mulheres”.
Vários foram os assuntos abordados pelas convidadas Jocelyne Machevo, Sónia Sultuane e Nancy Mafundza Come, num painel que contou com a moderação de Melba Jorge e uma audiência atenta e participativa, essencialmente composta por clientes e parceiras do Banco. Três mulheres com histórias, vivências e origens diferentes, mas com um denominador comum: são mulheres bem-sucedidas, com garra, determinação e vontade de vencer, cujas histórias não deixaram ninguém indiferente.
Sónia Sultuane, escritora e artista plástica moçambicana, reconhecida em diversas ocasiões pelos seus trabalhos artísticos sociais, debruçou-se sobre a sua luta contra dois cancros extenuantes, mas que não lhe tiraram a vontade de vencer e viver. “Não tenho medo de morrer, tenho medo de não viver o próximo instante. Quando me foi diagnosticado o segundo cancro, tinha 45 anos e pensei, desisto? Luto? Terei hipóteses? Vou sofrer novamente? Tinha um turbilhão de dúvidas, de medos e incertezas, mas a minha teimosia e o meu amor pela vida fizeram com que fosse à luta. Enchi-me de coragem e determinação e iniciei os tratamentos na África do Sul, lon-
ge de casa, da família e dos amigos. Percebi que existe muito preconceito acerca do cancro, mas não permiti que a maldade e ignorância alheia me afectassem, não deixei que gente tóxica se aproximasse de mim, pois tornam-se piores do que o próprio cancro", desabafou Sónia.
Mas o certo é que o pânico e o medo de morrer não derrubaram esta mulher que ama a vida acima de tudo, apesar de todos os desafios que a intensidade dos tratamentos lhe impôs: o sabor metálico dos alimentos, o olfacto alterado, a visão por vezes limitada, a queda de cabelo, pestanas e unhas, o cansaço extremo e lentidão, os efeitos psicológicos devastadores. Apesar de tudo, Sónia manteve-se firme nesta luta. “Um dia o martírio acaba, como tudo passa e acaba nesta vida, e volta tudo mais bonito e saudável, a pele, as unhas, o corpo, o cabelo, como se fôssemos novamente bebés, rejuvenescemos e até o sentido da vida muda. É uma oportunidade de recomeçar, é o reerguer da morte e só não vai aproveitar novamente a vida quem não sentiu a morte a vir buscá-lo!”, conclui Sónia Sultuane.
Jocelyne Machevo, gestora de Projectos de Oil and Gas, uma profissional de sucesso num meio liderado pelo género masculino, foi a primeira mulher e a primeira moçambicana a ocupar um cargo executivo na Bacia Eni Rovuma. Uma referência entre as mulheres jovens, tornou-se contadora de histórias e oradora motivacional, partilhando a sua jor-
As mulheres são altamente voltadas para a resolução de problemas, pois são capazes de levar para as organizações diferentes pontos de vista, colaborando para um clima organizacional mais positivo.” Nancy Mafundza Come contou um pouco da sua história tanto pessoal como profissional. Raptada pelos “bandidos armados” quando tinha apenas 5 anos, viveu em cativeiro durante um ano. Conseguiu fugir e mudar a trajectória da sua vida, superando desafios psicológicos e físicos, formou-se, deu início à sua carreira e quando teve a oportunidade de se juntar ao FNB, em 2009, como atendimento, não cruzou os braços. Nancy é hoje directora do Retalho do FNB.
Sobre a questão de género na gestão financeira e ao papel da mulher na sociedade moçambicana, afirma que “sempre existiram mulheres bancárias, mas agora vemo-las, cada vez mais, em posições de liderança, o que significa que existe um novo paradigma. Por outro lado, a mulher tem um papel bastante relevante na gestão de recursos financeiros e, muitas vezes, sem qualquer instrução formal. São elas que fazem a gestão de como a renda mensal é alocada nas suas casas.
E isto sem mencionar o facto de termos mulheres que são o principal provedor nas suas famílias, sendo que muitas, além de terem um emprego formal, têm um negócio à parte. Trabalhando no sector financeiro, consigo perceber de que forma as mulheres gerem o seu dinheiro e até o fazem, muitas vezes, melhor que os homens, pensam sempre em poupar e investir. Acredito que a mulher tem um papel bastante relevante na dinamização do sector financeiro no País.”
Três trajectórias contadas em três vozes, de três mulheres moçambicanas, convergiram numa narrativa única, pautada por notas de força, esperança e superação que caracterizam, de facto, a mulher moçambicana.
“Como borboletas, as mulheres são sobreviventes do tempo, nessa metamorfose constante”. Sónia Sultuane.
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 44 OPINIÃO
A mulher tem um papel bastante relevante na gestão de recursos financeiros e, muitas vezes, sem qualquer instrução formal
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STANDARD BANK ECONOMIC BRIEFING
Entre o ‘Apertar do Cinto’ e o Alargar do Crescimento a Dois Dígitos
O Standard Bank realizou a 27 de Abril, em Maputo, a primeira sessão anual do Economic Briefing, um evento que chega este ano à sua 18.ª edição e que, bem mais do que apenas um instrumento para orientar os clientes em particular, é, de há anos a esta parte, um referencial de conhecimento (decision making e partilha de tendências macroeconómicas do País e do Mundo) para o mercado nacional
No evento, em formato híbrido (presencial e virtual), o tema foi “Moçambique: As Complexidades do Caminho para uma Recuperação Económica Sustentável”.
Bernardo Aparício, administrador delegado do Standard Bank em Moçambique, começou por sublinhar a “resiliência da economia moçambicana” em 2022, com a estabilidade do metical evidenciada nos últimos 18 meses, uma inflação com tendência decrescente e um crescimento a aumentar (4,2%) com perspectivas de regresso, no médio prazo (assim sejam aprovados os FID dos projectos de gás da Exxon e da segunda área de exploração offshore por parte da ENI) aos 7% ou 8%, “depois de anos de crescimento económico abaixo do crescimento médio da população”.
Depois, abordou o tema do investimento em infra-estruturas: “para nós representa uma grande aposta. Temos apoiado os grandes projectos, a N4 com a TRACK, a expansão do porto de Maputo, do porto de Nacala, a rede ferroviária e o corredor de Nacala e, mais recentemente, a linha Beira-Machipande. Isto está no nosso DNA.
O nosso compromisso continuará a apoiar a reabilitação da N1. Mesmo em projectos em que estão instituições como o Banco Mundial ou o BAD, este é o papel dos bancos comerciais – apoiar o Estado, os subcontratados e as PME, e o Standard quer ter um papel cada vez mais marcante do que o que já tem a esse nível. Continuamos comprometidos
com o desenvolvimento das infra-estruturas em Moçambique”, disse.
Perspectivas de curto prazo
Fausio Mussá, chief economist do Standard Bank, fez, de seguida, uma análise mais detalhada da economia. Primeiro a visão global: “as implicações da desacelaração da economia mundial para uma economia mais frágil como a moçambicana são complexas e diversas. Nem sempre o crescimento gera transformação de uma economia. Prevê-se uma desaceleração económica global, com vários graus.
A mudança de política em relação ao covid-19 na China fez com que o País entrasse num ciclo de recuperação próprio e, no segundo semestre, isso irá alavancar outras economias, o que levará a uma desaceleração menos agressiva do que o esperado na economia mundial”, assinalou.
Inflação
Naquele que é um dos temas do último ano, Fáusio Mussá assinalou que, de acordo com as perspectivas do banco, “ainda demorará algum tempo até chegar, de novo, aos 2-3%, que é o limiar dos bancos centrais”, assinalando, no entanto, que “os mercados prevêem que a partir do próximo encontro destes bancos das economias mais avançadas irá haver o último aumento de taxas de juro, prevendo-se então que comecem a descer. Isto traz consigo algum risco. Será que os bancos centrais vão deixar de aumentar as taxas de juro cedo demais? E será isso
correcto para conter a inflação e mantê-la na curva descendente?”, questionou.
Nova dinâmica na economia Mundial… e Moçambique
Depois, olhou em pormenor para a tendência a que se assiste, relativa a uma tendência (ou vontade dela) de ‘desdolarização da economia mundial. “Os BRICS estão a chegar a um acordo para reduzirem as trocas comerciais em dólares, os EUA irão reagir e a pergunta que fazemos é se o dólar mais forte ou mais fraco é impactante para uma economia como a de Moçambique, que tem grandes assimetrias.
Para resolver estas macro desigualdades é necessário ‘bons samaritanos’, e tenho dúvidas que haja muitos no mundo”, relevou. Olhando mais para África e aos números do FMI, há uma tendência, no geral, de recuperação das economias africanas. Mas há a questão generalizada da pressão sobre as balanças de
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Texto M4D • Fotografia Mariano Silva
pagamentos, com apenas Zâmbia e Angola sem terem défice da conta corrente e todos os outros países com pressão cambial negativa sobre as suas moedas.
Juntando um dólar forte a nível mundial a fazer aumentar a pressão sobre estas moedas, vimos uma depreciação generalizada das moedas locais africanas. Moçambique foi excepção, porque há um controlo apertado sobre estas questões”, disse. “A estabilidade macro-económica tem requerido alguma contenção, caracterizada por uma política monetária apertada, para ajudar a manter a estabilidade da moeda e conter a inflação. Observa-se também um espa-
ço limitado da política fiscal para apoiar a aceleração económica, uma vez que a despesa de investimento se mantém relativamente baixa”.
Dívida pública é “problema”
“Em Moçambique, a dívida pública excede 100% do PIB, o que leva, em teoria, a que o Estado tenha espaço reduzido para o investimento face à urgência das despesas correntes. Em última análise, provoca um crescimento económico menos robusto. Aqui, os recursos naturais podem compensar o facto de o Estado estar a fazer um menor investimento.”
Desafios e oportunidades: liquidez é questão a resolver
“O País exporta, em média, 8 mil milhões de dólares (grandes projectos, responsáveis por 6,2 mil milhões) e o resto da economia dois mil milhões. Há um crescimento assinalável da exportação de commodities, como o carvão (que para além do aumento do preço nos mercados também viu a produção reforçada, em 2022, em 34%), e um aumento de volume de produção na agricultura (16%) que reflecte o bom trabalho do Governo em projectos como o Sustenta, por exemplo.
No entanto, apesar disto, a questão que se coloca quando falamos de exportações em Moçambique é que o mercado não está com liquidez de moeda externa. Nós consideramos que há aqui um elemento de muita pressão das importações sobre a liquidez – a importação de combustíveis – que, sozinha, consome dois mil milhões de dólares anualmente.
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“A partir do próximo encontro destes bancos das economias mais avançadas haverá o último aumento de taxas de juro e depois vão descer...”
Temos visto um Banco Central muito proactivo junto da economia, suportando em 100% as facturas de importação de combustíveis, mas isto mudou recentemente, com a questão da redução das reservas internacionais.
O banco central aumentou o quoficiente de reservas obrigatórias e já foi anunciado que a partir de Abril vai suportar apenas 60% da factura de combustíveis, cabendo o resto aos bancos comerciais. O preço dos combustíveis em Moçambique é uma questão com impacto na política monetária. No ano passado houve três aumentos e esperamos mais este ano.
A Dívida
“Entre a despesa corrente e a de investimento, privilegia-se a corrente (salários e despesas imediatas do Estado), sendo que a de investimento tem vindo a cair, estando nos 8% do PIB e a corrente nos 28%. A questão que se coloca é: como acelerar o crescimento económico com uma política monetária aperta-
da e um espaço reduzido para as despesas de investimento? Moçambique consome 25% a 26% para serviço da dívida, em juros e capital.
Podiam ser recursos para investimento em crescimento mais sustentável. É importante gerir a dívida pública e o programa do Governo com o FMI pressupõe o rácio da dívida abaixo dos 100%. É preciso ‘apertar o cinto’, uma expressão pouco popular, eu sei, mas é a forma de atingir esse desígnio”, apontou.
Crescimento económico a dois dígitos
“O crescimento será alavancado nos três projectos de gás natural. Estávamos com um PIB de 18 mil milhões em 2022, este ano chegará aos 20 mil milhões e experimentaremos anos com crescimento económico superior a 10%.
Se tirarmos o choque da pandemia, sempre que há desaceleração do IDE (Investimento Directo Estrangeiro), o PIB desacelera. Porque isto traz moeda externa e, nos anos em que houve crescimento do IDE, o mercado operou com
moeda, a inflação era baixa e o crescimento acelerou”.
