Tecnosaúde #17 - Março/Abril

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TUBERCULOSE: 3.ª CAUSA DE MORTE EM ANGOLA

Março/Abril 2 0 2 3 N.º 17 D ISTRIBUIÇÃO GRATUITA P U B LIC A ÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

2023 é um ano de esperança no combate à tuberculose, pela realização, no próximo mês de Setembro, da segunda reunião de alto nível da ONU sobre esta patologia que, apesar de evitável, tratável e curável, é a terceira causa de morte em Angola, a seguir à malária e aos acidentes de viação. É tempo de redobrar esforços e recuperar o terreno perdido na pandemia.

Acabar com a tuberculose faz parte da Agenda 2030. Entre os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), vários abordam questões de saúde, nomeadamente, o terceiro, que pretende “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades”, e o 10.º, que aborda a redução das desigualdades.

A tuberculose continua a matar, sobretudo as populações vulneráveis e desfavorecidas, que tendem a ficar para trás. O acesso aos serviços de saúde é especialmente difícil para pessoas de baixa renda e que vivem em áreas de difícil acesso, mais propensas a não procurar diagnóstico e tratamento precoces e a não o concluir, criando um problema ainda maior, ao perpetuar as cadeias de transmissão e potenciar a tuberculose multirresistente.

Ao assinalarmos o Dia Mundial da Tuberculose, importa sublinhar a necessidade de compromisso de se investir em soluções que acelerem o progresso na luta contra a doença e, em simultâneo, a construção de sistemas de saúde fortes e resilientes. E isso passa também por uma aposta na educação e consciencialização, tão fundamental para combater o estigma e a desinformação. Não tenhamos dúvidas, a desinformação mata.

O slogan adoptado pela OMS este ano, e assumido também por Angola, foi “Sim! Podemos acabar com a Tuberculose!”. Colocando as pessoas no centro da actuação, com uma abordagem inovadora e transversal. Cada um de nós pode contribuir para que este objectivo seja alcançado e a Agenda 2030 seja concretizada.

EDITORIAL

ANÁLISE

75 anos da OMS

Casos de paludismo moderam crescimento 10 14

O aconselhamento do farmacêutico no combate à malária 18

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PERSPECTIVA

Dra. Ester Matias aborda o papel do pediatra no combate à mortalidade infantil por malária

Adecos: Importantes actores no sistema de saúde

Análise: Morbilidade e mortalidade por tuberculose aumentaram durante a pandemia

Dra. Eugénia Ramos aborda a evolução da tuberculose em Angola 30

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Análise: Angola no grupo dos 30 países com mais casos de tuberculose

Dr. Damião António traça o panorama da 3.ª maior causa de morte em Angola

PERSPECTIVA

Dr. Djalme Fonseca explica em que consiste a tuberculose ocular

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Relatório da UNICEF sobre tripla ameaça relacionada com a água

Ecoangola aborda a problemática dos plásticos de uso único

Okuhuman sublinha a importância da inclusão geracional

Dra. Zola João comenta a gestão da mudança e a qualidade

Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria

Nacionalidade: Angolana

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2 SAÚDE 02 04
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ÍNDICE SAÚDE PARA SI 28
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Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde

75 ANOS A PROMOVER A SAÚDE COMO DIREITO DE TODO O SER HUMANO

EM 1948, OS PAÍSES DO MUNDO UNIRAM-SE E FUNDARAM A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) PARA PROMOVER A SAÚDE, MANTER O MUNDO SEGURO E SERVIR OS VULNERÁVEIS, COM O PROPÓSITO DE QUE TODOS, EM QUALQUER LUGAR, POSSAM ATINGIR O MAIS ALTO NÍVEL DE SAÚDE E BEM-ESTAR. O 75.º ANIVERSÁRIO

DA OMS, ESTE ANO ASSINALADO A 7 DE ABRIL, DIA MUNDIAL DA SAÚDE, REPRESENTA UMA

OPORTUNIDADE PARA OLHAR PARA OS SUCESSOS DA SAÚDE PÚBLICA, QUE MELHORARAM A

ANÁLISE

Ocompromisso da Organização Mundial da Saúde para com a Saúde Para Todos, sustentado por uma noção democrática de que todos os seres humanos são iguais, sobressaiu intensamente na sua Constituição fundadora, em 1948. A Constituição foi um documento sem precedentes, num mundo que se ressentia da destruição da Segunda Guerra Mundial, mas que se lançava num caminho transformador para valorizar todas as vidas humanas. Apelou intransigentemente à saúde como um direito fundamental de todo o ser humano e um fundamento para a paz e a segurança. Ao longo das décadas, a OMS tem liderado os esforços para melhorar as condições sociais, para que as pessoas nasçam, cresçam, trabalhem, vivam e envelheçam com saúde. Também tem sido fundamental para a promoção global da inclusão de género e da deficiência. Mas estes progressos têm sido constantemente ameaçados pela persistência de desigualdades no domínio da saúde. O objectivo de alcançar a Saúde Para Todos continua, assim, a ser tão importante hoje como era há 75 anos. Para a OMS, este continua a ser um caminho fundamental para o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 3 das Nações Unidas, reforçado por outros 16 ODS a atingir até 2030.

Missão

Uma das principais missões da OMS é prevenir, aliviar e parar completamente a propagação de infecções mortais. Como resultado de uma parceria global sem precedentes, a OMS certificou a erradicação da varíola, em 1980. A varíola foi uma doença altamente contagiosa e fatal, que ceifou cerca de 300 milhões de vidas, só no século XX. No início da década de 2020, o mundo está à beira de erradicar duas outras doenças: a poliomielite e o verme da guiné. A Iniciativa Global de Erradicação da Pólio fez parcerias e apoiou esforços que ajudaram a alcançar uma redução de 99,9% na sua propagação.

Efectivamente, todos os dias, a OMS detecta sinais de emergência sanitária e trabalha para proteger as pessoas dos riscos e repercussões de epidemias e pandemias. Durante as últimas décadas, esteve na linha da frente de todas as principais emergências sanitárias, da cólera ao ébola e à gripe aviária (H5N1), à SARS e à pandemia de Covid-19. Só durante o período de 2020 e 2021, respondeu a 87 emergências sanitárias, além da Covid-19.

Em 1969, a OMS estabeleceu o Regulamento Sanitário Internacional (RSI), revisto em 2005, como um acordo entre os Estados-Membros para trabalharem em conjunto, de modo a prevenir e responder a riscos agudos para a saúde pública, que podem atravessar fronteiras e ameaçar as pessoas em todo o mundo. Um novo acordo global sobre pandemias está agora em desenvolvimento, estando em consulta junto de 194 Estados-Membros e partes interessadas, com o objectivo de construir uma estratégia preparada para o futuro e para proteger as novas gerações de pandemias no século XXI.

Saúde Para Todos

A iniciativa Saúde Para Todos prevê que todas as pessoas tenham saúde, para uma vida plena, num mundo pacífico, próspero e sustentável. A OMS defende que o direito à saúde é um direito humano básico e que todos devem ter acesso aos serviços de saúde de que necessitam, quando e onde deles precisam, sem ter de passar por dificuldades financeiras. Mas, na verdade, 30% da população mundial não tem acesso a serviços de saúde essenciais e quase dois mil milhões enfrenta elevadas despesas de saúde e desigualdades significativas. Assim, a OMS apela ao investimento em sistemas de saúde sólidos, considerados fundamentais para uma sociedade próspera. “O aumento do financiamento público da saúde e a redução dos custos de saúde não reembolsáveis salvam vidas e, ao mesmo tempo, fazem avançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável para além da saúde”, alerta.

O OBJECTIVO DE ALCANÇAR A

SAÚDE PARA TODOS CONTINUA A SER TÃO IMPORTANTE HOJE COMO ERA HÁ 75 ANOS. PARA A OMS, ESTE CONTINUA A SER UM CAMINHO FUNDAMENTAL PARA O OBJECTIVO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) 3 DAS NAÇÕES UNIDAS, REFORÇADO POR OUTROS 16 ODS A ATINGIR ATÉ 2030

5 SAÚDE

São necessários sistemas de saúde sólidos para garantir tanto a cobertura universal de saúde, como a preparação para situações de emergência. “A cobertura universal de saúde é uma opção política e social. Precisamos de uma liderança política forte e de uma exigência pública. Ambientes saudáveis podem transformar a vida das pessoas”, sustenta a OMS.

Cobertura universal de saúde

Alcançar a cobertura universal dos serviços de saúde, no âmbito da cobertura universal de saúde, é uma das metas a que as nações se estabeleceram quando, em 2015, adoptaram os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030. Na reunião de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2019, os países reafirmaram que a saúde é um requisito, bem como um resultado e um indicador, das dimensões social, económica e ambiental do desenvolvimento sustentável. O objectivo do 13.º Programa Geral de Trabalho da OMS é que mais mil milhões de pessoas beneficiem daquela cobertura até 2025, contribuindo simultaneamente para os objectivos de melhor protecção contra emergências de saúde e melhor saúde e bem-estar.

Antes da pandemia de Covid-19, havia progresso em direcção à cobertura universal em todo o mundo. O índice de cobertura de serviços (indicador 3.8.1 dos ODS) aumentou de 45 em 2000, para 67 em 2019, com um progresso mais rápido na Região Africana da OMS. No entanto, dois mil milhões de pessoas enfrentam despesas de saúde catastróficas (indicador 3.8.2 dos ODS).

As desigualdades continuam a ser um desafio fundamental para a cobertura universal. Mesmo quando há progresso na cobertura dos serviços de saúde entre países, os dados agregados mascaram as desigualdades dentro dos países. Por exemplo, a cobertura de serviços de saúde reprodutiva, materna e adolescente tende a ser maior entre as pessoas mais ricas, mais instruídas e urbanas, especialmente em países de baixa renda. De igual modo, as pessoas que vivem em agregados familiares mais pobres e com familiares mais velhos (com idade igual ou superior a 60 anos) têm maior probabilidade de sofrer dificuldades económicas e de ter de fazer pagamentos directos para cuidados de saúde.

A monitorização das desigualdades no domínio da saúde é essencial para identificar as populações desfavorecidas, a fim de proporcionar aos decisores uma base científica para a formulação de políticas, programas e práticas mais orientados para a equidade, com vista a progressos sucessivos no sentido da cobertura universal. Durante a Covid-19, 92% dos países relatou interrupções em serviços essenciais. Cerca de 25 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade não foram vacinadas rotineiramente. Houve disparidades gritantes no acesso às vacinas contra a Covid-19, com uma média de 24% da população vacinada em países de baixa renda, em comparação com 72% em países de alta renda. Os cuidados urgentes, os cuidados intensivos e as intervenções cirúrgicas, que salvam vidas, também registaram um aumento das interrupções, o que provavelmente terá um impacto significativo, a curto prazo, nos resultados de saúde. Como base e forma de avançar para a cobertura universal, a OMS recomenda a reorientação dos sistemas de saúde para os cuidados de saúde primários. Cerca de 75% dos ganhos projectados dos ODS em saúde poderia ser alcançado através dos cuidados de saúde primários, incluindo salvar mais de 60 milhões de vidas e aumentar a esperança média de vida, em todo o mundo, em 3,7 anos, até 2030.

É por isso que a Organização Mundial da Saúde recomenda aumentos nos “impostos de saúde” sobre o tabaco, o álcool, o açúcar adicionado e os combustíveis fósseis. Estes impostos geram receitas públicas muito necessárias, nomeadamente, ao investimento na educação e na criação de emprego para o sector da saúde, tanto mais que, entre 2023 e 2030, se prevê um défice de 10 milhões de profissionais de saúde em todo o mundo.

Pontos de acção

Na viragem dos seus 75 anos, a OMS recomenda, então, alguns pontos de acção, a começar pela transição de economias movidas pelo lucro e pela poluição para economias guiadas pela equidade e pelo bem-estar. sucesso deve ser medido pelo bem-estar das pessoas e ambientes saudáveis”, salienta. Outro ponto de acção passa por envolver e capacitar indivíduos, famílias e comunidades para uma maior participação social e maior autocuidado e assegurar uma participação informada e activa, colocando as pessoas no centro das decisões e resultados em matéria de saúde.

O reforço dos sistemas nacionais de saúde integrados deverá ser feito utilizando uma

A OMS DEFENDE QUE O DIREITO À SAÚDE É UM DIREITO HUMANO BÁSICO E QUE TODOS DEVEM TER ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE DE QUE NECESSITAM, QUANDO E ONDE DELES PRECISAM, SEM DIFICULDADES FINANCEIRAS. MAS, NA VERDADE, 30% DA POPULAÇÃO MUNDIAL NÃO TEM ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE ESSENCIAIS E QUASE DOIS MIL MILHÕES ENFRENTA ELEVADAS DESPESAS DE SAÚDE E DESIGUALDADES SIGNIFICATIVAS

abordagem para prestar serviços essenciais de qualidade, com protecção financeira, com uma programação orientada para a equidade, sensível às questões de género e baseada nos direitos, a fim de alcançar e envolver as pessoas mais necessitadas e melhorar a saúde e o bem-estar de todas as pessoas, em todas as idades.

6 SAÚDE
Faça a leitura do código QR com o seu smartphone para assistir ao vídeo do 75.º aniversário da OMS

MAIOR FLEXIBILIDADE E

MOVIMENTOS A SUA A JUDA NA S C AMINHADA S DO DIA A DIA advancisp Advancis® Jointrix Ultra, Advancis® Jointrix Plus e Advancis® Jointrix SOS são suplementos alimentares Não substituem um regime alimentar variado e equilibrado e um modo de vida saudável A vitamina C contribui para a normal formação de colagénio para funcionamento normal dos ossos e das car tilagens O manganês contribui para a manutenção de ossos normais e também para a normal formação de tecidos conjuntivos Uma dose diária de Advancis® Jointrix Advancis® Jointrix Active Gel é um Dispositivo Médico Antes de utilizar leia cuidadosamente a rotulagem e as instruções de utilização Não deve ser usado em crianças com idade inferior a 6 anos em grávidas ou a amamentar Não deve DISPOSI T I VO MÉDI CO MF22/AD V JT/3/1 03/22 BE M- E S TA R DOS OSSOS E DA S A R T IC U L AÇÕE S
LIBERDADE DE

QUADRIPARTIDA APELA À ABORDAGEM UMA SÓ SAÚDE PARA TORNAR

O PLANETA MAIS SEGURO

OS SISTEMAS DE SAÚDE TÊM DE SER MAIS RESILIENTES PARA RESISTIR A EMERGÊNCIAS INTERNACIONAIS, COMO AS RECENTEMENTE CAUSADAS PELA PANDEMIA DE COVID-19, A MONKEYPOX, OS SURTOS DE ÉBOLA E A AMEAÇA CONTÍNUA DE OUTRAS ZOONOSES, BEM COMO DE OUTROS PROBLEMAS, COMO A RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA, A DEGRADAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS E AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS. É NECESSÁRIO PROMOVER, À ESCALA MUNDIAL, A MEDIDAS INCLUÍDAS NA ABORDAGEM “UMA SÓ SAÚDE”, UMA VEZ QUE SÃO O PRINCIPAL MÉTODO PARA ENFRENTAR ESTES DESAFIOS PREMENTES E COMPLEXOS. ESTE É O APELO DOS RESPONSÁVEIS DAS ORGANIZAÇÕES MEMBROS DA ALIANÇA QUADRIPARTIDA, QUE SE PROPÕEM A ALCANÇAR EM CONJUNTO O QUE NENHUM SECTOR CONSEGUIU SOZINHO.

AAliança Quadripartida é formada por quatro importantes organizações:

a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) e o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA). Os responsáveis máximos destas organizações enfatizam a necessidade de aumentar a colaboração e o compromisso para traduzir a abordagem “Uma Só Saúde” em acções políticas. Para o efeito, exortam todos os países e as principais partes interessadas a promoverem e empreenderem um conjunto de acções que consideram prioritárias.

Acções

A primeira destas acções é priorizar a abordagem “Uma Só Saúde” na esfera política internacional, divulgar as questões associadas

e promover a adopção de uma governança intersectorial de saúde mais avançada. A abordagem “Uma Só Saúde” deverá ser um princípio orientador dos mecanismos globais, incluindo o novo acordo sobre as pandemias e o fundo de preparação, prontidão e resposta para as pandemias.

8 SAÚDE
ALIANÇA
NOTÍCIA

A segunda acção é avançar com os planos para a implementação da abordagem “Uma Só Saúde”, por exemplo, reforçando os mecanismos nacionais de coordenação e governação multissectoriais neste domínio, realizando análises da situação, identificando as partes interessadas, estabelecendo prioridades e parâmetros de referência para os quadros de acompanhamento e avaliação para essa abordagem.

A Aliança Quadripartida apela ainda a que se potencie a formação do pessoal dos sectores incluídos na abordagem “Uma Só Saúde”, a fim de lhes permitir dispor das competências e capacidades necessárias para prevenir, detectar, controlar e responder a ameaças para a saúde, de forma rápida e eficaz. Para o efeito, devem ser promovidos programas de formação para o pessoal que trabalha nos sectores da saúde humana, da saúde animal e do ambiente, tanto antes da sua integração, como durante a sua prática profissional.

A quarta acção passa pelo reforço e manutenção dos sistemas de prevenção na origem de ameaças para a saúde, centrando-se em actividades e locais onde aumenta o risco de salto zoonótico de agentes patogénicos entre animais e seres humanos. A que se sucede promover e reforçar a recolha e o intercâmbio de provas

e conhecimentos científicos relacionados com a abordagem “Uma Só Saúde”, bem como a investigação e o desenvolvimento, a transferência de tecnologias e o intercâmbio e a integração de dados e informações, a fim de facilitar o acesso a novas ferramentas e tecnologias.

A sexta acção contempla aumentar o investimento e o financiamento das estratégias e planos “Uma Só Saúde”, para intensificar a sua aplicação a todos os níveis, em especial através do financiamento da prevenção na origem de ameaças para a saúde.

“Para tornar o planeta um lugar mais saudável, é urgente tomar medidas para assegurar compromissos políticos vitais, aumentar o investimento e desenvolver a colaboração multissectorial a todos os níveis”, indica o comunicado conjunto. “A Aliança Quadripartida é fundamental para promover e coordenar a abordagem ‘Uma Só Saúde’ a nível mundial, em consonância com o Plano de Acção Conjunto lançado em outubro de 2022”

Para ajudar os países e governos a implementar esta abordagem, as organizações membros da Aliança Quadripartida estão a desenvolver um guia para a implementação do referido plano, que será publicado em 2023.

9 SAÚDE
Inger Andersen, directora executiva do PNUA Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS QU Dongyu, director geral da FAO Monique Eloit, directora geral da OMSA

CASOS DE PALUDISMO MODERAM RITMO DE CRESCIMENTO

OS DADOS DIVULGADOS PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) MOSTRAM QUE OS PAÍSES EM TODO O MUNDO CONSEGUIRAM EVITAR RETROCESSOS ADICIONAIS NOS SERVIÇOS DE PREVENÇÃO, DETECÇÃO E TRATAMENTO DA MALÁRIA EM 2021, APESAR DO IMPACTO DA COVID-19. O ÚLTIMO RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE O

PALUDISMO ESTIMA QUE, EM 2021, 619 MIL PESSOAS TENHAM MORRIDO DA DOENÇA, EM TODO O MUNDO, EM COMPARAÇÃO COM 625 MIL NO PRIMEIRO ANO DA PANDEMIA. EM 2019, O NÚMERO DE MORTES ERA DE 568 MIL.

