O P I N I Ã O D A “ C A S A”
ANTÓNIO FIGUEIRA, ADMINISTRADOR COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU DIRECTOR EUROPEAN ECONOMIC AND SOCIAL COMMITTEE
MAIOR IDADE A D U LT H O O D
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lória aos sábios loucos, que têm a coragem de pregar no deserto e ter razão antes de tempo! Dezoito anos são muitos, a maioridade de uma pessoa. Mas podem não ser nada: as idades da Terra contam-se por milhões e milhões de anos e, nessa escala, dezoito primaveras são uma infimíssima fração. A atual idade da Terra é o Antropoceno, a idade em que o homem molda a Terra (para pior, já se sabe), mas há dezoito anos parece que isso ainda não se sabia, era só para meia-dúzia de sábios loucos. Glória aos sábios loucos, que têm a coragem de pregar no deserto e ter razão antes de tempo! Que alguém pegue num jornal de há dezoito anos e o compare com um jornal de hoje: hoje, a crise climática está por toda a parte, em todo o lado há finalmente noção que é preciso agir com urgência para salvar a Terra, há promessas universais de ‘green deals’ – e há dezoito anos, nem uma palavra sobre o clima, parece que vivíamos literalmente noutro planeta… Afinal, dezoito anos, são muito ou pouco tempo – conta o tempo que efetivamente passa ou a impressão que ele nos deixa ao passar? Para os mais jovens, recorda-se que a “Verdade Inconveniente”, de Al Gore – indiscutivelmente o alerta que acordou o mundo para a crise que define a nossa época, sem dúvida um dos grandes manifestos da história da humanidade – tem apenas quinze anos: quando foi dado a conhecer, em 2006, Greta Thunberg tinha apenas três anos de idade… E para os mais esquecidos, recorde-se também que Al Gore veio a Portugal logo em fevereiro de 2007, apresentar a sua “Verdade”, a convite da agência de comunicação que agora comemora a sua maioridade… Por próximo que nos pareça 2003 – o ano que aqui se assinala, não só por ser o do nascimento de Greta, como por ser o da criação da CV&A – ele pertence já a uma outra era, que decorreu sob um outro paradigma. Em 2003, existiam conflitos tal como hoje, tanto no interior das sociedades como na ordem internacional; modificaram-se, certamente, apresentam-se de outra forma, com outros atores, noutras correlações de forças, mas permanecem uma parte essencial da paisagem. 14
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lory to the wise madmen, who have the courage to preach in the desert and be right before their own time! Eighteen years are many, enough for a person to become an adult. But they may also account for practically nothing: the ages of the earth run into the millions of years and, on this scale, eighteen springs are but a miniscule fraction. The current epoch of the earth is the Anthropocene, the period when man clearly impacts on the earth (for the worse as is known), but eighteen years ago it seems as though this was hardly known, exclusively to a few of the wise madmen. Glory be to the wise madmen with the courage to preach in the desert and be right before their own time! Should you pick up a newspaper from eighteen years ago and compare it with a contemporary: today, the climate crisis is all over; there is finally a widespread notion of the need to urgently act to save the earth. There are universal promises of ‘green deals’ – and eighteen years ago, climate change was a mute issue; it would seem as though we literally live on another planet… After all, is eighteen years a long or a short period of time? Is what matters the time that effectively passes or the impressions that time makes as it passes by? For younger readers, we might recall that “An Inconvenient Truth” by Al Gore, which unquestionably awoke the world to the warning of the crisis that would come to define our epoch, undoubtedly one of the great manifestos in the history of humanity – is now only fifteen years of age: when the book was released in 2006, Greta Thunberg was but three years of age… And for the more forgetful, we should also recall how Al Gore came to Portugal in as early as February 2007 to present his “Truth” at the invitation of an agency that is now commemorating reaching adulthood… As close as 2003 might seem – the year we are here commemorating not only for being that of the birth of Greta but also for the founding of CV&A – this year already belongs to another era, which took place according to a different paradigm. In 2003, there were conflicts just as there are today, both within and between societies; they have certainly changed, modified and taken on other forms, with other actors, other correlations of strengths (Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)