DANIELA GALDINO (1975)
Poeta baiana, mestre em literatura e diversidade cultural, é professora de literatura na UNEB. Organizou os livros Tessitura Azeviche: diálogo entre as literaturas africanas e a literatura afro-brasileira(2008) e Levando a Raça a Sério(2004). Participou de várias antologias e publicou Vinte Poemas Caleidoscópicos (2005) e Inúmera(2012)..
INÚMERA Eu tenho a síndrome de Tim Maia. Eu tenho as varizes de Clara Nunes. Eu tenho os vícios de Piaf. Eu tenho a orelha de Van Gogh. Eu tenho a perna que falta ao Saci. Eu tenho o olfato de Freud. Eu tenho o cansaço de Amélia. Eu tenho o peso de Maria. Eu tenho as dermatoses de Macabéa. Eu tenho a cusparada de Sofará. Eu sou a linha tênue que une os xipófagos. Eu sou uma interrogação vagando com pressa. Eu sou um insulto atirado à queima roupa. Eu tenho atalhos ainda não percorridos. Eu tenho palavras desgastadas e nulas. Eu tenho uma voz penífera e cortante. Eu confesso: sou intrusa, sou inúbil, sou inúmera. ALVORECIDA Acordei com um sol enorme dentro de mim abrasaram-se os órgãos vitais raios trafegaram minhas veias borbulharam pensamentos de lama nos lençóis freáticos da memória o sol tomou conta de tudo expandiu felonias esquecidas ergueu-se um centenário baobá no terreiro inabitado de mim o frêmito deste nascimento alimentou espetáculo frondoso: sombra nas costas do dia vertigem na borboleta. AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA
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