POR UM PROJETO MÍNIMO, A REVISTA CACTO / PALOMA RORIZ Em suas célebres teses sobre o conceito de história,1 Walter Benjamin propõe a ideia de um tempo histórico entendido não como algo linear e homogêneo, mas como algo saturado de diferentes temporalidades e descontinuidades. Na esteira de seu pensamento, Jacques Rancière reflete sobre o anacronismo não como um problema da ordem dos tempos e sua sucessividade, mas sobretudo como um problema de “partilha do tempo” (2011, p. 23), enfatizando a ideia de que não existe anacronismo, mas sim “anacronias”2 . Já Georges Didi-Huberman, ainda pelo viés de Benjamin, vai problematizar os diferenciais de tempo que atuam por trás de cada imagem, ao refletir acerca da visualidade própria da obra de arte enquanto dimensão temporal historicamente impura e descontínua em incessante montagem, reconfiguração e fragmentação da memória e do passado, em seus “múltiplos tempos estratificados” (DIDI-HUBERMAN, 2015, p. 44). Eis alguns breves exemplos de expressões do pensamento contemporâneo que, guardadas suas muitas particularidades, convergem, de um modo ou de outro, para um entendimento da história a partir do reconhecimento de temporalidades heteróclitas como agentes e acionadores do tempo presente. Num recorte mais específico, em torno da poesia contemporânea, Marcos Siscar, ao problematizar o topos da crise e do “fim das vanguardas”, 1 Parte deste texto, com modificações e posterior desdobramento, foi apresentado no I Congresso Nacional El Huso de la Palabra – Teoría y crítica de poesía latinoamericana, organizado pela Universidad Nacional de Mar del Plata e ocorrido em maio de 2017. 2 “Não existe anacronismo. Mas existem modos de conexão que podemos chamar positivamente de anacronias: acontecimentos, noções, significações que tomam o tempo de frente para trás, que fazem circular sentido de uma maneira que escapa a toda contemporaneidade, a toda identidade do tempo com ‘ele mesmo’.” (RANCIÈRE, 2011, p. 49).