199
CAPÍTULO 4 -‐ HILDA HILST E IBERÊ CAMARGO: O ESGAR DO CRÂNIO NU Neste capítulo apresento correspondências entre o livro de Hilda Hilst e as pinturas de Iberê Camargo. Através de procedimentos comparativos e intermidiáticos, identifico nos contos do livro Fluxo-‐floema elementos pictóricos que correspondem de certa forma às pinturas de Iberê. Igualmente, apresento neste capítulo procedimentos pictóricos de Iberê Camargo que relaciono com certos procedimentos de escrita exercidos por Hilda Hilst no livro. Não digo que farei aqui uma comparação entre pintura e literatura pois, segundo Baudelaire (2008, p. 105), as comparações entre artes de códigos diferentes "não passam de ninharias retóricas", pois, segundo ele, as artes se correspondem. Portanto, o que exponho neste capítulo, são correspondências identificadas por mim, entre as obras desses dois artistas. Destaquei o máximo possível de peculiaridades linguísticas do livro Fluxo-‐floema. Digo linguísticas em nome dos vários gêneros literários de que Hilda se valeu na escrita dessa obra de complexas narrativas e estilos. Em Fluxo-‐floema, usando as palavras de Hilda Hilst, "é quando a putaria das grossas se aproxima da metafísica." (MORAES, 2014, p. 267). Além disso, todos esses gêneros contaminam-‐se na fronteira específica de cada um, inclusive transmutando-‐se em prosa-‐dramática, com a marcação de falas como no texto teatral. As possibilidades flutuam na multiplicidade. A priori, o recorte proposto na vasta obra de Iberê Camargo para esta tese foram somente as pinturas realizadas entre 1980 e 1994, ano de sua morte. Porém, ao debruçar-‐me sobre a obra do artista, deparei-‐me com uma obra múltipla, o que me fez ampliar um pouco o foco da pesquisa. Assim, passei a considerar, além das pinturas, os desenhos, as gravuras e também seus textos. Afinal, o pintor transita por todas essas linguagens com a mesma desenvoltura e potência. Suas questões são as mesmas em todas as modalidades propostas por esse artista multifacetado.