10 SAÚDE
ENTREVISTA ANÁLISE

Os casos de malária continuaram a aumentar entre 2020 e 2021, embora a um ritmo mais lento do que entre 2019 e 2020. A contagem global atingiu 247 milhões em 2021, contra 245 milhões em 2020 e 232 milhões em 2019. “Após um aumento acentuado de casos e mortes por malária no primeiro ano da Covid-19, os países afectados intensificaram os seus esforços e foram capazes de mitigar o pior impacto da interrupção motivada pela pandemia nos serviços relacionados com o paludismo”, afirmou o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS. “São muitos os desafios que enfrentamos, mas há muitos motivos de esperança. Ao reforçar a resposta e ao compreender e mitigar os riscos, ao construir resiliência e acelerar a investigação, temos motivos de sobra para sonhar com um futuro livre de malária”

Compromissos nacionais

As redes mosquiteiras tratadas com insecticida são a principal ferramenta de controlo de vectores usada na maioria dos países endémicos de malária. Em 2020, foram distribuídas mais redes do que em qualquer outro ano para o qual existem dados disponíveis. Em 2021, a distribuição das redes tratadas com insecticida foi geralmente robusta e em níveis semelhantes aos dos anos pré-pandemia: dos 171 milhões de redes previstas para serem distribuídas, 128 milhões (75%) foram entregues.

No entanto, oito países (Benim, Eritreia, Indonésia, Nigéria, Ilhas Salomão, Tailândia, Uganda e Vanuatu) distribuíram menos de 60% das suas redes e sete países (Botsuana, República CentroAfricana, Chade, Haiti, Índia, Paquistão e Serra Leoa) não distribuíram nenhuma. A quimioprofilaxia sazonal é recomendada para prevenir a malária entre crianças que vivem em zonas de África onde a transmissão está intimamente ligada à estação do ano. Em 2021, uma nova ampliação desta intervenção atingiu quase 45 milhões de crianças por ciclo de quimioprofilaxia sazonal da malária em 15 países africanos, um aumento significativo em relação aos 33,4 milhões que beneficiaram desta mesma quimioprofilaxia em 2020 e aos 22,1 milhões em 2019.

Ao mesmo tempo, a maioria dos países conseguiu manter a sua capacidade de detecção e tratamento da malária durante a pandemia. Apesar dos desafios logísticos e da cadeia de abastecimento, em 2020, os países endémicos da malária distribuíram às unidades de saúde um número recorde de testes de diagnóstico rápido.

OMS anuncia novo director do Programa Global contra a Malária

O Dr. Daniel Ngamije Madandi, MD, MPH foi nomeado director do Programa Global contra a Malária da Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir de 8 de Abril de 2023.

O Dr. Daniel Ngamije Madandi foi Ministro da Saúde do Ruanda de Fevereiro de 2020 a Novembro de 2022. Durante este período, liderou o desenvolvimento e a execução do Plano Estratégico do Sector da Saúde, bem como o desenvolvimento e implementação do Plano Global de Resposta à Covid-19. Numa função anterior (20182019), actuou como Oficial do Programa Nacional para Malária e Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) no escritório da OMS no Ruanda, com sede em Kigali. Antes disso, passou 10 anos (2007-2017) coordenando, para o Ministério da Saúde ruandês, a mobilização de recursos e a implementação de projectos financiados por parceiros multilaterais e bilaterais, através da Unidade Única de Implementação de Projectos (SPIU). Entre 2005 e 2007, coordenou o Programa Nacional de Controlo da Malária do Ruanda.

O Dr. Daniel Ngamije Madandi foi copresidente do Fundo Pandémico, uma parceria colaborativa que financia investimentos críticos para fortalecer a prevenção, preparação e capacidade de resposta a pandemias, a nível nacional, regional e global, com foco em países de baixa e média renda. É ainda membro do Global Preparedness Monitoring Board (GPMB), um organismo independente de monitorização e responsabilização para garantir a preparação para crises de saúde globais.

11 SAÚDE

A OMS LANÇOU RECENTEMENTE

DUAS ESTRATÉGIAS PARA APOIAR OS PAÍSES DO CONTINENTE AFRICANO NO

ESTABELECIMENTO DE UMA RESPOSTA

MAIS RESILIENTE À MALÁRIA:

UMA ESTRATÉGIA PARA REDUZIR A RESISTÊNCIA AOS MEDICAMENTOS

ANTIMALÁRICOS E UMA INICIATIVA PARA IMPEDIR A PROPAGAÇÃO DO ANOPHELES

STEPHENSI, UM VECTOR DA MALÁRIA.

ALÉM DISSO, UM NOVO QUADRO GLOBAL DE RESPOSTA À MALÁRIA URBANA, DESENVOLVIDO CONJUNTAMENTE PELA

OMS E PELA ONU-HABITAT, FORNECE

ORIENTAÇÕES AOS LÍDERES MUNICIPAIS

E ÀS PARTES INTERESSADAS NA ÁREA DA MALÁRIA

anteriores, está bem abaixo dos cerca de 7.300 milhões de dólares necessários para continuar a avançar com o objectivo de acabar com a doença. Ao mesmo tempo, a perda de eficácia das ferramentas básicas de controlo da malária, especialmente das redes tratadas com insecticidas, impede novos progressos no controlo. As ameaças a esta ferramenta-chave de prevenção incluem a resistência aos insecticidas, o acesso insuficiente e a perda de redes tratadas (porque o ritmo com que são utilizadas no dia-a-dia não permite a sua substituição à mesma velocidade) e alterações no comportamento dos mosquitos, que parecem picar antes de as pessoas se deitarem e descansarem ao ar livre, evitando, assim, a exposição a insecticidas. Outros riscos também estão a aumentar, como mutações parasitárias que afectam o desempenho de testes de diagnóstico rápido, aumento da resistência dos parasitas aos medicamentos utilizados para tratar a malária e a invasão em África de um mosquito adaptado às zonas urbanas e resistente a muitos dos insecticidas actualmente utilizados.

Em 2021, os países realizaram 223 milhões de testes de diagnóstico rápido, um nível semelhante ao reportado antes da pandemia. A politerapia com artemisinina é o tratamento mais eficaz para a malária por P. falciparum Os países onde o paludismo é endémico administraram quase 242 milhões de doses de politerapia com artemisinina em 2021, em comparação com 239 milhões em 2019.

Ameaças que minam os esforços Apesar dos sucessos, estes esforços enfrentam muitos desafios, particularmente na Região Africana, onde se concentraram cerca de 95% dos casos e 96% das mortes a nível mundial, em 2021.

As ameaças à resposta global à malária incluem as perturbações durante a pandemia e as crises humanitárias convergentes, os desafios para os sistemas de saúde, o financiamento limitado, as ameaças biológicas crescentes e um declínio na eficácia das ferramentas básicas para combater doenças. “Apesar dos progressos, a Região Africana continua a ser a mais afectada por esta doença mortal”, disse a Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África.

“Precisamos urgentemente de novas ferramentas e do financiamento para implementá-las, para nos ajudar a derrotar a malária”

O financiamento total para o controlo da malária, em 2021, ascendeu a 3.500 milhões de dólares, um valor que, embora superior ao dos dois anos

Acelerar os progressos

A OMS lançou recentemente duas estratégias para apoiar os países do continente africano no estabelecimento de uma resposta mais resiliente à malária: uma estratégia para reduzir a resistência aos medicamentos antimaláricos e uma iniciativa para impedir a propagação do Anopheles stephensi, um vector da malária. Além disso, um novo quadro global de resposta à malária urbana, desenvolvido conjuntamente pela OMS e pela ONUHabitat, fornece orientações aos líderes municipais e às partes interessadas na área da malária. Entretanto, uma forte linha de investigação e desenvolvimento está pronta para introduzir uma nova geração de ferramentas de controlo do paludismo, que poderão ajudar a acelerar o progresso no sentido da consecução de objectivos globais. As principais oportunidades incluem redes de longa duração, com novas combinações de insecticidas, e outras inovações no controlo de vectores, como iscas específicas para atrair mosquitos, repelentes nebulizáveis e intervenções de mosquitos geneticamente modificados. Estão também a ser desenvolvidos novos testes de diagnóstico, bem como medicamentos de próxima geração para responder à resistência aos medicamentos antimaláricos. A partir do final de 2023, espera-se que milhões de crianças que vivem em zonas de maior risco beneficiem dos efeitos da primeira vacina contra a malária, a RTS,S. Outras vacinas contra a malária estão a ser desenvolvidas.

12 SAÚDE
13 SAÚDE RIGOR E CON F O RT O N A MED I Ç Ã O D A G LICEM I A
de auto-codificação
Sistema
Amostra de 0,3 µg/L
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Leitura em 3 segundos Memória

O ACONSELHAMENTO DO FARMACÊUTICO NO COMBATE À MALÁRIA

A MALÁRIA CONTINUA A SER UM DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS DE SAÚDE PÚBLICA, EM ANGOLA, SENDO RESPONSÁVEL POR GRANDE PARTE DOS CASOS DE MORTALIDADE NO PAÍS. SEGUNDO ESTUDOS RECENTES, A PROVÍNCIA DE LUANDA REGISTOU MAIS DE 40 MIL CASOS DE MALÁRIA, DESDE O INÍCIO DO ANO DE 2023.

Amalária é uma doença infecciosa que afecta os glóbulos vermelhos, provocada por um parasita (plasmódio). É transmitida ao homem através da fêmea dos mosquitos Anopheles

Dra. Margarida Carvalho

Farmacêutica. Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Coordenadora de Marketing de Serviços da Tecnosaúde

A espécie de plasmódio mais predominante e letal é o Plasmodium falciparum, mas existem também outras espécies conhecidas, nomeadamente, Plasmodium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale

Os farmacêuticos e técnicos de farmácia do país têm uma importante missão na prevenção e no tratamento da doença, instruindo e aconselhando a população, uma vez que, na maioria das vezes, são as farmácias o primeiro contacto com o utente. A prevalência desta doença no país faz com que a automedicação seja uma constante junto da população, o que é um risco, devido à falta de informação que ainda se faz sentir sobre este tema.

Ciclo de vida do parasita

O parasita causador da malária tem um ciclo de vida heteroxeno, sendo, por isso, necessários dois hospedeiros para o completar. Um deles, o mosquito fêmea do género Anopheles, é o hospedeiro definitivo, onde se dá a reprodução sexuada (esporogonia). Este é, simultaneamente, o vector da doença. O outro, o homem ou outro vertebrado, é o hospedeiro intermediário, no qual

14 SAÚDE
ENTREVISTA MUNDO DO FARMACÊUTICO

ocorre a reprodução assexuada (esquizogonia).

O clico de vida deste parasita divide-se em três fases: a pré-eritrocítica, a eritrocítica, e a esporogónica.

A primeira etapa do ciclo de vida corresponde à fase pré-eritrocítica. Inicia quando o mosquito pica o homem para se alimentar e, simultaneamente, inocula esporozoítos na corrente sanguínea. Estes circulam no sangue, culminando com a invasão dos hepatócitos. Os parasitas permanecem no fígado a desenvolver-se, nos sete a 10 dias seguintes. Os esporozoítos passam a esquizontes que, depois, libertam milhares de merozoítos para a corrente sanguínea.

A segunda etapa do ciclo de vida corresponde à fase eritrocítica, onde parte dos merozoítos é fagocitada e outra parte consegue invadir os eritrócitos. Uma vez dentro dos eritrócitos, os merozoítos diferenciam-se em trofozoítos, esquizontes que se dividem e produzem inúmeros merozoítos. Os eritrócitos rompem e os merozoítos invadem novas hemácias. É nesta fase que surgem a febre e os calafrios característicos da malária. O Plasmodium entra na fase sexual, quando alguns merozoítos se desenvolvem em gametócitos, células capazes de produzir gâmetas femininas e masculinas.

Para que o ciclo se complete os

gametócitos têm de ser ingeridos pelo mosquito Anopheles quando este se alimenta de sangue. Esta é a última etapa do ciclo do parasita, a fase esporogónica. Dentro do intestino do mosquito Anopheles, os gametócitos desenvolvem-se em gâmetas masculinas e femininas. O zigoto (ovo), resultante da fusão dos gâmetas masculino e feminino, desenvolve-se na parede do intestino do mosquito e diferencia-se em oocisto. Por consequentes divisões mitóticas, o oocisto produz inúmeros esporozoítos, que migram para as glândulas salivares do mosquito e, a partir daí, infectam outro indivíduo, dando início a um novo ciclo conforme espelhado na imagem.

15 SAÚDE
Ciclo de vida do parasita Plasmodium Falciparum

Medidas preventivas

A prevenção da malária é o primeiro passo no combate à doença. A utilização de redes mosquiteiras, telas nas janelas e portas, repelentes de insectos e insecticidas são fundamentais na prevenção da doença.

Os mosquitos que transmitem a malária vivem e reproduzem-se em águas paradas, charcos causados por chuvas, saídas de água, latas, garrafas, pneus, cascas de árvores e outros locais onde se possa fazer o armazenamento de água.

O mosquito adulto deposita os ovos na água e, no prazo de uma semana, podem crescer de ovos a mosquitos adultos.

Não só é importante prevenir a picada do mosquito, mas também combater o mosquito e o foco de larvas, nomeadamente, através de acções como:

• Manter os recipientes de água sempre fechados com tampa adequada;

• Remover folhas, galhos e tudo o que possa impedir a água de correr pelas calhas;

• Remover as águas das chuvas que ficam acumuladas sobre as lajes;

• Lavar semanalmente, por dentro, com escovas e sabão, os tanques utilizados para armazenar água;

• Manter bem tampados bidons e barris de água;

• Encher com areia os pratos dos vasos de plantas;

• Em caso de vasos de água aquáticos, a água deve ser trocada e o vaso limpo com escova e sabão, uma vez por semana;

• Guardar as garrafas de cabeça para baixo;

• Entregar os pneus velhos ou guardar sem água, em local coberto e abrigado da chuva;

• Colocar o lixo em sacos plásticos bem fechados, não deitar o lixo para o chão.

convulsões, anemia grave, insuficiência renal aguda ou edema pulmonar agudo e coma (malária cerebral), conduzindo, possivelmente, à morte.

Medidas não farmacológicas

As medidas não farmacológicas deverão fazer parte do tratamento da malária, tendo uma grande importância no combate aos sintomas associados a esta patologia. São estas:

• Diminuir a quantidade de roupa ou despir a criança/adulto;

• Banho com água tépida (37°C) de duração não superior a 10 minutos;

• Ingestão de muitos líquidos para prevenção da desidratação associada à febre;

• Permanecer em ambientes com temperatura amena;

• Em caso de convulsões febris, colocar a criança de lado, desapertar a roupa e evitar que se magoe com objetos próximos;

• Evitar alimentos sólidos, até que o episódio de vómitos tenha passado;

• Repouso.

Medidas farmacológicas

O objectivo da terapêutica da malária é garantir uma cura rápida e duradoura, prevenir a evolução do estado simples da doença para grave, assim como reduzir os episódios clínicos e a ocorrência de malária.

A decisão de como tratar o paciente com malária deve ser precedida de informações sobre os seguintes aspectos:

• Gravidade da doença: pela necessidade de apresentações injectáveis e com acção mais rápida, visando reduzir letalidade;

• Espécie de plasmódio: deve ser diferenciada, em face do perfil variado de resposta do P. falciparum aos antimaláricos. Caso não seja possível determinar a espécie do parasita, devese optar pelo tratamento do P. falciparum, pelo risco de evolução grave;

• Idade do paciente: pelo pior prognóstico da malária na criança e no idoso;

Sinais e sintomas

Os sintomas surgem, normalmente, cerca de 10 a 15 dias após a picada do mosquito infectado e incluem febre, dor de cabeça, mialgias e artralgias, arrepios e vómitos e mal-estar geral de agravamento progressivo.

Se não for tratada no espaço de 24 horas, a malária causada por P. falciparum pode progredir para uma doença grave, caracterizada por

• História de exposição anterior à infecção: indivíduos não imunes tendem a apresentar formas clínicas mais graves;

• Susceptibilidade dos parasitas aos antimaláricos convencionais

Relativamente ao tratamento farmacológico da malária simples e complicada causada por Plasmodium Falciparum, actualmente, as Guidelines da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam os seguintes esquemas

terapêuticos:

16 SAÚDE
Dicas para combater o mosquito e os focos de larvas

Tratamento da malária simples por Plasmodium Falciparum

1.ª linha

Adultos ACT (terapêuticas combinadas com artemisina durante 3 dias):

● Arteméter + lumefantrina (AL)

● Artesunato + amodiaquina (AS+AQ)

● Dihidroartemisina + piperaquina (DHAP)

● Artesunato + sulfadoxina/pirimetamina* (AS+SP)

● Artesunato + mefloquina (ASMQ)

● Artesunato – pironaridina* (ASPY) (2022)**

*Artesunato + sulfadoxina/pirimetamina e Artesunato – pironaridina não são recomendados no primeiro 1.º de gravidez

**Artesunato - pironaridina deve ser evitado em pacientes com doença hepática, porque é associado a transaminite.

• Arteméter + lumefantrina

Crianças

• Artesunato + amodiaquina

• Dihidroartemisina + piperaquina

• Artesunato + sulfadoxina/pirimetamina

• Artesunato + mefloquina

Gravidez

1 º trimestre

2 º e 3 º trimestres

• Quinino + clindamicina (durante 7 dias)

ACTs (terapêuticas combinadas com artemisina durante 3 dias):

• Arteméter + lumefantrina

• Artesunato + amodiaquina

• Artesunato + sulfadoxina/pirimetamina

• Artesunato + mefloquina

• Dihidroartemisina + piperaquina

Tratamento da malária complicada por Plasmodium Falciparum

1.ª linha

• Artesunato IV ou IM*

2.ª linha

• Artesunato + tetraciclina ou doxiciclina ou clindamicina (durante 7 dias)

• Quinino + tetraciclina ou doxiciclina ou clindamicina (durante 7 dias)

Adultos

*A partir do momento em que o paciente recebe, pelo menos, 24 h orasda terapêutica, poderá tolerar terapêutica oral de 3 dias de ACT.

Crianças

• Artesunato IV ou IM*

• Quinino IV ou IM

*A partir do momento em que o paciente recebe, pelo menos, 24 horas da terapêutica, poderá tolerar terapêutica oral de 3 dias de ACT.

Gravidez

1.º, 2.º e 3.º trimestres

• Artesunato + clindamicina (durante 7 dias)

2.ª linha

• Quinino IV ou IM

• Arteméter IM (só quando o artesunato ou o quinino não estão disponíveis)

• Arteméter IM (só quando o artesunato ou o quinino não estão disponíveis)

O farmacêutico assume um papel decisivo nesta problemática, uma vez que está próximo da população e pelo seu conhecimento e experiência na área, para incentivar e motivar a adopção de medidas preventivas e a adesão à terapêutica.

• Artesunato IV ou IM*

*A partir do momento em que o paciente recebe, pelo menos, 24 horas da terapêutica, poderá tolerar terapêutica oral de 3 dias de ACT.

Esquemas terapêuticos para o tratamento da Malária Simples e Complicada causada pelo Plasmodium Falciparum segundo as Guidelines da OMS de 25 de Novembro de 2022.

O farmacêutico assume um papel decisivo nesta problemática, uma vez que está próximo da população e pelo seu conhecimento e experiência na área para incentivar e motivar a adopção de medidas preventivas e a adesão à terapêutica.

A Tecno-Saúde Angola é uma empresa que baseia a sua actividade na prestação de serviços ligados ao sector da saúde, como empresa especializada na área da formação. Apresenta

A Tecno-Saúde Angola é uma empresa que baseia a sua actividade na prestação de serviços ligados ao sector da saúde, como empresa especializada na área da formação. Apresenta diversos módulos de formações, que podem ser divididos em áreas como a gestão farmacêutica, a área comportamental ou a área técnica, que visam a preparação e diferenciação de farmacêuticos e técnicos de farmácia.

