Versus#58

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EDITORIAL

V E R S U S M A G A Z IN E Rua José Rodrigues Migueis 11 R/C 3800 Ovar, Portugal Email: versusmagazinept@gmail.com

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D IR E C Ç Ã O

Os filhos da puta To d a a indúst ria mu sical co n tinua, (quas e) em s i l ên c i o , a lu ta r c ont ra o ca lvário e o martírio que tem s i d o o COVID. Pio r q ue o vírus tem sido a hipo crisia qu e s e tem v i v i d o n o pa ís , onde uns são filhos da mãe e o u tro s f i l h o s d a p u ta . O f u te b ol, e sse de s porto de massas e de m a s s a s , q u e m ove m u ltidõe s e milhõ es, govern a este país, q u e es tá n a s m ã o s d e in c ompe t e nt e s e mentecaptos, uma au tên ti c a r ep ú b l i c a d a s b ana na s: ningu ém govern a, nem s e d ei x a g over n a r. O s g ove rna nt e s, esses (ir)respo n sávei s q u e f a c e à L i g a d o s C a mpe õe s o u à Fórmula 1, fizeram o p a í s s en ti r -s e c o m o uma a ut ê ntica puta, que é recruta d a n o mei o d e u m q u a lq ue r e rmo, l avada, penteada - qu a l p u ta f i n ó r i a - e u s a d a por dinhe iro pelo chulo, proxene ta o u u m q u a l q u er e n g rava t ado nojento . Qu ando mais n i n g u ém q u er, l á e s t a m os nós, subservien tes e de calcinh a s a r r i a d a s p a ra r e c e b e r os importan tes evento s. No entr eta n to , o R ei n o Un id o lá t ir ou o país da zo n a verde. Iró n i c o , n ã o ? En q u a n to is s o , os eve nt os vão sen do adiados e to d a u ma i n d ú s tr i a v a i pe nando por “migalh as” e, n o fu n do, p a ra s er tra ta d a j u s ta me nt e . Mu s ica lme nt e f a lando , não é dia de 1 d e n ovemb r o , ma s e s t á p a ra a cont ecer o Hello w een , po i s o tã o a n s i a d o r e gr e sso da band a germânica está mu ito p er to . «S ky f a l l » j á r o d a pe la Ve rsu s e só podemo s dizer q u e a s ex p ec ta ti v a s d o s f ãs não vão f i car defraudadas. O u tr o acont e cimento que gero u celeuma u m p o u c o p o r t o d o a pa r t e f oi o caso de D avid Ellefson e o c o n s eq u en te d es p e dime nt o dos Megadeth . A o que p a r ec e u ma tr o c a d e f o t os mais ous adas en tre D avid e um a mu l h er – ma i o r id a d e – f oi o suficien te para D ave Mus ta i n e s er … Dave Mu s t a ine e de spedir Ellefson da banda . Va mo s a g u a r d a r c o m ex pe t a t iva para ver quem será o p r óx i m o “p o b r e d ia b o” com pa ciê n cia para atu rar Mu sta i n e. Po r f a lar e m t roca de músicos, parece qu e Tu o m a s tem u m a pr e d ile ção pe los mú sico s dos Win tersu n : n ã o s a ti s f ei to po r te r “r ouba do” Kai Hahto , desta vez “s a c o u ” Ju kka Ko s k ine n, o substituto de Marko Hietal a . E é co m e stas “ trocas e bal drocas” que n o s d e s p e d i m o s at é à pr óxo ima edi ção. Eduardo Ramalhadeiro

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Adriano Godinho, Eduardo Ramalhadeiro & Ernesto Martins

G R A F IS M O Eduardo Ramalhadeiro

COLABORADORES Adriano Godinho, Carlos Filipe, Cristina Sá, Dico, Eduardo Ramalhadeiro, Eduardo Rocha, Elsa Mota, Emanuel Roriz, Ernesto Martins, Frederico Figueiredo, Gabriel Sousa, Helder Mendes, Hugo Melo, Ivo Broncas, João Paulo Madaleno, Nuno Lopes e Victor Alves

F O T O G R A F IA Créditos nas Páginas Todos os direitos reservados. A VERSUS MAGAZINE está sob uma licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-ComercialNão a Obras Derivadas 2.5 Portugal.

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THE RUINS OF BEVERAST

C O N T E ÚDO Nº58

0 5 T R I AL B Y FIR E 6 6 PA L E T E S D E M E TA L

0 6 T H ER IO N

36 ALBUM V E R S U S

1 2 A FOR E ST OF D R EAM S

38 SOEN

1 4 F E S TIVA L C A MINHOS M ETALICOS

43 EM ANU E L R O R IZ

1 8 H A RA K IR I FO R T HE SKY

50 TARAN T U L A

86 GARAGE POWER

2 0 H O OF MA R K

57 PLAYL IS T

9 2 T H E G R E AT K AT

2 4 C R IT ICA S VE RS U S

56 KORP IK L A A N I

9 8 P E R E N N IA L IS O L AT IO N

3 2 A R MA D A LU S A

61 GRÊLO S D E H O RT E L Ã

3 5 O HO MEM D A MOTOSERRA

62 ANTRO D E F O L IA

TA R A N T U L A

8 3 G A B R IE L S O U S A A C U L PA É D O C E M I T É R I O

STOP

D RY M A RT I NI . S H A K E N, NO T S T I R R E D

(SU)POSIÇÕES

8 4 E R N E S T O M A RT IN S

POS TAS DE PE SCADA

SOUNDSCAPISM INC.

1 0 2 O M IT IR 1 0 0 D O D IC I C IL IN D R I

M ER C E D E S - B E N Z S L ( R 1 2 9 )

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4 / VERSUS MAGAZINE


Trial by Fire Obra - Prima

5

Excelente

4

Esforçado

3

Esperado

Adriano Godinho

Carlos Filipe

Eduardo Ramalhadeiro

Emanuel Roriz

Ernesto Martins

Gabriel Sousa

4.0

4.5

4.0

3.0

4.0

2.0

3.0

3.5

3.0

---

4.5

3.0

3.5

4.0

4.o

---

4.5

3.0

2.0

3.0

3.0

Helder Mendes

Hugo Melo

2

Básico

JP Madaleno

Nuno Lopes

MÉDIA

--- 3.0

4.0

---

3.6

1.5

4.0 4.0

4.0

4.0

3.6

3.0

3.5

3.5 3.0

3.5

4.0

3.6

---

4.0

2.0

4.0 3.5

2.5

3.5

3.4

4.0

3.0

3.5

--- 2.5

3.5

2.0

2.9

1

DREAD SOVE RE IGN

Al c h e m i ca l Wa r fa re

(Metal Blade)

LES CHANTS DE NIHIL L e Ty r a n E t L E sthè te

(LADLO)

M I SS L AVA Doom Ma ch ine (Earsplit)

SEPUL CROS

Vaz io

(Independente)

TRANSATL ANTIC

T h e A b s o l ute U ni verse

(InsideOut )

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Gigantes Sinfónicos Depois de uma carreira de mais de 30 anos, os Therion percorreram practicamente todo o espectro musical. De facto, começando, nos registos iniciais, num deathmetal passando por uma sonoridade recheada de coros e orquestras e divagando pela música Francesa dos anos 50 e 60 e por uma ópera-rock de três horas, os Therion decidiram dar uma pausa aos fãs. Leviathan tem o simples conceito de presentear os fãs com o que de melhor os Therion fizeram na sua já longa carreira. A Versus conversou com Christopher Johnsson, o mastermind da banda, que nos contou como é compor e gravar um álbum entre três continentes diferentes. Christopher também levantou um pouco o véu sobre o que podemos esperar dos próximos registros da banda bem como do futuro da cena musical. Entrevista: Eduardo Rocha | Fotos: Mina Karadzic

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2020 tem sido o ano mais desafiante que alguma vez vivemos. O mundo ficou parado diante de uma pandemia, mas isso não te impediu realmente de continuar a trabalhar pois não? Poderias dizer-nos o que tepassou pela cabeça e te empurrou para a composição e lançamento de um novo álbum? Christopher Johnsson - Na verdade, nós fomos bastante produtivos. Escrevemos mais de 40 músicas e decidimos fazer 3 álbuns. Leviathan é o primeiro discos da trilogia e assim que terminamos a mistura, decidimos simplesmente continuar a gravar. Já temos mais de metade do Leviathan 2 gravado e, assim que estiver pronto vamos gravar a terceira parte. Sabes, nós não vamos entrar em digressão no futuro próximo e em vez de ficarmos em casa a olhar para as paredes e a lamentarmo-nos, porque não gravar uma vez que já temos o material composto? E a razão de termos tantas músicas compostas é porque eu e o Thomas tornamo-nos numa excelente equipa de composição. Muitas ideias que normalmente não estariam prontas, por exemplo se eu tiver dois riffs bons e uma boa melodia vocal ou orquestração e não fizer disto uma música dos Therion, eu não passo normalmente este material para mais ninguém. Fica tudo guardado no meu computador e, eventualmente, num domingo mais chuvoso volto a pegar nesse material. Desta vez, decidimos mandar tudo um ao outro. Mesmo que eu não tenho um tema pronto, mas apenas a sua ideia, eu simplesmente mandava o que tinha ao Thomas e talvez ele tivesse mais algumas ideias e pudesse continuar com a composição. E, eventualmente, chegávamos sempre à forma final da música e a um tema completo. Portanto, escrevemos bastantes músicas assim, mas o Thomas também me enviou bastante material que normalmente não entraria num álbum dos Therion. Eu dizia-lhe sempre para me mandar todo o material que tinha mesmo

que ele achasse que não fazia sentido para Therion. Eu pegava depois nessas ideias e mudava-as para ficarem mais ao nosso estilo. É por isso que temos tanto material. Destas 40 músicas, o Christian (Vidal, guitarra lead) escreveu um

Não quero ser daquelas bandas que vão andar à luta por um saco de batatas. Eu quero fazer digressões de qualidade e não quero andar aqui em más condições ou a tocar em clubes de que nunca ouvi falar organizado por promotores que só querem roubar a banda

tema, o Nahle (Pahlsson, baixo) também escreveu um e o resto fui eu e o Thomas (risos). Talvez até desse para escrever mais material. E todo este material tem diferentes estilos: algumas músicas são mais bombásticas e épicas que decidimos colocar neste álbum. O Leviathan II vai ser mais dark e melancólico enquanto

que o Leviathan III vai ser mais aventuroso e experimental. Teremos temas mais pesados e progressivos. Acho que vamos agradar a maioria dos nossos fãs mas sempre as pessoas também encontram sempre algo num álbum para criticar. Tens uma trilogia e cada um desses álbuns vai tentar apanhar uma fase diferente da carreira dos Therion. Tentaste fazer um conceito de “all-hit”. Quando é que estás a pensar lançar o restante material? A ideia é lançar o primeiro este ano. Como temos o Leviathan I cá fora, iremos ver como será com as digressões e algures em 2022 lançaremos a segunda parte, quando fizer sentido. Por isso é que decidimos gravar tudo agora para termos os três álbuns nos nossos bolsos. Assim, podemos lançar-los quando fizer mais sentido. Mas certamente que a segunda parte sairá no próximo ano enquanto que o Leviathan III sairá em 2023. Exactamente quando ainda não sei. Se esta loucura continuar assim, acho que iremos lançar o Leviathan II exactamente daqui a um ano. Portanto, não imaginas nenhuma digressão no futuro? Para ser sincero, estou mais preocupado como as pessoas desistem dos seus direitos. É claro que o vírus existe, mas acho que as autoridades talvez estejam a exagerar. Não estou a banalizar o vírus que está, de facto, a propagar-se rapidamente. As pessoas pensam que a democracia cresce nas árvores e assumem-na como garantida. E vês negócios de gerações de famílias a serem esmagadas e tudo isto é devastador para a economia. Quando as digressões voltarem, será que as pessoas ainda vão estar assustadas e vão querer ir a concertos? Ninguém sabe e por isso os promotores estão com muito receio em relação ao que vem aí. Ainda terás depois a questão de os fãs terem sequer ainda dinheiro para concertos. Para além disso,

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[Sobre o processo de escrita] Foi bastante lento no início, mas assim que começamos a entrar no modo de composição já tínhamos 40 temas prontos. Como te disse, isso foi também muito graças ao Thomas, que é um excelente parceiro de escrita.


todo o ecossistema à volta das digressões está completamente devastado. Porque isto não é só sobre as bandas, tem os clubes de concertos e os promotores que não conseguem pagar as rendas dos escritórios e dos clubes, os montadores de palcos e roadies todos sem dinheiro. Também tens os tour-managers ou os sound-engineers. E ninguém sabe quando é que isto volta ao normal por isso é possível que muitos já tenham mudado de emprego. Vai ser bastante difícil conseguir arranjar crews para digressões ou até arranjar tourbuses. Se pensares que cada tourbus de 2 andares custa à volta de 300.000 euros e se não tiveres o dinheiro, tens que pedir um empréstimo o que significa que o tourbus tem que estar sempre a ser utilizado. Se não, terás problemas graves. Por exemplo, há uns tempos mandei um email a uma empresa de merchandising com quem trabalho há bastantes anos para fazerem material para o Leviathan. Nem sequer recebi uma resposta porque eles já não existem. Eles eram grandes e até tinham a sua própria fábrica. E a Nuclear Blast, que é a maior editora de metal na Europa, eles estão com bastantes problemas em receberem merchandising a tempo. Todo este ecossistema está lixado e quando as digressões regressarem, não será nada fácil. Todas as bandas deste mundo vão querer estar em digressão ao mesmo tempo e nem vai haver tourbuses nem clubes para todos. Portanto, isto vai ser bastante caótico e nós temos duas estratégias. Uma é juntarmo-nos a outras bandas, esquece isto de sermos todos headliners, que sejam maiores do que os Therion e nós podemos ser a banda convidada e juntamos ainda mais bandas e tentar optimizar tudo. Se isto funcionar, tudo bem. Se não, acho que deixaremos de fazer digressões e esperar que o pó assente e as coisas voltem ao normal. Não quero ser daquelas bandas que vão andar à luta por um saco de batatas. Eu quero fazer digressões

de qualidade e não quero andar aqui em más condições ou a tocar em clubes de que nunca ouvi falar organizado por promotores que só querem roubar a banda (N.R – de recordar um episódio semelhante passado pela banda quando veio tocar a Lisboa há alguns anos atrás...). Depois de teres feito quase tudo no espectro musical, desde deathmetal à exploração e fusão de mundos sinfónicos e operáticos na sua música, passando pela cena musical francesa dos anos 50 e uma ópera-rock de três discos, o que te levou a escrever este álbum? Bem, a ideia era essa mesmo. Eu fiz tudo o que tinha querido fazer e estava a tentar pensar no que me faltava conceber. Senti-me bastante vazio depois do álbum anterior porque o que haveria de escrever a seguir? Tinha acabado de realizar o meu sonho musical. Mas nós sempre acabamos por fazer aquilo que queremos fazer. As consequências eram que às vezes as vendas dos álbuns eram melhores, outras vezes piores porque as pessoas não gostavam tanto do que tínhamos lançado. Por isso, agora pareceu-nos um desafio interessante tentarmos dar aos fãs aquilo que eles querem, ou pelo menos tentar. Claro que isto parece bastante fácil do tipo pega na guitarra e escreve as tuas melhores músicas mas, na verdade, é bastante complexo. Pensamos que isto podia ser o desafio final sabes? Depois disso, podemos continuar a fazer o que estávamos a fazer antes. E sabes, Na verdade, não tenho ouvido uma única nova banda nos últimos anos que seja verdadeiramente original. E não é uma crítica, porque têm aparecido excelentes novas bandas. É mais acerca de escrever grandes canções. Nos anos 90, os Therion eram considerados uma banda inovadora e estávamos sempre nas capas das revistas. Se olhares para isto agora, nós somos uma banda que lançou alguns álbuns lendários mas sabes, o tempo

apanha-te sempre. Mas isto não é só com os Therion, é com toda a indústria musical. Parece que já não há inovação, então para quê te preocupares em inovar? Dá às pessoas aquilo que elas querem. A grande parte já nem gostam de álbuns e criam playlists no Spotify com algumas músicas preferidas. Já nem começa a fazer sentido lançar álbuns e se calhar fará mais sentido começar a lançar um single novo de 2 em 2 meses. Quando lanças um single nas plataformas digitais, este acaba sempre por vender mais nas plataformas do que as restantes músicas. Quando pensas em todos os custos envolvidos, começa a ser economicamente mais viável fazer isto. Acho que muitas editoras vão começar a trabalhar assim: “Hey, escusas de lançar um álbum! Avisa-nos quando tiveres um outro single”. Eu fico mesmo triste quando penso nisto porque eu sou uma pessoa que gostas de álbuns. Cada álbum acaba por ser uma viagem, com a faixa inicial e abertura, depois com tempos diferentes e depois a conclusão. Eu adoro vinis e penso sempre nos lados A e B e quais são as melhores músicas para começar cada lado do disco. Mas acabo por aceitar que as pessoas ouvem música de maneira diferentes. Pois, eu também sou assim. Ainda agora ando à caça das prensagens iniciais dos vossos três primeiros álbuns e tenho muitas prensagens originais de LPs vossos. Pareceme também que ainda há uma base de fãs bastante leal que pensa como nós. Sim! Nós ainda vamos lançar dois álbuns mas isto é como com os jornais digitais. É sempre melhor ler em papel. Mas claro, eu adoro a conveniência de ter colecções inteiras no meu iPod quando viajo. Eu nem sou contra este tipo de produto, só não gosto quando substitui os discos físicos. Se pensares na óptica de uma editora, já nem vale a pena fazer uma boa capa de um álbum porque um ficheiro de mp3 apenas tem o nome da banda e da música.

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Chris Como é que te sentiste ao escrever o Leviathan? Eu li algures que disseste que tinhas de estar num mindset muito específico quando escreveste a opera- rock que sabes que tem de seguir um conceito musical e lírico. Como é que foi para ti escrever um álbum de hits em que podes escolher as melhores fases da vossa carreira? Foi um processo de escrita mais relaxado ou mais stressante? Foi bastante lento no início, mas assim que começamos a entrar no modo de composição já tínhamos 40 temas prontos. Como te disse, isso foi também muito graças ao Thomas, que é um excelente parceiro de escrita. E é isto que as pessoas querem sabes? E teve que ser fácil para nós. Também acabamos por escrever temas bastante espontâneos que vão estar no Leviathan III. Mas foi muito fácil de facto. E apesar de ser um “all-hits album”, eu fiquei bastante surpreendido com a diversidade e complexidade em Leviathan e algumas influências árabes. Com tantos convidados, entre os quais o Marko Hietala e o Mats Levén, foi-te difícil conciliar este conceito com a tua habitual e constante ambição em inovar? Não, foi tudo bastante natural e até fiquei bastante surpreendido com o quão espontâneo foi. Até é por isso que temos 40 músicas prontas. É um bocado como quando estávamos na fase do Lemuria e do Sirius B. Na altura, também tínhamos material para 3 álbuns. Fomos bastante criativos também naquela época porque os irmãos Niemann contribuíram bastante para a composição do material. Quando eles entraram na banda, eu já tinha o Deggial completamente composto e depois fizemos o Secret of the Runes e eu e o Kristian estávamos sempre a compor. Mas depois, as coisas começaram-se a tornais mais confortáveis. Não sei, tudo se tornou apenas bastante fácil.

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Achei este conceito da “producer’s edition” bastante interessante. Podes dizer-nos o que tentaste transmitir com edição? Normalmente, quando gravamos um álbum, eu simplesmente apago estas versões alternativas dos temas finais. Mas desta vez, foi tudo gravado à distância por causa da pandemia por isso, os participantes tinham que gravar as coisas e mandar-me. E se não fosse aquilo que eu queria, eles teriam que regravar tudo outra vez. Desta vez, temos excelentes gravações de coisas que acabaram por não aparecer no álbum. Também, às vezes os vocalistas cantavam em partes diferentes das músicas ou experimentavam outras melodias. E houve bastante experimentação com a possibilidade de gravações profissionais. E achei que faria sentido partilhar todo este material uma vez que pagamos bastante dinheiro para alugar estes estúdios profissionais e os vocalistas puseram bastante tempo e esforço nestas versões alternativas, fez sentido lançar isto tudo junto. Da última vez que falámos, na digressão do aniversário do Vovin, o teu ponto de vista sobre as plataformas de streaming não era assim tão positivo. O Marko Hietala, ao anunciar a sua saída dos Nightwish, também apontou o dedo às empresas de streaming. Será que a tua opinião em relação a este tema mudou? As plataformas de Streaming têm dois lados da medalha. De uma maneira, é bastante bom para artistas como eu que têm um catálogo bastante grande. Até somos pagos mais uma vez por coisas que já lançaste sabes? Quando alguém compra um CD em 2001 e depois vende a sua coleção e começa a ouvir música através das plataformas de streaming, acabamos por ter mais rendimento em relação aos nossos álbuns. No meu caso, que adquiri os direitos da maior parte dos nossos álbuns anteriores à Nuclear Blast, isto é bastante positivo. Mas se lanças

um álbum novo, então é uma merda porque já vendes tantos discos. Precisas de cobrir custos de produção e outras coisas e as editoras começam a ver que, em alguns casos, isso vai demorar alguns anos a acontecer e acabam por diminuir o orçamento das bandas para cada disco. As editoras acabam por ser como bancos que emprestam dinheiro. Nós até temos sorte porque um contracto bastante longo e ainda temos mais quatro álbuns por isso temos bons orçamentos e não nos vamos comprometer nesse aspecto. Mas, tudo isto acaba por fazer muitos álbuns serem lançados com pouca qualidade ou a soar à mesma coisa. Porque até já podes gravar guitarras em casa com excelentes emuladores, que são coisas brilhantes, mas se todos usam os mesmos emuladores vão soar todos iguais. O mesmo se passa com sons de bateria e por aí fora. Vai soar bem, mas vai bastante mentos pessoal e único. Quando estás no estúdio, podes experimentar bastante com amplificadores diferentes e assim vai soar tudo mais plastificado. Este será o preço que o consumidor acaba por pagar quando ouve tudo em plataformas digitais. Infelizmente, as gerações mais novas não estão interessadas em álbuns e não pensam nisso por isso é o novo normal.


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Sonhos tornados realidade Do nome da banda, da música, das letras emanam sonhos (mesmo que violentamente veiculados). Da mente de Mário Rodrigues – com ou sem a voz de Hugo Leal (aka Vulturius) – já saíram dois álbuns – um homónimo e outro intitulado «Sacrum Terram» – a que virá em breve juntarse um terceiro. Entrevista: CSA

Olá, Mário! Estava à espera da oportunidade de te entrevistar, porque fiquei muito bem impressionada com este teu projeto. Para começar, gostava de saber como surgiu a Forest of Dreams. DS13 – Obrigado à Versus por esta oportunidade. AFOD surgiu quando, no dia 30 de outubro de 2019, fui fazer uma sessão fotográfica num dia de chuva e nevoeiro para a serra de Sintra, para comemorar os meus 50 anos.

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Ao chegar lá a envolvência parecia ter sido tirada de um sonho, um cenário surreal. O nome e a ideia para um futuro projeto nasceram nesse dia. E também gostava de saber por que razão escolheste um nome em Inglês para a tua banda, se as letras das canções são escritas em Português. O nome pareceu-me bem em Inglês, foi o que me veio a ideia nesse dia e não me preocupei que

fosse cantado noutra língua. Vi que lançaste dois álbuns em 2020 (em março e agosto). - Já tinhas o material pronto? O confinamento devido à pandemia teve alguma influência nessa situação? O primeiro álbum – «A Forest of Dreams» – é um trabalho instrumental e comecei a compor e gravar ainda no final de 2019. Naturalmente, a pandemia trouxeme algum tempo livre pelo facto


de ter deixado de ensaiar com as minhas outras bandas. Esse afastamento social vem contribuir para a essência do primeiro álbum e frieza do som e os ambientes negros. No seguimento do primeiro álbum e da misantropia vivida por todos estarmos afastados daquilo que julgávamos ter como certo nas nossas vidas, as composições surgiram naturalmente mais agressivas. - Os dois álbuns são semelhantes (eventualmente até a continuação um do outro)? O que os aproxima um do outro? E o que os separa? Sinto que o «Sacrum Terram» é um álbum mais agressivo, mas mesmo assim ambiental e com alguma tranquilidade. O que os aproxima são os samples de sons da natureza e o que os afasta é o facto de um ser instrumental o outro não. Como caracterizas a música de A Forest of Dreams? A linguagem musical é basicamente Atmospheric Black Metal, que é o género com que mais me identifico. A filosofia por detrás da música é centrada no misticismo do Monte da Lua com toda a sua envolvência entre a natureza e o sobrenatural. Por que pediste ao Hugo Leal (aka Vulturius) para escrever as letras para as tuas canções? Ao mostrar os temas foi-me sugerido por uma pessoa amiga que

ficavam bem com a voz do Vulturius (Irae, Morte Incandescente…). Logo, foi convidado a participar no projeto e ainda bem que aceitou, porque veio dar uma voz àquilo que eu queria transmitir. Eu dou o tema da música e o Vulturius escreve a grita aquilo que AFOD quer transmitir. Quanto à escolha dele para vocalista, não podia ter sido mais acertada. Mas nunca pensaste em emprestar a tua voz às tuas canções? Isso seria impensável devido ao facto de não conseguir cantar ou gritar com a qualidade necessária. A minha voz apenas é ouvida num sample da faixa “Iniciático Chamamento”. E por que razão pediste a um outro músico para tocar bateria numa das faixas do álbum? O Paulo Bucho é o baterista de Cavemaster e um músico habitual nos estúdios da Fatsound. Era natural que fosse ele a gravar esse tema. Quem te fez o artwork para os dois álbuns? [As fotos são fantásticas.] O artwork foi desenhado pelo Márcio Blasphemator, que é um desenhador e criador de arte fantástico. As fotos foram tiradas por mim no bosque da Peninha na serra de Sintra e a composição feita

pela Misanthrope Qliphoth. E o logo para a banda? [É absolutamente maravilhoso.] Também foi feito pelo Márcio (Blasphemator) Menezes. Já fizeste algum concerto? Quem toca contigo nessas ocasiões? Não faz parte da natureza de AFOD ser uma banda para tocar ao vivo. E já tens material para um terceiro álbum? Sim, já comecei a compor e amanhã, dia 21 de dezembro de 2020, um dia especial para todos nós no começo de mais uma roda do ano – a celebração do solstício de inverno – vai estrear o single “A noite mais longa… Solstício de Inverno”, primeira música para escuta do terceiro álbum de AFOD. Já agora, podes também apresentar-nos a editora em que lançaste os teus dois álbuns? A editora é a Fatsound.productions uma editora online que é minha e pretende, sem grandes fins lucrativos, promover as minhas bandas e de algum pessoal mais próximo de mim e fazer chegar a todos vós o merchandising das bandas que fazem parte da editora.

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Esse afastamento social vem contribuir para a essência do primeiro álbum e frieza do som e os ambientes negros. 13 / VERSUS MAGAZINE


Festival Caminhos Metálicos Online (8 e 9 de maio, em www.youtube.com/caminhosmetalicos)

Nos passados dias 8 e 9 de maio realizou-se o Caminhos Metálicos Online Festival, comemorativo dos 30 anos do programa radiofónico Caminhos Metálicos (CM). De acesso gratuito, o evento foi transmitido no canal do Youtube do Caminhos Metálicos. Esperando que não seja momento único na história deste projeto criado por Carlos Guimarães (que, além de animador de rádio, podcaster e jornalista musical, foi A&R da Recital Records e agenciou bandas na Utopia Productions), mais desejamos que constitua uma antecâmara para um festival irmão ao vivo, uma vez ultrapassada a crise pandémica. Texto: Dico - [Dia 8]/Eduardo Ramalhadeiro - [Dia 9] Imagens: Gentilmente cedidas por Carlos Guimarães

Desde que foram divulgadas as promos do evento que se percebia o grau de profissionalismo envolvido neste projeto. Quem já assistia aos podcast-videos dos programas online Eixo do Metal e Caminhos Metálicos Convida, também da responsabilidade de Carlos Guimarães, sabia o que esperar e não saiu desiludido. Muito pelo contrário. O empenho da equipa de produção superou largamente todas as expectativas. No total foram 22 bandas distribuídas pelos dois dias, bem como alguns apontamentos do projeto humorístico Laughbanging entre as atuações de alguns grupos. De ressalvar, desde logo, a intensa e calorosa participação do público em direto, com centenas de comentários no Youtube efetuados em tempo real. Em contexto de pandemia a antecipação relativamente a este evento era intensa e ficou bem patente na recetividade dos fãs. Os horários foram quase sempre rigorosamente cumpridos num evento em que a maioria das atuações foi previamente gravada nas salas de ensaio dos grupos (em alguns casos pelos próprios e, noutros, pela CG Media, responsável pelo projeto). Noutros casos, as atuações constituem excertos de espetáculos ao vivo gravados em vídeo. Posta esta introdução, passemos ao desempenho das bandas. Os açorianos Palha D'Aço foram os primeiros a “subir” a este palco virtual, com três temas - “Existência Tangencial”, “Silêncio Frio (com a voz a fazer lembrar Adolfo Canibal nas partes mais declamadas) e “Nova Desordem”, gravados no Angra ao Vivo 2021. Híbrido de Rock e Metal alternativos com Punk e subtilezas prog, a abordagem do grupo formado em 1997 revela-se eficaz, embora a voz nem sempre corresponda às expectativas. Seguiram-se os Lilith's Revenge, com o seu Metal algo alternativo. O peso e a melodia são bem equilibrados e o empenho da vocalista Paula Teles é notório, mas afigura-se urgente a necessidade de trabalhar a sua voz "opaca", cuja audição chega a ser penosa. A margem de progressão é imensa e deve ser aproveitada. A estreia

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de “Blindness” (o último tema a ser apresentado) foi o “presente” de aniversário oferecido pelos 30 anos do CM, numa atuação iniciada com “Queendom” e “Revenge”. Os açorianos Drakh foram a primeira boa surpresa da tarde. Praticantes de Death Metal melódico com influências progressivas, fazem um bom equilíbrio entre a voz limpa do guitarrista António Couto e a abordagem gutural do vocalista Luís Franco, nomes em torno dos quais o projeto se desenvolveu. Destaque para os temas “Cosmic Shadow” e “White Tree”. De ressalvar ainda o óbvio cuidado de produção, em regime de videoclip - boa captação, boa imagem, bom som, boa montagem e boa mistura com assinatura da Intercut Films. Uma banda a acompanhar. Seguiu-se o primeiro apontamento do projeto Laughbanging, cujo reconhecimento tem merecidamente aumentado nos anos mais recentes. Os Blind the Eye, de Stª Maria da Feira, debitaram um Metalcore de bom nível. “Human Rights”, “Phoenix Rebirth” e “In Vino Veritas”, todas retiradas do EP digital “Tripolarity”, constituíram o alinhamento escolhido pelo quinteto. Por seu lado, os black metallers WinterMoonShade apresentaram também uma produção própria, mas elaborada em termos visuais, quer a nível de ambiente quer do visual envergado pelos músicos. «Eternal Haunted Shores», «Legends & Mist» (em toada Folk) e «Low Tide Ghost» foram os temas apresentados. Os WinterMoonshadeShade são uma forte promessa do Metal luso contemporâneo e devem ser acompanhados de (muito) perto. Seguiram-se os Dogma, que há muito nos habituaram a boas atuações. Fazendo incidir a atuação nos temas «Aqua Benedicta», «Serei o Teu Lúcifer» e «Deus Assassino», o coletivo praticante de Gorhic/Doom Metal foi claramente um dos melhores da tarde na qualidade e variedade musical. A voz gutural e declamada de Gonçalo Nascimento constrasta bem com o registo operático de Isabel Cristina e é bom (muito bom, mesmo) ver o baterista Luís Abreu rodar as baquetas enquanto toca, como era regra fazer-se nos anos 80. Infelizmente essa prática perdeu-se, mas Abreu não abriu mão dela. Parabéns por manter essa tradição. Em seguida, outro hilariante apontamento do duo Laughbanging, parodiando subgéneros e bandas num contexto de…lavar as mãos! Os Sardonic Witchery apresentaram-se em modo playback, com King Demogorgon “apenas” acompanhado por três musas satânicas, que dançaram sensualmente ao longo do primeiro tema, «Círculo das Bruxas Perversas», exibindo uma coreografia muito bem ensaiada. De produção caseira simples mas eficaz, o vídeo completa-se com os temas «Licantropia» e «Misantropia». Sempre em crescendo a nível qualitativo, seguiram-se no alinhamento os Revolution Within, com quatro temas gravados no Hard Club em 2020. «Back from the Shadows” abriu uma atuação violentamente enérgica e irrepreensível a todos os níveis, mostrando um quinteto no pico da sua forma que, uma vez passado o momento pandémico, voltará num ápice a colocar de joelhos qualquer audiência. Uma autêntica máquina de guerra. Os Blame Zeus optaram por atuar no ambiente informal da Fábrica dos Ofícios, captando o verdadeiro espírito do Underground em contexto de garagem. Infelizmente, o som captado não foi o melhor e a prestação do grupo revelou-se algo morna, só aumentado o nível ao 3º («The Apprenctice») de cinco temas. Dos Serrabulho apenas se pode esperar boa disposição, festança e competência. Foi isso que o grupo de Vila Real mostrou ao longo dos quatro temas gravados na edição de 2019 do River Stone Fest, em Rio de Moinhos, Penafiel. Abrindo as “porno-hostilidades” com «Ela fez-me um grão de Bico», seguiram-se «Fecal Torpedo», «Dingle Berry Ice Cream» e o final, com «Pito Sem Penas». A participação dos Attick Demons, gravada na sala de ensaios, foi claramente prejudicada pela débil qualidade sonora. «The Contract», «Revenge of the Sailor King» e o clássico «City of Golden Gates» (que os deu a conhecer ao público mundial quando um fã alemão divulgou o tema no Youtube afirmando ser um original dos Iron Maiden) foram os temas escolhidos para uma atuação que esperávamos mais empolgante. Seguiu-se o apontamento final do primeiro dia do projeto Laughbanging, que antecedeu a participação dos cabeças-de-cartaz Xeque-mate, retirada de um concerto gravado em 2020 no Fórum da Maia. A sucessão de clássicos foi alucinante, com «Às do Volante», Vampiro da Uva», «Entornei o Molho» e «Filhos do Metal» a encerrar o primeiro dia deste evento online. No final, quem acompanhou a transmissão em direto já fazia um balanço imensamente positivo.

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O dia 9 começou com uma toada mais industrial e experimental trazida pelos Empty V. A atuação da banda não se pautou por, simplesmente, transmitir aquilo que fez em estúdio. Houve cuidado nos efeitos especiais usados durante o concerto, sistema de luzes, tal e qual num concerto ao vivo. O final foi apoteótico, com a versão de “Breathe”, dos The Prodigy. O intervalo foi curto e os Mindtaker tomaram conta da transmissão, abrindo as hostilidades com “Fuck Off”. A actuação “espartana”, pura, crua e dura, tal como se exige numa banda de Punk/Thrash, sem muitas merdas, só uma descarga furiosa de atitude. A prestação terminou como começou, com “Drink beer for thrash” e “Toxic War”. E eis senão quando, o estilo mudou radicalmente com o início da atuação dos rockers Tones of Rock – o punk cedeu lugar ao Glam/Hard-Rock melódico e lá abriram de forma bastante “ligeirinha” com “On My Way”. O ritmo continuou com “Cleopatra’s Slave” e o Groove de “Volcano”, numa transmissão algo monótona, com somente dois ângulos de câmera. E vai daí lá aparecem os “Marretas” da Laughbanging - Comédia Metaleira que, tal como Herman José escreveu na “Canção do beijinho”: “É tanta asneira, tanta asneira, tanta asneira, que p'ra tirar tanta asneira não chegam cem alicates”. Seguiram-se os Godark com o seu Death Metal Melódico ao vivo, também captado ao vivo no Festival Riverstone, em 2019. Os Penafidelenses abriram as hostilidades com “Miserable Noise”, tema que também abre o álbum de estreia, «Forward We March». Continuaram a sua enérgica atuação com “Forbbiden Words” e terminaram-na com “Repealing Silence”. Som bem captado e boa realização de imagem em mais uma atuação de qualidade neste festival online. De jarda em jarda, chega o Death Metal (não melódico) mas brutal dos Skinning. A banda da cidade-berço abriu o espetáculo com “Sadistic Butcher”, do seu mais recente álbum, «Homicidal Experimentations». O Death Metal dos Skinning é muito bem tocado, não se revelando demasiado técnico, mas afigurando-se “certinho como um relógio suíço”. Luís Barroso, baterista, toca que se desdenha. A atuação prosseguiu com “The Gravedigger”, “The Demon” e “Homicidal Experimentations”. A surpresa, ou nem por isso, ficou reservada para o final, com uma versão de “Pretty Woman” de Roy Orbison – Brutal! Falando em brutalidade seguiram-se os “cagaréus” Booby Trap, que abriram a transmissão com “No more”, numa sala de ensaio relativamente pequena para a energia que a banda costuma transmitir em palco – a captação sonora poderia ser melhor e a instalação duma câmara em frente às janelas não terá sido boa ideia. Seja como for, a descarga de Punk/Thrash/Crossover continua com mais algumas descargas enérgicas, sob a forma de “I am one”, “Find a Way”, Radiation Man” e, após uma breve paragem para uns goloss de cerveja… o fim chegou e foi o “Alcoholcalipse”. Não sabemos se pela destruição provocada pelo “Alcoholcalipse”, mas o nome de Satã foi invocado pelos IRAE na forma de “In the Name of Satan” e, assim, o Black Metal emergiu das chamas demoníacas abrindo as portas ao inferno sonoro. “Wastelands of Eternity” deu seguimento à negritude satânica que foi prolongada por “Procreation Madness” e “The Tongue of fire”. E foi “Da Brandoa com Ódio” que Satã encerrou os portões do purgatório. Mas como nem tudo tem de ser negro, eis que chega a barbárie dos Cruz de Ferro, numa atuação gravada no festival Milagre Metaleiro, em 2018. E nada melhor do que “Imortal” para iniciar esta transmissão. O verdadeiro metal épico nacional comanda agora as hostes sonoras e o “Soldado desconhecido”, caído durante a 1ª guerra mundial, tem uma mui nobre e singela homenagem. Os Cruz de Ferro terminam “Entre a espada e a parede”, só três “modinhas” que souberam a pouco. De épico em épico, os Enchantya trouxeram-nos uma participação bastante energégica, abrindo com “Last Moon of March”. Mostraram, acima de tudo, a versatilidade vocal de Rute Fevereiro. “The Beginning” foi mais uma amostra bastante interessante retirada do catálogo dos Enchantya. Seguiram-se “Poet’s Tears”, “Once Upon a Lie” e, para fechar com chave de ouro, “From the Ashes”, que também encerra o álbum «On Light And Wrath», de 2019. Para o final estava reservada a banda da noite – é justo assim considerar: Tarantula! O concerto teve lugar no Teatro Rivoli em 2016 e, pelo menos nesta

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transmissão, todos os temas tocados foram do «King of Lusitania». Obviamente que esta atuação dos Tarantula só poderia ser épica, ou não fosse o grupo dos irmãos Barros oriundo do nuorte, cargo! Brincadeiras à parte, o espetáculo dos Tarantula foi genial, desde a abertura com o super-melódico “Highway to Glory”, passando por “Empire of the Shadows”, “The Great Dragon” e, para terminar de forma absolutamente ÉPICA… “Lusitania”. Foi, sem sombra de dúvida, uma atuação soberba a demonstrar que, apesar dos quase 40 anos, os Tarantula, são e serão uma das maiores referências no Rock e Metal Nacional!

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Harakiri for the Sky

Melodias etéreas e gritos Entrevista: CSA

Pode parecer uma fórmula estranha, mas tem chamado a atenção dos fãs de Metal para a mensagem que os austríacos Harakiri for the Sky têm a transmitir sobre o mundo em que vivemos. Saudações! Espero que estejam bem! Temos aqui um grande álbum. Tomei conhecimento dele devido a um single publicado no Youtube. A vossa editora informa-nos de que o álbum trata de uma personagem mítica que perturba as pessoas durante o sono. Percebi bem? De que forma é esse tópico representado nas letras do álbum? JJ – É mesmo assim. Maere é algo assim como um canibal, que se senta no teu peito e te impede de dormir. As letras que eu escrevi falam de pesadelos, que não me

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saem da cabeça, logo essa figura (Maere) é uma bela metáfora para exprimir essa realidade. Quase tudo o que escrevo tem uma base autobiográfica. Portanto, todas as histórias de que trato nas minhas letras são verdadeiras e, se ainda não aconteceram (como acontece em “Us Against December Skies”), hão de acontecer sem dúvida, porque são uma espécie de profecias premonitórias. Esse é um dos meus maiores talentos: prever um futuro horrível para mim próprio.

