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Particularmente, a imagem do corpo morto, finito, em fase de decomposição embora ainda vivo, o tempo-‐corpo, a velhice, a decrepitude, representados pela imagem da caveira, é a imagem do corpo recorrente em Hilst e em Camargo. Ambos têm a memória como base de suas construções artísticas. A memória como uma arqueologia, que deve ser escavada com as mãos e com cuidado. Isso reflete a importância da tradição na obra desses dois artistas. A tradição que representa o passado, aquilo que não volta jamais. A morte.
Bem, parece-‐me que o tema mais constante, o que aparece mais em minha obra, é a problemática da morte. Quero dizer que ela esteve constante, presente, em toda minha poesia, em todos os homens e mulheres, meus personagens; todos eles, em muitos momentos, se perguntam ou meditam sobre a morte. Porque eles não estão conformados. Também eu não estou conformada com esse conceito da maioria das pessoas de que a morte é definitiva. (HILST, 2013, p.32)
Em Iberê, a imagem da caveira tem como ponto de partida as pinturas da série de óleos Hora (1983), e é na tela Hora II que a imagem da caveira aparece mais explicitamente. Porém, na série de quatro óleos denominada Fantasmagorias, 1986-‐ 1987, a figura toma proporções mais radicais, e Iberê, no intuito de tomar o corpo e deformá-‐lo, apresenta figuras descarnadas e esqueléticas: Nesses quatro quadros, além do crânio exposto como "máscara", levando ao estranhamento, são os esqueletos, com seu conteúdo macabro, que reiteram de maneira consistente a entrada de Iberê no grotesco modernista. O horror presente nessas telas é o indício de toda a posterior desfiguração do modelo. Elas são produtos dos seus pesadelos e temores, com os quais o homem-‐pintor se debatia num duelo absurdo. (RIBEIRO, 2010, p. 331)
4.1. O CORPO POLÍTICO Gostaria de apresentar agora, um trabalho de Iberê Camargo que tem um procedimento peculiar em toda a sua obra.