17 SAÚDE

O PAPEL DO PEDIATRA NO COMBATE À MORTALIDADE INFANTIL POR

MALÁRIA

A MALÁRIA É UMA DOENÇA

PARASITÁRIA FEBRIL AGUDA, TRANSMITIDA ÀS PESSOAS ATRAVÉS DA PICADA DE MOSQUITOS FÊMEAS INFECTADOS DO GÉNERO ANOPHELES. OS

PRIMEIROS SINTOMAS (FEBRE, DOR DE CABEÇA E CALAFRIOS), GERALMENTE, APARECEM 10 A 15 DIAS APÓS A PICADA DO MOSQUITO INFECTANTE E PODEM SER LIGEIROS E DIFÍCEIS DE RECONHECER COMO MALÁRIA. SE NÃO FOR DIAGNOSTICADA E TRATADA ATEMPADAMENTE, PODE PROGREDIR PARA UMA DOENÇA GRAVE E PARA A MORTE.

18 SAÚDE
ENTREVISTA PERSPECTIVA

Oúltimo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou 247 milhões de casos de malária estimados e 619 mil mortes registadas, em 2021. A Região Africana da OMS foi responsável por 95% de todos os casos e 96% das mortes. Nas regiões endémicas de malária, a população pediátrica permanece como um dos grupos de maior risco, sendo as crianças menores de 5 anos de idade as mais vulneráveis. Quase 80% das mortes registadas em 2021 ocorreu na Região Africana da OMS.

Em Angola, a malária é uma doença endémica e constitui um grave problema de saúde pública, pela elevada taxa de morbimortalidade, em especial nos grupos de risco, onde se destacam as crianças menores de 5 anos.

Papel do pediatra no combate à mortalidade infantil por malária

Inúmeras famílias recorrem ao pediatra para a prestação de cuidados de saúde para os seus filhos, com o objectivo de mantê-los o mais saudáveis e felizes possível. Durante o seu trabalho em ambulatório e/ou hospitalar, o pediatra pode e deve desempenhar um papel activo na educação para a saúde das famílias, no sentido de adoptarem as medidas de prevenção não só contra a malária, como outras patologias preveníveis, tratáveis e curáveis. Independentemente do motivo da procura/consulta, o pediatra deve fazer abordagens curtas de alguns assuntos relacionados com a prevenção em saúde, em prol de um crescimento e desenvolvimento saudável da criança, utilizando uma linguagem simples e objectiva.

Um dos temas é, sem dúvida, a malária, principal causa de morbilidade e mortalidade infantil em Angola. O pediatra deve sensibilizar as famílias para

a utilização dos mosquiteiros tratados com insecticidas, de acordo com as normas das autoridades de saúde, o que permite protecção pessoal contra as picadas do mosquito. Conversar com os pais sobre o sono da criança pode ser um bom caminho para abordar o assunto dos mosquiteiros e falar da sua importância na prevenção das picadas de mosquitos.

Aconselhar os pais para a utilização de repelentes na roupa e/ou zonas expostas da pele das crianças é outra forma de evicção ou minimização do risco de picadas por mosquitos.

A malária é uma doença evitável, tratável e curável, podendo evoluir para formas graves e morte em poucas horas se não for diagnosticada e tratada atempadamente. Os sintomas são inespecíficos e podem incluir calafrios, mal-estar, fadiga, sudorese, cefaleia, tosse, anorexia, náuseas, vómitos, dor abdominal, diarreia, artralgias e mialgias. O diagnóstico precoce e o tratamento rápido e adequado reduzem o risco do agravamento clínico e morte.

DURANTE O SEU TRABALHO EM AMBULATÓRIO E/OU HOSPITALAR, O PEDIATRA PODE E DEVE DESEMPENHAR UM PAPEL ACTIVO NA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE DAS FAMÍLIAS, NO SENTIDO DE ADOPTAREM AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO NÃO SÓ CONTRA A MALÁRIA, COMO OUTRAS PATOLOGIAS PREVENÍVEIS, TRATÁVEIS E CURÁVEIS.

A procura de prestação de cuidados clínicos do pediatra para a criança com quadro febril agudo, sem razão aparente, deve ser uma recomendação a dar aos pais. É importante sensibilizar os pais para a importância no cumprimento da terapêutica, administrando à criança a posologia correcta e cumprindo o tempo de duração exacto do tratamento, mesmo que aparentemente melhore antes do término do mesmo, pois a falta de cumprimento na íntegra poderá levar ao agravamento clínico e ao surgimento de resistências do plasmódio aos medicamentos antimaláricos.

Perante uma criança com o diagnóstico de malária, no acto da prescrição, o pediatra não deve esquecer de fazer as recomendações na eventualidade da criança vomitar a medicação. Neste caso, deve-se aconselhar a contactar o pediatra, que recomendará repetir, eventualmente, a toma da dose vomitada ou optar por outra forma de tratar a doença. Após o cumprimento do tratamento, a criança deverá ser reavaliada.

A abordagem deste assunto com as famílias, se for adoptada por todos os pediatras e alargada a todos os profissionais de saúde, autoridades de saúde e sociedade civil, com certeza, terá impacto no combate e redução da mortalidade infantil por malária.

19 SAÚDE
Dra. Ester Matias Licenciada pela Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto. Pediatra na clínica Luanda Medical Center

ADECOS — IMPORTANTES ACTORES NO SISTEMA DE SAÚDE

OS AGENTES DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO E SANITÁRIO (ADECOS) DESEMPENHAM UM PAPEL

IMPORTANTE NO SISTEMA DE SAÚDE. NÃO OBSTANTE, A SUA ÁREA DE ACTUAÇÃO VAI ALÉM DA SAÚDE E INCLUI, ENTRE OUTROS, OS DOMÍNIOS DA AGRICULTURA E DA EDUCAÇÃO, SENDO AINDA

INTERLOCUTORES PRIVILEGIADOS NA IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELAS COMUNIDADES E NO SEU REPORTE ÀS AUTORIDADES ADMINISTRATIVAS. O PROJECTO SAÚDE PARA TODOS, FINANCIADO PELA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL, ATRAVÉS DA INICIATIVA PRESIDENCIAL CONTRA A MALÁRIA — USAID / PMI, TEM VINDO A TRABALHAR COM O MINSA, O MAT E O FAS NO SENTIDO DE POTENCIALIZAR O PAPEL DESTES IMPORTANTES AGENTES SANITÁRIOS.

REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE

20 SAÚDE
PUBLI-REPORTAGEM ©USAID Angola

Desde Maio de 2022, e seguindo a orientação do Plano Estratégico da Malária (PEM) 2021 – 2025, os ADECOS apoiados pelo projecto Saúde Para Todos passaram a realizar testes de diagnóstico rápido de malária (TDR) e a tratar aqueles que apresentarem teste positivo em todas as faixas etárias, quando a malária for considerada não complicada.

Entre 2021 e 2022, o Saúde Para Todos apoiou um total de 365 ADECOS, no âmbito do manejo de casos de malária, em 14 municípios nas províncias de:

• Lunda Sul: Cacolo e Dala;

• Zaire: Soyo, Tomboco e Cuimba;

• Malanje: Caculama (Mucari), Cacuso, Calandula, Cangandala e Quela;

• Uíge: Maquela do Zombo, Mucaba, Quitexe e Sanza Pombo.

Os resultados da acção dos ADECOS mostram impacto e destacam a relevância da sua acção nas comunidades apoiadas. Analisando os dados destes 365 ADECOS ao longo de 12 meses (Outubro 2021 a Setembro 2022), é possível destacar o seguinte:

• Os ADECOS contribuíram para cerca de 21 % do número total de casos de malária confirmados em crianças abaixo de 5 anos nos respectivos municípios;

• Elevada adesão dos ADECOS aos protocolos de tratamento do Programa Nacional de Controlo da Malária e às directrizes sobre a gestão da malária não complicada para todas as faixas etárias.

A figura ilustra esses dados em termos numéricos:

O apoio do projecto Saúde Para Todos, financiado pela USAID / PMI, aos ADECOS está em processo de aumento, passando de 365 para 540 agentes apoiados. Sempre sob coordenação do Programa Nacional de Controlo da Malária / MINSA, a formação e a supervisão formativa, quer ao nível comunitário, quer das unidades de referência são elementoschave e ininterruptos para assegurar cuidados de qualidade próximos do cidadão.

A integração dos dados dos ADECOS na análise de rotina (DHIS2) para gerar evidências, identificando os “nós críticos” da malária para a mortalidade e a resposta à redução da morbilidade, é também foco do PNCM e do projecto Saúde para Todos.

O Ministério da Saúde reconhece e sublinha o papel dos ADECOS. Sua Excelência a Ministra da Saúde, Dra. Silvia Lutucuta, referia no seu discurso de abertura do 31.º Conselho Consultivo do MINSA “continuar a trabalhar com o MAT, o MASFAMU e o MINFIN, para garantirmos o melhor enquadramento dos ADECOS e potencializar a actuação destes junto das comunidades e destas com as unidades sanitárias”

Os investimentos da USAID / PMI na área da saúde comunitária pretendem reforçar esse compromisso do MINSA e, por isso, o diálogo estreito com o PNCM / MINSA é contínuo e o apoio na implementação do PEM (2021–2025) é basilar. Conceito importante a reter, sobretudo dado o escopo amplo do trabalho dos ADECOS, é o da integração de áreas de saúde, para que os ADECOS possam estar bem preparados para o continuum de necessidades de saúde das comunidades por si servidas, com destaque para a malária — prevenção e tratamento —, comunicação em saúde reprodutiva e mensagens de prevenção da COVID-19. Através desta integração de áreas de saúde na formação dos ADECOS, a informação acertada para promoção da saúde estará mais próxima do cidadão.

21 SAÚDE ADECOS 10.2021–09.2022 casos de febre 45.125 casos testados com TDR* 44.192 casos confirmados de malária 33.140 casos tratados com ASAQ 33.009 74,9 % 97,9 % 99,6 %
©USAID Angola

74 MILHÕES DE VIDAS SALVAS, DESDE 2000

74 MILHÕES DE VIDAS FORAM SALVAS, DESDE 2000, GRAÇAS AOS ESFORÇOS MUNDIAIS PARA ERRADICAR A TUBERCULOSE. ESTE ANO, O TEMA DO DIA MUNDIAL DA TUBERCULOSE, ASSINALADO NO PASSADO DIA 24 DE MARÇO, FOI “SIM! PODEMOS ACABAR COM A TUBERCULOSE!”. 2023 É UM ANO CRÍTICO, COM OPORTUNIDADES PARA AUMENTAR A VISIBILIDADE E O COMPROMISSO POLÍTICO EM TORNO DA DOENÇA, JÁ QUE SE VAI REALIZAR UMA REUNIÃO DE ALTO NÍVEL DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE A TUBERCULOSE, NO PRÓXIMO MÊS DE SETEMBRO.

A24 de Março de 1882, o cientista alemão Robert Koch apresentou, pela primeira vez, a sua descoberta da bactéria causadora da tuberculose. Nestes 141 anos, foi percorrido um longo caminho: existem testes, tratamentos e uma vacina contra a tuberculose, que salvaram inúmeras vidas. A tuberculose é, hoje, uma doença evitável, tratável e curável. Desde 2000, as mortes por tuberculose diminuíram quase 40%, a nível mundial, e mais de 74 milhões de pessoas tiveram acesso a serviços relacionados com a doença. “No entanto, esta doença ainda mata 1,6 milhões de pessoas, todos os anos, afecta muitos milhões e tem enormes impactos nas famílias e comunidades. A pandemia de Covid-19 e os conflitos em curso em muitos países perturbaram gravemente os serviços de prevenção, detecção e tratamento. Como resultado, pela primeira vez em mais de uma década, a Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou um aumento no número de mortes por tuberculose, no ano passado”, notou o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS, na conferência de imprensa que antecedeu as comemorações do Dia Mundial da Tuberculose. Em 2015, no âmbito dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, as nações do mundo comprometeram-se a acabar com a tuberculose até 2030. No próximo mês de Setembro, os líderes mundiais reunir-se-ão em Nova Iorque para a segunda reunião de alto nível sobre a doença. “Acreditamos que esta reunião poderá ser um ponto de viragem na luta

contra a tuberculose, se os líderes assumirem compromissos reais e duradouros no sentido de se investir na resposta à doença”

22 SAÚDE
NOTÍCIA

Acabar com a tuberculose até 2030 é uma meta extremamente ambiciosa. Há cinco anos, para apoiar este objectivo, a OMS criou uma iniciativa emblemática para promover a investigação e expandir o acesso aos serviços relacionados. “Temos de disponibilizar as ferramentas de que dispomos a mais pessoas. Mas também precisamos de novos instrumentos”, sublinhou o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus. Efectivamente, o aumento da resistência está a minar a eficácia de alguns medicamentos utilizados para tratar a tuberculose. E a única vacina desenvolvida até à data, a BCG, tem mais de 100 anos e não protege suficientemente adolescentes e adultos, que são responsáveis pela maioria dos casos de transmissão da doença.

É por isso que a OMS propôs a criação de um Conselho de Aceleração das Vacinas contra a Tuberculose, para facilitar o desenvolvimento, o licenciamento e a utilização de novas vacinas. “No entanto, é evidente que não conseguiremos acabar com a tuberculose se não abordarmos os seus principais motores: pobreza, subnutrição, diabetes, VIH, consumo de tabaco e de álcool, más condições de vida e de trabalho, estigma e discriminação, entre outros”, enumerou o director geral da OMS. “Por essa razão, decidimos prolongar a iniciativa por mais cinco anos, até 2027, e alargar o seu âmbito”

Erradicar a tuberculose

Acabar com a tuberculose não é tarefa exclusiva da OMS, dos governos ou dos sistemas de saúde. Este objectivo exigirá acções e uma maior

responsabilização por parte de todos os governos, agências, doadores, investigadores, sector privado e sociedade civil. “As vozes das pessoas afectadas pela tuberculose são as mais fortes e devem ser ouvidas mais alto”, disse na mesma conferência a Dra. Tereza Kasaeva, subdirectora geral interina da OMS para as doenças transmissíveis e não transmissíveis. 2023 é um ano crucial para impulsionar a agenda para acabar com a tuberculose, uma vez que existem várias oportunidades de alto nível para aumentar a visibilidade, o compromisso político e os investimentos para a resposta à doença. Pela segunda vez, os Chefes de Estado reunir-se-ão para deliberar sobre a aceleração dos esforços para acabar com a tuberculose, na reunião de alto nível das Nações Unidas, que terá lugar na Assembleia Geral em Setembro. Duas outras reuniões de alto nível da ONU serão realizadas ao mesmo tempo, centrando-se na cobertura universal de saúde e na preparação para pandemias. Recentemente, o director geral da OMS anunciou o alargamento do foco da iniciativa emblemática para 2023-2027, que apresenta novas metas que reúnem países e partes interessadas no redobro dos esforços para garantir o acesso universal à prevenção, aos cuidados e às mais recentes ferramentas e tecnologias para combater a tuberculose, no caminho para a cobertura universal de saúde.

MORBILIDADE E MORTALIDADE POR TUBERCULOSE AUMENTARAM DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

DE ACORDO COM O ÚLTIMO RELATÓRIO GLOBAL SOBRE A TUBERCULOSE DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), CERCA DE 10,6 MILHÕES DE PESSOAS CONTRAÍRAM A DOENÇA

EM 2021, MAIS 4,5% DO QUE EM 2020, E 1,6

MILHÕES MORRERAM DA MESMA, INCLUINDO 187 MIL SEROPOSITIVOS. ALÉM DISSO, A RESISTÊNCIA AOS MEDICAMENTOS AUMENTOU 3%, ENTRE 2020 E 2021, QUANDO FORAM DETECTADOS 450 MIL NOVOS CASOS DE RESISTÊNCIA À RIFAMPICINA.

FOI A PRIMEIRA VEZ, EM MUITOS ANOS, QUE MAIS PESSOAS CONTRAÍRAM TUBERCULOSE E FICARAM INFECTADAS COM BACILOS RESISTENTES AOS MEDICAMENTOS.

24 SAÚDE
ENTREVISTA ANÁLISE

Apandemia de Covid-19 causou interrupções em muitos serviços, em 2021, mas o impacto no combate à tuberculose foi mais grave. Além disso, os conflitos em curso na Europa de Leste, em África e no Médio Oriente agravaram, ainda mais, a situação dos grupos vulneráveis. “Se aprendemos alguma coisa com a pandemia é que, com solidariedade, determinação, inovação e uso equitativo das ferramentas disponíveis, podemos superar sérias ameaças à saúde. Temos de aplicar essas lições à luta contra a tuberculose para acabar com esta doença que tem causado tantas mortes, mas só o poderemos fazer se trabalharmos em conjunto”, afirma o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS.

Devido às contínuas dificuldades na prestação e acesso aos serviços básicos de tuberculose, muitos casos não foram diagnosticados nem tratados. O número de novos casos passou de 7,1 milhões em 2019, para 5,8 milhões em 2020. Embora tenham sido diagnosticados 6,4 milhões de casos em 2021, ainda se está abaixo dos níveis pré-pandemia. As reduções no número de diagnósticos notificados sugerem que mais casos não são detectados e tratados, resultando no aumento de mortes e na transmissão extra-hospitalar da infecção e, ao longo do tempo, no número de pacientes.

DEVIDO ÀS CONTÍNUAS DIFICULDADES NA PRESTAÇÃO E ACESSO AOS SERVIÇOS BÁSICOS DE TUBERCULOSE, MUITOS CASOS NÃO FORAM DIAGNOSTICADOS NEM TRATADOS. O NÚMERO DE NOVOS CASOS

PASSOU DE 7,1 MILHÕES EM 2019, PARA 5,8 MILHÕES EM 2020. EMBORA TENHAM SIDO DIAGNOSTICADOS 6,4 MILHÕES DE CASOS EM 2021, AINDA SE ESTÁ ABAIXO DOS NÍVEIS PRÉ-PANDEMIA

25 SAÚDE

OMS actualiza directrizes sobre diagnóstico de infecção por tuberculose

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou novas directrizes e um manual operacional inédito sobre testes para o diagnóstico de infecção por tuberculose. Pela primeira vez, existem recomendações sobre uma nova classe de testes cutâneos baseados em antígenos de Mycobacterium tuberculosis, a bactéria causadora da maior parte dos casos de tuberculose, e consolida as recomendações existentes para o diagnóstico da infecção.

A directora do programa global de tuberculose da OMS, Dra. Tereza Kasaeva, afirma que as opções de diagnóstico estão a aumentar graças ao envolvimento da indústria e a novas pesquisas. Garantir que todos os pacientes possam obter um diagnóstico rápido e correcto é de fundamental importância para prevenir e eliminar a tuberculose.

A doença é transmitida de pessoa para pessoa pelo ar e os sintomas mais comuns, como tosse, febre, sudorese nocturna ou perda de peso, podem ser leves por muitos meses. A OMS alerta que isso pode levar a atrasos na procura de atendimento e resulta na transmissão da bactéria para outras pessoas. Segundo a OMS, a testagem aumenta a probabilidade de acesso ao tratamento preventivo.

As directrizes consolidadas são acompanhadas por um manual operacional que fornece aos profissionais de laboratório, médicos, Ministérios da Saúde e parceiros técnicos orientações detalhadas sobre como implementar as recomendações. O documento descreve os testes recomendados e seus procedimentos, além de prover um algoritmo modelo e as etapas necessárias para aumentar as testagens de infecção por tuberculose dentro de um programa de saúde.