Porque têm uma espécie de lobo representado na sua capa? Isso resulta de uma espécie de política da banda: sempre tivemos animais nas capas desde o nosso primeiro lançamento. Já pusemos um corvo, uma raposa morta, um veado e um mocho, portanto não sobra grande coisa dentro da gama de animais mais representativos do ponto de vista estético dentre os que circulam nas nossas florestas. Da próxima vez, terá de ser talvez um picapau ou um texugo. Voltando ao lobo, escolhemo-lo, porque ainda os perseguem nas florestas locais por comerem algumas ovelhas. O Estado devia compensar os criadores pelos seus prejuízos e manter os lobos vivos. Isso não significa que os lobos sejam mais especiais do que as ovelhas. Mas está na sua natureza caçar para comer. Nós, os humanos, invadimos


[…] Estamos a trabalhar nessa combinação [guitarras etéreas e gritos] há já uns anos e parece-me que melhora de lançamento em lançamento.”

o seu habitat, não o inverso. Mas é também uma referência à expressão “vestir a pele do lobo”, uma metáfora que se aplica ao que andamos a fazer ao ambiente e aos animais e também ao que fazemos a nós próprios e aos que amamos. Quem criou essa ilustração para a banda? Uma rapariga holandesa que usa o nome de Art of Maquenda. Adoro o contraste entre as melodias etéreas produzidas pelas guitarras e os teus gritos. Realmente, provocam desassossego/ansiedade no ouvinte. Concordas comigo? Sim, espero ter produzido uns bons gritos. Estamos a trabalhar nessa combinação há já uns anos e parece-me que melhora de lançamento em lançamento. Têm grandes artistas a colaborar convosco neste álbum. - Como tiveram a bela ideia de convidar o Neige para cantar na segunda faixa do álbum? O Neige e o Matthias estão em contacto há uns bons anos, enviam música um ao outro, falam sobre música e as digressões em curso, etc. Também o conhecemos dos concertos e festivais, portanto já nos encontrámos algumas vezes. O Neige, apesar de ser um pouco mais

velho do que nós, é uma espécie de herói da infância para nós, fazendo música com Alcest e Amesoeurs, que lançou algumas das mais intensas obras de Black Metal de todos os tempos. Foi por isso que o convidámos e ele disse logo que aceitava. - Estou muito agradada por ver que convidaram o vocalista da banda portuguesa Gaerea para cantar convosco noutra faixa. Como aconteceu isso? No último ano, o Matthias passou muitas semanas em Portugal, onde conheceu o Rouven, o vocalista de Gaerea. É um sujeito muito simpático, portanto gostei logo dele. Tal como eu, é um Hardcore Kid, que ouve Converge, Modern Life Is War e outros do mesmo género o tempo todo, como eu ouço. Também gosta muito de tatuagens, portanto temos muito de que falar quando nos encontramos. E, ainda por cima, tem uma grande voz, sem dúvida. Até que ponto o confinamento contribuiu para a criação deste álbum? Não teve grande influência, uma vez que já tínhamos gravado o álbum todo. Eu gravei a voz para as últimas canções alguns dias antes de partirmos para a Rússia, no fim de janeiro. Tivemos alguns pequenos problemas com a mistura do álbum, porque não nos deixavam

encontrarmo-nos no estúdio. Mas acabámos por conseguir fazê-lo e terminámos esse trabalho no fim de maio. No entanto, tivemos de adiar o lançamento de setembro para janeiro, o que foi muito aborrecido. Mas isso foi todo o prejuízo que a pandemia nos causou e ao nosso novo álbum. A vossa editora fala de uma digressão em 2021 e sei que fazem parte do cartaz do Vagos Metal Fest, que tem lugar numa vila portuguesa que não fica longe de onde eu vivo. Pensam que isso vai mesmo concretizar-se) [Espero que sim, porque adoraria ver-vos em concerto.] A digressão já foi adiada para 2022, mas talvez ainda possamos participar no festival ao ar livre, que é só no verão. Vamos ver. Ainda é muito cedo para previsões, mas temos esperança de que tudo volte ao normal em breve. Uma última pergunta: porque decidiram chamar à banda Harakiri for the Sky? Haha, boa pergunta. Há duas formas de o explicar. Por um lado, eu andava à procura de um termo adequado para descrever o sentimento que experimentas quando ouves Post Rock e tudo está a explodir, estás correr para um penhasco e a voar por cima do oceano. Como acontece no vídeo de Sigur Rós intitulado “Glosoli”, quando os miúdos saltam de um rochedo e, finalmente, ficam livres. Sempre procurei um termo para descrever essa sensação. Por outro lado, também me inspirei no título de uma canção de Snörras, uma banda norueguesa de Hardcore/ Noise, que eu ouvia muito em 2010/11, pouco depois de termos fundado a nossa banda, O título era: “Harakiri to the sky and the trees”. Agora, cerca de 10 anos mais tarde, pode parecer que não foi a nossa melhor decisão, mas tem uma vantagem: o nome é tão absurdo que as pessoas se lembram sempre dele. Facebook Youtube

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Um cocktail de sonoridades É assim que vemos este primeiro álbum de Hoofmark, uma one man band portuguesa, que vem trazer mais uma lufada de ar fresco ao panorama musical português em tempos de pandemia. É caso para dizer que tudo tem os seus lados positivos! E «Evil Blues» é certamente algo a não perder e uma recordação indelével destes tempos de crise. Entrevista: CSA Fotos: Carina Reis

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“ P

ara onde quer que olhe, este disco desperta diferentes sensações em função da sensibilidade e referências de cada pessoa. Tenho isso como uma coisa positiva, porque suporta a noção de universalidade da música.

Olá, Nuno! Adorei este álbum pela “misturada” (no sentido positivo do termo). Nuno Monteiro Ramos – Obrigado! Agradeço muito o teu feedback. O que me dizes se te contar que, logo à primeira faixa, fiquei com a sensação de que estava a ouvir uma versão Black Metal de uma canção de The Legendary Tiger Man? Adorei o fundo de blues dessa faixa. Para onde quer que olhe, este disco desperta diferentes sensações em função da sensibilidade e referências de cada pessoa. Tenho isso como uma coisa positiva, porque suporta a noção de universalidade da música. Donde vem a experiência musical que se sente neste teu álbum? O «Evil Blues» foi criado em paralelo com um livro que estava a escrever, mas para o qual fiquei sem saída. Em todo o caso, ambos se foram influenciando mutuamente e dessa troca de noções e emoções foi emergindo o disco tal como ele depois se manifestou. Tenho a impressão de que foi mero acaso a música ter triunfado sobre a literatura. Poderia tão facilmente ter acontecido o contrário! Quis a

minha sensibilidade que aquelas paisagens de sangue derramado e lamentos fossem sons em vez de palavras, embora existam ali ecos das histórias que escrevi, preservados sobretudo no booklet do CD. A experiência musical do «Evil Blues» tem a sua raiz nessa amálgama de ideias, sem nunca, ainda assim, resvalar para o domínio do álbum conceptual. A cola das canções é os seus temas comuns de ser-humano e natureza, insegurança pelo futuro incerto e o estudo das pequenas maldades no mundo. Se existe um fio condutor, eu procurei assegurar-me de que ele é ambíguo o suficiente para que cada ouvinte tenha a sua própria interpretação. E a avaliar pelas impressões que surgiram até aqui, penso que fui bem-sucedido nisso. É um tanto difícil perguntar-te o que te influencia, porque se ouve de tudo neste «Evil Blues» (embora os blues predominem, é claro). Podes comentar? Ouvir-se de tudo penso que é uma feliz consequência de eu próprio ouvir de tudo, e ter poucos filtros no momento de escrever música. Há bandas e músicos que

distribuem a sua produção artística por vários projetos de maneira a não misturar estilos ou identidades. Eu tenho uma abordagem distinta com HOOFMARK. Não sou Metal, Rock ou Blues hoje e amanhã deixo de ser. HOOFMARK é HOOFMARK e este projeto irá sempre buscar o que é seu, soe como soar. Essa impermanência valida-me. Sobre o «Evil Blues», tanto tenho influências óbvias como referências mais difíceis de definir. O Black Metal dos anos 80 é para mim uma fonte inesgotável de inspiração pelo seu caráter rompente e desprendido e há música desse tempo que retém uma qualidade perturbante e desorientadora, bem diferente dos sons extremos posteriores entretanto vulgarizados. Destacaria Poison da Alemanha (se nunca ouviram a demo «Sons of Evil», libertem 40 minutos para a ouvir e o resto do dia para pensar como aquilo foi possível em 1984), Parabellum e Hellhammer. Estaria a ser desleal, ainda assim, se também não nomeasse bandas como Pagan Altar, Metallica, Paul Chain, Bathory, Darkthrone e, para mencionar artistas mais recentes,

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Se existe um fio condutor, eu procurei assegurar-me de que ele é ambíguo o suficiente para que cada ouvinte tenha a sua própria interpretação.

Vetter e Black Magic. Depois vem o Blues e dele não consigo escapar. O Metal é-me privado, mas o Blues é mais que isso: é uma coisa íntima para mim e sobre a qual me revolvo, sobretudo nos dias menos bons. Não é todo o Blues, tal como não é todo o Metal, embora não possa deixar de salientar o Lightnin’ Hopkins (o mais próximo que terei de um “guitar hero”), Mance Lipscomb e depois também artistas com um registo mais adulterado como Townes Van Zandt, Steve Young, Mickey Newbury, Bruce Springsteen («Nebraska» é um álbum lindo) ou David Allan Coe («Requiem for a Harlequin» é uma referência máxima para HOOFMARK). Finalmente, HOOFMARK tem queda para alguns sistemas musicais do passado longínquo e, enfim, achados arqueológicos. O «Evil Blues» tem alguns vestígios desse interesse, mas é algo que gostaria de explorar em maior profundidade mais tarde. Dito isto, a minha intenção com o «Evil Blues» foi estar o mais solto possível da referenciação direta. Eu tenho influências, como toda a gente tem, mas não são elas que caracterizam o disco. Queres fazer-nos uma visita guiada ao teu álbum (tendo em conta a música e as letras)? A minha tentativa com este disco

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foi a de encontrar caminhos que permitissem conciliar coisas à partida incompatíveis. O «Evil Blues» é, por um lado, o resultado de um choque de significados com visões de mundo diferentes e, por outro, um trilhar de percursos já traçados. A minha expectativa era a de, no correr desta experiência, produzir um trabalho que, pese embora as suas diferentes características, não soasse “esquisito” ou se tratasse de uma mistura rígida e que, por isso, fosse fácil de destrinçar. Os elementos fundem-se aqui, espero eu, de um jeito harmonioso de tal maneira que pensar no género em si pode ser uma tarefa supérflua (isto é, “sobrecomplicada”). Gosto de pensar que a mesma abordagem foi tida a respeito das letras do álbum. Foram privilegiadas as técnicas narrativas e de contador de histórias. A “palavra falada”. Os temas são de sangue e trevas, mas também de cores pretas fecundantes e grandes pedras vivas. Há aqui transcendentalismo (pela apreciação da natureza que também somos nós), fatalismo, impulsividade e introspeção. Umas coisas relacionam-se com a “mobília interior” do El Vaquero Ungulado e outras têm uma escala mais macro. Por que deste ao teu álbum o título de «Evil Blues»?

Durante muito tempo, o disco era para se chamar «Best Kept Old» em referência a uma das canções do álbum. Contudo, um dia, apercebi-me de que esse título iria provavelmente passar a ideia errada. Tematicamente, embora tema pelo futuro, tenho a expectativa que ele seja melhor que o presente. E, do ponto de vista musical, este álbum não é exatamente um exercício de revivalismo retro, pelo menos não de uma forma saudosista. Eu tenho as referências que tenho, mas isso não significa que não ouça música do presente com o mesmo entusiasmo e êxtase. «Evil Blues» foi um momento *Tcharan* que tive enquanto ouvia a canção do Mance Lipscomb com o mesmo nome. É um título que interage comigo, transmite o essencial das canções do disco e presta tributo a um músico especial – tudo-em-um. Que critérios usaste para selecionar os músicos que gravaram o álbum contigo? As coisas proporcionaram-se com naturalidade, não posso dizer que tenham existido critérios muito estritos. É óbvio que uma boa comunicação é fundamental e, sem ela – como, de resto, em qualquer relação – tudo é muito mais difícil. O talento é outro fator importante e, felizmente, rodeei-me de pessoas com uma combinação desejável


de elevada perícia, bom gosto e mente aberta. Tenho de agradecer ao João (de Summon, Sepulcros, KURØCCVLT e muitos outros projetos) pelo apoio inestimável. Foi ele que me apresentou ao André (bateria) e ao Ricardo (baixo, produção e masterização) e, portanto, que deu ânimo a este projeto na fase em que ele mais precisou de sair das minhas mãos e começar a apresentar-se ao mundo. O André injetou no «Evil Blues» uma muito necessária energia quasi-maximal e o Ricardo, as linhas de graves de que as músicas precisavam sem que eu algum dia me tivesse apercebido disso (além de uma persistência louvável para encontrar o som mais indicado para o álbum). Antes disso, já tinha tentado com outras pessoas (inclusive fora da esfera do Metal), mas por uma ou outra razão isso não foi para a frente. Não ajuda eu estar um bocadinho à margem da cena Metal em Portugal. Conheço poucos dos seus intervenientes pessoalmente, embora com HOOFMARK tenha vindo a estabelecer mais contactos. Isso deixa-me feliz, porque cada vez mais valorizo e procuro promover o sentido de comunidade. Por que apareces na capa do álbum e nas fotos promocionais com uma máscara semelhante às dos caretos transmontanos? Essa opção tem algo a ver com opções estéticas que condicionem a tua música? A máscara serve uma função dupla: atua como a manifestação de uma figura que durante um tempo me perseguiu em sonhos (uma espécie de musa destes “evil blues”) e permite ao disco conservar uma identidade portuguesa da qual não queria prescindir – identidade essa que pretendi, à escala de HOOFMARK, partilhar com o resto do mundo, sem barreiras. As semelhanças com as máscaras dos caretos atribuoas ao esforço absolutamente exemplar do Carlos Ferreira, o artesão transmontano a quem devo os créditos deste trabalho. Se

esta opção condicionou ou não a música, é difícil dizer. Mas a musa foi uma fonte de inspiração ao seu jeito, apenas não de uma maneira romântica. Quem arranjaste para te fazer a capa do álbum e as fotos promocionais? Está tudo ótimo. O design da capa, do CD e de todos os materiais gráficos promocionais ficaram à responsabilidade da designer e ilustradora Carina Reis, cujo contributo é das minha partes favoritas de todo o projeto. As fotos são da exclusiva autoria do fotógrafo Luís Barros, que acrescentou ao «Evil Blues» a compostura, ora tranquila, ora selvagem, sem a qual este trabalho ficaria manifestamente muito mais pobre. Fazes concertos ou a tua banda é só de estúdio? Numa realidade paralela em que a pandemia não existe, HOOFMARK talvez estivesse hoje a apresentar o «Evil Blues» em palco. Há esse desejo, mas o momento não é o melhor. Como é trabalhar com a Miasma of Barbarity? O contacto com a Miasma traduziuse para mim como um sinal de aprovação do «Evil Blues» e fico muito grato ao Pedro Almeida pelo salto de fé. HOOFMARK não existe num vazio e estaria a mentir se dissesse que pouco me importa o que se diz e escreve sobre o disco. Importa-me. Eu tenho a perfeita noção de que este não é um disco fácil – de ouvir ou “vender”. Ele é como eu quis que fosse, o que não significa que não tenha em consideração os seus críticos. Sou fiel às minhas convicções, mas seria muito autocentrado achar que tenho as respostas todas. Levo HOOFMARK (e a minha vida) suficientemente a sério para fazer questão de me lembrar que o outro importa. Depois desde desvio, retomo a ideia inicial de que valorizo muito esta oportunidade com a Miasma, bem como o esforço que a editora

tem feito para promover o «Evil Blues». Espero que o disco também possa contribuir para o sucesso da editora, porque ela está entregue a alguém que acredita muito na sua missão e sabe o que faz. Já tens material para um terceiro álbum? O «Evil Blues» é o primeiro álbum de HOOFMARK. A maquete que lancei em cassete em 2016 foi relançada no ano seguinte em CD pela Ultraje, mas isso não fez daquele trabalho um álbum. Na verdade, gosto de lhe chamar uma compilação, mas talvez deva evitar complicar ainda mais o assunto. Retomando a tua pergunta, a resposta é não. Tenho ideias (pouco claras) sobre para onde ir e o que fazer de seguida, mas nesta fase não passam disso mesmo: ideias. Conheço-me um bocadinho e também sei que prefiro fazer as coisas devagar, embora gostasse que o próximo lançamento fosse mais curto e, de certa forma, urgente. Vamos ver, a única certeza que tenho é que HOOFMARK não é para acabar. Para terminar – e antes que eu morra de curiosidade – por que deste o nome de Hoofmark a este teu projeto musical? Debati-me muito para encontrar um nome que satisfizesse os meus requisitos. Rabisquei de tudo na esperança que me ocorresse o nome ideal. Sabia que queria um nome de uma só palavra e sabia que tinha de ser algo que evocasse o caráter térreo que queria imprimir à música. Quando HOOFMARK surgiu, não fiquei imediatamente convencido, mas a palavra conquistou-me e, olhando para trás, não há vocábulo tão bom como este para descrever o aspeto e comportamentos do projeto. É HOOFMARK, porque pertence à terra, remonta às marcas que deixamos no mundo, mas também porque quer desfrutar de uma relação com o que não é humano na natureza. Facebook Youtube

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CRITICAS VERSUS ASPHYX

«Necroceros» (Century Media) Vou começar por assumir que não conheço a fundo o catálogo dos holandeses Asphyx. Apesar disso, tenho noção que dentro do death metal europeu são actualmente uma referência de topo. Seja pelo impacto do carismático vocalista Martin Van Drunen, ou pelas boas indicações que a história nos tem vindo a dar sobre eles, o quarteto lança «Necroceros», um disco gravado em pleno período de confinamento. Este é um trabalho extremamente competente e interessante, levando os próprios a afirmar que é o seu registo mais intenso, lançado até à data. E pode-se dizer que o é, sem margem para dúvidas, tanto no ataque devastador de “Botox implosion”, assim como em temas mais arrastados, onde podemos tomar “Molten black earth” como exemplo. Esta dicotomia patente em «Necroceros» é valor acrescentado. Confere dinamismo, profundidade e por isso este disco poderá cativar a atenção de qualquer fã do estilo, e não só, acredito eu. A coleção de riffs que aqui encontramos é digna de observação atenta. Sugiro que dêem uma primeira escuta no tema de abertura, “The sole cure is death”, que encerra todas estas dimensões. [8/10] EMANUEL RORIZ

AUTARKH

«Form in Motion» (Season of Mist) «Form in Motion» é a estreia dos Autarkh, formados por Michel Nienhuis, guitarrista dos óptimos Dodecahedron, e constitui uma aposta da Season of Mist, que continua a não brincar em serviço quando o assunto é sonoridades desafiantes e fora dos eixos. O que fazem os Autarkh, então?! “Metal meshuggástico” (vamos todos presumir que isto não necessita de mais explicações…) poderia ser uma fiel descrição, sobejamente evidente através de faixas como “Cyclic terror”, “Alignment” ou “Lost to sight”, que muito bebem do influente colectivo sueco nas suas dissonâncias. Mas desengane-se quem pense que os Autarkh são só isto. Não são. Feitas as contas, o quarteto holandês lança em «Form in Motion» sementes que, bem nutridas, podem fazer desta uma força a ter em conta no underground durante os próximos anos, isto, claro, partindo do princípio que Nienhuis se mostra interessado em fazer crescer este projecto em lugar de o abandonar à sombra dos Dodecahedron. Veremos o que o futuro reserva. Para já, o que temos aqui está bem cozinhado e executado, dentro dos exigentes parâmetros vanguardistas, extremos e exploratórios, resultando em (pouco mais de) três quartos de hora estimulantes para os canais auditivos. Nem tudo é ouro, porém: por vezes a caixa de ritmos desata a debitar maquinaria que nem sempre assenta da melhor maneira na música dos Autarkh e esse é um pormenor que vem retirar algum brilho a esta estreia. Exageros dos quais se espera uma correcção em trabalhos posteriores. [7.5/10] HELDER MENDES

CARCOLH

«The Life and Works of Death» (Sleeping Church Records) Quem tem saudades de um bom disco de doom metal? Daqueles que nos faz estremecer o equilíbrio, tal é a sentença que apregoa. Para todos esses, sirvam-se. Tomem este segundo disco dos Carcolh. «The Life and Works of Death» começa de forma pesada e arrastada, mas é ainda no primeiro tema, intitulado “From dark ages they came”, que o grupo francês expõe uma das suas maiores virtudes. Esse valor é a importância do poder do riff e a forma como a sua música transita de estados de maior suspensão para momentos com um groove agitado. Tudo isto guarnecido por uma exploração de melodias, que aqui e ali, irão certamente ficar coladas no nosso ouvido. Pode até ser um pouco saudosista, mas o prazer que é possível atingir ao ouvir este trabalho, confirma que os Carcolh são, actualmente, uma proposta interessantíssima dentro do espectro heavy/doom, capazes de aguçarem o apetite, mesmo a quem não morre de amores por esta vertente musical. [8.5/10] EMANUEL RORIZ

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CRIPPLED BLACK PHOENIX

«Ellengæst» (Season of Mist) Ao longo dos anos Justin Greaves conseguiu com este projecto musical atrair atenções em muitos dos quadrantes do Rock/ Metal, e isso acontece porque o multi-instrumentista é um criador de mundos paralelos que, em muitos dos casos, não são assim tão paralelos. Ao mesmo tempo que foi lançando discos e criando uma espécie de culto ao seu redor, Justin e Crippled Black Phoenix, foram criando música para a alma e cujo rótulo não é fácil (o que é um elogio!). Ora bem, «Ellengæst» segue o caminho dos seus antecessores e, querendo ou não, este é um disco sobre um mundo perdido, feito de dicotomias que só passam despercebidos a quem ignora. Este é um disco para um mundo perdido em si mesmo e, por isso mesmo é um registo intenso e doloroso numa estranha mensagem de esperança. De nada vale rotular um disco com experimentalismo, algum post-black Metal e algum Doom, mas podemos dizer que «Ellengæst» é um disco para a alma. Como nota final, e apenas para se perceber o culto que o projecto tem, podemos destacar a presença de personas como Vincent Cavanagh (Anathema), Kristian Espedal (Gaahl) ou Jonathan Hultén (Tribulation), entre outros que assim engrandecem um disco que tem tanto de luz como de trevas. [7.5/10] NUNO C. LOPES

EM PYRIUM

«Über den Sternen» (Prophecy Productions) O velho aforismo que desaconselha o regresso ao local onde outrora experimentamos a felicidade acaba de se revelar um... mau conselho. Porque é exactamente através dos locais místicos e românticos do imaginário que os Empyrium nos deram a conhecer há vinte anos atrás, que este disco nos reconduz, com um sentimento renovado de deslumbramento. Sem cair na pretensão de repetir o passado, «Über den Sternen» captura, de forma genuína, o essencial do dark folk/metal contemplativo de «Where at Night the Wood Grouse Plays»(1999) e de «Weiland»(2002), com o regresso em força das guitarras acústicas, das vozes sussurradas e da flauta melancólica de Nadine, que, em conjunto, nos enchem de sensações transcendentes, de visões bucólicas e de alucinações fantasmagóricas saídas de contos de fadas. Até mesmo os momentos de black metal atmosférico, com a condizente voz áspera de Schwadorf, surgem aqui com mais frequência, e o resultado é nada menos que genial. Mas esta recuperação do passado mais remoto é feita num espírito de reconciliação com o trabalho mais recente: este sexto álbum de originais inclui, aliás, referências óbvias ao solene «The Turn of the Tides»(2014), como é o caso da doomy “The oaken throne”. No entanto, principalmente por causa do protagonismo das guitarras (em detrimento dos teclados), a sonoridade e o espírito são todos eles mais reminiscentes do período 1999-2002. O registo vocal clássico, soberbo, de Thomas Helm (solista da Ópera do Estado da Baviera, em Munique) remete também mais para a fase do mui erudito «Weiland» do que para o seu trabalho posterior. Se por um acaso infeliz a banda se dissolvesse agora (como aconteceu em 2006), este seria o mais perfeito dos cantos de cisne. [9/10] ERNESTO MARTINS

EXANIM IS

«Marionnettist» (Klonosphere Records) Exanimis, termo proveniente do latim, significa: morto, sem vida, sem fôlego. Este é o nome escolhido para um projecto de Death Metal sinfónico de Nancy, França. Foi criado em 2015 pelos músicos formados na Music Academy International: Alexandre Dervieux – vocalista, guitarra e arranjos orquestrais; Julien Marzano – guitarra; e Julien Prost – baixo e arranjos orquestrais. Em tempos de pandemia e de repetidos confinamentos, o acesso a recintos de espectáculos tem sido proibido. Nestes, como em muitos outros espaços, o contágio é galopante e há que proteger a humanidade de tais horrores epidémicos. Será?!... «Marionnettiste» (Titereiro, o que movimenta as marionetas), magistral álbum de estreia, abrenos as portas de um imaginário de pesadelo sinistro e de fantasia. A orquestração e a teatralização do álbum faz-me lembrar bandas os gregos Septic Flesh e os holandeses Carach Angren, respectivamente. Esta “tragédia grega” é constituída por nove actos e começa com um prólogo apenas instrumental, “Prélude du songe avant le cauchemar” (prelúdio do sonho antes do pesadelo), uma cadência de notas trágicas e misteriosas no piano, acompanhadas, essencialmente, pelo sofrimento do violino até culminar num coro que nos lança para o segundo acto – “The wrathful beast” (A besta colérica), um andamento vertiginoso, poderoso e raivoso, momentaneamente “aliviado” por um solo de guitarra que surge perto do fim. O terceiro e quarto actos – “Throne of thorns” (Trono de espinhos) e “Stampede of the 10,000” (Debandada dos 10.000) apresentam um instrumental mais orquestral com andamentos mais variados e coros em apoio às vocalizações distorcidas do Alexandre. Em “Entracte du sommeil pendant le cauchemar” (Intervalo de sono durante o pesadelo) surgem, novamente, o piano e o violino num diálogo enigmático, como a estabelecer

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uma pausa no pesadelo, ainda que não lhe permita despertar... O pesadelo ainda não acabou… Sexto acto – “Cogs, gears and clockworks” (Rodas dentadas, engrenagens e mecanismos de relógio) é o tema mais teatral e tem subjacente um movimento das rodas dentadas de um relógio que não pode parar, tal como o tempo de vida, numa contagem decrescente até à morte. No final da música, surgem uns magistrais solos de guitarra entrelaçados. No acto número sete – “The slow flow of the spume on the shore”, saliento o início suave com uma vocalização límpida. O penúltimo acto – “Cathedral”, configura-se como o mais longo do álbum, com mais de dezasseis minutos, onde somos transportados para o interior de uma catedral, e a sonoridade de um órgão e cânticos corais estão presentes. Termina com as seguintes palavras (traduzidas): “manipulados pelas nossas fantasias mais profundas, estas acabam sempre por tornar-se pesadelos”. O último acto – “Epilogue de l’éveil après le cauchemar”, termina este pesadelo de sonho e desperta-nos, com as últimas melodias de piano e de violino, até desaparecerem do nada. Não tenho dúvidas de que estamos perante uma obra-prima, um álbum de excelência, talvez o melhor deste ano. [10/10] JOAO PAULO MADALENO

FIVE THE HIEROPHANT

«Through Aureate Void» (Dark Essence Records) Apesar de ser ainda um nicho no panorama geral da música pesada, o metal instrumental tem vindo a atrair um número crescente de bandas, sendo os Five the Hierophant uma das mais recentes formações a comprovar que a música pode valer só por si, sem o apoio de vozes. Quem ouviu o álbum «Over Phlegethon», de 2017, sabe do que estou a falar: uma estreia assombrosa feita dum cruzamento de sludge e post-metal psicadélico, combinando riffs cíclicos, atmosferas drone, linhas esquizofrénicas de saxofone e exóticas sonoridades de djembê, trompa tibetana e viola de arco – o veículo perfeito para uma trip singular pelos recantos mais sombrios da existência, a retomar e expandir em «Through Aureate Void». E de facto, o tema da arte de capa deste novo álbum, uma vez mais da mão do pintor norueguês Odd Nerdrum, sugere desde logo um vínculo conceptual ao primeiro disco, embora uma audição mais atenta revele claras divergências na música. O estilo hipnótico e doomy que conhecemos do trio britânico é o mesmo, mas este é de longe um trabalho mais acessível. As linhas de saxofone são aqui invulgarmente melódicas, mais próximas do jazz, e não tão abstractas e histriónicas como antes, o que é manifesto, por exemplo, em “Fire from frozen cloud” e “The hierophant II”. As percussões tribais surgem mais dissimuladas e as declamações spoken word que incutiram em «Over Phlegethon» um certo misticismo, são aqui escassas. Nas mantras doom e no intenso psicadelismo ácido dos quinze minutos de “Pale flare over marshes” o disco parece recuperar muita da negritude a que nos habituamos, mas no balanço final «Through Aureate Void» passa como um registo menos excitante, conquanto igualmente envolvente e com o potencial de oferecer um tipo de experiência sónica ao alcance de poucos. [7/10] ERNESTO MARTINS

GAM A BOM B

«Sea Savage» (Prosthetic Records) Saído no final de 2020 «Sea Savage» é o regresso do quarteto irlandês, naquele que é o seu sétimo registo em formato LP e, também, o primeiro sem o baterista Paul Caffrey. Se isto não chega para vos colocar a par do que são os Gama Bomb por estes dias, então cá vão mais duas novidades: este é o primeiro registo da banda para a Norte-Americana Prosthetic Records e, o substituto de Caffrey é, nada mais, do que James Stewart (Vader, Decapitaded). Posto isto, olhemos para o que é «Sea Savage» que, no fundo, é um conceptual a bordo de uma imaginária «S.S. Gama Bomb». O que temos nesta dúzia de temas é Thrash como mandam as regras, sem que a banda perca a oportunidade de mostrar as influências nas bandas da NWOBHM, como Iron Maiden ou Judas Priest. Com uma produção (propositadamente) analógica, o que o quarteto faz é criar uma viagem intemporal mas que se perdeu no tempo, tal como as grandes sagas marítimas. Percebe-se que o quarteto se queira manter fiel às suas raízes musicais, contudo, «Sea Savage», apesar de bem tocado e bem pensado isso só por si não chega e o disco esbarra em tudo o que já foi feito no género (mesmo por parte dos Gama Bomb). Fica a certeza de que este é um disco para fãs acérrimos do género! [7/10] NUNO C. LOPES

HARAKIRI FOR THE SKY

«Mære» (AOP Records) Há uma década atrás, os austríacos M.S. (Matthias Sollak) e J.J. (Michael V. Wahntraum), decidiram formar este duo – Harakiri for the Sky. O seu álbum de estreia foi lançado no ano seguinte – 2012. É considerada uma banda pioneira de Post-black Metal e afirma-se que as suas principais influências são bandas como Alcest e Wolves in the Throne Room. Este é o quinto

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álbum. De referir que tiveram a contribuição na bateria de um músico convidado, também austríaco, o Kerim “Krimh” Lechner (actualmente, membro dos gregos Septicflesh). «Mære», constituído por dez temas, envolve-nos durante quase hora e meia num emaranhado de traumas, solidão, sofrimento e delírios expelidos por gritos desesperados do J.J., acompanhados por uma batida pontualmente feroz (de Black Metal), e embalados pelos riffs melódicos e harmoniosos da guitarra do M.S., provocando-nos explosões de emoções presas dentro de nós, acelerando o nosso ritmo cardíaco e fazendo-nos perder o fôlego. O primeiro tema do álbum, “I, pallbearer”, simplesmente fabuloso, abre-nos a porta para um ser profundamente triste (“deeply sad man”), a ideia da morte, o sofrimento, a dor, o vazio, a depressão, os traumas, as milhares de cicatrizes a cada dia, os sonhos que se esfumam... É o mote para o que vem a seguir… onde será difícil realçar um tema, dada a soberba qualidade e consistência musical de todo o álbum. No entanto, atrevo-me a destacar três temas: “Us against december skies”, “I’m all about the dusk” e “And oceans between us”. O álbum termina com uma cover atmosférica de “Song to say goodbye” (dos Placebo). Goodbye… [9/10] JOAO PAULO MADALENO

IOTUNN

«Access All Worlds» (Metal Blade Records) Já vai algum tempo desde a última vez que me senti tão positivamente abananado por um disco de power metal como este. Tropecei nesta jovem formação dinamarquesa, em 2016, através do thrashy «The Wizzard Falls», (um EP gravado no lendário Sweet Silence Studio de Copenhaga pelo icónico Flemming Rasmussen) mas este álbum de estreia é algo inteiramente diferente. «Access All Worlds» pode descrever-se como uma sofisticada fusão de power metal épico e death metal melódico, com várias insinuações progressivas e uma veia nórdica distinta. Reflete, antes de mais, uma notável progressão artística em relação ao tal EP, algo que deve ser creditado não apenas aos prodigiosos irmãos Jens Nicolai e Jesper Gräs, mas também ao novo frontman Jon Aldará. Na verdade é muito à custa da incrível versatilidade vocal de Aldará (já conhecido dos Barren Earth e dos Hamferd) que a música consegue transmitir toda a panóplia de emoções associadas à ideia de exploração espacial como metáfora de uma demanda filosófica interior. A grandiosidade que emana do pulsante tema de abertura “Voyage of the Garganey I” ou o efeito arrepiante induzido por “The weaver system” ficam muito a dever-se ao tom dramático do registo limpo bem como ao rugido tenebroso com que Aldará alterna graciosamente ao longo de todo o disco. A música, por sua vez, não pára de surpreender com a sua complexa malha de riffs empolgantes e leads criativos a desenrolar-se sobre uma imponente secção rítmica, mantendo-nos permanentemente de ouvido colado apesar da longa duração da maior parte dos temas. Enfim, um disco inteligente, sem momentos fracos, que se recomenda a quem procura algo de excepcional no gênero. [8.5/10] ERNESTO MARTINS

KAUNIS KUOLEM ATON

«Syttyköön Toinen Aurinko» (Noble Demon) Kaunis Kuolematon (A Bela Imortal) tem toda a essência e qualidade das bandas finlandesas de Melodic Doom/Death Metal, com uma ambiência atmosférica, melancólica e depressiva, suportada, essencialmente, pelas guitarras melódicas de Ville Mussalo e Mikko Heikkilä, e umas teclas de piano trágico-depressivas. Optam por usar a sua língua materna nas letras das músicas. Este é o terceiro álbum de originais. Arrisca-se a ser um dos melhores deste ano. É mais um excelente álbum desta banda. O primeiro tema, cujo título é em latim, “Sub idem tempus” (Ao mesmo tempo), abre o álbum de forma épica com uma guitarra acústica melancólica, dedilhada lentamente e com suavidade, e, depois, vão entrando o piano, a guitarra eléctrica, o teclado… e um trautear do Olli Saakeli Suvanto, para terminar com um som de órgão. Seguese “Syttyköön toinen aurinko” (Deixe um novo sol iluminar) com uma cadência forte em crescendo para suporte dos vocais distorcidos do Olli. O terceiro tema, “Hautajaiset” (Funeral), apresenta uma toada mais depressiva e carregada de melancolia, com o “diálogo” entre o vocal mais rasgado do Olli e o vocal límpido do Mikko Heikkilä (também vocalista de Dawn of Solace). O tema que se segue, “Mustavalkoinen” (Monocromático), assim como, o sétimo tema, “Paha ihminen” (Pessoa Má), perfilam-se à medida da voz do Mikko. Tem um timbre de voz, simplesmente, fabuloso. Adoro! “Kylmä maa” (País frio) começa com umas teclas trágicas do piano até se libertar uma cadência intensa cheia de raiva e um vocal rasgado “Blackened” e, do nada, volta a cair no trágico piano para dar entrada a “Kuolevan surun alla” (Sob o luto da morte), onde se regista mais um “diálogo” entre o Olli e o Mikko e um instrumental em perfeita sintonia. “Hyvästi” (Adeus) encerra o álbum na perfeição. Para os apreciadores de Melodic Death Metal Finlandês como Insomnium e Wolfheart, este é um álbum obrigatório. [9/10] JOAO PAULO MADALENO

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LES CHANTS DE NIHIL

«Le Tyran et l’Esthète» (LADLO Productions) Uma audição dos primeiros minutos deste disco bastou para detectar algo de invulgar no black metal praticado por este quarteto que nos chega da Bretanha francesa. Por um lado é o estilo único de composição, rico em conotações de música clássica, mas sem nunca recorrer propriamente a sonoridades sinfónicas. São as malhas, os riffs e as linhas de guitarra que, emergindo por entre descargas especialmente furiosas de blast beats, denunciam – à custa da grande competência técnica dos músicos – estas inclinações eruditas. Aspecto distinto neste trabalho são também os coros, que secundam ocasionalmente o registo diabolicamente crispado do vocalista, e cujo tom heróico se torna essencial na expressão do drama politico/bélico que se desenvolve neste trabalho conceptual, dividido em quatro actos, idealizado e composto (letra, música e até a pintura de capa) por Jerry, o mentor da banda. O hino “Ma doctrine, ta vanité”, cuja toada em jeito de marcha patriótica poderá estranhar-se à primeira audição, ilustra da melhor maneira a exploração com sucesso deste último artificio. Outro bom exemplo é o excelente tema-título do álbum, com as suas percussões marciais e coros militaristas. E há muito mais para descobrir em termos de musicalidade nos sumarentos 50 minutos deste quarto registo da banda gaulesa, como é o caso de “L’adoration de la terre”, composto em torno de duas passagens da “Sagração da Primavera” de Stravinsky, que denota bem a atracção que a banda nutre pelos clássicos. «Le Tyran et l’Esthète» assinala uma expansão significativa na paleta retórica dos Les Chants de Nihil, mas a brutalidade esmagadora que o envolve pode tender a desviar a atenção dos detalhes mais singulares. Não é disco para ouvir de ânimo leve. [9/10] ERNESTO MARTINS

ONDSKAPT

«Grimoire Ordo Devus» (Osmose Productions) Depois duma década de silêncio, já poucos esperavam um novo álbum dos Ondskapt e muito menos um regresso com a ferocidade devastadora que emana deste quarto registo de originais. O disco até já devia ter saído há mais de um ano, mas uma conjugação de dificuldades inesperadas (intervenção divina?) travou a sua erupção do sub-mundo blasfemo onde foi concebido. «Grimoire Ordo Devus» revela-se desde logo tão sinistro e intrinsecamente maléfico como o seu antecessor de 2010 «Arisen from Ashes», mas o muito tempo que separa os dois trabalhos teria de se traduzir em algumas diferenças inevitáveis, decorrentes, por exemplo, da formação renovada da banda. A entrada de J. Megiddo (que também integra o line-up dos Marduk) confere às guitarras um protagonismo vivido, técnico e inebriante que até agora não existia na sonoridade infernal da banda. Na verdade, as fantásticas linhas melódicas em tremolo, que brilham particularmente em “Ascension” e “Devotum in legione”, são um dos aspectos mais peculiares deste novo trabalho. A composição de Acerbus (agora o único membro fundador) e do novo baixista Gefandi Ör Andlät não se rege tanto pela abordagem diferenciada que pautou o álbum anterior, tendo resultado em temas não só mais rápidos e extremos mas também mais próximos do black metal de formações compatriotas como os Watain, Funeral Mist (ouçase “Possession”) ou mesmo Marduk (“Opposites”). Com cerca de uma hora da música mais extrema e venenosa que se possa imaginar, «Grimoire Ordo Devus» é não só um álbum sólido e bem conseguido, mas também uma declaração renovada de devoção ao lado negro, com o poder de transformar as capelinhas da vossa diocese num imenso braseiro. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

