OPINIÃO DO “EXTERIOR”
PAULO PENA, JORNALISTA JOURNALIST
DUAS SUGESTÕES PARA UMA INFORMAÇÃO MENOS ‘FAKE’ T W O S U G G E S T I O N S F O R L E S S FA K E N E W S A N D I N F O R M AT I O N
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esde que passei a depender, como a esmagadora maioria dos europeus, da informação que recebo nas redes sociais, a minha ansiedade cresceu. Há sempre qualquer coisa a acontecer no Mundo a que não prestei atenção. Há escândalos que percebemos pela rama, desastres que só conhecemos pelo título, estatísticas de mortes. Pouco mais há a retirar disto, diariamente, que um desabafo sobre a estultícia do Mundo. Eu não consigo, diz-me a ciência, processar tanta informação em simultâneo. Mas ela chega até mim, repetida por várias fontes, comentada e partilhada por várias pessoas, e invade as minhas preocupações. Torna-me dependente, também. Como jornalista, essa é provavelmente a grande lição que tiro destes últimos anos que nos mudaram o mundo: a quantidade da informação não aumenta a sua qualidade. Podemos ter, como os números e a experiência demonstram, muito mais informação ao nosso dispor (em Portugal uma média de 200 notícias ‘online’ por dia, por media) mas somos, ao que parece, muito menos informados do que pensamos. Para a lógica das redes sociais (que são empresas publicitárias) isso significa pouco. As notícias são uma parte decisiva do fluxo constante e avassalador de “conteúdos” que servem o propósito decisivo de nos manter “ligados”. Não há nenhuma distinção relevante, para o algoritmo de cada rede, entre uma notícia bem feita, uma que foi copiada em tradutor automático, um vídeo de futebol com golos de Cristiano Ronaldo, uma foto de gatinhos, uma receita de gaspacho, ou uma teoria da conspiração sobre chips nas vacinas Covid. Todos esses estímulos servem, melhor ou pior, um objectivo: fazer-nos ficar ali. Não acreditam? Um estudo do ano passado revelou que as principais empresas (Facebook e Google) receberam mil milhões de dólares de receitas só com grupos anti-vacinas subscritos por 48 milhões de seguidores no YouTube, Instagram e Facebook. Esta é a evidência que temos de considerar, se acreditarmos que é a informação que nos permite ter boas opiniões (sejam elas quais forem) sobre o que nos interessa. Mais do que gráficos do Chartbeat nas redacções, palpites sobre “métricas online”,
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ince I began depending, like the overwhelming majority of Europeans, on the information I receive from the social networks, my anxiety levels have risen. There is always something happening in the world to which I have not paid attention. There are scandals that we understand according to their field, disasters that we only know by their title and death statistics. There is little more to conclude from this daily flow testifying to the folly of the world. I cannot, science tells me, process so much information simultaneously. However, such information reaches me, repeated by various different sources, commented on and shared by various persons and invading all of my concerns. This has also been making me dependent. As a journalist, this is probably the great lesson that I draw from these recent years that have changed the world: the quantity of information does not deepen its quality. We may have, as the numbers and our experience demonstrate, far more information available to us (in Portugal, an average of 200 online stories per day) but we are, as it would seem, far less informed than we thought. According to the logic of the social networks (which are advertising companies), this means little. The news represents a decisive component to a constant and overwhelming flow of “content” that serves the decisive goal of keeping us “connected”. For the algorithm of each network, there is no relevant distinction between a well written piece of journalism, an article copied from an automatic translator, a football video with the goals of Cristiano Ronaldo, some photos of kittens, a recipe for gazpacho or a conspiracy theory about chips in Covid vaccines. For the better or for the worse, all of these stimuli serve a single objective: keeping us on the site. You don’t believe that? A study last year revealed that the main companies (Facebook and Google) received a total of a billion dollars in revenue only from the anti-vaccination groups subscribed to by 48 million followers across YouTube, Instagram and Facebook. Such is the evidence that we have to take into consideration should we believe that the information that enables us to develop good opinions (whatever they might actually be) about what matters to us. Far more than the Chartbeat graphs in newspaper offices,