Segundo a OMS, em todo o mundo, a tuberculose é a 13.ª principal causa de morte e a segunda principal causa de morte infecciosa, depois da Covid-19. Erradicar a infecção até 2030 é uma das metas de saúde dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

Além disso, entre 2019 e 2020, o número de pessoas tratadas com medicamentos contra a tuberculose resistente à rifampicina e multirresistente diminuiu.

Em 2021, apenas 161.746 pessoas com tuberculose resistente à rifampicina começaram a ser tratadas, ou seja, apenas uma em cada três.

Por outro lado, o relatório assinala uma diminuição dos gastos globais com serviços essenciais contra esta doença, que passaram de seis mil milhões de dólares em 2019, para 5.400 milhões de dólares em 2021, ou seja, um valor muito abaixo da metade da meta global de 13 mil milhões de dólares por ano, prevista para 2022.

Tal como nos 10 anos anteriores, a maior parte do financiamento utilizado em 2021 (79%) veio de fontes nacionais. No entanto, o financiamento de doadores internacionais continua a ser essencial nos países de baixa e média renda. A principal fonte é o Fundo Mundial de Luta contra a SIDA, a Tuberculose e a Malária. O Governo dos Estados Unidos da América é o maior contribuinte para este fundo global e também o maior doador bilateral. Globalmente, fornece cerca de 50% do financiamento dos doadores internacionais para a tuberculose.

COMO DADO MAIS POSITIVO, O TRATAMENTO PREVENTIVO DA TUBERCULOSE PARA AS PESSOAS QUE VIVEM COM O VIH EXCEDEU EM MUITO A META GLOBAL DE SEIS MILHÕES ESTABELECIDA PARA O PERÍODO 20182022 E ATINGIU MAIS DE 10 MILHÕES, EM APENAS QUATRO ANOS

Desenvolvimentos positivos Apesar do impasse observado, registaramse também alguns progressos. Entre 2018 e 2021, 26,3 milhões de pessoas foram tratadas para a tuberculose, mas a meta estabelecida na primeira reunião de alto nível da Organização das Nações Unidas (ONU), de tratar 40 milhões no período 2018-2022, ainda está distante. Entre os 30 países com maior carga da doença, entre os quais se inclui Angola, os níveis mais altos de cobertura de tratamento em 2021 foram registados no Bangladesh, no Brasil, na China, no Uganda e na Zâmbia. O número de pessoas que receberam tratamentos preventivos recuperou para níveis próximos dos de 2019, mas o total acumulado de 12,5 milhões, entre 2018 e 2021, ainda está longe dos 30 milhões esperados até ao final de 2022. Como dado mais positivo, o tratamento preventivo da tuberculose para as pessoas que vivem com o VIH excedeu em muito a meta global de seis milhões estabelecida para o período 2018-2022 e atingiu mais de 10 milhões, em apenas quatro anos. Sete países – Índia, Nigéria, África do Sul, Uganda, República Unida da Tanzânia,

26 SAÚDE

Zâmbia e Zimbabué – representaram 82% das pessoas que iniciaram o tratamento. Além disso, sete países – Etiópia, Quénia, Lesoto, Namíbia, África do Sul, República Unida da Tanzânia e Zâmbia – cumpriram ou excederam a meta de 2020 de reduzir a incidência da doença em 20%, em relação aos níveis de 2015. Os países estão a adoptar cada vez mais as novas ferramentas e directrizes recomendadas pela OMS (ver caixa azul), que simplificam o acesso à prevenção

Importância das vacinas

“Uma das lições mais importantes da resposta à pandemia de Covid-19 é que as intervenções inovadoras de saúde podem ser implementadas rapidamente se lhes for dada prioridade política e adequadamente financiadas. Os desafios colocados pela tuberculose e pela Covid-19 são diferentes, mas os ingredientes que aceleram a ciência, a investigação e a inovação são os mesmos: investimento público urgente e antecipado, apoio da filantropia e envolvimento do sector privado e da comunidade. Acreditamos que o domínio da tuberculose beneficiará de uma coordenação de alto nível semelhante”

No início de 2023, o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS, anunciou planos para criar um novo Conselho de Aceleração das Vacinas contra a Tuberculose numa mesa-redonda de alto nível sobre a tuberculose no Fórum Económico Mundial, realizado em Davos, na Suíça. A BCG é actualmente a única vacina licenciada contra a tuberculose. Embora ofereça eficácia moderada na prevenção de formas graves da doença em lactentes e crianças pequenas, não protege adequadamente adolescentes e adultos, que são responsáveis por cerca de 90% das transmissões em todo o mundo.

Um estudo recente encomendado pela OMS, intitulado “Um caso de investimento para novas vacinas contra a tuberculose (TB)”, estima que, ao longo de 25 anos, uma vacina com 50% de eficácia na prevenção da doença entre adolescentes e adultos poderia evitar até 76 milhões de novos casos de tuberculose, 8,5 milhões de mortes, 42 milhões de tratamentos com antibióticos e 6.500 milhões de dólares em custos para as famílias afectadas pela tuberculose, especialmente as mais pobres e vulneráveis.

Já uma vacina com 75% de eficácia poderia prevenir até 110 milhões de novos casos e 12,3 milhões de mortes.

O estudo sugere ainda que cada dólar investido numa vacina com 50% de eficácia poderia gerar um retorno económico de sete dólares na forma de custos de saúde evitados e aumento da produtividade.

e aos cuidados e levam a melhores resultados. A proporção de pessoas diagnosticadas com tuberculose que foram inicialmente testadas para diagnóstico rápido aumentou de 33% em 2020, para 38% em 2021.

No total, 109 países utilizaram regimes de medicamentos orais mais longos para tratar a tuberculose multirresistente e a tuberculose resistente à rifampicina (contra 92 em 2020) e 92 países utilizaram regimes mais curtos (contra 65 em 2020). O acesso a regimes mais curtos (um a três meses) com rifampicina como profilaxia da doença também foi ampliado. Em 2021, 185.350 pessoas de 52 países foram tratadas com directrizes contendo rifapentina, em comparação com 25.657 pessoas de 37 países em 2020. O relatório reitera aos países que devem tomar medidas urgentes para restabelecer o acesso aos serviços básicos de tuberculose e apela a um maior investimento, a uma acção multissectorial para abordar os determinantes mais vastos que alimentam a epidemia e o seu impacto socioeconómico, bem como a novos diagnósticos, medicamentos e vacinas.

Objectivos globais

Em 2014 e 2015, todos os Estadosmembros da OMS adoptaram os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e a Estratégia da OMS para Acabar com a Tuberculose. Ambos incluem metas e marcos intermédios para reduzir significativamente a incidência da doença, as mortes causadas pela mesma e os custos enfrentados pelos pacientes e suas famílias.

A meta 3.3 dos ODS inclui o fim da epidemia de tuberculose até 2030. A Estratégia para Acabar com a Tuberculose estabelece objectivos intermédios (2020 e 2025) e metas (em 2030 e 2035) para a redução dos casos e mortes. As metas para 2030 contemplam uma redução de 90% no número de mortes por tuberculose e de 80% na taxa de incidência (novos casos por 100 mil habitantes por ano) em comparação com os níveis de 2015.

27 SAÚDE

COM A PANDEMIA, HOUVE UM LIGEIRO AUMENTO DA MULTIRRESISTÊNCIA DA TUBERCULOSE EM ANGOLA, TESTEMUNHA A DRA. EUGÉNIA RAMOS. A RESPONSÁVEL PELO PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLO DA TUBERCULOSE ABORDA A EVOLUÇÃO QUE ESTA DOENÇA

TEM TIDO NO PAÍS, ASSIM COMO AS PRINCIPAIS ACÇÕES QUE TÊM VINDO A SER DESENVOLVIDAS NO SEU COMBATE E OS MAIORES DESAFIOS QUE OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE ENFRENTAM NESSE PROCESSO.

“EM 2020 E 2021, A PANDEMIA DE COVID-19

TEVE UM GRANDE IMPACTO NO CONTROLO DA TUBERCULOSE”

28 SAÚDE ENTREVISTA

Formação Superior em Indústria Alimentar e Biológica no Institut Universitaire de Technologie (IUT) de Nancy, em França. Antiga responsável do laboratório de Referência de Micobactérias (TB e Lepra) do então Instituto Nacional de Saúde Pública, actualmente INIS Instituto Nacional de Investigação em Saúde (2003-2011)

Quando falamos em tuberculose, a que tipo de patologia nos referimos?

A tuberculose é uma doença infecciosa e contagiosa, causada por um microorganismo denominado Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch). Pode afectar qualquer órgão, principalmente os pulmões.

Quando devemos suspeitar que um doente tem tuberculose? Que sinais e sintomas são indicativos desta doença?

Devemos suspeitar de qualquer indivíduo com tosse persistente por mais de duas semanas, com ou sem expectoração, sudorese nocturna, febre, perda de peso e dor torácica.

Como é feito o diagnóstico laboratorial da tuberculose activa e latente, em Angola? Que métodos são actualmente utilizados e em que consistem?

O diagnóstico da tuberculose activa é feito através da microscopia da expectoração, de cultura/testes de sensibilidade aos antibióticos e de teste rápido molecular (GnenXpert). Para a tuberculose latente, o diagnóstico é feito através de teste de Mantoux e IGRA (em algumas unidades privadas).

Actualmente, qual é a taxa de incidência da tuberculose activa e latente, em Angola? E como tem evoluído em relação aos anos anteriores?

Em 2021, a taxa de incidência foi de 192,2/100.000 habitantes. Houve uma redução em relação aos anos de 2019 e de 2020, quando se situou, respectivamente, nos 244,2/100.000 habitantes e 202,9/100.000 habitantes.

Que procedimentos devem ser adoptados após o diagnóstico positivo à tuberculose?

Após o diagnóstico, o paciente inicia o tratamento para

a tuberculose com fármacos de primeira linha e faz-se o rastreio de contactos.

Como se tem observado a multirresistência da tuberculose em Angola?

Houve um ligeiro aumento. Em 2020 e 2021, a pandemia de Covid-19 teve um grande impacto no controlo da tuberculose e os principais desafios decorrentes relacionaram-se com a influência do distanciamento social no diagnóstico, seguimento e adesão ao tratamento, incluindo a limitação de acesso a insumos e a serviços de saúde.

Da sua experiência, quais são os principais desafios do diagnóstico da tuberculose em Angola?

Os principais desafios prendem-se com as infraestruturas destinadas aos laboratórios e recursos humanos para o diagnóstico laboratorial. Há muita mobilidade de técnicos, pelo que é necessário um plano de retenção.

Outros desafios prendem-se com o abastecimento de insumos laboratoriais e a implementação do controlo de qualidade. Além disso, não existe um sistema eficaz de referência de amostras.

Na sua opinião que desenvolvimentos são necessários, a nível do diagnóstico da tuberculose no país?

Começam, desde logo, pela expansão da rede de laboratórios. Passam, ainda, pelo abastecimento de insumos laboratoriais e equipamentos através do GDF (Global Drug Facility) da Stop TB Partnership, que facilita o acesso global a medicamentos e meios de diagnóstico com garantia da qualidade. Importa também implementar e massificar técnicas de resistência a medicamentos de primeira e segunda linhas (LPA e testes fenotípicos), rever e actualizar o plano estratégico do laboratório de tuberculose, validar algoritmos do diagnóstico seguido de formação e melhorar os planos de formação em cascata e de forma regular, assim como apostar na investigação, supervisionar regularmente os laboratórios da rede e assegurar o seu funcionamento e estabelecer contratos de manutenção de equipamentos.

Que acções têm sido desenvolvidas no país para o combate à tuberculose?

O envolvimento multissectorial e da sociedade civil e das congregações religiosas tem sido importante, a par da advocacia a nível dos decisores. As estratégias desenvolvidas na comunidade, nomeadamente através de palestras de sensibilização, o controlo da tuberculose no sector mineiro e o reforço do seu controlo no seio das populações nómadas e das que vivem em zonas de acesso difícil fazem também parte deste leque de acções.

Importa também salientar o reforço da colaboração com os parceiros, como o Fundo Global, USAID, ADPP, OMS e CUAMM, e com o sector privado de saúde.

29 SAÚDE

ANGOLA NO GRUPO DOS 30 PAÍSES COM MAIS CASOS DE TUBERCULOSE, A NÍVEL MUNDIAL

ENTREVISTA ANÁLISE

A TUBERCULOSE CONTINUA A SER UMA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS MAIS MORTAIS EM TODO O MUNDO. TODOS OS DIAS, CERCA DE 4.400 PESSOAS PERDEM A VIDA E CERCA DE 30 MIL ADOECEM COM ESTA DOENÇA CAUSADA PELA BACTÉRIA MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS, QUE MAIS FREQUENTEMENTE AFECTA OS PULMÕES. MAS A TUBERCULOSE É EVITÁVEL E CURÁVEL. CERCA DE 85% DAS PESSOAS QUE DESENVOLVEM A DOENÇA PODE SER TRATADO COM QUATRO A SEIS MESES DE MEDICAÇÃO. CONTUDO, AS BARREIRAS ECONÓMICAS PODEM AFECTAR O ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE, AO DIAGNÓSTICO E À CONCLUSÃO DO TRATAMENTO E CERCA DE METADE DOS PACIENTES ENFRENTA CUSTOS ELEVADOS DEVIDO À DOENÇA. O AVANÇO EM DIRECÇÃO À COBERTURA DE SAÚDE UNIVERSAL, A MELHORES NÍVEIS DE PROTECÇÃO SOCIAL E A ACÇÃO MULTISSECTORIAL SOBRE OS DETERMINANTES MAIS AMPLOS DA TUBERCULOSE SÃO ESSENCIAIS PARA REDUZIR A CARGA DA DOENÇA, QUE TEM EM ANGOLA UM DOS 30 PAÍSES COM MAIS CASOS REPORTADOS, A NÍVEL MUNDIAL.

Mianmar, Namíbia, Nigéria, Paquistão, Papua Nova Guiné, Filipinas, Serra Leoa, África do Sul, Tailândia, Uganda, República Unida da Tanzânia, Vietname e Zâmbia.

África

Amaioria das pessoas que desenvolve tuberculose são adultos. Em 2021, de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde, os homens representavam 56,5% dos casos, as mulheres 32,5% e as crianças 11%. Muitos casos novos de tuberculose são atribuíveis a cinco factores de risco: subnutrição, infecção pelo VIH, transtornos relacionados ao uso de álcool, tabagismo e diabetes. Embora exista tuberculose em todas as partes do mundo, 30 países têm maiores índices. São eles Angola, Bangladesh, Brasil, República CentroAfricana, China, Congo, República Popular Democrática da Coreia, República Democrática do Congo, Etiópia, Gabão, Índia, Indonésia, Quénia, Lesoto, Libéria, Mongólia, Moçambique,

A taxa anual de diminuição da tuberculose na África subsaariana é de 4%, o dobro da global, mas a região pode falhar a meta de acabar com as mortes pela doença se não intensificar esforços. O alerta da OMS aconteceu no Dia Mundial da Tuberculose, que se assinalou a 24 de Março, com a directora regional da OMS para África, Dra. Matshidiso Moeti, a enaltecer os progressos, mas a lembrar as metas. “Os países africanos têm feito progressos notáveis. A questão já não é se podemos acabar com a tuberculose, mas sim a rapidez com que devemos agir para reduzir o fardo da doença”, disse.

A TAXA ANUAL DE DIMINUIÇÃO DA TUBERCULOSE NA ÁFRICA

SUBSAARIANA É DE 4%, O DOBRO DA GLOBAL, MAS A REGIÃO PODE FALHAR

A META DE ACABAR COM AS MORTES

PELA DOENÇA SE NÃO INTENSIFICAR OS ESFORÇOS. O ALERTA DA OMS

ACONTECEU NO DIA MUNDIAL DA TUBERCULOSE, QUE SE ASSINALOU

A 24 DE MARÇO, COM A DIRECTORA REGIONAL DA OMS PARA ÁFRICA, DRA. MATSHIDISO MOETI, A ENALTECER OS PROGRESSOS, MAS A LEMBRAR AS METAS

31 SAÚDE

Para atingir o objectivo da OMS de reduzir os casos em 50% e as mortes em 75% até 2025, a partir dos dados de 2015, a taxa anual de declínio tem de atingir os 10%, sendo necessárias mais acções para alcançar um mundo sem tuberculose até 2035, adverte a Organização Mundial da Saúde. Contudo, o continente africano enfrenta obstáculos, como o acesso limitado aos serviços de saúde e infraestruturas sanitárias, qualidade dos cuidados, recursos médicos e financeiros e cobertura social inadequados.

A OMS também lamenta o subinvestimento em programas de combate à doença por parte dos Governos. Dos estimados 3,9 mil milhões de dólares necessários, entre 2018 e 2021, para responder à tuberculose na Região Africana da OMS, que inclui 47 países subsaarianos e a Argélia, apenas 977 milhões de foram angariados.

Tuberculose em Angola – fazer uma espécie de infografia

Existe ainda um fosso significativo entre os casos estimados e os detectados, com 40% das infecções não identificadas ou não diagnosticadas em 2021. No entanto, o continente africano também obteve recentemente alguns ganhos importantes, incluindo uma redução de 26% nas mortes por tuberculose, entre 2015 e 2021. Além disso, os países africanos estão a utilizar cada vez mais as indicações e ferramentas recomendadas pela OMS, o que permitiu, por exemplo, que a percentagem de pacientes com tuberculose submetidos a um teste de diagnóstico rápido aumentasse de 34% em 2020, para 43% em 2021. “A nossa região ainda sofre de uma taxa de tuberculose inaceitavelmente elevada. Sem esforços conjuntos fortes, esta doença tratável e evitável continuará a ser uma séria ameaça à saúde pública”, concluiu a Dra. Matshidiso Moeti.

População (2021) – 35 milhões

Mortes por tuberculose 2021 vs. 2015 – menos 15%

Incidência 2021 vs. 2015 – menos 11%

Tuberculose em Angola

Número de mortes por tuberculose 2021 - 20.800 (1 pessoa a cada 25 minutos)

32 SAÚDE
por
Incidência total 112.000 (74.000-158.000) 325 (213-459) Incidência em seroposiVvos 14.000 (9.100-20.000) 40 (26-57) Incidência de tuberculose resistente 5.600 (0-14.000) 16 (0-42) Mortalidade por tuberculose em não seroposiVvos 18.000 (11.000-26.000) 51 (31-76) Mortalidade por tuberculose em seroposiVvos 3.100 (1.900-4.500) 8,8 (5,4-13) Casos diagnos=cados e reportados 2021 – 61.691 Casos novos e recaídas 61.691 % com teste rápido no momento do diagnósVco % com estado serológico de VIH conhecido 73% % pulmonar 94% % confirmado bacteriologicamente 58% % crianças 0 a 14 anos 11% % mulheres (idade igual ou superior a 15 anos) 39% % homens (idade igual ou superior a 15 anos) 50% Fonte: OMS Fonte: OMS
2021 Número Taxa
100.000 habitantes

POPULAÇÃO (2021)

35 milhões

MORTES POR TUBERCULOSE 2021 vs. 2015

15% menos

INCIDÊNCIA (2021 vs. 2015)

11% menos

Angola

De acordo com as estimativas da OMS, a região africana contabiliza 23% dos casos da doença, a nível mundial, e mais de 33% das mortes. Angola tem uma incidência anual de tuberculose estimada em 202 casos por cada 100 mil habitantes e notificou cerca de 63 mil casos em 2022, segundo a organização não governamental (ONG) Anaso - Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida e Grandes Endemias.

