“Pra matar preconceito eu renasci”: O samba como uma ferramenta de emancipação em Direitos Humanos.

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2 O samba como processo cultural: processos culturais emancipadores x processos culturais reguladores O samba surgiu nas comunidades-terreiros no Rio de Janeiro entre o final do século XIX e início do século XX, sendo primeiro sinônimo de festa para somente depois ser nomeação de um ritmo musical próprio. Como ritmo, o samba surge da mistura dos tambores e percussões africanos à polca e outros ritmos europeus, se modifica com o passar dos anos, e segue se modificando até hoje. Junto com ele surgem os conjuntos carnavalescos, que depois dão lugar às escolas de samba, e a toda uma cultura carnavalesca, que tem como origem os ranchos de Reis29. Desde o início desse trabalho, me propus a questionar o samba não como um ritmo ou um estilo musical, mas sim, como um processo cultural, já que o samba é um todo difícil de ser delimitado. Marina Iris fala que “(…) o samba não é apenas o gênero musical, é comunidade, comportamento… é comportamento mesmo, enfim”. Ou seja, o samba é um processo cultural porque envolve diversos sentidos e saberes, comunidade, família, ancestralidade, mercado de consumo, comidas, música, dança. Mas também pode ser entendido como produto cultural quando visto como os ritmos musicais que marcam esse trabalho, que são impulsionados e modificados criativamente pelas pessoas que entram em contato com ele com o passar dos anos. Para compreender melhor essas questões, nesse capítulo abordarei alguns conceitos brevemente citados na introdução, como cultura, reação cultural e processos culturais, especificando-os no que diz respeito ao samba, principalmente os processos culturais reguladores, quais sejam, o controle social do Estado e a atuação da indústria cultural. No que diz respeito às mulheres, contudo, os processos culturais reguladores são 29 A gênese do carnaval no Rio de Janeiro surge a partir dos ranchos da Folia de Reis, “a maioria com seu desdobramento satírico, o respectivo bloco dos sujos” (LIRA NETO, 2017, p. 55). A festa em celebração ao Reis Magos, de origem católica e ibérica, ocorria próxima a data de 06 de janeiro, e foi trazida para o Brasil pelos portugueses, e caracterizando-se pelo desfile organizado de agremiações. Na Bahia, ela se estendia por vários dias – costume trazido para o Rio com a vinda de mulheres e homens negros de lá para o Rio a partir de meados do século XIX. Contudo, como a festa tinha uma grande adesão da classe mais popular, e com o tempo passou a ser misturada com outros elementos das culturas negras, os ranchos foram afastados da data do dia 06 de janeiro, que ainda era uma celebração católica, se aproximando das comemorações do Carnaval. Em 1908, o Ameno Resedá, agremiação famosa do Bairro Catete, passou a compor uma enredo específico que acompanharia o desfile do rancho, contando uma história que seria interpretada pelos seus integrantes. A inovação, que passou a ser copiada pelos outros ranchos, permanece até hoje. Já o carnaval mais próximo de como conhecemos hoje, surge em 1928, com o Deixa Falar, “agremiação híbrida que, embora preservasse a espontaneidade e a irreverência dos blocos dos sujos, adotara o formato de cortejo ordeiro e disciplinado dos ranchos, condição imprescindível para se obter a devida autorização da polícia apra sair às ruas” (LIRA NETO, 2017, p. 188). O primeiro concurso oficial entre as escolas de samba do Rio de Janeiro ocorre em 1932, já no moldes criado por Zé Espiguela (LIRA NETO, 2017, p. 245).


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ANEXO B – Transcrição da entrevista com Marina Iris

15min
pages 106-111

ANEXO A – Diretriz inicial e perguntas

1min
page 105

CONCLUSÃO

4min
pages 96-98

Referências bibliográficas

8min
pages 99-103

3.2. O samba como um processo cultural emancipatório feminista

19min
pages 87-95

3.1. Mulheres no samba

15min
pages 80-86

3 AS VOZES FEMINISTAS NO SAMBA

2min
page 79

2.3. O controle social informal da mulher como um processo cultural regulador

12min
pages 73-78

2.2.2. Indústria cultural e apropriação cultural capitalista

9min
pages 69-72

feminista

19min
pages 44-52

contra saúde pública

18min
pages 61-68

2.1. Cultural e processos culturais

16min
pages 54-60

x processos culturais reguladores

2min
page 53

1.2.2. O discurso das sambista do ÉPreta

13min
pages 38-43

INTRODUÇÃO

4min
pages 12-13

1.1. Direitos humanos como processos de luta

15min
pages 26-32

i.1 Prólogo: situando-me no mundo do samba

7min
pages 14-16

1.2. Direitos humanos para as mulheres sambistas

2min
page 33

1.2.1. Uma análise de discurso feminista

9min
pages 34-37

i.2. Caixa de ferramentas: para pensar os direitos humanos

6min
pages 17-19

1 QUAIS DIREITOS HUMANOS?

2min
page 25

i.3. Questões epistemológicas e metodológicas

10min
pages 20-24
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