Cadeia em pauta
Por uma “carcaça integral” Pecuaristas pedem ao Mapa que normatize a toalete na indústria para evitar perdas, que, segundo pesquisa da UFT, podem chegar a 1@ por animal.
Padrão de limpeza da carcaça varia muito de um frigorífico para outro
O produtor tem direito de receber pelo que efetivamente entrega” José Neumann, da UFT
carolina rodrigues
O
carol@revistadbo.com.br
rendimento de carcaça sempre foi motivo de conflito na cadeia pecuária bovina: produtores reclamam do sistema de pagamento pelo animal abatido, com base no peso pós-toalete (limpeza da carcaça); frigoríficos argumentam que adotam procedimentos criteriosos, que podem ser conferidos in loco pelo produtor. A falta de um padrão nacional, contudo, dificulta a eliminação de arestas. Neste mês de maio, a questão voltou à pauta do GPB (Grupo Pecuária Brasil), que, ao lado da Universidade Federal do Tocantins (UFT), enviou um parecer técnico ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reivindicando a publicação de uma instrução normativa sobre o tema, definindo claramente o que o frigorífico pode ou não retirar da carcaça. O pedido respaldou-se em um levantamento realizado pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) em pequenos frigoríficos do Estado, nos últimos 10 anos. Além de constatar desuniformidade de métodos de toalete no Brasil, a instituição calculou o que ela extrai da carcaça (apenas em gordura) e o que isso significaria em dinheiro. “Fizemos cálculos em vários estudos e chegamos a perdas altas, que merecem uma discussão dentro da cadeia e com o Ministério. O produtor tem direito de receber pelo que efetivamente entrega”, diz o pesquisador da UFT, José Neumann Miranda Neiva, que coordenou
28 DBO junho 2020
alguns desses estudos com carcaças e é um dos apoiadores do movimento “Levanta Cabeça”, criado por produtores de Araguaína há um ano. No documento entregue ao Mapa, os produtores pedem (enquanto não se tem regulamentação mais completa) o cumprimento da Instrução Normativa Nº 9, de maio de 2014, que define o que é carcaça bovina, e do decreto Nº 9.013, de março de 2017, que também trata do tema. Na prática, isso significaria remuneração pelo rendimento de carcaça quente integral (RCQI) ou peso pré-toalete, desejo acalentado também pelos produtores uruguaios. Após muita disputa com a indústria de seu país, eles perderam a batalha, mas conseguiram do governo, em 2016, um “protocolo de dressing máximo” que detalha item por item o que pode (e como) ser retirado da carcaça. No Uruguai, o percentual de dressing, fiscalizado por técnicos do INAC (Instituto Nacional da Carne), varia de 6% a 8%. Auditores do Mapa já se posicionaram, por meio de ofícios internos, contra excessos na toalete das carcaças no Brasil – retirada de parte da musculatura ventral do pescoço, do obturador interno (aranha) e do reto abdominal (pacu) –, mas os produtores reclamam que falta um posicionamento oficial do órgão de modo a coibir irregularidades. “Temos leis e portarias que nos resguardam quanto ao que é carcaça bovina. A retirada de certas gorduras e partes de músculos não consta de nenhuma delas, mas isso não é cumprido”, argumenta Oswaldo Furlan, fundador do GPB, grupo que reúne, junto com seus coligados, 14.533 pecuaristas de 17 Estados brasileiros e Distrito Federal. Pesquisa mensura prejuízos A Universidade do Tocantins iniciou suas pesquisas com frigoríficos regionais há 10 anos, inicialmente para avaliar o reflexo de dietas bovinas sobre o peso e rendimento das carcaças. Os pesquisadores notaram, contudo, uma grande disparidade entre os resultados obtidos e os projetados, o que acabou levando à análise da toalete. Eles decidiram mensurar a quantidade de gordura extraída durante esse processo de limpeza, antes da pesagem das meias carcaças para pagamento ao produtor, e depois reconstruir o que chamaram de “carcaça integral” (sem toalete). José Neumann explica que, em algumas plantas, principalmente aquelas habilitadas para exportação, observou-se a retirada de até 15 kg (1@) de gordura durante a toalete antes da pesagem da carcaça. Se a IN 9 fosse seguida, o produtor teria ganhado R$ 150 a mais por boi (valor da @ em maio de 2019). Nos estudos da UFT, não foram consideradas as gor-