Revista Pensar(es) 21 - Junho de 2016

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ensar(es)

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A Casa Amarela Conceição Dias . Professora de Inglês “A Casa Amarela, desbotada e carcomida, abandonada por aqueles que lhe davam alma, cor e som ressuscita, agora, das suas próprias cinzas”

S

ituada no centro da cidade, no chamado centro histórico, a Casa Amarela ergue-se imponente e majestosa na sua estrutura de pedra; são 80m2 distribuídos por três andares, encaixados entre outras casas, mais ou menos da mesma época, mais ou menos dentro da mesma arquitetura, personagens do mesmo tempo, testemunhas de tantas vivências… A Casa Amarela resiste ao peso incomplacente dos anos que vai deixando as suas marcas na fachada principal, agora desbotada e carcomida, tal como crava as rugas nos rostos das pessoas deixando claro a sua tirania, o seu domínio sobre tudo e todas. Com as suas janelas em guilhotina, aos quadradinhos, a varanda estreita e comprida ao longo do último piso, as janelas que se abrem para o telhado das outras casas, por onde entravam os gatos vadios e saíamos nós, as crianças de então, para explorar telhados, casas decrépitas, para vigiar a minha avó que no tanque do nosso estimado terraço lavava a roupa, descascava feijões, costurava os “olhos”( como ela dizia) que teimavam em aparecer nas calças, por cima do joelho, nos cotovelas das camisolas, nas meias, enfim, nas suas lides diárias de dona de casa prendada, de mulher, mãe, avó, sogra querida… O telhado, por vezes traiçoeiro e escorregadio

pregava-nos partidas e não raras vezes a minha irmã, muito mais aventureira e destemida do que eu, aterrava no terraço solarengo da nossa Casa Amarela, mesmo em frente à minha avó, descoberta na sua demanda, flagrada em delito, exposta na sua traquinice de menina travessa e rebelde; uma Maria-Rapaz como tantas vezes lhe chamávamos. Voltemos à Casa Amarela, à sua porta principal ornamentada por dois rendilhados encaixes em ferro, um batente (em forma de punho) polido pela tia Arminda que energicamente o deixava luzente e dourado todos os fins-de-semana. A fechadura pesada que albergava uma chave igualmente pesada emitia um estalido sempre que se entrava ou saia de casa. Talvez por isso, quiçá, a porta da Casa Amarela nunca estivesse trancada… por ela passavam as crianças da rua que subiam a larga escadaria, de caminho ao terraço, ou mais dois lances de escadas rumo ao segundo andar não sem antes admirarem a altíssima


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