Na sua mensagem sobre o Dia Mundial da Tuberculose, a ONG referiu que a faixa etária entre os 15 e os 39 anos é a mais afectada pela doença, que é considerada a terceira causa de morte no país, depois da malária e dos acidentes rodoviários. Segundo dados da OMS, em 2021, em Angola, foram estimadas 51 mortes por cada 100 mil habitantes.

De acordo com a Anaso, em Angola, a taxa de abandono dos tratamentos é elevada e a taxa de co-infecção VIH/ tuberculose está estimada em 12%.

O acesso aos serviços de saúde é especialmente difícil para pessoas de

NÚMERO DE MORTES

POR TUBERCULOSE 2021

20.800 (1pessoa a cada 25 minutos)

baixa renda em áreas rurais, que gastam uma parte considerável do seu rendimento com despesas relacionadas com a sua saúde.

Recentemente, o Ministério da Saúde, através da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP), desenvolveu uma série de acções para reforçar a atenção aos doentes com tuberculose, entre as quais uma marcha de sensibilização à causa, que visou encerrar as actividades no quadro do Dia Mundial da Tuberculose. Para a promoção da prevenção da saúde e do alcance do acesso ao diagnóstico e tratamento precoces da doença, os profissionais de saúde saíram às ruas para marcharem contra a tuberculose. A marcha contou com a participação do Secretário de Estado para Saúde Pública, Dr. Carlos Alberto Pinto de Sousa, que destacou a necessidade de se acelerar a luta contra a doença, colocando as pessoas no centro da actuação, com uma abordagem inovadora, transversal e multissectorial. Este ano, o lema escolhido pela OMS e assumido também por Angola é “Sim! Podemos acabar com a Tuberculose”.

33 SAÚDE
TUBERCULOSE EM ANGOLA
Fonte: OMS

“A PROBLEMÁTICA DA TUBERCULOSE MULTIRRESISTENTE EM ANGOLA TEM SIDO OBSERVADA COM ALGUMA PREOCUPAÇÃO”

O. DR. DAMIÃO ANTÓNIO DEBRUÇA-SE SOBRE A TEMÁTICA DA TUBERCULOSE EM ANGOLA, PATOLOGIA QUE É A TERCEIRA CAUSA DE ÓBITO NO PAÍS. QUAIS OS SEUS SINTOMAS, COMO OCORRE A SUA TRANSMISSÃO, COMO É FEITO O TRATAMENTO E QUAL O PAPEL DO MÉDICO SÃO ALGUMAS DAS QUESTÕES ABORDADAS.

ENTREVISTA

Oque é a tuberculose e como ocorre a sua transmissão?

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa, crónica, previsível e curável, com um período de latência prolongado, causada pelo Mycobacterium tuberculosis. Pode acometer qualquer órgão, principalmente os pulmões. Sabendo que a tuberculose pulmonar é a mais frequente, a doença transmite-se de uma pessoa doente, pela tosse, espirro ou fala, expelindo aerossóis contaminados.

Qual é a apresentação clínica desta patologia?

A apresentação clínica da tuberculose está dependente do órgão acometido. Sabendo que a tuberculose pulmonar é a forma mais frequente, o paciente pode apresentar tosse com expectoração, suores nocturnos, febre vespertina, perda de peso, hemoptise, podendo também apresentar anorexia, astenia e dispneia por mais de duas semanas de evolução. Quanto à tuberculose extrapulmonar, está dependente do órgão acometido.

Qual é o plano terapêutico recomendado para a tuberculose em Angola? E quais são os principais efeitos adversos da terapêutica?

O plano terapêutico recomendado para tuberculose em Angola está baseado no facto de tratar-se de tuberculose sensível (pulmonar ou extrapulmonar) ou multidroga resistente e se acomete crianças ou adultos. Nesta perspectiva, o plano recomendado é

35 SAÚDE
Dr. Damião das Dores Victoriano António Director Clínico no Centro Especializado de Tratamento de Endemias e Pandemias (CETEP), Médico Pneumologista. Foi Director Clínico do Hospital Sanatório de Luanda e no Complexo Hospitalar Cardiovascular Cardeal Dom Alexandre do Nascimento. Membro do Comité Técnico de Tuberculose em Angola

“O PAPEL DO MÉDICO CONSISTE NO FACTO DE SER UM DOS PRINCIPAIS INTERVENIENTES NO DIAGNÓSTICO

E SEGUIMENTO DO PACIENTE, EXPLICANDO O CONCEITO DA DOENÇA, A IMPORTÂNCIA DA TOMA REGULAR DOS MEDICAMENTOS, A FORMA DE TRANSMISSÃO, O TEMPO DE TRATAMENTO, OS PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO, AS CONSEQUÊNCIAS DA NÃO ADESÃO À TERAPÊUTICA, POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES E EFEITOS ADVERSOS”

• Esquema de tratamento de tuberculose pulmonar sensível em crianças menores de 5 anos e menores de 25 quilogramas: composto R75H50Z150 e E100 (fase intensiva), durante dois meses, e composto R75H50 (fase de manutenção), durante quatro meses, totalizando seis meses de tratamento, estando em dependência do peso do paciente.

• Esquema de tratamento de tuberculose pulmonar sensível em adultos e maiores de 5 anos com peso acima de 25 quilogramas: composto R150H75Z400E275 (fase intensiva), durante dois meses, e composto R150H75 (fase de manutenção), durante quatro meses, totalizando seis meses de tratamento, estando em dependência do peso do paciente.

• Esquema de tratamento de tuberculose extrapulmonar: tuberculose osteoarticular e meníngea com 12 meses de tratamento; tuberculose pericárdica e pleural com 10 meses de tratamento; tuberculose ganglionar, peritoneal, oftálmica, génito-urinária (feminino ou masculino), renal, miliar, laríngea, totalizando seis meses de tratamento.

a)Esquema de tratamento de tuberculose multidroga resistente em crianças menores de 6 anos e menores de 30 quilogramas: na fase intensiva (quatro a seis meses), Delamanid, Levofloxacina, Linezolide, Clofazimina, Cicloserina, Pirazinamida e, na fase de manutenção (cinco meses), Levofloxacina, Linezolida, Clofazimina, Cicloserina, Pirazinamida, totalizando 11 meses de tratamento.

b) Esquema de tratamento de tuberculose

multidroga resistente em adultos e crianças maiores de 6 anos e maiores de 30 quilogramas: na fase intensiva (quatro a seis meses), Bedaquilina, Levofloxacina, Linezolide, Clofazimina, Cicloserina, Pirazinamida e, na fase de manutenção (cinco meses), Levofloxacina, Linezolide, Clofazimina, Cicloserina, Pirazinamida, totalizando 11 meses de tratamento.

Os principais efeitos adversos da terapêutica são polineuropatia periférica, hepatotoxicidade, nefrotoxicidade, neurite óptica, náuseas e vómitos.

A principal dificuldade para a cura de um paciente com tuberculose é a falta de adesão à terapêutica. Qual é o papel do médico neste acompanhamento?

O papel do médico consiste no facto de ser um dos principais intervenientes no diagnóstico e seguimento do paciente, explicando o conceito da doença, a importância da toma regular dos medicamentos, a forma de transmissão, o tempo de tratamento, os principais factores de risco, as consequências da não adesão à terapêutica, possíveis complicações e efeitos adversos.

O acesso aos medicamentos antituberculostáticos é uma preocupação, a nível do país?

Pensamos que não, pois é responsabilidade do Estado angolano a aquisição de 60% dos medicamentos antituberculostáticos e os restantes 40% do Fundo Global. Não obstante, neste processo, pode haver alguns constrangimentos que estão a ser colmatados com compras agrupadas por parte do Ministério da Saúde.

Como se tem observado a multirresistência da tuberculose em Angola?

A problemática da tuberculose multirresistente em Angola tem sido observada com alguma preocupação, pois, com a pandemia de Covid-19, muitos pacientes, devido aos sucessivos confinamentos, não se fizeram presentes nas unidades de saúde, a fim de levantarem, de forma regular, os seus medicamentos, favorecendo a toma irregular dos mesmos, o abandono do tratamento e, consequentemente, o aumento exponencial dos casos de tuberculose multirresistente.

Como se deve iniciar o tratamento em pacientes com diagnóstico de co-infecção Tuberculose-VIH?

O início do tratamento em pacientes com diagnóstico de co-infecção Tuberculose-VIH depende de alguns factores. Se o paciente for diagnosticado com tuberculose e VIH ao mesmo tempo, deve iniciar o tratamento da tuberculose e, 15 dias depois, o tratamento para o VIH. Se o paciente for seropositivo para o VIH (já

36 SAÚDE

estiver em tratamento), e for diagnosticado com tuberculose, deve continuar com o tratamento para o VIH e iniciar o tratamento para a tuberculose.

Como deverá ser feito o acompanhamento domiciliar de doentes com tuberculose?

O acompanhamento domiciliar de doentes com tuberculose deve ser feito, em primeiro lugar, na unidade de saúde próxima da sua residência, com o propósito de se cumprir com o DOT comunitário e evitar os abandonos. Deve-se também orientar o paciente para o uso de máscaras, estar num quarto isolado dos demais membros da família e fazer o rastreio dos contactos.

Na sua experiência, quais são os principais desafios no combate à tuberculose em Angola?

Os principais desafios no combate à tuberculose em Angola são o estigma e preconceito, principalmente, dos profissionais de saúde. Deveria também haver mais envolvimento político, sabendo que se trata da terceira causa de óbito em Angola.

Importa ainda fazer um maior trabalho nas determinantes de saúde, como a pobreza, alimentação saudável, combate ao consumo de tabaco, álcool e drogas, controlo das doenças crónicas não transmissíveis, como a diabetes, cancro e insuficiência renal, e das doenças

crónicas transmissíveis, como o VIH. Também deverá ser dada maior atenção às doenças respiratórias ocupacionais e à tuberculose na população prisional, policial, militares e igrejas.

Deveriam ser criados laboratórios de baciloscopia e biologia molecular em todos os municípios do país e de cultura em cada província ou região e promovido o abastecimento regular de medicamentos, reagentes e insumos. Por último, mas não menos importante, é necessária uma melhor qualidade de ensino, investigação e supervisão, um maior investimento na atenção primária, melhorar a informação, comunicação e educação e um maior envolvimento da sociedade civil e outros departamentos ministeriais.

Que importância tem a inauguração do novo Hospitalar Cardiovascular Cardeal Dom Alexandre do Nascimento no combate à tuberculose em Angola?

A inauguração do novo Hospitalar Cardiovascular Cardeal Dom Alexandre do Nascimento vem dar resposta à resolução de várias complicações com critérios cirúrgicos da tuberculose que tem surgido, tais como hemoptises, a repetição por aspergiloma, bronquiectasias, empiema, pneumotórax e bulas infectadas.

37 SAÚDE
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TUBERCULOSE OCULAR

O TEMA QUE SELECCIONÁMOS PARA FALAR NESTA EDIÇÃO É RELATIVAMENTE RARO. CONTUDO, TENDO EM CONTA A CADA VEZ MAIOR INCIDÊNCIA DA TUBERCULOSE EM ANGOLA, É NECESSÁRIA UMA ABORDAGEM SOBRE OS ASPECTOS OCULARES DA DOENÇA.

Principais características da tuberculose ocular Após penetrar no organismo por via respiratória, o bacilo Mycobacterium tuberculosis pode disseminarse e instalar-se em qualquer órgão. Essa infecção é conhecida como tuberculose extrapulmonar. Segundo estudos, a maioria das formas extrapulmonares ocorre em órgãos sem condições favoráveis ao crescimento do bacilo de Koch. Dessa forma, a sua instalação acontece de maneira insidiosa e lenta.

Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika

Atuberculose ocular é uma doença infecciosa causada pela bactéria

Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch). O principal órgão atingido é o pulmão, mas o bacilo pode disseminar-se e atingir outros órgãos, entre os quais o olho. Essa infecção é também conhecida como uveíte por tuberculose, pois provoca inflamação nas estruturas da úvea do olho. De acordo, por exemplo, com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), a incidência de tuberculose ocular ocorre em cerca de 1% a 2% dos casos que afectam outros órgãos, além dos pulmões. Neste artigo, vamos apresentar uma visão geral sobre a tuberculose ocular, comentando sobre as suas principais características, a prevalência, os sintomas, as formas de transmissão, o diagnóstico, os tratamentos e a prevenção.

A tuberculose ocular (TBO) é classificada como uma infecção primária, quando atinge directamente o olho, sem, antes, haver infectado outros órgãos. Isso pode ocorrer por contacto com as mãos e objectos contaminados ou por exposição a aerossóis infectados com os bacilos, sendo todos esses casos considerados raros, e inclui lesões palpebrais, corneanas, conjuntivais e esclerais.

Quando a infecção ocular ocorre após a contaminação do pulmão, com a disseminação da bactéria por via linfo-hematogénica, é considerada uma infecção secundária. Nesse caso, estão envolvidos o tracto uveal, o nervo óptico e a retina.

A inflamação do tracto uveal é a manifestação ocular mais comum da doença, devido ao seu alto nível de suprimento sanguíneo.

Prevalência

A infecção ocular é mais frequente em pacientes com VIH, pessoas que já foram infectadas com tuberculose noutra região do corpo ou naquelas que vivem em locais sem saneamento básico. A propósito, uma pesquisa aponta que alguns estudos sobre SIDA e tuberculose demonstraram um grande aumento das formas extrapulmonares da doença, chegando a atingir cerca de 62% dos casos em formas isoladas ou associadas à ocorrência pulmonar, em adultos. Entretanto, esse percentual oscilava em torno de 10% antes da eclosão dos casos de SIDA, significando uma estreita relação

38 SAÚDE
Dr. Djalme Fonseca
ENTREVISTA RUBRICA OCULAR

entre as doenças e a prevalência da tuberculose ocular em pacientes com o vírus VIH.

Sintomas da tuberculose ocular

A doença pode comprometer todas as partes dos olhos e seus anexos, como conjuntiva, íris e coroide. As manifestações clínicas mais comuns são a uveíte e a endoftalmite (inflamação do globo ocular).

Os principais sintomas da tuberculose ocular são hipersensibilidade à luz (fotofobia) e visão embaçada. Entretanto, também podem ocorrer outros sinais, como:

• diminuição da acuidade visual;

• dor de cabeça;

• lacrimejar;

• olhos doridos e vermelhos;

• pupilas de tamanhos diferentes;

• sensação de ardor nos olhos.

Entre as complicações relacionadas à tuberculose ocular, pode ocorrer descolamento da retina, edema macular, aumento da pressão intraocular (glaucoma), catarata e hemorragia vítrea. Embora seja rara, pode ocorrer a esclerite nodular unilateral.

Forma de transmissão da doença

Normalmente, o bacilo M. tuberculosis é transmitido de pessoa a pessoa pelas vias aéreas, por meio de gotículas de saliva libertadas ao espirrar, tossir ou falar. Por esse motivo, a contaminação ocorre, primeiramente, na maioria dos casos, no tecido pulmonar.

Os primeiros sintomas podem demorar dias, e até semanas, para se manifestarem. Por esse motivo, mediante o diagnóstico de tuberculose ocular, cutânea ou pulmonar, é de extrema importância que as pessoas mais próximas, como amigos

e familiares do paciente, sejam testadas para afastar qualquer suspeita.

É importante observar que a forma transmissível da tuberculose é apenas a pulmonar, que apresenta tosse com catarro (onde o bacilo se aloja). As demais formas, que não apresentam essas características, não são transmissíveis.

Diagnóstico da doença

Pelo facto de apresentar vários sintomas que podem ser confundidos com outras doenças, o diagnóstico nem sempre é fácil. Também pode ser dificultado por várias razões, como a quantidade baixa de bacilos, que, normalmente, acompanha o quadro.

O diagnóstico é feito por meio do histórico clínico do paciente e de alguns exames especializados que podem detectar a doença. Para a maioria dos casos, alguns são desnecessários, como a biópsia coriorretiniana e a punção do humor.

O oftalmologista também pode solicitar uma análise laboratorial do líquido ocular para confirmar a presença da bactéria Mycobacterium tuberculosis

Tratamento

Embora a tuberculose ocular tenha cura, o seu tratamento é demorado, variando entre seis meses e dois anos, com a utilização de antibióticos.

O uso de novos medicamentos para o tratamento da tuberculose está a aumentar, como injecções intravítreas de esteroides, entre outros. Em alguns casos, podem, ainda, ser receitadas gotas de medicamento corticoide para aliviar os sintomas de ardor e a coceira durante o tratamento.

Um dos aspectos mais importantes do tratamento é que, por ser demorado, o paciente precisa seguir correctamente todas as orientações do médico, para que as bactérias possam, de facto, ser eliminadas. Caso contrário, podem ganhar resistência e continuar a desenvolver-se.

Prevenção

A melhor forma de evitar o contágio com a tuberculose pulmonar (que pode transformar-se em ocular) são a vacinação na infância com a BCG e evitar o contacto com pessoas infectadas. Para tal, é fundamental evitar a partilha de talheres, escovas de dentes ou outros objectos que possam entrar em contacto com a saliva desses pacientes. Também é importante evitar ficar em locais onde haja pessoas com suspeita da infecção, com excepção de casos que já estejam a ser tratados há mais de 15 dias.

Como vimos, a tuberculose ocular é uma doença infecciosa causada pelo bacilo de Koch. Quando não tratada logo no início dos sintomas, pode agravar-se e resultar num sério comprometimento da visão. Portanto, aos primeiros sinais, o oftalmologista deve ser consultado para diagnóstico e tratamento.

39 SAÚDE

1 EM CADA 100 CRIANÇAS TEM AUTISMO

Os transtornos do espectro do autismo (TEA) são um grupo de diversas condições e caracterizam-se por algum grau de dificuldade na interacção social e na comunicação. Outras características são padrões atípicos de actividade e comportamento, como, por exemplo, a dificuldade em passar de uma actividade para outra, grande atenção aos detalhes e reacções incomuns às sensações.

O DIA MUNDIAL DA CONSCIENCIALIZAÇÃO DO AUTISMO É ASSINALADO, TODOS OS ANOS, A 2 DE ABRIL. TAMBÉM CHAMADO DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA, TRATA-SE DE UM GRUPO DE DIVERSAS CONDIÇÕES RELACIONADAS AO DESENVOLVIMENTO CEREBRAL. AS CARACTERÍSTICAS PODEM SER DETECTADAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA, MAS, MUITAS VEZES, O AUTISMO SÓ É DIAGNOSTICADO

MUITO MAIS TARDE. DE ACORDO COM A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), CERCA DE UMA EM

CADA 100 CRIANÇAS TEM AUTISMO.

JÁ SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO

DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ACREDITA-SE QUE EXISTAM MAIS DE 70 MILHÕES DE PESSOAS COM AUTISMO.

As capacidades e necessidades das pessoas com autismo variam e podem evoluir ao longo do tempo. Embora algumas possam viver de forma independente, existem outras que necessitam de cuidados e apoio constantes ao longo da vida. O autismo influencia frequentemente a educação e as oportunidades de emprego. Além disso, coloca exigências consideráveis às famílias que prestam cuidados e apoio.

As pessoas com autismo geralmente têm comorbilidades, como epilepsia, depressão, ansiedade e transtorno de défice de atenção e hiperactividade, e comportamentos problemáticos, como dificuldade para dormir e automutilação. O nível intelectual varia muito de caso para caso, desde a deterioração profunda até casos com altas habilidades cognitivas.

Epidemiologia e causas

A OMS estima que, em todo o mundo, uma em cada 100 crianças tenha autismo. Esta estimativa representa um valor médio, uma vez que a prevalência observada varia consideravelmente. No entanto, alerta, alguns estudos bem controlados registaram números significativamente mais elevados.

A prevalência do autismo em muitos países de baixa e média renda é, até agora, desconhecida.

40 SAÚDE
ANÁLISE

O autismo foi descrito, pela primeira vez, em 1943, pelo médico austríaco Leo Kanner, no artigo “Autistic disturbance of affective contact”, publicado na revista “Nervous Child”. No mesmo ano, Hans Asperger descreveu, na sua tese de doutoramento, a psicopatia autista da infância. Nas décadas de 50/70, o psicólogo Bruno Bettelheim afirmou que a causa seria a indiferença da mãe. Já durante os anos 70, esta teoria foi rejeitada, com a busca de causas que provocassem a doença.

A dificuldade em saber quais os factores que influenciam o aparecimento do autismo deve-se ao facto de nem todas as alterações estarem presentes em todos os autistas. As evidências científicas hoje disponíveis indicam a existência de múltiplos factores, incluindo genéticos e ambientais, que tornam mais provável que uma criança possa ter autismo.

“Os dados epidemiológicos disponíveis demonstram conclusivamente que não existe evidência de uma relação causal entre o autismo e a vacina contra o sarampo, a papeira e a rubéola. Estudos anteriores que apontavam para uma relação causal estavam repletos de erros metodológicos”, sublinha a OMS.

Também não há evidências de que outras vacinas infantis possam aumentar o risco de autismo.

SEGUNDO A ONU, ACREDITASE QUE EXISTAM MAIS DE 70 MILHÕES DE PESSOAS COM AUTISMO, CONDIÇÃO

PERMANENTE, OU SEJA, NÃO TEM CURA, E CUJA INCIDÊNCIA É MAIOR NOS RAPAZES, TENDO UMA

RELAÇÃO DE QUATRO

RAPAZES PARA CADA RAPARIGA

41 SAÚDE

Segundo a ONU, acredita-se que existam mais de 70 milhões de pessoas com autismo, condição permanente, ou seja, não tem cura, e cuja incidência é maior nos rapazes, tendo uma relação de quatro rapazes para cada rapariga.

Geralmente, o diagnóstico é realizado entre os dois e três anos de idade e pressupõe que a criança deva apresentar alterações nas três áreas que esta síndrome afecta: interacção social, alteração comportamental e alterações na comunicação. Uma vez diagnosticado o autismo, é importante que a criança ou adolescente e a sua família recebam informações relevantes e sejam encaminhados para especialistas.

A OMS ESTIMA QUE, EM TODO O MUNDO, UMA EM CADA 100 CRIANÇAS TENHA AUTISMO. ESTA ESTIMATIVA REPRESENTA UM VALOR MÉDIO, UMA VEZ QUE A PREVALÊNCIA OBSERVADA VARIA CONSIDERAVELMENTE. NO ENTANTO, ALERTA, ALGUNS ESTUDOS BEM CONTROLADOS REGISTARAM NÚMEROS SIGNIFICATIVAMENTE MAIS ELEVADOS. A PREVALÊNCIA DO AUTISMO EM MUITOS PAÍSES DE BAIXA E MÉDIA RENDA É ATÉ AGORA DESCONHECIDA

As necessidades de cuidados de saúde das pessoas com autismo são complexas e requerem serviços integrados, abrangendo a promoção, cuidados e reabilitação da sua saúde.

Direitos humanos

Todas as pessoas, incluindo as com autismo, têm direito ao gozo do mais elevado nível possível de saúde física e mental. No entanto, as pessoas com autismo estão frequentemente sujeitas a estigma e discriminação, incluindo a privação injusta de cuidados de saúde, educação e oportunidades de participar nas suas comunidades. “As pessoas com autismo têm os mesmos problemas de saúde que o resto da população, mas também podem ter outras necessidades de cuidados especiais relacionadas com o autismo ou outras comorbilidades. Podem ser mais vulneráveis a

doenças crónicas não transmissíveis, devido a factores de risco como a inactividade física ou más preferências alimentares, e correm um maior risco de violência, lesões e abuso”, alerta a OMS. Como todos os outros indivíduos, as pessoas com autismo necessitam de serviços de saúde acessíveis às suas necessidades gerais de cuidados de saúde, particularmente serviços para a promoção, prevenção e tratamento de doenças agudas e crónicas. “No entanto, em comparação com o resto da população, têm necessidades de cuidados de saúde mais negligenciadas e são também mais vulneráveis em caso de emergência humanitária. Um obstáculo frequente reside no conhecimento insuficiente e nos equívocos que os profissionais de saúde têm sobre o autismo”

Consciencialização

O Dia Mundial da Consciencialização do Autismo foi estabelecido pela ONU, em 2007, e é mundialmente celebrado a 2 de Abril. A data é assinalada pela iniciativa “Light it up Blue” (ilumine a azul ou acenda uma luz azul) do projecto Autism Speaks, cujo objectivo consiste em que, em todo o mundo, sejam iluminados a azul o maior número possível de museus, monumentos e edifícios públicos ou com valor relevante.

Em Maio de 2014, a 67.ª Assembleia Mundial da Saúde adoptou a resolução intitulada “Acções abrangentes e coordenadas para gerir as perturbações do espectro do autismo”, que contou com o apoio de mais de 60 países. A resolução insta a OMS a trabalhar com os Estados-Membros e as agências parceiras para reforçar as capacidades nacionais para enfrentar o TEA e outros desafios de desenvolvimento.

O Plano de Acção Global da OMS para a Saúde Mental 2013-2030 e a Resolução WHA73.10 da Assembleia Mundial da Saúde apelam aos países para que colmatem as actuais lacunas na detecção precoce, nos cuidados, no tratamento e na reabilitação das perturbações mentais e das perturbações do neurodesenvolvimento. Estas incluem o autismo.

A resolução insta igualmente os países a darem resposta às necessidades sociais, económicas, educativas e de inclusão das pessoas com perturbações mentais e outras perturbações neurológicas, bem como das suas famílias, e a melhorarem a monitorização e a investigação pertinentes.

42 SAÚDE

AUTISMO: DAS CAUSAS AOS SINAIS E TRATAMENTO

O AUTISMO, CUJO NOME TÉCNICO OFICIAL É TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA), É UM TRANSTORNO DE DESENVOLVIMENTO CARACTERIZADO PELA DIFICULDADE DE COMUNICAÇÃO E INTERACÇÃO SOCIAL E POR COMPORTAMENTOS REPETITIVOS E/OU RESTRITOS. OS SINTOMAS APARECEM LOGO NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA. O TEA NÃO TEM CURA, NO ENTANTO, A REALIZAÇÃO DE TERAPIAS AUXILIA NO DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO.

Oautismo é um problema psiquiátrico que costuma ser identificado entre 1 ano e meio e 3 anos, embora os sinais iniciais, às vezes, apareçam já nos primeiros meses de vida. Que fique claro: os autistas apresentam um desenvolvimento físico normal. Contudo, têm grande dificuldade para firmar relações sociais ou afectivas e dão mostras de viver num mundo isolado. Anteriormente, o problema era dividido em cinco categorias, entre as quais, a síndrome de Asperger. Hoje, há uma única classificação, com diferentes graus de funcionalidade e sob o nome técnico de transtorno do espectro do autismo. O modo de lidar com cada uma varia.

Impactos no dia-a-dia

Na forma qualificada como de baixa funcionalidade, a criança praticamente não interage, vive repetindo movimentos e apresenta atraso mental. O quadro provavelmente vai exigir tratamento para toda a vida. Na média funcionalidade, o paciente tem dificuldade em comunicar e repete comportamentos. Já na alta funcionalidade, consegue estudar, trabalhar e constituir família.

Há ainda uma categoria denominada savant. É marcada por défices psicológicos, só que com uma memória fora do comum, além de talentos específicos.

44 SAÚDE
ENTREVISTA PERSPECTIVA

Causas

O autismo não possui causas totalmente conhecidas, porém, há evidências de que haja predisposição genética para o mesmo.

Outros reportam o suposto papel de infecções durante a gravidez e mesmo factores ambientais, como a poluição, no desenvolvimento do distúrbio.

Sinais

Alguns comportamentos acendem o sinal amarelo e devem ser discutidos com o pediatra que acompanha a criança.

O diagnóstico precoce, aliás, é fundamental para iniciar as terapias que ajudam a lidar com as repercussões mais frequentes do quadro.

Algumas pistas importantes:

• Bebés que evitam o contacto visual com a mãe, inclusive durante a amamentação;

Factores de risco

Não existe uma causa específica para o autismo. É considerado um transtorno multifactorial. Fala-se em 50% de causas genéticas e 50% de causas ambientais.

Alguns factores de risco:

• Predisposição genética;

• Sexo masculino: o autismo é de duas a quatro vezes mais frequente em meninos do que em meninas;

• Poluição;

• Infecções, como a rubéola, durante a gravidez.

Prevenção

Na falta de causas comprovadamente capazes de provocar o autismo, a recomendação para as grávidas é a de evitarem ambientes com alto nível de poluição, exposição a produtos tóxicos e ingestão de bebidas alcoólicas, por exemplo.

Outra medida bem-vinda é vacinaremse contra rubéola, para evitar esta doença infecciosa, durante a gestação.

Diagnóstico do autismo

• Choro ininterrupto;

• Apatia;

• Inquietação exacerbada;

• Pouca vontade para falar;

• Surdez aparente: a criança não atende aos chamados;

• Transtorno de linguagem, com repetição de palavras que ouve;

• Movimentos pendulares e repetitivos de tronco, mãos e cabeça;

• Ansiedade;

• Agressividade;

• Resistência a mudanças na rotina: recusa provar alimentos ou aceitar um novo brinquedo, por exemplo.

Não existem exames laboratoriais ou de imagem que ajudem a identificar o autismo. Em geral, o médico considera o histórico do paciente, a observação do seu comportamento e os relatos dos pais. A partir daí, costuma seguir critérios estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ou pela Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde. São observados ainda traços, como inabilidade para interagir socialmente e comportamento restritivo e repetitivo. Se, por um lado, há autistas gravemente incapacitados, que não conseguem nem falar, por outro, encontra-se também este problema em pessoas com alto desempenho em alguma habilidade, como pintar ou fazer contas matemáticas. Pacientes de alta funcionalidade, com ausência dos sinais clássicos da doença, muitas vezes acabam por receber o diagnóstico correcto apenas quando adultos.

Como é o tratamento do autismo?

O tratamento do autismo é realizado em diferentes frentes e com o trabalho em conjunto de diferentes equipas médicas. Geralmente, o tratamento é composto por acompanhamento com psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e, até mesmo, fisioterapeutas. Alguns sintomas do autismo, como a irritabilidade, a insónia e também a desatenção, podem ser tratados com o uso de medicamentos específicos.

45 SAÚDE

TRIPLA AMEAÇA RELACIONADA COM O ACESSO À ÁGUA COLOCA EM PERIGO A VIDA DE 190 MILHÕES DE CRIANÇAS

COINCIDINDO COM A CONFERÊNCIA

DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE A

ÁGUA, A PRIMEIRA EM QUASE

50 ANOS, QUE SE REALIZOU NO PASSADO MÊS DE MARÇO, A

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) E O FUNDO DAS NAÇÕES

UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF)

APELARAM A INVESTIMENTOS

URGENTES EM SERVIÇOS DE ÁGUA, SANEAMENTO E HIGIENE, DENOMINADOS DE SERVIÇOS ASH, RESILIENTES ÀS ALTERAÇÕES

CLIMÁTICAS, PARA PROTEGER AS CRIANÇAS. ESTIMA-SE QUE CERCA DE 190 MILHÕES DE CRIANÇAS EM 10 PAÍSES AFRICANOS

ESTEJAM EM MAIOR RISCO DE UMA CONVERGÊNCIA DE TRÊS

AMEAÇAS: ÁGUA, SANEAMENTO E HIGIENE INADEQUADOS, DOENÇAS RELACIONADAS E PERIGOS

CLIMÁTICOS, DE ACORDO COM UMA NOVA ANÁLISE.

46 SAÚDE
ANÁLISE

Os números são alarmantes: em todo o mundo, dois mil milhões de pessoas carecem de água potável segura e 3.600 milhões, quase metade da população mundial, utilizam serviços de saneamento que não tratam resíduos humanos. Milhões de crianças e famílias carecem de serviços ASH adequados, incluindo sabão para lavar as mãos, o que, muitas vezes, pode levar a consequências fatais. Todos os anos, pelo menos 1,4 milhões de pessoas, muitas delas crianças, morrem de causas evitáveis relacionadas com água não potável e saneamento deficiente. Actualmente, por exemplo, a cólera está a propagar-se em países onde não havia um surto há décadas. As consequências sociais e económicas de serviços inadequados de água e saneamento são devastadoras. Sem estes serviços críticos, as pessoas adoecem, as crianças, especialmente as raparigas, são prejudicadas na sua aprendizagem e comunidades inteiras podem ser deslocadas pela escassez de água. Em todo o mundo, 600 milhões de crianças ainda carecem de água potável gerida de forma segura, 1,1 mil milhões carecem de serviços de saneamento geridos com segurança e 689 milhões carecem de serviços básicos de higiene. Estes são dados de uma nova análise da UNICEF, que alerta para uma tripla ameaça relacionada com a água e que está a colocar em perigo a vida de muitas crianças, em todo o mundo. O mesmo relatório estima em 149 milhões as crianças que continuam a sofrer com a indignidade da defecação a céu aberto. Os maus serviços de água, saneamento e higiene (ASH) continuam a ser responsáveis pela morte anual de cerca de 400 mil meninas e meninos com menos de 5 anos, o equivalente a mil crianças por dia.

A escassez de água e os fenómenos meteorológicos extremos, como inundações e ciclones, todos eles exacerbados pela crise climática, estão a agravar os desafios de ampliar os serviços ASH e chegar às crianças que deles precisam.

OS NÚMEROS SÃO

ALARMANTES: EM TODO O MUNDO, DOIS MIL MILHÕES DE PESSOAS CARECEM DE ÁGUA

POTÁVEL SEGURA E 3.600

MILHÕES, QUASE METADE DA POPULAÇÃO MUNDIAL, UTILIZAM SERVIÇOS DE SANEAMENTO QUE NÃO

TRATAM RESÍDUOS HUMANOS.

MILHÕES DE CRIANÇAS

E FAMÍLIAS CARECEM DE SERVIÇOS ASH ADEQUADOS, INCLUINDO SABÃO PARA

LAVAR AS MÃOS, O QUE, MUITAS VEZES, PODE LEVAR A CONSEQUÊNCIAS FATAIS

47 SAÚDE

Tripla carga

A tripla carga de água, saneamento e ameaças à higiene enfrentadas pelas crianças é causada pela combinação de um acesso limitado aos serviços ASH, do fardo das doenças relacionadas entre crianças com menos de 5 anos e da crescente fragilidade decorrente das ameaças climáticas. Apenas 10 países – que, no total, têm uma população de mais de 190 milhões de crianças, todos localizados na África subsaariana – enfrentam este triplo fardo. Cerca de duas em cada cinco mortes devido a serviços de lavagem deficientes estão concentradas nesses países. Em 2022, os 10 países em questão foram classificados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) como

Cólera: transmitida pela água exacerbada pelas alterações climáticas

A cólera, uma doença bacteriana mortal, mas evitável, é geralmente transmitida através de água contaminada e pode causar a morte em poucas horas, se não for tratada.

As crianças pequenas, especialmente as menores de 5 anos, são as mais afectadas pela doença. Além disso, as crianças desnutridas têm maior probabilidade de sofrer sintomas graves e até morrer devido a desidratação severa. Sem água potável segura e sistemas de saneamento e higiene, prevenir e controlar a transmissão da cólera e de outras doenças transmitidas pela água é praticamente impossível.

As alterações climáticas estão a agravar esta doença, devido às consequências catastróficas da seca, escassez de água, ciclones, inundações e tempestades. Desde 2021, surtos de cólera ocorreram em muitos países onde a doença não aparecia há anos. Em 2022, assistiu-se a um número sem precedentes de surtos graves de cólera causados por secas, inundações e conflitos em quase 30 países, do Haiti ao Líbano, Malawi e República Árabe Síria. Quase todos os casos de cólera registados entre 2010 e 2021 (97%) ocorreram em 31 dos 34 países com os níveis mais baixos de serviços de água e saneamento. Apenas três países com níveis inferiores a 70% do acesso aos serviços básicos de abastecimento de água e a 55% do saneamento básico não comunicaram casos de cólera.

A detecção precoce e a resposta rápida para conter os surtos são vitais. O controlo da doença exige garantir o acesso a água potável e saneamento e a disponibilidade de vacinas e tratamento contra a cólera, bem como estabelecer sistemas de vigilância para monitorizar e controlar a sua propagação e promover a participação da comunidade para promover práticas seguras de higiene e saneamento.

frágeis ou extremamente frágeis. As tensões decorrentes dos conflitos e das alterações climáticas tornarão ainda mais difícil para estas nações acelerarem o progresso no sentido da consecução das metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e comprometerão os ganhos obtidos até à data. Por exemplo, quase todos os casos de cólera

registados entre 2010 e 2021 vieram de 31 dos 34 países com os níveis mais baixos de serviços de água e saneamento. Apenas três países com níveis inferiores a 70% para a cobertura básica de água e 55% para a cobertura de saneamento básico não relataram casos de cólera.

A UNICEF estima ser necessário um investimento três vezes maior ao actual nos países em desenvolvimento – pelo menos 114 mil milhões de dólares por ano –para alcançar as metas dos ODS relacionados, até 2030.

4 mil mortes por dia

Os direitos humanos à água potável segura e ao saneamento estão consagrados na Convenção sobre os Direitos da Criança e nas Convenções de Genebra de 1949. A Assembleia Geral das Nações Unidas e o Conselho de Direitos Humanos reconheceram esses direitos em 2010, como parte do direito internacional vinculativo.

Contudo, a falta de água potável e as más condições sanitárias e de higiene continuam a causar doenças e mortes totalmente evitáveis entre as crianças de tenra idade. Todos os dias, cerca de quatro mil pessoas morrem de doenças causadas pela precariedade dos serviços ASH e mais de mil destas pessoas são crianças menores de 5 anos.

Mais de uma década depois daquele reconhecimento pelas Nações Unidas, 600 milhões de crianças com menos de 18 anos vivem sem água potável e 1,1 mil milhões sem saneamento geridos de forma segura. Para a UNICEF, “trata-se de um fracasso colectivo global no cumprimento dos direitos mais básicos das crianças” O Fundo das Nações Unidas para a Infância considera, ainda, que o progresso em direcção às metas globais dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados aos serviços ASH é perigosamente lento e que os progressos realizados nos últimos anos são frágeis. As tensões decorrentes das alterações climáticas, dos conflitos, do crescimento demográfico e de outros factores ameaçam os ganhos obtidos. A tripla ameaça foi considerada mais aguda no Benim, Burkina Faso, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Guiné, Mali, Níger, Nigéria e Somália, tornando a África Ocidental e Central uma das regiões mais inseguras do mundo em termos de água e impacto climático, de acordo com a análise.

Naqueles 10 países, quase um terço das crianças não tem acesso a, pelo menos, abastecimento básico de água em casa e dois terços não têm serviços de saneamento básico. Um quarto das crianças não tem escolha a não ser praticar a defecação a céu aberto. A higiene das mãos também é limitada, com três quartos das crianças incapazes de lavar as mãos, devido à falta de água e sabão em casa. Como resultado, estes países também carregam o fardo mais pesado

48 SAÚDE

cavem poços duas vezes mais profundos do que há uma década. Ao mesmo tempo, as chuvas tornaram-se mais irregulares e intensas, levando a inundações que contaminam o escasso abastecimento de água.

de mortes de crianças por doenças causadas pela lavagem inadequada, como as doenças diarreicas.

países com níveis inferiores a 70% do acesso aos serviços básicos de abastecimento de água e a 55% do saneamento básico não comunicaram casos de cólera.

Aqueles países também estão entre os 25% dos 163 países do mundo com maior risco de exposição às ameaças climáticas e ambientais. Temperaturas mais altas – que aceleram a replicação de patógenos – estão a aumentar

A detecção precoce e a resposta rápida para conter os surtos são vitais. O controlo da doença exige garan@r o acesso a água potável e saneamento e a disponibilidade de vacinas e tratamento contra a cólera, bem como estabelecer sistemas de vigilância para monitorizar e controlar a sua propagação e promover a par@cipação da comunidade para promover prá@cas seguras de higiene e saneamento.

1,5 vezes mais rápido do que a média global em partes da África Ocidental e Central. Os níveis das águas subterrâneas também estão a diminuir, exigindo que algumas comunidades

Mortes de menores de 5 anos devido a serviços inadequados ASH, 2019

Muitos dos países mais afectados, particularmente no Sahel, enfrentam também instabilidade e conflitos armados, agravando ainda mais o acesso das crianças a água potável e saneamento. Por exemplo, o Burkina Faso assistiu a um aumento dos ataques a instalações de abastecimento de água, como uma táctica para deslocar comunidades. 58 pontos de água foram atacados em 2022, contra 21 em 2021 e três em 2020. Como resultado, mais de 830 mil pessoas – mais de metade das quais são crianças – perderam o acesso a água potável, no último ano. “África enfrenta uma catástrofe hídrica. Embora os choques relacionados ao clima e à água estejam a aumentar globalmente, em nenhum outro lugar do mundo os riscos se agravam tão severamente para as crianças”, diz o director de programas da UNICEF, Dr. Sanjay Wijesekera. “Tempestades devastadoras, inundações e secas históricas já estão a destruir instalações e casas, contaminando recursos hídricos, criando crises de fome e espalhando doenças. Mas, por mais desafiadoras que sejam as condições actuais, sem uma acção urgente, o futuro pode ser muito mais sombrio”

Mortes de menores de 5 anos devido a serviços inadequados ASH, 2019

49 SAÚDE
Regiões dos ODS Infecção respiratória aguda Doença diarreica Má nutrição proteicoenergéRca Lombrigas intesRnais transmiRdas pelo solo Total geral Norte de África e Ásia Ocidental 4.857 9.898 229 26 15.011 África Subsariana 72.549 175.082 6.233 1.111 254.976 América La@na e Caraíbas 2.210 3.435 379 16 6.041 Ásia Central e do Sul 24.675 72.748 891 96 98.410 Ásia Oriental e Sudeste Asiá@co 7.500 11.547 113 26 19.186 Austrália e Nova Zelândia 5 1 - - 6 Europa e América do Norte 332 192 2 - 526 Oceânia 219 419 4 3 645 Total 112.347 273.323 7.853 1.279 394.802
Relatório UNICEF com base em es@ma@vas da OMS
Fonte:

5 MITOS E VERDADES SOBRE O CONSUMO DE ÁGUA

O consumo de água traz vários benefícios para o organismo, nomeadamente:

• O funcionamento correcto do cérebro. Quando estamos hidratados adequadamente, as células do cérebro recebem sangue oxigenado e o cérebro permanece alerta.

• Essencial para o bom funcionamento dos rins, ajudando-os a eliminar, através da urina, os resíduos e nutrientes desnecessários.

• Melhora o tracto digestivo, já que é necessária na dissolução dos nutrientes para que estes possam ser absorvidos pelo sangue e transportados para as células.

• Ajuda a manter a elasticidade e a tonicidade da pele

Farmacêutica. Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Coordenadora de Marketing de Serviços da Tecnosaúde

A ÁGUA É UMA GRANDE PARTE DA CONSTITUIÇÃO DO CORPO HUMANO, SENDO FUNDAMENTAL PARA O NORMAL FUNCIONAMENTO DO ORGANISMO, PARTICIPANDO NA REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL, NA PRODUÇÃO DE SECREÇÕES DIGESTIVAS, NA REPARAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE TECIDOS, NA DISTRIBUIÇÃO DE NUTRIENTES POR TODAS AS CÉLULAS E NA ELIMINAÇÃO DE TOXINAS E IMPUREZAS.

• Actua como um lubrificante para os músculos e articulações. Ajuda a proteger as articulações e também o melhor funcionamento dos músculos.

6 Mitos e Verdades sobre o consumo de água, consegue acertar?

1) Todos nós devemos consumir a mesma quantidade de água por dia

2) Consumir água em jejum emagrece

3) A água não possui calorias

4) As bebidas isotónicas substituem o consumo de água

5) A fervura da água é o método preferencial para tratamento da água para consumo humano

1) Todos nós devemos consumir a mesma quantidade de água por dia – MITO

A quantidade de água que devemos consumir por dia depende de vários factores, nomeadamente, o género, a idade, o peso, a temperatura e humidade do ambiente, a prática de exercício físico e o tipo de alimentação praticada.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que adultos sedentários ingiram 2,2 litros (mulheres) e 2,9 litros (homens). Já os adultos fisicamente activos devem beber até 4,5 litros por dia.

Mas a quantidade de água que devemos ingerir não depende só das características do indivíduo em si, mas também das perdas de líquido diárias pelo organismo (urina, fezes, transpiração e respiração)

50 SAÚDE
Dra. Margarida Carvalho
ENTREVISTA RUBRICA NUTRIÇÃO

e outros consumos de água ao longo do dia, nomeadamente, através de alimentos ricos em água.

A famosa recomendação de dois a três litros por dia (ou 30 a 40 mililitros por quilo de peso) pode ser suficiente para alguns casos, mas, com certeza, será insuficiente em muitas situações.

2) Consumir água em jejum emagrece – MITO Consumir água em jejum não permite o emagrecimento. Para emagrecer, é necessário ingerir menos e gastar mais calorias durante o dia. O que acontece é que, ao ingerirmos água ao longo do dia, ocorrem diminuições na hormona antidiurética e urinamos mais, reduzindo, assim, a retenção de líquidos.

3) A água não possui calorias – VERDADE

A água não tem gorduras, proteínas, nem hidratos de carbono e, por isso, não fornece energia, logo, não contribui para o consumo energético, nem influencia directamente o peso. A água possui diferentes sais minerais na sua composição, os quais não possuem valor calórico.

4) As bebidas isotónicas substituem o consumo de água – MITO

As bebidas isotónicas são compostas por água, vitaminas, minerais como sódio e potássio e hidratos de carbono de rápida absorção. Não devem ser usadas como substituto do consumo de água, mas sim antes, durante e após o

exercício físico, para repor líquidos e sais minerais perdidos durante a actividade física intensa. No entanto, poderão ter efeitos prejudiciais em pessoas com insuficiência cardíaca, hipertensão arterial e problemas renais.

5) A fervura da água é o método preferencial para tratamento da água para consumo humano –VERDADE

A fervura da água consegue eliminar bactérias, vírus e parasitas, sendo, por isso, o método preferencial para tratamento da água de consumo humano. Estes microrganismos morrem quando sujeitos a temperaturas elevadas, durante um curto período.

PLÁSTICOS DE USO ÚNICO

CADA PESSOA PRODUZ, EM MÉDIA, 52 QUILOGRAMAS DE RESÍDUOS PLÁSTICOS ANUALMENTE, COM REALCE PARA OS DESCARTÁVEIS. INICIALMENTE VISTOS COMO INOFENSIVOS, ACABARAM POR SE TRANSFORMAR NO MAIOR PROBLEMA AMBIENTAL DE TODOS OS TEMPOS.

Os plásticos são polímeros sintéticos, que podem ser facilmente moldados em diferentes formatos e usados como matéria-prima para uma grande variedade de produtos. Inventado há aproximadamente 110 anos, o plástico é considerado a substância mais amplamente usada e omnipresente do mundo (Worm, et al., 2017). É usado nas indústrias de produção de embalagens, automóveis, roupas, equipamentos electrónicos, ferramentas agrícolas, equipamentos médicos, utensílios de uso doméstico, de segurança, construção civil, entre muitas outras utilizações (Rani-Borges, et al., 2020).

Pesquisas científicas demonstram que cada pessoa produz, em média, 52 quilogramas de resíduos plásticos anualmente, com realce para os descartáveis, que inicialmente eram vistos como inofensivos e acabaram por se

transformar no maior problema ambiental de todos os tempos, particularmente para os oceanos, onde a sua degradação é lenta, impactando negativamente a vida marinha (Worm, et al., 2017).

52 SAÚDE
ENTREVISTA RUBRICA AMBIENTAL
Por Juelma José e Dilma Muanza

Tendo em conta os aspectos citados, este artigo foi elaborado com a finalidade de apresentar os plásticos de uso único, impactos na vida marinha e algumas soluções implementadas ao redor do mundo, que podem ser adoptadas em Angola.

O que são plásticos de uso único?

O plástico de utilização única é caracterizado por ser usado apenas uma vez, antes de ser descartado. Costa (2021) define-o como um produto fabricado total ou parcialmente a partir de plástico e que não é concebido, projectado ou colocado no mercado para perfazer múltiplas viagens ou rotações no seu ciclo de vida, mediante a sua devolução a um produtor para a sua reutilização, com a mesma finalidade para o qual foi concebido. Os mais comuns são os seguintes:

• Garrafas para bebidas e tampas;

• Cotonetes;

• Sacos de plástico leves;

• Talheres, palhinhas e agitadores de bebida;

• Copos para bebidas e tampas;

• Balões e varas para balões;

• Recipientes para alimentos.

emaranhamento, ingestão e, até, a morte) e no funcionamento do ecossistema. Pedaços de plástico foram encontrados no sistema digestivo de muitos seres aquáticos, inclusive em espécies de tartarugas marinhas, e em quase metade das espécies de aves marinhas e mamíferos.

Os seres humanos também estão em risco devido aos resíduos depositados no mar, visto que os plásticos que se acumulam em valas de drenagem a céu aberto se misturam com a água de esgoto, contribuindo para o surgimento de doenças, a criação de uma imagem pouco agradável e alcançando posteriormente a água do mar. Pesquisas mostram que as pessoas estão a inalar microplásticos através do ar, consumindo-os a partir dos alimentos e da água.

Consequências

Os plásticos decompõem-se com o tempo em pedaços cada vez menores, conhecidos como micro e nanoplásticos, processo que pode levar cerca de 400 anos, podendo gerar impactos prejudiciais significativos, conforme enfatizou Guerra (2021), no seu artigo sobre “Plásticos, das ameaças às soluções”.

A EcoAngola, no âmbito do Projecto Angola Sem Plástico, publicou outros artigos abordando os vários impactos negativos do plástico na biodiversidade (desde a intoxicação, asfixia, mutilação/deformação,

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Figura 1: Diferentes tipos de plásticos de uso único. Fonte: Unsplash. Figura 2: Sacos plásticos na água chamam a atenção das tartarugas (à esquerda) e Ilha de lixo plástico no Oceano Pacífico (à direita). Fonte: Jornal Sapo. Figura 3: Vala de drenagem do Prenda, em Luanda. Fonte: Kilamba 7.

Países que baniram os plásticos de uso único

Actualmente, mais de 60 países proíbem os sacos de plásticos de utilização única, sendo o Bangladesh o primeiro país a fazê-lo, em 2002. O site World Atlas publicou, em 2018, uma lista de países que baniram os sacos plásticos e outros plásticos descartáveis.

O incrível desta publicação é o facto de apresentar vários países africanos, com destaque para o Ruanda, visto como um dos países mais limpos do continente e pioneiro nessa iniciativa.

Na Tanzânia, por exemplo, a nova lei sobre o assunto é tão rigorosa que os cidadãos flagrados a vender ou a fabricar sacos plásticos podem receber até dois anos de prisão ou uma multa avultada e as pessoas apanhadas a usá-los estão sujeitas a multas menores (Shadan, 2022).

Plásticos de uso único e a pandemia de Covid-19

A pandemia de Covid-19 aumentou o uso de plásticos pela população, principalmente equipamentos de protecção individual descartáveis, como máscaras, batas, toucas, luvas, viseiras, entre outros, problema que é mais evidente nos países de baixa renda, devido à dificuldade de gestão dos resíduos sólidos. Durante a pandemia, os consumidores passaram a utilizar um volume maior de embalagens descartáveis, por causa da necessidade de se prevenir e evitar a propagação do vírus (Okwesili, et al., 2016).

Os plásticos de uso único têm desempenhado um papel essencial (e até mesmo vital) para minimizar os impactos da Covid-19 e não seria possível imaginar um combate à pandemia sem os mesmos. Contudo, é fundamental distinguir os plásticos de uso único essenciais – na saúde e noutros sectores – daqueles que se apresentam como problemáticos e/ou desnecessários (Pactoplastico.pt).

Perspectivas de actuação

O grande desafio para Angola é iniciar, o mais rápido possível, uma luta acirrada no controlo dos plásticos de uso único, adoptando um plano director de actuação, que poderá contar com a intervenção

do Estado, sociedade civil (organizações não governamentais, empresas e cidadãos) e instituições de ensino.

Essa intervenção deverá considerar, entre outras opções, as seguintes acções:

• Elaboração e implementação de leis específicas sobre a produção, uso e descarte de plásticos;

• Criação de um sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos eficaz;

• Substituição de plásticos descartáveis por embalagens sustentáveis (cestos artesanais, material comestível);

• Responsabilização das empresas produtoras e distribuidoras de embalagens de plástico, para garantir o seu envolvimento activo na identificação de soluções viáveis para esse problema;

• Integração de disciplinas voltadas para a educação ambiental, no plano curricular;

• Fiscalização das empresas de entrega de refeições/ produtos ao domicílio;

• Penalização dos cidadãos que descartarem os resíduos em lugares impróprios;

• Promoção de campanhas educativas pela rádio, televisão e outros meios de comunicação social;

• Investigação científica sobre o assunto, entre outros.

Formas de reduzir

A utilização de plásticos biodegradáveis tem sido apontada como uma das soluções para a redução do volume de plástico que vai parar aos oceanos, por se degradarem em menos tempo e se transformarem em dióxido de carbono e água. Entretanto, surgiram estudos que têm vindo a contrariar essa teoria, como referenciado no trabalho de Fortuna (2020), que indica que os plásticos biodegradáveis podem não se decompor totalmente na natureza, produzindo rejeitos que podem gerar impactos maiores que os plásticos convencionais, facto similar aos dados do relatório das Nações Unidas, publicado a 18 de Novembro 2015 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que detalha que cerca de 20 milhões de toneladas de plásticos são entregues ao mar, a cada ano, e que os marcados como biodegradáveis são igualmente parte desse problema (ONU, 2015).

Adicionalmente, verificou-se que as empresas que investem na produção de bioplásticos deparam-se com muitas incertezas, visto que a preferência do consumidor pelo plástico tradicional ainda é uma realidade e que o custo de produção dos bioplásticos é muito superior quando comparado ao dos produtos de origem fóssil. Alto investimento inicial, alto custo de transporte da biomassa e consideráveis variabilidades da composição e suprimento de biomassa, ao longo do ano, são barreiraschave para o desenvolvimento dos biopolímeros, de forma contínua e sustentável (Fortuna, 2020).

A ONU estabeleceu a Agenda 2030 para a

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Figura 4: Mapa dos países que mais descartam resíduos plásticos nos oceanos. Fonte: What a Waste Report (KAZAN, et al., 2018)

Sustentabilidade, determinando os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), entre os quais o ODS n.º 12, que estima que, até 2030, os países ao redor do mundo deverão reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e reuso. O que, por si só, não gera um resultado que mitiga o impacto causado por esses resíduos se os países não definirem acções concretas para a sua materialização.

Tabela 1 - Exemplos de trocas sustentáveis a fazer no dia-a-dia

TROCAS SUSTENTÁVEIS

Considerações finais

Concluindo, os plásticos de uso único não devem continuar a ser usados de forma descontrolada, havendo a necessidade da implementação de estratégias que impeçam que alcancem o mar. Embora Angola, em particular, ainda não possua níveis altos de poluição por plástico, começa a ser notável a presença de grandes quantidades e a verdade crua e dura é que isto volta para o homem, pelos peixes e outros “frutos do mar” de que nos alimentamos ou pelo ar, dependendo da dimensão das suas partículas. Analisando a variedade de sectores em que o plástico pode ser usado, é importante informar que nem todos os tipos de plástico são inimigos do ambiente e é muito provável que continuem a ser produzidos por muitos anos ainda, devendo os especialistas continuar a realizar estudos que direccionem uma especial atenção aos plásticos descartáveis, buscando por alternativas de materiais mais amigos do ambiente e com o menor impacto possível, para contrapor a velocidade avassaladora com que os resíduos plásticos se espalham pelo mundo.

Referências:

1. COLTRO, L. GASPARINO, B. F. QUEIROZ, G.C (2008) Reciclagem de Materiais Plásticos: A importância da correcta identificação. Revista Polímeros, Ciência e Tecnologia, vol. 18, n.º 2, p. 119-125. Disponível no link https://revistapolimeros.org.br/article/10.1590/S0104-14282008000200008/pdf/polimeros-18-2-119.pdf. Acessado a 27/06/2022

2. COSTA, R. M. (2021) Alternativas aos plásticos de utilização única, foco em soluções comestíveis. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Tecnologia e Segurança Alimentar. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Disponível no link https://run.unl.pt/bitstream/10362/126754/1/Costa_2021.pdf. Acessado no dia 27/06/2022.

3. ECOANGOLA (2021) Intoxicação da biodiversidade por plástico. Disponível no link https://ecoangola.com/intoxicacao-plastica/. Acessado a 28/06/2022.

4. FORTUNA, A. L. L. (2020) Impactos ambientais dos plásticos: biopolímeros como alternativa para a redução do acúmulo de embalagens flexíveis de polipropileno no meio ambiente. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química

5. GEYER, R. JAMBECK, J. LAW, L. K. (2017) Production, use and fate of all plastic ever made. SCIENCE ADVANCES. Disponível no link https://www.science.org/doi/epdf/10.1126/sciadv.1700782. Acessado a 27/06/2022

6. GUERRA, L. (2021) Plástico, das ameaças às soluções. EcoAngola. Disponível no link https://ecoangola.com/plastico-das-ameacas-as-solucoes/. Acessado a 28/06/2022

7. KAZA, S., YAO, L., BHADA-TATA, P. and VAN WOERDEN, F. (2018) What a Waste 2.0 : A Global Snapshot of Solid Waste Management to 2050. Urban Development; Washington, DC: World Bank. © World Bank. Disponível no link https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/30317. Acessado a 27/06/2022

8. MATEUS, D. (2020) Consumo sustentável e consciente. EcoAngola. Disponível no link https://ecoangola.com/consumo-sustentavel-e-consciente/. Acessado a 28/06/2022.

9. OKWEZILI, J., NDUKWE, C., & NKWUZOR, C. I. (2016). Urban solid waste management and environmental sustainability in Abakaliki Urban, Nigeria. European Scientific Journal. 12(23), 155-183. Disponível no link https:// doi.org/10.19044/esj.2016.v12n23p155. Acessado a 27/06/2022

10. PACTO DE PLÁSTICO PORTUGAL (2021) A Lista de plásticos de uso único considerados problemáticos e/ou desnecessários. Disponível no link https://pactoplasticos.pt/directus/public/uploads/pacto/ originals/678c8749-e80f-4c97-bd24-235816ac3b42.pdf Acessado a 27/06/2022

11. RANI-BOSGES, B. VICENTE, E. & PÔMPEO, M (2022) Plásticos e Microplásticos – Poluição em Reservatórios. Disponível no link https://www.researchgate.net/publication/359019614_Capitulo_1_-_Plasticos_e_ Microplasticos_Poluicao_em_reservatorios. Acessado a 27/06/2022

12. WORM, B.; LOTZE, H. K.; JUBINVILLE, I.; WILCOX, C.; JAMBECK, J. (2017) Plastic as a persistent marine pollutant. Annual Review of Environment and Resources, v. 42, p. 1-26. Disponível no link https://www. annualreviews.org/doi/epdf/10.1146/annurev-environ-102016-060700. Acessado a 27/06/2022

13. SHABAN, A. R. A. (2019) Tanzania bans entry of all plastic effective. Africa News. Disponível no link https://www.africanews.com/2019/05/16/tanzania-bans-external-entry-of-all-plastic-effective-june-1-2019/ Acessado a 26/05/2022.

14. ENVIRONMENT AND CLIMATE CHANGES CANADA (2019) A proposed integrated management approach to plastic products: discussion paper. Minister of Environment and Climate Change. Disponível no link https:// www.canada.ca/en/environment-climate-change/services/canadian-environmental-protection-act-registry/plastics-proposed-integrated-management-approach.html#toc0. Acessado a 26/03/2022.

15. NAÇÕES UNIDAS (2015) Plásticos biodegradáveis não são solução. PNUMA. Disponível no link https://news.un.org/pt/story/2015/11/1532211-plasticos-biodegradaveis-nao-sao-solucao-afirma-pnuma#:~:text=O%20 Programa%20da%20ONU%20para%20o%20Meio%20Ambiente%2C,exposi%C3%A7%C3%A3o%20prolongada%20a%20temperaturas%20acima%20de%2050%C2%B0%20Celsius.

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Acessado a 28/05/2022

“NO MEU IDIOMA, NO TEU NOSSO IDIOMA.” COMO SER EM DIFERENTES LINGUAGENS GERACIONAIS NO TRABALHO?

Co-founder & Head of Experience Design da empresa OKU HUMAN. Licenciado em Psicologia Aplicada e Mestre em Psicologia Social e das Organizações pelo Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida. Chief Happiness Officer pela Happiness Business School

É INEGÁVEL QUE A DIVERSIDADE É UM TÓPICO RELEVANTE NO CENÁRIO CORPORATIVO MODERNO. CADA VEZ MAIS, AS LIDERANÇAS ESTÃO A SER CHAMADAS A REFLECTIR DE FORMA SENSÍVEL QUESTÕES RELACIONADAS COM A DIVERSIDADE, A EQUIDADE E A INCLUSÃO. NO ENTANTO, A MAIOR PARTE DOS PROGRAMAS DE INCLUSÃO DESENHADOS CONCENTRA-SE, PRINCIPALMENTE, EM QUESTÕES COMO A DIVERSIDADE RACIAL OU DE GÉNERO, NEGLIGENCIANDO FREQUENTEMENTE A DIVERSIDADE GERACIONAL.

56 SAÚDE
ENTREVISTA RUBRICA DA FELICIDADE

IDIOMA E NO SER FLUENTE LINGUAGENS TRABALHO?

Adiversidade geracional diz respeito a ter uma ampla gama de gerações no capital humano corporativo. Pela primeira vez, temos cinco gerações na nossa força de trabalho: Gen Z (1997- 2012), Millennials (1981-1986), Gen X (19651980), Boomers (1946-1964) e Tradicionalistas (1928-1945). Cada uma destas gerações desenvolveu-se num contexto radicalmente diferente (e digitalmente díspar) e a forma como percepcionam o ecossistema envolvente é amplamente distinta, o que leva, inevitavelmente, a conflitos comunicacionais. As gerações seniores tendem a preferir uma comunicação “face-to-face” e ficam frustradas quando as tentativas de comunicação são ignoradas ou mal interpretadas devido ao uso excessivo da tecnologia. As gerações mais jovens preferem a tecnologia para comunicar, o que pode ser difícil de entender para as gerações anteriores.

As organizações podem certamente incorporar valor através da coexistência de profissionais com diferentes backgrounds, mas a falta de

57 SAÚDE

conhecimento sobre as várias gerações no capital humano pode ser fatal para a coesão grupal e para uma comunicação percebida como inclusiva. Para liderar com sucesso um organismo corporativo multigeracional, as lideranças devem esforçar-se por compreender as preferências do seu públicoalvo, usar adequadamente vários canais comunicacionais e unir os colaboradores

A GERAÇÃO DO MILLENNIAL E A GERAÇÃO Z PODEM APRENDER COM A GERAÇÃO X E COM OS BABY

BOOMERS. ESTES ÚLTIMOS TAMBÉM

PODEM APRENDER COM AS GERAÇÕES

MAIS JOVENS (E NÃO APENAS SOBRE TECNOLOGIA). É ESSENCIAL

RECONHECER E ABRAÇAR AS DIFERENÇAS GERACIONAIS E USÁ-LAS

COMO FERRAMENTAS DE APRENDIZAGEM

E CRESCIMENTO NO INTERIOR DA EQUIPA

através da criação de mensagens inclusivas. Para fortalecer o ambiente colaborativo e a conexão pessoal e maximizar a produtividade, é essencial preencher a lacuna entre todos. Os Baby Boomers cresceram durante a época dos telefones fixos, enquanto os Millennials tiveram o seu próprio telemóvel na adolescência. Os Baby Boomers preferem conversas presenciais, enquanto a Geração X prefere falar ao telefone, por e-mail ou por mensagem. Deve ser

disponibilizada aos colaboradores a opção de usar videoconferência, chamadas em conferência padrão e ferramentas de colaboração, como Google Hangouts ou Slack. Sendo essencial disponibilizar vários canais, é igualmente importante definir quando é apropriado o uso dos mesmos. As conversas de desenvolvimento devem ser sempre cara a cara, seja pessoalmente ou por vídeo, e devemos evitar agendar reuniões para actualizações simples que podem ser abordadas por e-mail. O design do local de trabalho desempenha também um papel importante na sustentabilidade da comunicação entre gerações. Um local de trabalho desactualizado, onde os colaboradores estão em cubículos com barreiras físicas, provavelmente não promove uma comunicação casual que impulsione o fortalecimento dos relacionamentos profissionais. No entanto, um design totalmente aberto pode distrair os colaboradores que preferem ambientes mais tradicionais (ou introvertidos, que precisam de silêncio para serem produtivos). Certificarmonos que o escritório tem a combinação certa de diferentes ambientes, incluindo grandes salas de reunião, áreas projectadas para colaboração e áreas silenciosas, é a melhor forma para garantirmos um local de trabalho inclusivo.

Outro desafio para as lideranças é a comunicação clara acerca das expectativas de etiqueta no local de trabalho. Quando os Baby Boomers entraram no mercado de trabalho,

58 SAÚDE

os fatos e gravatas eram usados todos os dias e os computadores não existiam. Hoje, é generalizado o uso dos smartphones, que nos permitem comunicar practicamente em qualquer lugar. Enquanto para a geração Millennial é natural ter o seu smartphone na secretária e responder às suas várias notificações, para as gerações anteriores, isto pode ser considerado desrespeitoso. A definição do estar corporativo é vista de forma drasticamente diferente de uma geração para a outra geração. Se todos souberem o que se espera deles, haverá menos espaço para divergências e acusações e mais espaço para a colaboração e produtividade. Independentemente da escolaridade ou do nível académico, há sempre mais que podemos aprender. A geração do Millennial e a Geração Z podem aprender com a Geração X e com os Baby Boomers. Estes últimos também podem aprender com as gerações mais jovens (e não apenas sobre tecnologia). É essencial reconhecer e abraçar as diferenças geracionais e usá-las como ferramentas de aprendizagem e crescimento

relevantes para o crescimento organizacional. O desenvolvimento de líderes para serem capazes de gerir profissionais de diferentes gerações é a receita apropriada. Os líderes de hoje necessitam de ser habilidosos a entender as preferências individuais: comunicação, sucesso, reconhecimento, incentivos, aprendizagem, desenvolvimento e feedback. Gerir eficazmente uma equipa multigeracional significa acomodar as necessidades dos colaboradores e ter em consideração as suas variadas preferências de comunicação. Isto não significa entregar o estilo preferido de cada pessoa, mas envolve reconhecer as diferenças entre as faixas etárias e desenvolver soluções holísticas que permitam a gestão comunicacional simultaneamente a um nível macro e micro. Ao identificar as tendências entre as gerações e procurar equilibrar vários estilos de comunicação que se adaptem a todos, teremos equipas mais coesas e produtivas, com maior diversidade, uma moral mais sólida e uma maior vontade de cooperar.

no interior da equipa. As gerações mais jovens têm conhecimentos e percepções que os colaboradores mais experientes, muitas das vezes, não têm. Criar uma cultura de gestão mais flexível (“top-down” e “bottom-up”) permite que se ampliem competências, que se incentive a interacção entre os departamentos e que se espalhe a mensagem de que as percepções de todos são valorizadas e

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COVID-19 NÃO REDUZIU A FELICIDADE DAS PESSOAS EM TODO O MUNDO

CEIFOU 6,7 MILHÕES DE VIDAS, LEVOU AO CONFINAMENTO DE PAÍSES INTEIROS E DESENCADEOU UMA CRISE ECONÓMICA GLOBAL, MAS A COVID-19 NÃO AFECTOU A FELICIDADE DAS PESSOAS EM TODO O MUNDO, SEGUNDO A ÚLTIMA EDIÇÃO DO RELATÓRIO MUNDIAL DA FELICIDADE. FACE AO PERÍODO ANTES DA PANDEMIA, O INQUÉRITO A MAIS DE 100 MIL PESSOAS EM 137 PAÍSES ENCONTROU NÍVEIS SIGNIFICATIVAMENTE MAIS ALTOS (25%) DE BENEVOLÊNCIA, SOBRETUDO A AJUDA DE ESTRANHOS, E, QUANDO SOLICITADAS A AVALIAR AS SUAS VIDAS, AS PESSOAS EM MÉDIA DERAM PONTUAÇÕES TÃO ALTAS DE 2020 A 2022 QUANTO DE 2017 A 2019.

ANÁLISE

Já passaram mais de 10 anos desde que o primeiro Relatório Mundial da Felicidade foi publicado. E passaram exactamente 10 anos desde que a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou a Resolução 66/281, proclamando o dia 20 de Março como Dia Internacional da Felicidade. Desde então, cada vez mais pessoas passaram a acreditar que o sucesso de um país deve ser julgado pela felicidade do seu povo e há também um consenso crescente sobre como a felicidade deve ser medida. Este consenso significa que a felicidade nacional pode tornar-se num objectivo operacional para os Governos. A maneira natural de medir a felicidade de uma nação é perguntar a uma amostra representativa da sua população o quão satisfeita está com a sua vida. Desde a publicação do primeiro relatório, em 2012, há um consenso crescente de que a felicidade pode ser promovida através de políticas públicas e das acções das empresas e da sociedade civil e os Governos utilizam cada vez mais esta análise para orientar as suas políticas no sentido da felicidade. Uma vez a felicidade aceite como objectivo do Governo, isso tem outros efeitos profundos nas práticas institucionais. Por exemplo, a saúde, especialmente a saúde mental, assume maior prioridade, assim como a qualidade do trabalho, da vida familiar e da comunidade.

Relatório

O Relatório Mundial da Felicidade é uma publicação da Sustainable Development Solutions Network, alimentada pelos dados da Gallup World Poll. A edição deste ano destaca que, apesar de várias crises sobrepostas, a maioria das populações em todo o mundo continua a ser notavelmente resiliente, com médias globais de satisfação com a vida tão altas quanto às registadas no pré-pandemia. Mesmo durante estes anos difíceis, as emoções positivas permaneceram duas vezes mais prevalentes do que as negativas e os sentimentos de apoio social positivo duas vezes mais fortes do que os da solidão. As coisas foram ligeiramente piores nos países

ocidentais e ligeiramente melhores no resto do mundo, mas no geral as pessoas foram capazes de descobrir e partilhar a capacidade de cuidar umas das outras, em tempos difíceis. Actos de bondade diários demonstraram aumentar a felicidade, como ajudar um estranho, doar para caridade e fazer voluntariado. Actividades estimuladas pelas necessidades dos confinamentos e que estão agora acima dos níveis pré-pandemia.

O estudo descobriu que o efeito de felicidade de ter alguém com quem contar em momentos difíceis aumentou durante a pandemia e como 80% das pessoas disse ter alguém com quem contar.

Países mais felizes

A Finlândia mantém-se como o país mais feliz do mundo, pelo sexto ano consecutivo. A Lituânia, por sua vez, é o único país novo entre os 20 primeiros, subindo mais de 30 lugares desde 2017.

No lado oposto, o Afeganistão e o Líbano, devastados pela guerra, continuam a ser os dois países mais infelizes, com avaliações médias mais de cinco pontos mais baixas do que as dos 10 países mais felizes, que são, para além da Finlândia, a Dinamarca, a Islândia, Israel, os Países Baixos, a Suécia, a Noruega, a Suíça, o Luxemburgo e a Nova Zelândia.

UMA VEZ A FELICIDADE ACEITE COMO O OBJECTIVO DO GOVERNO, ISSO TEM OUTROS EFEITOS PROFUNDOS NAS PRÁTICAS INSTITUCIONAIS. POR EXEMPLO, A SAÚDE, ESPECIALMENTE A SAÚDE MENTAL, ASSUME MAIOR PRIORIDADE, ASSIM COMO A QUALIDADE DO TRABALHO, DA VIDA FAMILIAR E DA COMUNIDADE

O PIB per capita, o apoio social, a esperança de vida saudável, a liberdade de fazer escolhas de vida, a generosidade e a libertação da corrupção foram considerados os principais motores da felicidade.

O relatório analisa as tendências de como a felicidade é distribuída, em muitos casos de forma desigual, entre as pessoas e examina o fosso entre as metades superior e inferior da população. Os Países Baixos são o país onde a felicidade é partilhada de forma mais igualitária e onde há uma menor diferença entre os mais felizes e os menos felizes.

Esta diferença é, geralmente, pequena em países onde quase toda a gente está muito infeliz e nos países de topo onde quase ninguém está infeliz. De um modo mais geral, as pessoas são mais felizes a viver em países onde a diferença de felicidade é menor.

As disparidades de felicidade a nível mundial têm sido bastante estáveis, embora existam lacunas crescentes em muitos países africanos. Aliás, as maiores diferenças de felicidade registaram-se nos países africanos Libéria, República do Congo e Moçambique e 30 dos 20 países menos felizes estão localizados em África. Angola não fez parte do estudo.

O TEMPO PASSA TÃO RÁPIDO, O TEMPO VOA E O PRIMEIRO TRIMESTRE ESTÁ CONCLUÍDO. É MOTIVO DE ORGULHO E DE AGRADECIMENTO A TODAS AS NOSSAS PESSOAS O EMPENHO E SUPERAÇÃO DIÁRIOS DE RESULTADOS POSSÍVEIS NA NOSSA ARMED. ESTES RESULTADOS SÃO TAMBÉM UMA FERRAMENTA DE GESTÃO QUE NOS PERMITE COMPREENDER A NOSSA EVOLUÇÃO E IDENTIFICAR ÁREAS DE MELHORIA. A EXCELÊNCIA, QUALIDADE DA DINÂMICA ORGANIZACIONAL, DAS PRÁTICAS, DO CLIMA E DA GESTÃO DE PESSOAS SÃO AS QUATRO DIMENSÕES DE ANÁLISE SOBRE OS QUAIS INCIDE ESTE ESTUDO.

A GESTÃO DA MUDANÇA E A QUALIDADE

62 SAÚDE
PERSPECTIVA ENTREVISTA RUBRICA REGULAMENTAR

Técnica Média de Farmácia pelo IMS de Luanda. Licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas. Agente de Segurança Higiene e Saúde no Trabalho. Directora Técnica da Australpharma

Este é o momento ideal para fazermos um balanço do que aconteceu e avaliarmos o que correu bem e menos bem. Vamos sempre a tempo de rever os nossos objectivos e traçar novos caminhos, em função da nossa aprendizagem e fluxo laboral.

Os desafios que são colocados ao longo do nosso caminho são um potenciador de motivação para fazer sempre mais e melhor, de forma a contribuir para o crescimento e melhoria dos processos de qualidade, segurança e ambiente de trabalho de todos e para todos. Identificamos os riscos e as oportunidades, ao longo da cadeia de valor - fornecedores, transportadores e clientes finais -, que vão desencadear acções que nos possibilitam a avaliação e o envolvimento de todos na melhoria da nossa classe e nos serviços que prestamos à comunidade. Temos experiências e, como um laboratório de análise e reflexão, é uma excelente oportunidade para, em conjunto, reforçarmos o espírito de equipa e abraçarmos os desafios do dia-a-dia e os que se advinham nos próximos tempos. Há um mundo a ser descoberto nos bastidores da mente humana, um mundo rico, sofisticado e interessante, um mundo que existe para além da massificação da

cultura, do consumismo, da cotação do dólar, da tecnologia, da moda, do estereótipo da estética. Procurar conhecer o mundo é uma aventura indescritível.

A jornada mais interessante que o ser humano pode empreender não é a que faz quando viaja pelo espaço ou quando navega pela Internet. Não! A viagem mais interessante é a que empreende quando se interioriza, caminha pelas avenidas do seu próprio ser e procura as origens da sua inteligência e os fenómenos que realizaram o espectáculo da construção de pensamentos e da fábrica das emoções. Pretendo levar o leitor a caminhar dentro de si mesmo e expandir o mundo das ideias sobre a mente humana, a construção de pensamentos e a formação de pensadores.

Todos nós somos participantes dos conhecimentos e competências necessárias para impulsionar activamente os processos de mudança nas nossas organizações.

O que o inspira, todos os dias, e o que mais gosta na sua área profissional?

Vamos, em conjunto, reconhecer e analisar os diferentes cenários de condução das ferramentas de comunicação do nosso trabalho, aplicar as técnicas para poder guiar em direcção aos objectivos, seja por meio da reflexão ou da orientação para as acções futuras.

Vamos analisar?

Obrigada, estamos juntos nesta jornada.

63 SAÚDE
Dra. Zola Mayamputo João

COMPETÊNCIAS

Logística e Distribuição Farmacêutica

Soluções de Diagnóstico

Assistência Técnica

Gastáveis clínicos e hospitalares

Soluções de Point of Care

Procurement e Sourcing Internacional

Formação*

Representação Comercial*

*em parceria com Tecnosaúde

Consultoria

Assuntos Regulamentares

FALE CONNOSCO

O SEU DISTRIBUIDOR

FARMACÊUTICO DE REFERÊNCIA

NÚMEROS

+ 3550 Produtos em portefólio

86,9% Nível de satisfação dos clientes

17 Províncias com clientes activos

2.500 m2 Armazém

PARCERIAS FORTES

64 SAÚDE A SAÚDE PRÓXIMA DE TODOS Oferta de Soluções Integradas Serviços de qualidade Distribuidor de referência www.australpharma.net Australpharma Urbanização Park Gest, km 22 Estrada de Lunda-Catete, Pavilhão 3 Município de Viana | Luanda-Angola WhatsApp : + 244 938 539 887 Telefone : +244 923 190 840 E-mail : geral@australpharma.net

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