PERENNIAL ISOLATION

«Portraits» (Non Serviam Records) «Portraits» é um daqueles raros discos com o dom de nos fazer recuar ao período mais criativo e excitante da história do black/death metal melódico. Portanto, desde logo, distingue-se por não ser mais um dos inumeráveis discos que apenas fustiga o ouvinte – pela milésima vez! – com os clichés mais estafados do estilo. Este novo registo dos espanhóis Perennial Isolation é, de facto, um festim para os tímpanos de quem vibra com as habituais descargas desenfreadas de blast-beats e guitarras em tremolo do género, mas que também gosta de ser surpreendido com riffs inteligentes, transições inesperadas, segmentos melódicos sonhadores (abundantes especialmente a partir da quarta faixa) e, em geral, composições muito bem conseguidas. O talento dos quatro músicos é por demais evidente, salientando-se aqui o prodigioso e multifacetado guitarrista Iván Ferrús, provavelmente o principal arquitecto do gigantesco salto qualitativo que a banda protagonizou entre o segundo álbum «Astral Dream» e o excelente disco subsequente «Epiphanies of the Orphaned Light», lançado em 2016, em relação ao qual este «Portraits» partilha claramente a mesma veia criativa, apesar do hiato de cinco anos que separa os dois discos. Outro aspecto que não passa despercebido são as qualidades vocais

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superlativas do frontman (também baixista) Albert Batlle, cujo rasgado registo não fica nada a dever a um Thomas Backelin (Lord Belial), chegando até a fazer lembrar a qualidade crispada do grande Henke Forss (Dawn). Sem se afastarem muito dos cânones sónicos do melhor black/death oriundo do norte da Europa, os Perennial Isolation mostram aqui que há ainda muito espaço para criar música de grande classe com apelo comparável aos grandes clássicos do género. [7.5/10] ERNESTO MARTINS

PESTIS CULTUS

«Pestis Cultus» (Signal Rex) Black metal de Perth, Austrália, constituído por elementos dos já defuntos Snorri. Um disco que abraça a linhagem dos conterrâneos Bestial Warlust e Sadistik Execution, com muito substrato dos primórdios do black metal dos anos 80 à mistura. Estamos perante mentes ortodoxas (estilisticamente falando), como cedo se faz perceber. Para além da curiosa intro, o registo da banda é, na sua generalidade, “porrada nuclear”, sendo que a banda também consegue introduzir um dinamismo relativamente articulado, através de quebras e variações de tempo (como “Black tongue hymn”, com um mid-tempo muito semelhante a alguns dos melhores momentos dos Blasphemy). Chega mesmo a haver alguma sugestão de melodia NWOBHM (“Black mass”), esmagada entre colunas maciças de riffs inclementes. Um álbum, de resto, muito convidativo ao headbanging, com uma série de solos e algumas notas imponentes de baixo a adensar o já insalubre ambiente do disco (notáveis exemplos são “H.H.L.” e “To the old ruins”). As vocais, carregadas de efeitos de delay, conferem uma aura verdadeiramente desencarnada ao álbum, assumindo estas, inquestionavelmente, o protagonismo do mesmo. Como curiosidade, temos também a intro e a outro a cargo do norueguês Mortiis (ex-elemento dos Emperor… existe outro?). De notar a atmosfera do álbum, que é inflamada por uma produção que dificilmente seria mais suja e ultrajante. Em síntese, trata-se de um trabalho, nas palavras da banda: “para velhas almas”. [7/10] FREDERICO FIGUEIREDO

RAAT

«Raison D’être» (Avantgarde Music) Mesmo no final de 2020 saiu este segundo álbum de Raat e embora a nacionalidade seja indiana, isso pouco ou nada se nota nas composições de S. R., cujo post-black metal se insere perfeitamente na escola norte-americana ou europeia (portanto, ocidental) do género, sem – ao contrário do que se esperaria – apelos às tradições musicais que normalmente associaríamos à cultura hindu. O momento, quiçá mais étnico, por assim dizer, encontra-se no riff que dá início ao tema-título, com o seu sabor muito oriental; de resto, temas como “Aurora” são, isso sim, devedores de discografias como a dos germânicos Lantlôs. Por sua vez, os títulos em francês, quer dos dois álbuns lançados sob o nome Raat, quer de algumas músicas nestes incluídas, remetem inevitavelmente para os gauleses Alcest. Curiosamente, mesmo as músicas com designações gaulesas são, nos Raat, cantadas em inglês. Enfim, manias… Bem vistas as coisas, «Raison D’être» tem tudo para agradar aos que apreciam black metal a atirar para o shoegaze e não se assustam com faixas que se alongam no tempo de duração (“Envie” é a única faixa a não ultrapassar os cinco minutos). Para uma one man band proveniente da Índia, não está (mesmo) nada mal. Será a última bolacha do pacote?! Claro que não. Mas é «Raison D’être» bom e recomenda-se?! Absolutamente! [8/10] HELDER MENDES

SPLENDIDULA

«Somnus» (Argonauta Records) Splendidula é uma banda oriunda de Genk, na Bélgica, formada em 2008. Curiosamente, ainda antes do lançamento do primeiro álbum, passou a contar apenas com um elemento da formação original, o guitarrista David Vandegoor. As suas principais tendências musicais vagueiam por Stoner, Doom, Sludge Metal e Post-Rock. No entanto, em «Somnus», o terceiro álbum da banda, encontramos um som mais psicadélico, enigmático e trabalhado, com muitos pormenores subtis e minimalistas das guitarras rudes de David e Pieter Houben, estabelecendo um excelente contraste com as vocalizações melódicas da Kristien Cools. Em termos musicais destaco os seguintes temas: o de abertura, “Somnia”, que é fabuloso e talvez o melhor do álbum; “Void”, onde surge a voz distorcida do Pieter; “Incubus” apresenta bons contrastes entre as guitarras agressivas e a melodia vocal da Kristien; e, o último tema, “When god comes down”, com mais de nove minutos, tendo por base uma espécie de batimento cardíaco e as guitarras recriam-se em camadas de riffs incessantes e psicadélicos, novamente contrastando com melodiosa voz da Kristien. Nos sonhos ocorrem as mais variadas surpresas, algumas são, certamente, imperdíveis. Deixe-se entrar no sono… [8.5/10] JOAO PAULO MADALENO 2 9 / VERSUS MAGAZINE


STEVE HACKETT

«Under a Mediterranean Sky» (InsideOut Music) É incrível quando se consegue atingir uma perfeita ligação títulos, imagem e sonoridade que compõem um disco 100% instrumental. A localização do varandim ilustrado na capa é denunciada pela referência mediterrânea e a partir daí percebemos que musicalmente poderemos estar na margem sul europeia ou então no quente norte de África. A dimensão e presença geográfica é ainda ampliada pelo uso de instrumentos étnicos, que se juntam à enorme diversidade de harmonias em guitarra acústica que Steve Hackett desenhou para este «Under a Mediterranean Sky». Este trabalho apresenta ainda uma forte componente orquestral, criando momentos altamente cinematográficos, que nos carregam o imaginário com cenários e movimentos de acção bastante ricos, plenos de sabor a mediterrâneo. [8/10] EMANUEL RORIZ

SUR AUSTRU

«Obârsie» (Avantgarde Music) Formados a partir da mais recente encarnação dos lendários Negura Bunget, pouco depois do desaparecimento, em 2017, do seu mentor, Gabriel Mafa (Negru), os Sur Austru são confessos seguidores dos pergaminhos sónicos e temáticos trilhados de forma magistral ao longo de duas décadas pela supra citada lendária banda romena. A música contém evidentemente elementos de sonoridade extrema, mas o que a distingue mais profundamente é a envolvente e constante atmosfera ritualista de comunhão com a natureza, fortemente sugerida pelas sonoridades fascinantes de instrumentos como o bucium (semelhante à trompa alpina), a toaca (tábua suspensa percutida com pequenos martelos), o dulcimer (cimbado de cordas) e a flauta de pã, que surge aqui com especial predominância. Fundamentais são também os cantares entoados no romeno arcaico, cuja fonética exótica nos transporta – em espírito, pelo menos – para as misteriosas florestas da remota Carpátia, povoadas por poderosos Solomonarii, as enigmáticas entidades semi-divinas do folclore local (vide representação artística na capa) que a banda adoptou como tema central deste segundo registo, musicalmente mais folk do que «Meteahna Timpurilor», o álbum de estreia de 2019. A abertura, “Cel din urma”, cativa de imediato com o seu sedutor riff serpenteante pontuado por belos apontamentos de flauta. Pessoalmente, preferia que o resto do disco seguisse de perto esta estética, mas, apesar de não ser este o caso, devo salientar “Caloianul”, pelas extraordinárias vozes e pelo invulgar estilo de composição que deixa a sua marca, assim como o belíssimo instrumental “Codru moma”. Longe de aproximar o assombro de algo dos Negura Bunget, «Obârsie» carrega sem dúvida uma mística que encanta. E pode ser excelente companhia em noites solitárias de confinamento. [6.5/10] ERNESTO MARTINS

T HE SCALAR PROCESS

«Coagulative Matter» (Transcending Obscurity Records) Este é um daqueles discos com o condão de seduzir, logo aos primeiros acordes, fãs daquele death metal técnico mais prodigioso personificado por colectivos como os Obscura os Beyond Creation, entre muitos outros. Mas o que é particularmente apelativo na música deste grupo de debutantes gauleses, que têm no virtuoso das seis cordas Eloi Nod o seu principal criativo, é a invulgar ênfase que colocam nos longos e emocionantes leads planantes de guitarra (e ocasionalmente de teclados) que emergem, de forma quase sistemática, por entre a metralha caleidoscópica em constante hiper-speed, perfazendo mesmo, por vezes, (quasi-) instrumentais completos, como é o caso de “Mirror cognition”, “Ouroboros”, entre outros mais. Os segmentos em andamento mais moderado e as transições bem colocadas – em particular – não escondem as qualidades superlativas do baterista Clement Denys (emprestado pelos compatriotas Fractal Universe) ficando também por demais evidentes os maleáveis dotes laríngicos de Mathieu Lefevre cujos rugidos se estendem até ao espectro do black metal. “Cosmic flow” e “Ink shadow”, por exemplo, incluem o suficiente em termos de destreza acrobática instrumental para não defraudar qualquer fã de tech death, isto já para não falar no carrossel progressivo de onze minutos que é o título-tema. O que é aqui menos atractivo é, paradoxalmente, o puro... death metal: as descargas mais brutais soam demasiado indistintas entre si, e com pouco em termos de elementos cativantes que motivem uma re-audição. Apesar disso «Coagulative Matter» não deixa de ser uma convincente mostra de talento de uma banda promissora, que vale a pena manter debaixo de olho. [7/10] ERNESTO MARTINS

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T HERION

«Leviathan» (Nuclear Blast) Outrora um dos grandes nomes do metal europeu, os Therion, de Christopher Johnsson, acabaram por, ao longo dos anos, se converter numa instituição do metal sinfónico. Longe do som agreste, embora sempre pincelado por apontamentos neoclássicos, umas vezes mais («Lepaca Kliffoth», «Theli»), umas vezes menos («Symphony Masses: Ho Drakon Ho Megas»), que os celebrizou em meados dos anos 90 do passado século, os Therion de hoje são polidos, domesticados e, há que dizê-lo, bocejantes. Nada contra o metal sinfónico em si, e os próprios Therion têm excelentes trabalhos dentro do género («Gothic Kabbalah», por exemplo), mas o problema desta novidade que dá pelo nome de «Leviathan» é um e apenas um: as músicas são quase todas desinspiradas. E quanto a isto, não há volta a dar. Christopher Johnsson está com dificuldades em reinventar-se e voltar a dotar os Therion daquela sonoridade dinâmica que os caracterizava quer quando ainda praticavam death metal quer quando derivaram para o metal sinfónico e neoclássico. A banda está numa espiral descendente e não é com lançamentos destes que irá redimir-se, infelizmente. Estamos no início de 2021 e talvez já esteja encontrada uma das grandes decepções do ano. Soporífero e sem grandes motivos de interesse, eis como se pode resumir o tempo dispensado a escutar este disco. Se o triplo álbum «Beloved Antichrist» já tinha deixado má impressão, com «Leviathan» os Therion afundam-se mais no pântano da falta de inspiração. [5/10] HELDER MENDES

T RIBULATION

«Where The Gloom Becomes Sound» (Century Media Records) O quarteto está de regresso, com aquele que é o seu quinto registo de originais de uma carreira iniciada em 2004. Senhores de uma carreira de respeito e cujo trajecto fala por si e não vale estar a falar de discos como «Down Below» ou «The Children of the Night». «Where the Gloom Becomes Sound» é, porventura, o registo mais ambicioso da banda que encontra na mística e na força dos elementos a força que lhes permite caminhar por florestas tenebrosas entre um nevoeiro denso que, tantas vezes, se dispersa no horizonte. Há o incenso de bandas como Sopor Aeternus mas há, sobretudo, um aprimorar de uma fórmula que irá permitir ao quarteto agradar a velhos e novos seguidores. Com uma produção de excelência e com temas fortes (“In Rememberance” ou “Inanna”) que não se esgotam numa primeira, ou mesmo segunda audição. Sem nada a recear o quarteto continua o seu caminho, e esse caminho é tragicamente sedutor. [8.5/10] NUNO C. LOPES

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ARMADA LUSA ANCHARGE

«A.P.A.B (All Politics Are Bastards)» (Miasma of Barbarity Records) Se em 2020 a dupla Vieira/ Graça nos apresentou uma homenagem ao Crossover e ao Thrash, desta feita os Ancharge baralham e voltam a dar...desta vez umas valentes chapadas na cara com uma homenagem ao Punk/Grind/Crust/ D-Beat dos anos 90! Quando no anterior a dupla apresentou uma boa dose de boa disposição, desta feita e (talvez) fruto destes tempos que (sobre)vivemos. A uma só velocidade os Ancharge trazem tudo o que há de podre numa sociedade cada vez mais encolhida e calada. «A.P.A.B» não poderá ser considerado um disco político, apesar de também o poder ser. É certo que, ao contrário do projecto anterior, aqui não há espaço para descanso e a devastação é contínua. Mais do que um disco este «A.P.A.B» é um testemunho do seu tempo. Não trazendo nada de novo mas, mostrando uma nova faceta, Rui Viera e José Graça, partem a casa toda. Eles dizem que vão fazer novas coisas, bom… nós cá estaremos. [7/10] NUNO C. LOPES

A NGRIFF

«Sodomy In The Convent» (Firecum Records) É pouco usual, é um facto, mas aqui temos os portugueses Angriff no formato de thrash metalduo. Pode-se também começar por dizer que a intensidade destes temas não é, de forma alguma, proporcional ao número de elementos da banda. Neste novo trabalho que é também o primeiro lançamento do colectivo nos últimos dez anos, ouvimos thrash metal clássico com o nível de agressividade sempre lá em cima. A típica introdução instrumental desembarca num segundo tema que inicia com força destruidora e refrão a pedir para ser entoado em coro. A partir daí o disco segue um caminho muito idêntico sem grandes oscilações ou relevos que seriam necessários para tornar estas canções mais memoráveis. Em «Sodomy In The Convent» temos essencialmente canções carregadas de adrenalina, indicadas para o momento “ao vivo”. Nota positiva para a resiliência do nome Angriff. [6.5/10] EMANUEL RORIZ

E FÉM ERO

«Movimento Efémero do Cosmos» (LouDriver Records)

A primeira coisa que me apraz dizer sobre este trabalho dos portugueses Albicastrenses, Efémero, é que não ouvi nada assim desde o dia em que ouvi pela primeira vez o «Infinity... A Timeless Journey Through an Emotional Dream» dos Desire. Ambos têm o mesmo nível emocional, a mesma lentidão rítmica e guturais arrastados, neste caso de black metal – ao invés do Death dos Desire, não me deixam senão ter de apontar a comparação, e não fossem as duas bandas de Atmospheric Doom Metal. A maior diferença é o facto de uma ser orientada ao Death Metal e a outra ao Black Metal. Mas esta diferença característica é completamente absorvida pela destreza com que os teclados – ao invés da guitarra nos Desire - dão o cunho melancólico a par do violino em segundo plano. A verdadeira diferença, a par da dicotomia guitarra/teclas, está nos vocais onde o Death gutural ultra arrastado, dá lugar ao Black gutural arrastado quanto baste. Desire à parte, Efémero é o trabalho de um homem só, Certã, que assina tudo neste álbum de estreia «Movimento Efémero do Cosmos». Quatro músicas à volta dos 10 minutos com uma toada muito atmosférica e pesarosa, essencialmente ritmada e guiada pelas teclas e violino e a voz arrastada numa entoada definitivamente Black Metal. O todo é extremamente bem arranjado, conseguindo transmitir o que caracteriza a música deste tido de bandas: o sofrimento, a melancolia, a tristeza que nos arrebata por dentro ao ouvir tal música. Sendo uma característica inerente à banda, a falta de presença por parte da guitarra, muita vezes em detrimento do violino, poderá levar alguns – injustamente - a virar costas a esta magnífica banda do género, pelo que, seria interessante ver em próximos trabalhos como mais uma textura de distorção e arrastamento em segundo ou terceiro plano faria à música de Efémero. Para já, estou conquistado e recomendo esta banda Portuguesa a todos os que gostam de sofrer emocionalmente com desgraça atmosférica obscura. Não posso esperar pelo próximo trabalho de Efémero para dar a nota máxima! [9.5/10] CARLOS FILIPE

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GRUNT

«Discipline» (Larvae Records)

Devo admitir que – parte 1 - não sou muito adepto deste género de música mais extrema – parte 2 – não conhecia os Grunt. No entanto, e até nem sou católico mas… Nossa senhora bendita… que bujarda! Estes depravados nortenhos existem como Grunt desde 2010 mas o trio tem já uma vasta experiência no panorama musical mais extremo em Portugal. Sem qualquer tipo de “Piedade” e com muita «Disciplina» os Grunt descarregam sete “Valsas” cavernosas e putrefactas, nuas e cruas que encheriam de orgulho a Deusa Libitina numa qualquer orgia digna de Sodoma e Gomorra. As baterias sintetizadas e os arranjos electrónicos conferem uma bestialidade Industrial, num ambiente já por si só “sujo” e coberto de uma agonizante “negritude”, um tanto ao quanto sci-fi projectado num Grind a descambar para o Death Metal puro, duro, podre e extremo. [8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

HO CHI M INH

«This Is Hell» (Independente)

O título resume o que se passa com este disco – isto é mesmo o inferno em forma de música. Os Ho Chi Minh já andam pelo panorama musical nacional desde 2004. «This is Hell» está ali no meio caminho entre o Metal Core e o Djent, ainda assim muito Groove misturado com elementos industriais e electrónicos. Há no álbum alguns pedacinhos de “céu celestial”, por exemplo, “Crawling” ou “Wasted”, e algumas partes melódicas inseridas nos coros dos temas que por alguns momentos nos dão um pouquinho de descanso – depois, o inferno continua. Curiosamente, entre cada dois temas há um interlúdio musical e o disco acaba “Let it Burn” que é, basicamente, um tema ao piano. Não sendo muito apreciador deste tipo de sonoridade, posso aferir que, ainda assim, «This Is Hell» é um disco bastante sólido e competente por parte dos Alentejanos de Beja, que não andam a dormir e lhe dão forte e feio! [7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO MONS VENERIS «Mons Veneris» (Harvest of Death/Signal Rex) Imaginem um cruzamento do «Violet Art of Improvisation» de Paul Chain, com o «War Funeral March» de Vlad Tepes, a marcar o início de um exorcismo nas catacumbas de um castelo medieval… na Transilvânia. Pois… embora ligeiramente mais acessível que o desafiante «Sibilando com o Mestre Negro», é-nos apresentado mais um álbum a testar os limites da audibilidade. O presente EP contem duas extensas faixas, caracterizadas por uma sonoridade concêntrica e enclausurante, na boa tradição do black metal praticado pelas Légions Noires. A primeira, “Ritual of a neverending doom”, arrasta uma batida fúnebre, acompanhada pela estridente sonoridade de um órgão de igreja e vocalizações a pautar um carnaval de demência. É marcável a atmosfera de suspense, tetricamente e teatralmente enfatizada. A produção, por sua vez, acentua a estética de crueza e reverberação, contribuindo (como não podia deixar de ser) para o caráter tumular que é apanágio de Mons Veneris. A segunda faixa, “A scythe infested with plagues…”, embora igualmente minimalista, é mais padronizável no contexto do black metal, com fortes sugestões de Xasthur ou Mutiilation. A miséria e a solidão são bem transpiradas na densidade dos arranjos, deixando escapar (subtilmente e de forma muito pontuada) alguma melodia, servindo esta apenas para reforçar e nos devolver à irrespirabilidade do álbum. Embora se trate de um trabalho com dois lados marcadamente distintos, tal não afeta a dissonância comum, sendo um consistente contributo para uma discografia que privilegia influências como Luciano Berio, Olivier Messianen, Abruptum… bem como as próprias trevas, certamente. [7/10] FREDERICO FIGUEIREDO

OM ITIR

«Ode» (LouDriver Records)

Ora muito bem, se há estilo que não gosto é Black Metal – (muito respeitosamente) é aquele estilo com o qual não me relaciono nem me identifico minimamente. No entanto, há sempre algumas excepções. Omitir é um projecto a solo que brota da mente de Joel Figueiredo (aka Gróvio) desde 2005. Joel é minhoto e daí se entende que o álbum comece com folclore minhoto – e foi, precisamente, por esta entrada que a minha curiosidade se sentiu aguçada. «Ode» é a minha excepção, é música honesta, introspectiva, ora melódica, ora pesada. Uma perfeita dicotomia entre o que pode ser a obscuridade e a “crueza” de um estilo musical e o que de mais puro e verdadeiro tem o tradicional folclórico português e galego. Por

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isso, os temas estão relacionados com os nossos costumes e tradições. Em “Vera Busca” temos um discurso de Jerónimo de Sousa sobre a reforma agrária – extraordinário! Quem se lembraria de integrar um discurso do secretário geral do PCP numa música? Ou então, o tradicional vira minhoto que abre o disco em “Ceiva”? “Cear” é o momento mais calmo – água a correr em fundo e a música acústica é a personificação da tradição galaico-portuguesa que paira um pouco no disco. «Ode» é poesia em forma musical e um dos melhores discos do ano. [9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

SKINNING

«Homicidal Experimentations» (Larvae Records)

Os vimaranenses estão de regresso com aquele que é o seu terceiro LP, terminando assim um período de quatro anos de silêncio e que, de certa forma, lhes permitiu aprimorar a fórmula e apimentar as suas composições. Os Skinning mostram nestes nove temas a carne de que são feitos e fazem-no da única forma que sabem...à bruta e sempre a rasgar (literalmente) o canal auditivo e tudo o que tenha sangue e vísceras à sua volta. Sem momentos para respirar este é um disco que relembra que o Death Metal não é para ser bonito nem alegre e, por isso mesmo, não estranhem se vislumbrarem por aqui semelhanças com nomes como Vader, Cannibal Corpse ou Morbid Angel. Ao fim de uma dezena de anos os Skinning surgem, ao terceiro disco, mais devastadores que nunca e «Homicidal Experimentations» é um disco de Death Metal que impõe respeito. Não traz nada de novo ao género mas afinal, o que é que isso interessa quando é bem feito?] [7/10] NUNO C. LOPES

UNFLESHED

«Twisted Path to Mutilation» (Larvae Records) Foi preciso esperar duas décadas para que os portuenses Unfleshed lançassem o seu disco de estreia. Há muito aguardado esta estreia em formato LP é um manjar para qualquer apreciador de Death Metal Old School, muito na onda do que já fizeram bandas como Broken Hope, Deicide ou Suffocation. Dito isto, «Twisted Path to Mutilation» apenas tem uma velocidade e, nem é a abrir, o que eles fazes é mesmo a rasgar...tudo o que lhe aparece à frente. Ao longo dos (quase) sessenta minutos de brutalidade o que vamos percebendo é que os Unfleshed estão uns homens e estão prontos para a devastação e para jorrar sangue… muito sangue. “Cadaveric intercourse” ou “Covered in shit drowned in piss” são, apenas, alguns exemplos de um registo que tem, ainda, «Exhuming the Bastards», o aclamado EP de 2000, aqui numa versão remasterizada. A espera compensou e o quarteto apresenta um trabalho, honesto e ao nível do que se faz lá por fora no género. [7.5/10] NUNO C. LOPES

VENTR

«Numinous Negativity» (Signal Rex) «Numinous Negativity» é o EP de estreia desta banda portuguesa de black metal, exibindo meia hora de acutilantes riffs, na boa tradição dos primeiros álbuns de Burzum e Darkthrone. Salientamse as composições de guitarra tecidas em tremolo picking, numa clara aproximação do álbum homónimo da primeira banda referida e do «Transilvanian Hunger» da segunda. O trabalho das guitarras, apesar de não ser inteiramente original, é dinâmico e variado, com indícios de atenuada melodia. As vocais, por outro lado, embotam esta intensidade, revelando-se um pouco afastadas do usual registo de black metal, sem que isto, contudo, enriqueça a banda. Na verdade, as vocais acabam por constituir um contraponto de monotonia às guitarras, deteriorando o potencial do álbum. Notória, igualmente, é a faixa título, consistindo num tema instrumental que se torna anticlimático no fluxo irascível do EP, sendo este, de resto, marcado por uma batida “apunkalhada” e sem compromisso. A produção, por seu lado, apesar de ser suficientemente suja para fazer juz ao estilo de black metal que a banda reproduz, não é tão crua como seria de esperar no contexto dos trabalhos lançados pela Signal Rex. De todo o modo, tal não se trata de um elemento que desfavoreça a banda e as suas composições. «Numinous Negativity» revela-se, na generalidade, um álbum de estreia competente de uma banda a acompanhar. [6.5/10] FREDERICO FIGUEIREDO

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O HOMEM DA MOTOSERRA Ideias tristes em horas bizarras

A persiana (Por José Sócrates) Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, Mas com ar solene e lento entrou pelos meus umbrais, Buscou a minha mesa de trabalho onde se encontram os documentos confidenciais, Foi, pousou, e nada mais. E esta figura estranha e escura fez-me sorrir com amargura Com o solene decoro de seus ares rituais, libertei da sua prisão fluidos anais. “Estás porreiro pá?” “disse eu, “nobre e ousado, Ó famoso juiz das trevas infernais, Diz-me que estou livre de mais acusações injuriais” Disse o Juíz, “Nunca mais” Numa meia-noite agreste, quando eu lia o processo em riste, Longos esquemas com aldrabices ancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia O som de alguém que batia levemente na minha persiana “A CMTV, essa provinciana”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais. É só isto, e nada mais.” Apagar as mil mensagens do Salgado Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais! Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo, “É a CMTV; querendo descobrir o branqueamento de capitais” Um jornalista querendo ver mais que os demais.” É só isto, e nada mais”. E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, “Oh palhaço”, eu disse, “avio-te um supapo, que só não cais com sorte! Eu ia adormecendo a encobrir o freeport quando vieste batendo, Tão levemente batendo, em busca do branqueamento de capitais, Que mal ouvi…” Abri a persiana para espancar tais criaturas bestiais. Noite, noite e nada mais... Escancarei a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave e nobre Juíz dos bons tempos ancestrais.

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso Nem Zeinal nem Salgado me fizeram afrontas tais. “Maldito!”,disse, “temerás a minha ira! Queres mais do que me tiraste?” Do esquecimento, vale-te. Toma-o, esquece, com teus ais, O meu nome, e a urina que me escorre pelas pernas esculturais “ Disse o Juíz, “Nunca mais” “Meritíssimo”, disse eu, “caríssimo ou excelentíssimo. Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais, A este luto e a este meu degredo, a esta noite e este segredo, A esta casa de ânsia e medo, diz-me que não estarei só Que se fará a justiça divina que me afastará do Xilindró” Disse o Juíz, “Nunca mais”. “Que apanhes o covid, ou sarna, ou outra pior sorte, eu disse. “Parte!” Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais! “Deixa-me a mim e aos meus fados. Aos meus documentos falsificados” Prefiro ficar só e aterrado do que na prisão enrabado!” E o vulto saiu, embora não do meu peito. Apenas dos meus umbrais E levantar a persiana… Jamais!

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Image credit: Columbia Records

ALBUM

VERSUS TARANTUL A

«Thunder Tunes From Lusitania» (Larvae Records)

Foi com a curiosidade aguçada que recebi o convite da Larvae para assistir, em primeira mão, à audição do disco que celebra os 40 anos de carreira dos Tarantula. No entanto, fiz o que não se deveria fazer: fui com a ideia pré-concebida que iria ouvir um disco dos mestres lusos dedicado ao Rock mais musculado. Tal como disse na entrevista, fiquei ligeiramente decepcionado [Calma, ler até ao fim…], pois o disco começa, precisamente da forma que eu estava à espera – “The Voice Inside” e, principalmente, “The Flame is Still Alive” que é um tema que define muito daquilo que são os Tarantula a nível musical, não esquecendo a letra escrita por Jorge Marques que, para mim, é o melhor tema do álbum. A partir deste ponto o álbum como que (aparentemente) perde aquele fulgor inicial que tinha pré-concebido e no final fiquei com um certo “sabor” agridoce. No entanto, não sou gajo de desistir e “vendi cara a minha derrota”. Assim que tive um formato de melhor qualidade - CD neste caso – “afinei” os tímpanos e ouvi do disco de “fio-a-pavio”. Logo na primeira audição a tal ideia pré-concebida desapareceu e tudo começou a fazer sentido e à medida que ia repetindo, sim, é difícil não ouvir «Thunder Tunes From Lusitania» só uma vez, começou a brotar todo um manancial de pormenores, muita técnica, harmonias e camadas musicais. É, por isso, um disco que poderá precisar de uma audição cuidada e para o mais incauto ouvinte haverá aqui muitos tesouros ocultos para descobrir. Após várias (muitas!) audições cheguei à conclusão que «Thunder Tunes From Lusitania» é uma pérola sonora, estupidamente coerente e equilibrada na perfeição, pensada ao milímetro, com muita experiência e maturidade à mistura. Para o fim, que me desculpe o vibrato do Jorge ou a técnica e os arpeggios do Paulo mas… o som e a técnica do José Aguiar é o que mais gosto de ouvir neste disco e quase me dá vontade de abandoar e vender pratos, bateria e comprar um baixo – José Aguiar é um Mestre. Haveria melhor forma dos Tarantula comemorarem 4 décadas de tão rica carreira? O haver… havia e era logo no Vagos Metal Fest. Bardamerda para o Covid! [9.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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Provocadores

N

os primeiros álbuns foram conotados como “cópias” dos Tool, no entanto, com o passar do tempo e o evoluir da música, os Soen tornaram-se dignos e senhores do seu próprio estilo musical.

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Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro


Em primeiro lugar, espero que esteja tudo bem com vocês, família e amigos, em relação a esta coisa do COVID... espero que sim... Sim, até agora, estamos bem… Martin Lopez - Quando estava à procura de uma entrevista com o Joel, reparei que já te entrevistei aquando do álbum «Tellurian». Portanto, esta é a minha segunda entrevista contigo… :-) O álbum já saiu há algumas semanas. Como é que achas que as pessoas vão reagir? Acho que as pessoas que gostam de Soen vão realmente gostar deste álbum. É um álbum típico de Soen, mas melhor, não tentamos mudar muito, apenas quisemos concentrar-nos em fazer o que já sabemos fazer, mas melhor e muito bem. Acho que conseguimos isso. E também acho que “Imperial” é um óptimo álbum. Existem algumas discussões/ opiniões/ reclamações envolvendo a mistura/ masterização, como abordaram isso em «Imperial», comparando com «Lotus»? Há mais de 20 anos que lanço música e nunca lancei nada que as

pessoas não reclamassem. Existem sempre algumas pessoas que querem outra coisa: o som, a capa do álbum, as letras, etc. Só podemos ambicionar e pensar o que é o certo para a nossa música e a maneira como a fazemos. Temos de ser honestos com nós mesmos e este é o som que idealizamos e, para mim, isso é óptimo. Realmente, não consigo resolver nenhuma reclamação. Queremos, isso sim, um álbum mais orientado para a sonoridade, do que orientado para os instrumentos. Tenho a sorte de ter ouvido «Imperial» (embora por stream... assim como, os meus vizinhos) -a até já encomendei o vinil que espero ser assinado em Dezembro. Na minha humilde opinião, esta mistura não é melhor ou pior do que «Lotus», apenas diferente. Talvez, mas, apenas talvez o baixo pudesse estar um pouco mais alto. Tenho estado a ouvir no meu amplificador Pioneer, sem qualquer tipo de equalização, mas à medida que começo a ouvir mais e mais a mistura começa a fazer mais sentido. - Concordas com minha análise e que, basicamente, as pessoas

terão que se acostumar com o novo som? Não faço ideia. Sim, nós mudamos o nosso som em cada álbum porque procuramos escolher um som ou obter um som que se encaixe nas músicas que escrevemos para cada álbum? Acho que não. Será que devemos olhar para nós mesmos quando vamos escrever um álbum e pensamos que tipo de som queremos? Talvez façamos algo completamente diferente ou talvez permaneçamos igual?!... Não sei. É muito difícil saber. Penso que não devemos planear isso, devemos ouvir a música e seguir o nosso coração. Quando ouvi «Antagonist», a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: ah... a bateria não está comprimida. Fixe! Para mim, parecia bastante natural – é mesmo? Ou será que tenho de ir ao médico para verificar os meus ouvidos? Na verdade, eu não sei muito sobre isso, mesmo participando na mistura e tudo o resto, não posso dizer quem faz a mistura e não posso entrar nos detalhes sobre a música. Por exemplo, digamos que gostaria de ouvir mais as vozes de apoio ou o solo de guitarra

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Acho que as pessoas que gostam de Soen vão realmente gostar deste álbum. É um álbum típico de Soen, mas melhor [...] Foto: Inaki Marconi 40 / VERSUS MAGAZINE


ficasse mais alto. No entanto, como não domino essa área, ou seja, o que eu sei não é suficiente para dizer a tipos como o Kane Churko ou o David Castillo, que são profissionais nisso, simplesmente, digo-lhes que ouvi, gosto do som e pouco mais… Fizeste alguma alteração na bateria de «Lotus» para «Imperial»? Sim, alterei a bateria. No entanto, continuei com a mesma marca e modelo personalizado mas usei os timbalões um pouco mais grossos. No «Lotus» usei, penso eu, peles da Aquarian mas desta vez troquei para as Remo. E foi pouco mais que isso. A propósito, como é que afinas a bateria? Eu apenas afino os seus elementos, nada de especial. Mas não depende só de mim, também depende do som que desejamos obter, então tenho a ajuda da produção para afinar e obter exactamente o som que queremos. A afinação é muito sobre sentar na bateria e encontrar o som de que gostas. Ouvi todos os vossos álbuns em ordem cronológica e, para mim, se o «Lotus» foi mais melódico e directo, mas com alguns momentos pesados, acho que «Imperial» mudou para algo mais emocional e terno. – Concordas? Em caso afirmativo, houve algum motivo especial? Sim, concordo. É um pouco mais emocional. Acho que também é um pouco mais baseado em metal e um pouco menos progressivo. Relativamente ao aspecto emocional, não sei muito bem para onde vamos, mas estamos sempre à procura de emoções. É isso que amamos na nossa música e, quanto melhores escritores nos tornamos, mais emoções surgem na nossa música. – O que pretendem passar para as pessoas que ouvem «Imperial»? Como assim? No que diz respeito às letras?

… De um modo geral, quando as pessoas colocam o CD, vinil ou o que quer que seja para ouvir «Imperial», o que pretendem transmitir às pessoas? Nós tentamos inspirar e dar algo às pessoas… A maioria das pessoas sente que não faz parte deste mundo, pessoas que não concordam como as coisas estão, como o mundo actual está. Tentamos unir algumas ideias: devemos ter que ser melhores e desejar que as pessoas sigam as suas vidas; as corporações e os políticos não nos estão a alimentar; não devemos valorizar a felicidade pela quantidade de dinheiro que ganhamos, mas devemos valorizar a felicidade pela quantidade de amor que temos nas nossas vidas. Eu acredito que cada álbum é único. «Imperial» é o vosso melhor álbum? Sim! ... (risos) ... eu, realmente, acho que é. Li algures que «Lykaia» foi gravado apenas com equipamento analógico. Adoptaram a mesma abordagem em «Imperial»? Não. Em «Imperial» usamos alguns equipamentos analógicos, algo que usamos regularmente, e alguns equipamentos digitais, pois achamos que poderia ser melhor para o álbum. A última vez que falei com Joel, estávamos a falar sobre a música de Soen ser progressiva, ou não, e ele me disse algo como: “Já estamos muito velhos para impressionar”. – Compartilhas esta ideia? Sim! É uma ideia nossa. Não temos interesse em ser chiques ou mostrar mais habilidades técnicas. Queremos fazer música que faça sentir algo às pessoas. – Fazes música para ti ou para outras pessoas? Para mim… Não tem sentido fazer música para os outros. Procuro coisas que me façam feliz. Nunca conseguirei fazer todo o mundo feliz. É impossível. Temos que fazer as coisas para nós próprios e

esperar que os outros gostem. Tens alguma música favorita em «Imperial»? Porquê? ~ Dependendo do dia… (risos)… alguns dias, será «Fortune», hoje estou a pensar em «Lumerian». «Illusion» é uma extensão do «Lotus»? Talvez isso te lembre de algo, é o mesmo tipo de balada de rock, típica do Joel e Cody tocando guitarra… e fui eu que a escrevi, é praticamente o mesmo tema, mas liricamente uma não é uma extensão da outra. Além dessa coisa de masterização, há algumas outras mudanças em «Imperial», principalmente, na produção, na arte gráfica e, claro, Oleksii. – As vozes e a bateria foram produzidas por David Castillo, mas nem todos. Porquê esse tipo de abordagem? Bem, aqueles com quem trabalhamos têm estilos diferentes e tentamos trabalhar com quem consideramos que faça o nosso som melhor. Portanto, sim, nós alternamos na escolha: pensamos que algumas músicas devem ser com o David e outras com o Kane. Estamos todos no mesmo estúdio, e a escolha foi sobre a nossa intuição em cada momento em prol do melhor resultado. - … e quem produziu as restantes faixas? Iñaki Marconi – Em vez do Jens Borgen, foi o Kane Churko que misturou e masterizou o álbum. Porque escolheram o Kane e o que é que ele trouxe de novo para o álbum que fez a diferença? Kane mistura muito orientado para o som. É um indivíduo que não tem muitos sentimentos sobre todos os instrumentos ao redor; remove tudo o que está a atrapalhar a música. Conseguiu fazer com que se ouvisse a mensagem das músicas com clareza. – A arte gráfica é espectacular, pelo menos a capa do álbum. Como é que a capa, no geral,

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e a cobra, me particular, se relacionam com a música? Sim, claro que se relaciona! Tens que ler nas entrelinhas, o título sendo «Imperial» e a forma como vivemos hoje, mesmo que pensemos que somos livres, temos como que um império de media social e de grandes corporações a estabelecer como devemos viver as nossas vidas. A cobra não é ninguém em particular, de alguma forma, é bonita, mas também é perigosa: tudo o que temos nesta era tecnológica e outras coisas que estão a dominar completamente a nossa sociedade, são muito confortáveis para reagir. Se odeias algo, por exemplo, para reagir, basta fazer uma publicação no Facebook. Por falar em cobra – de quem foi a ideia de colocar aquela cobra gigante nos ombros do Joel (no vídeo clipe)? Minha... (risos) Odeias assim tanto o Joel? Era uma cobra enorme! Realmente, ele não sabia que tamanho tinha. Apenas falei com um elemento da produção e disse-lhe que queria uma cobra com o Joel. Quando ele veio para o estúdio, eu estava a sair porque não podíamos estar no mesmo lugar e disse-lhe: “Tenho uma surpresa para ti...” e então colocaram-lhe uma piton de 5 metros e o Joel, simplesmente, pegou a cobra e fez o vídeo sem hesitar. Muito impressionante! Tu odeias mesmo o Joel… (risos) Como descobriram o Oleksii e qual foi a sua contribuição para a música? O Oleksii? Acho que foi um amigo meu que me disse para pesquisar no Youtube, vi os vídeos e achei-o impressionante, tinha um ritmo incrível. Então, entrei em contacto com ele e disse-lhe que gostei muito do que vi e ouvi. Entretanto, conversamos, ele tocou para nós e gostámos. O resto é história! Bem, se algum dia precisarem de um baterista, podes ligar-me

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[«Imperial»] É um pouco mais emocional. [...] é um pouco mais baseado em metal e um pouco menos progressivo.

quando quiseres... (risos) Ok... Vou adicionar-te à nossa lista... (risos)

qualquer um destes instrumentos, irás verificar que ambos são igualmente difíceis.

Como sempre, as vossas letras são como poesia. Quem os escreveu e de onde foram buscar a inspiração? Joel escreveu as letras. Somos inspirados pela vida em geral, estamos a criar e a educar os nossos filhos e estamos a ter uma maior percepção de mundo em que vivemos e pensamos sobre as coisas que nos preocupam.