Sustentabilidade
“O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Moçambique comparado com o da região é dos mais baixos. Ou seja, para termos desenvolvimento, temos de incluir o factor humano, educação, saúde, acesso a infra-estruturas, tecnologia… Estes números da pobreza ajudam-nos a perceber que há um longo caminho a percorrer para termos um crescimento económico mais sustentável em Moçambique.
Falamos hoje em ESG, está no topo da agenda, e as empresas de todo o mundo estão a organizar-se para contribuir menos para degradar o meio ambiente, a olhar para a parte humana dos negócios e a colocar a governança com a importância que deve ter. Esta discussão faz-nos correr o risco de pensar que o sector privado pode substituir o sector público em relação aos ODS (Objectivos do Desenvolvimento Sustentável). O ESG pode complementar o esforço feito para alcançar um mundo mais justo e desenvolvido.
Olho para estes dois aspectos de forma complementar. Desde 2020 que o cumprimento dos 17 ODS está a sofrer com as crises e guerras, podendo vir a ficar esquecidos. Espero que a liderança mundial se reúna para dar avanço a isto.”
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“Para termos desenvolvimento, temos de incluir o factor humano, educação, saúde, acesso a infraestruturas, tecnologia… estes números ajudam-nos a perceber que há um longo caminho a percorrer”
especial inovações daqui
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‘WEATHER TECH’ OU COMO A TECNOLOGIA PODE PREVENIR E SALVAR VIDAS EM MOÇAMBIQUE
Moçambique já tem o primeiro radar meteorológico, instalado na Cidade da Beira, equipado com tecnologia para prevenir eventos climáticos extremos com maior precisão, aumentando a capacidade de a prevenção e, em última análise, permitindo salvar milhares de vidas e milhões de dólares em danos estruturais. Inaugurado em Abril, o radar meteorológico foi implementado por uma tecnológica moçambicana que trabalha, também, com equipamentos de detecção de descargas atmosféricas. Como funcionam estes equipamentos?
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Como a Tecnologia ao Serviço da Prevenção Pode Salvar Milhares de Vidas
Desde Abril, Moçambique conta com o primeiro de vários equipamentos que permitem prever, com antecedência e precisão, a evolução de ciclones e tempestades tropicais. E serão também instalados equipamentos de detecção de descargas atmosféricas, que vitimam muita gente, principalmente no Centro e no Norte. Num País demasiado exposto aos riscos climáticos, há uma tecnológica moçambicana que está a trabalhar para fazer face a estes problemas. E até já tem o Radar da Beira para o mostrar
Ainstalação, na cidade da Beira, do primeiro radar para a visualização antecipada de intempéries meteorológicas severas vai permitir que a população seja avisada sobre esses eventos com a devida antecedência, e que os organismos responsáveis consigam organizar-se no sentido de minimizar os impactos como os verificados no ciclone Idai, Kenneth e outros.
Portanto, é uma boa nova. Mas, neste espaço, vamos explorar como funcionam
na que viu assim rentabilizado o investimento feito numa nova rede meteorológica nacional, processo em tudo idêntico (se bem que mais cedo) ao que está a ser desenvolvido em Moçambique e envolvendo o mesmo fornecedor de equipamento. Desta forma, quando o Dorian atingiu as Bahamas, informações e alertas mais precisos foram enviados, permitindo que milhares de cidadãos e organizações se preparassem e buscassem abrigo contra a ameaça da intempérie em forma de furacão que atingiu as Bahamas com
estes equipamentos do ponto de vista tecnológico, na sua complexa função de localizar, estimar o nível das intempéries, o tipo e intensidade da precipitação (chuva, neve ou granizo) e de calcular o seu deslocamento.
Antes disso, porém, importa referir que equipamentos semelhantes ao que foi instalado na cidade da Beira, da fabricante finlandesa Vaisala, líder mundial de tecnologia de equipamentos meteorológicos, já foram usados com sucesso.
Por exemplo, através deles foi rastreado o furacão Dorian, em Setembro de 2019, quando se aproximava das Bahamas, zo-
ventos máximos sustentados de cerca de 300 km/h, as maiores velocidades de vento de um furacão no Atlântico jamais registadas.
A tempestade resultou em danos significativos nas ilhas paradisíacas e a maioria das estruturas foi arrasada afectando directamente 70 mil pessoas que ficaram sem as suas casas. Mas se o furacão não tivesse sido devidamente monitorado e alertas oportunos não tivessem sido dados com antecedência, as consequências poderiam ter sido ainda bem piores. Esta experiência traz a Moçambique algum ânimo e esperança de que os impac-
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TEXTO Celso Chambisso• FOTOGRAFIA Istock Photo, D.R.
Se o furacão Dorian não tivesse sido monitorado por equipamentos como este, e os alertas não tivessem sido dados com antecedência, as consequências teriam sido muito piores
CLIMA
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tos das próximas intempéries serão minimizados.
Como funcionam os radares meteorológicos?
O primeiro radar inaugurado na cidade da Beira é o Doppler. Considerado como um dos mais modernos equipamentos do género, está a ser implementado e instalado por uma tecnológica moçambicana, a TVSD, que será também a responsável pela manutenção do mesmo nos próximos cinco anos.
Para melhor conhecer as funcionalidades destes equipamentos, a E&M falou com o CEO da empresa fundada em 2000, Sérgio dha Costa, que começa por explicar que o novo radar é de dupla polarização, isto é, mede simultaneamente através de ondas de rádio polarizadas horizontal e verticalmente, “o que permite que o equipamento forneça medições de qualidade muito mais precisas do que antes como, por exemplo, a medição mais precisa da intensidade de chuva, com menos anomalias ou erros nos dados”, explica. “O radar modelo WRM200 da Vaisala inclui muitos algoritmos de processamento de dados patenteados que o tornam no instrumento mais ‘sensível’ e preciso da sua classe”, complementa.
De uma maneira geral, os radares meteorológicos são principalmente radares pulso-Doppler, com polarização simples ou dupla, capazes de detectar o movimento radial de um conjunto de hidrometeoros (principalmente gotas de chuva, cristais de gelo e granizo) e ainda estimar a intensidade da precipitação associada à queda dos mesmos.
As variáveis obtidas podem ser analisadas para determinar a estrutura interna das nuvens de chuva (por exemplo, tempestades), assim como as correntes de vento ascendentes, descendentes, convergentes e rotacionais associadas. Desta análise pode-se determinar o seu potencial para causar tempo severo, numa detecção que poderá ir até aos 300 km/h, dependendo de vários factores. O equipamento utiliza um sistema de ondas electromagnéticas para poder medir distâncias, direcções, altitudes e velocidades de objectos, tanto estáticos como em movimento, capazes de monitorar veículos, aviões, navios, etc.
Nesse caso, as ondas são utilizadas para avaliar formações meteorológicas e têm um monitoramento contínuo do movimento das nuvens. O seu funcionamento é simples: geram um pulso de rádio que é reflectido no alvo, sendo recebido da mesma posição do emissor.
Graças a isto, pode ser obtido um conjunto de informações sobre a localização das nuvens, a sua densidade e forma, se estão a crescer ou se causarão algum tipo de precipitação. Será o primeiro de vários equipamentos do género no País.
Detectores de descargas atmosféricas. Como funcionam?
Em Moçambique será também instalado equipamento para detectar descargas eléctricas decorrentes de relâmpagos, que
têm causado muitas vítimas, principalmente no Centro e no Norte. Sérgio Dha Costa explica que é chamado de sensor Vaisala LS7002 o equipamento usado para detectar descargas elétricas resultantes de raios. “Os sistemas de detecção de raios usam várias tecnologias, incluindo detecção de radiofrequência (RF) e localização de direção magnética. A detecção de RF é o método mais comum usado em sistemas de detecção de raios. Envolve o uso de uma rede de sensores para detectar as
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ADAR
R
METEOROLÓGICO
O radar instalado na Beira vai ajudar a obter informação atempada sobre a aproximação dos ciclones, prevenindo situações de calamidade como a que se verificou com o Idai e o Kenneth
ondas de rádio geradas por raios”, releva. Ainda de acordo com o CEO da TVSD, ao analisar a frequência e a amplitude das ondas de rádio, os sistemas de detecção de raios podem determinar a sua localização e intensidade. “O LS7002 da Vaisala também usa a detecção de direcção magnética, que prevê as mudanças no campo magnético causadas por raios e ao triangular a localização dessas mudanças, os sistemas de detecção de raios podem determinar a sua localização. Os sensores usam, então, a combinação de localização de direcção magnética e técnicas de tempo de chegada para detectar pulsos de relâmpagos de nuvens e relâmpagos nuvem-solo e localizá-los com muita precisão fornecem uma visão abrangente da actividade do raio dentro de uma tempestade e capturam amplos conjuntos de dados para a toma-
da de decisões bem informadas”, esclareceu. O País beneficiará do sistema de detecção de raios quando estiver totalmente instalado e comissionado. O momento da instalação dependerá do planeamento, financiamento e aquisição do sistema pelo Governo de Moçambique.
Para o efeito, a TVSD, juntamente com a Vaisala e o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM), efectuaram um workshop técnico no dia 20 de Abril na cidade da Beira, envolvendo entidades governamentais, como empresas ligadas ao sector eléctrico, sector de transportes e outros, no sentido de começarem a delinear o arranque desse projecto.
“Neste momento, são necessários sete radares para cobrir o território moçambicano. Já temos o da Beira, recentemente inaugurado, e estão já em análise o arranque de dois novos radares até ao primeiro
trimestre de 2024 nas cidades de Xai-Xai e Nacala”. O radar instalado na Beira será operado pelo INAM a partir do seu centro de controlo no aeroporto da Beira e da sua sede na cidade de Maputo. Além do INAM, outras entidades oficiais envolvidas incluem o Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones (GREPOC) e o Banco Africano de Desenvolvimento, que é responsável pelo financiamento.
Com 23 anos de experiência na indústria das telecomunicações, a TVSD é a principal fornecedora e instaladora de soluções de telecomunicações e serviços de manutenção em Moçambique. Sediada em Maputo, iniciou a sua actividade no ano de 2000 tendo, à época, como principal objectivo, o negócio da TV pré-paga, cobrança de taxas e venda de equipamento. Com o passar do tempo, as operações da TVSD evoluíram, estando agora em várias áreas.
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BRAVANTIC
Vestir a Pele da Transição Digital
Nos dias que correm, o sector das Tecnologias de Informação tem sido decisivo no sucesso das empresas e organizações, independentemente do seu porte ou área de actividade. A Bravantic, multinacional tecnológica presente em Moçambique há vários anos, passou por uma fase de transformação da sua identidade, e é disso um exemplo notável
Arelevância da transformação digital para as empresas, organizações e sociedade é, de há muito, reconhecida, mas não perde actualidade por ser um processo que evolui, compreendendo a mudança de mentalidade e transformação ou modernização da tecnologia, factores que se tornaram indispensáveis na actividade produtiva. É a isto que se dedica a Bravantic, uma empresa da área das Tecnologias de Informação (TI) que começou em Portugal há 27 anos e que, recentemente, passou por um processo de transformação da sua identidade. Mudou de nome, assumiu o futuro, “com bravura e entusiasmo”.
A Bravantic está, essencialmente, focada na construção de infra-estruturas de rede para a transformação digital, caso dos data centers. Está presente em Moçambique há uma década, tendo começado como ‘Informatem’ em 1996, altura em que tinha apenas quatro colaboradores. Actualmente, conta com mais de três mil funcionários em várias geografias, e para além de Moçambique, opera em Angola, Brasil e, mais recentemente, nos Emirados Árabes Unidos.
De acordo com o country manager da empresa no País, Eduardo Vicente, “um dos principais feitos” da Bravantic foi a instalação do serviço Credelec, que permite a compra da recarga de energia eléctrica junto do fornecedor, a Electricidade de Moçambique (EDM), e que se faz através de todos os provedores de mobile banking e das caixas electrónicas dos bancos. “Somos responsáveis, por toda a parte a infra-estrutura tecnológica deste sistema. Apoiámos a EDM no alargamento e dinamização tecnológica, nomeadamente com o aparecimento da Credelec em 2009, e estamos cá fisicamente desde esse ano por causa deste projecto de grande importância social”, refere Eduardo Vicente. Explicando com mais detalhe, “quando, em 2009, a EDM
lançou um projecto para criar o serviço pré-pago, nós entrámos com a parte da infra-estrutura e apoiámos a empresa nesse investimento, tendo montado dois centros de dados, um na EDM e outro nas nossas instalações”, complementa o gestor.
