DIPLOMACIA
HÉLDER VAZ, EMBAIXADOR DA GUINÉ-BISSAU EM PORTUGAL
PORTUGAL E GUINÉ-BISSAU: O EIXO DA MALEDICÊNCIA OU A
COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA
E
m 2014 a “geração dos príncipes de Odessa”, preparada na ex-URSS para dirigir a Guiné-Bissau, tomou as rédeas do poder no Paigc, capitaneada por Domingos Simões Pereira, um engenheiro formado em Odessa. Rapidamente essa elite “anti-glasnost” instalou, em Bissau, uma nova “nomenklatura” sedenta de enriquecimento rápido, que se transformou numa oligarquia, à imagem da Rússia dos anos 90. A corrupção praticada pelo governo de Domingos Simões Pereira, traduzida em cheques do tesouro público no valor de milhões de euros, emitidos em nome da secretária pessoal do mesmo e de outras pessoas próximas, obrigou o então Presidente José Mário Vaz a demitir o governo. A partir desse momento, apoiado numa vasta rede de influência nos média portugueses o líder do Paigc plantou uma enormidade de equívocos, maledicências e inverdades que, de tão repetidos, passaram a ser a única verdade sobre a Guiné-Bissau. 1º Equívoco: o poder foi abusivamente retirado ao Paigc, partido vencedor das eleições. Em 2019 o Paigc venceu sem maioria absoluta e formou um governo de coligação com a APU. No decurso da legislatura aquela coligação implodiu e formou-se nova maioria com a APU, PRS e MADEM, que deu lugar a um governo maioritário, que aprovou o seu programa e dois orçamentos. Portanto, este argumento, esgrimido na imprensa portuguesa, é falso. 2º Equívoco: a Guiné-Bissau é um narco-estado. Na verdade,
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o narcotráfico na Guiné-Bissau está historicamente ligado a um Partido, o Paigc, e não ao Estado. Depois de em 1998, no início da guerra civil, ter sido encontrada cocaína com um empresário ligado ao Paigc, em 2005, foram elementos do Paigc que introduziram o narcotráfico na Guiné-Bissau, a partir de Conakry, tendo usado este expediente para comprar oficiais das forças armadas, a fim de assassinarem o General Veríssimo Seabra e o Coronel Domingos Barros. Entre 2005 e 2007 o Paigc usou o aparelho de Estado para facilitar as actividades dos narcotraficantes sul-americanos. Em 2008 o ex-Primeiro-Ministro Aristides Gomes foi acusado pelo Ministério Público pelo desvio de 730 Kg de cocaína que se destinavam a ser incinerados. Até hoje, Aristides Gomes, que foi Primeiro-ministro do Paigc de Domingos Simões Pereira até Março de 2020, é o único alto dirigente partidário acusado pela justiça guineense por tráfico de droga. Em 2019, graças à colaboração da Interpol, ocorreu a apreensão de duas toneladas de cocaína. Aristides Gomes, PM, que se encontrava em Portugal, apressou-se a regressar a Bissau para participar na incineração dessa droga que se deu na sua presença e de membros do seu governo, a escassos dois metros dos pretensos sacos de droga, sem máscaras e sem que tivessem ficado intoxicados. Associado a este caso está o nome de John Cano Zambrano, um narcotraficante colombiano a quem, na mesma ocasião e menos de 24 horas após este ter chegado a Bissau, Aristides Gomes nomeou seu conselheiro especial e mandou dar um