ATHENA E A ESTÉTICA ARISTOTÉLICA / PEDRO SEPÚLVEDA
Em entrevista publicada no Diário de Lisboa, a 3 de novembro de 1924, apenas alguns dias após o lançamento do primeiro número de Athena, Fernando Pessoa declara o propósito de “dar ao público português, tanto quanto possível, uma revista puramente de arte, isto é, nem de ocasião e início como o Orpheu, nem quase de pura decoração, como a admirável Contemporânea” (2000, p. 224). Em carta a Armando Côrtes-Rodrigues, de 4 de agosto de 1923, o poeta confessara “tanta saudade – cada vez mais tanta! – daqueles tempos antigos do Orpheu, do paúlismo das interseções e de tudo mais que passou!”, acrescentando “v. tem visto a Contemporânea. É, de certo modo, a sucessora do Orpheu. Mas que diferença! que diferença!” (1999a, p. 16). Entre a saudade de Orpheu e a constatação da dimensão decorativa de Contemporânea nasce Athena, revista que Pessoa dirige com Rui Vaz e de que se publicam cinco números, com datas de outubro de 1924 a fevereiro de 1925, ainda que o seu último número tenha saído apenas em junho do mesmo ano (Figuras 1-2, 3-4). Cumpre entender de que modo será possível conceber Athena como essa revista “puramente de arte”, por contraponto ao caráter ocasional e inicial de Orpheu e decorativo de Contemporânea. Recorde-se que Orpheu abriu em 1915 um caminho de experimentação vanguardista que o poeta exploraria nas suas publicações em revistas, de forma especialmente marcada entre 1915 e o Portugal Futurista de 1917. No entanto, nenhuma destas revistas, incluindo Contemporânea – publicada entre 1922 e 1926, depois de um número espécime de 1915 –, apresentou as três obras heterónimas, limitandose Pessoa à exposição da obra e figura de Álvaro de Campos e adiando o propósito expresso em carta ao mesmo Côrtes-Rodrigues, escrita apenas dois meses antes da publicação de Orpheu, de “lançar pseudonimamente a obra Caeiro-Reis-Campos”, por ser esta “toda uma literatura que eu criei e vivi, que