Outra vocação da Bravantic é a de proteger a informação dos clientes, tendo, antes de tudo, a tarefa de procurar conhecer o valor e o risco do negócio daqueles. “Damos conta de uma empresa enorme, uma instituição que factura milhões de dólares, logo, sabemos quanto custa a informação da empresa. É um tipo de trabalho que deve ser muito bem feito”, salienta o gestor.
Este foi, pois, um ramo que ganhou grande relevância em todos os mercados, nos últimos anos, devido à ameaça crescente do ciber-crime, especialmente durante e no pós-pandemia. “Sim, são as consequências menos benéficas de uma transição digital global, que acelerou imenso nos últimos anos. Mas é para isso que empresas como a Bravantic existem, e com a sua rede, conseguem dar suporte permanente aos seus clientes”.
O responsável explica ainda que, estrategicamente, a Bravantic não presta apenas serviços tradicionais de TI, “tentamos perceber o cliente e o seu negócio e apoiamo-lo no investimento que faz”.
Sobre a transição digital em Moçambique, Eduardo Vicente defende que “o País tem de se adaptar rapidamente ao que acontece no mundo”, e reconhece que o desafio “apesar de ser imenso”, está a ser encarado de forma atenta por parte dos decisores, e da maioria das grandes empresas. “Há a questão do investimento que, em tecnologia, nunca é pequeno, especialmente se pensarmos em áreas como as infra-estruturas, a educação, a Justiça, uma área em que temos alguns projectos que farão a diferença no País, esperamos. É para isso que trabalhamos, para colocar a tecnologia ao serviço do País.
BEMPRESA
BRAVANTIC COUNTRY MANAGER
Eduardo Vicente
ÁREA
Tecnologias de Informação MERCADOS
Portugal, Moçambique, Angola, Brasil, EAU FUNDAÇÃO
1996
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TEXTO Nário Sixpene • FOTOGRAFIA Mariano Silva
BY
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Inovação
Adacto Caires Pambe, formado em Direito pela Universidade Wutivi, decidiu criar três aplicativos disponíveis na Play Store - Ferramentas do MP, Armadura Legal, Crimes, Formas e Molduras -, com o objectivo de tornar a lei moçambicana mais acessível e fácil de entender ao público.
O primeiro aplicativo, Ferramentas do MP, é um compilado de informações ligadas ao Ministério Público, como Circulares de Execução Permanente, instruções e memorandos de entendimento, contactos e localização das principais procuradorias e linha verde; o segundo, a Armadura Legal, contém leis, decretos e códigos como o Penal, Processo Penal e Comercial.
Dentro das leis estão contempladas a Lei do Trabalho, da Família, das Sucessões, do Direito à Informação, do Combate ao Terrorismo, Lei Orgânica do Ministério Público, Estatuto Geral dos Agentes e Funcionários do Estado, Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras.
Já o terceiro aplicativo, designado por Crimes, Formas e Molduras, foi inspirado no guião prático do Código Penal e Processo Penal e apresenta os crimes estabelecidos no Código Penal, as formas de processo, molduras penais que dizem respeito ao período de prisão e multa correspondente a cada crime.
Os aplicativos foram criados com o intuito de auxiliar os juristas e a sociedade a obterem as legislações e demais documentos num único lugar e dar a conhecer aos cidadãos sobre os seus direitos e deveres.
Indústria espacial China equaciona utilizar impressão 3D para erguer edifícios na Lua
últimos anos, está a planear usar o seu programa de exploração espacial para testar a viabilidade do uso de tecnologia de impressão 3D na construção de edifícios na superfície da Lua.
O equipamento espacial, Asonda Chang’e-8, cuja data de lançamento ainda não foi anunciada, vai ter como missão investigar o ambiente e a composição mineral da Lua, bem como verificar se a impressão 3D pode ser utilizada
nestas superfícies, informou o cientista Wu Weiren, da Administração Espacial da China, destacando que, “se quisermos estar presentes na Lua a longo prazo, temos de instalar estações com o uso de materiais lunares”.
Várias universidades chinesas, como a Tongji e a Jiatong, começaram a estudar possíveis aplicações da tecnologia de impressão 3D no satélite natural da Terra.
Ambiente Cientistas americanos criam plástico que se dissolve na água em pouco tempo
Uma equipa da Boise State University em Idaho, EUA, conseguiu criar um material reciclável para utilização em restaurantes de fast-food que se dissolve na água muito facilmente. Para alcançar este resultado, os cientistas começaram por utilizar uma substância chamada isomalte, um álcool de açúcar granulado amplamente utilizado como substituto do açúcar refinado convencional. Para aumentar ainda mais a resistência do material, os cientistas começaram por
aquecer o isomalte até ao estado líquido. Depois adicionaram celulose pura derivada de plantas, uma mistura de celulose e serradura e uma farinha feita de madeira em pó. Utilizando equipamento convencional de fabrico de plásticos, combinaram as misturas em pellets, que foram depois aquecidos e moldados em objectos como um pires, uma peça de xadrez e um dodecaedro. Nos três casos, os aditivos duplicaram a resistência do isomalte, tornando-o mais forte que os plásticos.
Ciência Inteligência Artificial poderá inaugurar nova era no design de proteínas
ção publicada na revista Science, e sugerem que “este avanço pode levar, em breve, a vacinas mais poderosas, sendo que no geral, o método pode inaugurar uma nova era no design de proteínas”.
A equipa de investigação da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, desenvolveu um software de design de proteínas, com base numa estratégia comprovada em jogos de tabuleiro como o xadrez, que serviu para fabricar centenas destas substâncias numa experiência posterior. “As proteínas criadas com a nova abordagem foram mais eficazes na geração de anticorpos úteis em roedores”, referiram os autores da investiga-
“Os nossos resultados demonstram que a aprendizagem por reforço pode fazer mais do que apenas dominar os jogos de tabuleiro. Se este método for aplicado aos problemas de investigação correctos, poderá acelerar o progresso em vários campos”, destacou o principal autor do estudo, David Baker.
Baker revelou também que as aplicações potenciais são vastas, desde o desenvolvimento de tratamentos de cancro mais eficazes até à criação de novos tecidos biodegradáveis e, nesta aprendizagem por reforço, um programa aprende a tomar decisões tentando diferentes acções e recebendo feedback. Este algoritmo pode, por exemplo, aprender a jogar xadrez, tentando milhões de movimentos diferentes.
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Jovem moçambicano cria
três aplicativos para divulgar as leis do País PANORAMA
Écom muito orgulho e regozijo que me dirijo a todos vós nestas breves notas de apresentação do relatório e contas referente ao exercício económico de 2022. Com efeito, os resultados de 2022 que observamos enchem-nos de muito orgulho, pois demonstram que os indicadores de desempenho financeiro e de operação continuam a apresentar a robustez que é, certamente, esperada pelos estimados accionistas, em particular, e pelo povo moçambicano, no geral, porque estes são os mais directos beneficiários da operação do empreendimento de Cahora Bassa através do pagamento de dividendos, da energia que produz e das obrigações fiscais que cumpre.
O ano de 2022 foi bastante satisfatório por diversos motivos, destacando-se pela celebração do 15.º aniversário da reversão da HCB para o Estado moçambicano, efeméride que teve a honra de contar com a presença de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique. O “27 de Novembro”, Dia da Reversão, representa um marco de reflexão sobre o desempenho de Cahora Bassa que, diga-se, tem sido excelente e demonstra o seu papel preponderante como dinamizador e âncora da matriz energética nacional e regional, bem como do desenvolvimento de Moçambique, assentes na contribuição que presta à economia, no pagamento de impostos, taxas e dividendos que concorrem para o desiderato da materialização dos projectos do Estado.
A par da reversão, é destaque do ano 2022 o alcance da produção de 15.753GWh, que representa a melhor produção dos últimos cinco anos e corresponde a 5,09% acima do volume da produção hidroenergética alcançada em 2021.
Como corolário da performance operacional, em 2022, a HCB arrecadou receitas acima de 27 mil milhões de meticais. Cerca de 2.700 milhões de meticais foram canalizados para o Estado em forma de fees de concessão, aproximadamente 5.100 milhões de meticais em forma de impostos e mais de 3.700 milhões de meticais de dividendos foram pagos aos accionistas da série A e B, va-
“Os Resultados Demonstram Robustez…”
lores acima da percentagem recomendada pelos estatutos da Empresa.
Os bons resultados operacionais e financeiros da HCB são o reflexo do desempenho do quadro de recursos humanos que, sob gestão da equipa de administração, tem sabido emprestar o seu saber e conhecimento. Demonstram ainda a entrega abnegada dos recursos humanos ao trabalho, para que a Empresa alcance os altos níveis de produção que muito nos orgulham, num quadro em que os equipamentos demandam investimentos estratégicos para proceder à sua reabilitação e modernização, mormente a terceira fase da reabilitação da Subestação do Songo, brownfield 3, e a segunda fase de reabilitação da central hidroeléctrica sul, Reabsul 2. A realização destes projectos irá melhorar os níveis de performance operacional, estender a vida útil dos activos de geração e conversão para mais 25 anos e ainda
tos de reabilitação e modernização do empreendimento pressupõe o recurso a combinação de capitais próprios e capitais alheios, onde serão priorizados os capitais próprios que a Empresa tem ao seu dispor, uma boa prática de gestão. Através deste modelo observam-se benefícios consideráveis e minimizam-se os custos financeiros de financiamento.
Concomitantemente, é preciso frisar que durante a implementação dos projectos acima referidos, a produção da HCB estará condicionada pelo que se prevê a redução momentânea nos índices de produção com impactos na facturação da Empresa. Todavia, estarão assegurados o cumprimento dos contratos de fornecimento de energia firme com a EDM e a manutenção dos pagamentos dos dividendos.
Contudo, no médio prazo, a HCB irá retomar a sua normal operação, ao mesmo tempo que a Empresa estará a implementar projectos de expansão e diversificação do negócio para uma melhor sustentabilidade e consolidação de Cahora Bassa, enquanto empreendimento estratégico nacional e regional.
incrementar a capacidade produtiva da central, dos actuais 2075 MW para mais cerca de 5% e, dessa forma, acrescer às actuais receitas do empreendimento hidroeléctrico de Cahora Bassa no médio e longo prazo.
É neste contexto que o Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB) e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), duas instituições financeiras bastante sólidas e de reconhecida credibilidade, aprovaram facilidades de crédito, concecional [não soberano], no montante global de 225 milhões de euros que poderão ser desembolsados, parcial ou totalmente, se a Empresa julgar necessário, durante a implementação do CAPEX Vital. Adicionalmente, a Empresa vai beneficiar de uma subvenção da União Europeia, através da AFD, no valor de 22 milhões de euros, para a implementação de projectos de desenvolvimento.
A estratégia de financiamento aos projec-
É por isso que a HCB está a implementar iniciativas que levarão à transformaçãodo empreendimento para a modernização da sua estrutura de gestão, do sistema electroprodutor e da gestão do capital humano, valorizando-o como o activo mais importante de que a Empresa dispõe. Estas iniciativas de modernização estratégica permitirão a extensão da vida útil dos principais equipamentos e estão na sua fase inicial de implementação.
Para terminar, não deixaria de agradecer aos accionistas, aos membros dos órgãos sociais da HCB, nomeadamente a Mesa da Assembleia Geral, ao Conselho Fiscal e ao Conselho de Administração, aos colaboradores da Empresa, clientes, parceiros e fornecedores, pelo seu contínuo e incondicional apoio às nossas actividades e pelo seu papel-chave na contínua jornada para que a HCB continue com resultados que consolidam a sua robustez e a posição de empresa “Orgulho de Moçambique”.
Cahora Bassa, o Orgulho de Moçambique
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Os bons resultados operacionais e financeiros da HCB são o reflexo do desempenho do quadro de recursos humanos
Boavida Lopes Muhambe
Presidente do Conselho de Administração da HCB
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João Gomes • Partner @BlueBiz
Vem este artigo a propósito da uma acção de assistência técnica à instalação de uma incubadora de negócios no norte de Moçambique1, que a BlueBiz Consultoria está a realizar e cuja revisão da literatura efectuada pretendo aqui partilhar.
