Revistas de Poesia: Brasil, Moçambique, Portugal

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A SARDINHA CONTRA O PETROLEIRO: O EMBATE ENTRE CINISMOS NA REVISTA CÃO CELESTE / JULIO CATTAPAN Sob a direção de Manuel de Freitas e Inês Dias, com 13 números publicados até o momento – o primeiro em abril de 2012 e o mais recente em junho de 2019 –, a revista de poesia Cão Celeste vem se firmando no cenário literário português como um importante porta-voz de um grupo influente de poetas e escritores, cujos textos nela publicados divulgam não somente seus valores de poesia, mas também seus ideais de cultura, arte e sociedade. Esses ideais coincidem consideravelmente com os defendidos pela filosofia cínica grega, com as devidas atualizações e adaptações. Assim, valores importantes para os cínicos gregos – como a insubmissão, o inconformismo, a transgressão, a independência, a autonomia e a liberdade – orientam a escrita dos colaboradores da revista. Os próprios diretores da Cão Celeste sugerem essa relação com o cinismo grego já no editorial do primeiro número, em que a lanterna de Diógenes de Sinope parece servir de guia para os futuros passos da revista: “Apesar de tudo, e ainda que de longe em longe, a lanterna de Diógenes mantém o seu esquivo e necessário fulgor” (FREITAS; DIAS, 2012, p. 3). No editorial do oitavo número, que marca a mudança no design gráfico da revista, seus diretores ressalvam que a filosofia da Cão Celeste permanece inalterada, evocando novamente Diógenes como inaugurador de uma linhagem de autores inconformistas, com a qual a revista se identifica: “O cão é eterno, ladra desde o tempo de Diógenes até à crítica do espectáculo feita por Debord ou ao riso iconoclasta de Alberto Pimenta, passando ainda por Montaigne ou Swift, entre muitos outros. Morrerá, a ladrar, quando este mundo cão morrer.” (FREITAS; DIAS, 2015, p. 3).


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