PODER & INSTITUIÇÕES
Movimento pela ‘independência’ da região busca instalação de um País no norte do Brasil Mencius Melo – Da Revista Cenarium
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ANAUS/BELÉM – “O Brasil é uma nação invasora da Amazônia”, assim falou de Belém, no Pará, à reportagem da REVISTA CENARIUM, o sociólogo Ângelo Madson Tupinambá, diretor de Comunicação da “Associação Cultural dos Povos da Amazônia”, Organização Não Governamental fundada em
País ‘República dos Povos da Amazônia’, cuja capital seria Santarém, no Pará, que se tornaria um distrito neutro e formaria uma espécie de corredor diagonal para interligar as grandes cidades de Belém (PA), Manaus (AM) e Porto Velho (RO). “Sempre existiu esse sentimento de pertencimento a uma nação que tem uma
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O Grão-Pará era uma província totalmente ligada a Portugal, tanto é que nossa anexação ao Brasil tem exatos 197 anos, só que isso não é ensinado nas escolas”
Julian Machado, historiador. 2019 e registrada oficialmente em Manaus, no Amazonas. O movimento ‘independentista’ e não ‘separatista’ – como quer que seja reconhecido – segundo o historiador Julian Machado, de Manaus, é inspirado na maior revolução popular que aconteceu no norte do Brasil: a Cabanagem, revolta popular e social ocorrida entre 1835 a 1840, durante o Império no Brasil, na antiga Província do Grão-Pará, hoje estado do Pará. A rebelião tinha como objetivo a independência da região. Não é à toa que o movimento é chamado de ‘Cabanagem 2.0’. O debate sobre o movimento começou em Belém e o grupo foi registrado em Manaus. Entre as pautas independentistas estão a adoção de uma bandeira única do futuro 14
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história e uma cultura única e um único povo que é o povo amazônida”, destacou Ângelo Tupinambá.
ENDOCOLONIALISMO Para o sociólogo, é preciso romper com o endocolonialismo do Estado nacional brasileiro e com as ideias que estão cristalizadas no imaginário popular e no discurso oficial. “Tudo que acontece de ruim com a nossa região tem o dedo do Brasil”, criticou Ângelo. “Vivemos subjugados ao longo da história, história essa alicerçada na retórica demografia de que a Amazônia é um ‘grande vazio humano’, o que, obviamente, não é verdade”, observou. Já o historiador manauara Julian Machado reforça que é questionável o papel
“O Grão-Pará não dialogava com o Rio de Janeiro (então capital da colônia) e era uma província totalmente ligada a Portugal, tanto é que nossa anexação ao Brasil tem exatos 197 anos, só que isso não é ensinado nas nossas escolas”, observou o historiador. Por sua vez, para o sociólogo paraense, a cultura de relegar ao norte um papel secundário está na raiz da história. “A Amazônia e o Brasil têm histórias completamente diferentes e a nossa primeira luta é convencer o nosso povo sobre essa realidade”, declarou.
‘TENTÁCULOS’ Como o movimento é recente, a organização está buscando tentacular em todos os Estados da Amazônia. Com núcleo político em Belém e em Manaus, Ângelo informa que também já existem adeptos em Roraima, Rondônia, Tocantins e Amapá. “Estamos buscando aliados no Acre, que é o único Estado que ainda não conseguimos avançar”, acrescentou Ângelo Tupinambá. Apesar de lembrar movimentos divisionistas como os que atuaram na Espanha e na Irlanda até os anos 1990, a organização descarta qualquer propensão à luta armada e avalia no futuro tornar-se um partido político. “Nossa organização é cultural e o plebiscito é a nossa bandeira, por isso acreditamos que nosso viés tem um papel sedutor, pois precisamos ganhar corações e mentes”, definiu Tupinambá. Como exemplo, Ângelo cita o próximo passo cultural do grupo que é lembrar, no dia 16 de outubro, o “Massacre do Brigue Palhaço*” ocorrido em Belém, no ano de 1823. “Precisamos resgatar essas datas que são muito importantes para a reafirmação da nossa história”, comentou. “Nossa luta prioritária é conseguir fazer com que a história da Amazônia passe a fazer parte da grade curricular do ensino básico na nossa região”, declarou Julian Machado.
Crédito: Ricardo Oliveira
AMAZÔNIA SOBERANA
atribuído ao Estado brasileiro, na formação geopolítica da Região Norte. Ele reforça que Portugal tinha duas colônias: o Brasil e o Grão-Pará.