Neste artigo desafio o meu leitor@ a responder à pergunta: As Incubadoras de Negócios em África (Adiante “IN”) são uma moda passageira ou uma ferramenta de desenvolvimento económico, social e tecnológico que veio para ficar?
Vejamos sucessivamente:
- O que é a uma incubadora de negócios (“IN”).
- Estatísticas associadas às “IN”.
- Conclusão.
O que é uma incubadora de negócios (“IN”)?
Na minha opinião, uma “IN” caracteriza-se pela presença combinada dos seguintes (13) elementos:
1- São mecanismos de estímulo e protecção à recuperação e desenvolvimento económico: historicamente2 as “IN” nasceram para solucionar problemas em regiões económica e socialmente deprimidas. Também em Moçambique, tal verifica-se nos casos conhecidos de “IN”3
As estatísticas indicam que:
- Em 2019 havia mais de 200 incubadoras de negócios em operação em África (African Development Bank Group, 2020).
- As incubadoras de negócios em África têm ajudado a criar mais de 20.000 empregos directos e indirectos (AfDB).
- A taxa de mortalidade entre empresas que passam pelo processo de incubação é reduzida a 20%, contra 70% detectados entre empresas nascidas fora do ambiente de incubadora.4
Incubadoras de Negócios em África: Uma Moda Passageira ou uma Ferramenta de Desenvolvimento que Veio para Ficar?
2- [Mecanismos] esses que estão orientados a apoiar empreendedores a criar o seu negócio e empresa. É assim que, em função dos objectivos específicos pretendidos, as “IN” podem assumir modalidades distintas, sendo as mais comuns: i) temáticas; ii) universitárias; iii) corporativas; iv) de impacto social; v) de base tecnológica; vi) culturais. As estatísticas indicam que:
- Mais de 60% das startups incubadas em África operam no sector de tecnologia, contra 62% no resto do Mundo (AfDB e Global Business Incubation, 2021).
- Os cinco tipos mais comuns de “IN” são i) de uso misto (47%); ii) Tecnológicas (37%); iii) Indústria transformadora (7%); iv) Serviços (6%); v) Outras (4%) (NBIA).
As Incubadoras de Negócios em África são uma ferramenta de estímulo ao desenvolvimento económico
3- Uma categoria de [Empreendedores] merece destaque em África: as mulheres. E confirma-se a tendência para as “IN” em África privilegiarem públicos vulneráveis (v.g. jovens; pessoas com deficiência; minorias étnicas; deslocados de guerra).
As estatísticas indicam que:
- Mais de 60% das startups incubadas em África são lideradas por mulheres (AfDB).
- Em 2020, o número de mulheres empreendedoras em África cresceu 21%, impulsionado por iniciativas de incubadoras de negócios voltadas para a igualdade de género (WEF, 2021).
4- [Negócios e empresas] esses que em regra estão em estágios iniciais, mas que podem estar em fases distintas do
ciclo de vida, i.e. i) De ideação; ii) Startup; iii) ou Escala.
As estatísticas indicam que:
- Em 2019, a maioria dos investimentos em startups africanas ocorreu em estágios iniciais (54%) ou de escala (33%) (Partech Ventures).
- Em África, a maioria das startups apoiadas por “IN” tem menos de 5 anos de existência (UNCTAD, 2020).
5- [Empreendedores/as] esses que procuram soluções de alojamento dos seus negócios i) que não exijam alto investimento inicial em capital fixo e fundo de maneio; ii) que sejam de baixo custo de operação; iii) e que permitam a rápida instalação e início da operação.
6- [Soluções de alojamento] que passam por uma combinação entre i) Infra-estruturas e ii) Serviços de Apoio. Uma das causas que explica a falha de muitas “IN”, não apenas em África, é a excessiva concentração na componente de infra-estrutura física, negligenciando a componente de serviços de apoio às empresas incubadas (i.e. Baixo nível de servicificação5).
7- Ao nível das [Infra-estruturas], as “IN” encontram-se dotadas de um espaço físico, normalmente em instalações devolutas sendo as “IN” uma forma de recuperação imobiliária de zonas urbanas deprimidas. As estatísticas indicam que:
- Cerca de 70% das incubadoras de negócios em África têm parcerias com universidades, contra 80% no Brasil (VC4A).
8- [Espaço físico] esse que se encontra convenientemente infra-estruturado: dotado de energia, telecomunicações, internet, salas privadas de trabalho, todas convenientemente equipadas com mobiliário de escritório e informático, entre outras amenidades.
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 62 OPINIÃO
As incubadoras de negócios são importantes veículos de transformação empresarial em África
9- [Infra-estruturas] essas que se encontram dimensionadas para equipas reduzidas.
As estatísticas indicam que:
- Um estudo de 2020 sobre as “IN” em Moçambique, realizado pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos, mostrou que as empresas incubadas criaram em média cinco empregos cada.
- Um relatório de 2018 do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) mostrou que as empresas que receberam apoio das suas “IN” criaram em média três empregos cada, contra 2,2 empregos cada no Brasil.
10- Ao nível dos [Serviços de Apoio] mais procurados6 pelos empreendedores/as nas “IN” destacam-se os seguintes: acesso a i) formação, mentoria, consultoria e coaching; ii) financiamento; iii) mercados; iv) networking e parcerias de alto valor.
11- Contudo, apesar da [procura] dos serviços de apoio, as “IN” nem sempre conseguem oferecê-los (i.e. existem falhas no mercado das “IN”).
As estatísticas indicam que:
- Falta de financiamento para escalar o negócio (70% das empresas incubadas em África relatam esse problema).
- Dificuldades em identificar e aceder aos mercados (50% das empresas incubadas em África relatam esse problema).
12. [Falhas de mercado] essas cuja supressão depende da intervenção directa dos governos Africanos que utilizam os seguintes tipos de apoio às “IN”:
- Apoio à infra-estrutura: Os governos dão apoio ao desenvolvimento de infra-estruturas físicas, como escritórios, laboratórios e oficinas, que são essenciais para o funcionamento de “IN”.
- Financiamento de arranque: Os governos prestam apoio às “IN” concedendo financiamento de arranque a jovens empresários/as, ajudando-os a lançar as suas empresas. Este financiamento pode assumir a forma de subvenções, empréstimos ou subsídios, oferecendo garantias de empréstimo.
- Formação em empreendedorismo: Os governos prestam apoio às “IN” proporcionando formação em empreendedorismo aos jovens, ajudando-os a desenvolver as competências de que necessitam para criar e gerir empresas de sucesso.
- Serviços de consultoria empresarial: Os governos prestam apoio às “IN” através da prestação de serviços de consultoria empresarial, incluindo planeamento financeiro, estudos de mercado e desenvolvimento de estratégias empresariais.
- Acesso aos mercados: Os governos prestam apoio às “IN” ajudando-as a aceder aos mercados locais e internacionais. Tal inclui a facilitação de missões comerciais e o apoio a campanhas de marketing internacionais.
13. Não obstante os diversos [apoios governamentais], a auto-sustentabilidade financeira é um objectivo das “IN” africanas que têm lançado mão das seguintes fontes de receitas:
- Taxas de incubação: A taxa paga pelos empreendedores/as para utilizar os serviços e recursos da “IN”.
- Patrocínio de empresas: As empresas patrocinam a “IN” em troca de exposição e acesso a empreendedores/as e oportunidades de negócios.
- Serviços de suporte: fornecer serviços de suporte, como design gráfico, contabilidade, recursos humanos, entre outros, a empresas e empreendedo-
res/as que não são incubados na “IN”.
- Subsídios: Procurar subsídios e fundos para o desenvolvimento de projectos e programas.
- Formação: Oferecer cursos especializados para empreendedores/as e empresas.
Em conclusão
As Incubadoras de Negócios (“IN”) em África são uma verdadeira ferramenta i) de estímulo e protecção à recuperação e desenvolvimento económico; ii) que visa apoiar empreendedores a criar o seu negócio e empresa, reduzindo em 50% a taxa de mortalidade dos mesmos; iii) apoiando categorias de emprndedores vulneráveis como as mulheres e jovens; iv) e negócios ainda em estágios iniciais; v) que procuram soluções de alojamento de baixo custo; v) e que integrem infra-estruturas com serviços de apoio; vi) todos dimensionados para equipas reduzidas.
Contudo, tal ferramenta não está isenta de limitações. Assim, vii) a oferta proporcionada pelas “IN” em África nem sempre corresponde à procura, originando falhas de mercado; viii) apenas supridas pela intervenção dos governos que utilizam vários tipos de apoio, ix) mas que não devem impedir que as “IN” procurem a auto-sustentabilidade financeira.
As “IN” não são uma moda passageira, antes são uma manifestação do poder do “ecossistema empreendedor” e estão a transformar a paisagem empresarial em África.
1 Incubadora de Negócios dos Jovens de Cabo Delgado – Centro de Emprego de Pemba, um projecto co-financiado pela União Europeia e pelo Instituto Camões I.P.
2 O conceito formal de incubação de empresas surgiu nos EUA em 1959, quando Joseph Mancuso abriu a Batavia Industrial Center num armazém situado na cidade de Batavia, Nova Iorque.
3 Programa Nacional de Incubadoras de Empresas (PRONINC) : Centro de Incubação de Negócios de Moçambique; Incubadora de Negócios da Universidade Eduardo Mondlane; Incubadora de Empresas de Moçambique; Incubadora de Negócios de Nampula; Incubadora de Negócios de Gaza ; Incubadora de Negócios de Sofala; Incubadora de Negócios de Tete; Incubadora de Negócios de Zambézia. http:// www.mic.gov.mz/pt/servicos/incubadoras. Nota: O acesso a este site tem sido problemático.
4 Referido no “Manual para a Instalação de Incubadoras”, Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil - www.mct.gov.br/setec/setec.htm.
5 Ver Gomes, João “Servicificar, um salto de gigante”. Artigo publicado na Revista E&M e no Jornal Diário Económico, Fevereiro 2021.
6 PALS, Stephanie “Factors Determining Success/ Failure in Business Incubators: A Literature Review of 17 Countries”.
www.economiaemercado.co.mz | Maio 2023 63
Os (De)Méritos da Nova Pauta Aduaneira
No âmbito do Pacote das Medidas de Aceleração Económica (PAE), anunciado pelo Governo em Agosto de 2022, muitas alterações foram realizadas na Pauta Aduaneira que o mercado não está a receber com agrado. O que foi feito? O que devia ter sido feito? E o que esperar daqui em diante?
Em Dezembro do ano passado, a Assembleia da República aprovou, com efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2023, as alterações do texto da Pauta Aduaneira e as respectivas instruções preliminares, através da Lei n.º17/2022.
A ideia do Executivo é de garantir a padronização internacional das designações e codificação das mercadorias, bem como a facilitação da aplicação de convenções internacionais no âmbito do Protocolo sobre as Trocas Comerciais da SADC e Acordos de Parceria Económica com a União Europeia (APE).
Neste contexto, introduziu-se, ainda, Instruções Preliminares da Pauta Aduaneira, de um quadro indicativo das posições pautais, cujas mercadorias estão sujeitas à sobretaxa, e os quadros relativos ao desarmamento tarifário no âmbito dos acordos comerciais internacionais em consonância com as regras internacionais ou na sequência de convenções envolvendo países ou regiões de que Moçambique é parte.
Com a nova Pauta Aduaneira, algumas taxas na importação de equipamentos e materiais destinados a projectos e obras públicas reduziram ou foram isentas para garantir que as reformas económicas que o Executivo tem estado a implementar desde Agosto do ano passado sejam efectivadas.
Entre as inovações da Lei da Pauta Aduaneira, há que destacar três, sendo a primeira a revisão da fórmula de conta-
gem das imposições aduaneiras, passando o Imposto sobre Consumo Específicos (ICE) a ser calculado mediante a aplicação da taxa prevista no respectivo Código, incidindo apenas sobre o valor aduaneiro, de modo que reduza a sobrecarga fiscal que se verificava no passado. Ou seja, faz-se incidir o ICE sobre o valor aduaneiro adicionado ao dos direitos aduaneiros para concretizar o “princípio da justiça tributária”, de acordo com o Governo.
