JAQUE MACHADO L 34°31′41″ N L 69°10′20″ E Nunca estivemos em Cabul, mas estivemos.
No não, na castração, na seletividade por gênero, na violência, na morte.
Lá a al-amira, um nome bonito, é sudário das dores, a cisma visual de todos os nãos, a coberta de estigmas que invisibiliza a mulher.
Nunca estivemos em Cabul, mas estivemos em diversos ashs da nossa vida, quanto mais escura a pele, mais próxima de Cabul está a mulher.
Goteja na nossa fronte essa iniquidade para que nos sintamos sozinhas, uma tortura.
E tentando contra essa força que quer nos separar e acabamos, em verdade, chegando às vezes em Cabul, mesmo que para aparar as lágrimas umas das outras, como se quiséssemos em Cabul estar, mas não desejando ir.
No entanto, eis a grande realidade: mesmo que fosse possível todas nós por lá, não estaríamos.
Não é possível que entremos na pele sob a burca, não é real a dor imaginária que atravessamos por elas na nossa empatia, nem de perto.
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