Coletânea Mulherio das Letras para Elas
ISABELLE PIRES NEM VESTIDOS, NEM MAQUIAGEM
Eu sou Conradine Aruti e não sei como será o meu
futuro. Há muitas restrições agora. O Talibã ordenou que um homem precisa me acompanhar. Quando eu saio, tenho que usar burca - esse traje que me cobre completamente o corpo com uma treliça estreita à altura dos meus olhos. Aqui em Ishkamish, distrito rural na província de Takhar, fronteira nordeste do Afeganistão com o Tajiquistão, os serviços são escassos.
Nos primeiros dois dias após a chegada do Talibã a
Cabul, as ruas da capital também começaram a dar sinais dessas mudanças restritivas para as mulheres. Se elas não usarem véu, se maquiarem ou usarem vestidos de festa serão arrancadas ou cobertas de tinta. Em Cabul as mulheres sentem medo e falta de esperança. Olhamos para o porvir e enxergamos uma fumaça nebulosa. A cidade é silenciosa depois que o Talibã governa a capital. Nossas casas são o nosso cárcere.
Eu tinha muitos planos para o meu futuro, mas
agora não posso trabalhar nem ir para a universidade. E quando digo “tinha” é nesse tempo mesmo de dúvida, de incerteza que me coloco, porque não sei como será nosso futuro. Isso me fez perder a esperança. Estou
56 / 120