A segunda foi a actualização da franquia dos viajantes, reduzindo os produtos do tabaco para 20 cigarros ou dez charutos ou 250 gramas de tabaco, para fumar, acolhendo as recomendações da Convenção-Quadro das Nações Unidas para o controlo do tabaco. Na Pauta Aduaneira anterior, nos produtos de tabaco, o cidadão podia importar sem pagar até 200 cigarros, 100 cigarrilhas, 50 charutos ou 250 gramas de tabaco para fumar.
E a terceira e última alteração foi o aumento da quantidade de perfumes de 50 para 100 mililitros, elevando o valor de outros artigos de 12 500 meticais para 20 000 meticais, considerando que o valor anterior (e que vigorava desde Janeiro de 2017) era considerado incomportável para a realidade actual.
A fundamentação para a adopção destas medidas prende-se, segundo o ministro da Economia e Finanças, com a necessidade de “ao nível interno, conceder incentivos a alguns sectores, no sentido de impulsionar o desenvolvimento económico e social, destacando-se a introdução da tributação do excesso de
franquia pela diferença do valor em relação ao direito em causa, à taxa única de direitos aduaneiros de 10% e a inclusão, na lista de mercadorias que podem beneficiar de isenção ou redução de impostos, dos equipamentos e materiais destinados a projectos e obras públicas, cujas imposições aduaneiras estejam a cargo do Governo”.
Que impacto esperar destas alterações?
Kekobad Patel, empresário e antigo presidente do pelouro de Política Fiscal e Comércio Internacional da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), entende que a revisão pontual da Pauta Aduaneira tem pouca utilidade no impulso ao crescimento.
Por exemplo, não vai trazer nenhum resultado no que diz respeito à redução do preço de produtos, na medida em que a inflação que se faz sentir em Moçambique é importada. Kekobad, que também é economista, explicou que a
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Texto Manuel Mandlaze • Fotografia Istock Photo & D.R.
A fundamentação para a adopção destas medidas prende-se com a necessidade de conceder incentivos a alguns sectores destacando-se a introdução da tributação do excesso de franquia
alta no preço dos produtos resulta da guerra na Ucrânia à qual Moçambique tem poucas possibilidades de resistir, na medida em que depende do mercado internacional para se abastecer em produtos essenciais.
Por sua vez, o economista Edgar Chuze, vice-presidente do Pelouro de Comércio e Serviços na CTA, entende que se o consumo dos produtos primários por parte dos moçambicanos for feito com recurso à produção interna, a revisão da Pauta Aduaneira terá um impacto positivo, mas se se continuar a importar bens de primeira necessidade, como é o caso da zona sul que tem a África do Sul como principal fornecedor, não se pode augurar um impacto significativo da implementação desta pauta feita no âmbito do PAE.
Já o economista Egas Daniel, especialista em fiscalidade, considera que a solução é industrializar o País. “Nós importamos tudo. O trigo que faz o pão é importado. O arroz é também quase to-
do importado, num País com 37 milhões de hectares aráveis. Ora, não vamos resolver nada com uma revisão pontual da Pauta Aduaneira”, criticou o académico. Edgar Chuze concorda com esta abordagem e acrescenta que uma revisão geral da Pauta Aduaneira iria responder de forma cabal às preocupações do sector privado e da população,
“Temos de deixar de legislar com interesses imediatos, temos de reparar para o País de forma holística e fazer as adequadas alterações à nossa legislação da qual a Pauta Aduaneira é parte integrante, para responder aos desafios gerais da actualidade e do futuro. A nossa pauta aduaneira carece de actualização, pois há situações não previstas na mesma ou que a mesma trata de forma genérica e que não favorece nem o sector privado, nem os moçambicanos”, observou.
No ano passado, logo após a sua aprovação, organizações da sociedade civil também haviam manifestado re-
servas quanto à eficácia das alterações realizadas na Pauta Aduaneira, ao considerarem que seria muito optimista que produzissem os resultados esperados, visto que incidiam em apenas um ou dois sectores específicos, que mesmo sendo do interesse do sector privado e pudessem apresentar algumas, não representam parte significativa da actividade empresarial.
Mais protecção ao sector privado Na perspectiva apresentada pelo economista Kekobad Patel, é necessária uma revisão geral, não só da Pauta Aduaneira, mas também de um pacote de legislação fiscal, de modo que a mesma seja adequada à realidade dos dias de hoje.
“Este não é o assunto, mas o Governo é o maior responsável pelos problemas que muitas empresas enfrentam no País. Isto porque o Estado é o maior contratante de bens e serviços, mas não paga aos empresários, que chegam até a
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declarar falência. Pode dizer-me porque é que o Estado não reembolsa o Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA) às empresas quando estas têm a receber? O que acontece é caricato, porque as empresas têm de pagar o Imposto de Rendimento de Pessoas Colectivas (IRPC) e elas têm por receber o reembolso do IVA, mas ocorre que a Autoridade Tributária se recusa a fazer o encontro de contas entre as partes. Isto não pode ser. O Estado não pode agir como caloteiro, não cumprir com as suas obrigações e querer que as empresas cumpram com as suas”, criticou, mais uma vez.
Quanto à protecção do sector privado nacional, o economista entende que não, mas há medidas incorporadas que, de certa forma, minimizam a concorrência dos produtos internos, como é o caso do óleo alimentar e do açúcar, com os importados. Mas há também, no seu
entender, que questionar até que ponto a produção local resolve o problema da demanda destes produtos, para não se correr o risco de criar condições para o empolamento dos preços por escassez ou défice na oferta.
O economista Elcídio Bachita também havia dito, numa intervenção a reagir a estas medidas, no ano passado, que é preciso que se pense numa Pauta Aduaneira mais acessível favorecendo a importação de bens de baixo custo para todos os moçambicanos, pois o nível salarial é baixo contra um custo de vida alto derivado de taxas e sobretaxas na importação de bens e serviços essenciais.
Entretanto, reconheceu que isso pode, por outro lado, desencorajar a produção e transformação ao nível interno, daí a necessidade de encontrar um ponto óptimo de equilíbrio antes de qualquer decisão a este respeito.
Nem todas as taxas diminuíram no novo regime
Muitos produtos e serviços deverão ficar ainda mais caros em resultado desta revisão. É que, como forma de desencorajar o uso de alguns produtos de beleza “nocivos” ou com ingredientes prejudiciais a médio e longo prazo para a saúde, a nova Pauta agravou a taxa de incidência dos mesmos na importação.
É o caso de produtos compostos destinados ao consumo humano, contendo alguns micronutrientes, vitaminas, biotina, proteínas, selénio para o crescimento de cabelo cuja taxa de incidência para efeitos aduaneiros passou de 2,5% para 20%.
Passou também para 20% a taxa de incidência para produtos compostos contendo alfa-globulina, beta-globulina, maltodextrina, albumina, creatina, vitaminas, entre outros, destinados para o ganho de massa muscular.
Para os produtos de beleza ou de maquilhagem preparados e para a conservação ou cuidados de pele (excepto medicamentos), incluindo as preparações anti-solares e os bronzeadores e preparações para manicures e pedicures, houve igualmente um acréscimo de 2,5% para 12,5% a 20%, em termos de incidência.
Na higiene e saúde oral, a Pauta também interveio. Trata-se de produtos para preparações para higiene bucal ou dentária, incluindo os pós e cremes para facilitar a aderência de dentaduras; fios utilizados para limpar os espaços interdentais (fios dental), em embalagens individuais para venda a retalho que passaram a contar com uma taxa de 20% na importação.
Os salões de beleza não ficaram de fora. Os produtos de barbear, desodorizantes corporais, preparações para banhos, depilatórios e outros produtos de perfumaria ou de toucador preparados e cosméticas não especificados passam a ter uma incidência que parte dos 12,5% a 20% contra os anteriores 2,5%.
Entre vários outros produtos constam alguns electrodomésticos que tiveram a sua taxa agravada para 20%. É o caso de aquecedores eléctricos de água, incluindo os de imersão; aparelhos eléctricos para aquecimento de ambientes, do solo ou para usos semelhantes; aparelhos electrotérmicos para arranjos do cabelo (por exemplo, secadores de cabelo, frisadores, aquecedores de ferros de frisar) ou para secar as mãos; e ferros eléctricos de passar. São, portanto, muitas alterações vistas com certo desagrado (por fora), mas que podem trazer consigo resultados positivos. Esperemos para ver!
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“Temos de deixar de legislar com interesses imediatos, temos de reparar para o País de forma holística e fazer as adequadas alterações à nossa legislação da qual a Pauta Aduaneira é parte”
“Ambicionamos Formar Mais para Acompanharmos o Desenvolvimento”
Estamos num contexto de competitividade global em que os Transportes e Comunicações são decisivos para o crescimento socioeconómico. O que dizer, então, da formação nestas áreas? Como estamos e até onde podemos chegar?
Fique a saber nesta entrevista com Luís de Almeida, administrador-delegado da Transcom, instituição que criou o ISUTC e o ITC
ATranscom foi fundada há 25 anos com o objectivo de criar instituições de ensino privadas. Começou por fundar o Instituto de Transportes e Comunicações (ITC), voltado para o ensino técnico-profissional e que este ano faz precisamente 25 anos. A ideia era formar profissionais qualificados em áreas especializadas como a electricidade, mecânica e construção civil, e que pudessem resolver o problema da insuficiência de técnicos dessas áreas no mercado de trabalho. Para isso, a Transcom teve de contar com accionistas de peso, todos ligados à área dos transportes e comunicações, como a Tmcel, Electricidade de Moçambique (EDM), Visabeira, Entreposto, etc., e que também precisavam de formar quadros para as suas instituições.
No ano 2000, dois anos depois da sua criação, fundou o Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC) para formar licenciados em engenharia e gestão, sendo a oitava instituição de ensino superior mais antiga do País. A seguir, Luís de Almeida, administrador-delegado da Transcom, lança um olhar ao que foi, é e se deve esperar destas instituições cujo diferencial está no elevado grau de empregabilidade dos seus formandos.
Sabemos que o Engenheiro Luís de Almeida assumiu o cargo de administrador-delegado da Transcom em Março de 2020, em pleno período do covid-19. Quais terão sido os constrangimentos que este facto impôs ao seu enquadramento e da sua equipa de trabalho nas novas funções?
Foi bastante difícil porque as pessoas não estavam nos escritórios, trabalhavam
a partir de casa. Os próprios alunos deixaram de ir à escola e tinham aulas em casa. Isso obrigou a uma rápida adaptação não só minha, mas também das escolas (ISUTC e ITC) aos constrangimentos do covid-19. Mas, felizmente, conseguimos e penso que o ISUTC foi uma das poucas instituições de ensino que cumpriram integralmente o calendário académico que determinaram.
Falemos um pouco da relevância deste tipo de ensino mais especializado num país como Moçambique.
Há 25 anos houve um grande ganho de experiência na formação. O ISUTC tem cerca de 2300 alunos inscritos e a ITC cerca de 2700. O total perfaz perto de 5000 alunos e isso deu-nos uma visão muito boa do mercado moçambicano, da necessidade de formação e do que é preciso fazer.
O que reparámos é que existe a necessidade de uma formação contínua ao longo da vida. Não basta uma licenciatura. As pessoas devem continuar a aprender e ganhar novas experiências e conhecimentos porque a tecnologia evolui.
Por isso criámos uma formação para executivos ou formação contínua, e hoje temos um conjunto de cursos para pessoas que estão a trabalhar, mas que também precisam de novos conhecimentos. Temos igualmente cursos para os que acabaram as licenciaturas, mas trabalham em áreas paralelas e precisam de outros conhecimentos para melhor desempenharem as suas funções.
Moçambique precisa fortemente de pessoas com formação e capacitadas para o trabalho.
Gostaria de lhe perguntar quais são as apostas, ao nível da formação, no médio e longo prazo?
Temos, internamente, uma grande ambição que vai também ao encontro da ambição do País, que é muito grande e está em crescimento e, portanto, a formação tem um papel crucial para poder desenvolver e explorar as potencialidades em diversas áreas. A nossa ambição não é só desenvolver as nossas instituições. Por exemplo, em Maputo, vamos construir um centro tecnológico do ISUTC para podermos ter mais laboratórios e mais alunos que se vão formar e estar mais bem preparados para os desafios do amanhã. Estamos igualmente a finalizar o lançamento do ensino à distância porque queremos levar o ISUTC para fora de Maputo e acredito que teremos, em breve, a acreditação para permitir que pessoas que estejam fora da cidade possam aceder.