Eu vi as datas da vossa digressão e só têm dois dias na Suécia. Porque é que têm tanta dificuldade para tocar no vosso país? Não sei. A Suécia tem recintos de topo mas as pessoas estão espalhadas por um país muito grande. Esses dois recintos são os melhores para podemos dar concertos já com alguma envergadura.

Dei uma olhada nos títulos das músicas em toda a vossa discografia e apenas quatro músicas têm mais de uma palavra no título (incluindo também os álbuns). Existe alguma razão especial para tal simplicidade nos nomes? Sim, é uma espécie de convite ao ouvinte para entrar e descobrir do que estamos a falar, em vez de darlhe tudo já servido.

O que podemos esperar de vocês em Portugal, em Dezembro? Nós fazemos o que fazemos, tocamos as nossas músicas e conectamo-nos com as pessoas e esperamos divertir-nos. Cada vez que vamos a Portugal é mágico, tanto no Porto como em Lisboa. Na maioria das cidades, as pessoas acolhem-nos bem, mas Portugal e Itália têm sido os países onde nos tornamos primeiramente conhecidos. Por isso, temos algum tempo para os nossos amigos portugueses, sempre que regressamos ao Porto.

Podemos falar um pouco sobre seus projectos paralelos e algumas das tuas sessões como artista convidado, principalmente, com Amorphis e, claro, com Moonspell português, em 1755: - Que tipo de projecto é Fifth to Infinity? Tens planos de lançar outro álbum? Não. Não faço mais parte desse projecto. Actualmente, só estou a fazer algumas coisas com Amorphis e Moonspell porque, realmente, dou-me bem com o Pedro dos Moonspell e eles precisavam de um percussionista. - O que é mais desafiador: ser percussionista ou baterista? Depende do nível que desejas. Se quiseres tocar apenas uma parte da percussão, é fácil. No entanto, se aprofundares mais e mais em

Mas para a próxima vez que fores a Portugal e fizeres uma versão ao vivo do novo álbum tens de incluir duas músicas tocadas no Porto. Temos que incluir o quê? (Risos) - No álbum «Lykaia Revisited» têm duas canções gravadas em Lisboa. Por favor, da próxima vez, duas gravadas no Porto! Ah... Sim!!... É verdade... Vocês têm que gritar como as pessoas em Lisboa... (risos) Obrigado pela tua paciência... Obrigado pela entrevista e vemonos no Porto. Cuida-te. Facebook Youtube


A culpa é do cemitério… Por: Emanuel Roriz

Depois de vos ter contado a história de como o heavy metal chegou até mim, nos tempos em que se desconhecia o streaming ou até o download ilegal, vou voltar novamente atrás no tempo e relembrar o primeiro encontro com obras que deixaram marcas até aos dias de hoje.

O nome deste disco, Iowa, advém do facto destes 9 músicos serem oriundos desse estado inóspito, algures nos EUA, sobre o qual diziam não haver mais do que cabras e terra árida. Era estranho um nome assim. Imaginava como seria, se eu, um músico com exposição a nível mundial, decidisse intitular de Tibães, o meu segundo disco de originais. Fiquei absolutamente incrédulo quando ouvi o que o Corey berrava no refrão da faixa 2 deste disco. Mais ainda, aquelas palavras eram também o nome dessa canção. Uma equação matemática. Era, portanto, um dizer exacto. Para além da música que nos agradava, mas que desagradava a muitos mais, existiam estas palavras que

nos deixavam extasiados e novamente incrédulos. Como é que se atreviam eles? Quando encontrei um patch bordado, com o nome desta canção número 2, à venda numa loja do centro de Braga, não resisti a comprá-lo e a minha mãe lá fez o favor de o coser muito bem na minha mochila. A meio de uma aula de Ciências da Terra e da Vida, a mochila foi suavemente censurada pelo Professor. “De quem é esta mochila?”. Perante o abanar de cabeça reprovador foi melhor para mim não fazer mais do que assumir a pertença dessa. Foi também por esta altura que os Slipknot passaram por Vieira do Minho. Transformaram a Ilha do Ermal num verdadeiro Arraial Minhoto. Dançamos do início ao fim do concerto. Quando a meio quisemos trocar de sítio porque ali ninguém parava de dançar, foi ainda pior. Deste não me esqueço! Meses mais tarde, no Porto, tive a feliz oportunidade de privar com o Corey Taylor, quando este passou pelo antigo Hard Club com os seus Stone Sour. Na conversa após o concerto, pedi-lhe que o próximo álbum dos Slipknot fosse ainda mais pesado do que o Iowa. Ele respondeu-me “Trust me man, it’s gonna be brutal!”. Mentiu-me, este Iowa tinha deixado a fasquia demasiado alta.

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he Ruins of Beverast

De uma forma bem atual, esta banda veterana alemã transmite uma mensagem de condenação da atitude do ser humano em relação à natureza, que serve de pano de fundo ao seu último álbum: «The Thule Grimoires». Entrevista: CSA

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Saudações, Alexander! Espero que estejas bem. Alexander von Meilenwald – Bastante bem, obrigado. As coisas estão muito paradas por enquanto, estamos à espera de poder começar os ensaios com as novas canções, mas, como deves ter visto na comunicação social, a Alemanha não tem sido um exemplo perfeito de como enfrentar a pandemia, pelo menos se o vírus se recusar a obedecer à lei germânica. Portanto, temos de nos sentar e esperar, o que é extremamente aborrecido. O nome do álbum pareceu-me muito intrigante. O que são estes “Thule grimoires”? Dentro da história do álbum, são pergaminhos estrangeiros enterrados em terrenos baldios, que tratam da forma como o habitat humano está a perecer. De uma forma simbólica, eles são uma entidade virtual que representa as línguas da natureza, porque estes livros são um testemunho dos espíritos da natureza, que contam como estes puniram os humanos infratores, que confiavam demasiado na sua superioridade relativamente às leis e poderes da natureza e se sentiam invulneráveis devido a uma ideia abstrata de abrigo, que, de facto, não existia. Portanto, obviamente, temos aqui uma acusação fictícia dirigida a nós, humanos, falando de arrogância, escrita em livros virtuais da natureza. Este álbum tem alguma coisa a ver com o mito de Ultima Thule? Num nível metafórico, estão ligados. A fascinação científica pelo conceito de “Ultima Thule” assenta na impossibilidade de descobrir a sua localização. Bem, pelo menos para mim é, e é disso que fala o álbum. Thule era obviamente um pedaço da natureza inatingível para o Homem, um terreno de disputa intelectual, que acabou por iludir a ciência humana. E continua! Seguindo esta ideia, estabeleci esse conceito como um elemento central do álbum, que simboliza o espírito resistente e refratário dos

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poderes que nos rodeiam e que nos iludem, como espécie subordinada que somos. Como sempre negamos a nossa inferioridade em relação à natureza, pelo menos desde o nascimento das religiões monoteístas, desenvolvemos uma forma de competição. Prefiro falar de hostilidade contra a natureza – um conflito presente desde sempre nas letras de The Ruins of Beverast. Apesar de ser um membro da referida espécie, sempre alinhei pelo lado dos espíritos naturais. Porque lutar contra a natureza ou tentar ignorá-la é um esforço vão e fatal para qualquer espécie. E nós parecemos ser a única forma de vida que ainda acredita que isso é possível. E por que decidiste dar esse título ao teu álbum mais recente? Bem, o que tem o título de tão especial? Refere-se às ideias centrais de vários dos álbuns de TROB: aceitar o que és na terra e, sobretudo, o que não és. Limiteime a construir uma história em torno dessa ideia, que fala de uma espécie de documento escatológico de conteúdo fictício, ficticiamente situado num cenário semifictício, que trata do que está prestes a acontecer às formas de vida como a nossa que se comportam como nós nos comportamos. Contudo, TROB é, antes de mais e acima de tudo, um projeto artístico, não um projeto político, portanto, como é óbvio, eu tenho tentado encaixar os conteúdos factuais do álbum numa dada forma de estética musical e lírica, como sempre fiz. Espero que a tua pergunta não esteja relacionada com boatos difundidos na internet segundo os quais alguns peritos dão a este título uma interpretação que o relaciona com ideias políticas de direita. Não gosto de comentar ideias disparatadas vindas de pessoas que não têm a mínima noção de quão enganadas e mal informadas se encontram. Podes comentar a relação entre este álbum e os seus predecessores? Como já fizeste

imensos lançamentos, deves ter muito que dizer sobre este tópico. Achas? Na realidade, nunca relaciono os álbuns de TROB uns com os outros, nem os comparo, porque isso equivaleria a fazê-los competir entre eles e me daria uma sensação de ter a expetativa de me superar sempre a mim próprio e eu detestaria preocupar-me com tal coisa. De uma forma nada romântica, cada álbum de TROB corresponde a uma imagem pessoal do tempo que decorreu entre o álbum anterior e a gravação do que está em curso. Posto isto, eles são todos capítulos fechados e entidades autocontidas e fornecem e alcançam todos a mesma coisa. O período de tempo descrito por «Exuvia» (2017) foi muito intenso e teve um impacto forte na composição deste álbum e o mesmo acontece com «Unlock The Shrine» (2004). Mas, numa perspetiva meramente musical, isso não significa necessariamente que sejam melhores que os outros álbuns. «The Thule Grimoires» acompanharam um tempo tão intenso como o de «Exuvia», mas mais positivo. Mas eu não podia prever isso e não fiz nenhuns planos para que isso acontecesse ou não com «Exuvia» ou o inverso. Limitei-me a sentar-me e a escrever canções, como faço quase sempre. Muitas pessoas parecem pensar que «The Thule Grimoires» é um álbum mais “direto” que «Exuvia» e eu concordo com essa ideia. E, desse ponto de vista, o novo álbum está talvez mais próximo de «Foulest Semen Of A Sheltered Elite» (2009), que eu considero ser o álbum de mais “fácil” acesso de TROB até à data. Mas isso não aconteceu intencionalmente, apenas aconteceu. Quanto à estética e às cores, vejo-o como o mais próximo de «Rain Upon The Impure» (2006), que também tinha uma vibração profunda como este e pintava paisagens nas suas canções, mas as suas letras eram totalmente diferentes. As letras deste estão mais próximas das de «Exuvia». No entanto, «The Thule Grimoires» também está próximo de «Blood


Vaults» por serem os únicos álbuns concetuais na história de TROB. Mas todas estas ligações podem significar tudo ou nada e não foram de modo nenhum orquestradas. E realmente eu não considero que seja necessário situar cada um dos álbuns num mapa abstrato dos lançamentos de TROB. A música do álbum é assaz hipnotizante. Há alguma relação entre isto e o tema do álbum? Tento sempre criar uma relação estreita entre as letras e a música e isso não mudou no novo álbum.

Portanto, o que acontece é que as canções representam uma certa paisagem e os seus habitantes. Por exemplo, “Ropes Into Eden” conta uma história que se passa no mar profundo e que quase segue uma dramaturgia cinemática e todas as canções se referem a um dado espaço vivo e assim enchem os livros de que eu falava acima. Traduzir imagens cinematográficas em música por vezes exige uma intensificação de modos e cores e isso pode conduzir a repetições e estruturas hipnotizantes.

A atmosfera criada pela tua música lembra-me filmes mudos alemães como os de F. W. Murnau com atores como Max Schreck e Emil Jannings. Podes comentar esta ideia? A associação é interessante e vejo-a como um elogio. Se esta música evoca visões de suspense antigo e surreal, casas bolorentas e uma estética estranha, isso significa muito mais do que apenas experimentar melodias e ritmos. «The Thule Grimoires» não trata exatamente disso num sentido contextual, mas a atmosfera e as

[…] temos aqui uma acusação fictícia dirigida a nós, humanos, falando de arrogância, escrita em livros virtuais da natureza

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cores têm a mesma origem. De facto, quando escrevi “Kromlec’h Knell”, estava a tentar captar um pouco do sentimento de horror que associamos às mansões vitorianas, como o que vemos nos velhos filmes da Hammer dos anos 60. Portanto, de facto, pode haver algum ponto de contacto com a poeira dos filmes antigos e a ideia agrada-me. A capa «The Thule Grimoires» é uma ilustração clássica de Black Metal. Quem a fez e o que pretendia o artista exprimir? Bem, não é uma ilustração, são fotos trabalhadas. Foi eu que as tirei, mas a composição final do artwork foi feita pela minha namorada, porque eu não tenho competências em design. Tu és a primeira pessoa a vê-la como uma ilustração, mas, na verdade, pretendia-se que surgisse como algo de natureza fotográfica,

que congregasse em si as partes essenciais do álbum, ou seja o terreno baldio não identificado e os espíritos da natureza unidos pelo templo dos elementos. A Ván Records sublinha a ideia de que TROB é uma banda que gosta de subir ao palco. Como isso é neste momento, não te ocorreu fazer concertos em streaming? Não. Não deve ser segredo o facto de que sou uma pessoa reservada no que toca à relação entre a música e a internet, por várias razões, mas esse nem é o maior problema. Não somos uma banda que faz concertos ao vivo como uma rotina inerente à vida de um músico. Gosto de inalar o momento e de enlouquecer. Portanto, preciso do pacote todo para me poder portar mal, de um palco peganhento e mal cheiroso, de toda a sujidade inerente ao Rock’n’Roll. E, sobretudo, preciso do público,

de barulho e de alguma ação que represente uma reação ao meu barulho e ação. Tem de acontecer alguma forma de comunicação. Portanto, se não houver nada disso, não vou fazer um concerto. É essa a principal razão. Além disso, não me parece que esteja interessado em fazer um espetáculo que dependa da estabilidade da internet. Assisti a alguns concertos em streaming de outras bandas, em que o espetáculo nunca mais começava ou ficava parado ao fim de algum tempo e isso pareceu-me completamente absurdo. Isso não tem nada a ver com aquela sensação suja de que precisamos nos dias de concertos. A música é uma espécie de magia e eu não vejo magia nenhuma nessas situações. Facebook Youtube

THE RUINS OF BEVERAST «The Thule Grimoires» (Ván Records) “Ropes into Eden”, a empolgante faixa de abertura desta última criação dos The Ruins of Beverast pode deixar a impressão que Alexander von Meilenwald, o multi-instrumentista por detrás desta singular entidade germânica, resolveu recuar uma década para re-capturar o seminal espirito black/doom de «Foulest Semen of a Sheltered Elite»(2009) ou «Blood Vaults»(2013). Mas essa ideia desaparece rapidamente à medida que mergulhamos a fundo neste sexto longa-duração. Na verdade, embora fiel à sonoridade monolítica e absolutamente monstruosa que von Meilenwald tem vindo a conjurar desde 2003, «The Thule Grimoires» é um trabalho musicalmente mais próximo de experiências mais recentes como «Exuvia», como o demonstram, por exemplo, os arranjos corais entoados como mantras em “The tundra shines”, a voz feminina de linhas étnicas que aparece em “Anchoress in furs”, e toda a sorte de efeitos vocais e samples que contribuem decisivamente para criar a atmosfera fantasmagórica que atravessa todo o disco. Embora dê bom uso ao seu tom vocal áspero, von Meilenwald favorece aqui o seu versátil registo limpo (por vezes a fazer lembrar o saudoso Peter Steele), brilhando nas evocações esotéricas de “Mammothpolis” e reforçando, também, a já de si deslocada atmosfera gótica, e estranhamente melódica, de “Kromlec'h knell”. De realçar o seu estilo característico de percussão, desta vez ainda mais criativo. «The Thule Grimoires» é um trabalho conceptual, uma obra complexa de proporcões gigantescas, que se aventura por territórios musicais inusitados, podendo soar eventualmente dificil ao primeiro contacto. Aconselha-se uma abordagem sem ideias preconcebidas sobre o que esperar dos The Ruins of Beverast. [8/10] Ernesto Martins

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Da Lusitânia, com estrondo São uma verdadeira instituição do Heavy Metal nacional e um orgulho para a música portuguesa em termos gerais. Comemoram este ano quatro décadas de carreira, a serem comemoradas com muitas novidades: um álbum novo, Thunder Tunes from Lusitania; a edição em CD da estreia homónima e de Kingdom of Lusitania; bem como um DVD e CD ao vivo, além de um documentário sobre o percurso da banda. Tudo com chancela da Larvae Records. Após 10 anos de espera não há fome que não dê em fartura, pelo que se impunha uma entrevista com a banda. Entrevista: Dico & Eduardo Ramalhadeiro

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Só no Light Beyond the Dark chegámos à maturidade enquanto compositores e músicos

Eduardo - Pelo que se viu na sessão de apresentação, estavam todos de boa saúde. Sendo assim, parabéns por este tão ansiado regresso – o disco está excelente. No entanto, vou servos muito sincero: quando ouvi o álbum no âmbito desse evento fiquei chateado com vocês! [risos] Apesar de achar que, no geral, a música estava “top-notch”, em particular após ouvir «The Flame is Still Alive», a minha expectativa era que o disco seguisse a direção desse tema, que achei demasiado… soft. No entanto, não sei se terá sido da qualidade do streaming, agora que ouvi o álbum em condições tudo me faz sentido. Das sucessivas audições começa a brotar todo um manancial de pormenores, muita técnica, harmonias e camadas musicais. Para o mais incauto ouvinte há aqui muitos tesouros ocultos para descobrir. Dico & Eduardo – Assim, o facto de fazerem um álbum que, apesar de deambular para Rock, não é tão direto quanto possa parecer foi algo natural ou ponderado? Paulo Barros [PB] – Antes de mais, obrigado pelas vossas palavras! Os Tarantula gravaram o primeiro disco ainda muito verdes e com defeitos de toda a espécie e no Kingdom of Lusitania ajustámonos um pouco ao Power Metal

(Paulo Barros)

Germânico. Nos anos 90 o Heavy Metal praticamente morreu ou foi remetido para o Underground. Em 1993 lançámos o Tarantula III, em que 80 por cento dos temas pertencem ao universo do Hard Rock Melódico e os restantes ao Heavy Metal. No Freedom’s Call melhorámos aspetos que correram mal no Tarantula III, embora o álbum se enquadre no mesmo género. Ainda antes de assinarmos pela AFM Records para editar o Light Beyond the Dark um amigo nosso que ouviu os temas disse-nos que só naquela altura teremos conseguido produzir Heavy Metal com a nossa própria personalidade, embora sem descartar influências. Julgo haver nesse álbum pormenores de todos os discos anteriores, algo que se repetiu nos registos subsequentes. Nos primeiros quatro álbuns ainda estávamos à procura do nosso próprio estilo. Por vezes, comparo a nossa situação à dos Loudness (Japão), aos Pretty Maids (Dinamarca), Gorky Park (Rússia), aos Medina Azahara (Espanha) ou, mais recentemente, aos Myrath (Tunísia) e também à maioria das bandas suecas… Grupos oriundos de países ditos exóticos agregam vastas influências. Para o bem e para o mal, nós demorámos bastante tempo a obter um produto com pés

e cabeça. Além disso, quanto mais tecnicistas são os músicos mais difícil se torna criar um produto acessível e com qualidade, porque, dentro do nosso género musical, a maior parte dos músicos tende a praticar Metal Progressivo e, por conseguinte, a complicar demasiado as estruturas, a composição, etc. Para nós nunca foram importantes as classificações, mas arriscaria dizer que os Tarantula praticam, em 2021, Heavy Metal Melódico Moderno. No entanto, concordo com a tua abordagem, Eduardo, pois os temas do nosso mais recente álbum apresentam uma complexidade harmónica e rítmica de relevo para que se classificasse a nossa música apenas Rock ou Heavy Metal. Dico – A ideia que transparece é a de um álbum pensado ao milímetro em todos os aspetos. Foi mesmo assim ou o processo afigurou-se mais orgânico? Jorge Marques [JM] – A tua observação é interessante. O processo criativo deste álbum não foi muito diferente do habitual. Cada um fez a sua parte tranquilamente, sem pressões, fluindo tudo naturalmente, num reflexo da experiência e maturidade adquiridas ao longo dos anos. Se há algo que ponderámos bem neste álbum foi o

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Se há algo que ponderámos bem neste álbum foi o alinhamento das músicas, o que não constituiu tarefa fácil, atendendo à diversidade das composições.

alinhamento das músicas, o que não constituiu tarefa fácil, atendendo à diversidade das composições. Talvez seja essa sensação de equilíbrio que transpareça. Julgo que este é um álbum equilibrado. Os temas complementam-se, sem que haja uma descaracterização do nosso ADN musical ou algum tema se sobreponha aos demais. Daí o título Thunder Tunes from Lusitania, por acharmos que define bem o conteúdo do álbum. Eduardo – Coloquei-vos esta questão na sessão de audição do álbum, mas volto a coloca-la, desta vez com a pergunta dividida em duas partes: mudaram algo na vossa forma de pensar e

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(Jorge Marques)

fazer música, nestes tempos de pandemia, por um lado; e, por outro, de uma forma geral, o que mudou do Spiral of Fear para Thunder Tunes from Lusitania com 11 anos a intermediá-los? PB – Não houve mudanças significativas porque os temas já estavam compostos dois anos após o lançamento do Spiral of Fear, mas admito que houve preocupação em juntar a afinação das guitarras do Spiral com riffs mais na base do Metalmorphosis, sustentados na abordagem de canção do Dream Maker e do Light Beyond the Dark. Houve neste álbum alguma preocupação em complicar um pouco mais a composição, mas sem ir em direções progressivas

ou tornar os temas de difícil assimilação. Eduardo – Agora que já ouvi o Thunder Tunes from Lusitania algumas dezenas de vezes, deve ser o álbum mais… coerente e coeso que ouvi nos últimos tempos. Não posso dizer que haja um músico que sobressaia, mas não sei se gosto mais do baixo do José Aguiar, que por vezes parece “atirar” deliberadamente as cordas contra os pick-ups e os trastos, muito ao estilo do Steve Harris; se dos arpejos do Paulo, por exemplo. Tudo isto requer muita técnica e anos de prática. Sendo assim, quanto tempo demoraram a desenvolver a vossa


técnica ao ponto de se sentirem confortáveis com a vossa forma de tocar? PB – Os músicos estão sempre a aprender, mas temos que trabalhar muito, e ainda mais na nossa idade, como deves imaginar, para manter um bom nível. Apesar de já termos um elevado nível técnico na época do Kingdom of Lusitania ainda era tudo muito forçado. Éramos muito jovens e inexperientes. Só no Light Beyond the Dark chegámos à maturidade enquanto compositores e músicos. Isso acontece quando pões num disco aquilo que consegues executar ao vivo com alguma tranquilidade. Nos anos 90 muitos músicos gostavam de nos ver ao vivo porque desenvolvemos capacidade de improviso nos nossos próprios temas. Recentemente, nos Estados Unidos, fomos reconhecidos por promotores de músicos famosos como sendo uma banda com algo de original a oferecer. Claro que isso nos dá a responsabilidade de trabalhar mais ainda. Dico – Como já dissemos, mais de uma década separam Spiral of Fear e Thunder Tunes From Lusitania. Durante este tempo os elementos da banda estiveram bastante ocupados com os seus afazeres profissionais, espetáculos em solo nacional e internacional e atuações a solo do Paulo, tendo partilhado grandes palcos com importantes nomes do Rock e do Heavy Metal internacionais. Falem-nos destes aspetos em particular. PB – Sim, ao longo da nossa carreira atuámos com banas e artistas importantes como Deep Purple, Motorhead, Manowar, Hellowen, Testament,Symphony-X, Kamelot, Stratovarius, Slash, Joe Satriani, Gamma Ray, Nile, Iced Earth, In Flames, Blaze Bailey, Doro Pesch, entre outros. Claro que isso também faz parte da aprendizagem. De igual forma, os meus álbuns a solo também nos abriram muitas portas, na medida em que alguns se dirigiram a um público que, embora não sendo necessariamente fã de

Heavy Metal, gosta de Hard Rock, de música mais easy-listening, abordagem em que a minha produção a solo se enquadra. Como deves imaginar, crescemos a ouvir música Rock desde os anos 70, portanto apanhámos muitas influências dessa época, também. De resto, continuamos a dar aulas e a produzir outras bandas. O Jorge mante-se sempre a pintar e a expor quadros e o Luís tem estado na Direção técnica do Coliseu do Porto. Isso também nos ocupa muito tempo, imaginas. Dico – Entretanto, a banda começou a preparar a reedição dos dois primeiros álbuns e o lançamento de um documentário + concerto em DVD + álbum ao vivo, tudo registos a lançar no final do ano. Como surgiu a ideia para estes projetos? PB - Ao longo destes anos fomos registando muito material que, penso, tem interesse na história da banda. Para assinalar os 40 anos resolvemos editar todos estes formatos para os fãs guardarem. Julgo que ficarão surpreendidos com muitos episódios de bastidores e relatos de acontecimentos caricatos e engraçados. Em princípio, as reedições dos primeiros dois álbuns serão apenas em CD e finalmente vamos ter um álbum e um DVD ao vivo. A razão é simples: só há poucos anos foi possível gravar em boas condições. Dico – Em entrevista exclusiva do Paulo à Versus Magazine em dezembro de 2019, ele dizia que optaram por deixar nas gravações do espetáculo incluso no DVD (em que interpretaram na íntegra o Kingdom of Lusitania) “os enganos de execução” e “as gafes”, sublinhando que “não haverá overdubs”. Esta é uma decisão louvar numa banda com executantes de excelência como os Tarantula. Decidiram fazer a diferença num tão vasto universo de registos ao vivo cuja esmagadora percentagem beneficia de “retoquezinhos mágicos”?

PB – O DVD foi gravado no festival Laurus Nobilis e está cru, sem qualquer arranjo ou retoque, mas o CD cd ao vivo foi retocado no som. Ao vivo somos muito old school, não usamos track ou playbacks. Temos um som muito true, pois ouves somente uma guitarra, um baixo, uma bateria e vozes. Dico – A banda concentrou-se ainda na composição do novo álbum que, segundo declarações exclusivas do Paulo nessa mesma entrevista à Versus, já se encontrava totalmente composto e pronto a gravar, mas que dizia não prometer que fosse “realmente feito ou mesmo lançado”. O que é que presidia a esta incerteza? JM – Na altura, devido a compromissos de vária ordem não foi possível obter a total disponibilidade de alguns elementos. Gravar requer algum tempo, portanto, só avançámos quando se reuniram as condições necessárias para tal. Nada foi, alguma vez, forçado. Aconteceu quando tinha que acontecer. Dico – Entretanto, a Larvae Records surgiu como vossa nova editora. Quem chegou a quem e de que forma decorreu o processo? PB – O Zé Pedro da Larvae contactou-nos para reeditar os primeiros álbuns e lembrámonos de lhe perguntar se estaria interessado em editar os outros trabalhos que tínhamos em agenda para este ano. Ele disse prontamente que sim e aqui estamos. Somos amigos de longa data e a Larvae está a desempenhar um papel importantíssimo dentro da cena Heavu Metal deste país. Dico - O actual contexto pandémico envolve uma grande incerteza e adaptação de todos nós. Além das edições de que já falámos, que planos existem para os Tarantula no âmbito da pandemia e no pós-pandemia? JM – É verdade. Vivemos tempos difíceis e, como disseste, temos

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de nos adaptar da melhor forma possível. Temos esperança que a situação melhore, mas não depende só de nós e, como se sabe, a arte nas suas mais diversas vertentes tem sido dos setores mais afetados. Neste momento, além de termos lançado os singles «Storm» e «The Flame Is Still Alive», que antecedem o lançamento do álbum no dia 1 de maio. Encontramo-nos igualmente a preparar alguns conteúdos que servirão de apoio à promoção e divulgação. Quanto a espetáculos, temos o Vagos Metal Fest no dia 30 de julho. Outros há ainda com data

por definir por razões óbvias. Entretanto, podem consultar a nossa página oficial (https:// tarantula.pt/) e a página do Facebook (www.facebook.com/ Tarantula.Official), onde terão acesso a todas as informações e novidades. Eduardo – O álbum foi todo gravado, misturado e masterizado no vosso estúdio [Rec’N’Roll]. Não sei se já ouviram falar da Loudness War, mas há uns tempos entrevistei o Dan Swano acerca disto - http://www.metal-fi. com/man-talks-loudness-war/

- e eu como sou um gajo dado (e curioso) a estas coisas, gostaria de saber como abordaram estas características, volume de som Vs dinâmica, neste álbum. Luís Barros [LB] - Infelizmente, a "loudness war" é um mal necessário. Por vezes, pode mesmo arruinar um disco, quando não se sabe o que se está a fazer. O mais importante é não retirar a dinâmica ou a sua perceção. No entanto, há algo bem mais preocupante, que é a assustadora perda de referências. Há muita gente que, hoje em dia, apenas "ouve" música no telemóvel, mesmo que disponham, em casa,

Muita gente não faz a mínima ideia do que é um produtor. Há quem julgue que é o fulano que gravou ou misturou aquilo. Esse é o engenheiro de som. (Luis Barros)

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de sistemas hi-fi decentes, capazes de reproduzir com muito melhor qualidade. O digital tem imensos problemas no que diz respeito ao detalhe. O sustain (prolongamento) dos instrumentos é, por vezes, seriamente afetado. O mesmo sucede com a reverberação ou espacialidade. Há, também, hoje em dia, uma enorme tendência para nos tornarmos reféns da utilização de plugins, simuladores, etc., tornando tudo muito igual e despido de caráter. Posso dar como exemplo a gravação de guitarras. Pessoalmente, continuo a gravar com amplificadores, colunas e, pelo menos, 3 microfones diferentes. É a única forma de obter um som verdadeiramente orgânico. É uma receita fantástica, se tiveres um bom guitarrista. Outro instrumento que não se dá bem com o processamento digital são os pratos de bateria. Incomodame profundamente ouvir uma gravação em que os pratos se prolongam por breves instantes ou melhor não se prolongam de todo. De repente, parece que tens um cobertor em cima da bateria e há quem ache isso normal. Talvez nunca tenham ouvido um prato a soar. De qualquer forma, tudo isto são ferramentas. O mais importante é que tenhas gente que realmente saiba tocar bem e compor de forma a tirar o melhor som dos instrumentos. Sem isso, nada feito. Eduardo – Algo que também suscita a minha curiosidade: vocês usam metrónomo tanto em estúdio como ao vivo? LB - Em estúdio sim, quase sempre, dependendo dos temas. Ao vivo, nunca. Não fazemos playback com backing tracks e o baterista parece ser competente [risos]. A nossa abordagem sempre foi baseada na naturalidade da interpretação, em cada momento. Acho que é isso que as pessoas querem ouvir num concerto. Para ouvir o que está no disco, recorrendo a playback, então será melhor ficar em casa e ouvir o disco.

Eduardo – …e mais uma vez para fazer um pouco de serviço público – vocês recomendam às bandas começar a tocar com metrónomo ou seguir os instintos? LB - Isso é muito relativo. Depende do estilo e depende muito da competência do baterista, que, normalmente, é o relógio. Para gravar, a utilização de metrónomo é, normalmente, essencial. Se quiseres trabalhar com loops, é obrigatório. Mas, repito, está muito dependente do género musical. Apenas posso dizer que devem ser capazes de tocar com ou sem um click track. Na altura de gravar, a decisão deverá ser sempre do produtor. Afinal, é ele que manda. Eduardo – Vocês têm o Estúdio/ Escola Rec 'n' Roll e devem receber muitas bandas para gravar e produzir. Já vos aconteceu recusarem um trabalho pela falta de qualidade da banda? LB – Sim. Não se pode aceitar tudo, independentemente do retorno financeiro. Mas posso dizer-te que já fizemos algumas coisas com muito sacrifício. Acho que a falta de qualidade é algo subjetivo. Incomoda-me mais a atitude de certos “músicos”. Muita gente não faz a mínima ideia do que é um produtor. Há quem julgue que é o fulano que gravou ou misturou aquilo. Esse é o engenheiro de som. O que acontece, é que, muitas vezes, são a mesma pessoa. O produtor é o realizador do filme, os músicos são os atores. Agora imagina um filme com um elenco de luxo, mas sem realizador. Algo vai garantidamente correr mal. Ou imagina um ator que não ouve o que o realizador lhe diz… provavelmente também algo correrá mal. Ou seja, já gravei muitos trabalhos em que colocaram o meu nome como produtor e eu não produzi nada. Apenas fiz a melhor das misturas, dentro do tempo disponível. Acima de tudo, tens de ter uma relação de confiança e alguma maturidade ou o processo acabará numa guerra de egos com todos à “cabeçada”.

A única certeza que tenho é que o produtor é a única pessoa que sabe, desde o primeiro dia, qual será o resultado final de um disco. Eduardo – Os Tarantula estiveram uns anos ligados à AFM Records e, nesse tempo, trabalharam com o Tommy Newton, que uns anos antes produzira os Keepers dos Helloween. Se estou a ver banda a ser produzida pelo Tommy eram vocês. Ainda se lembram como surgiu essa oportunidade e como foi trabalhar com um produtor que não o Luís? LB - Foi uma experiência magnífica. O Tommy foi a nossa primeira escolha. Encaixava como uma luva. Havia outro nome, muito em voga na altura, mas percebemos que o conceito estático não era o mais adequado aos Tarantula. Tens de ter confiança no produtor, deixálo trabalhar e o Tommy é uma pessoa extremamente perspicaz. Já conhecia o nosso trabalho e soube qual o caminho a tomar para retirar o melhor da banda. Acima de tudo, foi um olhar fresco e imparcial, o que nos ajudou imenso. Uma coisa é haver um elemento da banda a dirigir, outra coisa é haver um elemento exterior, mas que fala a mesma linguagem. Isso credibilizou-me imenso no seio da banda e fê-los perceber que, afinal, os métodos não eram assim tão diferentes… A partir daí, fiz o Metalmorphosis quase a meias com o Tommy e passei a ser respeitado dentro da banda! [risos] Dico & Eduardo - Os Tarantula cumprem este ano 4 décadas de carreira. Que balanço fazem deste longo percurso? LB - Não sei o que dizer… A sensação é maravilhosa. É fantástico chegar aqui, com toda a dignidade e coerência que nos é reconhecida. Acima de tudo, é desfrutar de um verdadeiro sucesso de carreira e perceber, com inteligência, o que isso é. Quando a postura é outra, podes achar que tens sucesso só porque és famoso, mas a fama passa, o respeito não. Vivemos momentos

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terríveis, de enorme desilusão e frustração como resultado da enorme injustiça e desonestidade que tantas vezes assola este meio. Mas “como os cães ladram e a caravana passa” nunca quebrámos, nunca nos vendemos e, acima de tudo, fomos ser coerentes connosco próprios e com os nossos fãs. São eles que mais merecem a nossa gratidão. Foram eles que nos proporcionaram os melhores momentos. JM - Em primeiro lugar, sintome privilegiado por ter tido a oportunidade de fazer parte desta maravilhosa família que são os Tarantula, de viver momentos únicos e inesquecíveis, de partilhar o palco com grandes músicos, de sentir o carinho e o apoio dos fãs e toda a magia de estar em palco. Enfim, faltam-me as palavras para

dizer o quão grato me sinto. Não me esqueço dos bons e dos maus momentos por que passámos. Nunca nos deslumbrámos com o sucesso e tentámos sempre lutar contra as adversidades, de forma digna. Não foi fácil chegar até aqui, mas há aquele sentimento de que fizemos o nosso melhor, com defeitos e virtudes, mas sempre com toda a honestidade, paixão e entrega. Dico - Querem referir dois aspetos particularmente marcantes da vossa carreira, um pela positiva e outro pela negativa? PB - De positivo as primeiras partes dos concertos dos Deep Purple, de negativo o atrofio da Polygram portuguesa para não promover nem querer internacionalizar o

Kingdom of Lusitania depois de uma editora alemã ter manifestado interesse na banda. Eduardo - Que conselhos dão às bandas e aos músicos que estão a começar a aprender a tocar? PB - Sigam o vosso caminho a fazer aquilo de que mais gostam, estudem bem o vosso instrumento e façam-no ao mais alto nível, porque não faltam por aí grandes músicos. Tenham o espírito aberto para albergar tudo o que de bom e de mau vem pela frente. Se ganharem 100 gastem só 10. Não desbaratem. Tenham humildade, mas não canina, respeitem quem trabalha e, acima de tudo, DIVIRTAM-SE!!!!! Facebook Youtube

Voz ao fã Nuno Dawn Psytrance [NDP] - Tendo em conta o panorama mundial, conseguirá uma banda viver apenas da sua música em Portugal, o que já antes da pandemia era difícil? JM - Sinceramente, não sei. O cenário não é nada animador, sejamos músicos ou outra coisa qualquer. Esta situação é global e afeta todos os setores da sociedade a uma escala sem precedentes, o que torna tudo ainda mais complicado e imprevisível. Nunca foi, nem nunca será fácil viver da música em Portugal, e estes tempos que atravessamos só pioram as coisas. Mas devemos ter esperança. Quero acreditar que melhores dias virão. Espero que, dentro do possível, haja um um regresso à normalidade. NDP - Além da resiliência, que mais trunfos deve uma banda possuir para se manter ativa tantos anos como os Tarantula? PB - Ter alguma sorte e haver muita amizade entre os elementos. Amar a música mais do que tudo, ter um estilo de vida saudável, compor de forma inteligente, reagir bem às críticas negativas e aprender com isso, ter uma imagem muito cuidada…há tanta coisa…Criar um estilo próprio, fazer uma boa gestão financeira, cuidar bem do corpo e da mente, estudar bem o instrumento e ser humilde. Sim, devemos perceber quando ultrapassamos os limites e começamos a “meter nojo”. Essa é a altura certa para enfiar a cabeça debaixo de água. Além disso, devemos compreender os defeitos de cada membro da banda e, acima de tudo, respeitar quem trabalha na nossa área.

