“O EMOCIONAL DESENHO PURO”: A POESIA DA TÁVOLA REDONDA / CLARA ROCHA Távola Redonda, surgida em Lisboa em 1950, foi o lugar de afirmação dum grupo de jovens poetas irmanados num propósito de revalorização do lirismo enquanto expressão primeira da criação poética, de fidelidade à exigência estética e de regresso às formas da tradição literária, em ruptura com o movimento de ideias que dominou o panorama cultural, literário e artístico português nos anos de 1940. Dirigida por António Manuel Couto Viana, David Mourão-Ferreira, Luiz de Macedo e António Vaz Pereira (este último na parte artística), a revista contou com um núcleo inicial de colaboradores do qual faziam parte, além dos directores, Sebastião da Gama, Fernanda Botelho, Fernando de Paços, Daniel Filipe e Alberto de Lacerda. De acordo com o testemunho de David Mourão-Ferreira (MOURÃO-FERREIRA, s/d., p. 390-396), esse “núcleo central” alargou-se depois a outros nomes, entre os quais Carlos de Macedo, Maria Manuela Couto Viana, Goulart Nogueira, Fernando Guedes, Marcos Leal, Henrique Jorge e José António Ribeiro. Colaboraram ainda na Távola os poetas Luís Amaro, José Aurélio, Matilde Rosa Araújo, Cristóvam Pavia e António Luís Moita. Como recorda David Mourão-Ferreira, Nascidos todos entre 1920 e 1930, oriundos alguns deles de pontos muito afastados, diferenciadíssimos pela formação cultural, religiosa e política – reunira-os, mais do que um favorável conjunto de circunstâncias exteriores, uma concepção semelhante do fenómeno poético e, sobretudo, o desejo de reagir contra algumas tendências da produção poética da época, nomeadamente contra certa imediatez da inspiração e contra o impuro aproveitamento da poesia para fins sociais. E a tentativa de revalorização de um amplo conceito de lirismo foi o primeiro baluarte destes jovens poetas; procurando “o equilíbrio, a coerência ou a proporção entre os motivos e a técnica, entre os temas e as formas” [...] (MOURÃO-FERREIRA, s/d., p. 392).