Na formação para executivos estamos a desenvolver cursos nas áreas de gestão, liderança e negócios, não apenas em parceria com os nossos docentes, mas também com entidades de fora como, por exemplo, o ISCTE que é accionista da Transcom e é uma universidade de referência em Portugal. Contamos, igualmente, com a parceria do Instituto Técnico de Lisboa para desenvolver cursos de mestrado ou formação para executivos
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Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva
em áreas mais técnicas. A nossa ambição é de conseguir formar cada vez mais pessoas em Moçambique para acompanhar o desenvolvimento que o País está a registar.
Falou na pretensão da Transcom de construir um centro de tecnologia. Este é o caminho, sobretudo na área da formação. Em que consistirá a aposta do ISUTC e ITC na componente da tecnologia?
A tecnologia é crucial não só para o mercado de trabalho, mas também na formação, que é hoje diferente da que foi há uns anos. E, do meu ponto de vista, dentro de cinco ou dez anos será muito diferente da que é hoje. Os anos de 2020 e 2021, com o covid-19, aceleraram muito o processo de transformação.
As pessoas passaram a usar computadores e a comunicarem-se de outra forma. A tecnologia entrou muito rapidamente no ensino. Hoje em dia, não basta ter um docente a explicar os conteúdos
aos alunos porque eles têm acesso a tudo e nós estamos a criar conteúdos e a reinventar-nos para nos adaptarmos.
Em termos de mercado de trabalho, a tecnologia evoluiu tanto que hoje estamos a ver a utilização da Inteligência Artificial em muitas áreas de negócios. Temos de nos adaptar não apenas quanto à Inteligência Artificial, mas em toda a nossa forma de trabalhar e de nos comunicarmos. Actualmente, existem empresas a trabalhar em fusos horários diferentes e que obrigam a outras formas de interacção. Por isso a tecnologia é indispensável e como instituição de ensino muito vocacionada para as engenharias e para a tecnologia estamos muito atentos a isso.
O centro de tecnologias que está a ser projectado terá uma filosofia virada para as questões que acaba de mencionar?
Exactamente. Sentimos a necessidade de dar formação aos nossos alunos,
BLuis Veloso de Almeida, engenheiro, é um executivo sénior com mais de 30 anos de experiência em liderança, desenvolvimento de negócios e gestão em mercados internacionais como África, China e Europa. Actualmente é administrador-delegado da Transcom, a entidade instituidora do ISUTC e do ITC.
Tem uma vasta experiência no sector financeiro: foi presidente da Comissão Executiva do Banco Mais em Moçambique, vogal do conselho de administração da SIMO rede, membro do conselho de administração da Caixa Económica de Cabo Verde e do conselho de administração do Banco África Ocidental e Managing Director na Geocapital.
É licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa e fez o Programa Avançado de Gestão para Executivos da Universidade Católica Portuguesa.
e não apenas a teórica. Vamos começar a ter uma vertente muito mais prática em laboratórios onde possam experimentar esse tipo de coisas, por isso construiremos o nosso centro tecnológico para dispormos dos nossos próprios laboratórios. O nosso centro tecnológico será partilhado entre o ITC e o ISUTC e poderá estar aberto a empresas (temos parcerias com muitas) para o caso de quererem fazer alguma investigação ou achar alguma solução que esteja disponível.
E essa realidade é para quando?
Para muito breve. A construção está prevista para este ano e contamos que em meados do próximo ano já esteja em funcionamento, pelo menos numa primeira fase, porque está a ser construído em duas fases.
O ITC já leva 25 anos e o ISUTC 23. Ao longo desses anos quais são as transformações que estas instituições foram capazes de operar na formação de quadros?
Fomos introduzindo novos cursos. Hoje em dia temos dez cursos dos quais oito na área das engenharias e dois na área de gestão. Temos também os graus de mestrado.
Fomos evoluindo no corpo técnico e nos cursos, acompanhando o desenvolvimento do País e adaptando-nos às ne-
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“Existe a necessidade de uma formação contínua ao longo da vida. As pessoas devem continuar a aprender e ganhar novas experiências e conhecimentos”, Luís de Almeida, Transcom
cessidades de todos os momentos. Basicamente, o que se fez foi melhorar as condições para poder prestar um ensino melhor. Algo que esteve sempre na raiz destas instituições é o rigor no ensino.
Fazemos questão de que todos terminem os cursos que iniciam e, mais do que isso, estejam capacitados para executar com qualidade o trabalho que fizerem.
Isso é fundamental e há um grande reconhecimento do mercado de que as pessoas formadas no ISUTC estão entre as melhores, principalmente na área das engenharias.
Quando falamos com as empresas sentimos esse reconhecimento. A taxa de empregabilidade é elevada, praticamente 100% dos nossos alunos têm emprego muito rapidamente e passado pouco tempo conseguem chegar a posições de destaque nas diversas organizações.
A avaliar pelo nível de procura pelos cursos das vossas instituições, sente que a juventude moçambicana já se apercebeu da grande vantagem de aqui se formarem?
Com certeza. Estou completamente convencido que os encarregados de educação e os próprios alunos têm a noção de que se tirarem um curso no ITC e no ISUTC a probabilidade de se formarem com qualidade, arranjarem um emprego e evoluírem no trabalho é muito grande.
Só ao nível do ITC, no presente ano, tivemos mais de 1000 candidatos. Isso mostra o interesse que as pessoas têm pelos nossos cursos. É importante lembrar, neste contexto, que atendendo à posição geográfica de Moçambique, em que os países ao redor têm o inglês como língua oficial, no primeiro ano os alunos do ISUTC têm uma disciplina de inglês, e provavelmente, talvez possamos
ÁREAS DE FORMAÇÃO
O ISUTC e o ITC já formaram milhares de pessoas que revelam um alto grau de empregabilidade
Licenciatura em Engenharias
• Engenharia Electromecânica
• Engenharia Ambiental
• Engenharia Electrónica e de Telecomunicações
• Engenharia e Ciência dos Computadores
• Engenharia Civil e de Transportes
• Engenharia Ferroviária
• Engenharia Informática e de Telecomunicações
• Engenharia Mecânica e de Transportes
• Engenharia Electrotécnica
Licenciaturas em Gestão e Finanças
• Gestão bancária e de seguros
• Contabilidade e Auditoria
• Gestão e Finanças
QUALIFICAÇÕES DO ITC
• Construção Civil
• Electricidade de Manutenção
Industrial
• Gestão de Recursos Humanos
• Técnico de suporte informático CV4
• Técnico de administração de sistemas de redes CV5
• Técnico de programação de aplicações de rede web CV5
• Electricidade industrial
• Gestão patrimonial e financeira
• Gestão
• Contabilidade
aumentar as disciplinas nessa língua por forma que os alunos possam sair com o seu domínio e poderem trabalhar noutros países. Esse factor é muito importante e muitos dos empregadores já nos perguntam se os alunos são fluentes em inglês porque já não trabalham só em Moçambique.
Gostava que lançasse um olhar sobre as perspectivas de crescimento do País nos próximos anos.
Acho que é um País grande, com potencialidades gigantescas desde a área da agricultura, das pescas, etc. Tem toda uma indústria por desenvolver, recursos naturais que são muito falados hoje em dia. Tem tudo para se desenvolver como um País auto-suficiente e exportador. Precisa, no meu ponto de vista, de mais pessoas formadas e capacitadas para tirar partido dessa riqueza.
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ócio
74 76 77 81 82 80 79
ESCAPE
Portugal
João Tamura e as memórias de infância no regresso a casa.
GOURMET Txapita
Uma nova atracção especializada em hambúrgueres, frango e pregos
ADEGA
Tintos de 2013 Como estão os vinhos produzidos em 2013 dez anos depois?
EMPREENDER Lara Zoig Ocasião para contemplar magníficas obras de cerâmica.
NET WORKING
The golf cup
millennium bim
A ideia que pretende despertar o gosto pela prática do golfe.
g e e n
ARTES
“Brisa do nada”
A beleza da arte que se constrói a partir de material reciclado.
VOLANTE
Hyuindai IONIQ 6
Porque foi distinguido o veículo eléctrico do ano?
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
v
João Tamura nasceu em Lisboa, nos anos 1990. É músico, poeta e fotógrafo. Partiu em Setembro de 2022 numa viagem sem data de regresso ou destino definido. Tem documentado a sua jornada através de crónicas, numa simbiose entre as suas linguagens predilectas – a prosa e a fotografia analógicaque tentam ao máximo transportar o leitor para os longínquos lugares pisados pelo autor.
Portugal
É Bom Voltar e Apaziguar
Voltámos a casa, avó. Voltámos a casa e a chuva golpeia a janela do avião. Ainda estamos no aeroporto, à espera das malas que despachámos no Camboja. Recordas as estórias que me contavas, avó? Sobre uma Lisboa que já não existe? Sobre o meu pai que, quando adolescente, passava horas a observar a chegada e a partida dos aviões desde a varanda do bar do aeroporto?
Contaste-me que fazia todo esse caminho a pé, só para observar os aviões: descia o Vale do Silêncio, subia a Avenida de Berlim, e finalmente atravessava a Rotunda do Aeroporto; subia as escadas, recolhia o ticket de cinco escudos consumíveis, e assim gastava incontáveis horas, intermináveis tardes. Era algo muito popular na altura, não era?
Aos fins-de-semana as famílias reuniam-se ao redor das mesas metálicas, sob guarda-sóis que os protegiam do impiedoso calor de Agosto; as crianças partilhavam torradas com manteiga, os adultos dividiam acepipes e, à sua frente, o constante espectáculo destes gigantes pássaros metálicos.
eImagino o meu pai, de gadelha e bigode fartos, com um cigarro entre os lábios e uma chávena de café a seu lado. Imagino livros sobre a mesa
que ocupa: Os Passos em Volta de Herberto Helder, ou Levantado do Chão, de Saramago. Imagino-o entre a multidão, a desenhar os lugares distantes, além-mar, para onde voam estes aviões. Lembras-te como desenhava o meu pai? Desenhava tão bem, pena ter parado. Também costumavas ir à varanda do bar do aeroporto, avó? Pois, trabalhavas muito, eu sei. No laboratório e depois em casa, eu sei. O teu tempo livre era escasso, eu sei, avó, eu sei.
Quem me dera recuar no tempo, avó. Aos dias em que tinhas a idade que hoje tenho, quando migraste do Alentejo para esta cidade que se agigantava, antes do teu cabelo esbranquiçar e das tuas mãos te falharem.
Quem me dera ter conhecido o bar do aeroporto; fotografá-lo a película como tanto gosto. Não imaginas o quão cara a película está, avó. Custa o preço do ouro. Quem me dera observar a partida dos aviões TAP para Madrid, Paris, Luanda, Beira; a chegada dos Pan Am de Nova Iorque e de Boston, dos Varig de São Paulo e do Rio.
Quem me dera percorrer o átrio principal; serpentear entre as longas lágrimas pelos que partiam e os apertados abraços àqueles que retorna-
a Saudade
vam. O mundo mudou e, com ele, o aeroporto: o bar e a sua varanda foram há muito encerrados, e existem hoje novas camadas de segurança e controlo, impensáveis no teu tempo.
Até as fardas das comissárias de bordo mudaram, avó. Lembras o quão bonitas eram? Só as conheço dos filmes e das fotografias, claro, mas imagino-as coloridas, vistosas, exuberantes. Hoje perderam a sua beleza e unicidade e, como tantas outras coisas, tornaram-se sóbrias, funcionais. O aeroporto sempre me fascinou, talvez por ter crescido a tão curta distância deste; talvez por, quando criança, ter tantas vezes observado os aviões a rasgarem o céu nocturno, frente à janela do meu quarto, enquanto esperava o sono. É um lugar único e peculiar, o aeroporto. Já viste como num só lugar se cruzam tantas línguas, tantas estórias, tantos passados, futuros, e pessoas de tão diferentes lugares? Não te fascina também a ti, avó? Como pode este lugar ser palco da maior alegria e da maior tristeza? Da maior esperança e do maior desalento? Daqui partimos, em busca de uma vida melhor, e aqui tantos chegam, com esse mesmo intuito. Tariq Ramadan, autor e filósofo, disse-o melhor: “The airport is a place of beginnings and endings, where we say goodbye to what we know and hello to what we hope for”. Olha, chegaram as nossas malas. Se não houver trânsito, em 15 minutos estaremos em casa.