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Playlist Adriano Godinho

Gabriel Sousa

Symphony X - Paradise Lost Blindfolded And Led To The Woods - Nightmare Withdrawals W.A. Mozart Symphonies

Harem Scarem - Mood Swings Moonspell - Hermitage Chez Kane - Chez Kane Stan Bush - Dare To Dream Joker - Ecstasy

Carlos Filipe Therion - Leviathan Efémero - Movimento Efémero Do Cosmos Empyrium - Über Den Sternen Moonspell - Hermitage Deamonarch - Hermeticum Bathory - Twilight of the gods

João Paulo Madaleno Exanimis - Marionnettiste Dvne - Etemen Ænka The Chant of Trees - The Chant of Trees Wolfheart - Skull Soldiers [EP] Becoming The Archetype - I am

Cristina Sá

Helder Mendes

Harakiri for the Sky – Maere Hoofmark – Evil Blues Hyrgal – Fin de Règne Moonspell – Hermitage Perennial Isolation – Portraits The Legendary Tigerman – Femina

Paradise Lost - Gothic Igorrr - Spirituality and Distortion The Gathering - Home Simbiose - Fake Dimension Brujeria - Raza Odiada

Eduardo Ramalhadeiro

Hugo Melo

Korpiklaani - Jylhä Amorphis - Under the Red Cloud Orden Organ - Final Days Soen - Imperial Ozzy Osbourne - Bark at the Moon Dire Straits - Alchemy Live

Devin Townsend _Devolution Series 1 - Acoustically Inclined Moonspell - Hermitage Les Chants de Nihil - Le Tyran et L’Esthéte Anneke Van Giersbergen - The Darkest Skies Are The Brightest Sodom - Genesis XIX

Emanuel Roriz

Ivo Broncas

Moonspell - Hermitage The Crown - Royal Destroyer Carcolh - The life and works of death The Clash - Hits Back The Stooges - Funhouse

Megadeth - Rust in Peace Alice in Chains - Dirt Ozzy Osborne - Ordinary Man Deftones - Ohms

Ernesto Martins Empyrium - Über Den Sternen Les Chants de Nihil - Le Tyran et L’Esthéte Pink Floyd- Wish You were Here Paranorm - Empyrean Unfleshed - Twisted Path to Mutilation

Nuno Lopes Melvins - Working With God Tomahawk - Tonic Immobility Age of Woe - Envenom Harakiri for the Sky - Maere Nature Morte - Messe Basse

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“Painkiller” do Folk Os Korpiklaani regressaram com um novo álbum, «Jylhä» e como sempre a inspiração folk manteve-se, no entanto, há algumas surpresas bastante agradáveis. O folk está vivo e recomenda-se. Entrevista: Eduardo Ramalhadeiro | Fotos: Peero Lakanen

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Olá! Antes de qualquer coisa mais, espero que tudo esteja bem contigo e com os teus. Após 11 álbuns, 21 anos e vários membros és o único membro original da banda. Como descreves a tua viagem com os Korpiklaani? Jonne Järvelä - Muito obrigado. Tem sido uma viagem atribulada. Muitos dos meus sonhos de criança tornaram-se realidade e estou muito feliz que, após 11 álbuns, ainda nos seja possível aprender coisas novas e crescer como banda. Não tivemos de fazer compromissos e estamos a fazer a música que gostamos. Pode não ser para todos, mas também não existe nenhum tipo de música que agrade a todos, pelo que haveríamos de o tentar? O melhor é sermos verdadeiros com nós próprios e fazermos a música que gostamos e que nos toca. Com sorte, há sempre a possibilidade de tocar outras pessoas. Dos 11 álbuns que têm, onde é que este se insere este «Jylhä»? É o vosso melhor trabalho? Dada toda a situação e restrições da pandemia, tiveram de mudar alguma coisa nas gravações? Tivemos a possibilidade de colocar toda a nossa atenção nas gravações. Antes tínhamos de ir em digressão antes das gravações. Também trabalhámos mais no álbum porque agora tenho um estúdio em casa com boas condições e espaço suficiente para a gravação das baterias e tudo o resto. Foi por isso que passamos tanto tempo em pré-produção antes de efectuarmos a entrega do material ao nosso produtor Janne Saksa. Segundo li o vosso novo baterista Mikkonen teve um papel especial neste processo. O que é que ele trouxe de novo para o álbum que fez a diferença. Depois de terminámos as gravações, o Samuli esteve praticamente todos os dias aqui no estúdio. Isto foi como o primeiro round. Depois veio o segundo round onde regravámos as coisas

Tenho a sensação que os Korpiklaani estavam no ponto em que se encontravam os Judas Priest depois do álbum «Ram it Down»

com as ideias dele. Por vezes pediame para cortar uma parte, outras vezes pedia para continuarmos a gravar. Depois disto aconteceu o terceiro round onde gravámos com baterias reais, que inicialmente tinham sido codificadas em computador. Também gravámos algumas linhas com acordeão e violinos. Depois disto fomos para o estúdio “real” com o produtor. As guitarras também foram gravadas em casa, no meu estúdio. No geral, onde obtiveram a inspiração para fazerem a música de «Jylhä»? Estou sempre a escrever música, pelo que a inspiração pode vir de qualquer lado. A própria vida com as mudanças e esquinas é uma fonte inacabável de inspiração. A natureza é uma das principais inspirações para o dia a dia, mas também o é para a escrita das músicas. Novos instrumentos ou mesmo os membros da banda também podem ser fonte de inspiração. A própria acção de estar parado de mãos nos bolsos, se mantiveres os olhos abertos, vês que qualquer coisa pode servir de inspiração. O álbum abre com “Verikoira” e nas tuas palavras, com “«Painkiller» in your minds”, como

um género de homenagem aos Judas Priest. Quem teve a ideia de fazer esta “Verikoira”, uma mescla de folk e heavy metal (… de Judas Priest)? Eu tive a ideia de fazer um álbum mais rápido e pesado. Tenho a sensação que os Korpiklaani estavam no ponto em que se encontravam os Judas Priest depois do álbum «Ram it Down», que é muito mais calmo. Arranjaram um novo baterista e gravaram o melhor álbum até à data, o «Painkiller». O Samuli entranha o sentimento e quer fazer uma introdução muito porreira de bateria. Acaba por escrever uma estrutura que acabou por ficar intocável até ao resultado final. Eu limitei-me a fazer os riffs para as baterias dele, influenciadas pelos Judas Priest. Foi uma forma engraçada de fazer uma música e espero que possamos repetir, ou seja fazer música a partir de faixas de baterias. Até esta experiência sempre escrevi as músicas e só depois pensava nos arranjos dos restantes instrumentos. Falando um pouco das vossas influências, «Jylhä» não é um simples álbum de folk, tem muitas e variadas influências. Podes falar um pouco sobre elas e de que forma ajudaram a moldar a vossa sonoridade?

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A nossa música é bastante simples para incluir no seu género. Somos uma típica banda de folk metal. Sem sintetizadores e apenas com instrumentos de folk reais. As guitarras são bastantes pesadas, mas temos vários elementos mais leves de rock, pop e até da música reggae, porque não nos queremos limitar musicalmente. Na realidade pensamos muitas vezes porque raio é que os nossos fãs querem limitar a nossa música. Não precisamos de nos limitar, isso seria como mijarmos de manhã nos nossos Corn Flakes. O meu finlandês está muito enferrujado (risos), por isso, qual é o significado de «Jylhä» e qual é o conceito por detrás dele? «Jylhä» significa majestoso, mas não é apenas isso. É um pouco difícil de explicar porque não existe uma palavra em inglês para isso. É algo agradável, grande e rochoso. Pode ser uma paisagem, mas também pode ser música. Tuomas Keskimäki é quem habitualmente escreve as letras. Como te sentes (ou… é difícil) cantar as letras do Tuomas e fazêlas tuas? É bastante fácil e é por isso que cooperamos há tantos anos. Ele é talentoso e também um bom trabalhador. E rápido. Quando lhe envio às 22h uma música de demo, muitas vezes ele envia a letra

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nessa mesma noite. Por vezes na manhã seguinte, mas sempre muito rápido o que faz com que nunca perca aquela primeira impressão da música nova e ainda a consigo cantar com aquela sensação de novidade. É um dos segredos da minha escrita. Gosto de terminar rapidamente as músicas enquanto ainda tenho uma forte ligação emocional com a ideia original para a composição daquela canção. Normalmente obtém-se uma boa parte das sensações das músicas através das letras. Para uma pessoa não finlandesa, isso não é possível, ou seja, não conseguimos beber esses sentimentos das letras das vossas músicas. Alguma vez pensaram em fazer um álbum em inglês ou pelo menos algumas versões, como os Opeth fizeram com «In Cauda Venenum» ou os Sabaton com a «Carolus Rex»? Fizemos o nosso álbum «Manala» com uma versão em inglês, mas esta não teve tanto sucesso como a versão finlandesa. Foi uma boa prova em como era possível escrevermos as letras apenas em finlandês. Já existem bandas suficientes a cantar em inglês as suas músicas. E se pensarmos bem, na Finlândia não se fala alemão e, no entanto, os Rammstein são muito populares.

Em quase todas as capas está presente um homem idoso. Tem nome ou é como uma espécie de mascote para os Korpiklaani, como o Eddie é para os Maiden? É como uma mascote e chama-se Vaari (avô). A última vez que tocaram em Portugal foi em Março de 2019, como estão os planos de digressões com tudo isto do COVID e haverá a possibilidade de actuarem em Portugal como cabeças de cartaz? Temos planos para o regresso às digressões em outubro. Esperamos sinceramente que Portugal seja inserido nesta digressão. Por último, têm alguma mensagem para os fãs portugueses? Espero vos ver em breve nos concertos. Até lá mantenham-se em segurança. Folk, Metal, Paz e Amor! São uma banda muito energética e as pessoas parecem seguir a loucura da vossa música. Qual foi a coisa mais engraçada/maluca que viram nos concertos ao vivo? Já vimos do palco relações sexuais, lutas, mas temos tido sorte em essencialmente o publico a dançar e a divertir-se… Até de manhã! Facebook Youtube


Grêlos de Hortelã Por: Victor Alves

STOP

O campo que dá o Grêlo de Hortelã encontra-se em pousio, pois fizeram dele um posto principal de vacinação 61 / VERSUS MAGAZINE


ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

Não há James Bond sem cinema e não há cinema sem 00 7. Ao fim de 25 filmes oficinais mas 2 fora da série, e quase 60 anos de existência, o mais famoso agente secreto britânico, primeiro pela mão de Albert R. “Cubby” Broccoli e Harry Saltzman (até 1975), e depois pela mão dos seus discípulos naturais, Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, os verdadeiros obreiros e herdeiros da saga, continuam a maravilhar-nos praticamente ano sim, ano não, desde 1962. Este Antro é demasiado pequeno para abordar todos os filmes e as fantásticas personagem criadas pela série, entre muitas outras coisas de interesse cinematográfico, pois seriam necessário, para aí, duas Versus Magazine completas pelo menos! Penso que hoje é para todos evidente que Ian Flemming foi o criador de James Bond – Nome que foi buscar a um livro de ornitologia que estava mesmo ali na estante – e até à sua morte algo prematura escreveu 14 livros, todos eles adaptados ao cinema, uns mais fieis à história de Flemming, outros apenas o título, como “The Spy Who Loves Me” ou praticamente “Moonraker”. Flemming, no seu tempo de escritor de suspense e espionagem era jornalista do The Sunday Times e no seu contracto tinha dois meses de férias pagas, os quais aproveitava para se refugiar na Jamaica, na sua Jamaica – antiga colónia Britânica - dos anos 60 era um refugio para uma que ali passava os meses de férias, fazendo com que houvesse uma certa frequentava. Toda esta envolvente social foi transportada para os livros de bastante o tom social subjacente presente nos livros e posteriormente todo aquele glamour e comportamento que podemos ver, principalmente Connery. O lado da espionagem e missão que 00 7 tem em mãos, veio do sido ele próprio um comandante na Marinha Britânica e ter sido um espião não é mais que o alter ego do próprio autor, onde há tanto de auto biográfico personagem que ele gostava de ter sido e vivido.

propriedade Goldeneye. A certa classe nobre britânica socialite inerente, que Flemming James Bond, tendo influenciado transposto para os filmes, daí, nos primeiros filmes com Sean facto de Ian Flemming ter britânico. No final, James Bond em James Bond, como a

Eu descobri os filmes de Bond - ou foram os filmes de James que me descobriram? - em 1985 quando saiu “A View to a Kill” e eu via fascinado a curta trailer que passava na RTP, nos blocos publicitários. Ficava fascinado pela acção tal como a música do filme dos Duran Duran de mesmo nome, que ainda hoje, é uma das minhas canções favoritas da saga. Não tive qualquer possibilidade de ir ver o filme com Roger Moore e só passados 2 anos com “The living Day Lights” é que finalmente vi um filme de James Bond no cinema, desta feita com o novo Bond, Timothy Dalton. Estes era uns tempos em que os filmes de 00 7 não passavam na TV – o mesmo que dizer RTP - e os videoclubes estavam a começar a arrancar com toda a força, tal como os leitores de VHS nas nossas casas. Por isso, só quando a saga foi retomada com Pierce Brosman em 1995, com “Goldeneye”, é que iniciei as sessões regulares de cinema Bondiano, não tendo falhado nenhum 00 7 com Pierce Brosman na personagem.

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Dry Martini. Shaken, not stirred Dessa gloriosa época, enterrada para todo o sempre dos videoclubes, recordome de ver nos escaparates inúmeros filmes da época Roger Moore, não me tendo atraído de todo, na época, alugar esses filmes. Bem, também havia tantas novidades de acção onde colocar “as fichas” que apostar em filmes de acção dos anos 70 não era bem a minha prioridade. Aluguei e gravei – sim, eu copiava para consumo próprio os filmes cuidadosamente selecionados que eu alugava – o 00 7 de 1989, “Licence to Kill”, pois era “uma novidade” mas só tive oportunidade de descobrir a saga completa, junto com os seus diferentes actores no papel do agente mais famoso do mundo, quando a SIC decidiu dar nas suas sessões de cinema à segunda-feira, no remoto ano de 1996, todos os filmes de “007Dr. No” até “007-Licença para Matar”. Depois disto, foi apenas seguir os filmes que iam saindo e adquirir o VHS original e posteriormente o DVD, os quais em DVD acabei por completar a primeira edição, em que todos os DVDs juntos, a lombada faz 00 7 em forma de pistola, a famosa Walter PPK. A qualidade desta edição deixou sempre a desejar, com masterizações indignas dos DVDs e alguns discos com som mono. Ao longo da década de 2000, novas edições saíram com remasterizações que deram outro caracter aos filmes da saga a nível visual e sonoro, as quais deixei sempre passar - há mesmo uma edição que é uma maleta com todos os filmes – por “já ter” ou por o valor pedido não se justificar o “upgrade”. Não há bela sem senão, e recentemente deixe-me levar por a saga completa com os 24 filmes, todos retirados de um novo master, em Blu-ray. E assim, se passa do VHS gravado da SIC mais originais em VHS nos 90 para a saga em DVD nos 2000 e os Blu-ray no final da década dos 10 do século XXI. A nova visualização de todos os filmes, uns atrás dos outros, que me levou 4 meses, deu-me uma perspetiva única sobre a saga. Todos terão os seus preferidos e piores 00 7, tal como eu os tenho. Também há dois tipos de pessoas que pude conhecer ao longo do tempo relativo à saga 00 7: os que gostam e aceitam aquilo como puro cinema de entretenimento, e deixam-se ir com a magia do cinema e com todos aqueles gadgets, e aqueles que, não podem com a misoginia e machismo da personagem, e acham aquilo tudo fajuto e pouco ou nada credível, ou por simplesmente não gostarem da personagem per si. Claro que já perceberam qual dos tipos sou. Felizmente, que a personagem soube evoluir, tal como a sociedade evoluiu, e hoje temos um Bond bem mais moderno e actual, mas que lá no fundo nunca deixa de ser a personagem que o seu criador moldou, e que cada actor que o interpretou na sua época deu o seu cunho pessoal à personagem. Quero dizer com isto, que por exemplo, o Sean Connery dos anos 60, se interpretasse hoje James Bond, seria certamente à imagem da nossa sociedade actual mas sem nunca deixar de lhe dar aquele cunho próprio e único que o fê na sua época dos anos 60. A magia dos filmes de 00 7 reside em 5 pilares: O actor que interpreta o papel, as Bondgirls selecionadas, o vilão, os cenários excêntricos naturais ou construídos e claro está a acção. Na prática, um filme de James Bond resume-se a encontrar locais exóticos para a acção, umas personagens femininas que vão interagir com o nosso

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ANTRO DE FOLIA

Por: Carlos Filipe

protagonista, e que são cada vez mais sofisticadas, para o bem ou para o mal, e um mau que quanto mais carismático for melhor, o qual vai ser o catalisador da história e da missão ou motivo pelo qual 00 7 parte para mais uma aventura. Depois é acrescentar uns décor exuberantes maiores que a vida e cenas de acção de cortar a respiração nunca antes vistas e por aquela gente toda a “encornar” tal duas cabra-montesas. Uma coisa é certa, os filmes de James Bond foram sempre o pináculo do cinema de acção. Em cada época, e comparando os filmes de acção dessa década com os de James Bonds, vemos que estão sempre um furo acima do que se fazia. Mesmo, a aventura espacial de “007 – Moonraker”, consegui apresentar efeitos visuais que ficaram ao nível de um certo filme de 1977 de uma galáxia longínqua. Sim, foram um bocado longe demais com aquele cena toda no espaço mas não deixaram de entregar um filme “espacial” sublime. Nada mal para uma série de filmes britânicos, feito por britânicos, com um protagonista britânico. Talvez não soubessem, mas a saga 00 7, não é um produto de Hollywood, muito pelo contrário. Mesmo hoje, os últimos filmes com Daniel Graig, são do melhor que se faz em cinema de acção, estando ao nível das séries Bourne, Taken ou Missão Impossível. O único momento da série em que assim não o foi, foi com “007 - License to kill”, que como filme de acção, não consegui bater a onda magnânime de acção made in Hollywood, que marcou ela própria o cinema de acção para as décadas vindouras, com obras como a saga “Die Hard” ou “Arma Mortífera”, que colocaram a fasquia demasiado alta para James Bond. Na obstante e apesar de a crítica ter castigado este filme em particular na altura, hoje é visto como um dos mais interessantes e melhores filmes da saga. Tal como já referi, cada um que gosta da saga terá as suas preferências a todos os níveis: actor, actrizes, maus, gadgets, locais, cenas, músicas e filmes. Em geral gosto de todos os actores que encarnaram a personagem de Flemming, acho que para cada época foram as melhores escolhas, mas o meu menos preferido do lote é o Roger Moore, com o seu lado mais bonacheirão e pouco credível da personagem. O mote era mais vencer pelo charme do que pelas balas, indo ao ridículo de em “007 - o Homem da Pistola Dourada” ter disparado a sua arma apenas uma única vez, para matar Saramanga (Christopher Lee) no final do filme. No entendo, a sua simpatia perante o público, foi crucial para que a saga tivesse tido a hipótese de sobreviver os 70s e parte dos 80s e permitir chegar até aos dias de hoje. Moore começou tarde (45 anos) e acabou demasiado tarde (58 anos). O esquecido do lote é sempre o George Lazenby. Um modelo australiano sem experiência na representação que conseguiu o papel apresentando-se nas audições “fardado” a rigor e depois deitou tudo a perder ao não entrar no jogo da promoção. Foi pena, pois entrou num dos melhores filmes da saga, “007 - Ao Serviço de Sua Majestade”, e vê-se que ao longo do filme a sua representação foi melhorando consistentemente. Acho que se tem agarrado a oportunidade, Lazenby poderia ter evoluído no papel de Bond e como actor, e tornar-se num excelente 00 7. Tenho pena de não ter assinado pelo menos mais 1 ou 2 filmes. Timothy Dalton, tenho igualmente pena de não ter feito mais um ou dois filmes, foi vitima de um imbróglio jurídico entre os produtores e o estúdio Sony que atrasou a chegada do Bond 17, tenho ele ido à sua vida, pois já era um actor de cinema e teatro conceituado quando interpretou a personagem pela primeira vez. Os outros 3, não vale a pena mencionar, são simplesmente perfeitos no papel e entregaram grandes filmes da saga.

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Quanto aos filmes, o melhor Bond de sempre é Casino Royal de 2006. Simplesmente genial, não fosse uma adaptação quase perfeita do primeiro romance escrito por Ian Flemming, onde, em termos de argumento, tudo encaixa na perfeição, no timing certo. O interessante é que os argumentistas conseguiram ir de um extremo a outro e no filme seguinte, que é uma sequela deste, “00 7 - Quantum of Solace”, entregarem um dos piores e mais irritantes filmes da saga. Cada vez que o filme para de uma cena de acção, tal como vamos para uma curta publicidade na TV, e parece que vão desenvolver a trama e explicar alguma coisa, bum! Lá vamos nós para mais uma cena de acção. Não há pachorra e nem a greve dos argumentistas – que tirou de cena o autor da primeira versão, o conceituado Paul Haggis – pode ser desculpa. Outro dos meus preferidos é “007 – Goldfinger”, mas esse não é preferido de quem? Para além do que referi com o George Lazanby e que foi filmado em Portugal, “007 - The Spy Who Loves Me” foi talvez o melhor da era Roger Moore e tem a icónica e arriscada cena do salto de paraquedas de um penhasco que abre revelando a very British union jack. O “007 - Goldeneye” é um dos meus favoritos, um Bond moderno enraizado na década dos 90 com a estravagância de outrora, apesar de ainda hoje ninguém me explicar porque é que o Pierce Brosnan salta de uma barragem em bungee jumping para entrar num complexo fabril que está num planalto! Bem podia seguir até mais não com os gostos e desgostos da saga 00 7, mas acabaria por fazer um antro para 5 versus no mínimo. Resta-me esperar que esta pandemia passe e que o 25 James Bond e último com Daniel Graig, possa estrear normalmente, e assim descobrirmos todos mas uma vez as aventuras e desaventuras do mais famoso agente secreto do mundo. Vamos ver o que se segue e por quanto tempo irá esta saga permanecer actual aos dias de hoje. Pelo menos, enquanto os seus guardiões, Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, estiverem por aí e os filmes forem lucrativos, ainda nos restará de certeza mais filmes de 00 7 para ver do que carros com motores a combustão interna para comprar novo. Só espero que o próximo actor que encarnar a personagem, esteja á altura de James Bond. Se a tradição se mantiver, ou seja, o actor sondado para o papel que quase acabou por o conseguir, consegue-o anos mais tarde. Foi assim com pelo menos Roger Moore que iria suceder a Sean Connery depois de “007 – You Only Live Twice” mas os problemas com a produção do que seria o filme seguinte, acabou com Moore a assinar por mais uma temporada de “O Santo”; Timothy Dalton que na sequencia desta partida de Roger Moore para “O Santo” foi escolhido, mas a sua jovem idade na altura, 22 anos, foi vista como um entrave para vestir o smoking; Pierce Brosnan que depois da saída de Roger Moore com “A View to a Kill” em 1985, foi escolhido para o papel depois de uma audição de 3 dias, então com 33 anos, acabou preso ao contrato que tinha da série “Remington Steele” para fazer mais 5 episódios, pois estava estipulado que os produtores se reservavam de relançar a série nos 60 dias seguintes. Adivinhem, ao sexagésimo dia, horas antes da conferência de imprensa de apresentação do novo James Bond (Brosnan), compraram a opção de relançar “Remington Steele” e Brosnan teve de recusar o papel de James Bond, tendo a produção posteriormente escolhido… Timothy Dalton; aquando da escolha de Daniel Graig, Henry Cavill (Superman) teve quase para ser 00 7, como candidato ideal, pois chegou a passar audições para uma possível história original, mas os seus 22 anos – Outra vez 22 - na altura levou a outra escolha: Daniel Graig. Pelo que, se a história se repetir mais uma vez, pode mesmo ser que o próximo 00 7 seja mesmo: Henry Cavill.

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PALETES Por: Carlos Filipe

Lares - «Towards Nothingness» (Alemanha, Psychedelic Sludge Metal) O coletivo de quatro elementos de psych blackened doom metal, LARES , formado em 2015, combina os elementos de pós-metal, psych doom, rock progressivo ambiente e black metal, enquanto adiciona um sabor único ao seu som fortemente esmagador. Após a estreia de LARES aclamada pela crítica em 2017, a banda tem trabalhado arduamente neste seu segundo álbum intitulado «Towards Nothingness». (All Noir) Vampire - «Rex» (Suécia, Death/Thrash Metal) No fundo de um porão antiquíssimo e repleto de mofo da cidade velha de Gotemburgo, Vampire tem planejado algo perverso... de novo! Em 2020, a banda orgulhosamente apresenta o seu terceiro álbum de estúdio, «Rex», que prova ser um tremendo destaque sonoro e composicional. «Rex» de 2020 aumenta a parada, desenrolando notavelmente um turbilhão altamente viciante do áspero e pesado, do agressivo e atmosférico, do melódico e do maníaco. Com «Rex», Vampire conseguiu criar uma força majestosa e macabra própria! (Century Media) Aversions Crown - «Hell Will Come For Us All» (Austrália, Blackened deathcore) Os AVERSIONS CROWN da Austrália, separam-se do resto com seu senso visceral do género que é Blackned Deathcore. Vindo equipado com uma variedade de padrões vocais e baixo violento de 8 cordas, o seu som, é tecnicamente oneroso e cada vez mais único ao longo do tempo. «Hell Will Come For Us All» é substancialmente mais agressivo e claramente estruturado, carregando uma agressão aumentada ao longo de todas as nove canções, um novo estilo vocal vibra ferozmente por todo o álbum. Embora cativante e agressivo, os vocais caracterizam a banda por meio do uso de pronúncia clara e localização lírica. (Nuclear Blast) Laughing Stock - «The Island» (Noruega, Melodic Progressive Metal) «The Island», o primeiro álbum que a banda escreveu e gravou, é um álbum conceitual sobre os desafios que se enfrenta no dia a dia. Os Laughing Stock são uma banda que está totalmente no comando de sua visão artística. Essa visão é bastante complexa, e a banda não tem como objetivo encaixar em num género específico. Artpop dos anos 80, prog, neo-prog, folk e metal dos anos 70. São todas as peças que se encaixam neste quebra-cabeça. (Independentes) Poema Arcanvs - «Stardust Solitude» (Chile, Doom Metal) A banda chilena de doom metal, Poema Arcanvs, construiu um status lendário ao longo dos anos. Inspirados originalmente pelas bandas doom do Reino Unido, criaram um som poderoso e comovente que aperfeiçoaram ao longo dos anos. «Stardust Solitude» é seu sexto álbum, onde levam as coisas a um nível diferente, adicionando melhor dinâmica e expandindo o escopo da música. Quanto mais se ouve, mais encanta-nos com as suas melodias suaves, mas lamentosas, e vocais suplicantes. Mergulhe neste álbum envolvente e emerja uma pessoa mudada, rica em sensações profundas com uma visão mais consciente da vida. (Independentes) Kansas - «The Absence Of Presence» (EUA, Rock Progressivo) Com uma carreira lendária de quase cinco décadas, os KANSAS estabeleceram-se firmemente como uma das bandas de rock clássico icônicas da América. Esta “banda de garagem” de Topeka, lançou o seu primeiro álbum em 1974, e vendeu mais de 30 milhões de álbuns em todo o mundo. Compondo um catálogo que inclui dezasseis álbuns de estúdio, agora marcam o lançamento de «The Absence of Presence», o décimo sexto álbum de estúdio do KANSAS. (InsideOut Music) Sunken Fin - «From Slow Sleep Like Death» (Finlândia, Death Doom Metal) From Slow Sleep Like Death oferece um som matador de melancolia, doom e peso infundido de death, equilibrando-se entre a luz e as trevas, entre a vida e a morte. (All Noir) Long Distance Calling - «How Do We Want To Live » (Alemanha, Post Rock Progressivo) Não devemos falar muito sobre a carreira multifacetada de uma das melhores e mais bem-sucedidas bandas de

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rock instrumental da Alemanha. Por quase uma década e meia, Long Distance Calling de Munster tem provado o quão profundo e versátil o seu som é, sem usar muitas palavras nem demonstrar muito jeito vocal nas suas canções. Os últimos seis álbuns contaram uma história vívida, artística e pessoal, que ainda está longe de terminar. Na verdade, parece que LDC está apenas a começar e a realmente experimentar novos sons em todos os ângulos possíveis. (InsideOut Music) Gruppe Planet - «Travel To Uncertain Groundsbundle» (Alemanha, Post Rock) GRUPPE PLANET é uma banda alemã cujos músicos estão espalhados por todo o país. Não há vocais. GRUPPE PLANET é totalmente instrumental. Não espere death ou black metal ou rock experimental. GRUPPE PLANET é diferente, de uma maneira surpreendentemente boa. Em terceiro lugar, esteja preparado para que eletrónicos sintetizadores e ruídos ambientais entrem em ação. «Travel To Uncertain Grounds» marca a estreia desta banda alemã. O que está em foco: busca de sons sem confusão, expandindo a criatividade e desafiando texturas eletrônicas e música instrumental. (Lifeforce Records) Kult Mogil - «Torn Away The Remains Of Dasein» (Polónia, Death Metal) Kult Mogił foi fundado em 2014 e lançou a sua primeira demo no ano seguinte, o que levou ao lançamento de seu álbum de estreia «Anxiety Never Descending». Kult Mogił está de volta com um novo LP. Com uma nova energia que direcionou a banda para um som mais clássico de death metal, na obstante de não renegar ao bom velho estilo dos anos 90 da velha escola. (Pagan Records) KŁY - «Wyrzyny» (Polónia, Atmospheric Black Metal) O trio enigmático Kły regressa com um novo segundo álbum, intitulado «Wyrzyny». Embora Kły tenha sido fundada em 1997, a banda lançou a sua primeira demo, «Taran-Gai», apenas em 2017. «Wyrzyny» foi criado ao longo de um período de vários meses, com a gravação, mixagem e masterização cuidadas mais uma vez por Nihil. O álbum é um monólito de 6 faixas do xamanismo e da magia dos cogumelos, com a poesia de Miron Białoszewski e a floresta como pano de fundo. (Pagan Records) Mordhell - «Graveyard Fuck» (Polónia, Black Metal) Desde o início, Mordhell tem sido a ofensa quintessencial do black metal, com pintura de cadáver, ritmos de rock n ‘roll sujo e uma mistura de temas sexualmente sádicos e satânicos. Sendo principalmente influenciado pelo black metal norueguês, Mordhell também tem referências pesadas de outros subgéneros do metal e até do punk. O seu 3º LP, «Graveyard Fuck», lançado após um hiato de dez anos, ainda se banha naquele black metal imundo e primitivo, quase punk, simplista que tem aquele estilo muito antigo, quase anos 80. A música em «Graveyard Fuck» é black metal arcaico sem add-ons, fogos de artifício, virtuosismo e um belo som. (Pagan Records) The Devil’s Trade - «The Call Of The Iron Peak» (Hungria, Dark Doom Folk) O Pico de Ferro(The Iron Peak); é um lugar místico onde uma vez se encontrou a paz perdida, silêncio total e lar. Um lugar que se tornou uma materialização de liberdade eterna, cortada da sociedade e de todas as lutas terrenas. Este lugar inspira o cantor e compositor húngaro Dávid Makó, que se redefiniu como THE DEVIL’S TRADE alguns anos atrás, embarcando numa longa jornada com as suas canções folclóricas profundamente pessoais e sombrias, que às vezes são infundidas pelo Doom. Seja o folk dos Apalaches, os contos das tradições húngaras e da Transilvânia, THE DEVIL’S TRADE funde o seu passado do metal e as suas raízes profundas nas canções folclóricas do seu país. (Season of Mist) The Vice - «White Teeth Rebellion» (Suécia, Black’n’Roll) «White Teeth Rebellion», é o 2º LP dos sueco Black ‘n’ Rollers THE VICE! Cru e poderoso, mas musical e descolado, THE VICE sabe como carregar nos botões e invadir o lado mais sombrio de sua alma musical. Este é um álbum de rock / metal sombrio e cruel com os corações dos membros da banda nas suas páginas interiores. (All Noir) Battle Dagorath - «Abyss Horizons» (Internacional, Black Metal/Ambient) Nos recessos cósmicos do Novo Continente, uma nova invocação abicada foi organizada. O sexto opus completo de Battle Dagorath está agora concluído. Uma paisagem sonora de black metal com atmosfera espectral e esmagadora, que abre uma jornada visionária ao terceiro olho, trabalhada em mais de setenta minutos de música. «Abyss Horizons» representa a revelação de seus antigos sonhos inconscientes, cruzando o abismo em reinos mágicos transcendentais. (Avantgarde Music)

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Bulb - «Archives Volume 8» (EUA, Electronic prog metal) Seis anos antes da banda de metal progressivo Periphery se lançar em 2010, o guitarrista e produtor Misha Mansoor, com esta coleção - montada de uma forma parcialmente cronológica, parcialmente aleatória apresenta as músicas quase inteiramente como estavam no SoundClick, com um pouco de masterização do colaborador de longa data da Periphery, Ermin Hamidovic. Mas a preservação é o ponto chave, onde não há partes individuais ou overdubs adicionados. Este é o Bulb na sua forma mais pura: Mansoor capturando um raio numa garrafa e guardando-o. Algumas das faixas são encantadoramente cruas; na outra extremidade do espectro estão as ricamente arranjadas, peças orquestrais construídas com amostras que brilham como partituras perdidas de vídeo jogos. (Century Media) Black Elephant - «Seven Swords» (Itália, Sludge Metal) Os fuzzmongers italianos Black Elephant marcam dez anos de existência corpórea em Savona, com o apropriadamente intitulado «Cosmic Blues». Dois anos e uma vida inteira depois, eles estão de volta com outra coleção de grooves pesados com mentalidade clássica, escolhendo o melhor que os anos 70, 90 e 10 tinham a oferecer em riffery, fundindo explosões espaciais com ganchos em tons de deserto. Esta é uma banda que está ganhando espaço, não desperdiçando nem o tempo deles, nem o seu processo. «Seven Swords» é o segunda masterpiece. (Earsplit) Deathcave - «Smoking Mountain» (EUA, Doom/Sludge) «Smoking Mountain» é estreia em LP dos DEATHCAVE. Batizado em homenagem à Caverna da Morte Apache no Arizona, DEATHCAVE foi forjado em 2018 e lançou uma demo de três músicas autointitulada no ano passado. Uma fusão atraente e consumidora de elementos de thrash, psicadélico, stoner e doom com letras baseadas em histórias pessoais, reinterpretadas no reino dos contos mitológicos. «Smoking Mountain» dos DEATHCAVE gira em torno do conceito de morte e decadência inevitáveis não apenas dos humanos, mas também da natureza. (Earsplit) Geist & The Sacred Ensemble - «Waning Hymns» (EUA, doom folk) «Waning Hymns» é o próximo álbum do coletivo doom folk GEIST & THE SACRED ENSEMBLE. Entre as sociedades ocultas do noroeste do Pacífico, GEIST & THE SACRED ENSEMBLE forja um ritualismo folclórico inflexível pelo destino; canto fúnebre tingido de psicadélica oriental e transes meditativos sinuosos. Nos últimos anos, o grupo mostrou ao underground do estado de Washington uma visão clara para o seu som e letras, criando um espaço xamanístico para o ouvinte, colocando-o em transe e, aumentando a excitação. (Earsplit) Might - «Might» (Alemanha, Sludge Metal) Ruas vazias, restrições de contacto, máscaras respiratórias - situação que todos teríamos considerado completamente absurda há poucos meses - acrescenta um novo tipo de desânimo ao nosso quotidiano, que transforma uma visão sombria numa nova normalidade. Para os MIGHT, é uma influência na sua criação artística. O álbum surge como uma banda sonora para um filme emocional em que todos parecemos estar atuando: depressão, saídas, luz e escuridão, furor instrumental e reflexão acústica criam um debate envolvendo argumentos de vários géneros musicais, como black metal, doom , sludge, pos-rock e shoegaze. (Earsplit) Titan To Tachyons - «Cactides» (EUA, avant/instrumental metal) O trio de avant / instrumental metal baseado em Nova York, TITAN TO TACHYONS, lançou o seu primeiro álbum, «Cactides». Retratando instrumentalmente os domínios da ficção científica surrealista, a banda faz uso de passagens angulares e experimentais, justapostas por sulcos fluidos e rajadas metálicas. Na esteira de suas primeiras apresentações em Nova York no ano passado, TITAN TO TACHYONS registrou cinco movimentos densos, intensos e expansivos para criar este seu álbum de estreia, «Cactides». (Earsplit) Atramentus - «Stygian» (Canadá, Funeral Doom Metal) Das terras geladas do norte, ATRAMENTUS desvenda a agonia congelada do monolítico «Stygian». Nascido numa noite fria de inverno em 2012 e durante um pôr do sol outonal em 2013, o conto amaldiçoado permaneceu adormecido por anos. Cada uma das três canções épicas contidas diferem amplamente para refletir a mudança do outono para o inverno perpétuo. Embora adornado com a linguagem do Extreme Funeral Doom e da paisagem sonora Dark Ambient, ATRAMENTUS deve ainda mais ao Epic Doom Metal em termos de som e estética e à ferocidade angustiada do Black Metal, permanecendo ligado à melancolia tumultuada e imensidão gutural de Extreme Doom. (Independentes)

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Hateful - «Set Forever On Me» (Itália, Technical Death Metal) Os mestres italianos do death metal, Hateful, criaram um álbum alucinante de proporções épicas. Eles construíram estruturas estonteantes ao empilhar riffs e padrões de bateria uns sobre os outros com fervor delirante e precisão cirúrgica. Há tanta coisa para desvendar como um ouvinte e é um deleite raro, pois Hateful leva o seu tempo desenvolvendo as partes e cuidando de sua realização, em vez de correr às cegas por tudo, sem fazer nenhum sentido rítmico, afim de manter uma aparênte coerência. (Independentes) Fight The Fight - «Deliverance» (Noruega, Hard N’Heavy) Os metaleiros noruegueses de alta octana, Fight The Fight (fundada sob o nome de Faenskap), são o exemplo perfeito de amigos de infância e colegas de escola, que queriam começar uma banda e chegar às pessoas. A banda finalmente deu sequencia ao seu álbum de estreia autointitulado. O tão aguardado segundo álbum deles empurra os limites da banda ainda mais longe para novos territórios. Começando com um riff principal animado na faixa-título do álbum, há sempre um tom de adjacente nos riffs descolados de Fight The Fight. Mas também há esses elementos de black metal ardentes e corajosos em algumas das canções, que têm um grande contraste com isso. (Indie Recordings) Assignment - «Reflections» (Alemanha, Progressive Power Metal) Os prog metal ASSIGNMENT estão de volta com o seu novo álbum «Reflections»! Como de costume, a banda segue o seu credo “metal sem fronteiras” e oferece dez faixas com diferentes ambientes e melodias épicas. É o 5º álbum de metal progressivo dos ASSIGNMENT. O álbum também apresenta o novo baterista da banda, Michael Kolar, bem como a vocalista convidada Inés Vera-Ortiz. (Massacre Records) Zombi - «2020» (EUA, progressive rock instrumental) Este é o seu primeiro novo álbum em 5 anos, e mostra a habilidade de composição que levou a dupla de Steve Moore (sintetizadores, guitarras, baixo) e A.E. Paterra (bateria) a evoluir ao longo de uma carreira histórica de 20 anos. «2020» prova ser o álbum com riffs mais intensos do ZOMBI. No início, uma banda sonora de impulsionar a euforia musical, «2020» dá uma guinada brusca em águas desconhecidas, uma reminiscência de um espaço onde sons de sludge e riffs doomlike dominam as paisagens sonoras. Synthwave e crescendos neon são liberados em favor de épicos progressivos inspirados em Blue Oyster Cult. Um loop verdadeiramente terapêutico de rock instrumental imersivo, «2020» pode ser o álbum mais ambicioso do ZOMBI até agora. (Relapse Records) Reasons Behind - «Project Mist» (Itália, Symphonic Power Metal) O próximo nível de combinação de heavy metal moderno e ficção científica cyberpunk! Ao longo da carreira, os Reasons Behind evoluiram definitivamente de uma banda de metal sinfónico com influências eletrônicas para uma sonoridade mais orientada para os sintetizadores. Em seu segundo álbum, o resultado final é simplesmente excelente: a voz cristalina e poderosa de Elisa Bonafè dança entre melodias cativantes e cativantes, combinada com riffs de Metal sueco e Metalcore modernos e imerso em ambientes Trance / Dubstep / Eurodance. «Project: MIST» é um álbum conceitual sobre a vida e a realidade. (Scarlet Records) Veonity - «Sorrows» (Suécia, Power Metal) Power metal escandinavo no seu melhor! «Sorrows», o quarto álbum de estúdio dos Veonity, define um tom mais escuro e pesado do que os discos anteriores da banda. Uma pequena quantidade de acréscimos sinfónicos, bem como elementos progressivos, fogem do estilo de metal ultra-power típico que significa Veonity. No entanto, a base sobre a qual Veonity repousa ainda está intacta: muitas guitarras, contrabaixo-bateria e uma abundância de coros épicos, solos e gritos de metal. As músicas de «Sorrows» descrevem questões de traição, tristeza e solidão - tudo cuidadosamente embrulhado num glorioso cobertor de metal poderoso. (Scarlet Records) En Minor - «When The Cold Truth Has Worn Its Miserable Welcome Out» (EUA, Depression Rock) As bases de algumas canções que agora se tornaram o projeto EN MINOR foram escritas em fases significativas da vida de Philip H Anselmo. Embora Philip seja mais conhecido por Extreme Metal e Rock, aqui podemos ouvir um lado mais suave de suas cordas vocais, mas liricamente é pesado como qualquer coisa. Juntando forças novamente com um grupo extremamente talentoso de músicos experientes, EN MINOR de Anselmo é uma mudança flagrante de ritmo, e nós abraçamos toda a estranheza melancólica sem compromisso. (Season of Mist) Null - «Entity» (Islândia, Black Metal) O NÚLL, também conhecido como “0”, foram formado em Reykjavík, Islândia, em 2012. A banda conta com

