O ESGAR DO CRÂNIO NU: a construção da imagem do corpo em Hilda Hilst e Iberê Camargo

Page 124

124

2.6. O UNICÓRNIO: O CORPO BESTIAL Em "O Unicórnio", há os dois irmãos: o menino pederasta, meio homem e meio mulher, e a menina lésbica, também homem-­‐mulher, e o eu-­‐narrador, o único feminino presente no livro todo, transformado em unicórnio, homem-­‐animal. O Unicórnio atuando como bicho, comendo verduras e frutas podres, causando estranheza e nojo, apresentando características grotescas e abjetas. No conto, Hilst procura mostrar com essa metáfora, como é visto o homem: que é homo e ainda assim não deixou ser animal. A escritora apresenta esse homem primata por meio de um rebaixamento do humano quando o retrata atuando como um bicho, um ser irracional. Segundo Santos, Em "O Unicórnio", com uma linguagem narrativa trespassada de poesia, a autora critica o homem, suas crenças e injustiças, e lembra que “o homem é o lobo do homem”, pois ele mesmo cria suas regras, seu mundo, de acordo com suas conveniências, utilizando-­‐se dos veículos de informação para nos fazer acreditar naquilo que é melhor para um determinado momento político e econômico, denunciando o trabalho ideológico. (SANTOS, 2006, p. 22)

No início do conto, o eu-­‐narrador relata a outro personagem as características físicas e psicológicas da menina lésbica e do menino pederasta, contrapondo um certo erotismo com baixos corporais de forma grotesca:

Eles eram malignos. Ela amava as mulheres. Mas isso não tem importância e talvez não dê malignidade a ninguém. Dizem que todos os pervertidos sexuais tem mal caráter. Dizem, eu sei. Você acredita? Acredito sim. No aspecto físico ela era uma adolescente sem espinhas, E ele? Espere, quero falar mais dela. Muito bem, espinhas então. Isso não é tudo. Quando ela falava de sexo, debaixo da figueira, eu começava a rir inevitavelmente. Que coisa saberia do sexo aquela adolescente tão limpinha? E depois, veja bem se era possível levar a sério: ela usava uma calcinha onde havia um gato pintado. Quê? juro. Você viu a calcinha? A calcinha foi pendurada certa vez num prego do banheiro: você jura que eu estou vendo um gato pintado na tua calcinha? Ela sorriu. Mas o gato teria por certo uma finalidade. Que finalidade pode ter um gato pintado numa calcinha? É, moça, não sei, essas coisas são complicadas. Podem ser ingênuas e engraçadas para você e muito eficientes, assim, no plano erótico, para o outro. (HILST, 2003, p. 146)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

5.1.7 Vídeo

11min
pages 292-301

Conclusão

5min
pages 302-304

Referências

17min
pages 305-318

5.1.6. Livro de artista

6min
pages 284-291

5.1.5. Animação

2min
pages 281-283

5.1.4. Fotografias

4min
pages 274-280

5.1.3. Gravuras

7min
pages 269-273

5.1.2. Desenhos

5min
pages 263-268

Cap. 5. O corpo intersemiótico

7min
pages 246-252

4.2.Um esgar mais que imperfeito

1min
pages 244-245

4.1. O corpo político

20min
pages 229-243

Cap.4. Hilda Hilst e Iberê Camargo: o esgar do crânio nu

46min
pages 199-228

3.2. Pinturas de 1980 1994: Corpos densos

58min
pages 150-196

3.3. Conclusão: In progress

1min
pages 197-198

3.1. Da crítica

12min
pages 141-149

2.8. Inconclusões

5min
pages 138-140

2.6. O Unicórnio : o corpo bestial

20min
pages 124-134

2.7. Floema : o corpo na mesa de dissecação

5min
pages 135-137

2.3. Fluxo : o corpo grotesco

48min
pages 72-97

2.5. Lázaro : o corpo reencarnado

28min
pages 108-123

2.4. Osmo : decifra meu corpo ou eu te devoro

21min
pages 98-107

2.2. Fluxo floema: a imagem do corpo estranho

13min
pages 64-71

2.2. O corpo grotesco

11min
pages 44-50

2.3. O corpo abjeto

14min
pages 51-58

Introdução

21min
pages 19-30

Cap.1 A construção da imagem do corpo

19min
pages 31-43
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.