E este frio, avó? Já não sabíamos este Fevereiro europeu, estes céus cinzentos, estes dias de chuva. Estavam 40ºC no Camboja! Como assim 11ºC durante o dia, 5ºC durante a noite?! Como assim esta calçada molhada? Este orvalho matinal? Olha como a roupa nos estendais demora a secar; como esse teu instinto maternal, apesar das dores nas tuas mãos e costas, arrasta as plantas pa-
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ra a varanda, para beberem os magros raios de sol que espreitam por entre as nuvens. Pode ser um cafezinho, sim. Obrigado. Mas sem açúcar, avó.
Obrigado. E após tantos meses em busca do desconforto, do estranho, do estrangeiro, mergulhamos de novo no conforto das coisas que abandonámos. É bom estar aqui contigo, avó. É bom regressar, mesmo que por pouco tempo.
É bom reconhecer cada palavra daqueles que connosco se cruzam na rua, e perder a privacidade que a nossa língua nos permite quando longe. É bom saber esta cidade como a palma das mãos, saber o fim das ruas e o início das avenidas.
É bom regressar e beijar a minha mãe, abraçar o meu pai; é bom regressar aos pastéis de nata da Manteigaria, ao bitoque com ovo a cavalo do Cabeça de Touro, à sopa de hortaliças do Arco de Paris; é bom regressar aos convívios entre amigos, no relvado da Alameda, nos bancos do Jardim Fernando Peça. Vamos passear, avó, voltar a percorrer a João XXI, a Avenida de Roma, a Almirante Reis. Aos domingos, volto ao futebol: ao Atlético, ao Sport Lisboa e Olivais, ao Sport Lisboa e Benfica. Volto a ver-te daqui a quatro dias, está bem?
É bom voltar, mesmo que por pouco tempo.
A nossa rua tem aroma a castanhas. O fumo branco que sai do assador a carvão cobre o rosto do homem que o manobra. Um euro e meio, meia-dúzia; três euros, uma dúzia. E mãos calejadas envolvem as doze castanhas em papel de jornal. Descasco-as: uma para a Sara, uma para ti, uma para mim. 15 escudos compravam uma dúzia de castanhas? Pois, acredito.
Eu recordo-me de comprar uma dúzia de castanhas por 2 euros, frente ao portão da escola. Parece que tudo aumentou desde a nossa partida: o preço das castanhas, dos ovos, do pão, das rendas: um T2 em
Benfica por 1200 €/mês?! Um quarto nos Olivais por 500 €?! Mas está tudo louco?! E aumentam o número de tendas nos dois lados dos passeios da Almirante Reis e sob as pontes da Infante Santo.
É verdade, avó, as coisas estão mesmo difíceis. Sim, avó, tentamos arranjar trabalho lá fora. Sim, um bom trabalho, que nos compre uma casa, um carro, que nos permita vir à terra uma vez por ano.
Eu sei, avó, este país não é para jovens… Mas algum dia o foi? Tu, com a minha idade, e com dois filhos, quantas horas trabalhavas? Não as consegues contar, eu sei. Quantas horas estudavas? Aquelas que sobravam pós-trabalho, não era? Agarrada aos livros entre as paragens do eléctrico; depois, enquanto esperavas o autocarro; depois, entre as paragens do autocarro. E os teus irmãos? Não foi assim a vida deles, também? E a vida dos teus vizinhos? E a dos teus amigos? Sei bem que esta dificuldade te seguiu toda a vida, avó. Que contigo se mudou de casa, de lugar. Esta dificuldade que contigo partilhou a planície alentejana, as encostas da Pontinha, a torre de 12 andares dos Olivais.
Esta dificuldade que se colou à tua pele, avó, e que contigo despertou, almoçou, passeou; esta dificuldade que te entrou casa adentro, sem convite ou permissão, com pés sujos de lama e guarda-chuva a pingar sobre o soalho. E tu, avó, tão hospitaleira que és, ofereceste-lhe a nossa melhor cadeira, no topo da mesa azul da cozinha. Tu que lhe aqueceste chá onde mergulhar as deliciosas popias da Vidigueira. E tu, avó, tão educada, tão gentil, transmitiste esses pilares à tua filha, minha mãe.
E a minha mãe transmitiu-os a mim, seu filho. Como um ouroboros ou, como aqui dizemos: como uma pescadinha de rabo na boca. E noutros prédios, noutros bairros, noutras casas, igual. Esta dificulda-
de que chegou a este país em tempos imemoriais para nunca mais partir.
E as nossas vidas e as nossas casas tornaram-se da dificuldade: esta apoderou-se do hall de entrada, do sofá florido da sala, dos armários da cozinha, da nossa cama de lençóis lavados. Já não restam lugares para nos sentarmos, sítios onde pousarmos as nossas coisas, espaço na mesa para jantarmos... E tu aqui ficaste, avó. Aprendeste a partilhar o teu espaço com a dificuldade, a dedicar-lhe tempo de reza e de pensamento. Outros partiram: primeiro os primos, depois os amigos e, finalmente, nós. Nós que não aguentámos mais e que lhe deixámos a nossa pequena e velha casa e dissemos: olha, alimenta-te do resto do pão; não deixes o queijo estragar; fica com o vinho, não é muito, eu sei, as minhas desculpas. Fica com tudo, mas não me sigas.
Caminhamos até ao aeroporto, como o meu pai fazia outrora - assim prolongamos os minutos da nossa despedida. Seremos para sempre daqui, deste lugar à beira-mar, como a dificuldade que nos obriga a partir, como a saudade que nos obriga a voltar.
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“É bom regressar e beijar a minha mãe, abraçar o meu pai; é bom regressar aos pastéis de nata da Manteigaria, ao bitoque com ovo a cavalo...”
Texto & Fotografia João Tamura
Um takeaway, no coração de Maputo. Não é gourmet?
Não. Mas é bom, barato, e tem qualidade.
por vezes o paladar pode surpreender ganhando independência e autonomia atípicas. Damos por nós e já estamos a fechar os olhos imaginando o sabor de um lanche.
Lanche dos bons: uma batata bem crocante, um frango panado com temperos picantes, alguma coisa com molhos ou nem por isso, e sentimos que precisamos de comer isso já (antes que se arrependa de trair a dieta). Há um lugar que ajuda a satisfazer os desejos do seu paladar num instante: o Txapita Take Away.
Localizado no mercado Museu, o cantinho do casal Jossias Uamusse e Patrícia Dias (Paty e Mo Faya) é um fast food que junta a organização dos restaurantes chiques com a fluidez e dinâmica dos take-aways “do bairro” e acomoda-lhes
Txapita Take Away. Um Delicioso
num preço para o bolso de todos. Não é um restaurante, mas também não é necessariamente um take-away do “bairro”. É uma mistura que se aproxima das características dos seus donos, uma portuguesa e um moçambicano.
Um take away novo no mercado, aberto em Fevereiro de 2023, mas que veio com muito “fire”. É um espaço jovem que só pelas suas configurações mostra que é tudo num txap txap, mesmo para ganhar tempo.
Os lanches que lá servem são basicamente hambúrgueres, frango e pregos. Ou seja, o menu não é muito diversificado. Diversos são mesmo os sabores que se pode ter a ocasião
Lanche, Que Sai Rapidinho!
de ali experimentar, quer dos molhos e dos temperos na comida ou então da experiência de lá estar, no meio de pessoas, num lugar solto e descontraído a comer algo delicioso. Todos estes cenários tornam o ambiente único e memorável.
O Txapita surge depois de uma boa busca nos arredores da cidade de Maputo por um lugar que seja acolhedor, barato, com comida boa e horário alargado para se estar.
Por não encontrar um lugar que juntasse tudo isso, Patrícia, que antes trabalhava com Gestão e Procurement em Portugal, decide então ficar em Moçambique e começar o seu negócio com o namorado.
E de tão promissor que se mostra, neste curto espaço de tempo de existência, os proprietários já pensam em abrir outros take-aways em alguns mercados da capital. É um es-
paço para um almoço ou um lanche rápido no final da tarde. Mas também caía bem um encontro com amigos para um papo de sexta-feira.
É Halal e não vende bebidas alcoólicas. Mas se quiser acompanhar o lanche com uma cervejinha, estamos no mercado, há cerveja em qualquer canto.
Se não consegue passar por lá, pode pedir um deliver, mas, se puder, vá e viva a experiência de estar neste lugar, é divertido, limpo e organizado.
Entre as várias opções que tem, se quiser confiar em mim, peça um hambúrguer com o molho especial da casa. Vem bem txapita (rápido). Sente-se, delicie-se, repita e, se puder, volte. E volte sempre!
Texto Filomena Bande
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Fotografia Mariano Silva
TXAPITA g
Não é um restaurante, mas também não é necessariamente um take-away “do bairro”, é uma mistura que se aproxima das características dos seus donos, uma portuguesa e um moçambicano
Tintos de 2013, Dez Anos Depois
com a entrada em 2023, chegou a vez de provarmos os vinhos da colheita enigmáti ca de 2013. Anualmente, e sempre dez anos depois da colheita, o painel da revista por tuguesa “Grandes Escolhas”, regressa a algumas dezenas de grandes tintos daquele país com tradição na produção da adega.
Num artigo para fazer a apreciação dos que considera serem os melhores vinhos de há dez anos, o autor, Nuno Oliveira Garcia, realizou uma espécie de casting junto dos produtores e enólogos de todo o país para ter a verdadeira noção da qualidade dos vi nhos que foram produzidos naquele ano que, em Portugal, foi de um rigoroso Inverno.
Francisco Ferreira (Vallado) e Jorge Moreira (Poeira), ambos centrados na região do Douro, destacam o perfil fresco dos vinhos que os tornam muito agradáveis de beber (muito bons tintos e excelentes brancos), não deixando de referir que faltou, num ou outro vinho, um pouco mais de maturação que contribuísse com profundidade. Jorge Moreira, ainda sobre este aspecto, realça que os vinhos têm evoluído muito bem, e que só por falta dessa maior maturação é que não têm ainda mais personalidade.
Mário Sérgio Nuno (Quinta das Bágeiras) destaca também o ano frio na Bairrada, onde não se sentiu qualquer tipo de escaldão no Verão, o que contribuiu com vinhos mais finos e menos estruturados (comparados com 2011 e 2012 ou até 2015), com tani nos em todo o caso sérios e austeros que garantem longevidade.
Ao sul, no Alentejo, Pedro Baptista (Fundação Eugénio de Almeida) só tem boas palavras para a colheita, elogiando-a ao ponto de a equiparar à mítica de 2011, sa lientando que as temperaturas foram “doces durante o ano” garantindo, generi camente, maturações lentas e equi libradas. Para o enólogo e admi nistrador, 2013 é responsável por alguns dos vinhos alentejanos mais elegantes e equilibrados dos últimos anos.
Quanto à prova verdadeiramente dita, a primeira nota positiva vai para a prestação dos vinhos ao nível da sua juventude. Dois terços dos tintos provados aguentarão, certamente, outros dez anos ao mesmo nível (ou até melhora rão), e muitos desses seguramen te muito mais anos. Falando ainda de transversalidade, realça o facto de todas as regiões em prova apresentarem vinhos de altíssi ma qualidade.
Pela análise climática de 2013, pode-se di zer que foi um ano que favoreceu as regiões mais quentes, com Douro e Alentejo à cabeça (com vá rios vinhos entre os mais pontuados), mas entre os que deram melhor prova constam também vinhos da Bairrada (com destaque para Outrora e Kom passus) e do Dão (belíssimos os Quinta da Pellada e Quinta da Vegia). No estilo e mecânica de prova, é impossível não realçar os alentejanos Mouchão, Procura e Esporão Private Selection como alguns dos mais gastronómicos, da mesma forma que os durienses Pintas, Poeira e Carvalhas se elevaram pela juven tude e perfil compacto.
