ANNITA COSTA MALUFE (1975)
Poeta paulistana, jornalista, é mestre em comunicação e semiótica pela PUC de São Paulo e doutora em teoria literária pela Unicamp, onde estuda poesia contemporânea e filosofia. Publicou Quando não estou por perto (2012), Como se caísse devagar(2008), Nesta cidade e abaixo de teus olhos (2007), Fundos para dias de chuva (2004), Ensaio para casa vazia (2016) e Um caderno para coisas práticas (2016)
Quero de volta os pretextos para lavar as superfícies encardidas não acredito mais no que dão por feito os outros prefiro eu mesma laçar usuras da imperfeição viver dá nisso uma certa arrogância necessária desisto de entediar as palavras com o gesto monótono da caneta perco o medo dos abstratos e sigo dizendo vida amor solidão e catando as horas como quem rasga papéis antigos como quem verte um copo de groselha na toalha branca de linho da avó A VERDADE É QUE AS MALAS JÁ ESTAVAM PRONTAS na véspera ela seguiu junto com ele uma espécie de viagem sem volta só a passagem de ida era a busca por um outro mundo a busca por algum lugar possível o mais distante que pudessem ir apenas a passagem de ida a pouca bagagem decidir depois onde ficar as malas já estavam prontas e eles seguiram sem pressa eu fiquei olhando de longe achando bonito aquilo aquele casal sumindo na neblina caminhando lentamente como num filme que não me lembro o nome como as cenas finais de um filme cobertas pelo letreiro dois corpos da mesma estatura abraçados empurrando duas pequenas bagagens os rostos sorrindo mesmo de costas era o que se via mesmo de costas os rostos sorrindo nos contornos que iam perdendo a nitidez AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA 33 à medida que avançavam