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membros de bandas de black metal notórias. O seu álbum de estreia «Null & Void» foi lançado em 2014 e foi notado por suas melodias marcantes, misterioso doom metal niilista e vocais criativos. Nulo não significa nada. Em celebração de todas as coisas vazias e sem significado, uivando salmos de nada no vazio sem fim. Enquanto “Null & Void” girava em torno do nada, «Entity« foca na futilidade e obsolescência. Tudo é nada. Nada é tudo. (Ván Records) Humavoid - «Lidless» (Finlândia, Progressive Metal) Os maníacos do metal progressivo finlandês HUMAVOID lançam «Lidless», que oferece uma mistura imprevisível de metal progressivo que muda sem esforço da batida caótica para refrões contagiantes. Um verdadeiro híbrido de riffs de guitarra de alta tecnologia afinados e licks de piano jazz fusion (All Noir) Avatar - «Hunter Gatherer» (Suécia, Melodic death metal) Os visionários dark heavy metal-n’-roll conhecidos coletivamente como AVATAR não escolheram o seu apelido por acidente. Um “avatar” é definido como uma manifestação de uma divindade em forma corporal ou um ícone que representa um ser separado em outro reino. Ambos os significados descrevem perfeitamente as sensações do rock sueco, já que eles construíram algo maior do que a vida. As canções dos AVATAR são novos hinos para todos os tempos, mísseis de busca de calor de precisão que visam uma paisagem cultural pronta para novas canções a serem defendidas por uma banda com uma personalidade gigante para apoiar. (Century Media) Imperial Triumphant - «Alphaville» (EUA, Avant-garde/Technical Black/Death Metal) Imperial Triumphant começou oficialmente com seu lançamento de estreia em 2012, «Abominamentvm». Agora sai «Alphaville», um álbum escrito coletivamente pelo trio (Ezrin, Grohowski, Blanco) em homenagem à sua cidade natal, Nova York, que trouxe elementos do jazz ao estilo vanguardista do black metal de uma forma nunca antes alcançada. O trio de metal de Nova York prova mais uma vez sua excelência técnica incomparável e habilidade musical de tirar o fôlego. (Century Media) Wilderun - «Veil Of Imagination» (EUA, Symphonic Progressive/Folk Metal) Se há uma palavra que vem à mente ao ouvir «Veil Of Imagination» dos WILDERUN, é “Ambição”. Através de cada movimento musical ondulante; Cada reviravolta eloquente e inesperadamente cinematográfica, o terceiro álbum do quinteto é um trabalho de habilidade auditiva raramente tentado e raramente bem feito. E pensar que eles levaram as suas partituras fortemente orquestradas de progressão e death metal para o sopé das montanhas enevoadas do metal. (Century Media) Spellbook - «Magick Mischief» (EUA, Heavy Metal/Hard Rock) Spellbook: protometal vintage e aventureiro que explora o poço profundo do rock dos anos 70! Anteriormente conhecido como Witch Hazel, SPELLBOOK assenta o seu rock progressivo por sete canções de metal clássico arrebatador! Em outros lugares, doom, guitarras acústicas e excelente trabalho vocal principal de Tyson são interligados com facilidade, ao mesmo tempo em que se mantêm fiéis à lista impecável de influências. (Cruz Del Sur Music) Selbst - «Relatos De Angustia» (Venezuela, Black Metal) «Relatos De Angustia» o imenso segundo álbum dos Venezuelanos SELBST que mostra a banda a conseguir o seu potencial num estilo definitivo. SELBST personifica a visão do multi-instrumentista / vocalista / compositor / letrista ‘N’ para trazer a “realização máxima do Ser” através de um alinhamento de poder estridente e fervor selvagem e desenfreado que revela sua verdadeira majestade ao ouvir repetidamente. Há uma alteridade singularmente autónoma na abordagem do SELBST sobre o Black Metal esmagadoramente com sensibilidades melódicas semelhantes às de alto nível pós-Black Metal. (Debemur Morti Productions) Bangladeafy - «Housefly» (EUA, Post Rock/Math rock) A desequilibrada e imprevisível dupla BANGLADEAFY, baseada na cidade de Nova York, apresenta o seu novo álbum de tirar o fôlego, «Housefly». Este trabalho traz para treze composições cheias de ansiedade tocadas ao vivo em sintetizadores de hardware, samples e bateria acústica, e abandonando totalmente as acrobacias de baixo elétrico pelas quais a tag team se tornou conhecida. «Housefly» vê BANGLADEAFY revisitar influências de sua juventude, como Skinny Puppy, Nine Inch Nails e Devo. (Earsplit) Cavern - «Powdered» (EUA, atmospheric post-rock) O trio de pós-rock atmosférico, CAVERN, tem aqui o seu quarto álbum. CAVERN foi fundada em 2012 e ao

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longo de oito anos, fizeram uma tournée e gravaram quatro álbuns. Enquanto os dois primeiros trabalhos - seu auto-intitulado debut 2013 e 2014 EP «Tales Of Ruin» - foram uma fusão de instrumentais progressivos pesados e vocais pós-hardcore abrasivos, muitas vezes comparados ao trabalho inicial de Mastodon e Baroness, o seu terceiro álbum - «Outsiders» de 2015 - foi o primeiro esforço instrumental da banda. (Earsplit) Psychosomatic - «The Invisble Prison» (EUA, Thrash Metal) O ataque de thrash raivoso «The Invisible Prison», é o novo LP voraz de thrash metal de Sacramento, Califórnia, PSYCHOSOMATIC. O 7º LP da banda que apresenta 12 faixas de thrash metal moderno, cruzando death metal e punk rock. PSYCHOSOMATIC lançou seis álbuns de estúdio, dois EPs e muito mais desde o seu início em 1988, durante a queda do thrash metal na Califórnia nos anos 80. (Earsplit) Svnth - «Spring In Blue» (Itália, Post-Black Metal) A unidade italiana de pós-black metal SVNTH lança o seu terceiro álbum. Combinando erupções atmosféricas de black metal com as raízes estruturadas mais sólidas do rock clássico dos anos 70 e shoegaze dos anos 90, «Spring In Blue» é uma banda sonora para as emoções mais profundas. Eles moldam um equilíbrio único de sons, para sempre em movimento, sempre experimentando. Uma mistura de black metal místico com um sabor dos anos 70, texturas pós-rock, psicadélica inspirada em Pink Floyd e aberturas acústicas. (Earsplit) Black Magnet - «Hallucination Scene» (EUA, Industrial Metal) Desde a batida inicial de “Divination Equipment”, é claro que BLACK MAGNET toca música HEAVY focada na guitarra com igual devoção aos ritmos industriais e ao trovão eletrónico. Durante toda a punição, um sentido melódico escuro palpita com atenção uniforme. A magnitude sonora do Metal Industrial e da musculatura pós-punk, texturas de sintetizador pesadas e militância rítmica imbuem «Hallucination Scene» com um pulso frenético em sintonia aguda com a cabeça na colisão de linhas do tempo distópicas alternativas. Álbum de estreia de Metal Industrial. (Independentes) Rome - «The Lone Furrow» (Luxemburgo, Neo-Folk) Após a aclamação universal de seu mais recente LP «Le Ceneri Di Heliodoro», ROME lança um dos álbuns mais impressionantes na sua prolífica carreira de 15 anos. «The Lone Sulrow» é a culminação lógica dos esforços anteriores de ROMA, numa demolição brilhante e paciente da era moderna espiritualizada. ROMA está de regresso para acertar contas do espírito destemido, cujo tom pode ser comparado ao oráculo de um sábio. (Independentes) Ulver - «Flowers Of Evil» (Noruega, Ambient/Avant-garde/Eletrónica) Com «Flowers of Evil» Ulver fugiu de uma Roma em chamas, apenas para enfrentar mais crimes e corrupção. Este trabalho revela Ulver na sua forma mais cativante, seu sulco de cabra saltitante correndo de mãos dadas com um grande coro representando os eventos catastróficos de Waco, Texas. Daquela vegetação espinhosa, é isso que eles se tornaram: uma besta eclética, de muitas cabeças, cantando os êxtases do espírito e dos sentidos. (Independentes) Lonely Robot - «Feelings Are Good» (Irlanda, Crossover Prog / Progressive Rock) John Mitchell é um homem com uma rica herança musical e histórica - de músico e vocalista a compositor e produtor. Mitchell deixou a sua marca no cenário atual do rock progressivo e envolveu-se em dezenas de gravações. Agora, com Lonely Robot, ele está pronto para lançar o seu quarto álbum «Feelings Are Good». Musicalmente, Mitchell manteve o seu som característico e refinou-o em exuberantes hinos de rock e progressão modernos que combinam perfeitamente elementos complexos e acessíveis com uma dinâmica surpreendente e uma composição impecável e atemporal. (InsideOut Music) Ancst - «Summits Of Despondency» (Alemanha, Blackned Hardcore / Metal) O coletivo Berlin DIY não se detém em «Summits Of Despondency». Com um catálogo robusto de 23 lançamentos, abrangendo desde black metal puro e dark ambient até uma fusão de hardcore metálico e vários subgéneros de metal extremo, os ANCST certamente não são estranho à experimentação. Embora a banda sediada em Berlim tenha conseguido criar um som próprio e distinto, cada novo lançamento tende a adicionar alguns temperos à mistura. O terceiro álbum dos ANCST, «Summits Of Despondency», não é exceção e combina perfeitamente com seu predecessor. (Lifeforce Records) Bliss Of Flesh - «Tyrant 2020» (França, Black/Death Metal) Formados em 1999, os dark metallers franceses BLISS OF FLESH sempre foram uma banda muito carismática.

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A sua marca de black / death metal obscuro, liricamente e musicalmente pensativo, despertou uma paixão genuína. BLISS OF FLESH desenvolveu uma trilogia conceitual de três álbuns inspirados na Trilogia de Dante: A Divina Comédia. «Empyrean», concluíu esta trilogia. Agora, com o lançamento de seu novo álbum «Tyrant», o conceito é baseado em ‘Le Discours de la Servitude Volontaire’ (Tese da Servidão Voluntária) escrita pelo filósofo francês Etienne de la Boétie. «Tyrant» mostra-os num momento mais intenso em termos de produção, composição e execução. (Listenable Records) Cult Of Lilith - «Mara» (Islândia, Technical/Melodic Death Metal) “Barroco Necromecânico”, que é a província de Cult Of Lilith. Uma colisão frenética de death metal, prog, estruturas clássicas complexas, o seu álbum de estreia, «Mara», é uma coleção inquietante e de constante mudança, o qual consegue ser tão imaginativa quanto compulsiva. Não é surpreendente que uma banda de tal profundidade e complexidade musical escolha um nome que é rico em significados multifacetados e que merece mais exploração. «Mara» é muito mais diverso e refinado do que «Arkanum», mas ainda mantém algumas das ideias essenciais de composição. (Metal Blade) Primal Fear - «Metal Commando» (Alemanha, Speed/Power Metal) PRIMAL FEAR, a exportação de heavy metal mais confiável da Alemanha, tem no seu novo álbum «Metal Commando», a expressão rejuvenescida, maior e mais poderosa. A banda retirou a sua pele antiga para revelar a mesma unidade implacável por baixo – tal como uma serpente, no entanto, agora mostrando um novo crescimento em várias direções. O que era pesado é mais pesado, o que era épico é ainda mais épico, o que era rápido é mais rápido e o que era escuro é mais escuro. (Nuclear Blast) Incantation - «Sect Of Vile Divinities» (EUA, Death Metal) Os pioneiros do death metal, INCANTATION, regressam com o seu novo álbum altamente antecipado, «Sect Of Vile Divinities». Por mais de 30 anos, os INCANTATION permaneceram consistentemente um dos artistas underground mais influentes e respeitados do género. Fiel à forma, «Sect Of Vile Divinities» vê a banda lendária aderindo aos métodos da velha escola, libertando o Death Metal distorcido, mutilado e totalmente nojento mais uma vez. Uma mistura negra de Death Metal implacável e imponente Funeral Doom, cada faixa de «Sect Of Vile Divinities» é um canto fúnebre dedicado a diferentes males antigos em várias culturas. (Relapse Records) Skeletoon - «Nemesis» (Itália, Power Metal) Depois de revisitar com sucesso o mito do filme ‘Goonies’ com o brilhante álbum «They Never Say Die», o gangue favorito do NerdMetal está de volta (com uma vingança). O quarto capítulo da espetacular saga de power metal de SkeleToon, «Nemesis» apresenta um som épico orquestral renovado que enriquece o seu estilo acelerado, agudo e cheio de quadrinhos. Composições incríveis, um toque fresco de brutalidade sonora, uma produção de alto nível, alguns convidados especiais, o início de uma nova história conceitual e, por último, mas não menos importante, seu senso inato de admiração e espanto. (Scarlet Records) Gargoyl - «Gargoyl» (EUA, Progressive Grunge Rock) GARGOYL é muita coisa ao mesmo tempo, o que, automaticamente, sujeita a banda ao jogo da adivinhação quanto ao estilo que eles realmente são. O álbum de estreia homónimo de 11 músicas é progressivo, atmosférico, pesado, técnico e de vanguarda; uma mistura de sons que acabam por se fundir num corpo de trabalho envolvente e desafiador. É a beleza - e o propósito - do projeto. A estreia de GARGOYL oscila com sucesso entre segmentos enervantes e emocionais, ao rock progressivo com toques góticos. (Season of Mist) Molassess - «Through The Hollow» (Holanda, Psychedelic Rock) MOLASSESS ganhou vida como uma apresentação encomendada para a edição de 2019 do Roadburn Festival. O convite inspirou novos brotos de criatividade, florescendo onde a morte havia caminhado. Uma busca infinita de renovação pessoal e espiritual, remédio para a razão e a racionalidade. O estado em que a terra e nenhum fluem inseparáveis. A nova luz que segue a grande morte. (Season of Mist) Obsidian Kingdom - «Meat Machine» (Espanha, Experimental Rock / Post-Metal) OBSIDIAN KINGDOM dedica-se a explorar os limites da música rock. A banda de Barcelona desafia a classificação até os dias de hoje, recorrendo igualmente ao rock progressivo, pós-metal, alternativa e música eletrónica. Apresentando um som pesado e intenso com bastante contraste, as suas principais características são a capacidade de retratar as mais diversas emoções através da utilização de múltiplos recursos sonoros, o profundo interesse pela estética e a sombria qualidade dos temas líricos. (Season of Mist)

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Sólstafir - «Endless Twilight Of Codependent Love» (Islândia, Post-Metal/Rock) Um quarto de século depois que o cantor / guitarrista Aðalbjörn “Addi” Tryggvason cofundou o quarteto de metal islandês Sólstafir, continuam a seguir sua regra fundamental - que não há regras. Para eles, escrever uma música épica de 10 minutos sem uma troca tradicional de verso / refrão parece natural. Embora tenham feito dois álbuns em inglês, eles cantam principalmente na sua língua nativa e os seus vocais são tanto um instrumento quanto um recipiente para as palavras. O pensamento contraintuitivo ajudou Sólstafir a evoluir e amadurecer. (Season of Mist) Vous Autres - «Sel De Pierre» (França, Post black metal) Apenas um ano após o álbum de estreia, a banda francesa de black metal VOUS AUTRES retorna com o seu 2º álbum. «Sel de Pierre» representa um vislumbre de esperança entre as vastas e sombrias paisagens sonoras que esta dupla moderna de pós-black metal cria. Por mais enigmático que possa parecer, a dupla cria um som sombrio, ambiente e atormentado, combinado com a recuperação eterna do que parece para sempre perdido para o mal inerente do ser humano. VOUS AUTRES não é apenas mais uma sensação do black metal francês, mas um salto quântico para as proporções épicas que o black metal moderno pode assumir. (Season of Mist) Sunken - «Livslede» (Dinamarca, Black Metal) Sendo este «Livslede» o lançamento mais intenso, completo e honesto da banda até hoje, SUNKEN criou um universo lindo, doloroso e extremamente pessoal, levando o ouvinte em uma jornada emocional através da ansiedade, ódio de si mesmo e desesperança. (All Noir) Amiensus - «Abreaction» (EUA, Progressive Black Metal) «Abreaction» é um amálgama de todo o material que os AMIENSUS lançaram até hoje, sendo um ataque de cinquenta e cinco minutos à percepção do ouvinte do heavy metal. O conceito de «Abreaction» pertence diretamente ao nome do álbum - isto é, a expressão e descarga emocional da emoção reprimida. O grupo é mias experiente agora, entrando no seu décimo ano como uma banda que é hábil em mudar o seu som por simples capricho. (Earsplit) Dan Weiss - «Starebaby Natural Selection» (EUA, Avant-garde Jazz Metal) «Starebaby» apresenta uma combinação não convencional de doom metal, música eletrónica e de improvisação, numa mistura sombria e de mística. Agora, DAN WEISS e o seu coletivo de músicos de primeira linha retornam com outra obra-prima igualmente emocionante, temperamental e habilmente trabalhada com «Starebaby Natural Selection». STAREBABY é o resultado do sonho de longa data de DAN WEISS de reunir alguns dos músicos mais talentosos na cena do jazz para tocar música que combina jazz com o poder do heavy metal e a nova música eletrónica. (Earsplit) Yatra - «All Is Lost» (EUA, Psychedelic Doom Metal) O trio psicadélico doom metal YATRA, finalizou recentemente o trabalho momento mais ambicioso e devastador até ao momento. A banda orgulhosamente lança o seu terceiro álbum, «All Is Lost». YATRA imediatamente encontrou um lugar seguro na cena doom metal, fornecendo uma mistura devastadora de musicalidade esmagadora apoiada por um elemento igualmente potente psicadélico. YATRA imediatamente alavancou o seu terceiro álbum numa nova dimensão de realidade instantânea. (Earsplit) Skyfall - «Sleeping Forest» (Suécia, Instrumental symphonic orchestral death/black metal) Fundados na Suécia em 2017 por Jens de Karnivore, Skyfall apresenta um registro instrumental guiado por arranjos orquestrais e sinfónicos em cima de um som death / black metal. Neste projeto, Skyfall quis experimentar e usar mais ferramentas e instrumentos para expressar todos os meus pensamentos, sentimentos e ideias de uma forma diferente e com um som maior e mais profundo. (Independentes) The Tangent - «Auto Reconnaissance» (Inglaterra, Progressive Rock) Os Tangent estão prontos para servir o seu mais recente trabalho dos últimos 15 anos, o mundo da música rock progressiva contemporânea pareceu solidificar as linhas tradicionais esperadas do género. Se já houve um álbum do The Tangent para demonstrar a flexibilidade da filosofia da banda, o novo álbum «Auto Reconnaissance» é isso mesmo. Os 70 minutos inclui Prog Rock Foot Stomping, um dos jazzistas mais sublimes da banda até hoje, humor, narrativa, uma canção de amor R&B moderna (!), Música pop pura, instrumentais e melodias incríveis. (InsideOut Music)

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Tim Bowness - «Late Night Laments» (Inglaterra, Progressive Rock) Tim Bowness é conhecido principalmente como vocalista / co-compositor da banda noman, uma colaboração de longa data com Steven Wilson. O seu trabalho mais recente é «Late Night Laments», uma coleção de músicas exuberantes e atmosféricas com um amplo escopo lírico, que marca o mais íntimo e universal dos lançamentos a solo de Tim Bowness. (InsideOut Music) Wobbler - «Dwellers Of The Deep» (Noruega, Symphonic Progressive Metal) Se existe uma banda que captou o som da época de ouro do Rock Progressivo (1969 - 1975) sem soar regressiva ou imitadora, é a banda norueguesa Wobbler. A banda sempre teve uma abordagem enérgica e jovem da era clássica do progressivo, e conseguiu soprar uma nova vida ao género. A quinta oferta de Wobbler é uma mistura empolgante de material cuidadosamente planejado e improvisado que abrange tudo que a banda fez até agora. «Dwellers of the Deep» consiste em quatro peças distintas e é um amplo espelho dos caprichos criativos e da exuberância lúdica de Wobbler. (Karisma Records) Maahes - «Reincarnation» (Alemanha, Black Metal) A 3.000 km de distância do Vale dos Reis, em 2015 uma banda propôs-se a intercalar a atmosfera do antigo Egito, musicalmente num fundamento clássico do Black Metal. Conceptualmente, bem como musicalmente, o quinteto mostra que eles sabem como arcar com o peso da história do metal extremo. Assim como o protagonista de seu álbum conceptual «Reincarnation» escapa do cativeiro do antigo submundo egípcio e ressuscita com sucesso, onde Maahes luta estilisticamente através de um quarto de século de história musical extrema. (MDD Records) Lik - «Misanthropic Breed» (Suécia, Swedish Death Metal) A Suécia há muito é tida em alta conta como um dos focos do death metal global. Com o seu terceiro álbum, os Lik de Estocolmo apenas adiciona lenha à fogueira. O título do disco é «Misanthropic Breed», porque descreve o mundo de hoje e as gerações que estão surgindo. “É cada um por si” uma afirmação tão adequada, este também é uma homenagem oculta, tanto para os Desmember quanto para os Entombed. O quarteto que tem o seu nome da palavra sueca para “cadáver” teve um trabalho difícil para desenvolverem o melhor possível a sua carreira, desde «Carnage» de 2018. (Metal Blade Records) Orplid - «Deus Vult» (Alemanha, Neofolk) Orplid são o epítome do Neofolk alemão. Com o nome do lema dos cruzados, «Deus Vult», o seu 7º álbum é uma declaração de missão de 72 minutos que expressa a prontidão da dupla em salvaguardar a civilização ocidental e a sua tradição. Para eles, neofolk significa mais um estado de espírito inovador do que um género musical. Lutar e morrer por uma causa é um tema proeminente no sétimo álbum da dupla. (Prophecy Productions) Vrîmuot - «O Tempora O Mores» (Alemanha, Neofolk) Vrîmuot da lendária Floresta de Teutoburg, Alemanha, infunde sangue fresco no corpo consagrado do neofolk. Vrîmuot (alto alemão médio para “franqueza”) foi fundado pelo compositor, multi-instrumentista e cantor TS. Embora permaneça fiel à estética e ao estilo do género, a sua música é um reforço e uma atualização dos antigos valores neofolk, criou o DIY- maneira sem quaisquer ferramentas digitais e desdobrando-se em narrativas excepcionalmente longas e intensas de complexidade astuta. Descrevendo sua aventura como “Darkfolk Mythopoeic”, T.S. exerce seu peso metafórico para um efeito catártico, transmitindo uma mensagem positiva. (Prophecy Productions) Auðn - «Vökudraumsins Fangi» (Islândia, Atmospheric Black Metal) Como a vibrante cena black metal do país o provou, a Islândia pode ser um lugar lindo e sinistro, onde elementos furiosos ensinam o medo, mas também inspiram a criatividade humana. Enfatizando melodias em vez de dissonância e abordando a sua música de um ângulo dramático do black metal clássico, AUÐN apresenta outra obra de arte hipnotizante com «Vökudraumsins fangi». Vindo da vila de Hveragerði, no sul da Islândia, AUÐN entrega melodias assombrosas e lindas atmosferas congeladas. AUÐN explora novas paisagens sonoras e eleva a sua música a novos patamares, diferenciando-se assim de seus contemporâneos islandeses. A seis peça inspirase no seu ambiente natural, mas também mapeia o território da mente. (Season of Mist) Mörk Gryning - «Hinsides Vrede» (Suécia, Melodic Black Metal) Depois de quinze anos de sono, os adormecidos não dormem mais, os mortos não descansam mais em paz. Uma

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das lendárias bandas de black metal da Suécia, MÖRK GRYNING, está prestes a lançar a sua ira sobre as massas com «Hinsides Vrede». A combinação melódica de black metal assombroso com heavy metal, com teclados e guitarras acústicas, tornou-se a marca registrada de MÖRK GRYNING. Além disso, eles foram uma das primeiras bandas de black metal a cantar na sua língua materna. Com «Hinsides Vrede», MÖRK GRYNING encontrou novamente a sinergia que tinha ao escrever o seu lendário álbum de estreia e regressando às bases, equilibrando a melodia com brutalidade directa. (Season of Mist) Raven - «Metal City» (Inglaterra, NWOBHM, Speed Metal) A banda conseguiu novamente uma combinação perfeita de seus pontos fortes clássicos e influências contemporâneas. As músicas tradicionais do Raven rock & roll são a base do álbum. Os irmãos Gallagher dedicaram a faixa-título à sua cidade natal britânica, Newcastle, que tem sido referido como Metal City por um bom motivo. Toque com puro entusiasmo musical e paixão não adulterados, estão abertas as cortinas para «Metal City», que vê Raven entregar dez canções sem restrições. (SPV) Dead Lord - «Surrender» (Suécia, Hard Rock) Dead Lord trouxe o talento furioso de sua arte musical e a promessa de suas composições à tona com seu novo álbum «Surrender». Este é um trabalho que tem um pouco de tudo, desde licks doces e solos elegantes, até canções cativantes simplesmente notáveis que atingem-nos na sensação e enchem o tanque até transbordar. Guitar rock estelar, fresco e solto, os Dead Lord revigora e reconstitui um estilo há muito perdido, lançando-o em uma nova era com clássicos de estúdio do futuro. (Century Media) Oceans Of Slumber - «Oceans Of Slumber» (EUA, Progressive Metal/Rock) Enquanto a história registra metodicamente as loucuras da humanidade do século 21, o poder da música para inspirar, elevar e curar nunca pareceu tão vital. Oceans Of Slumber há muito tempo fornece uma linha de música pesada exclusivamente humana (e) e emocionalmente fértil; talhado nos alicerces do doom metal arcano, extremidades visceral e grandiosidade gótica. Ninguém sabe como será o futuro, mas uma coisa é certa: a música pesada continuará a inspirar, elevar, iluminar e enriquecer, e Oceans Of Slumber está firme e orgulhosamente na vanguarda: a prescrição de metal progressiva perfeita. (Century Media) Atlases - «Woe Portrait» (Finlândia, Post-Metal) Os finlandeses refinaram ainda mais o seu “Pós-Metal Moderno”. O termo escolhido pelos músicos refere-se ao embate cuidadosamente orquestrado de sons de rock e metal, que sofrem contrastes consideráveis. O espectro varia de MeloDeath a ambiente e pós-rock até dicas de Shoegaze / Blackgaze. Os elementos de estilo usados são de importância secundária. ATLASES seguem as próprias canções. Eles estão interessados em arcos de tensão bem sombreados e no máximo de emoção sombria. «Woe Portrait» é definido por humores delicados e uma atmosfera especial que mais sente do que realmente se pode captar. (Lifeforce Records) Wayfarer - «A Romance With Violence» (EUA, Black Metal) WAYFARER é o black metal do oeste americano. Uma cavalgada de fúria, melancolia e narrativa carregada de poeira; a banda é informada pelos espectros ferozes e aventureiros da música pesada, junto com a cultura americana. Em «A Romance With Violence», WAYFARER apresenta um réquiem de tela de prata ardente para o mito do Ocidente. Ousadia rítmica e carregada de riffs, a expedição da banda pelas fronteiras do black e metal extremo é tingida com uma coragem genuína. (Profound Lore Records) Fires In The Distance - «Echoes From Deep November» (EUA, Melodic Death Doom Metal) Os FIRES IN THE DISTANCE lançam o seu álbum de estreia, intitulado «Echoes From Deep November». Ao longo de seis faixas melancólicas, «Echoes From Deep November» traça uma luta perpétua contra a saúde mental e as tribulações de viver com uma depressão profunda. Cada faixa documenta picos e platôs de tormento interno, racionalização interna e uma luta contínua para sobreviver. Com teclas delicadas sobrepostas em passagens pulsantes de melancolia, «Echoes From Deep November» é uma experiência verdadeiramente envolvente. (Prosthetic Records) Foretoken - «Ruin» (EUA, Melodic Death Metal) A dupla de death metal melódico FORETOKEN estão-se a preparar para lançar o seu primeiro álbum, «Ruin». Combinando elementos sinfónicos com géneros como o folk metal, melodic death, tech death e black metal, esta combinação permitiu ao FORETOKEN criar algo familiar, mas distinto. Ao fundir várias formas de metal

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extremo, os FORETOKEN criaram paisagens sonoras cativantes para as suas histórias inspiradas na mitologia. A abordagem cinematográfica de FORETOKEN para a composição transporta o ouvinte para essas histórias do início ao fim, muitas vezes trágico. (Prosthetic Records) Garmarna - «Förbundet» (Suécia, Folk Rock) É muito fácil divulgar o ecletismo de uma banda na nossa era moderna dos mash-ups musicais e colaborações de Zoom em todo o mundo. Mas os roqueiros folclóricos suecos GARMARNA viraram as ideias tradicionais de cabeça para baixo muito antes de elas estarem na moda. Neste seu sétimo e último álbum de estúdio, «Förbundet», os GARMARNA continuam misturando o tradicional e o moderno, com os vocais frequentemente com várias faixas de Emma Hardelin flutuando em cima de tudo. (Season of Mist) Neander - «Eremit» (Alemanha, Doom/Post-Metal/Rock) Com «eremit», os neànder continuam a desenvolver a sua própria mistura de música pesada que se baseia em elementos musicais de doom, ambiente e black metal. Uma atmosfera desolada e desolada lança sua sombra neste disco. Os pesos pesados instrumentais, que se formaram em 2017, cortam um cristal escuro tocando com variações de luz e sombra. Apenas um ano e meio desde a sua estreia autointitulada, que tomou a cena da música pesada de assalto. (All Noir) Anachitis - «The Sorcerer S Sorrow» (EUA, Black Metal) Anachitis era uma pedra de adivinhação oculta usada na antiguidade, considerada um diamante bruto usado para se comunicar com espíritos na água. Este é o nome escolhido pelo membro fundador e guitarrista dos Uada, James Sloan, para o seu projeto solo, uma criatura caleidoscópica do black metal profundamente enraizada nos sons depressivos do black metal dos anos noventa. «The Sorcerer’s Sorrow» é a estreia de Anachitis, onde sintetizadores obscuros e minimalistas abrem caminho para riffs de guitarra obsessivos e gritos desesperados que recontam uma história de desespero e autodestruição. (Avantgarde Music) Beltez - «A Grey Chill And A Whisper» (Alemanha, Black Metal) «A Grey Chill And A Whisper» é uma visão expandida do black metal contemporâneo da banda alemã Beltez. O álbum é baseado num conto original, Black Banners, escrito exclusivamente para a banda pela escritora alemã Ulrike Serowy (Skogtatt). «A Grey Chill And A Whisper» é o sucessor de Beltez do aclamado disco «Exiled, Punished…». A ampla gama emocional é transmitida através de melodias assustadoras, gritos emocionantes e bateria batendo em peças densas, sinistras e muito temperamental de música dark art. O resultado é uma entidade monolítica que assusta tanto quanto atrai. (Avantgarde Music) Void Paradigm - «Ultime Pulsation Demain Br–Le» (França, Black Metal) Void Paradigm tem vagueado pelo underground francês há vários anos, com membros vindos de diferentes experiências e bandas. O Void Paradigm chama o seu black metal de dodecafónico, já que Payan frequentemente se baseia numa técnica de composição em doze escalas, desenvolvido no início do século XX. Enquanto o Void Paradigm tenta experimentar novas maneiras de fazer black metal, às vezes escrevem a música literalmente na mesa e não procuram riffs na guitarra, tentando compor escrevendo antes de tocar, para quebrar os riffs automáticos e tentar ir para outro lugar. (Avantgarde Music) Finntroll - «Vredesvävd» (Finlândia, Blackened Folk Metal) Os trolls estão de volta - com mais raiva, mais fome e mais malvados do que nunca! «Vredesvävd» é o sétimo LP dos Finntroll, o primeiro em longos sete anos. O título traduz-se em “Wrath-woven”, o que apropriadamente implica o que é o registro vigoroso, sem remorso e mal-humorado. «Vredesvävd» combina os elementos mais essenciais do passado da banda com um pacote de temperos frescos. É inovador, cativante, variado e fiel às raízes de Finntroll. (Century Media) Skeletal Remains - «The Entombment Of Chaos» (EUA, Death Metal) A banda californiana de death metal SKELETAL REMAINS tem o orgulho de apresentar o sucessor do muito elogiado «Devouring Mortality» de 2018. «The Entombment Of Chaos», o seu quarto e mais realizado álbum de estúdio até o momento, mais uma vez, a banda decidiu confiar em ‘Dan-power’, uma combinação perfeita estabelecida no álbum anterior. Mantendo a mistura de death metal clássico do início dos anos 90, os SKELETAL REMAINS transformaram as influências num opus mais sombrio e consistente, dando mais intenção ao fluxo do álbum e adicionando algumas surpresas que os próprios conseguiram construir. (Century Media) Old Mother Hell - «Lord Of Demise» (Alemanha, Epic Doom/Heavy Metal) O power trio alemão emergente está de volta com oito canções de metal verdadeiro, autêntico e à prova de

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tendências! Na sequência de sua estreia homônima em 2017, os alemães OLD MOTHER HELL cavaram as raízes para uma coleção memorável e animada de metal puro e puro em «Lord Of Demise». Este captura perfeitamente a essência dos OLD MOTHER HELL. Eles são uma raridade na cena do metal de hoje: autênticos e sem truques. Seu som é puro. O álbum soa poderoso e nítido, repleto de oito canções que abraçam suas raízes do metal clássico. (Cruz Del Sur Music) Bleeding Out - «Lifelong Death Fantasy» (Canadá, Deathgrind) BLEEDING OUT é uma banda deathgrind de Toronto, Ontário. E, no entanto, por trás dessa declaração aparentemente banal, esconde-se uma verdade musical muito mais violenta e fervilhante. BLEEDING OUT é uma banda com uma variedade implacável de riffs que derretem o rosto. Utilizando grindcore e death metal como uma lente musical para olhar longa e duramente este mundo encravado, «Lifelong Death Fantasy» representa o próximo passo lógico na tempestade simbiótica de Riffs mortais e decadência do mundo interior de BLEEDING OUT. (Earsplit) Dialogia - «Nostrum» (EUA, Doom/Death Metal) Uma jornada sonora estonteante e conceitual, «Nostrum» de dez faixas revela uma nova coleção de cifras, que cruzar o limiar das sombras para o éter. Estes são ambientes exóticos, de uma paisagem sonora serena e desencarnada a um turbilhão de percussão vicioso, de águas sombrias estagnadas ao julgamento severo de pedra que respira ... mas eles podem parecer assustadoramente familiares para alguns poucos selecionados. (Earsplit) Of Feather And Bone - « Sulfuric Disintegration» (EUA, Death Metal) «Sulfuric Disintegration» de OF FEATHER AND BONE mostra o trio no seu lançamento mais brutal, dinâmico e punitivo até o momento. O álbum segue «Bestial Hymns Of Perversion», um álbum que sinalizou uma nova mudança de paradigma para a banda e viu a banda receber o reconhecimento merecido, trazendo um novo sentido de conscientização para a banda. «Sulfuric Disintegration» leva a intensidade e aura OF FEATHER AND BONE para o próximo nível. Uma visão musical mais dinâmica e complexa que equilibra os géneros de puro dark death metal, grinding e implacável bestial metal. (Earsplit) The Troops Of Doom - «The Rise Of Heresy» (Brasil, Death Metal) A banda brasileira de death metal THE TROOPS OF DOOM lança o seu trabalho de estreia, «The Rise Of Heresy». THE TROOPS OF DOOM é liderado pelo guitarrista Jairo “Tormentor” Guedz da banda The Mist e ex-Sepultura da formação original como autor e co-autor dos álbuns clássicos Bestial Devastation e Morbid Visions, tendo também colaborado em algumas composições de Schizophrenia. O objetivo de THE TROOPS OF DOOM é revisitar a essência do death metal do estilo dos anos 80, explorando um som mais primitivo que leve os ouvintes de volta àquela era, enquanto permanece fresco e genuíno. (Earsplit) Nocte Obducta - «Irrlicht» (Alemanha, Avant-garde /Art Black Metal) O NOCTE OBDUCTA foi fundado em 1995 como sucessor da banda Deshîra. Agora, 25 anos depois, este é o 13º álbum com o título «Irrlicht (Es schlägt dem Mond ein kaltes Herz)». Retornando a territórios estilisticamente antigos, NOCTE OBDUCTA está elevando momentos da história da banda de uma maneira lírica não polida. Neste novo álbum, os NOCTE OBDUCTA parece honesto e incomparavelmente mais implacável do que era na época de «Nektar». (Independentes) Pymlico - «On This Day» (Noruega, Instrumental prog rock) Pymlico tem em «On This Day», o seu sexto álbum de estúdio. Após o sucesso dos dois álbums anteriores, a banda instrumental norueguesa continua explorando o espaço entre o rock progressivo e a fusão. «On This Day» vê o grupo expandindo seu som com um uso extensivo de metais e um foco mais forte em elementos de groove na música. Ao mesmo tempo, o álbum nunca se afasta do que se tornou a marca registrada do Pymlico; fortes faixas melódicas. Misturar géneros e inspirar-se numa ampla fonte de estilos, incluindo rock progressivo, jazz rock, fusão, AOR e pop, resultou em oito poderosas faixas. (Independentes) Neal Morse - «Sola Gratia» (EUA, Progressive Rock) O cantor-compositor-versátil-músico do calibre Neal Morse, cuja reputação como um dos mais talentosos e talentosos do mundo do rock progressivo, é um dos mais prolíficos artistas atuais. Como grande parte da música de Neal, «Sola Gratia» originou-se de uma semente plantada na sua mente, seguida muito mais tarde

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por um turbilhão de inspiração. Musicalmente, «Sola Gratia» também tem alguns motivos de «Sola Scriptura» na narrativa musical contínua. A habilidade habitual de Morse está muito ‘na casa do leme’ de seus álbuns progressivos anteriores, como «Sola Scriptura» e «Question Mark». (InsideOut Music) Rikard Sjöblom’s Gungfly - «Alone Together» (Suécia, Progressive Rock) O multi-instrumentista sueco Rikard Sjöblom teve uma vida extremamente produtiva nos últimos anos, seja trabalhando com os roqueiros progressivos ingleses Big Big Train ou assumindo a liderança com Gungfly. «Alone Together» viu Gungfly gravar como um trio, como irmãos. Acima de tudo, porém, «Alone Together» é um álbum sobre relacionamentos. É um rock progressivo com foco no ROCK, onde cada instrumento significa algo na mixagem. O título «Alone Together» pode parecer apropriado, considerando a atual situação mundial. (InsideOut Music) Décembre Noir - «The Renaissance Of Hope» (Alemanha, Melancholic Doom / Death Metal) Aquilo que é esperança para uma pessoa pode causar profundo sofrimento para outras. E quanto sofrimento deve ser experimentado por quem cumpre esse desejo por amor. Este martírio de devoção, que não se pode imaginar, é retomado na obra de «The Renaissance Of Hope». Mas, mais uma vez: a esperança pode ser muito diversa, mesmo que este termo englobe um retrato inimaginável da própria humanidade. Desde 2008, DÉCEMBRE NOIR apresentou e desenvolveu a sua mistura melancólica-melódica de Death e Doom metal. (Lifeforce Records) Ascian - «Elysion» (Alemanha, Death/Doom Metal) Bem-vindo a uma nova era de Doom! Em 2018, quatro músicos de Brunswick e Würzburg uniram-se sob o nome de Ascian para semear a miséria, que fluirá em rios sem fim entre a humanidade. A banda combina inspirações musicais de Doom e Post (Black) Metal, criando um som único de vibrações de chumbo: Desesperado e sombrio, mas repleto de um vislumbre de melancolia que brilha na escuridão. O presente álbum é o primeiro testemunho, onde o quarteto estabelece uma nota completamente individual. (MDD Records) Armored Saint - «Punching The Sky» (EUA, Heavy Metal) Líderes e partidários da cena do heavy metal americano desde o início dos anos 80, o oitavo álbum dos Armored Saint, «Punching The Sky», vê-os regressando com força. Uma coleção diversa e repleta de atitude, é tudo o que os fiéis da banda esperam deles enquanto impulsionam o seu som característico. Com o lugar da banda na cena do metal firmemente restabelecida com «Punching The Sky», eles estão olhando para o seu aniversário de quatro décadas. (Metal Blade)

Serviam Records)

Trident - «North» (Suécia, Death/Black Metal) Os suecos blackened death metallers TRIDENT editam o seu segundo álbum «North», querendo se afastar da música extrema e estrutural e querer trazer de volta a alma dos grandes nomes. O álbum é uma jornada épica através do blackened death metal com o toque único e próprio da banda. TRIDENT abraçou a liberdade das estruturas musicais e limites para criar algo que fala de dentro. Este álbum é uma visão do que acreditamos do que estava a faltar naquela época com o propósito de trazer de volta a alma dos grandes nomes. (Non

Heathen - «Empire Of The Blind» (EUA, Technical Speed/Thrash Metal) As lendas do thrash da Bay Area HEATHEN estão de volta! O novo álbum, «Empire of the Blind», começa onde o trio de LPs do grupo saiu, indo mas vai além dos limites de agressão, melodia e peso. Na verdade, a ideia por trás de «Empire of the Blind» era um álbum de todas as eras, que tinha uma atitude distinta complementada por composições mais curtas e focadas. Essencialmente, HEATHEN clássico, mas com proficiência musical atualizada e economia. (Nuclear Blast Records) Descend To Acheron - «The Transience Of Flesh» (Austrália, Technical Death Metal) Brutal e directo ao ponto técnico do Death Metal com notas de Black Metal! Descent To Acheron, vindo de Adelaide, no sul da Austrália, tocam Death Metal pulverizado com notas de Black Metal adicionadas ao seu som. Batidas explosivas, grooves de soco e vocais brutais são algumas das marcas registradas do EP de estreia da banda, «The Trancience Of Flesh». Os sons da velha escola andam de mãos dadas com leves toques progressivos. As seis músicas deste álbum são uma excelente maneira para a banda lançar a sua relativamente jovem carreira, apesar de ter veteranos experientes nas suas fileiras. (Petrichor)

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Nasty - «Menace» (Bélgica, Hardcore) Os Belgas NASTY têm trabalhado com o hardcore metálico punido e fragmentado em todo o mundo desde oseu início em 2004. Com uma ética de trabalho incansável e atitude positiva, NASTY tornaram-se uma força internacional em qualquer lugar. Agora, num momento de incertezas, NASTY traz a certeza de sons arrasadores com seu álbum de estreia, «Menace». Este pode ser o lançamento mais vingativo de NASTY até hoje. É o equivalente sónico de uma contusão massiva. (Century Media) Realize - «Machine Violence» (EUA, Industrial Metal) Os REALIZE do Arizona canalizam seu novo álbum «Machine Violence», reunindo uma abordagem abrasiva e hiperagressiva do metal industrial. REALIZE e «Machine Violence» refletem sobre o avanço da convergência da vida orgânica e das máquinas. Nenhum amplificador ou bateria foi usado no processo de gravação; vocais, guitarras e baixo, todos usavam amplificadores computadorizados e modulações de efeito, e a bateria foi programada numa máquina Alesis. (Relapse Records) Tombs - «Under Sullen Skies» (EUA, Black/Post-Metal) Formado nos cantos arenosos do Brooklyn, NY, o mandato inicial de TOMBS foi imerso na aspereza e atonalidade do black metal, mas dosado com traços de influências e inspirações variadas enraizadas na memória muscular musical de Hill por bandas anteriores. A incerteza pode reinar no momento, mas Hill e TOMBS ainda farão o seu trabalho e se contentarão em agradar a si mesmos no processo. Se acontecer de mais alguém acompanhá-lo, seja bem-vindo a bordo. (Season of Mist) Mors Principium Est - «Seven» (Finlândia, Melodic Death Metal) Os melodeathers finlandeses MORS PRINCIPIUM EST estão de volta com seu o sétimo álbum, curto e rápido intitulado «Seven». Death Metal, que é quase progressivo na sua brutalidade, combinado com orquestrações sofisticadas. Riffs de guitarra afiados e de alta velocidade, rosnados poderosos e agourentos, produz um som sinistro e bruto que, apesar de sua dureza, é aperfeiçoado com melodia e melancolia. Com dez canções inéditas e um álbum, que representa death metal inovador, MORS PRINCIPIUM EST são mais uma vez capazes de brilhar facilmente no equilíbrio entre a velha escola e o metal moderno. (AFM Records) King Mothership - «The Ritual» (EUA, Progressive Metal) O metal progressivo costuma ser definido por uma postura machista, mas Spencer Sotelo – Periphery - destaca-se no género por a sua extensão física e tonal: muitas vezes saltando numa única melodia de um rosnado pop-punk a um grito pós-hardcore brutal com notas altas e teatrais dignas de um Queen. «The Ritual», é um “álbum a solo” num sentido muito literal: Sotelo, mostrando o seu toque multi-instrumental, inquiriu todas as guitarras, programou todos os teclados, tocou um pedaço do baixo. (Century Media) Necrophobic - «Dawn Of The Damned» (Suécia, Death Metal) NECROPHOBIC são uma lenda indiscutível do Death e do Black Metal underground. Evitando o amadorismo auto consciente e a sonoridade primitiva de muitos de seus pares, NECROPHOBIC estabeleceu uma identidade ousada e vívida própria, evocando uma abordagem densamente melódica, mas infinitamente perversa, do metal extremo macabro que incontáveis bandas menores desde então emularam. (Century Media) Convulse - «Deathstar» (Finlândia, Progressive Death Metal) Uma obra-prima de quase 41 minutos, Deathstar oferece nove faixas que transcendem os limites do death metal padrão. Combinando os princípios primordiais do death metal, rock pesado e progressivo em algo inovador e atraente, o álbum indiscutivelmente, começa onde o subestimado álbum de 1994 parou, adotando uma abordagem de flexão de género semelhante e modernizando-a. O som do álbum é atemporal. A capacidade de preencher a lacuna entre os grooves do hard rock e as secções melódicas impregnadas de atmosfera é nada mais nem menos que surpreendente. (Earsplit) Skeleton Pit - «Lust To Lynch» (Alemanha, Old-School Thrash Metal) Thrash Metal da velha guarda, direto, agressivo e sem compromissos. Em «Lust To Lynch» os Skeleton Pit desenvolveram-se em termos de agressividade, profundidade e também liricamente, sem perder o traço de agilidade e poder. Os três rapazes de Aalen simplesmente têm thrash no sangue, o que traz lágrimas de alegria aos olhos de quem usa um tênis de cano curto e cano alto. (MDD Records)

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Horsewhip - «Laid To Waste» (EUA, Blackened Hardcore) Batidas abrasivas combinadas com paisagens sonoras imersivas têm sido os blocos de construção centrais da essência de HORSEWHIP, desde o lançamento de seu álbum de estreia homónimo. Com o seu som refinado e cultivado até ao seu estado mais marcante, HORSEWHIP lança o seu novo LP «Laid To Waste». O quarteto da Flórida floresce através do uníssono do hardcore discordante e do punk crust selvagem com sabores adicionais aqui e ali, todos combinando perfeitamente através de uma postura metálica e uma produção cristalina, mas característica. (Earsplit) Yaotl Mictlan - «Sagrada Tierra Del Jaguar» (EUA, Black Metal) «Sagrada Tierra del Jaguar» mostra YAOTL MICTLAN - que se traduz em “Guerreiro (s) da terra dos Mortos” na língua mexicana Nahuatl - entregar o seu material mais épico até o momento. Focado num misticismo mesoamericano mais profundo para a música, as oito canções expansivas levam o ouvinte a uma jornada visceral com quase cinquenta e sete minutos da visão criativa e cultural da banda do black metal. Riffs escaldantes e ataque de metal martelando, belas auras e melodias se encontram com a instrumentação tradicional e préhispânica, transportando mentalmente o ouvinte para uma era diferente na linha de sangue orgulhosa dos membros. (Earsplit) Ring Van Möbius - «The 3Rd Majesty» (Noruega, Progressive rock) Os puristas analógicos Ring Van Möbius são conhecidos por serem fiéis à filosofia do rock progressivo original, combinando instrumentos dos anos 60/70 com a velha arte da gravação em fita, adicionando o seu próprio toque de loucura musical criativa. O trio norueguês lança o seu segundo álbum «The 3rdMajesty» de maneira hipnotizante - uma pérola progressiva impulsionada por Hammond que poderia ter sido lançada tão facilmente em 1971 quanto mais hoje. (Independentes)

Blade Records)

DéLuge - «Ægo Templo» (França, Black Metal) A França há muito é um terreno fértil para o black metal, e um de seus segredos mais bem guardados é Déluge, que vem criando uma mistura desse género e pós-hardcore desde 2014. Eles estão de volta com o segundo esforço «Ægo Templo», um disco mais acessível que empurra o seu som em direções cada vez mais imaginativas. Criando música brilhante, poderosa e honesta inspirada no black metal, a banda não afirma pertencer verdadeiramente àquela cena. «Ægo Templo» marca um passo ousado em relação à produção anterior. (Metal

Vultör - «Visões Do Fim» (Brasil, Speed/Heavy Metal/Punk) Vindos de Belo Horizonte, os VULTÖR surgem dos misteriosos amanheceres com a sua atitude intransigente em relação ao que podemos julgar como maistream. «Caçada da Noite» e «Lobos na Noite» foram criados pelas mesmas forças e são os antepassados desta dinastia punk’em’roll’em’thrash ‘implacável. O recém-nascido chamado «Visões do Fim», é uma homenagem a todos os fins de visões impuras. (Independentes) Loudblast - «Manifesto» (França, Death Metal) LOUDBLAST têm sido veteranos do death metal e porta estandarte do género na França e na Europa. Ao que tudo indica, uma carreira de 35 anos para um artista musical é uma grande conquista, notadamente para uma banda de metal extremo que viaja por todas as evoluções no que diz respeito ao consumo musical e aos negócios em geral, e que ainda soa inegavelmente como feroz, poderosa e mais feroz do que nunca! O novo álbum «Manifesto» é um esmagador de death metal imediato, permeado com uma sensação de “direto para matar” e realçar aquela marca registrada original e poderosa do death metal. (Listenable Records) Nuclear Power Trio - «A Clear And Present Rager» (EUA, Progressive Metal) A eficiência de Donald e Kim fala muito sobre o valor de utilizar uma plataforma musical no lugar de uma política. Donald, usando a mesma guitarra que foi deixada para trás por uma família despejada em um dos conjuntos habitacionais de seu pai na década de 70, toca linhas de fusão metálica em uma secção rítmica compacta. Com floreios de synthwave dos anos 80 e guitarra clássica de inspiração latina, salvar o mundo é tão musical e emocionalmente satisfatório quanto é pura diversão. O primeiro lançamento dos Nuclear Power Trio, «A Clear and Present Rager», foi gravado em Denver, Colorado. (Metal Blade Records) Surma - «The Light Within» (Internacional, Symphonic Metal) Elevado, dramático e comovente, «The Light Within» apresenta Surma como uma das bandas de metal sinfónico mais fascinantes da cena contemporânea. Espalhados por 13 faixas em 47 minutos, não há um momento perdido

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enquanto eles tecem as suas histórias épicas de optimismo em torno de uma música que é adequadamente gigantesca, mas comprimida em canções relativamente curtas. (Metal Blade Records) Amaranthe - «Manifest» (Suécia, Melodic Power Metal) O retorno triunfante de AMARANTHE parece particularmente oportuno. O six-piece sueco passou a última década estabelecendo-se como uma força melódica formidável, positiva e fervorosa para o bem metálico. AMARANTHE turvou magistralmente as linhas entre metal melódico, brutalidade esmagadora, varredura cinematográfica e brilho futurista. Embora os suecos tenham feito sua abordagem eclética e imprevisível para fazer da música pesada uma marca registrada, as enormes melodias, riffs incisivos e sons cintilantes e multidimensionais que tipificaram sua ascensão à glória estão aqui em abundância. (Nuclear Blast) Enslaved - «Utgard» (Noruega, Black Metal) Nascidos na periferia da infame revolta de adolescentes incendiários mais comumente associados a um género chamado Black Metal norueguês, os vikings de Bergen compartilharam a inspiração e os ideais de produção. O seu novo álbum é uma jornada através do assustador Utgard. «Utgard» mostra ENSLAVED desencadeado e pensado, numa combinação letal que desdobra um potencial que facilmente reacende o furor de seus primeiros trabalhos enquanto dança graciosamente através de suas melodias mais ambiciosas, mais assombrosas e mais musicais. (Nuclear Blast) Kataklysm - «Unconquered» (Canadá, Melodic Death Metal) Trovejando com o poder recém-abastecido das sombras e poeira da existência desmoronando da humanidade, KATAKLYSM retorna triunfante com seu 14º álbum de estúdio: «UNCONQUERED». Por quase 3 décadas, o sindicato franco-canadiano de death metal melódico emitiu ondas sem remorso de som poderoso por todo o globo. Temas de lutar e superar o intransponível fervilham nas letras e melodias de «UNCONQUERED». (Nuclear Blast) Sole Syndicate - «Last Days Of Eden» (Suécia, Melodic Heavy Metal) O estilo do Sole Syndicate pode ser descrito como um clássico hard’n’heavy com melodias fortes e cativantes. O título do excitante novo álbum é uma referência ao que está acontecendo agora com a pandemia em curso, aumento do crime e instabilidade política. No geral, «Last days of Eden» é uma colecção brilhante de refrões charmosos, vocais soberbos e solos de guitarra cintilantes! É um paraíso do heavy metal melódico cativante, intrigante e muito bem trabalhado! (Scarlet Records) Them - «Return To Hemmersmoor» (EUA, Heavy Metal) Thrash metal encontra história de terror / fantasia, parte III: o seu último álbum «Return To Hemmersmoor» mostra a banda teuto-americana Them apresentando a terceira parte de uma trilogia que foi lançada em 2016. «Return To Hemmersmoor» retoma de onde a linha temática de seus dois antecessores parou e traz a história a um final emocionante, documentando ao mesmo tempo a evolução musical inconfundível da banda. O álbum segue os modelos da cena da Bay Area, por outro lado mas deixa uma impressão digital inconfundível e característica. (SPV)

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CURIOSIDADESPALETES Género Progressive Rock Black Metal Death Metal Progressive Metal Melodic Death Metal Thrash Metal Power Metal Progressive Death Metal Doom Metal Neo-Folk Progressive Metal/Rock Speed/Power Metal Sludge Metal Black 'n' Roll Post-Metal Avant-garde Metal Doom/Death Metal Heavy Metal Technical Death Metal Black/Death Metal Death/Black Metal Hardcore Psychedelic Sludge Metal Melodic Black Metal Hard N'Heavy Industrial Metal Hard Rock Progressive Black Metal Post-Black Metal Atmospheric Black Metal Post-Metal/Rock Blackened Sludge Speed Metal Doom/Sludge Speed/Heavy Metal Doom folk Progressive Metal Industrial Metal Thrash Metal Funeral Doom/Death Metal Melodic Doom Metal Funeral Doom Metal Melodic Heavy Metal Dark Metal Psychedelic Doom Metal Speed/Thrash Metal Blues Rock Progressive Power Metal

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#LPs 19 18 14 10 6 5 5 4 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Género Grindcore Black/Thrash Metal Epic Doom Metal Depression Rock Avant-garde/Black Metal Hardcore Punk / Grindcore Melodic Death/Doom Death/Thrash Metal Symphonic Metal Avant-guard Black/Death Metal Death Doom Metal Symphonic Progressive Metal Groove Metal/Metalcore Melodic Black/Death Metal Atmospheric Black Doom Metal Atmospheric Post-Rock Industrial Black Metal Blackgaze/post-Black Metal Melodic Groove Metal Psychedelic Rock N' Roll Melodic Death/Doom Metal Post-Punk Folk Rock Symphonic Power Metal Blackened Metal Melodic Progressive Metal Deathgrind Hard Rock Dark Doom Folk Blackned Hardcore / Metal Death/Doom Metal Post Rock Black/Post-Metal Epic Folk Metal Blackened Hardcore Depressive Black Metal Old-School Thrash Metal Progressive Death Metal Melodic Power Metal Dark Rock Thrash/Power Metal Psychedelic Rock Blackened Deathcore Post/Math Rock

#LPs 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

Álbuns por Países País

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Nesta edição, chegaram-nos à redação um total de 199 álbuns para ouvir, analisar e criticar


(Su)Posições - Hard N’ Heavy Por: Gabriel Sousa

A minha trajectória como ouvinte de Hard Rock (E Heavy Metal) Quando faço uma retrospectiva dos meus gostos musicais ao longo destes quase 40 anos de vida chego à conclusão que o único estilo que realmente se mantém desde o início, desde que tenho lembrança é mesmo o Rock e em particular o Hard Rock. Não tenho a menor dúvida que as primeiras músicas que me lembro são “The Final Countdown”, “Livin’ On A Prayer” e “Contentores” e eu deveria ter uns 4 ou 5 anos quando as ouvi pela primeira vez, nos já longínquos anos 80. Nestes primeiros anos reparava já que a música (e o que eu gostava) já era muito importante, já fazia parte de uma “marca de personalidade”, enquanto que os meus coleguinhas ouviam as coisas infantis e o Pop da época eu já gostava de coisas como Bryan Adams, Ac/Dc, Bon Jovi, Europe, Xutos & Pontapés, Scorpions, entre outros que já eram a banda sonora de longas horas a gravar música na rádio. Com os anos 90 veio o Top+, a MTV, a VIVA, os videoclips e no meio de muita coisa Pop comecei também a gostar de Extreme, Iron Maiden, Metallica, Aerosmith, Whitesnake, Mr. Big, entre outros nomes que apareceram nestes veículos de propagação de modas em massa. E é precisamente nos anos 90 que melhor defino o meu gosto musical e a minha paixão pelo Hard Rock (e um pouco menos, pelo Heavy Metal). Durante os anos 90 passei ao lado de todas as modas Rock Alternativo, Grunge, Brit Pop, Dance Music, Nu Metal, todas elas levaram para essas ondas pessoas que eu conhecia e ao longo dos anos fiquei cada vez mais sozinho no meu gosto musical. Durante os anos 90 ser adolescente e gostar de Hard Rock e Heavy Metal era uma coisa bem complicada. Com os anos 2000 e a existência da Internet, abriu-se um novo mundo de conhecimentos, quer ao nível de bandas, quer ao nível de pessoas que partilhavam os mesmos gostos musicais (as mesmas bolhas musicais) e foi com a Internet que mergulhei cada vez mais no mundo do Hard Rock e a nossa Versus Magazine é um exemplo acabado deste último paragrafo. Com a Internet chegaram a mim coisas que eu nunca imaginaria conhecer sem esse meio fabuloso, nomes underground, nomes de bandas que até foram grandes mas tinham desparecido e MUITAS, MUITAS mesmo bandas/artistas novos com qualidade de músicas equivalente a muitos clássicos do mainstream mas que surgiram na época errada, fora da época em que o Hard Rock era mainstream, e por isso ficam apenas conhecidas dentro da bolha. Poderia dar muitos exemplos, vou só dar o um, o último nome que encantou as minhas queridas orelhinhas, CHEZ KANE! Mas porquê ao longo destes anos, o Hard Rock? Sinceramente, já pensei nisso e nunca cheguei a uma real conclusão, consigo chegar mais facilmente à conclusão do porquê de não gostar de outros géneros. E foi este o meu caminho, aquele que me levou ao Hard Rock (e também ao Heavy Metal). Rock On

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Postas de pescada “Postas de Pescada: devaneios de dois energúmenos sobre personalidades da música” será um espaço partilhado, entre dois “jornalistas”, onde se falará sobre músicos, bandas, acontecimentos e outras coisas que tais... Como devem ter reparado, o “outro” ainda não “mandou as postas”. Para a próxima edição não há a Parte 3 e depois, talvez o “outro” contribua...

Heavy Duty - Days and nights in Judas Priest K. K. Downing with Mark Eglinton (Constable, 2018) Por: Ivo Broncas | Eduardo Ramalhadeiro

Esta semana os dois energúmenos que costumam escrever nesta rúbrica não poderam ou não quiseram dar o seu contributo habitual. No entanto, não queremos que vos falte nada e convidámos uma pessoa séria para falar sobre a autobiografia de K.K. Downing, ex-guitarrista dos Judas Priest. Tem a palavra Ernesto Martins Fundador da banda que representa, por si só, o epítome do Heavy Metal, e criador de riffs que deviam ser justamente elevados a património da humanidade, K. K. Downing apresenta aqui, não apenas o esperado resumo biográfico da sua carreira de quatro décadas com os Judas Priest, mas também um profundo exercício de catarse pessoal duma vida. Para Kenneth Downing a história começa num lar dos subúrbios do Black Country interior da Inglaterra industrial da década de 1950, onde viveu uma infância pouco feliz à conta dos comportamentos obsessivos do pai, e uma adolescência não menos atribulada, que, em retrospectiva, viriam a moldar definitivamente a sua personalidade, influenciando todas as suas relações pessoais futuras. Downing despertou para a música com Jimi Hendrix, adquirindo o seu primeiro instrumento – uma guitarra acústica – com as primeiras libras que economizou a trabalhar, primeiro como ajudante de cozinha e depois como electricista. E foi exactamente o espírito inovador de Hendrix que o inspirou a criar para além do blues e do psicadelismo tão ubíquo nas bandas locais do período 1969-70. Foi em 1969 que fez a sua primeira audição para entrar nos Jug Blues Band, a banda de Al Atkins que viria, pouco depois, a chamar-se Judas Priest. Mas foi rejeitado. Com os pop Stagecoach obteve os primeiros ganhos financeiros como músico que lhe permitiram comprar a sua primeira Gibson SG (na altura a Flying V ainda era um sonho inacessível). A seguir formou os Freight, já com o baixista Ian Hill. A primeira encarnação dos Judas Priest seria entretanto dissolvida por Al Atkins que se juntou prontamente aos Freight. Logo a seguir os Freight assumiram o nome que fascinou Downing desde o início: Judas Priest (curiosamente inspirado numa canção de Bob Dylan). Foi esta formação seminal que compôs, em 1970, aquele que viria a ser o clássico “Victim of

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changes”, assim como “Winter”, “Dreamer deceiver”, “Never satisfied” e “Caviar and meths”, temas que surgiriam nos primeiros dois álbuns da banda, em 1974 e 1976, já gravados com Rob Halford e Glenn Tipton. Passado o momento do primeiro contrato discográfico, de onde resultou «Rocka Rolla», o livro vai avançando a passos largos para os discos seguintes, focando-se nas longas temporadas passadas em estúdio a compor e a gravar (e revelando muitas curiosidades sobre a origem de alguns clássicos), nas várias peripécias típicas do rock’ n’ roll lifestyle, e em diferentes aspectos da vida pessoal de Downing. Uma boa parte da narrativa é pontuada por reflexões sobre o percurso da banda e por apreciações criticas sobre muitas das decisões tomadas na altura. Das relações com outras bandas, ressalta a admiração pelos AC/DC e Motorhead e os choques de ego com os ainda debutantes Iron Maiden. Reconhecido como um ponto de viragem, «British Steel» marca um período de crescimento meteórico a todos os níveis para os Judas Priest, que culmina no maior sucesso de vendas em «Screaming for Vengeance». A década de 80 é a época de maior realização para Downing, que reclama para si a ideia da clássica indumentária de cabedal que se viria a tornar rapidamente o dress code de toda uma cultura. Várias páginas são dedicadas ao polémico e radio-friendly «Turbo», às guitarras sintetizadas e à abertura a novos fãs, especialmente às do sexo feminino. Da tríade estereotipada “sexo, drogas e rock’ n’ roll “, Downing confessa ter gozado muito do primeiro, mas dispensado sempre a segunda, fazendo ponto de honra em não beber antes dos concertos de forma a assegurar o melhor desempenho possível. Depois do regresso ao melhor dos Priest com «Painkiller» e ao polémico caso de tribunal com o PMRC, dá-se a saída de Halford, em 1991. Poucos saberão que, mesmo antes de conhecer as intenções de Halford, já Downing pensava sair dos Judas Priest, tendo mesmo chegado a redigir a sua carta de demissão. Mas como Halford se antecipou, Downing acabaria por abortar a demissão já que, pensava ele, a banda se ia dissolver de qualquer modo. O descontentamento de Downing, que transparece de forma recorrente ao longo de todo o texto, decorre das incompatibilidades com Glenn Tipton, que remontam já a 1976, ao tempo de «Sad Wings of Destiny». Na visão de Downing, Tipton tentava controlar a banda, de forma subtil, tanto do ponto de vista criativo como na gestão dos concertos. Além disso era demasiado exibicionista ao vivo, tentando sempre assumir o protagonismo das guitarras. Em suma, uma rivalidade de bastidores entre os dois guitarristas que chega a raiar a infantilidade. O ânimo de Downing parece renovar-se em 2004 com a reentrada de Halford, por ocasião do Ozzfest. Até porque foi sempre com Halford que Downing sentiu sempre a maior proximidade pessoal. A propósito, refirase que a orientação gay de Halford, tornada pública em 1998, já era conhecida pelos membros da banda desde o início, sem receio que isso fosse afectar a imagem dos Judas Priest, mesmo numa época (anos 70) em que o tema era ainda muito estigmatizado. Mas apesar das gravações de «Angel of Retribution» terem decorrido com aparentemente normalidade as relações entre Downing e o introvertido Tipton (com quem Downing nunca conseguiu alguma proximidade em 37 anos de convivência) voltaram a piorar. Para evitar confrontos Downing acabaria sempre por ceder à vontade de Tipton – por exemplo, na divisão de solos e na escolha do título do álbum, que, segundo Downing, deveria ter sido «Judas Rising» – acabando por acumular mais e mais frustrações. É um erro que Downing reconhece em si próprio e que lamenta, embaraçosamente, no fim de toda a reflexão que é este livro. A saída dos Judas Priest, que aconteceu finalmente em 2011, acabaria por não ser nada amigável e é inevitável não sentir que toda uma saga de quatro décadas termina para Downing num tom de alguma amargura. No último capítulo, num balanço de sentimentos mistos, Downing, (agora com 69 anos ide idade) considera que o sucesso dos Judas Priest podia ter sido ainda maior. Houve decisões erradas, oportunidades perdidas e pessoas erradas envolvidas. Na opinião do guitarrista, a banda não realizou todo o seu potencial, tanto do ponto de vista criativo como financeiro. Com um texto fluente e de fácil leitura, redigido com a ajuda da pena profissional de Mark Eglinton, conhecido pela co-autoria das biografias de James Hetfield («So Let it be Written») e de Adam “Nergal” Darski («Confessions of a Heretic»), «Heavy Duty» é um relato honesto e sentido de uma vida dedicada à música, e uma visão singular de bastidores dos primeiros 40 anos de carreira de uma das mais icónicas formações do Heavy Metal.

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GARAGE POWER

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Cinematografia sonora Este é daquele tipo de projectos independentes que nos dá um gozo enorme ajudar a promover e divulgar – Soundscapism Inc. é, pura e simplesmente, uma pérola sonora. Entrevistas: Eduardo Ramalhadeiro

Olá, antes de mais esperamos que esteja tudo bem contigo. Obviamente, as primeiras perguntas só poderiam ser: Quem é o músico Bruno A. e quem são os Soundscapism Inc.? Bruno A. - Olá Eduardo/VERSUS! Tudo bem, tendo em conta as condicionantes atuais - aqui piores que aí. Ora o Bruno A. é um músico e produtor português, a viver em Berlim há cerca de 9 anos. Comecei aí em PT em meados de ‘99 com Arcane Wisdom, mais tarde formei Vertigo Steps (a banda pela qual serei mais conhecido) e desde 2015 estou com Soundscapism Inc. Começaram todos como projetos a solo que contaram com convidados - e os vocalistas dos 2 primeiros tornaram-se eventualmente membros efetivos. Mas nunca se materializaram ao vivo. SInc. é um projeto a solo puro, onde faço basicamente tudo, mas tenho tido oportunidade de contar com talentosos convidados em todos os álbuns - e o novo não podia ser exceção (Manuel Costa e Tobias Umbach). Como é que defines a tua música em geral e se quiseres, «Afterglow of Ashes» em particular? Definir o meu som não é tarefa fácil, até por ser tão versátil. Isso prende-se com os meus gostos, que apesar de seletivos, se alargam

por um espectro musical bastante vasto, desde simples música ambiental até metal extremo, passando por post-rock, prog, triphop ou eletrónica. Basicamente gosto de música com uma salutar dose de ambiência, de preferência com alguma escuridão, risco, melancolia e/ou nostalgia. Seja com guitarras distorcidas e baterias pesadas ou apenas voz e mellotron - o veículo não importa. ”Afterglow of Ashes” reflete um pouco o que andei a fazer no último ano; um álbum cinemático, melódico e vivo, mais intenso e rítmico que os anteriores. Criado durante o confinamento, maioritariamente isolado quer em casa, quer no estúdio. Devo dizer que és um músico do caraças. Apesar de existirem muitos componentes e camadas electrónicas, tu ainda tocas guitarra – eléctrica e acústica piano, ukulele, bateria, baixo e cantas. - De onde é que vem este teu background musical? Antes de mais, obrigado! Eu vejo-me, mais do que mero instrumentista, como compositor. Os arranjos e produção são para mim tão importantes como os primeiros acordes acústicos onde a música amiúde aparece. Assim sendo, uso tudo o que o tema pede -

e o que não consigo tocar programo ou convido músicos específicos que o fazem melhor que eu. No novo álbum em particular, tratei sozinho da grande maioria, também devido ao confinamento e à inspiração diária que de mim fluía (e essa não sei explicar!). O background musical virá, como mencionei acima, dos meus gostos tão variados; seria incapaz de compor um álbum chato e monótono, com 10 temas idênticos. Até nos tempos em que fazia black metal, o som estava carregado de avantgarde e instrumentação bizarra, folk, loops e metal tradicional. Existe sempre o fio condutor da minha composição, melodias e arranjos, mas raramente coloco travões criativos. E é por isso que o novo álbum tem momentos pesados ao lado de tantos outros mais leves ou cinemáticos. E além do postrock sempre presente, encontras acústicas, beats eletrónicos e trabalho intricado de guitarra, teclados e manipulação áudio. Coerência musical, mas sempre alicerçada em versatilidade de estilos e sons. É possível desvendar no álbum toques de post-rock, synthpop/anos 80, rock/metal alternativo, prog, trip-hop, dream pop, ambient e até o ocasional blues... - Porque é que sentiste a necessidade de tomares as rédeas

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É

absolutamente pernicioso e contraproducente o que os serviços de streaming (não) pagam aos músicos.

quase completas da música e não, por exemplo, tentares formar uma banda – se é que já tentaste? Questão pertinente! Por um lado gosto de colaborar com outros músicos e desde que tenho o meu estúdio que aprecio imenso as jams que fazemos regularmente, quer apenas com o meu colega, quer com convidados e amigos que nos visitam. Parece que nasci para isso, agarro (normalmente) numa das guitarras, rodo os botões dos vários pedais para chegar a um som que me agrade... e saí sempre música, melodias, riffs, grooves, atmosferas psicadélicas e sons enormes, dinâmicas acentuadas, etc. A maioria das vezes as ideias ficam por ali mesmo, mas já houve esboços que acabei por usar (i.e. “Revolutions Per Minute”). Mas por outro lado, justamente por sempre ter tido essa queda para a composição, o natural foi criar os meus projetos de raiz. Foi assim que aconteceu quando comecei a tocar e depois acabei por nunca me juntar seriamente a uma banda no sentido tradicional do termo. E a própria produção é tão detalhada e rica em arranjos que seria impossível ter de delegar em terceiros. Quanto a formar uma banda… digamos que é uma cefaleia que não desejo acrescentar à minha vida

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Bruno A.

haha! Em Portugal tentei primeiro com Arcane Wisdom; com Vertigo Steps era difícil devido ao vocalista viver em Helsínquia (ou o Daniel Cardoso ser mais um membro de sessão). Com SInc., também não o pus completamente de parte, mas seria bastante difícil tentar recriar tudo o que fiz a nível de arranjos, detalhes e ambiências de guitarra ou teclados/programacão num contexto ao vivo… mas não fecho essa porta completamente, um dia que volte a haver concertos. Aliás já tínhamos essa ideia com o projeto Architects of Rain (com o meu velho amigo Alex, de Scar For Life, com o qual até dei uns concertos em meados dos 2000), mas a pandemia acabou por atrapalhar os planos. Como disse, apesar de existirem muitos elementos electrónicos, a música no seu todo soa muito orgânica. Quais foram as tuas principais dificuldades, sendo só tu, a compor, gravar e produzir «Afterglow of Ashes» Diria que o prazer supera largamente as dificuldades. Contei com baixista e pianista convidados, e tive algum apoio na fase final da mistura e masterização do meu colega de estúdio (temos por hábito produzir em duo). Mas de facto tudo o resto fiz eu, toquei e compus

para todos os instrumentos, tratei de arranjos e mistura. O processo todo durou largos meses, mas a inspiração veio em catadupa, por isso os temas foram crescendo de forma incrível, ficaram cada vez mais rítmicos e menos minimalistas ou introspectivos. Senti que tinha aqui algo de muito especial e que tinha de lutar para o produto final soar tão bem como o que ouvia na minha cabeça. E tens razão, o som de SInc. é e será sempre muito orgânico, independentemente da componente eletrónica. Aliás, muita da eletrónica que aprecio é empregada de forma emocional, não necessariamente fria e estéril. Um tema como “Planetary Dirt”, no debut de SInc. Moderat, Massive Attack ou Boards of Canada são alguns excelentes exemplos disso. Além disso, é um álbum quente e intimista, e com respeito pelos instrumentos, sem querer tudo perfeito e dando o balancear devido às performances, certas linhas quase atrás do tempo em vez de ter tudo na “grid” e com isso perder flow e emoção. São pormaiores que para mim fazem todo o sentido. Tu tiveste algum apoio (monetário) para gravares este álbum ou saiu tudo do teu bolso? Tudo da minha saca de moedas,


como de costume! Mas tenho pelo menos a vantagem de ter o meu próprio estúdio - playground para experimentação! -porque se fosse estar a “perder” aquelas horas todas num estúdio alugado, estaria em falência declarada agora, chuteiras penduradas e barba em estado terminal. Em Maio sairá uma versão física exclusiva pela Ethereal Sound Works – uma editora independente portuguesa. - Como é que surgiu esta oportunidade de veres o teu trabalho editado pela ESW? A colaboração com a ESW já dura há bastante tempo, somos mesmo das bandas de maior “fidelidade”, tal como mencionaram recentemente numa entrevista. Começou quando editaram o terceiro de Vertigo Steps e depois uma edição especial com os 3 álbuns e ainda uma coletânea. Quando criei SInc, o passo natural foi manter-me na ESW. E mesmo nesta altura complexa, quando falei com o Gonçalo sobre o novo álbum, ele priorizou-o logo, o que para mim acabou por ser importante. Pese atrasos na edição especial, há-de estar tudo disponível dentro em breve.

«Afterglow of Ashes» é uma pérola sonora, parece-me ser uma lógica evolução dos trabalhos anteriores. Concordas? O que é que fizeste – se é que fizeste – de diferente dos álbuns anteriores para este? É sem dúvida um passo em frente.

Um álbum importante na minha carreira, numa altura-chave da vida e que espelha um pouco do que tenho andado a fazer ao longo de mais de 2 décadas de música, do caminho que sigo como músico e do vocabulário musical que penso ser meu apanágio, como que a minha assinatura. Os temas são mais aventureiros e intrincados em estruturas e tempos. É uma viagem de 1hr de música variada, cinemática, emocional mas também bastante acessível, rítmica e excitante, com surpresas ao virar da esquina. Estou mesmo muito contente com o resultado e o feedback que tenho tido não podia ser melhor. É o álbum mais ambicioso e com melhor som de SInc. O “Desolate Angels” já tinha sido um álbum semi-conceptual com ideias muito boas, mas que apenas pecou pela produção caseira, que tendo resultado em temas intimistas, roubou um pouco a outros mais épicos. O teu artwork é muito interessante e, pelo que vi, já há alguns anos que é feito pelo João Filipe. De que forma é que os desenhos e imagens se relacionam com a tua música? Obrigado, concordo a 100%! O João é um amigo próximo de há longos anos e um talento ímpar e de visão bastante original. Daí que me seja natural colaborar com ele, já dos tempos de Vertigo Steps e até de outros projetos mais ambientais que tive na altura. E quer a estética do artwork, quer os títulos dos temas, são tudo coisas importantes e que não negligencio, sobretudo quando boa parte do som é instrumental. Desta feita, sabendo das suas capacidades como ilustrador e querendo marcar a diferença deste álbum tão especial desde logo no artwork, desenvolvemos esta ideia para a capa, uma gravura exclusiva e original. Ligado ao título e conceito, como que um renascimento no meio do caos e apocalipse que nos rodeiam, encontrar a criatividade e “luz” após todas as trevas e opressão. O resplendor

das cinzas, a redenção e catarse que a destruição também carrega consigo. E uma certa inocência que a música ainda representa. São aliás ideias presentes também no vídeo de avanço,”Neon Smile”. Fui “cuscar” o álbum anterior e tens lá duas versões: “Atmosphere” dos Joy Division e “Diamonds” da Rihanna. - Se os Joy Division acho natural, já a Rihanna foi quase… WTF?! (risos). Porque escolheste estas duas versões e quais foram os critérios que tiveste para lhes dar esta nova sonoridade? Sabes que embora nunca tenha sido aquele guitarrista que toca repertórios completos de outras bandas (quando agarro no instrumento é primariamente para criar algo novo ou simplesmente improvisar), sempre achei curioso fazer interpretações pessoais de certos temas. Como “Nothing At All” ou “Sweet Sweet Rain”. “Atmosphere” é um tema do outro mundo, com uma letra perfeita, e com o qual tenho uma ligação muito especial; foi como disseste quase natural. Já a versão de “Diamonds” tem uma estória curiosa... Sumarizando, não sou fã de Rihanna nem do seu estilo musical (embora o tema seja da Sia, essa mais interessante), mas aconteceu a coincidência de por duas vezes ter entrado aqui numa noite de metal num clube otherwise célebre pelas noites fetichistas, e estarem nesse preciso momento a passar um cover metalcore do “Diamonds”. Na altura nem conhecia o tema original, mas acabei por investigar. E num serão berlinense, meses após, passei por uma montra com diamantes falsos à venda por uma pechincha e aí começou a germinar a ideia de que se calhar estava escrito nas estrelas fazer a tal versão! E convidei o Flávio Silva (Oblique Rain, Left Sun), já habitué de SInc.,. no que acabou por ser um belo dueto vocal com a sua filha, grande fã do tema. Curiosamente, vários ouvintes disseram-me apreciá-la bem mais do que o original :)

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Os arranjos e produção são para mim tão importantes como os primeiros acordes acústicos onde a música amiúde aparece. Bruno A. Não sei se tomaste conhecimento sobre o que disse Marko Hietala dos Nightwish… bem, exNightwish: “[…] Temos empresas de streaming que demandam trabalho integral e inspiração dos artistas, enquanto dividem injustamente seus lucros. Somos a república dos bananas da indústria musical”. Comungas da opinião dele? Já sentiste esta injustiça na pele? Claro que sim! É absolutamente pernicioso e contraproducente o que os serviços de streaming (não) pagam aos músicos. Mesmo o aumento de lucro dos streamings devido à pandemia - que poderia ajudar os artistas a atravessar esta crise - acabou nos bolsos errados (basicamente reinvestidos em artistas de mainstream: os que menos precisam). Entrámos numa era em que a música é um produto adquirido, não se valorizam os criadores, e muita gente assume que não tem de pagar para obter mp3. Tudo descartável e de consumo rápido. E também numa época - sobretudo a nível da geração Z - com um

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severo défice de atenção e em que muitos consideram o álbum um formato defunto e só se pensa em termos de singles e playlists. Esse formato que Beatles e Stones vieram institucionalizar nos 60s, substituindo os singles... e que meio século depois parece em vias de extinção. Não é assim que gosto de vivenciar a música. Absorver e experienciar um álbum requer tempo, dedicação, envolvimento, e não uma recompensa instantânea - e instantaneamente esquecida. Recentemente, um cliente do estúdio comentava que se não houver um hook imediato nos 15-20 segundos iniciais do tema, o ouvinte moderno (vítima involuntária do ADHD omnipresente no atual zeitgeist) dessintoniza, perde interesse… E, claro, temas cada vez mais curtos e software a optimizar automaticamente para os logaritmos. Ora muito sinceramente - e longe de querer fazer algum rant ou velhodorestelismo - não é nesse tipo de ouvinte que estou interessado. Mas é isso que

a indústria promove, lançar constantemente “conteúdo” (esse horrível conceito), quantidade sobre qualidade. Acontece que não faço música para enriquecer, vazia e sem alma; apenas continuo a criar porque sinto que tenho algo de novo a trazer com o qual os ouvintes se podem identificar e neles despertar reações emocionais intensas e profundas. Para terminar, o que podemos esperar dos Soundscapism Inc. num futuro próximo? Vou certamente continuar a criar e produzir, já tive algumas ideias novas interessantes e tenho sempre pedais e gear novos a experimentar… Mas de momento estou satisfeito por ter o álbum pronto e não me preocupo para já em começar a gravar o próximo. Virá com o tempo. Até lá, espero que este chegue ao maior número possível de pessoas, tal como o vídeo. Obrigado e um abraço! Facebook Youtube


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GRANDE SELVAJARIA 9 2 / VERSUS MAGAZINE


U

m génio absoluto? Sem dúvida! Uma guitarrista e violinista virtuosa? Também. Uma maníaca egocêntrica? Uma louca sem par? Um produto de marketing incompreendido? Uma caricatura de si própria? Talvez Katherine Thomas, autodesignada THE GREAT KAT, seja tudo isto. Enfim, o debate não é consensual e ninguém terá a resposta certa para estas questões. Nascida a 6 de junho de 1966 em Swindon, no Reino Unido, mas a residir nos Estados Unidos desde os três anos, a simpática, frenética e sempre controversa Thomas fez à VERSUS uma retrospetiva da sua carreira desde o primeiro dia. Ponham os cintos de segurança, pois nada poderá preparar-vos devidamente para o que irão ler em seguida! Entrevista: Dico | Fotos: Cedidas por The Great Kat

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Fala-me da tua paixão pela música. De que forma a Música Clássica te conquistou? The Great Kat é o único guitarrista e violinista virtuoso desde Paganini. É ainda a reincarnação de Beethoven (executado a sua 5ª Sinfonia na guitarra), solista clássica revolucionária LENDA DO METAL, ÍCONE E DEUSA!!! Explica aos leitores um pouco mais acerca do teu percurso profissional, formação e currículo ao nível da Música Clássica. Eu era maestrina na Juilliard Pre-College Orchestra [em Nova Iorque] e vencedora da Artists International Competition on Violin. Estreei-me como solista em violino no Carnegie Recital Hall [conhecido como Joan and Standard I. Weill Recital Hall since desde o final dos anos 80’s]. Fui considerada violinista-solo prodígio pelo Mayor da cidade de Nova Iorque [Edward Irving] Koch e por [Oscar] Flores Tapia, governdor do estado mexicano de Coahuila; tendo ainda integrado o Top 10 Faster Shredders of All Time pela revista Guitar One! Possuo igualmente um treino de ouvido único, resultante da escuta sistemática, desde o nascimento, da complexa e genial obra de Beethoven. Após descobri-la numa idade tão prematura, percebi que a minha missão no mundo era trazer a força de Beethoven a toda a gente! Começaste a tocar piano aos sete anos e a ter lições de violino aos nove. Aos 15, ganhaste uma bolsa de estudos em Violino na Juilliard School, em Nova Iorque. Posteriormente, tornaste-te maestrina da Juilliard Pre-College Orchestra e foste a vencedora da “Robert Hufstader Scholarship” in Composition and Theory na Juilliard. Fala-me desses primeiros anos de formação académica e ensino. Sim, efetivamente ganhei uma bolsa de estudo para Violino na Juilliard School, onde atuava em recitais como violinista solo. Lá, fui

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ainda maestrina da Juilliard PreCollege Orchestra, estudei Violino. Solfejo, História da Música, Música de Câmara, Composição, Teoria Musical, Piano e muito mais. Foi uma formação intensa, competitiva, perversa e violenta, durante a qual praticámos, atuámos e competimos 24 horas por dia ao longo de anos. Formei-me com distinção em Violino na Juilliard School. Mais tarde, tornaste-te solista de violino clássico na Carnegie Recital Hall no âmbito da Artists International Competition e fizeste digressões no México, Europa e Estados Unidos. Que memórias tens desses primeiros anos enquanto música profissional? Atuei enquanto violinista solo com orquestra (executando peças de Beethoven, Bruch e outros compositores) e acompanhamento ao piano em numerosas digressões, programas de rádio e TV nos Estados Unidos, México e Europa. No início da minha carreira fui premiada com o Certificate of Merit do Governador de Nova Iorque, Mario Cuomo; tendo ainda sido considerada Prodigy Violin Soloist pelo Mayor da Cidade de Nova Iorque, Ed Koch; e pelo Governador do estado mexicano de Coahuila, Oscar Flores. Steve Allen, o famoso comediante, músico, compositor, radialista e apresentador de TV, compôs, especialmente para mim, a peça em violino «Sonatina», que interpretei em Inglaterra como solista de violino num recital. Além disso, ganhaste também múltiplas competições enquanto violinista, o que, julgo, te auxiliou, por um lado, a afirmares-te como virtuosa do instrumento; e, por outro, ao desenvolvimento da tua carreira. Qual dessas competições entendes que mais contribuiu para te desenvolveres enquanto música profissional? De facto, venci diversas competições, incluindo a Artists International Competition para Violino, a Great Neck Symphony’s

Young Musicians Competition, a Gallery Concert Series Young Artists Award e a New York State Music Teachers Association Collegiate Artists Competition. Também recebi, oferecido pela The Friends of Mozart Society, um violino alemão construído em 1850. Como deves imaginar, foi uma enorme honra. Enquanto vencedora da Artists International Competition para Violino, executei, no Carnegie Recital Hall, o meu mais importante solo de violino. Foi um recital emocionante, em que também executei «Carmen Fantasy», de Sarasate; «Violin Sonata», de Brahms; além de peças de Kreisler e outros. Enquanto guitarrista, o Metal chegou à tua vida pouco após te tornares violinista profissional, mas já antes escutavas este género de música? Como te apaixonaste pela música pesada? Após me aperceber que a Música Clássica estava MORTA, “assassinada” por compositores não virtuosos, decidi ATUALIZAR a Música Clássica para as massas, trazendo-a para o futuro com o auxílio da moderna Música Popular. Pesquisei todos os géneros de Música Pop e descobri o Rock e o Heavy Metal. Conheci o Timothy Leary [falecido a 31 de maio de 1996], famoso professor de Psicologia na Universidade de Harvard e guru de manipulação da mente, e ambos trabalhámos na canção «Right Brain Lover». Ele escreveu a letra, louca e psicadélica, e cantou-a com a sua voz inimitável. Eu compus a música e toquei violino elétrico. Os Timothy Leary Papers – 1910/2009, disponíveis na The New York Public Library Archives & Manuscripts, incluem esse tema (podes ouvi-lo aqui link). Portanto, já nos anos 80, ao afirmar que a Música Clássica estava morta, querias dizer que não existiam mais génios como Vivaldi, Beethoven, Rossini e outros. Embora tal possa ser


Após me aperceber que a Música Clássica estava morta, “assassinada” por compositores não virtuosos, decidi atualizar a Música Clássica para as massas [...]

