O ESGAR DO CRÂNIO NU: a construção da imagem do corpo em Hilda Hilst e Iberê Camargo

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No conto "O Unicórnio", o estranhamento, o grotesco e a imagem da degradação do corpo , do início ao fim da narrativa, parece uma metáfora à intranquilidade que é pensar nas questões cruciais do homem, no desassossego da fome, das injustiças, no medo da morte, no medo da vida e nas dúvidas que essas questões nos trazem. A ideia do corpo apodrecendo, como a carne que é comida pelos vermes, que é a pior ideia de morte do corpo, constitui mais uma faceta do grotesco desestruturador. Todos os cinco contos do livro apresentam um forte cunho político, mas "O Unicórnio" é o que retrata mais fielmente a sociedade brasileira, ou qualquer outra sociedade que viva nas condições de um país desigual e violento, pois em momento algum Hilst faz referência a acontecimentos brasileiros. Lembrando que Hilda escreveu este livro no auge da ditadura militar no Brasil. É interessante notar as semelhanças da sociedade retratada por Hilda no livro em 1970, e a sociedade e as questões vividas hoje, em 2019, no Brasil, no cenário político, econômico e cultural. Hoje, 48 anos depois, vivemos questões que são abordadas no conto “O Unicórnio” com muita atualidade, como as questões de gênero, homofobia, pedofilia, desigualdade e intolerância política. A escrita dos textos em Fluxo-­‐floema apresenta uma atualidade e contemporaneidade evidentes.

2.7. "FLOEMA": O CORPO NA MESA DE DISSECAÇÃO "Floema" é o último conto do livro. Koyo, Haydum e Kanah são os três personagens do texto que, de todos de Fluxo-­‐floema, é o que mais confronta a questão de Deus perante o ser humano. O conto mescla a questão religiosa, sob a ótica do amor e ódio ao medo de que Deus possa existir ou não. "Floema" discute a importância dos homens continuarem a acreditar em Deus e em seu amor, ainda que sintam ódio na vida. Nos cinco contos, a questão de Deus, o amor e a morte aparecem recorrentemente. Porém, em "Floema" a questão de Deus é peculiar: Hilst coloca frente a frente o homem, Koyo, e Deus, Haydum, para uma conversa. Koyo, o representante das inquietações humanas, busca desesperadamente um contato


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5.1.7 Vídeo

11min
pages 292-301

Conclusão

5min
pages 302-304

Referências

17min
pages 305-318

5.1.6. Livro de artista

6min
pages 284-291

5.1.5. Animação

2min
pages 281-283

5.1.4. Fotografias

4min
pages 274-280

5.1.3. Gravuras

7min
pages 269-273

5.1.2. Desenhos

5min
pages 263-268

Cap. 5. O corpo intersemiótico

7min
pages 246-252

4.2.Um esgar mais que imperfeito

1min
pages 244-245

4.1. O corpo político

20min
pages 229-243

Cap.4. Hilda Hilst e Iberê Camargo: o esgar do crânio nu

46min
pages 199-228

3.2. Pinturas de 1980 1994: Corpos densos

58min
pages 150-196

3.3. Conclusão: In progress

1min
pages 197-198

3.1. Da crítica

12min
pages 141-149

2.8. Inconclusões

5min
pages 138-140

2.6. O Unicórnio : o corpo bestial

20min
pages 124-134

2.7. Floema : o corpo na mesa de dissecação

5min
pages 135-137

2.3. Fluxo : o corpo grotesco

48min
pages 72-97

2.5. Lázaro : o corpo reencarnado

28min
pages 108-123

2.4. Osmo : decifra meu corpo ou eu te devoro

21min
pages 98-107

2.2. Fluxo floema: a imagem do corpo estranho

13min
pages 64-71

2.2. O corpo grotesco

11min
pages 44-50

2.3. O corpo abjeto

14min
pages 51-58

Introdução

21min
pages 19-30

Cap.1 A construção da imagem do corpo

19min
pages 31-43
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