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CAPÍTULO 1. A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO CORPO Escultura, pintura, cinema... as artes são espaço privilegiado de construção, exposição e fetiche dos corpos. As imagens do corpo apresentam-‐se tanto de forma direta, como através das imagens dos artistas evidenciadas na obra, como as pinceladas e as marcas digitais, que se apresentam também como parte do corpo do artista. Ou no caso do corpo artista, onde o próprio corpo é a obra. As performances, danças e atuações teatrais representam essa categoria. Assim como as marcas autorais presentes nas obras. Na literatura também há essa construção da imagem do corpo através das palavras. Porém, é mais difícil perceber o corpo do escritor na obra, ou no livro. Tornam-‐se necessárias algumas estratégias para se evidenciar o corpo do escritor na obra final. Manuscritos, rascunhos, rasuras no canto da página e um cuidado nas edições tentam resgatar um retorno fantasmático do corpo do escritor. É o corpo artista do escritor. No livro Fico besta quando me entendem: entrevistas com Hilda Hilst (2013), há um cuidado no tratamento com o corpo da escritora. Principalmente, por ser um livro de entrevistas, a direção de arte trabalhou com uma série de elementos pessoais da escritora como anotações, lista de supermercado, desenhos, recados, contas à pagar etc. Pode-‐se perceber uma proximidade maior com Hilst ao nos depararmos com tais elementos autográficos. Este capítulo é um passeio por vários lugares ocupados pela metáfora corporal presente no livro de Hilda Hilst e nas pinturas de Iberê Camargo. Ora aproximando, ora distanciando mas seguindo sempre a construção imagética do corpo presente na obra desses dois artistas. Após as leituras do livro de Hilst, e as imersões visuais nas pinturas de Camargo, foram detectados, a priori, alguns elementos recorrentes nessas obras e que possibilitaram uma primeira análise. Digo a priori por se tratar de objetos artísticos, e porque durante o processo da pesquisa sobre as obras e a pesquisa em artes, outros elementos foram surgindo, suscitados pelas leituras teóricas. Mesmo focando exclusivamente na imagem do corpo na obra de Hilst e de Camargo, sei da inesgotabilidade do assunto.