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Dois terços dos tintos provados aguentarão outros dez anos ao mesmo nível (ou até melhorarão), e muitos desses muito mais anos… Falando ainda de transversalidade, todas as regiões em prova apresentaram vinhos de altíssima qualidade
Dar Vida (e Tempo) ao Barro. E a Nós Próprios
os workshops de cerâmica que Lara Zoig realiza em Maputo são diferentes. Porquê? Porque mais do que fazer peças de barro, são uma experiência de troca e partilha, e entre a criação de uma peça e outra, ainda pode tomar um vinho ou um chá, saborear um dos deliciosos petiscos (que a própria Lara faz) enquanto escuta uma música que torna tudo (ainda) mais leve.
A ideia é que as pessoas possam realmente relaxar para deixar a criatividade aflorar enquanto se conectam com um pedaço de barro. Os workshops de cerâmica são para todos, a partir de 15 anos, com ou sem experiência prévia.
Apesar de parecer algo complicado, fazer cerâmica é algo simples e relaxante, mas que exige tempo – não ache que sairá da aula com a peça para a sua casa. São necessárias basicamente três aulas, com uma diferença de duas semanas entre cada aula para que se possa ter as criações prontas.
Na primeira aula, cria-se a peça ou as peças – se não sabe o que fazer, pode pesquisar antes de ir. Assim, já irá com uma ideia do que fazer.
Mas também pode ir ao Pinterest para ter ideias. Nesta primeira aula, a Lara explica sobre algumas técnicas manuais que existem, como a bola, a placa e o rolo, e auxilia na criação e aperfeiçoamento da peça.
Depois é preciso deixar que aquele barro fique bem seco para que se possa realizar a segunda etapa, quando é possível corrigir as imperfeições da peça e, então, pintá-la, caso seja da vontade da pessoa. Porém, recomendo, tanto pela aprendizagem como pela oportunidade de transformar, ainda mais, aquele barro numa peça ainda mais exclusiva e com a tua assinatura. Caso tenhas tempo, nesta aula, ainda é possível desenvolver novas peças.
Após essa etapa, com as peças totalmente secas, as mesmas vão para o forno, onde passam pelo processo da queima. É nesta etapa que a magia acontece e o barro é transformado em cerâmica.
O forno utilizado é um especial, pois atinge uma temperatura de cerca de 1000ºC. Para que o processo finalize, são necessárias, mais ou menos, 48 horas. No terceiro workshop, é o momento de se aprender a vidrar a peça, para que fique impermeável e nela se possam usar líquidos e alimentos. Chega-se, então, na última etapa, à segunda queima, no mesmo forno, mas com uma temperatura um pou-
co maior, desta vez vai quase aos 1200ºC e demora quase 72 horas para se ter a peça finalizada e pronta para passar a ser o que você criou – um prato, uma xícara, uma saboneteira, um copo, um objecto de decoração ou qualquer outro elemento que tenha criado.
Transformar o barro em cerâmica requer tempo e paciência, mas os resultados, garantimos, são sempre surpreendentes e satisfatórios.
Os workshops de cerâmica da Lara Zoig acontecem todas as terças e quintas, das 17h às 20h, e um sábado por mês, entre as 15h e as 18h, no seu atelier, que fica na sua casa. Todo o material necessário para a prática, ou seja, barro, utensílios, avental, tintas e as queimas são fornecidos pela própria Lara e já estão incluídos no preço. Cada sessão comporta até oito pessoas e tem um valor de 1500 mts por pessoa, com
a opção de comprar o pacote de dez sessões que dá direito a uma aula de oferta. É possível conversar com a Lara para a realização de grupos fechados e comemorar aniversários, uma actividade diferente entre amigos e familiares, e até grupos de trabalho para diversificar as tarefas do dia-a-dia. É também possível adquirir vouchers em cartão como forma de presente.
Caso não tenha interesse no workshop, mas queira conhecer mais do trabalho da Lara Zoig, ela expõe peças na sua loja, Salada, que fica na Avenida Kim II Sung.
A compra e marcações dos workshops são feitas directamente com a Lara, por meio do site www.larazoig.com ou pelo telefone +258 845 999 471.
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Lara Zoig
TEXTO Ana Sciena FOTOGRAFIA Mariano Silva
Transformar o barro em cerâmica requer tempo, atenção e paciência, mas os resultados, garantimos, são sempre surpreendentes
mpreendedor
E
Uma iniciativa que pretende despertar o gosto pela modalidade
The Golf Cup Millennium bim Uma Viagem Entre
the golf cup millennium bim é o primeiro campeonato de golfe entre empresas a realizar-se em Moçambique, inspirado numa competição similar que já é tradição em Angola há dez anos, e que foi criado pelos mesmos organizadores, aqui representados por Jorge Fonseca.
O campeonato está virado para empresas e nele podem participar quadros ou convidados que não sejam parte da sua estrutura. A prova terá três etapas de qualificação, uma em Junho, outra em Setembro e a última em Outubro do presente ano.
A prova final será disputada fora do País, com as equipas aqui qualificadas a competirem com as de Angola, fa-
zendo surgir a primeira taça de golfe Angola vs Moçambique. O projecto de golfe de empresas não foi desenhado para ser meramente desportivo: vai ser um combo de desporto e conexão entre empresas e empresários no sentido de criar relações que ajudem a impulsionar os seus negócios e a publicitar as suas marcas.
O principal objectivo desta prova, de acordo com Jorge Fonseca, é de desmistificar a prática da modalidade no País que é conotada como um desporto de elite, embora o responsável confesse que essa visão elitista do golfe não seja totalmente errada, visto que “o golfe demanda um pouco mais de investimento se comparado com outras modalidades des-
o Desporto e o Network Empresarial
portivas, ou seja, os equipamentos para a sua prática exigem relativamente mais despesas financeiras e não é fácil encontrar campos públicos para o jogar”.
Afiguram ainda como parte dos objectivos desta iniciativa descobrir jogadores com talento e convidá-los a praticar profissionalmente, contribuindo para a consolidação do golfe em Moçambique, ocasionando assim a criação de uma federação com estruturas técnicas competentes, que permitam controlar e fiscalizar as provas, como aconteceu em Angola.
Depois de dez anos naquele país, os organizadores decidiram investir em Moçambique porque acreditam que será um investimento bem-sucedido.
Em Dezembro de 2022, fizeram um teste do mercado por meio de um pequeno campeo-
nato, no qual conseguiram juntar 40 equipas compostas por 80 jogadores.
O parceiro oficial deste projecto é o banco Millennium bim, disposto a cooperar e ajudar a vitalizar o golfe em Moçambique, daí que o campeonato ostente o nome do banco.
Jorge Fonseca revelou ainda que a equipa espera alcançar certa maturidade e ajudar a criar equipas técnicas que possam continuar a desenvolver a modalidade e identificar um parceiro capaz de apoiar a massificação da iniciativa.
Para esta primeira edição, espera-se a participação de 36 equipas e as inscrições para o campeonato começam em meados do mês de Maio.
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TEXTO Filomena Bande FOTOGRAFIA Mariano Silva
O principal objectivo desta prova, é de desmistificar a prática da modalidade no País que é conotada como um desporto de elite, embora essa visão não seja de todo errada
“a brisa do nada” é a sétima exposição individual da artista plástica moçambicana Lica Sebastião, inaugurada a 13 de Abril no Centro Cultural Guimarães Rosa, em Maputo.
A exposição é composta por 25 obras feitas a partir de objectos estragados e descartados que, reutilizados, são combinados e transmitem alguma impressão, comunicam sobre alguma coisa ou contam uma história.
São objectos que já não eram nada, mas que do nada foram engenhosamente trabalhados com as mãos delicadas e o coração criativo de uma artista para se transformarem em alguma coisa.
E que coisa! Vieram da “Brisa do Nada’ e transformaram-se em arte. E arte de en -
A exposição é no Centro Cultural Guimarães
Rosa, em Maputo, até ao dia 31 de Maio
Dar Vida aos Objectos Descartados Debaixo da “Brisa do Nada”
cher os olhos. Lica olhou para alguns objectos com os olhos de sentir e não os de ver e, como uma vidente, adivinhou a linguagem dos mesmos.
Olhou e viu que alguns aparelhos obsoletos de rádios, bicicletas, panelas, relógios e outros objectos que, aos olhos de todos, já não tinham utilidade, podiam falar e tinham alguma coisa por dizer.
Com mãos de mestre deu um novo valor aos mesmos, resgatou-os de serem descartados e os deu-lhes uma nova vida.
Aqui, todos eles se esqueceram das suas funções passadas e tornaram-se contadores de histórias. Contam his-
tórias das gerações passadas e transmitem sensibilidades, narram vivências e interpretam sentimentos.
A artista debruçou-se a trabalhar em cada uma das obras de forma livre e independente, sem se prender a nenhuma temática à qual as obras se devessem submeter.
Nas obram que compõem a exposição, trabalhadas por um período de cerca de dois anos e meio, predominam a figura humana e algumas demostrações da natureza.
Lica Sebastião começou a trabalhar com objectos descartados por pura curiosida -
de e faro artístico, o que acabou por ser uma boa estratégia para fugir da escassez e dos custos elevados de materiais para a arte no País, situação que considera como uma das maiores dificuldades para a produção artística em Moçambique.
“A Brisa do Nada” ficará exposta no Centro Cultural Guimarães Rosa, em Maputo, até ao dia 31 de Maio e poderá ser apreciada de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h.
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TEXTO Filomena Bande FOTOGRAFIA Mariano Silva
BRISA DO NADA
Olhou e viu que alguns aparelhos obsoletos que, aos olhos de todos, já não tinham utilidade, podiam falar e tinham alguma coisa por dizer
HYUINDAI IONIQ 6
Marca: Hyundai
Modelo: IONIQ 6
Potência: 605 Nm
Velocidade: dos 0 aos 100 km/h em 5,1 segundos
Hyundai Volta a Ser Distinguido
A WORLD CAR AWARDS 2023 anunciou, recentemente, o grande vencedor do concurso mundial dos melhores lançamentos dos últimos 12 meses, numa cerimónia de entrega de prémios no Salão Automóvel de Nova Iorque, Estados Unidos da América.
O vencedor da prova que é realizada desde 2004 é eleito por mais de 100 jornalistas do sector automóvel, oriundos de 32 países, que se reúnem em eventos internacionais e participam numa votação pela Internet.
Para o ano 2023, o Hyundai IONIQ 6 foi o grande vencedor do prémio ‘World Electric Vehicle of the Year’, ou, em português, “Veículo Eléctrico Mundial do Ano”. O eléctrico da marca sul-coreana conquistou o prémio de ‘Carro Mundial do Ano’ em 2023, sucedendo precisamente ao Hyundai IONIQ 5.
O representante da marca expressou a alegria de vencer o tro-
o Veículo Eléctrico do Ano
féu pela segunda vez consecutiva, afirmando que o reconhecimento serve de motivação para a marca. “Estamos entusiasmados por receber este galardão pelo segundo ano consecutivo.
Este prémio reforça o nosso compromisso de liderança global na electrificação de veículos e é uma motivação para os nossos esforços enquanto fornecedores de soluções de mobilidade inteligente”, afirmou Jaehoon Chang, presidente executivo da Hyundai Motor Company.
O carro mundial de 2023 está disponível com várias baterias e motores eléctricos. Tem a bateria mais potente com uma capacidade de 77,4 kWh, o que promete uma autonomia de 610 km. Esta bateria virá acompanhada com dois motores eléctricos que, juntos, debitarão 325 cavalos de potência e 605 Newton
metros (NM) de binário. Números que conferem ao IONIQ 6 uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 5,1 segundos.
Ao mesmo tempo e graças à sua arquitectura eléctrica de 800V, o IONIQ 6 consegue, também, repor até 80% da capacidade das baterias em apenas 18 minutos, ou, caso o condutor assim pretenda, fornecer energia à rede eléctrica, graças à integração da tecnologia Vehicle-to-Load (V2L).
Entretanto e enquanto fornecedor de soluções de mobilidade inteligente, a marca sul-coreana tem já previsto lançar um total de 17 modelos 100% eléctricos até 2030, o que, certamente, ajudará a alcançar a meta também já estipulada dos 1,87 milhões de veículos eléctricos vendidos ao nível global, também em 2030.
vAo mesmo tempo e graças à sua arquitectura eléctrica de 800V, o IONIQ 6 consegue, também, repor até 80% da capacidade das baterias em apenas 18 minutos