JOÃO CABRAL E A IDEIA FIXA DE UMA REVISTA ANTOLÓGICA1 / SOLANGE FIUZA O poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto, em carta sem data ao amigo e diplomata Lauro Escorel, confessa: “Eu, por mim, devo ter o complexo de antologia.” (MELO NETO, 194–). De fato, entre os anos 1947 e 1950, Cabral parece ter sido tomado pela ideia fixa de organizar uma revista antológica, como se pode acompanhar em cartas do poeta a amigos. Nesse período, também imprimiu, em sua editora artesanal em Barcelona, duas antologias de poetas brasileiros. A primeira delas foi Pequena Antologia Pernambucana, de 1948, dedicada ao poeta Joaquim Cardozo, a quem ele já havia homenageado em poema de O Engenheiro (1942), seguirá reverenciando em vários poemas, inclusive na dedicatória de O Cão sem Plumas (1950), e tomará como seu precursor na representação do seu estado Natal. Em 1949, saiu a Antología de Poetas Brasileños de Ahora, contendo poemas, traduzidos para o espanhol por Alfonso Pintó, de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes e Augusto Frederico Schimidt, todos poetas nascidos depois de 1900, conforme critério de seleção. O objetivo era apresentar aos artistas espanhóis com que se relacionava, particularmente os da Catalunha, a poesia brasileira contemporânea. Antes dessas antologias, em fevereiro de 1949, publicou, na Revista Brasileira de Poesia, de São Paulo, uma antologia de poetas catalães que ele mesmo traduziu para o português. Além disso, em 1950, ainda na Espanha, assessorou o diplomata Renato de Mendonça na parte dos poetas modernos da Antología de la Poesía Brasileña, publicada em 1952
1 Este artigo é uma parte alterada de um outro, mais extenso, intitulado “João Cabral de Melo Neto e o complexo de antologia”, a ser publicado na revista Santa Barbara Portuguese Studies, e em que abordo primeiramente as antologias publicadas em livro por Cabral entre 1946 e 1950.