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A Great Kat dedica todo o seu tempo a compor, arranjar, gravar, produzir e filmar obrasprimas clássicas a velocidades extremas para a civilização em geral!

verdade, sempre julguei que havias começado a tocar Metal porque alguma Música Clássica era efetivamente o “Metal” dos séculos XVII, XVIII e IXX. Em suma, que, para ti, Metal era sinónimo de Música Clássica com distorção, vozes gritadas e letras agressivas? Sem dúvida! Sempre afirmei que Beethoven foi o primeiro metalhead na História e que reencarno nele. Portanto, sou genuinamente a primeira metalhead a colmatar a lacuna entre Música Clássica pura, técnica e complexa, com Speed Metal brutal e solos de guitarra alucinantes!!!! Agora sai-me da frente e deixa-me espalhar o evangelho de Beethoven ao mundo! O teu trabalho realizado no âmbito do Metal foi respeitado desde o primeiro dia mesmo por pessoas exteriores ao universo da música extrema, incluindo a imprensa de referência. Exatamente. O New York Times escreveu que “A tendência do futuro pode muito bem ser o heavy-metal Beethoven, por via do [segundo] álbum Beethoven on Speed [publicado em 1990], da Senhora Kat, diplomada pela Juilliard (…).[texto completo redigido por John Rockwell]. - link” No que respeita à tua técnica, fala-me da transição do violino

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par aa guitarra elétrica. A mão direita, por exemplo, articula-se de uma forma bastante diferente. Foste autodidata neste easpeto ou recebeste aulas de outros músicos? Eu uso a técnica de Paganini — uma técnica especial da mão direita que aprendi na Juilliard para tocar violino a velocidades absurdas com precisão e clareza. Limitei-me a transpor a técnica de Paganini que usei nos meus solos de de violino para a guitarra. Sou a única verdadeira diplomada em Violino na Julliard que transpôs obras de Paganini, Vivaldi, Beethoven, etc. para a guitarra elétrica! Portanto, apreciem a minha divindade!!!! Uma das tuas marcas registadas é a imagem de dominadora sensual. Como surgiu este conceito? A minha persona tem de se vestir como uma dominadora cruel e sanguinária que usa chicotes, cabedal e correntes para vos obrigar, seus idiotas, a submeterem-se a mim e a compreender o meu génio e o de Beethowen! Agora, ajoelhem-se perante mim! Sentes que algumas pessoas na indústria musical, e até alguns fãs, interpretaram mal a opção que tomaste relativamente ao teu visual? Estou-me a cagar para o que os falhados da “indústria musical” ou os fãs pensam, quando, na verdade, a Great Kat é o único génio musical não reprimido, verdadeiramente desinibido e imparável desde Beethoven?????? Comecem a idolatrar-me, JÁ!!! A tua discografia é maioritariamente constituída por EP’s. Porquê? Porque as pessoas têm a mente demasiado lenta para compreender mais de um minuto de música explosiva interpretada pela Great Kat a uma velocidade alucinante. As pessoas simplesmente não aguentam!

Como é que os teus fãs de Música Clássica, os órgãos de comunicação social e a indústria musical reagiram à tua transição para o Metal e ao teu (na época) novo look? Por um lado, vieste de um universo artístico em que as regras e a formalidade constituem a norma; por outro, mudaste para uma realidade musical tradicionalmente desafiadora das normas instituídas e em que a “liberdade” é a palavra-chave. Ou seja, foste de um extremo ao outro. Sentiste que, a dado momento, algo mudou em ti e sentiste esse apelo ou no fundo sempre foste uma rebelde? Na verdade, tanto a Música Clássica como o Heavy Metal têm nas suas bases pessoas reprimidas e conformistas extremamente receosas de quebrar regras e se assumirem como seres humanos únicos. APENAS a Great Kat e mais alguns revolucionários históricos como Beethoven, Wagner, Sócrates, Van Gogh ou Buda foram rebeldes que pensaram para além do óbvio e desafiaram a sociedade do seu tempo. Ainda gravas algumas peças clássicas ao violino e ao piano. É uma necessidade de voltares às raízes? A Great Kat dedica todo o seu tempo a compor, arranjar, gravar, produzir e filmar obras-primas clássicas a velocidades extremas para a civilização em geral! Gravei e produzi há pouco tempo o single e toque de telemóvel «Czardas for Violin and Piano», a ser incluído no próximo CD e DVD! A Great Kat interpreta este tema num violino acústico a uma velocidade alucinante, com acompanhamento ao piano. O que é que podes dizer às mulheres que pretendem iniciar uma carreira na música ou outras formas de arte? Estudem e treinem o mais possível. Sejam competitivas e nunca parem. A GREAT KAT É DEUS! Facebook Youtube


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Retratos da Natureza Será este o tema de «Portraits», o último álbum dos PERENNIAL ISOLATION, banda de Barcelona, que elegeu o outono como uma inspiração para refletir sobre alguns aspetos da vida humana. De passagem, falou-se um pouco de uma experiência de ensino associado ao Metal protagonizada pelo nosso entrevistado. Entrevista: CSA

Saudações, Albert! Espero que estejam todos bem. A Espanha tem estado a viver momentos muitos difíceis durante esta pandemia. Albert Battle – Saudações! Antes de mais, estou muito contente por falar contigo e espero que também estejas bem. É verdade, temos vivido momentos muito duros, sobretudo na primavera e no início do verão de 2020 com um número inacreditável de mortos por dias. E depois ainda tivemos de viver momentos de grande stress durante estes últimos meses devido aos períodos de confinamento decretados pelo município. Já nem me lembro de quando foi a última vez que pudemos ensaiar. Mas nem tudo tem sido horrível em 20202021. Daqui a uns dias, o nosso novo álbum estará disponível e essa

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é uma grande satisfação para todos os membros da banda. O fim do ano passado foi especial com todas as novidades que surgiram. Deramnos esperança perante este período de angústia que estamos a viver. Para começar, gostava que nos contasses o essencial sobre Perennial Isolation. Somos uma banda de Atmospheric Black Metal de Barcelona. Existimos desde 2012 e temos 4 álbuns. Fizemos várias digressões na Europa e centenas de concertos no nosso país. Partilhamos o palco com bandas como Kampfar, Incantation, Nocturnal Depression, Glorior Belli, Atra Vetosus, etc. Quem faz o quê na banda? A banda tem quatro elementos: o Victor (bateria), o Marc (voz/

guitarra), o Iván (guitarra) e eu próprio (voz/baixo). Normalmente todas as principais linhas de composição ficam a cargo do Iván e do Marc. Eu e o Victor tratamos das nossas partes e eu também escrevo as letras. Depois, em conjunto, temos de aperfeiçoar, arranjar e juntar ambiências e efeitos de som. Parece que o vosso quarto álbum trata do outono e do Inverno. Acertei? Completamente. Essas duas estações e especialmente a transição entre elas é a nossa principal fonte de inspiração. Adoramos a atmosfera do outono, os elementos que fazem parte dela e até a aura pagã, mística e tradicional que o rodeia. É muito inspiradora. Fornece-nos muitas ideias de que podemos falar e, além


disso, uma parte da nossa atividade de composição acontece sempre nessa altura. Penso que é uma parte de nós próprios. Contudo, os nossos temas não têm a ver apenas com a descrição dos elementos desta estação, falamos também de outros temas relacionados com esta atmosfera fúnebre como a desolação, o desespero, a frustração, a amargura e o desgosto. Por que decidiram dar ao álbum o título de «Portraits»? O nosso novo álbum baseia-se inteiramente numa coleção de memórias de todas as paisagens que nos impressionaram ao longo destes 8 anos como banda: Alpes franceses e italianos, as cordilheiras do norte da Península Ibérica, os Pirenéus entre Aragão e a França, etc. Tudo isso teve um impacto na nossa música e nas nossas letras. Atravessamos essas paisagens várias vezes e quase sempre no outono. E é sempre uma experiência diferente, dinâmica, em permanente mudança. Não podemos considerar esta experiência como uma simples memória, porque estas imagens têm uma vida própria, contam histórias. Portanto, para nós tudo isto é como um retrato. O outono mostra a sua face amarga e cinzenta e converte-se numa fonte de inspiração de onde a música jorra.

«Epiphanies of the Orphaned Light» (2016) – encontrámos o nosso som. Tal como dizes, balançámos entre a agressividade da voz e as paisagens ambientais criadas pelas guitarras. Neste último álbum, especificamente, quisemos basear-nos em dois conceitos: mais brutalidade e mais atmosfera. As canções são mais rápidas e mais carregadas de ira e força. Não costumávamos ter temas assim. E trabalhámos muito meticulosamente a criação do som ambiental que surge em diferentes partes do álbum.

especial e foi por essa razão que decidimos mimá-lo e mostrá-lo com a classe que ele merece. Para «Portraits», optámos por não voltar às tradicionais ilustrações digitais com camadas múltiplas. Queríamos algo mais orgânico e que refletisse a forma como os retratos são apresentados. Portanto, entrámos em contacto com o Mark Thompson, o autor da capa. Conheço o Mark há muitos anos. Tinha um projeto de Funeral Doom chamado Dispersed Ashes de que eu gostava muito e, a partir daí, começou a mostrarme as suas fotografias e telas. É um artista incrível. Logo, para o novo álbum, eu quis que ele participasse no artwork. Comprar uma dada tela fica muito caro e demora muito tempo. Além disso, não queríamos propriamente uma tela, mas antes a sua digitalização. Portanto o Mark concedeu-nos a licença para usar uma das suas telas que estava a terminar. Penso que a capa define bem o que é Perennial Isolation, a que corresponde o nosso nome: uma casa perdida na vastidão da natureza, isolada. Só o indivíduo e a natureza. Até faz lembrar o confinamento em que temos vivido, não é verdade? É bastante metafórica.

[…] Mas nem tudo tem sido horrível em 2020-2021. Daqui a uns dias, o nosso novo álbum estará disponível e essa é uma grande satisfação para todos os membros da banda.

Realmente gostei muito deste álbum. O Black Metal é o meu subgénero favorito dentro do Metal e sou uma grande fã da versão atmosférica. Gosto muito do balanço entre os teus rosnidos/ os blast beats do baterista e as melodias criadas pelos outros instrumentos. É o vosso som especial? Penso que com «Portraits» e até com o nosso álbum anterior –

Reparei que as vossas capas passaram de fotos para pinturas desde que começaram a trabalhar com Non Serviam Records. Quem fez essas capas para as bandas? Ou usaram pinturas que agora estão no domínio público? Este ano de 2020 caracterizou-se essencialmente por mudanças. Assinámos pela Non Serviam Records, toda a fase de mistura do álbum feita durante a fase de confinamento e até o investimento no design do álbum são exemplos claros disto. À medida que as semanas passavam, o álbum iase convertendo em algo muito

Este é o vosso primeiro longa duração com a Non Serviam. Que expetativas tem a banda em relação a este lançamento? Têm sido incansáveis connosco. Estão a levar o nosso álbum muito mais longe do que esperávamos. Não podíamos estar mais contentes. Desde que apostaram em nós, deram-nos mais bases para expandirmos a nossa criatividade e trabalhar lado a lado com eles tem sido maravilhoso. É importante criar estas sinergias entre a banda e a sua editora, porque o benefício é mútuo em todos os aspetos.

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Estamos encantados por fazermos parte da sua família e consideramos que, graças a eles, «Portraits» atingirá o lugar que merece. Fui ver o teu blogue (Growl Experience) e reparei nas bandas que mencionas algumas das quais já entrevistei (Harakiri For the Sky, Glorior Belli, Foscor). Perennial Isolation tem a esperança de partilhar o palco com elas em breve? De facto, partilhámos o palco com todas essas bandas e temos com elas uma relação de amizade. Mais do que partilhar o palco em breve, espero que possamos tocar daqui a pouco tempo (risos). Pareceme mais provável que isso possa vir a acontecer com os Foscor, porque vivem na mesma cidade que nós. Neste momento, dadas as circunstâncias em que vivemos, não estou a ver que possamos tocar em breve, mas é verdade que estamos a falar com muitas bandas para começarmos a organizar as coisas para que isso aconteça tão cedo quanto possível. Posso referir Drawn into Descent e Nocturnal Depression. Tu tens de facto uma voz excelente. É agressiva e clara ao mesmo tempo. Tenho amigos que acham que eu sou um bocado maluca por causa desta faceta dos meus gostos musicais. Tens uma experiência semelhante? Muito obrigado pelas tuas palavras! Trabalhamos a minha voz durante muitas horas para a levar ao nível de qualidade que quero atingir. Se partilho da tua loucura (risos) e se tenho uma experiência semelhante? Ensino canto gutural e dedico-me exclusivamente a isto há mais de 15 anos, mas ainda há dias em que os meus pais e perguntam como é que depois de o fazer durante tanto tempo ainda o faço com tanta paixão. Além disso, nunca conseguiram compreender por que se canta assim (risos)! Acredito firmemente que, se não estiveres profundamente embrenhado no Metal extremo, será muito difícil compreenderes

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por que se canta desta forma. Depois de 30 anos (ou mais) de Metal extremo, cantar assim já passou à categoria de tradição, faz parte de uma linguagem específica. Tem a ver com sentimentos. No Metal falamos de tudo o que as pessoas normais desprezam, ignoram ou de que preferem não ouvir falar. Mas são sentimentos e emoções que existem. Todos vamos morrer, mas ninguém quer falar da morte. Porquê? Todos sofremos (no sentido emocional do termo), mas ninguém fala do sofrimento, da tristeza ou da amargura. Porquê? Portanto, a voz que vem do fundo da garganta é um modo de dar forma a estas ideias num ambiente musical que as amplia. É uma simbiose perfeita. Não consigo conceber o Black Metal sem guturalismo (sabendo que há exceções, é claro), do mesmo modo que não se pode conceber o Punk sem gritos. Vi que ensinas canto gutural numa academia de música extrema. - Como aconteceu isso? Em 2017, um baixista célebre de Barcelona e a sua mulher aventuraram-se a criar a primeira escola de Metal na Europa destinada a ensinar, disseminar e promover este tipo de música. É claro que o canto gutural tinha de ser uma disciplina obrigatória. Então, contactaram-me, porque há anos que me dedicava a essa arte. Adorei a proposta, que me pareceu irrecusável. - Tens alguma formação musical ou contrataram-te por causa da tua experiência como vocalista de uma banda de Black Metal? Não há estudos regulares de canto gutural. Essa é a realidade. Portanto, eles contrataram-me pelo meu trabalho individual, pelo meu conhecimento, pela minha experiência de muitos anos. - Que conselhos dás aos teus alunos sobre como cuidarem da sua voz? São semelhantes ao que é preciso fazer para manter a voz limpa: exercícios, boa hidratação, dormir

as horas de que necessitamos… No que toca à voz propriamente dita, não a levantar ou gritar, trabalhar a respiração e a relaxação, beber líquidos à temperatura ambiente, nada de bebidas gasosas ou tabaco nos momentos de atividade vocal, uma boa dieta e a ingestão de infusões que favoreçam a relaxação do aparelho vocal à base de tomilho, gengibre, camomila, etc. - Todos os teus alunos são músicos (ou futuros músicos) ou também ensinas pessoas com outras profissões (por exemplo, atores ou até professores)? Há alunos de muitos tipos, mas geralmente são adolescentes ou adultos que têm as suas bandas e exercem outras profissões paralelamente. Há também pessoas que começam do zero e que não têm grandes conhecimentos sobre o Metal extremo ou não estão numa banda ou nunca fizeram nada que tivesse a ver com isto (gravar, tocar ao vivo). Portanto, não só os ensino a cantar de forma gutural, como também os educo em tudo o que diz respeito ao Metal extremo: ter uma banda, atitude no palco, trabalho a fazer antes de passar à gravação, áudio e som… - Como descobriste o teu talento para esta forma de cantar? Nunca pensei em cantar (risos). Em 2005 ou 2006, já não me lembro bem, fazia parte de uma banda de Death Metal, algo muito básico e simples, típico de principiantes. O nosso vocalista estava sempre a entalar-se e a tossir e não soava nada como devia ser. Logo, falei com os outros membros da banda, mas ninguém queria tratar do assunto. Por conseguinte, avancei eu. É verdade que estava a experimentar o terreno, mas já com algum conhecimento. Tinha aprendido canto muito, muito básico, quando tinha 5 anos, e, na juventude, fui operado para eliminar um freio lingual associado ao lábio superior e tive de fazer fisioterapia, no decurso da qual me ensinaram a mudar a minha postura corporal e várias técnicas de respiração, entre outras coisas. Limitei-me a ligar os


O nosso novo álbum baseia-se inteiramente numa coleção de memórias de todas as paisagens que nos impressionaram ao longo destes 8 anos como banda.

pontos, combinando o que tinha aprendido sobre canto e durante a reabilitação, e resultou. Mas, como deves imaginar, não é chegar e vencer, de modo nenhum. Ficava rouco, tossia, a garganta picavame, tinha comichão, não conseguia mudar de tom, etc. Mas nunca desisti! À medida que o tempo passava, fui melhorando e passando a fazer parte de bandas de Death Metal cada vez mais maduras, mais exigentes, o que me ajudou muito a melhorar a minha voz e a crescer como músico. Nunca mais parei desde essa altura, nem tenciono fazê-lo. O canto gutural é a minha vida. Há quem diga que eu tenho um dom ou um talento especial…

pode ser, mas não me fico por aí. Sigo um treino regular, que, há uns anos atrás, era muito exigente para mim (e ainda é, de certo modo). Portanto, penso que o que consigo fazer é o resultado de nunca ter desistido e de tentar sempre melhorar ao longo dos anos. - Há alguns vocalistas que vejas como uma espécie de modelos/ influências? Sim, claro! Ola Lindgren (Grave), Peter Tägtgren (Hypocrisy) ou Wrath (ex-Setherial/Naglfar) fazem parte das minhas influências. Ao longo dos anos, têm aparecido outros, mas estes três são marcos no meu percurso!

Uma última curiosidade (dado que também sou professora, aliás como uma parte da equipa da Versus): gritas com os teus alunos quando eles não se portam bem? Os meus alunos não são propriamente meninos ou meninas. São adolescentes ou adultos. Gritamos juntos (risos). Torno-me muito próximo deles. Partilho uma paixão com eles: o Metal. É claro que há sempre alguma distância e limites. Mas gritamos juntos para eles compreenderem como funciona a voz gutural e como a podem usar! E eles têm o direito de gritar com o professor (risos)! Facebook Youtube

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O falar do Norte Joel Figueiredo (aka Gróvio) desenvolve, há cerca de 15 anos, um projeto de Black Metal ambiental através do qual apresenta a sua interpretação da realidade portuguesa, apesar de se inspirar musicalmente em bandas estrangeiras. Entrevista: CSA

Olá, Joel! Sou minhota (de Viana do Castelo) e conheço bem a música que abre a primeira canção do teu álbum («Ode», 2020). Antes de mais, gostava de saber quem és e de conhecer um pouco a história de Omitir. E também de saber por que deste o nome de Omitir à tua banda. Joel – Olá Cristina! Sendo uma minhota nata acredito que estás muito familiarizada com a “Rosinha”. Omitir – previamente chamada Bahamut – surgiu entre 2005 e 2006, numa altura em que eu estava a dar uns primeiros pequenos passos durante a minha tenra adolescência nos géneros mais ambientais dentro da cena Black Metal. Lancei a primeiro demo – «Hidden Theory» – em 2005 e, mais tarde, o álbum de estreia – «Old Temple Of Depression» – em 2007, por uma editora independente austríaca já sob o nome de Omitir. Posteriormente, foram lançados dois EP: «Meu Fado» (2007) e «Res, Non Verba» (2009) e um split – «Salubres Caminhos» (2007) – com algumas bandas nacionais. O segundo álbum – «Tese Em Erro» – foi lançado apenas em formato cassete pela portuguesa Praise Unholy, em 2010. Um ano depois lancei «Cotard» com parceria entre a norte-americana The Path

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[…] sofreu por tabela as dores do meu crescimento pessoal, desde a adolescência até aos dias de hoje, no que toca à capacidade de produzir. Mesmo hoje continuo a aprender […]

Less Traveled e a alemã Amor Fati Productions. Depois disso, veio um período de silêncio até à chegada do EP «Outono» (2020) e do álbum «Ode» lançados pela minha própria editora, a Loudriver Records. Os temas, estando sempre de alguma forma relacionados com os nossos costumes e tradições, foram sempre variando entre os lançamentos, o que justifica a total liberdade do projeto no processo de composição e de abordagem temática.

Sendo o Black Metal um subgénero com muitas variantes, interessa-me saber se te sentes influenciado por alguma(s) banda(s) em especial. As influências são muito dispersas. Sei que, na altura que andava a produzir «Ode», estava numa onda mais dos anos 70. Lembrome de ouvir bastante Atomic Rooster nessa fase. Claro que é inevitável a cena norueguesa não ter influência. Por exemplo, Windir (pelo seu uso de acordeão) fezme abrir páginas no mundo Folk


em conjunto com o nosso folclore nacional como Sangre Cavallum e Galandun Galundaina. Para além disso, inspiro-me também bastante num registo sonoro mais orgânico da primeira vaga do Black Metal dos anos 80 – representada, por exemplo, por Bathory e Celtic Frost – ou de Thrash – representada por Slayer. Bem, entre muitas outras bandas e estilos. Conheces os Azagatel, que são do distrito de Aveiro? É um nome que já anda há muito tempo pelo meio underground nacional e, por isso, mesmo não tendo estado tão atento à cena durante alguns anos, conheço perfeitamente. São bastante sólidos no que fazem. O teu primeiro álbum – «Old Temple of Depression» – data de 2007. Como tem evoluído Omitir ao longo dos tempos até à presente «Ode»? Omitir foi o meu primeiro projeto dentro do mundo musical. Por isso, sofreu por tabela as dores do meu crescimento pessoal, desde a adolescência até aos dias de hoje, no que toca à capacidade de produzir. Mesmo hoje continuo a aprender e com certeza irei aprender até ir para a cova, isso é uma realidade que não me escapa. É um projeto de aprendizagem e o facto de eu ser autodidata acaba por influenciar diretamente os lançamentos ao longo dos anos, o que não acontece tanto noutros projetos que tenho já nesta fase adulta. Por isso, não te consigo falar de evolução para melhor ou pior, porque cada álbum tem as suas características e limitações, mesmo «Ode» tem as suas limitações. A verdade é que eu não vejo as limitações como algo negativo, acho que são até bastante úteis para o autoconhecimento. Gostava que me explicasses como te veio a ideia de usar alguns compassos de uma canção de folclore minhoto para abrir um álbum de Black Metal. Por ventura, tocaste em algum rancho

folclórico? À medida que o álbum estava em produção, o conceito foi-se consolidando e as ideias foram aparecendo e essa abertura acabou por ser determinante para entrar na atmosfera que o álbum pretendia. O folclore minhoto é algo que já me entrou diversas vezes no ouvido desde pequeno por ter crescido nessa mesma cultura local. Nunca toquei em nenhum rancho, mas lembro-me de ter participado em várias atividades durante a minha infância que envolviam dança, teatro e outras atividades num ramo tradicional/ folclórico que a escola promovia sempre com as crianças. Claro que isso pode ter um efeito indireto no que eu sou hoje e na minha forma de pensar, mas os meus interesses quando era criança eram simplesmente de ser criança. Nada mais, nada menos. A quem diriges esta tua «Ode»? «Ode» dirige-se àqueles que carregaram uma ‘cruz’ às costas enquanto trabalhavam de sol a sol e que ainda hoje estão no anonimato na nossa história, esses que foram reprimidos e oprimidos por algumas entidades exploradoras, sendo uma delas e uma das mais influenciadoras de todas a igreja católica, que, desde dos tempos feudalistas, começou a ter cada vez mais poder político e social e moveu uma constante perseguição às culturas tradicionais já existentes no seio da nossa gente, desse povo. Essas crenças e culturas com o tempo acabariam por desaparecer ou por se adaptar progressivamente às novas ‘normas’ cristãs. Isto decorre também até aos mais recentes latifundiários oportunistas, que se deixaram embalar pelo estado fascista com os seus amantes padrecos que massacraram as pessoas com a persistente perseguição às liberdades até à verdadeira libertação que foi a reforma agrária com a revolução de abril.

A música deste álbum é bastante obscura (guitarras melodiosas, bateria compassada, teclados, até me pareceu ouvir um acordeão) e a voz abafada. De que forma este estilo serve a mensagem que pretendes transmitir através deste teu álbum? Não o acho obscuro e, por isso, é compreensível a opinião de se afastar um bocado da aura ‘Black’, mas entendo o que dizes. Acredito que seja uma mensagem mais de força e sacrifício de sobrevivência e isso envolve sempre sentimentos pesados e de sufoco como se se carregasse uma “cruz”. Isso pode funcionar bem neste método de composição em «Ode», com vozes mais carregadas e abafadas com mensagens de dor, sacrifício e luta e ritmos mais compassados. Posto isto, para além de sempre ter sido um adepto de géneros de música mais “cadentes”, isto também envolve a minha falta de capacidade técnica como instrumentista que não é de todo ser “supersónico” ou perfeccionista. Mais uma vez, nem sempre é mau ter limitações porque fazem também parte do processo de criação. Estive a ver as letras do álbum e fiquei intrigada. Escreves em Português do Norte com aproximação fonética? É galego? Estou mesmo baralhada. [Mas posso dizer que a tua língua traduz a essência do Norte de Portugal.] A ideia seria ter uma aproximação entre a escrita e a fonética das povoações do Norte. Não é de todo muito preciso, mas a intenção foi mesmo essa aproximação de palavras e expressões tipicamente nortenhas já históricas e pelos apanhados que faço no meu diaa-dia…e que eu próprio também tenho, o que me facilita muito. E onde encontraste a capa para o álbum? Pediste a alguém para ta pintar ou foste buscar algum quadro já existente? [Mais um belo elemento estético deste teu álbum.]

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As reações têm sido imensas desde então. Como é normal, esperava que, com a entrada do novo ano, houvesse uma “queda” desta dinâmica social, mas incrivelmente tem continuado. É maravilhoso saber que as pessoas se identificaram com este álbum, dentro e fora do país, e a sua constante pertença e curiosidade. Acaba por ser mais delas do que meu, a verdade é essa.

Os temas, estando sempre de alguma forma relacionados com os nossos costumes e tradições[...] Acho curioso a tua pergunta e dá-me sempre um gosto especial em dar a conhecer (quase sempre sem querer) esta magnífica obra e o seu autor, que bem merece esta exposição nos tempos de hoje. O pintor é José Vital Branco Malhoa, artista português que viveu entre o século XIX e XX, e a obra presente na capa principal chama-se “Sétimo Mandamento”, contendo uma mensagem bastante esclarecedora sobre o que era a opressão por parte dos feudos da Igreja e dos regimes nobres sob a nossa gente.

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Nas edições físicas vêm outras pinturas enigmáticas do autor. Costumas fazer concertos? [Até ver, nem sair à rua podemos, mas a esperança é sempre a última a morrer.] Não, não faço dessas coisas e, mesmo sem pandemias, gosto muito de estar confinado a maior parte do tempo na minha vida. :) O teu álbum saiu em julho, portanto há quase meio ano. Já deves ter algumas reações. O que podes dizer-nos sobre isto?

Já não lançavas nada desde «Cotard», em 2011. A que se deveu um tão longo interregno? Não há uma razão por esta interrupção. Basicamente deixome guiar pelas ideias que me vão surgindo e também pela predisposição que tenho para criar o “puzzle”. Isso depende muito da minha vida pessoal, da minha “aura” do momento, vontades e, mais uma vez, da minha aprendizagem e crescimento como pessoa. Sendo este um projeto solitário, não existe nenhuma explicação concreta de períodos de silêncio como poderá existir com mais frequência em bandas. O silêncio até faz bem e é importante tê-lo bem presente muitas vezes. Sentes-te encorajado por este lançamento e já tens outro na forja? Sinto-me apenas encorajado quando existem ideias. Essas são a minha base para construir algo. Claro que existe sempre entusiasmo, quando um disco é bem recebido e é bastante gratificante, mas isso não move a minha criatividade e o bendito aparecimento de ideias que ache relevantes. Para terminar, queres deixar uma mensagem especial aos leitores da Versus? Não tenho muito a dizer, Cristina, apenas agradecer-te pela conversa e o interesse pela Versus em Omitir. Obrigado! Facebook Youtube


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Dodici Cilindri

(porque o barulhos dos motores também é música)

Por: Carlos Filipe

Mercedes-Benz SL (R129) Para os verdadeiros aficionados da Mercedes-Benz (e igualmente da BMW), nunca se fala de um modelo apenas ou de uma Classe nos Mercedes seja ela a E, S, SL, G, GL e por aí fora, mas sim, do código interno associado ao desenvolvimento do carro. Assim, temos o classe S W220, o classe SL R107, o classe E W123 ou o classe G W463, como exemplos, e para alguém de fora, irá sentir-se um autêntico peixe fora de água. “Do que é que estão a falar mesmo?”. Mas, dado os modelos da Mercedes atravessarem várias décadas, com diferentes carros produzidos, falar apenas por exemplo do classe S ou SL, fica-se sem saber de que carro estamos efectivamente a falar. Assim, se dizermos classe S W126 (1980-1991), estamos a falar do modelo dos anos 80, pois se fosse o próximo classe S de 2021 já estaríamos a falar do W223, ou no caso dos SL, temos o famosíssimo W198 com as portas em gaivota ou o R230 dos anos 2000 e o seu hardtop retractável, passando evidentemente pelo carro deste antro, o R129. Confusos? Talvez, mas depois de entrar na cena, é perfeitamente compreensível se conseguirmos ligar a referência interna de desenvolvimento da marca ao aspecto do carro e sua época. O Mercedes-Benz SL R129 é a 4º interacção da classe SL, de Super-Leicht em alemão, de 6 gerações que culminaram em 2018, quando a Mercedes decidiu colocar a gama SL na prateleira por uns anos devido ao desintere$$e neste tipo de automóveis nos nossos dias. Na realidade, os modelos ficaram exuberantemente caros e perderam aquele carisma de outrora, que veio a desvanecer toda a década dos 10, e para ajudar as vendas do SL, ainda criaram o classe S cabrio (C217) em 2015. O mais famoso de todos é o primeiro, o 300 SL “gulwing”, com as portas em gaivota, que são uma necessidade técnica mais do que estilística, devido ao seu caracter desportivo, era na prática um carro de corridas, que hoje se negoceia à volta dos 950 mil €. Deste surgiu o 190 SL, que hoje é um clássico de toda a envergadura. Algo que todos os classe SL têm, é estarem sempre na vanguarda da tecnologia da sua época, apresentando sempre um feeling moderno, que faz este modelo perdurar por muitos e longos anos até ser substituído por outro. Apenas o que acabei de referir não se aplica a esta última década de SLs e das interações R230 facelift e R231. A seguir veio outro ícone da marca, o SL “Pagode” W113, desenhado pelo famoso designer francês Paul Bracq, com o seu tejadilho amovível em forma de um templo japonês, um pagode, daqui a alcunha. Esteve 8 anos em produção para dar lugar ao SL “Dallas” em 1971, que tem o código interno de R107. Este SL ficou famoso por ser o carro que o protagonista da serie Dallas, Bobby Ewing, mais uma vez, daí o cognome. Foi um SL desenvolvido em particular para o mercado norte americano, onde, foi um verdadeiro sucesso tendo escoado 40% da produção total do R107, tendo assim, tido a mais longa das carreiras dos SL, de 1971 a 1989, ou seja 18 anos!

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A substituir o “velhinho” R107, veio o ultra moderno SL R129, de que vos vou falar. A chegada do novo milénio viu a chegada do R230 com o seu tecto retractável, com um ar, hoje, ainda muito moderno, mas sem o carisma das versões anteriores. A partir daqui, este carro deixou de ter qualquer interesse dado a falta de carisma a todos os níveis, a começar pelo estilo, que veio a ficar cada vez mais asséptico. Não quero dizer que são maus carros em si, não, mas com o legado deixado e todo o pedigree acumulado, são para esquecer no que respeita a estes capítulos. Nunca tendo sido um fã do R107, quando o R129 foi apresentado em 1989, fiquei imediatamente fã. A primeira vez que vi este carro em acção foi no filme The Rookie ( https://youtu.be/j2qDyG3hVbw ), onde a Mercedes aproveitou para mostrar o carro e as suas feature de segurança, tendo emprestado à produção do filme um modelo de pré-produção, para eles filmarem uma das cenas mais espectaculares do filme, com um salto entre prédios para assim os protagonistas Clint Eastwood e Martin Sheen fugirem a uma explosão e morte certa. Com os olhos de então, o SL R129 era um dos descapotáveis ou roadster, mais bem conseguidos e modernos, e ainda era do tempo em que a Mercedes fabricava carros sólidos e robustos, sobre desenvolvidos. Hoje, apesar de terem envelhecido bem, são roadsters para os quais os anos 90 salta à vista. Continuam a ser excelentes carros mas a idade pesa e estão naquele momento em que são velhos demais para se manterem actuais e novos de mais para serem um clássico. Foram feitos muitos e muitos deles apresentam algum desgaste estético e muitos quilómetros acumulados no odómetro, sendo difícil encontrar um estimado e com poucos quilómetros. A vantagem disto, é que no geral são um automóvel com um valor razoável, em particular para o 6 cilindros em linha SL 300 que se consegue por 15-20 mil euros, mas o V8 SL 500 não é muito mais caro com 25-30 mil euros. Os SL 600 estão ficar carros colecionáveis pelo que os preços estão em ascensão e as versões AMG SL 60 ou SL 70, antes de o serem já eram, ou seja verdadeiros collectors devido à sua raridade. Não se esqueçam que todos os SL R129 vinham de origem com um Hard-Top! Ou seja, o perfeito roadster descapotável no verão e o sumptuoso coupé no inverno… haja espaço na garagem para guardar o tejadilho. O SL R129 nasceu com dois tipos de motores: Um 5 litros V8 e um 6 em linha com 3 litros de cilindrada com 12 ou 24 válvulas. Mais tarde em 1993, chegou o majestoso V12 de 6 litros de cilindrada. O 6 em linha é a escolha mais sensata, pois esse motor Mercedes é reputado indestrutível e os 231 CVs são mais do que o suficiente para uma calma balada, quer com caixa manual “dog leg” de 5 ou uma automática de 4/5 velocidades. A nobreza vem com os motores em V, no entanto, a escolha do V12 será sempre uma questão puramente emocional, pois o mesmo não se justifica e não ficamos com um melhor carro do que se obtermos pela motorização 5L V8. O incremento de potência não é compensado pela falta de desportividade trazida pelo facto de o carro ficar muito mais pesado com o V12 do que o V8, para não falar no incremento dos consumos e custos de manutenção mais elevados. É verdade, no final é o V12 que torna o carro ainda mais especial e nobre, mas, com este motor haverá sempre um “mas”, nem que seja o facto do V12 deste carro ser tão especial que a AMG o elevou até 7.2/7.3 Litros de cilindrada e 500 CV, motor este que depois acabou por ser utilizado no Pagani Zonda e posteriormente com as devidas actualizações e desenvolvimento no actual Pagani Huyara. Uma revista de automóveis da época descrevia assim o 500 SL: “Os Roadsters Mercedes conjugam o excepcional com o presente [NR:1992]. Com 10 anos de avanço, eles [NR: Mercedes] abrem já as portas para o século XXI do automóvel. Tecnologicamente, eles afirmam-se sem complexos perante os conseguimentos mais marcantes [NR: do mundo automóvel]. E, ainda por cima, são bonitos!”. Na estética, este é visto como uma escultura automóvel, e para tal dou a mão à palmatoria ao líder do design da mercedes de 1975 a 1999, Bruno Sacco. O designer Italiano que fez carreira na Alemanha e deu à Mercedes aquele toque especial aos seus carros que só os designer italianos sabem-no fazer. Para Bruno Sacco, o SL R129 “é na essência o carro mais perfeito que eu alguma vez desenhei”.

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VICKY PSARAKIS 59

PRÓXIMA EDIÇÃO

Foto: Fábio Augusto

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