CAPA
O PLEITO SÓ ESTÁ COMEÇANDO O PANORAMA DO DIREITO NO BRASIL, ELENCADO POR MAGISTRADAS E ADVOGADAS QUE SENSIBILIZAM E EQUILIBRAM A JUSTIÇA, GALGANDO COM VIRTUOSA ASCENDÊNCIA A PRESENÇA FEMININA NESTE PODER POR MORILLO CARVALHO, ERIC ZAMBON E DANIEL CARDOZO « FOTOS CELSO JUNIOR
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ara que se reflita sobre a linhagem do feminino é necessário haver mulheres disruptivas ao status quo nas quais outras tais possam se inspirar. O que a GPS|Lifetime propõe, nesta edição, é um mergulho sobre as reflexões de sete mandarins de distintos perfis, que têm o Direito como ponto em comum. Partindo das três personagens convidadas para a nossa capa, a presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Maria Cristina Peduzzi, a desembargadora federal e ex-corregedora do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Maria do Carmo Cardoso, e a advogada Fernanda Hernandez, buscamos compreender o Judiciário como o feminino do Brasil. Em comum, todas iniciaram carreira na advocacia. Peduzzi a exerceu no âmbito privado. Cardoso foi militante por 25 anos. E Hernandez tornou-se notória na área de direito público com seu escritório. Tem algo mais que as unifica: são poliglotas, dedicadas à família e entusiastas da literatura. Quanto ao pensamento comum sobre advocacia e magistratura, entendem que tal compartilhamento obedece à lei dos vasos comunicantes e integra o perfil constitucional da autonomia e independência do Poder Judiciário. Conversar com Maria Cristina Peduzzi e captar suas referências, que vão da escritora inglesa Virgínia Woolf à professora da Universidade da Califórnia Ângela Davis, é, como ela própria defende, uma comunicação à sociedade: “meninas, podem sonhar em chegar aos postos mais altos que queiram”. Além de tornar-se a primeira presidente mulher do TST, Peduzzi lidera o braço do Judiciário com maior participação feminina. Há 50,5% de magistradas em atividade. Com a desembargadora federal Maria do Carmo Cardoso – que atua no Distrito Federal e em 13 esta32 « GPSLifetime
dos da federação, com 39% da magistratura feminina –, é deleitar-se numa aula sobre a vasta experiência na corregedoria e perceber o quanto ela enriqueceu a Justiça Federal da Primeira Região. Nascida no interior do Paraná, a magistrada federal traçou um caminho de genialidade para chegar à corte regional que responde por mais de 80% do território nacional. A advogada Fernanda Hernandez, extremamente estudiosa, mostra como equilibrar a excelência necessária no esforço para vencer grandes causas nos tribunais superiores, enquanto administra um escritório virtuoso, que lhe rendeu dezenas de títulos por seu pioneirismo feminino. O prestígio alcançado a credencia para participar dos grandes debates jurídicos. Ao trio, elencamos outras quatro mulheres de extrema relevância: as desembargadoras Ana Maria Amarante e Sandra De Santis, 1ª e 2 ª vice-presidentes do TJDFT, respectivamente; a desembargadora federal e atual corregedora do TRF1, Ângela Catão; e a procuradora-geral do DF, Ludmila Galvão. Todas compõem o leque da complexidade humana. Revolucionam jurisprudências e rompem estruturas dominantes. O último Censo do Poder Judiciário, sobre o qual o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) se debruçou para produzir recorte de gênero em 2019, identificou que 35,9% da magistratura – sendo do sexo feminino 44% dos juízes substitutos – e 56,2% de servidores do Judiciário são formados por mulheres. Na outra ponta, as ministras de tribunais superiores são apenas 16% – mas é preciso recordar que, há apenas 31 anos, Cnéa Cimini Moreira de Oliveira entrava para a história por ser a primeira mulher no Brasil, e a segunda no mundo, a ocupar o cargo de ministra em tribunal superior. O pleito só está começando.