Revista Ruminantes 45

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#45 | abr. mai. jun. 2022

REVISTA RUMINANTES

Figura 1 A produção de β caseína A1 ou A2 é determinada pela presença de formas diferentes do gene que codifica para a sua produção (Semex).

Figura 2 Exemplos de leite A2 disponíveis no mercado de outros países.

LEITE | BOVINOS DE LEITE

O QUE É O LEITE A2?

O LEITE A2 É UMA ALTERNATIVA AO LEITE CONVENCIONAL CUJO MERCADO TEM CRESCIDO DE FORMA RÁPIDA, EM VÁRIOS PAÍSES ESPALHADOS PELOS VÁRIOS CONTINENTES. A SUA PRODUÇÃO DEPENDE DA GENÉTICA DAS VACAS, NÃO PODENDO SER SINTETIZADO COM A ADIÇÃO DE COMPONENTES PELA INDÚSTRIA. APESAR DE AINDA NÃO SER COMERCIALIZADO EM PORTUGAL, EXISTEM PRODUTORES QUE HÁ VÁRIOS ANOS TOMARAM A DECISÃO DE FAZER SELEÇÃO GENÉTICA INCLUINDO ESTA CARACTERÍSTICA. 1

Por Ricardo Bexiga1, Bruno Palaio2 Faculdade de Medicina Veterinária; Serbuvet, Lda. 2 Sociedade Agro-Pecuária Palaio, Lda | Autor correspondente: ricardobexiga@fmv.ulisboa.pt

O

leite é um dos alimentos mais nutritivos que existem sendo constituído por cerca de 87% de água e 13% de sólidos. Entre estes sólidos encontram-se entre 3,5 e 4,0% de proteína, dos quais quase 80% são caseína, sendo os restantes 20% as proteínas do soro de leite, predominantemente α e β-lactalbumina. As caseínas por sua vez podem ser de 4 tipos - αS1, αS2, β e κ – tendo a β caseína, 12 variantes genéticas (A1, A2, A3, B, C, D, E, F, G, H, I, J). O tipo de β caseína presente no leite é por isso determinado pela composição genética da vaca que produz o leite, correspondendo a β caseína a 25 a 30% da proteína do leite. A diferença estrutural entre a β caseína A1 e A2 reside num único aminoácido, mas é suficiente para toda a conformação tridimensional desta proteína ser diferente, o que por sua vez afeta os padrões de clivagem enzimática durante a digestão. De facto, a clivagem enzimática da β caseína A1 é mais fácil, resultando num número mais elevado de péptidos do que os que resultam da ação enzimática sobre a β caseína A2.

A produção de β caseína A1 ou A2 é determinada pela presença de formas diferentes do gene que codifica para a sua produção. As vacas podem receber um alelo A1 ou A2 de cada progenitor, podendo por isso cada animal ser portador do gene nas variantes A1A1, A1A2 ou A2A2 ( figura 1). QUAL O INTERESSE NO LEITE COM β CASEÍNA DA VARIANTE A2? A lactose, o único açúcar presente no leite, é clivada a nível do intestino delgado pela enzima lactase, em glucose e galactose. A ausência da enzima lactase numa porção significativa da população humana adulta, impede essa clivagem, levando à passagem de lactose para o intestino grosso onde é metabolizada por bactérias, com consequentes sinais clínicos como dor abdominal, flatulência e diarreia. Esta incapacidade de digerir a lactose e o quadro clínico associado constituem a chamada intolerância à lactose, responsável por muitas pessoas abandonarem o consumo de leite ou procurarem variantes de leite sem lactose. No entanto, raras vezes será confirmado que a responsabilidade pelos sinais clínicos consequentes ao consumo de leite 058

serão de facto atribuíveis à intolerância à lactose. Existe ampla evidência na literatura científica de que os sinais clínicos atribuídos à intolerância à lactose poderão também ser atribuídos à digestão da β caseína A1. Vários estudos realizados em humanos mostraram diferenças significativas na ocorrência de inchaço abdominal, dor abdominal, frequência de defecação e consistência das fezes, entre pessoas, após consumo de leite proveniente de vacas com genótipo A1A1, A1A2 e A2A2. Parece, portanto, que pelo menos uma parte das pessoas que se dizem intolerantes à lactose poderão, de facto, estar a sentir os efeitos do consumo da β caseína A1. Vários estudos têm incidido sobre outros potenciais efeitos sobre a saúde, relativamente ao consumo de leite dito de tipo A1 ou A2. Parece não haver evidência de que o consumo de leite A2, comparativamente com o leite A1, tenha efeitos protetores contra as doenças cardiovasculares ou contra a diabetes mellitus. Parece, no entanto, haver indícios que apontam para uma menor tendência para inflamação do tipo alérgico. De facto, a ingestão de leite A2 será menos pro-


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