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Desabafos de um aluno surdo Cristóvão Pereira . Aluno do 12ºA
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Por vezes sinto-me discriminado involuntariamente na escola.
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minha vida, antes de entrar para a escola referencial de surdos, era muito mais difícil e até mais cansativa. Tive sempre muitas aulas de apoio e nessas aulas nunca tive intérprete nem sabia LGP (Língua Gestual Portuguesa). Depois de entrar para a nova escola, a minha vida mudou. Comecei a ter menos apoios e intérprete nas aulas. Esta mudança fez com que eu tenha começado a perceber melhor a matéria dada nas aulas. Alem disso, fora da escola, também tinha dificuldades em perceber o que os meus amigos ouvintes diziam e não me fazia entender por eles. Até com a família as dificuldades eram muitas, tanto para eles me perceberem como para eu os perceber a eles. Hoje ainda tenho dificuldades em perceber o que os meus amigos ouvintes dizem, embora essas dificuldades agora sejam menores porque já tenho amigos que sabem LGP. Estou convencido de que quando entrar para a universidade vou ter outras dificuldades ao viver sozinho, porque quando viajo vou sempre acompanhado.
Por vezes sinto-me discriminado involuntariamente na escola. No meu dia-a-dia na escola, para a entrada para as aulas, quase sempre chego atrasado por não ter ouvido o primeiro toque. A escola necessita de uma grande mudança que consiste em instalar campainhas luminosas, porque os surdos usam a visão em vez da audição. E nas aulas, por vezes, os professores pedem ao aluno surdo com aparelho auditivo ou com implante para traduzir para os seus colegas surdos que não perceberam, o que se torna muito cansativo. Para impedir que os professores peçam essa ajuda a esses alunos, deviam fazer mímica ou escrever num papel. Ou então, os professores podiam inscrever-se em formação de Língua Gestual. Assim facilitava a comunicação entre professor e aluno.