Desmama precoce mira “dois lados da moeda” Técnica permite à matriz recuperar condição corporal para emprenhar, mas é preciso cuidar do bezerro, suplementando-o adequadamente.
Bezerros desmamados precocemente comendo produto rico em proteínas lácteas
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Muitos protocolos fracassaramm por falta de cuidado com o bezerro” Felipe Parise, da Trouw Nutrition
56 DBO junho 2020
Denis Cardoso
á bem conhecida das fazendas brasileiras, a desmama precoce – que consiste na remoção definitiva dos bezerros do pé da mãe, com apenas três meses de vida – vem ganhando maior eficiência nos últimos anos. Após dificuldades iniciais no emprego da técnica, chegou-se à conclusão de que ela deve não apenas melhorar a condição corporal das mães, visando maior taxa de prenhez, mas também estimular o desenvolvimento dos bezerros que ficam “órfãos” prematuramente. “Muitos protocolos fracassaram pela falta de cuidado com o bezerro. O ideal é que ele tenha algum valor, no momento que atinge os 210 dias de vida (período de desmama no sistema convencional). Com os protocolos nutricionais atuais, é possível produzir bezerros de altíssima qualidade, com até 30 kg acima do peso médio dos lotes desmamados na fazenda”, garante Felipe Antônio Parise, gerente comercial da empresa de nutrição Trouw Nutrition. O pecuarista Egon Huber faz parte do grupo de fazendeiros que, hoje, utiliza a técnica pensando nos “dois lados da moeda”. Ele faz cria/recria na Fazenda Mutuca, em Camapuã, MS, região conhecida como o berço do bezerro de qualidade. “Aqui, qualquer descuido resulta em penalização no momento da venda”, justifica Huber, que recebe orientação técnica de Paulo Araripe, consultor da
Via Verde, de Minas Gerais. “Trata-se de uma ferramenta excelente, porque aumenta consideravelmente a taxa de prenhez das primíparas, além de trazer uma série de outros benefícios ao sistema produtivo da fazenda”, destaca Huber, que produz, por meio da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), animais meio sangue Angus/Nelore e Hereford/Nelore, além de tricross (nas fêmeas F1, coloca sêmen de Braford e Charolês). Segundo Araripe, o processo de separação da mãe ocorre em uma fase ainda extremamente sensível do bezerro. “Por isso, todo cuidado é pouco, principalmente durante o período inicial de adaptação à nova dieta”, afirma o consultor, que também ressalta a importância de se fornecer ao bezerro uma ração de alta qualidade nutricional, balanceada com proteínas lácteas, energia, aditivos, macro e micro minerais. É bom lembrar que a técnica de desmama precoce nada tem a ver com o creep feeding, apesar de os dois sistemas exigirem cochos exclusivos para bezerros. No sistema de creep, eles continuam ao lado da mãe até os 7-8 meses de idade; na desmama precoce, até os três meses. A partir daí, recebem um produto exclusivamente para animais lactantes. Benefícios para a vaca No que se refere às matrizes, a remoção precoce dos bezerros traz duas vantagens: melhoria de desemprenho reprodutivo e antecipação do descarte de matrizes. “Quando tiramos o bezerro da mãe”, diz Parise, “toda a energia que seria destinada à produção de leite, passa a ser direcionada à reconstituição de sua condição corporal. Comprovadamente, o status físico das fêmeas tem relação direta com a reconcepção. Não à toa, muitas vezes, o uso da ferramenta desmama precoce se concentra nas vacas primíparas, como é o caso da Fazenda Mutuca, que passou a utilizar a técnica somente nos lotes dessa categoria (120 cabeças/ano). “Com a estratégia de desmama precoce, em primíparas meio-sangue, passamos a obter índices de prenhez de até 90%”, conta Huber. Trata-se de de uma taxa de fertilidade bastante alta, já que, historicamente, essa categoria apresenta baixo índice de reconcepção, porque, depois de parir pela primeira vez, passa a gastar muita energia para continuar crescen-