CAMILA DO VALLE (1973)
Poeta mineira, professora, foi diretora da Fundación Centro de Estudios Brasileros, em Buenos Aires. Trouxe, em 2005, a Editorial Cartonera, cooperativa que utiliza materiaL reciclado. Em 2008, organizou a antologia Caos Portátil, de novos poetas brasileiros, publicada no México. Publicou o livro de poemas Mecânica da Distração: os aprisântempos.(2005). Em 2006, este livro foi traduzido e publicado na Argentina. Está terminando de preparar seu próximo livro de poemas: Modos de abrir o mundo com as mãos.
MISSÃO DIPLOMÁTICA NA CHINA (pianissimo) Onde pousar a palavra? Como se a caneta fosse a asa de unia xícara de porcelana rara que eu estaria a segurar com todo o cuidado no ar. Do ar ao pires, podemos, ou não, espatifar a dinastia Ming. Delicadamente. TANGO Vejo milhões de Robertos todos os dias. Mas foi só ver Anita uma única vez que fiz um poema. Aí a cidade era eu. Girinos vermelhos saíam de minha vagina, escorriam veias pelas minhas pernas, abrindo avenidas em pleno centro da América Latina. Embora a linguagem seja dos homens, a cidade saiu-me mulher. De longe, a minha avó grita tão perto: – Tenha modos, menina! Cruze as pernas! E eu cruzo, adoravelmente, as pernas, e encanto o senhor capitão. De espada na cinta e ginete na mão. (eu ou ele?) Peço-te, Anita, somente, que não se case com ele. Se você não se casar: nem eu. Continuemos com as pernas escrupulosamente abertas na América Latina. De forma estratégica: sem modo
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AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA