Plant Project #35

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

A REVOLUÇÃO DO BIOGÁS

O potencial bilionário da transformação de resíduos da agropecuária em energia

A MARCA DE FÁVARO Como o ministro da Agricultura quer imprimir um selo verde na produção brasileira

COMMODITIES POR QUE O MILHO GANHOU STATUS DE GRÃO DE OURO NO BRASIL

TECNOLOGIA MINERAL, A AGTECH COM DNA DO GOOGLE

CINEMA

Nordestern, o bangue-bangue à brasileira, ganha as telas

DINASTIA A CACHAÇA CONSCIENTE DA FAMÍLIA ALMEIDA BRAGA

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RECOMENDA

koppert.com.br

Editorial

A MARCA DA PLANT

Até a chegada de Andrea Vianna, a PLANT PROJECT eram apenas ideias e palavras. Nossa criativa diretora de arte deu-lhe forma e beleza. Tornou-a única, como ela mesma era. Desde meados de 2016, quando nos reunimos pela primeira vez para discutirmos o projeto gráfico da publicação que queríamos criar, sabíamos que faríamos algo que nunca havia sido tentado, que teria identidade marcante, elegante em sua simplicidade. Design, formato, papel, tudo importa. O agro como ninguém tinha mostrado antes, como prova essa galeria com as nossas 36 capas.

A querida Deia materializou, com seu talento, a personalidade da PLANT. Quando iniciávamos o fechamento desta edição, nos deixou. Ficaram aqui sua visão, sua sensibilidade.

Calhou de ela ter partido em uma edição destinada a marcar o fim de um ciclo. Despeço-me também aqui da direção editorial da PLANT, produto gestado em parceria com o amigo Phelipe Pedroso e com o apoio da família Nastari, com a certeza de que contribuímos para apresentar o agronegócio em sua face mais moderna, sofisticada e cosmopolita. Uma face que boa parte do agro nem mesmo conhecia.

Obrigado, Deia. Você deixou sua marca.

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PLANT PROJECT Nº26 venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br Para quem pensa, decide e vive o agribusiness O AGRO EM MIGRAÇÃO Como as mudanças climáticas estão mudando o mapa global da produção GESTÃO TIPO EXPORTAÇÃO Grandes empresas agrícolas se tornam exemplo de governança e eficiência FOODTECH O APETITE DOS INVESTIDORES PELAS CARNES DE LABORATÓRIO DO GELO AO ESPAÇO ]As lições da produção de alimentos na Antártida PESQUISA O retorno bilionário do investimento em ciência no campo TESOURO NO DOURO O DONO DA MRV CONSTROI UM PEQUENO IMPÉRIO DO VINHO EM PORTUGAL Para quem pensa, decide e vive o agribusiness A ECONOMIA DA SOJA O pequeno grão já vale meio trilhão e é o principal pilar do desenvolvimento do país AGRICULTURA REGENERATIVA O QUE É VERDADE E O QUE NÃO É NOS RUMORES DE NEGOCIAÇÃO DE UMA DAS MAIORES FAZENDAS DO BRASIL HORTA CONECTADA AS STARTUPS QUE ESTÃO ELIMINANDO OS ATRAVESSADORES E LEVANDO TECNOLOGIA AO PEQUENO PRODUTOR FRONTEIRA DE PRESERVAÇÃO E RENDA PARA AGRICULTORES NO PARÁ PLANT TALKS SUSTENTABILIDADE, CRÉDITO, SEGUROS E OUTROS TEMAS EM QUATRO ENTREVISTAS ESPECIAIS AGRONEJO QUEM SÃO OS ARTISTAS QUE TRANSFORMARAM A DEFESA DO CAMPO EM SUCESSO MUSICAL distribuição dirigida www.plantproject.com.br Para quem pensa, decide e vive o agribusiness O AGRO EM 2023 Novo ano, novo governo: o cenário e as perspeCtivas para o setor CIÊNCIA STARTUP VIABILIZA PRODUÇÃO DE GRANDES COMMODITIES EM FRONTEIRA A ROTA DA FRUTICULTURA MÁQUINAS POR QUE AINDA NÃO USAMOS TRATORES ELÉTRICOS? GASTRONOMIA A revolução dos queijos artesanais da bioenergia MEMÓRIA ROLANDO BOLDRIN: O LEGADO DO SR. BRASIL INVESTIMENTO Quem são os banqueiros reflorestadores venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br Para quem pensa, decide e vive o agribusiness venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br PERSPECTIVAS 2021 AS SEMENTES DE OTIMISMO QUE BROTAM DO CAMPO PLANT TALKS ODÍLIO BALBINOTTI FILHO FAZ A PONTE DA LAVOURA COM O AGRO DIGITAL FRONTEIRA ÁFRICA, UM CONTINENTE DE OPORTUNIDADES QUE O BRASIL PODE ESTAR PERDENDO BEBIDAS O RITMO DAS CERVEJAS ESPECIAIS, DO SAMBA AO HEAVY METAL PERFIL Sem pressa e sem alarde, herdeiro do Unibanco caça unicórnios AgTech ENERGIA RENOVADA No ano de estreia do RenovaBio, o setor sucroenergético supera desafios e se firma como âncora da sustentabilidade no agro

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Diretor Editorial

Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br

Diretor Comercial

Renato Leite

Marketing e Publicidade Multiplataforma renato.leite @plantproject.com.br

Diretor

Luiz Felipe Nastari

Arte

Andrea Vianna (in memorian)

Projeto Gráfico e Direção de Arte

Editor

Romualdo Venâncio romualdo.venancio@plantproject.com.br

Colaboradores :

Texto: Amauri Segalla, André Sollitto, Iva Velloso, Livia Andrade. Marco

Damiani, Romualdo Venâncio, Ronaldo Luiz Design: Thaís Rodrigues, Bruno Tulini

Produção

Daniele Faria

Revisão

Rosi Melo

Eventos

Simone Cernauski

Administração e Finanças

Cláudia Nastari

Sérgio Nunes

publicidade@plantproject.com assinaturas@plantproject.com

Impressão e acabamento: Piffer Print

7 A

g pág. 15 F FORUM

o pág. 75 F FRONTEIRA

r pág. 81 W WORLD FAIR pág. 89 rA ARTE pág. 97 S STARTAGRO pág. 103 M MARKETS pág. 114

EDITORA UNIVERSO AGRO LTDA. Calçada das Magnólias, 56 - Centro Comercial Alphaville – Barueri – SP CEP 06453-032 - Telefone: +55 11 4133 3944 Índice
GLOBAL
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pág.
AGRIBUSINESS

Compasso de espera:

Por que as indústrias de alimentos e bebidas dos EUA estão tirando o pé do mercado de cannabis

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

G
foto: Shutterstock

ESTADOS UNIDOS

UM FREIO NA FEBRE

A indústria de alimentos e bebidas apostou alto no uso do ingrediente mágico. Faltou combinar com o governo

Estava tudo montado para a comemoração. Produtores rurais, indústrias de ingredientes, fabricantes de alimentos e bebidas e, no fim da cadeia, até mesmo grandes grupos de varejo. Bilhões de dólares foram colocados na mesa à espera da regulamentação da Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo americano encarregado de avaliar e liberar a comercialização de alimentos e medicamentos. Na hora H, porém, ela não veio e frustrou os planos de todos que investiram no surgimento de um enorme mercado: o de produtos de consumo à base de cannabis.

Era uma expectativa que já durava alguns anos. Em 2019, por exemplo, a cervejaria cana-

dense Molson Coors anunciou parceria com produtores de cannabis. A Costellation Brands –com um vasto portifolio de marcas conhecidas como os vinhos Robert Mondavi e as cervejas Corona – reservou US$ 4 bilhões para investir no potencial desse mercado. As empresas lançaram produtos no Canadá e em partes do EUA, onde os produtos de cannabis são legais, como o Colorado. De refrigerante a jujubas, surgiu uma infinidade de produtos que infundiam a droga de diferentes maneiras.

Mas era uma aposta com certo risco. Embora o uso medicinal da cannabis seja legalizados em 37 dos 50 estados americanos, havia um vácuo na legislação federal em

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GLOBAL O lado cosmopolita do agro
DA CANNABIS G
foto: Shutterstock

torno do assunto, o que deixava toda essa indústria em uma zona, digamos, esfumaçada.

A esperança de que essa fumaça se dissipasse estava em uma decisão a ser tomada pela FDA em torno de uma petição para que produtos com infusçao de cannabis pudessem ser comercializados como suplementos dietéticos. No dia 26 de janeiro passado, a resposta que ouviram foi não.

No comunicado da decisão, Janet Woodcock, vice-comissária da FDA, afirmou que a cannabis apresenta certas preocupações de segurança a longo prazo.

Estudos mostraram o potencial de danos ao fígado, interações com certos medicamentos e possíveis danos ao sistema reprodutor masculino”, disse. “A exposição ao CBD [sigla para canabidiol, uma das substâncias presentes na cannabis] também é preocupante quando se trata de certas populações vulneráveis, como crianças e grávidas.” E comunicou que a FDA planeja trabalhar com o Congresso

A produção de cannabis e bebidas com infusão de canabidiol: mercado envolto em nuvem de incertezas

americano para criar um novo caminho regulatório com salvaguardas para mitigar riscos, incluindo rotulagem clara, prevenção de contaminantes, limites de conteúdo de CBD e uma idade mínima de compra.

“A aprovação do FDA era para ser o momento em que grandes empresas pensariam em entrar no CBD”, disse Erwin Henriquez, consultor de pesquisa de mercado da Euromonitor International. A reação da indpustria veio, no entanto, na direção contrária e os primeiros movimentos foram de retirada. A Molson Coors anunciou o encerramento de uma parceria com a Hexo, empresa fornecedora de produtora de CBD. A Constellation, decidiu reduzir em US$ 1,1 bilhão o valor de seu investimento no setor.

O receio das empresas é o de que a incerteza demore por muito tempo ainda, adiando de forma indeterminada a possibilidade de que o mercado ganhe espaço nas gôndolas de supermercados e, assim, a escala

necessária para trazer retorno a esses investimentos. Algumas empresas simplesmente desistiram de fazer negócios nos Estados Unidos.

Um exemplo é a Nextleaf Solutions, que produz CBD como ingrediente para aplicação em alimentos e bebidas e é dona de 19 patentes nos EUA para extração e purificação de canabinóides de cannabis e cânhamo. A falta de regulamentação fez com que a empresa evitasse fabricar produtos de CBD nos EUA, alegando não poder atender às suas necessidades de gerenciamento de qualidade – rastrear o ingrediente em toda a cadeia de suprimentos – da mesma forma que pode no Canadá.

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G

FAMA, BEBIDA E MILHÕES...

Um conhaque francês, uma multinacional das bebidas com sede e Porto Rico e uma estrela americana da música. Misture bem e o que você vai obter é um embroglio milionário, que parece ter chegado ao fim. A disputa foi em torno da marca D’Ussé, produzida na França, mas que tinha como sócios a Bacardi –uma das maiores produtoras de bebidas do mundo – e o astro do hip-hop Jay-Z. O músico, incluído na lista de bilionários da Forbes, propôs vender sua participação de 50% à empresa por US$ 1,5 bilhão, mas recebeu uma contraproposta de US$ 460 milhões. O desencontro de cifras levou o caso aos tribunais e só foi resolvido após um processo de arbitragem. Os valores finais do acordo não foram revelados, mas sabe-se que a Bacardi aumentou sua participação na D’Ussé – que se posicionou entre as mais cobiçadas marcas de conhaque e cujas vendas crescem a taxas superiores a 30% ao ano – para 75% e que Jay-Z manteve uma participação significativa no negócio.

Não é a primeiro bom negócio do astro no setor de bebidas. Em 2014 ele tornou-se dono da marca de champanhe Armand de Brignac, Desde 2021, tem como sócio a Moët Hennessy Louis Vuitton, para quem vendeu metade da empresa. Jay-Z também não é a primeira celebridade a faturar milhões com marcas próprias de bebidas. O ator George Clooney foi uma espécie de precursor dessa tendência ao investir na marca de tequila Casamigos, no México, negociada em 2019 com a Diageo por nada menos que um US$ 1 bilhão. O chamado Efeito Clooney movimentou a classe artística. Confira algumas outras estrelas que movimentaram o setor de bebidas:

Jay-Z (acima) com garrafas da champanhe

Armand de Brignac e Clooney (à esq.) com a tequila

Casamigos: negócios bilionários com gigantes do mercado de bebidas

10 G FRANÇA

BOB DYLAN – o sucesso Heaven’s Door, composto por ele, batiza também a marca de uísques lançada em parceria com o empreendedor Marc Buschala. Eles comercializam três uísques no estilo americano -um bourbon de sete anos, outro com duplo envelhecimento em barricas e um uísque de centeio, envelhecido em barris de carvalho da cordilheira dos Vosges, na França.

KATE HUDSON – no copo e no cofre da atriz a preferência é pela vodka. Ela investiu em uma marca artesanal, a King St. Vodka, é comercializa com o apelo de ser livre de glúten e de grãos transgênicos, além de ser produzida com água alcalina.

DWAYNE “THE ROCK” JOHNSON – o Astro de films de ação também investiu em tequilas e se deu bem. No ano passado, fechou um acordo de distribuição global de sua marca Teremana com a gigante alemã Mast-Jägermeister.

KENDALL JENNER – a modelo lançou o rótulo de tequilas 818, que se tornou uma das mais requisitadas nos Estados Unidos e ganhou prêmios de qualidade. Mas lhe rendeu processos de ativistas, que a acusaram de promover “apropriação cultural”.

RYAN REINOLD – o ator de Hollywood tinha uma participação na marca Aviation American Gin. A Diageo adquiriu em 2020 por US$ 610 milhões.

BRYAN CRANSTON E AARON PAUL

– protagonistas da série Breaking Bad, os atores criaram a Dos Hombres, marca de mezcal. Em 2021, negociaram, por valor não revelado, uma participação minoritária com a Costellation Brands.

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PORCOS NO ARRANHA-CÉU

De fora, edifício lembra um condomínio popular, como tantos outros na China. Nos arredores da cidade de Ezhou, na margem sul do rio Yangtze, ele se eleva a 26 andares e é plenamente habitado desde outubro passado. Outro semelhante está sendo erguido ao lado e, quando estiver pronto, os dois juntos abrigarão 1,2 milhão de “moradores”, permanentemente monitorados por câmeras de alta definição a partir de uma central de controle high-tech. As megafazendas verticais são a solução encontrada pelo governo chinês para turbinar a produção de suínos no país – que consome nada menos que metade de toda a carne

suína produzida no mundo. Cada andar deles funciona como uma granja independente para cada fase da vida dos porcos. Ali eles são criados e alimentados até o abate, em uma escala industrial. A ração (mais de 450 mil quilos por dia) é transportada em correias até o último andar e depois distribuída pelos andares por um sistema automático. Com esse sistema, a China pretende também modernizar a suinocultura local,

antes dependente de milhões de pequenos produtores praticamente sem nenhum controle sanitário. Por conta disso, o país sofreu perdas com constantes infestações, como a febre suína africana que devastou mais de 40% de seu rebanho em 2018. Mas é exatamente a alta concentração de suínos em um só local que preocupa os críticos do sistema: não ficariam, assim, ainda mais vulneráveis em caso de uma nova peste?

ESTADOS UNIDOS

VACINA PARA ABELHAS

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em ingês) aprovou, em caráter condicional, a primeira vacina destinada a insetos. O produto mostrou-se eficaz na proteção das abelhas contra a loque americana, uma doença destrutiva e mortal que pode acabar com colônias inteiras e que tem trazido grande prejuízo a agricultores, que depende desses polinizadores em sua

produção. A vacina é administrada oferecendo às abelhas uma irresistível substância açucarada, que lembra a geléia real. Essa substância é misturada pelos apicultores na comida fornecida às abelhas operárias, que secretam a geleia real para

alimentar sua rainha. Uma vez que a rainha ingere a vacina, imuniza as futuras gerações que ela trará ao mundo. A vacina foi desenvolvida em uma parceria entre a Dalan Animal Health e a Faculdade de Ciências Agrícolas e Ambientais da Universidade da Geórgia (UGA). “As pessoas não entendem como é difícil manter as abelhas vivas”, afirma Keith Delaplane, professor de entomologia e diretor do Programa de Abelhas da UGA, em um comunicado. “Não consigo imaginar um ramo da agricultura mais assustador. Requer atenção incessante.”

12 G CHINA
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MÉXICO

CONTRABANDO DE OVOS

Uma alta sem precedentes no preço dos ovos nos Estados Unidos – onde a dúzia subiu, nos últimos meses, de US$ 2 para US$ 5 em função da quebra de produção provocada por surtos de febre aviária –criou uma preocupação adicional nas fronteiras do país com o México, onde eles custam metade do valor. Autoridades alfandegárias mexicanas afirmam que tem sido cada vez mais frequente encontrar viajantes transportando grandes quantidades de ovos em direção ao vizinho do Norte. Nos últimos três meses, houve um aumento de 180% nas apreensões de ovos frescos, sobretudo na rota entre as cidades de Juarez, no México, e El Paso, no estado americano do Texas. Para quem é pego, o risco para economizar não tem compensado. Além da apreensão dos produtos, as multas aplicadas variam de US$ 300 a US$ 1 mil, em caso de compra para uso próprio. Se a intenção for revender nos EUA, a sanção pode ultrapassar US$ 10 mil.

ESTÔNIA SERRAGEM NA SUA RECEITA

Uma empresa da Estônia, pequena nação do Leste europeu, adotou uma abordagem diferente para prosperar no emergente mercado de alimentos alternativos. Ela propõe transformar resíduos secundários das indústrias agrícola e madereira, como a serragem, em substitutos para gorduras vegetais com maior impacto ambiental, como os óleos de palma e de coco. Com esse discurso, a startup ÄIO já levantou US$ 1,2 milhão com investidores europeus para intesificar as pesquisas com sua técnica de produção proprietária. Ela usa um processo de fermentação que, segundo a empresa, é semelhante à fabricação de cerveja ou à fermentação de pão com fermento. No processo de fermentação, o protagonista é o micróbio que eles chamam de “red bug”, criado e patenteado por seus sócios. O resultado, segundo a ÄIO, são gorduras ricas em ácidos graxos saudáveis e antioxidantes. “Nosso “bicho vermelho” não pode transformar água em vinho, mas pode transformar serragem em comida”, disse Nemailla Bonturi, formada em Biotecnologia na Unesp, doutora em Engenharia Química pela Unicamp e agora radicada na Estônia, onde é cofundadora da empresa.

“Transformar fluxos secundários de baixo valor em algo tão valioso é muito seguro para o futuro e tem grande potencial de negócios escaláveis”, disse Mika Kukkurainen sócio e fundador da Nordic Foodtech VC, que liderou o investimento.

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O agronegócio aposta no potencial do biogás como uma nova fonte de energia e de receitas

AAGRIBUSINESS g

Empresas e líderes que fazem diferença

foto: Shutterstock

Ag

Empresas e líderes que fazem diferença

Biodigestor em projeto da CiBiogás, no Paraná: tecnologia em evolução

BIOGÁS: ENERGIA QUE RENOVA O AGRO

Produzido a partir da decomposição de matéria orgânica, esse insumo permite que as cadeias agropecuárias transformem um passivo ambiental em ativo energético e ainda dissipe variações de preços e abastecimento em eletricidade e combustíveis

V enâncio
P or r omualdo

uando a reportagem da PLANT PROJECT visitou a Sekita Agropecuária, em São Gotardo (MG), para entrevistar Eduardo Sekita, na segunda temporada da série Top Farmers, surgiram dois fatores surpreendentes entre os vários motivos que justificaram aquela viagem. O primeiro deles é que o principal produto do rebanho que consagrou a empresa entre as maiores produtoras de leite do País era na verdade o esterco. Sim, os dejetos daquelas vacas holandesas de altíssimo padrão genético serviam como alternativa de adubo para evitar os altos custos dos fertilizantes químicos. O segundo é que, antes de esses resíduos nutrirem as lavouras de cenoura, alho, beterraba, repolho, batata e milho, passavam por um biodigestor e eram transformados em biogás, que na sequência gerava energia elétrica.

Trator movido a metano, da New Holland: nova fonte de combustível traz vantagem ao produto
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De acordo com o próprio Eduardo, essa energia limpa garantia autonomia de eletricidade da fábrica de ração para alimentar um rebanho, à época, de 1,5 mil vacas em produção, que forneciam diariamente 65 mil litros de leite. E já havia planos de garantir excedente para “jogar na rede elétrica e gerar créditos”. Essa entrevista aconteceu em abril de 2019, e embora essa integração de atividades que já ensaiava uma economia circular não fosse exatamente uma novidade naquele momento, de lá para cá o tema biogás ganhou novas proporções, abrindo espaço na matriz energética brasileira. Esse é apenas um exemplo do papel que tem o biogás como opção para transformar um passivo ambiental em ativo energético, como define o vice-presidente da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), Gabriel Kropsch. “E com alta rentabilidade, porque o custo de matéria-prima é negativo. O produtor ou a empresa teria de pagar para se livrar desses resíduos utilizados para gerar o biogás”, disse o executivo. De acordo com estatísticas da ABiogás, o agronegócio tem extrema relevância nessa transformação que gera ganhos financeiros e de

sustentabilidade. Segundo a entidade, o potencial brasileiro é de produzir 43,2 bilhões Nm3/ ano a partir de resíduos dos setores sucroenergético (48,9%), proteína animal (29,8%) e produção agrícola (15,3%). A área de saneamento, que inclui os aterros sanitários, responde por 6% desse montante.

Quando se projeta o impacto dessa produção de biogás, as estatísticas ficam ainda mais interessantes. Mapeamento feito pela ABiogás revelou que o potencial brasileiro para produção de resíduos é de 120 milhões de m3 por dia. “Se fôssemos aproveitar todo esse potencial, poderíamos substituir 25% da energia elétrica e 70% do consumo de óleo diesel”, afirmou Kropsch.

A expectativa da ABiogás é de que até 2030 seja possível aproveitar 32 milhões de m3 diários dos resíduos, apenas 26% do volume total. “E já seria suficiente para substituir 30% do consumo de óleo diesel, exatamente o percentual que importamos”, disse Kropsch. “Trocaríamos um combustível de fora, caro e poluente por outro nacional, renovável e sustentável.” Uma das metas da entidade é transformar a energia elétrica, combustível e térmica gerada pelo biogás em

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"Trocaríamos um combustível de fora, caro e poluente por outro nacional, renovável e sustentável."
Ag Reportagem de Capa
Gabriel Kropsch, vicepresidente da Associação Brasileira do Biogás

commodities energéticas amplamente utilizadas, com uma participação de 10% na matriz brasileira.

Como acontece no setor sucroenergético, em que as usinas podem direcionar sua produção para fabricação de açúcar ou etanol, dependendo da sinalização do mercado, o biogás também pode abastecer dois segmentos. Sua utilização para geração de energia elétrica ou combustível, com o biometano, vai depender da rentabilidade e da disponibilidade de infraestrutura e logística. Em ambos os casos, quanto mais próximo da rede de distribuição, mais vantajoso se torna. Para o

biometano, ainda que a rede de gás canalizado esteja mais distante, pode-se optar pelo transporte por caminhões. “O custo vai aumentar, mas ainda assim pode continuar sendo uma fonte de renda interessante”, explicou Kropsch.

EVOLUÇÃO RECENTE

Não faz muito tempo que o biogás vem ganhando espaço nos debates sobre um agronegócio mais sustentável, com uma pegada de carbono menos impactante. Mas sua produção é um processo natural que existe desde que o mundo é mundo, segundo o vice-presidente da ABiogás. Kropsch explica que na

natureza não existe lixo, os resíduos viram matéria para outro processo, viram alimento para outra cadeia. E o biogás vem da decomposição da matéria orgânica, seja animal, seja vegetal. “O que a gente faz é replicar esse processo de forma industrial, com tecnologia, acompanhamento, maior volume de gás, mais segurança e de forma muito mais rápida. O que pode demorar 400 milhões de anos na natureza, embaixo da terra, a gente faz em dez dias com um biodigestor”, disse.

Em relação ao avanço tecnológico da produção de biogás, à evolução em pesquisa e desenvolvimento no setor

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Unidade de produção de fertilizantes da Yara em Cubatão (SP): uma das pontas da “rota do Biometano”, que começa no interior do estado

propriamente dita, pode-se dizer que o processo se intensificou de maneira mais coordenada nos últimos dez anos. Esse é o tempo de existência do Centro Internacional de Energias Renováveis, o CIBiogás, uma Instituição de Ciência e Tecnologia com Inovação (ICT+i) que nasceu dentro do ecossistema do Parque Tecnológico Itaipu (PTI). Mais do que gerar conhecimento para promover o biogás como recurso energético limpo e competitivo, o CIBiogás tem o pioneirismo em desenvolver soluções personalizadas para toda essa cadeia.

A partir dessa base científica, o Centro cria também plataformas para estimular o lado comercial dessa história. Como é o caso do BiogasClub, o primeiro clube de negócios do País com foco específico em biogás, e que já conta com 24 membros. Essa integração tende a crescer conforme vão ficando mais explícitas as oportunidades no setor. “A gente desenvolve tecnologia e fortalece o ecossistema do negócio”, afirmou o

diretor-presidente do CIBiogás, Rafael González. A ampliação do quadro de associados da ABiogás também reflete esse ambiente comercial aquecido. A entidade nasceu em 2013, com oito empresas, hoje são 140. “Muitas vieram de outros países para se instalar no Brasil”, disse Kropsch.

Uma importante prestação de serviços do CIBiogás está no Laboratório de Biogás, o primeiro no Brasil com o aval da Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (CGCRE), na norma ISO 17025:2017. Nessa unidade é possível avaliar o potencial energético das matérias-primas, oferecendo aos mais diversos segmentos a informação precisa sobre a capacidade de geração de energia daquele determinado insumo. “Atendemos desde uma empresa como a Raízen até um pequeno produtor, e já realizamos mais de 39 mil análises”, disse González.

Outro exemplo dessa atuação e da aproximação com o meio rural está dentro do Show Rural

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Coopavel, um dos principais eventos de tecnologia agrícola do Brasil e do mundo. Trata-se do Espaço Impulso, o Laboratório de Inovação do Agro, que oferece às empresas um ambiente que conecta tecnologia, educação do futuro, startups e um framework de inovação aberta.

O fato de a exposição acontecer no oeste paranaense amplia as chances de expandir a cadeia produtiva de biogás, pois a região é forte em produção de suínos, um dos segmentos com alto potencial de geração de biogás a partir dos dejetos animais. “E o resíduo do biodigestor pode se tornar um ótimo fertilizante, dessa forma não se perde nada. É o que chamamos de economia circular”, afirmou Kropsch, vice-presidente da ABiogás.

REAÇÃO EM CADEIA

Além de todas as vantagens econômicas diretas que o biogás pode oferecer às cadeias produtivas, há ainda algumas indiretas, como a valorização institucional do agronegócio brasileiro. O que, por consequência, acaba multiplicando as oportunidades de negócios. Segundo a ABiogás, energias renováveis, sustentáveis, geram muito mais empregos por unidade de energia do que a convencional.

Outro ponto é que o Brasil

pode se tornar exportador de produtos agropecuários com baixíssima – ou até negativa –pegada de carbono. Segundo Kropsch, é o que já vem acontecendo no setor de cerâmica. “O mercado internacional está demandando o fornecimento de cerâmica que utilize soluções sustentáveis em sua produção. Não vejo por que não aproveitar isso na pauta de exportação do agronegócio.”

Na onda de reduzir a pegada de carbono, a Yara Brasil, uma das principais indústrias do setor de fertilizantes, deu um grande passo em direção ao biogás. A partir do segundo semestre deste ano, a companhia deve começar a receber em sua unidade de Cubatão (SP) o fornecimento diário de 20 mil m3 de biometano, fornecido pela Raízen e produzido em Piracicaba, no interior paulista, a partir de vinhaça e torta de filtro da cana-de-açúcar. Essa conexão entre as duas cidades já é chamada de “rota do biometano” pelas empresas parceiras.

Esse volume representa menos de 3% dos 700 mil m3 de biometano que a Yara consome diariamente, o que abre várias possibilidades pela frente. “Já estudamos outros contratos com a Raízen”, afirmou a gerente de Desenvolvimento de Negócios e Sustentabilidade da Yara Brasil, Cíntia Neves. “E há

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"O biometano é o pré-sal caipira, pode ser feito de qualquer resíduo do agronegócio."
Cíntia Neves, gerente de Desenvolvimento de Negócios e Sustentabilidade da Yara Brasil

um terceiro produto que pode servir como matéria-prima que é o bagaço da cana. Ainda precisa de uma combinação de bactérias para acontecer, mas muito em breve pode surgir.”

Essa iniciativa é mais um dos passos da Yara na estratégia de descarbonização da cadeia de produção, que tem como metas reduzir em 10% a pegada de carbono por tonelada de nitrogênio até 2025 e alcançar a neutralidade climática até 2050. E um avanço rumo à amônia verde. “Por enquanto, apenas amônia renovável, pois ainda precisamos da certificação que nos permitirá chamá-la de verde”, comentou Cíntia.

Outro objetivo da Yara, quando de fato tiver a amônia verde, é completar a economia circular, abastecendo os canaviais da Raízen com o fertilizante produzido a partir de todo esse processo de descarbonização. E também as lavouras dos demais setores. “Com o fertilizante verde é possível reduzir a pegada de carbono na laranja, no café e em outros produtos”, afirmou Cíntia.

FONTE INESGOTÁVEL

Um dos principais pontos de conexão entre a agropecuária e a produção de biogás é a matéria-prima. “O biometano é o pré-sal caipira, pode ser feito de qualquer resíduo do agronegócio”, disse Cíntia. O comentário da gerente da Yara Brasil é reforçado pelo vice-presidente da ABiogás. Segundo Kropsch, além dos dejetos de fazendas e granjas, resíduos da produção de milho, mandioca e arroz (casca) também servem como insumo para gerar biogás. “Esse movimento, que começou forte pelos aterros sanitários, se expandiu pelo segmento sucroenergético e se espalhou por outras atividades que geram matérias com alto potencial”, afirmou.

Há cada vez mais exemplos de estudos e da aplicação de diferentes materiais para a produção do biogás. Na Dinamarca, por exemplo, vem crescendo o uso de palha nas usinas de biogás. De

acordo com os relatórios de biomassa da Agência Dinamarquesa de Energia, essa utilização passou de 14 mil toneladas no período 2015/16 para 193 mil toneladas em 2021/22. E pode crescer ainda mais com a meta do país de reduzir pela metade a produção pecuária para diminuir as emissões de gases de efeito estufa. Com essa medida, os dinamarqueses perdem boa parte da matéria-prima do biogás, os dejetos desses animais.

Entre as pesquisas para avaliar o potencial de diferentes materiais para produção de biogás aparecem bagaço de malte e de maçã, como informou a Agência Fapesp, a agência de notícias da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. O primeiro caso vem de um trabalho desenvolvido por quatro cientistas brasileiros e dois norte-americanos. O estudo mostrou que após ser purificado em metano, o biogás do bagaço de malte pode ser usado como biocombustível veicular com pegada de carbono muito baixa quando comparada à de fontes fósseis convencionais. E o resíduo final do processo ainda vira biofertilizante.

A experiência com bagaço de maçã foi realizada por cientistas das universidades Estadual de Campinas (Unicamp) e Federal do ABC (UFABC). Até por se tratar de uma das frutas mais consumidas no mundo, seja in natura, seja processada (suco, vinagre, cidra, entre outros), há um grande volume de subprodutos industriais, que em geral são simplesmente descartados. O estudo revelou um rendimento de 36,61 litros (L) de metano por quilo de sólidos removidos, o que pode gerar 1,92 quilowatt-hora (kWh) de eletricidade e 8,63 megajoules (MJ) de calor por tonelada de bagaço de maçã.

TANQUE CHEIO

A utilização do biometano como combustível coloca o biogás na rota da mobilidade sustentável. Inclusive dentro das fazendas. A New Holland trilhou esse caminho ao lançar o

23 PLANT PROJECT Nº35
A
g Reportagem de Capa

POTENCIAL BRASILEIRO NO

BIOGÁS

43,2 BILHÕES

Nm3/ano – potencial brasileiro de produzir biogás

120 MILHÕES de m3/dia – potencial de resíduos que podem virar biogás

DE ONDE VÊM OS RESÍDUOS:

48,9% setor sucroenergético

29,8% proteína animal

15,3% produção agrícola

6% saneamento

O APROVEITAMENTO TOTAL DESSES RESÍDUOS

SUBSTITUIRIA:

25% da energia elétrica

70% do consumo de óleo diesel

META DA ABIOGÁS:

- até 2030 aproveitar 32 MILHÕES de m3 dos resíduos

- esse volume representa 26% do total

- e já substituiria

30% do consumo de óleo diesel

Fonte: ABiogás
Ag Reportagem de
Capa foto: Shutterstock

primeiro trator movido a biometano, o T6 Methane Power, apresentado comercialmente no ano passado, durante a Expointer (Esteio, RS). O veículo fabricado na Inglaterra é resultado da estratégia da empresa de ser líder em energia limpa, processo que começou em 2006 e deu origem, em 2016, ao primeiro protótipo da linha T6.

Agora já existe até a perspectiva de a tecnologia ser aplicada em outros equipamentos. “Nada impede que seja expandida para colheitadeiras ou pulverizadores, por exemplo”, disse o especialista de Marketing de Produto da New Holland Agriculture, Juliano Perelli. De acordo com o executivo, já está em testes na Europa o TK4, um trator para vinhedos também movido a biometano. E, recentemente, foram divulgados os protótipos de um trator movido a gás natural liquefeito (GNL), o T7 Methane Power GNL, “e de outro totalmente elétrico com recursos autônomos”.

Além da redução nos custos com óleo diesel, outra vantagem desses veículos é livrar o produtor das incertezas do mercado de combustíveis. Desde que ele tenha um biodigestor na

propriedade, investimento que vale a pena, segundo Perelli, pois serão aproveitados resíduos que o produtor tem na própria fazenda. “E o biogás poderá abastecer toda a frota, desde os tratores até automó veis e caminhões, e ser utilizado na geração de energia elétrica para a propriedade”, acrescentou.

Segundo o vice-presidente da ABiogás, não falta nada para o biogás avançar no Brasil, a estrada já está pavimentada. “Do ponto de vista jurídico e tecnológico, está tudo muito bem resolvido”, afirmou Kropsch. Agora, como em qualquer segmento impulsionado por inovação tecnológica, é uma questão de tempo para que a cadeia produtiva ganhe mais potência. Existe ainda uma curva de adoção, mas conforme isso vai se difundindo, cada vez mais empresas vão entrando.

Kropsch reforça que o Brasil tem o potencial de ser o maior produtor de biogás do mundo, por conta do tamanho do que tem no campo, o que é reconhecido por representantes do mundo inteiro. “Temos algo que ninguém tem, que é a escala e o potencial de geração de biogás a partir desses resíduos do agro.”

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a tecnologia usada nos tratores seja expandida para colheitadeiras ou pulverizadores, por exemplo."
Juliano Perelli, especialista de Marketing de Produto da New Holland Agriculture
foto: Marcos Labanca

UMA NOVA ENERGIA PARA O BRASIL

Como, em dez anos de atividade, o CIBiogás e o PTI estruturaram o caminho para o presente e para o futuro da cadeia produtiva e dos negócios do biogás no País

Onegócio do biogás não é exatamente uma novidade no Brasil. Mas, comparado a outras cadeias de geração de energia, ainda faz pouco tempo que o setor vem ganhando espaço por aqui no fornecimento de um recurso energético limpo e competitivo e como solução para gestão de resíduos nos meios urbano e rural. Para o agronegócio, o benefício vai além: trata-se de uma grande oportunidade para tornar o setor cada vez mais sustentável e dar condições de atender às exigências locais e globais quanto à descarbonização e à preservação ambiental. Com essa evolução, o que era um problema transforma-se em matéria-prima para mudar a vida no planeta.

Essa história vem mudando e se intensificando nos últimos dez anos, a partir da criação do Centro Internacional de

Energias Renováveis, o CIBiogás, uma Instituição de Ciência e Tecnologia com Inovação (ICT+i) que nasceu dentro do ecossistema do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), criado pela Itaipu Binacional. Dessa sinergia vem o impulso para a formação e a consolidação da cadeia de biogás e biometano. Enquanto o PTI cria plataformas de negócios e inovação, o CIBiogás tem a capacidade de desenvolver modelos energéticos inovadores. “A Itaipu nos apresentou um desafio: tratar os resíduos da produção pecuária que impactam na qualidade de água do reservatório. E, assim, passamos a trabalhar sempre na fronteira do conhecimento em busca de soluções reais”, afirma o diretor-presidente do CIBiogás, Rafael González.

O CIBiogás atende toda a cadeia de biogás com um amplo

leque de soluções adequadas às condições e às necessidades de cada segmento. Um diferencial na prestação dos serviços do Centro é o Laboratório de Biogás, o primeiro no Brasil com o aval da Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (CGCRE), na norma ISO 17025:2017. Segundo González, o objetivo do laboratório é avaliar o potencial energético dos substratos. “Já realizamos mais de 39 mil análises”, disse o executivo. “Atendemos grandes empresas que buscam explorar o seu potencial de produção, até produtores rurais de distintas escalas.”

Além de promover negócios no setor, a empresa também oferece soluções personalizadas em toda a cadeia de biogás:

• Identificação de oportunidades de negócios;

• Serviços de laboratório;

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Plant +

• Estruturação de arranjo tecnológico;

• Construção de modelos de negócios;

• Captação de recursos para investimento;

• Projeto e especificação técnica de plantas;

• Implantação, planejamento e gestão da obra;

• Comissionamento de plantas;

• Operação assistida de plantas;

• Negócios em energia;

• Due Diligence;

• Cursos, capacitações e eventos.

OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS

A atuação conjunta do CIBiogás com o PTI visa a construir modelos de negócios inovadores e sustentáveis.

Exemplo prático desse conceito é o trabalho desenvolvido na Granja São Pedro Colombari, localizada em São Miguel do Iguaçu (PR), a primeira no País a utilizar o biogás como matéria para geração de eletricidade em

Geração Distribuída (GD).

O projeto transformou a necessidade de destinar corretamente os dejetos da produção de suínos em um fornecimento de 35 mil kWh/ mês em energia elétrica. E acabou gerando vantagens ambientais e econômicas, pois a produção de energia veio acompanhada da redução na contaminação do solo e da melhoria da qualidade do ar.

Outra inovação do projeto foi a criação do primeiro sistema de microrrede (microgrid) em área rural a biogás do Brasil. O sistema entra em atividade para abastecer uma pequena região rural em situações emergenciais de queda de energia elétrica da concessionária, abastecendo as propriedades conectadas até que a distribuição volte ao funcionamento adequado e servindo, assim, como um backup de rede.

Além de gerar novos negócios, essa iniciativa oferece

melhoria na qualidade de energia elétrica na área rural e segurança energética, fortalece arranjos locais, permite um novo papel do agronegócio na geração de energia elétrica e vincula a produção com a baixa emissão de carbono.

Outro exemplo do potencial de desenvolvimento do CIBiogás com o PTI está no município de Entre Rios do Oeste, também no Paraná. O biogás produzido a partir de dejetos da suinocultura em propriedades da região é transportado por mais de 20 quilômetros de tubulação até uma Central Termelétrica de 480 kW de potência.

Todos os dias, 215 toneladas de resíduos são transformadas em 4.600 m3 de biogás, gerando mais renda para os produtores e resolvendo um problema ambiental da principal atividade econômica do município.

Além disso, a área onde está instalada a Minicentral Termelétrica foi revitalizada com

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Central de Bioenergia de Toledo (esq.) e Granja São Pedro Colombari (centro): pioneirismo na geração distribuída de energia foto: Divulgação

Laboratório de Biogás: mais de 39 mil análises para empresas e produtores

estrutura de rede elétrica que fornece iluminação para os prédios públicos.

Rodrigo Régis de Almeida Galvão, diretor de Negócios e Inovação do PTI contribui sobre o papel da instituição. “O PTI atua como uma plataforma de negócio e inovação que transborda o setor de energia e conecta a cadeia produtiva industrial e do agronegócio. Um exemplo disso é o Hub de inovação do Espaço Impulso, onde diferentes soluções são validadas, incluindo a geração de conhecimento e inteligência de mercado”.

Também no oeste paranaense, o PTI integra o Espaço Impulso, o Laboratório de Inovação do Agro instalado no parque do Show Rural Coopavel, uma das principais feiras do agronegócio mundial, que somou em 2023 mais de 350.000 visitantes. Nesse espaço as empresas encontram uma fazenda experimental para obter validação técnica e merca-

dológica para soluções e tecnologias voltadas ao agronegócio.

Todo esse processo e essa ambientação podem ser aplicados às mais diferentes cadeias produtivas, de acordo com a capacidade de cada matéria-prima em gerar energia. O setor sucroenergético, por exemplo, tem alto potencial para esse aproveitamento, e pode agregar uma elevada melhoria de performance do negócio como um todo.

EVOLUÇÃO COLETIVA

O CIBiogás é um ecossistema empresarial e de inovação e conta com um grupo de de 41 empresas que contribuem diretamente no atendimento a toda a cadeia de biogás e biometano. Essa composição já mostra que o propósito do Centro é apresentar soluções que promovam uma evolução mais abrangente, envolvendo o setor como um todo.

Esse conceito deu origem ao BiogasClub, o primeiro clube de negócios focado em biogás no Brasil. Além de multiplicar as oportunidades comerciais no setor, o clube permite a ampliação do networking, o que contribui ainda para superar desafios na trajetória de evolução dessa cadeia produtiva.

Tal aproximação pode, inclusive, promover uma maior integração das empresas que oferecem diferentes soluções para cada elo dessa cadeia, criando pacotes tecnológicos mais completos. E ainda contribuir para a elaboração de políticas públicas que estimulem a evolução do setor, inclusive facilitando o acesso aos investimentos.

Esse caminho pode levar o Brasil a uma posição mais do que privilegiada na produção de energia limpa e acessível para um mundo mais sustentável. E o CIBiogás em conjunto com o PTI estão na dianteira dessa jornada.

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foto: Marcos Labanca
Plant +
foto: Alexandre Marchetti

UMA JOVEM COM MUITO GÁS

Com R$ 600 milhões em projetos para os próximos 18 meses, a Thermo Energy se prepara para ser referência no mercado de biogás

Os próximos meses prometem ser intensos para o empreendedor Roberto Maués, CEO da Thermo Energy, empresa com sede no Rio de Janeiro mas foco nas áreas produtoras do interior do Brasil. O calendário prevê uma série de datas marcantes para a consolidação da jovem empresa como uma importante desenvolvedora de soluções para um dos mercados mais promissores para a geração de energia no Brasil nos próximos tempos. Nos últimos quatro anos, a Thermo, como Maués se refere à companhia, se

dedicou a estudar, no mundo todo, as melhores e mais eficientes referências de mercado na produção de biogás e biofertilizantes a partir do uso de biomassa. Desenvolveu expertise e foi ao mercado. Agora, é hora de entregar. Em cerca de 50 dias está previsto o início de construção da primeira unidade contratada à empresa, que deve entrar em operação até outubro. Outros quatro projetos já estão alinhados para a construção de biorreatores – equipamentos que transformam passivos ambientais como vinhaça,

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Biodigestor em confinamento de bovinos: resíduos da produção têm potencial para mover setor do biogás em várias regiões do Brasil

esterco de galinhas poedeiras e resíduos de confinamentos de gado de corte e leiteiro, entre outros, em biogás e biofertilizantes – devem estar em funcionamento até agosto de 2024. “São investimentos que, somados, atingem R$ 600 milhões”, afirma Maués. “Queremos nos consolidar como os maiores integradores de biomassa em crescimento no Brasil. ”

Criada em 2015 no ramo Offshore e de máquinas térmicas (de onde inclusive surgiu o nome), a Thermo se transformou para se dedicar ao desenvolvimento de soluções energéticas renováveis e, posteriormente, fechar o foco no biogás – e, em particular, nos produtores de biomassa do agronegócio – em função do enorme potencial do setor nessa área. “O Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal, do mundo”, exemplifica Maués. “Temos condições de gerar projetos altamente sustentáveis, que combinem viabilidade econômica e sustentável com o aproveitamento do resíduo e ainda propicie o avanço do bem estar animal”, afirma. “É um mercado com evolução impressionante, muito rápida.”

O modelo de negócios desenhado pela Thermo se inicia pela busca de fontes de biomassa por região. Uma vez identificada uma possibilidade – em geral com capacidade de fornecimento diário superior a 50 toneladas de biomassa –, a empresa procura produtores, faz o estudo de viabilidade econômica e busca parceiros investidores. “É um modelo tripartite, reunindo produtor, operador e investidor”, explica o executivo. “A Thermo faz parte do equity em função do investimento na operação por no mínimo dois anos, como garantia de performance. Então, se o

próprio produtor tiver interesse na operação, fazemos uma nova negociação.” O biometano produzido já tem destino garantido: uma empresa distribuidora parceira absorve 100% do estoque, que então é fornecido para indústrias.

Não estamos preocupados apenas com a viabilidade econômica, mas sobretudo em tirar esse passivo do meio ambiente de forma regional”, diz Maués. “A sustentabilidade tem viabilidade quando o modelo econômico está funcionando. A gente entende que a prioridade na captura do CO2 e do metano é o que faz o projeto ser eficiente. Outras formas de usar biomassa, como compostagem, não promovem o mesmo impacto e não têm a mesma pegada de economia circular.”

Os modernos biodigestores utilizados nos projetos são de alta performance e trazem uma série de benefícios ambientais e sociais, além dos econômicos. A Thermo trouxe da Alemanha e nacionalizou o modelo construtivo, com tanques de concreto armado, totalmente herméticos.

Assim, há garantia de que não haverá vazamento de resíduos e traz a vantagem adicional de evitar a proliferação de vetores. Esse efeito sanitário poderá ser sentido em um projeto em implantação na região da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, que contará com uma parceria com uma ONG para a preservação da qualidade das águas do Rio Verde. Lá, os resíduos da produção favoreciam a reprodução de moscas e o mau cheiro, o que, durante anos, comprometeu a atividade turística. “A ideia agora é promover a volta do turismo e do desenvolvimento nas cidades da região”, afirma Maués.

A produção de energia é feita através de geradores vindos da China, país com larga

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expertise na produção de biogás. A produção de biofertilizantes, outro ativo importante obtido no processo, pode ser adaptada às necessidades de cada região. Para isso, pode-se controlar a população de bactérias dentro do biorreator para produzir o resultado desejado. As plantas construídas pela Thermo têm vida útil de pelo menos 15 anos sem a necessidade de intervenções para manutenção.

Os investimentos variam conforme a capacidade do biorreator. Para um projeto para 50 toneladas diárias de biomassa, por exemplo, o valor fica em torno de R$ 35 milhões, com retorno do investimento estimado em dois anos e meio. “É um payback bem rápido”, afirma o executivo. Além dos ganhos com o biogás e os biofertilizantes, há ainda a possibilidade de se obter rendimentos provenientes de créditos de carbono ou selos verdes, resultado da descarbonização das atividades agropecuárias.

“A geração de créditos de descarbonização tem chamado a atenção do mercado investidor e de potenciais parceiros”, afirma Maués. “Fora do

Brasil, há até operadores de óleo e gás interessados em fazer parcerias em que eles absorvem créditos e outros ativos ambientais que beneficiam na compensação das suas operações”, afirma Maués. Segundo ele, a modelagem dos projetos da Thermo é baseada nos ativos principais – biogás e biofertilizantes – e os ativos ambientais entram como bonificação. “É a cereja do bolo”, define.

No município de Lins, no interior de São Paulo, uma fazenda que cria gado em regime de confinamento já serve como referência desse modelo. O proprietário trabalhou com a Thermo a fim de modificar alguns processos, visando melhorar processos de bem-estar animal e de captação da biomassa, sempre com suporte de profissionais do setor para garantir a pegada de sustentabilidade. “O Brasil tem tecnologia de vanguarda pra isso, com potencial muito diversificado”, ressalta Maués. “Estudos mostram que o País pode ter uma produção diária de biomassa 30 milhões de metros cúbicos no futuro. Queremos uma fatia disso.”

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Maués, CEO da Thermo: "Queremos nos consolidar como os maiores integradores de biomassa em crescimento no Brasil”.

Ag Governo

A MARCA DE FÁVARO

Sustentabilidade: o legado que o novo ministro da Agricultura quer deixar para o agronegócio brasileiro. Em entrevista à PLANT, ele diz como pretende trabalhar nesse sentido

I va v elloso
P or
fotos: divulgação

história do atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, se confunde com a de milhares de produtores rurais que migraram da região Sul do País, nas décadas de 1970 e 80, em busca de uma vida melhor, incentivados pelo governo militar que queria “ocupar o vazio” da região Centro-Oeste. Quase quatro décadas depois, cabe a ele criar condições para que essa migração, que mudou a face do interior do Brasil, levando desenvolvimento e um importante debate ambiental, ganhe um novo sentido: mostrar ao mundo como produzir de forma sustentável.

À frente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Fávaro pretende deixar como legado o incentivo à produção sustentável, reduzindo a pressão sobre novos desmatamentos e promovendo uma mudança na imagem dos agricultores brasileiros no exterior. Para isso terá como base o tripé incentivo financeiro à produção sustentável; estimulo à pesquisa de incremento da tecnologia por meio da Embrapa e atração de recursos internacionais para fomentar a política de sustentabilidade.

“Se querem o Brasil com sustentabilidade, está aí uma grande oportunidade. Essa é uma política que vamos levar com muita determinação”, afirma Fávaro em entrevista exclusiva à PLANT. A equipe de Fávaro já trabalha com essa orientação. Está elaborando um programa de incentivo à produção com compromisso socioambiental com

propostas de juros equalizados, carência de três anos para pagar e um prazo de 10 a 12 anos para amortização do capital. A proposta deve ser anunciada no lançamento do Plano Safra deste ano, que ocorre geralmente no mês de junho. Além disso, quer atrair o BNDES para firmar parceria com o agro, a exemplo do que já ocorre com o Banco do Brasil. As tratativas nesse sentido já estão em andamento.

Fávaro acredita que o resultado final será uma maior proteção aos principais ativos ambientais do País, como as florestas, e uma mudança significativa na imagem dos produtores brasileiros no exterior. O ministro sabe que essa mudança de paradigma pode enfrentar resistência de parte de alguns produtores. “Uma minoria barulhenta”, segundo ele, mas que traz prejuízos ao agronegócio brasileiro.

HISTÓRIA

Em 1985, a família Fávaro trocou uma pequena propriedade em Bela Vista do Paraíso, no Paraná, por alguns hectares na região norte do Mato Grosso. Com poucos recursos, conseguiu adquirir uma propriedade próxima a um assentamento da reforma agrária, onde hoje se localiza o próspero município de Lucas do Rio Verde.

Na época, a ausência do poder público na região – havia falta de água encanada, postos de saúde, escolas, telefone e energia – transformou o

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entusiasmo da expectativa de uma vida melhor em decepção. Aos poucos, os produtores perceberam que precisavam criar meios para se fortalecer e conseguir melhorar a situação. Daí surgiram as associações de classe.

“A primeira rede de água encanada, a primeira repetidora de TV, a primeira rua asfaltada, o primeiro conjunto termoelétrico para gerar energia foi conseguido através da parceria com a associação de moradores”, conta o ministro ao relembrar as dificuldades vividas no Mato Grosso no início da jornada.

Hoje municípios como Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop, Rondonópolis, Sapezal, entre outros, se transformaram em ilhas de prosperidade no estado e estão entre os que mais crescem no País. O desenvolvimento dessas cidades deve-se não apenas ao agro, mas ao cooperativismo implantado pelos produtores rurais. Foi o trabalho na política de classe, também, que o levou ao Ministério da Agricultura.

POLÍTICA DE CLASSE

Em 2005, o agronegócio brasileiro enfrentou uma das suas piores crises – queda no preço das commodities, aumento do endividamento dos agricultores e valorização excessiva do real frente ao dólar, gerando uma crise cambial. Com isso, os produtores de soja reuniram forças para enfrentar a situação criando a Aprosoja Mato Grosso.

Escolhido como delegado da nova entidade, representando o município de Lucas do Rio Verde, Fávaro disse que sempre se questionava onde estava errando. Com essa reflexão, decidiu dedicar um pouco do seu tempo à política de classe buscando soluções para os seus problemas e dos demais produtores. Ele conta que cada vez foi ficando mais envolvido com essa atividade. Foi delegado coordenador e diretor administrativo da Aprosoja MT. Em 2010, foi vice-presidente da Aprosoja Brasil, época que participou como Conselheiro de Agronegócio da Fiesp.

Em 2007, foi eleito presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Lucas do Rio Verde (Cooperbio Verde), onde permaneceu até 2011. E presidiu a Aprosoja Mato Grosso de 2012 a 2014, quando se licenciou para ser candidato a vice-governador pelo PP na chapa vitoriosa, encabeçada por Pedro Taques.

Apesar de ter sido um dos fundadores do IPA (Instituto Pensar Agro), atualmente não integra a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a maior do Congresso Nacional. Garante que vem mantendo contato com representantes da Frente e que tem um bom diálogo, apesar de algumas divergências ideológicas.

No governo do Mato Grosso sempre desempenhou papel importante como vice. Em abril de 2016, foi nomeado secretário de Estado de Meio Ambiente, cargo no qual permaneceu até

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Na fazenda: vinda do Paraná, família Fávaro foi uma das pioneiras na produção agrícola na região de Lucas do Rio Verde (MT)

dezembro de 2017. Nesse período, de acordo com o boletim do desmatamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o estado reduziu em 32% a área desmatada. Foram 595 quilômetros de desmatamento contabilizados entre agosto de 2015 e março de 2016, contra 405 quilômetros de agosto de 2016 a março de 2017.

De temperamento conciliador e bastante acessível à imprensa mato-grossense, Fávaro sempre foi mais procurado pelos jornalistas e lideranças políticas locais que o próprio governador, o que gerou ciúmes por parte de Taques. Apesar de tranquilo, tinha seu próprio projeto político independente do governador. No final de 2017, deixou a Secretaria de Meio Ambiente para disputar uma vaga no Senado. Já nessa época a relação com o então governador Pedro Taques não andava boa. Temendo boicote à sua candidatura, em abril de 2018, apresentou carta de renúncia ao cargo de vice-governador, fato inédito na política mato-grossense.

AMOR DE INFÂNCIA

Batizado como Carlos Henrique Baqueta Fávaro, nasceu em 19 de outubro de 1969 no interior do Paraná. Mudou-se para o Mato Grosso

aos 16 anos. A amiga de infância e vizinha Claudinéia Vendramini, a Néia, sua esposa, nunca foi esquecida. Conheceram-se aos 7 anos. Ao mudar-se para o Centro-Oeste, ainda muito jovem voltou ao Paraná para buscá-la. Hoje estão prestes a completar 33 anos de casados – dia 17 de março –, são pais de Rafaela e Beatriz. Romântico, o ministro não tem problemas em se declarar para a esposa em suas redes sociais.

No dia dos namorados do ano passado escreveu: “No dicionário está escrito que namorar é empenhar-se em inspirar amor a alguém. A Claudinéia Fávaro é minha constante inspiração, empenho e amor”.

Ativo nas redes sociais, tem pouco mais de 28 mil seguidores no Facebook e Instagram e apenas 6,6 mil no Twitter. Com a chegada ao Ministério da Agricultura a tendência é de que esse número aumente consideravelmente. Sua antecessora, Tereza Cristina, contabiliza atualmente mais de 900 mil seguidores só na rede de Zuckerberg e outros 900 mil na do Elon Musk

AGRO E MEIO AMBIENTE

A questão ambiental tornou-se o grande desafio do atual ministro. Não por acaso, entre

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as suas propostas prioritárias está o estímulo ao compromisso dos produtores rurais com boas práticas ambientais e trabalhistas por meio da redução de juros e do aumento de prazos dos financiamentos agropecuários. Para ele, o meio ambiente é um ativo dos produtores rurais. “Nós temos que ter consciência de que não adianta ter gente vocacionada, terras propícias, máquinas de última geração, tecnologia em sementes, inseticidas, mas não ter chuvas. Todos esses ativos se perdem se a gente tiver num deserto, ninguém consegue produzir no deserto.”

Fávaro acredita que o agronegócio brasileiro tem sido visto como pária mundial por causa de “uns poucos, mas barulhentos” produtores que insistem no desmatamento ilegal, nas queimadas ilegais e no incentivo à invasão de terras

públicas. “Isso está acabando com nossa imagem no mercado internacional e acabando com o nosso principal ativo, que é clima.” O Brasil conta atualmente com 160 milhões de hectares de pastagens e 44 milhões de hectares de agricultura já implementados, que passa por duas safras ao longo do ano, performando algo em torno de 77 milhões de hectares.

Ainda de acordo com o ministro, dos 160 milhões de hectares de pastagens, algo em torno de 40 milhões de hectares são terras propícias para agricultura. Isso significa a possibilidade de um incremento da produção na ordem de 5 a 8%, sem a necessidade de desmatamento de novas áreas.

Por causa dessa visão progressista, acabou recebendo críticas da ala mais conservadora do agro, que se alinhou ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em meio à radicalização da campanha, em agosto do ano passado, a entidade que o projetou no cenário político, a Aprosoja, decidiu em assembleia que Fávaro não teria legitimidade para representar o setor como interlocutor em Brasília. Em nota, a instituição disse que, “ao apoiar as políticas do PT, como invasões de propriedades privadas, Fávaro entrou em divergência com os valores conservadores da classe produtora.”

Ciência e tecnologia

A Embrapa terá papel importante no planejamento do agro nos próximos anos. O ministro acredita que é preciso responder às seguintes perguntas: o que vamos produzir e de que forma vamos produzir em 2050? Esse questionamento tem que começar a ser avalizado agora a fim de que as pesquisas

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Em ação no ministério: em visita a Uberaba, recebendo o embaixador chinês e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva

possam direcionar a agricultura nos próximos anos. O desafio está sendo posto pela atual gestão do Ministério da Agricultura. O objetivo é de que o Brasil continue na vanguarda do agronegócio mundial. Nesse sentido, programas como o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) devem ser incentivados e os estudos aprimorados.

NO SENADO

Eleito Senador pelo Mato Grosso em 2020, numa eleição suplementar após a cassação da ex-juíza Selma Arruda, acusada de caixa dois, Fávaro disputou a vaga com o apoio de boa parte do agro. Derrotou o ex-companheiro de chapa Pedro Taques, que amargou o quinto lugar. Por causa da briga judicial com a ex-juíza Selma Arruda, Fávaro chegou a ocupar o Senado como substituto, já que havia ficado em terceiro lugar nas eleições de 2018. Sua atuação na casa sempre foi focada nas comissões de Agricultura e Reforma Agrária, Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional e Turismo.

Conseguiu, em pouco tempo, ter uma proposta de sua autoria aprovada e convertida na Lei 14.406/2022, que prevê o uso da aviação agrícola no combate a incêndios florestais. A proposta foi apresentada em meio à comoção nacional e internacional dos incêndios na floresta amazônica e no Pantanal entre os anos de 2019 e 2020. Na justificativa, Fávaro lembrou que a temporada das secas e dos incêndios coincide com a entressafra agrícola na maior parte do território brasileiro, época em que essas aeronaves ficam paradas. E lamentou as queimadas no Pantanal em 2020, tragédia que destruiu 26% do bioma.

UNIÃO DO SETOR

Questionado se vai conseguir unir o setor em torno de um agro mais moderno, Fávaro garantiu que de sua parte está aberto ao diálogo. “Uma das missões que temos aqui é construir pontes e não muros.” Para ele, faz parte da democracia escolher, defender e até financiar o candidato que quiser. O que não pode ser aceito são atos antidemocráticos e o desrespeito à legitimidade das urnas e das instituições.

Para o ministro, a melhor forma de conquistar o apoio e a confiança do setor será buscando rememorar aos produtores os anos de Lula como presidente e as oportunidades que trouxe ao País. “Mais do que a retórica eleitoreira de que ele é contra o agronegócio, de que ele vai acabar com o direito de propriedade, de que ele vai taxar as exportações, o exemplo é o que arrasta”, afirmou.

Fávaro deixou claro que não encontrou problemas ao assumir a pasta. Disse que, ao contrário do que ocorreu em outros ministérios, onde houve uma total desconexão com a finalidade da gestão pública, Tereza Cristina e Marcos Montes fizeram boa gestão. Aliás, ele fez questão de elogiar os que o antecederam citando nominalmente Blairo Maggi, Kátia Abreu, Neri Geller, Guedes Pinto, Reinhold Stephanes, Roberto Rodrigues, entre outros. Para ele, o bom desempenho dos ministros fez com que o Brasil desse um grande salto na produção. Talvez por isso tenha escolhido como principal desafio a sustentabilidade da agropecuária brasileira. Assim pode deixar a sua marca.

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Ag Governo
"Nós temos que ter consciência de que não adianta ter gente vocacionada, terras propícias, máquinas de última geração, tecnologia em sementes, inseticidas, mas não ter chuvas. Todos esses ativos se perdem se a gente estiver num deserto, ninguém consegue produzir no deserto."

NEMATOIDE DO BEM

OKoppert lança tecnologia exclusiva de bioinseticida para controle do bicudo da cana-de-açúcar

Para a maior parte dos produtores rurais, a palavra nematoides é sinônimo de prejuízo. Pragas presente no solo, esses seres costumam trazer perdas relevantes nas mais diversas culturas e estão entre as de mais difícil controle. Essa imagem, no entanto, nem sempre é justa. Líder global em defensivos biológicos, a Koppert Brasil acaba de lançar um “netamotoide do bem”, termo usado pelo coordenador de desenvolvimento agronômico da empresa, Marcelino Borges de Brito, para definir o Terranem, bioinseticida formulado com nematoides entomopatogênicos (Steinernema carpocapsae) e indicado para o controle do bicudo da cana-de-açúcar (Sphenophorus levis).

“O Terranem tem a função de controlar uma importante praga dos canaviais de uma forma sustentável e eficiente, sem o risco de prejudicar as plantações”, afirma Brito. O bicudo da cana é a espécie que causa mais danos ao potencial produtivo do canavial. Cada 1% de toco atacado pela praga provoca, em média, uma queda de 1,6 tonelada por hectare na produção de cana, segundo estimativas da Udop (União Nacional de Bioenergia). Alimentando-se da parte basal dos colmos, as larvas do inseto abrem galerias que danificam todo o interior, onde permanecem até atingir a fase adulta. Os ataques recorrentes nas áreas de soqueiras ocasionam

perdas cumulativas nos cortes, obrigando a reformas precoces do canavial, que muitas vezes não passam do segundo corte.

Trata-se de uma praga de difícil controle pelo produtor. Nesse caso, o “nematoide do bem” do Terranem tem obtido sucesso no combate ao bicudo por penetrar nas aberturas feitas pelo inseto e liberar bactérias que transformam o tecido do hospedeiro em fonte alimentar. Assim, os nematoides se alimentam, se desenvolvem e se reproduzem dentro do inseto, provocando sua morte em algumas horas. Além disso, o efeito residual garante proteção adicional ao canavial. Quando degradados, os insetos se transformam em uma substância que fica em contato com a planta e provoca a morte de outras pragas quando estas se alimentam.

“Estudos mostram excelentes resultados na aplicação do produto, reduzindo drasticamente a população da praga e consequentemente a porcentagem de toletes atacados, tornando-o uma ótima estratégia para manejo desse inseto que vem causando danos severos na cana-de-açúcar”, explica Brito. Segundo ele, o Terranem possui em sua formulação altíssima tecnologia envolvida, pois proporciona condições ideais para que os nematoides ajam, além de ótima aplicabilidade agronômica no campo.

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Plant +

AS DORES DA SUPERSAFRA

A produção de cereais, leguminosas e oleaginosas deverá quebrar recordes em 2023. Isso, claro, é ótimo para o agronegócio, mas também expõe os gargalos logísticos e de infraestrutura no País

Ag Infraestrutura P or A m A uri S eg A ll A
fotos: Wenderson Araujo/Trilux/CNA

Ag Infraestrutura

Oagronegócio brasileiro quebrará uma série de recordes na safra 2023. De acordo com a mais recente estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas chegará a 302 milhões de toneladas, número jamais alcançado no País. Para efeito de comparação, a previsão supera em 14,7% – o que dá uma diferença expressiva de 38,8 milhões de toneladas – o desempenho de 2022. O IBGE diz também que as lavouras de algodão, arroz, milho, soja e trigo apresentarão crescimento sem precedentes na próxima temporada, o que se deve sobretudo às bases comparativas fracas do ano passado, quando houve a quebra de safras em razão de problemas climáticos. Não é só. Ainda segundo o levantamento agrícola, a área a ser colhida totalizará recordistas 75,8 milhões de hectares, o que equivale a um acréscimo de 3,5% em relação a 2022.

A supersafra é indiscutivelmente um marco a ser comemorado. Ela traduz o aumento notável da produtividade das lavouras nos últimos anos, fenômeno que se intensificou graças ao uso eficaz da tecnologia, abre caminho para que os agricultores colham lucros expressivos e revigora o PIB brasileiro à medida que mais negócios serão gerados no ambiente interno e mais divisas serão trazidas com o aumento das exportações. Isso tudo é óbvio, mas há um aspecto ainda pouco debatido no País: a supersafra tem também suas dores – e não são poucas. De modo geral, ela escancara os gargalos da infraestrutura brasileira e mostra que, apesar de o agronegócio ser o principal responsável por alimentar a economia do Brasil, ele ainda sofre com os percalços típicos de uma nação que tem muito por avançar nesse campo.

A principal dor da supersafra diz respeito ao armazenamento dos grãos. Estimativas realizadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam para um déficit – também recorde, registre-se – de 100 milhões de toneladas em 2023, que não serão estocadas de maneira adequada. Para ficar mais claro: simplesmente não

há onde guardar tanto alimento. O fenômeno é resultado do desequilíbrio entre o aumento da produção e os baixos investimentos em capacidade de estocagem. “Enquanto nos últimos anos houve um crescimento explosivo dos investimentos em tecnologias de produção, o que fez a produtividade disparar no campo, muitos agricultores deixaram de lado algo aparentemente simples, mas ainda assim fundamental: a capacidade de armazenamento”, afirma o consultor especializado em tecnologia agrícola Eduardo Tancinsky. “Essa questão é essencial para tornar o agronegócio brasileiro ainda mais relevante.”

O fenômeno pode ser comprovado por números. Um estudo feito com dados de 2021 por Joana Colussi, pesquisadora acadêmica da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, constatou que a capacidade de armazenamento no Brasil equivalia naquele ano a apenas 67% de sua produção total de grãos. Em 2010, o índice estava por volta de 90%. A conclusão é cristalina: os produtores e as empresas do setor deixaram de lado investimentos na construção de armazéns para se concentrar apenas na lavoura em si. A produtividade disparou, mas não foi acompanhada por melhorias nos espaços para estoque.

O agro brasileiro, um dos mais poderosos do mundo, está inegavelmente atrás nesse quesito. Nos Estados Unidos, tradicional rival do Brasil no campo agrícola, 54% das fazendas possuem armazéns ou silos. No Canadá, o índice é de 85% – era 50% há cerca de uma década, mas um programa nacional estimulou os fazendeiros a aumentar os investimentos na área como forma de evitar danos no futuro. Na Argentina, nação que enfrenta tormentas econômicas, estima-se que o indicador seja 40%. O Brasil faz feio diante de qualquer concorrente no agronegócio: a marca está em torno de 15% e não cresce há um bom tempo, o que prova que o tema precisa ganhar os holofotes do setor.

A boa notícia é que o Brasil possui ao menos algumas vantagens competitivas. Ao contrário do que ocorre com a maioria dos grandes produtores agrícolas, especialmente os Estados Unidos, o

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mercado brasileiro não precisa ter o que os especialistas chamam de “armazenagem estática” para 100% da produção anual. Isso acontece porque os brasileiros produzem até três safras por ano – ou seja, há grande movimentação de produção ao longo de toda a temporada e não apenas em períodos específicos.

De todo modo, as deficiências de armazenagem representam um gargalo perigoso que poderá afetar a competitividade do agronegócio brasileiro nos próximos anos. Outra dificuldade é que a distribuição de silos pelo País se dá de maneira

desigual. De acordo com dados apurados da Conab, o problema está concentrado nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que respondem por quase metade da produção nacional de grãos. Apenas o Mato Grosso, que é o maior produtor de soja e milho do Brasil, representa praticamente um terço dos déficits de armazenagem do território brasileiro.

A situação, de fato, é crítica no estado. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) apontou recentemente que, nos últimos anos, a taxa de crescimento da capacidade estática de armaze-

nagem foi de 3,7% por ano na região. O mesmo levantamento constatou que o estado precisa ampliar a sua capacidade estática para 125 milhões de toneladas até 2030. Para alcançar a meta, deveria ter uma taxa de crescimento anual da capacidade de armazenagem da ordem de 22,9%, algo ainda muito distante de sua realidade.

O problema poderá ganhar contornos mais dramáticos no futuro. Com a conversão de pastagens degradadas e de desmatamento em áreas agrícolas, além da irrefreável expansão da produtividade, a produção de itens como soja e

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milho deverá acelerar em ritmo intenso nos próximos anos. Ou seja, o déficit de armazenamento poderá chegar a níveis insustentáveis. Atenta a essa questão, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT) decidiu agir. Em 2021, lançou o programa “Armazém para Todos” para incentivar a construção de silos principalmente por pequenos e médios produtores. Em linhas gerais, o projeto consiste em facilitar o acesso a crédito para esse fim. Além disso, um simulador virtual ajuda os fazendeiros a calcular a viabilidade econômica do investimento, a despeito do tamanho da propriedade.

Afinal, quais são os impactos negativos gerados pela pouca quantidade de armazéns agrícolas disponíveis em território brasileiro? Sem áreas para estoques nas propriedades, os agricultores correm para vender a colheita de acordo com os preços praticados em um dia específico, e assim não acumular perdas. Com os silos, seria possível guardar a safra e negociá-la aos poucos, por valores melhores – ao estocar grãos de maneira adequada, o produtor poderia vendê-los na entressafra ao longo do ano, e certamente com preços mais altos.

De fato, falhas no processo de armazenamento geram prejuízos significativos para os agricultores. Um estudo recente realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) estimou que o produtor rural poderia melhorar sua lucratividade em até 55% caso houvesse lugar disponível para guardar todos os estoques. A conta leva em consideração a redução com os custos de frete e o aumento da rentabilidade das colheitas.

É fácil entender os benefícios. Para Adiemir Hortega Medeiros, gerente sênior de consultoria para Operações em Supply Chain da consultoria EY, a armazenagem adequada dos grãos resultaria “em perdas menores no transporte, maior controle da umidade dos grãos e melhores preços das commodities ao longo da safra”. O cálculo do frete é fundamental nessa equação. No Brasil, os valores disparam durante a safra. Se o produtor tiver armazéns instalados na fazenda, ele

inevitavelmente reduz esse custo, evita filas para o escoamento da produção e, na ponta final, alivia a pressão sobre as operações logísticas nas estradas e portos.

No dia a dia das fazendas, a falta de espaço faz com que boa parte da produção permaneça fora dos silos, a céu aberto. Para dimensionar o problema, basta voltar os olhos para os anos anteriores. Superintendente do Imea, Cleiton Gauer lembra que, em 2022, a boa safra de soja na região não foi acompanhada pelo aumento das vendas. Com isso, os armazéns ficaram sem local adequado para receber o milho, que acabou armazenado ao ar livre porque a capacidade interna dos silos estava esgotada. Segundo ele, isso não ocorria há pelo menos dois anos.

Armazenar a produção ao ar livre provoca efeitos colaterais indesejados. Um deles é a dificuldade para regular a umidade dos grãos. Parece algo sutil, mas é de extrema importância no agronegócio. Para ter boa qualidade e, portanto, atingir bons preços no mercado, o grão de soja deve ter um índice de umidade em torno de 11% para armazenamentos que durem um ano ou entre 9 e 10% acima disso. Manter esses índices é muito mais fácil em ambientes controlados, que favorecem, por exemplo, o uso de tecnologias de secagem.

O excesso de grãos – algo sempre positivo que deveria ser potencializado pela melhoria da infraestrutura no País, ressalte-se mais uma vez – causa congestionamentos nos portos, em geral despreparados para receber o aumento explosivo da movimentação de cargas, deixa caminhões e trens à espera do despacho das mercadorias, adia entregas e, no final das contas, prejudica toda a cadeia produtiva.

Uma das maneiras mais rápidas e eficazes de combater o problema seria ampliar os desembolsos públicos em projetos de infraestrutura. Pouco tempo atrás, o Plano Safra destinou R$ 4,2 bilhões em recursos, por meio do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), para investimentos em armazenagem. O valor, contudo, é considerado insuficiente para reduzir a defasagem

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de silos. Eles, de fato, custam caro. Segundo dados da Kepler Weber, líder do mercado brasileiro de equipamentos desse tipo, um silo custa entre R$ 750 e R$ 1 mil por tonelada de grão armazenado. De acordo com especialistas, o investimento se pagaria em cinco ou seis anos de produção e valeria a pena especialmente para fazendas com área de produção acima de 400 hectares.

Um caminho para a redução de danos seria a fomentação de alternativas complementares. A consultoria EY cita os “silos bags”, equipamentos que suportam de 180 a 250 toneladas por unidade e que armazenam o grão em perfeitas condições de comercialização por até 18 meses e com a vantagem de possuírem uma vida útil de pelo menos dez anos. Além disso, diz o consultor

da EY Adiemir Hortega Medeiros, eles são cerca de 40% mais baratos em relação ao silo metálico convencional.

Trata-se, entretanto, de medida paliativa que certamente não resolveria o problema por completo. Iniciativas como essa deveriam estar associadas a projetos mais abrangentes, como investimentos em processos e tecnologias que otimizassem, por exemplo, todas as etapas de transporte. “As pressões no escoamento rápido e sincronizado demandam um ecossistema eficiente de infraestrutura de transportes, como ativos portuários e marítimos robustos”, afirma o consultor Medeiros, da EY. “Nos dias atuais, quem está atuando como viabilizador dessa estrutura são as grandes tradings globais.”

A defasagem de armazéns

não é um gargalo que atinge apenas o bolso dos produtores. No aspecto mais amplo, ela ameaça a própria segurança alimentar do País. Sem locais adequados para estocar a produção agrícola, o Brasil se expõe a riscos de abastecimento, especialmente se houver quebras significativas da safra, algo não tão desprezível assim em um contexto de mudanças climáticas. Portanto, a questão deveria merecer maior atenção dos entes públicos, na medida em que diz respeito ao conjunto de toda a sociedade. Com desabastecimento, lembre-se, vem a inflação, e ela costuma ser cruel com os mais pobres. O que traz algum alívio é que o tema tem recebido cada vez mais atenção. Isso é ótimo para o agronegócio, mas melhor ainda para o País.

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ESTATURA DE LÍDER

Com histórico de inovações e recordes de produtividade, BASF se consolida como uma parceira indispensável para o crescimento da cultura da soja no Brasil

Oprodutor de soja Éder Leomar dos Santos encerrou a safra 2021/22 com uma marca histórica. Dono da fazenda Granja VPS, em Camaquã, no Rio Grande do Sul, ele destinou uma parte específica de sua propriedade para buscar o que se pode chamar de “produtividade máxima”. Tudo foi planejado para alcançar o objetivo – da semeadura ao arranjo especial das plantas, da adubação ao melhor

A BASF é a companhia com mais campeões no Desafio CESB – a empresa acumula nada menos do que 11 pódios consecutivos, mais do que qualquer outra concorrente

Trata-se, de fato, de um feito notável. Reconhecido pela credibilidade de seus concursos, o CESB é uma das principais referências do Brasil na área da sojicultura.

Mas, afinal, quais foram os diferenciais que levaram o produtor a chegar ao topo? Leomar traz a resposta na ponta da língua. “Para se conduzir uma área de manejo de alta produtividade, os tratos culturais têm de ser bem executados e com produtos de excelente qualidade”, diz. Ele cita uma parceria em especial. “A BASF nos proporcionou desde o cuidado no tratamento de sementes até o último fungicida que vai na cultura da soja. Isso permite manter o potencial produtivo dessas áreas e explorar tudo aquilo que ela tem para nos entregar.”

tratamento fitossanitário possível. A estratégia funcionou. Em uma área de 2,868 hectares destinada especialmente para esse fim, Leomar registrou a produtividade de 114,8 sacas por hectare – mais que o dobro da média nacional no período. O número foi suficiente para torná-lo vencedor, na região Sul do Brasil e dentro da categoria Sequeiro, do tradicional desafio de produtividade do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB).

Não foi um caso único em que a companhia provou ser decisiva para definir os campeões da produtividade. Para Roberto Bertão de Azevedo, produtor que venceu o Desafio CESB na região Norte também na categoria Sequeiro, a BASF, da mesma forma, tem sido uma parceira essencial. E por um motivo: “Seus produtos trazem muita tecnologia”, resume ele.

O resultado deste ano reflete décadas

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de trabalho, em que poucas empresas têm sido tão vitais para o desenvolvimento e a sustentabilidade da cultura da soja no Brasil. A BASF não é apenas uma das líderes do segmento como tem um legado de pioneirismo e de bons serviços prestados que certamente fizeram o grão deslanchar de vez no País. Basta dar uma espiada nos indicadores de produtividade para confirmar o papel relevante da empresa. A BASF é a companhia que atua no mercado brasileiro com mais campeões no Desafio CESB – a empresa acumula nada menos do que 11 pódios consecutivos, mais do que qualquer outra concorrente do mesmo ramo.

Não é apenas isso. Na safra 2021/22, a produtividade média dos agricultores parceiros da BASF superou com folga os índices do mercado brasileiro.

Segundo dados aferidos pelo Top Soja – concurso criado pela própria empresa, com respaldo técnico do CESB, para premiar os produtores com o melhor desempenho nas principais regiões produtoras de soja –, ela alcançou notáveis 85,1 sacas por hectare. Para efeito de comparação, a média dos participantes do Desafio CESB foi de 82. Já nos dados nacionais levantados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade na temporada ficou em 50,5 sacas por hectare. Os números acima ajudam a explicar por que a BASF está entre as líderes do mercado brasileiro. No segmento de agroquímicos voltados para a soja, a empresa está entre as três maiores do País em market share. Considerando apenas o segmento de fungicidas premium – os mais

relevantes em termos de abrangência –, a BASF ocupa a segunda posição. Por sua vez, o fungicida Standak® Top, usado no tratamento de sementes, lidera o mercado brasileiro há muitos anos.

Alcançar valores expressivos de produtividade não seria possível sem um componente indispensável: inovação. A BASF foi pioneira ao trazer um fungicida premium para o Brasil. Em 2002, seu produto Opera® – a primeira estrobirulina do mercado nacional – provocou uma verdadeira revolução no campo ao combater a ferrugem-asiática, que até então provocava enormes prejuízos nas lavouras brasileiras. Em 2010, a Divisão de Proteção de Cultivos da empresa lançou o “Sistema AgCelence® Soja Produtividade Top”, que consistia em utilizar

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Plant +

métodos inéditos no manejo da cultura de soja. Além do melhor controle fitossanitário, a combinação dos produtos Standak® Top, Comet® e Opera® provia o efeito fisiológico que impulsionou a produtividade nas fazendas. Tanto foi assim que até hoje em dia os produtores lembram do projeto com certa reverência.

A inovação está no DNA da BASF. A empresa também foi a primeira a lançar uma carboxamida altamente eficiente nas mais diversas doenças para a cultura da soja, grupo químico que hoje está presente nos principais fungicidas do mercado. Está presente nos produtos Orkestra®, Ativum®, Blavity®, além do recém-lançado Belyan®, que é feito com um ingrediente ativo inovador, chamado Revysol®, que possui a exclusiva tecnologia Power Flex. Em seu histórico de contribuições inéditas para essa cultura, é preciso destacar o fato de a BASF ter inovado ao usar fungicidas multissítios no manejo de doenças da

soja, que depois passaram a ser amplamente adotados no mercado brasileiro.

Atenta às novas demandas do agronegócio – e pronta para adequar seus produtos a um ramo de atividade em permanente transformação –, a

Na safra 2021/22, a produtividade média dos agricultores parceiros da BASF alcançou notáveis 85,1 sacas por hectare

empresa reforçou recentemente seu portfólio com o lançamento do nematicida biológico Votivo® Prime, que se tornou em pouco tempo uma importante solução para o tratamento de sementes. Investir em inovação como estratégia de negócio é uma aposta certeira. Em 2021, a Divisão de Soluções para Agricultura da BASF gerou vendas de 8,2 bilhões de euros. Isso é ótimo para a BASF, mas melhor ainda para os produtores de soja.

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GRÃO DE OURO

Com ampla e aquecida demanda, que impulsiona vendas ao exterior, milho assume novo protagonismo na pauta do agro

Ag Commodities
Ag Agricultura
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Líder em soja, líder em café, líder em cana, líder em proteína animal. O Brasil do agro é protagonista mundial na exportação de várias commodities agropecuárias... e continua avançando, conquistando mercados e ultrapassando competidores de peso. Agora é a vez do milho, cultura que há duas décadas praticamente se destinava apenas a abastecer o mercado interno. No início de fevereiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) divulgou previsão de que sairão dos portos brasileiros cerca de 50 milhões de toneladas do grão em 2023. Confirmada essa previsão, o País torna-se o principal exportador global, superando os americanos, que devem embarcar 48,9 milhões de toneladas.

É um resultado impressionante. Segundo dados da Cogo Inteligência em Agronegócio, há menos de 15 anos nossas vendas externas eram pouco superiores a 10 milhões de toneladas. Uma convergência positiva de fatores impulsionou a demanda – tanto interna como externa – e os agricultores brasileiros responderam rápido. O grão amarelo ficou mais dourado nas contas de produtores, empresas e na balança comercial brasileira.

Quando se olha para fora, o apetite vem sobretudo da Ásia, onde população e renda per capita aumentaram e, em menor grau, também em algumas regiões da África. “O fato é que conforme há crescimento populacional, naturalmente há um consumo maior de proteínas, especialmente pelas carnes suína e de frango. Outro fator é que com a melhoria de renda nos países, a demanda por proteínas também aumenta. Este cenário gera uma procura óbvia maior pela produção de carnes e consequentemente de milho”, explica Edmar Wardensk Gervásio, analista do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado do Paraná (Seab). Ao lado do Mato Grosso, o Paraná é um dos

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Ag Commodities

principais estados produtores do grão e tem a expectativa de colher cerca de 19 milhões de toneladas de milho na temporada corrente.

Internamente, a criação de aves e suínos caminha de braços dados com a produção de milho. Tiago Pereira, assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), esclarece que praticamente 70% da demanda nacional pelo grão é reservada para a alimentação desses animais. “Com a tendência de aumento ou pelo menos a manutenção dos patamares de crescimento dos últimos anos na avicultura e na suinocultura, a demanda pelo cereal certamente deve se manter”, projeta.

Nesta safra 2022/23, a previsão é de que, mundialmente, sejam produzidas 1,161 bilhão de toneladas de milho, segundo dados do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês). No Brasil, a expectativa é por uma colheita próxima a 127,9 milhões de toneladas, alta de 6%, de acordo com estimativas da Datagro Grãos. Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma produção de 123,7 milhões de toneladas, avanço de 9,4%.

“A produção nacional vem crescendo, refletindo o gigantesco potencial alimen-

tício e energético do milho. Nosso grão vem ganhando espaço na comunidade internacional graças à vasta oferta que produzimos, bem como pela excelente qualidade do nosso cereal, que é vendido a preços competitivos”, diz Cesario Ramalho, coordenador do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e ex-presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho).

GUERRA E OPORTUNIDADES

A engenheira agrônoma Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep/ Senar-PR), conta que uma combinação de dois principais fatores tem impulsionado a procura pelo milho brasileiro nos mercados internacionais. “A lacuna aberta pela guerra no Leste Europeu e a nova demanda da China são os principais motivos que estão aquecendo os embarques do grão pelos portos brasileiros.” Com o conflito, a Ucrânia, tradicionalmente grande produtora e exportadora de milho, viu colheita e embarques se deteriorarem de modo acentuado, abrindo espaço para outros exportadores, como o Brasil. Por outro lado, a potência asiática, a despeito de também ser uma grande

Previsão do USDA é de que Brasil vai vender cerca de 50 milhões de toneladas do grão para o exterior em 2023, tornando-se o principal exportador global

produtora do grão, enxergou, com a eclosão da guerra e todos os seus desdobramentos nos fluxos comerciais, a oportunidade para diversificar a origem de suas importações de milho, tradicionalmente concentradas nos Estados Unidos.

Ana Paula relata que Ucrânia e EUA costumavam ser os principais exportadores do grão para a China. “As exportações ucranianas registraram queda de 24%, já que tiveram menor produção e dificuldades para embarcar o produto, devido à guerra com a Rússia.” Já no caso dos

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Ag Commodities

Estados Unidos, salienta Flávio Roberto de França Júnior, líder de pesquisa da Datagro Grãos, o ponto crucial é a questão geopolítica.

“O conflito comercial sino-americano fez e faz com que a China se movimente para diminuir suas importações dos EUA, e, com tudo isso, o Brasil começou a abocanhar fatias do mercado internacional de milho.”

Segundo a técnica da Faep, o Brasil, então, passou a despontar como uma alternativa importante. “O País vem se tornando uma potência na exportação de milho, com um crescimento anual bastante expressivo, e a tendência é que isso se mantenha para os próximos anos.”

Alysson Paolinelli, presidente executivo da Abramilho, acentua que a importação pela China veio para ficar. “Eles são grandes produtores, mas precisarão de cada vez mais milho, e somente a agricultura tropical, a nossa, será capaz de atender esta demanda, diferentemente da produção em clima temperado, que não tem para onde crescer.”

PERSPECTIVAS PARA 2023

Estatísticas da Conab indicam que as exportações nacionais de milho atingiram 47 milhões de toneladas no ano passado. Assim como a USDA, a Datagro Grãos projeta que o Brasil deverá embarcar 50 milhões de toneladas neste ciclo 2022/23, montante que, se for concretizado, significará incremento de 9%.

Em janeiro, os embarques já totalizaram 6,35 milhões de toneladas, mais que o dobro do volume de 2,73 milhões exportado no primeiro mês do ano passado, mostraram dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

A China foi destino de 1,165 milhão de toneladas de milho do Brasil em 2022, com quase a totalidade embarcada em dezembro – aproximadamente 94%. Neste caso, o arranque dos embarques brasileiros se deu após conclusão das negociações de acordo fitossanitário entre os dois países. Em novembro do ano passado, a alfândega chinesa atualizou sua lista de exportadores do Brasil, totalizando 136,

dando sinal verde para o início dos embarques. “O milho a ser exportado para a China deve estar de acordo com a legislação fitossanitária daquele país e observar os regulamentos específicos sobre importação e padrões nacionais da China, como estar livre de insetos vivos e pragas quarentenárias de preocupação local”, pontua Pereira da CNA. A USDA prevê importações totais de milho em 18 milhões de toneladas pela China em 2022/23, com um volume significativo proveniente do Brasil.

Salatiel Turra, analista de desenvolvimento técnico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), menciona que independentemente do “fator China”, ao contrário da soja, produto agrícola em que os embarques brasileiros são altamente concentrados no país asiático, as exportações nacionais de milho são mais bem distribuídas, têm historicamente destinos mais variados e cativos.

“Tradicionalmente, Irã, Espanha, Japão, Egito, Vietnã, Arábia Saudita são os maiores clientes do milho brasileiro. Em 2022, as exportações para esses países também cresceram. Para o Irã, os embarques do grão mais que dobraram em relação a 2021, alcançando 6,6 milhões de toneladas. Para o Japão e a Espanha esse aumento foi de 183% e 142%, respectivamente.”

Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), cita, ainda, outro ingrediente, que tem potencial para impactar as exportações de milho neste ano. No seu mais recente relatório, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires reduziu a estimativa para a safra 2022/23 do grão na Argentina para 44,5 milhões de toneladas, contra 59 milhões de toneladas do ciclo passado. O principal motivo para o corte é a seca, que vem prejudicando o desenvolvimento das lavouras locais. “Quebras de safra em um país importante como é a Argentina trazem ganhos de oportunidade, já que a redução da oferta pode acarretar em uma pressão altista para os preços globais do milho.”

Etanol, nova fronteira sustentável para o milho

Estima-se que, em 2023, do etanol produzido no Brasil, 15% terá como matéria-prima o milho. Nos últimos cinco anos, a produção saltou de 520 milhões de litros para 4,5 bilhões de litros, um crescimento de 800%. A projeção da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) é de que ela chegue a 10 bilhões de litros até 2030, aumentando a participação no mercado nacional de etanol de 15% para 20%.

Tiago Pereira, da CNA, ressalta que, com um consumo doméstico cada vez maior e reforçado pela produção de etanol de milho, o cereal deverá aumentar sua importância na cadeia de suprimentos nacional e global.

Segundo ele, o etanol de milho tem crescido e se estruturado como uma alternativa sustentável em vários aspectos, entre os quais seu desenvolvimento atrelado à alimentação animal. Para a produção de etanol de milho são dispensados outros subprodutos, que são de grande relevância para essa indústria, como o DDG – grão de milho seco por destilação –, que apresenta elevado valor proteico, em especial para suplementação de rebanhos bovinos em confinamento.

“Então, além do potencial de substituição de parte dos combustíveis fósseis e contribuir com a redução da emissão de gases de efeito estufa, o potencial de ampliação da produção de etanol de milho, sem sombra de dúvidas, irá contribuir com a disponibilidade de coprodutos com forte impacto na disponibilidade de alimentos.”

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UM ANO PARA PLANTAR E COLHER

Santander projeta crescimento de 30% em 2023 e reforça sua posição de parceiro estratégico do agronegócio

uem quer estar no agro não pode olhar uma única safra.” A frase é de Caroline Perestrelo, superintendente executiva de Corporate do Santander Brasil, e resume, de forma bem sucinta, a estratégia adotada pelo banco para o agronegócio. O ano se apresenta promissor e há um sopro de otimismo no ar, resultado do clima que favoreceu o desempenho de lavouras como de soja e de cana, duas das principais culturas no Brasil, que entram 2023 com previsões de safras abundantes. Mas o discurso foi o mesmo em anos não tão bons e em outros ainda menos favoráveis. A palavra de ordem, no Santander, tem sido crescer no agro e com o agro. “A gente sabe que o setor tem visão de longo prazo. Ficamos felizes com safra boa, mas não nos prendemos a isso”, diz.

Não por acaso, desde 2015, faça chuva ou faça sol, a carteira do banco voltada para o setor tem crescido a uma taxa média de 30% ao ano. Para 2023, a expectativa é a mesma, com a meta de atingir R$ 50 bilhões. A orientação é de avançar em todas as frentes, de forma coordenada. Além do Corporate, a atuação do Santander no agronegócio está disseminada no Varejo, e também no Private Bank, com foco em clientes

especiais. “Quando a gente traz o agro para a pauta, é para toda a organização, não para áreas específicas”, ela explica.

A prática dessa estratégia fica evidente para quem vê o conjunto de ações do banco voltadas para o setor. Atualmente, cerca de 300 profissionais do Santander dedicam-se a atender as necessidades do agronegócio, em suas diferentes frentes. O Corporate, por exemplo, tem atuado junto a grandes empresas do setor para oferecer projetos estruturados como alternativas aos recursos tradicionais e limitados de financiamento. Um dos instrumentos com maior crescimento, nesse sentido, é a emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). “Há mercado para crescer nessa área, com interesse de fundos e gestoras pelos títulos do agro”, diz Caroline.

Nesse segmento, uma operação marcante em 2022 foi a emissão de CRA realizada pelo Santander para a Coplana, cooperativa da região de Ribeirão Preto (SP), no valor de R$ 100 milhões. O apetite dos investidores foi tão alto que, se desejasse, a cooperativa poderia ter ampliado a emissão em quase cinco vezes. Já bastante utilizado em segmentos como o sucroenergético, o CRA ainda é pouco utilizado por cooperativas e o

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sucesso da operação demonstrou que o mercado está ávido por operações como essa. “Para o emissor, o grande benefício é poder seguir tracionando seu crescimento sem depender dos recursos públicos obrigatórios”, explica a executiva.

A demanda por crédito no campo é crescente e o Santander tem apostado em financiar operações como irrigação e ampliação de áreas de cultivo, uso de biomassa, biogás, renovações e tratos. “Nosso papel é ajudar as empresas a continuar investindo, sempre diversificando as soluções para entender as necessidades delas”,

diz Caroline. As operações de consórcio, por exemplo, tradicionalmente usadas para aquisição de máquinas agrícolas e veículos, já abrangem também equipamentos para irrigação e energia fotovoltaica.

Além disso, o Private possui uma equipe dedicada para estruturar operações de financiamento ou leasing para importação de aeronaves, que contribuem para ampliar e fortalecer as atividades rurais, como pulverização aérea de lavouras ou deslocamento entre fazendas.

As soluções nem sempre são de caráter financeiro. Uma das necessidades percebidas pelo

Santander entre seus clientes agro, sobretudo no âmbito da área de Private, foi o planejamento patrimonial e sucessório, e a preparação da próxima geração para assumir o negócio familiar. Para ajudá-los nessa área, o banco criou, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), um programa específico sobre o tema, batizado de Programa de Desenvolvimento da Família Empresária, que promove o desenvolvimento dos participantes em sua trajetória, nas perspectivas sobre o papel de seus membros, a relação familiar e a relação com o negócio e a propriedade,

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ampliando suas capacidades para a gestão de seus dilemas com foco na perpetuidade através das gerações. Clientes selecionados são convidados a se inscrever nas turmas – duas já foram realizadas, com a participação de 30 pessoas, e uma terceira está prevista para o segundo semestre.

Além da expansão de negócios, a presença física das equipes voltadas para o agro – sejam do Corporate, do Private ou do Varejo – continua buscando atingir áreas produtoras em diferentes regiões do Brasil. No Varejo, o atendimento ocorre em todo o território nacional com foco na expansão no Nordeste, além do Arco Norte, com a oferta completa para o atendimento do produtor em todas as suas necessidades. Corporate e Private, antes mais concentrados nas capitais, têm procurado reforçar sua presença com unidades em polos do agronegócio, interiorizando sua atuação.

BANCO VERDE

Safra após safra, o Santander consolidou posições no agronegócio. Com forte presença nos principais centros produtores de cana, tornou-se parceiro

preferencial do setor sucroenergético. O relacionamento com usinas e seus fornecedores se dá desde o apoio de longo prazo nos investimentos nas áreas agrícola e industrial até a fixação de preços de açúcar e ATR na mesa de commodities. O banco é, ainda, um protagonista do RenovaBio, programa que estimula ações de descarbonização por meio da emissão de títulos verdes, os CBios. “Temos mantido uma participação de 67% de market share na comercialização desses títulos e, com isso, seguimos sendo o banco do RenovaBio”, comemora Caroline.

O Santander atingiu esse status em função de seu posicionamento ativo em todas as fases do programa, desde a sua formulação. Hoje, mais maduro, o RenovaBio é uma realidade e os CBios ganharam a confiança dos compradores e liquidez no mercado. “Negociações diárias – temos comercialização e possibilidades de negócios todos os dias”, informa Caroline. Em 2022, o banco trabalhou junto com a B3 na criação de um índice de CBios e estuda desenvolver produtos financeiros a partir deste índice. Lançou também no ano passado

um site (cbio.santander.com.br) que acompanha a compra e a venda e preços do título.

A experiência no RenovaBio abriu as portas para que o banco ampliasse a sua visão de sustentabilidade e avançasse para novas fronteiras no emergente mercado de títulos verdes. Em abril do ano passado, o Santander adquiriu 80% da WayCarbon, empresa especializada na estruturação de projetos de descarbonização. Com ela, passou a oferecer serviços que vão de consultoria em ESG para empresas a análises de gestão em sustentabilidade, inventários de gases de efeito estufa ou análise de risco climático de ativos, usando para isso softwares desenvolvidos pela WayCarbon.

A aquisição permite ainda que o banco ofereça a grandes clientes do agro a estruturação de projetos de crédito de carbono, a partir da avaliação de um time de especialistas. Mais uma vez o Santander quer ajudar a estruturar um mercado emergente e com grande potencial. “O Brasil é um celeiro nessa área, precisamos nos organizar e aumentar protagonismo”, diz Caroline. “Queremos estar juntos nesse processo”.

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Caroline Perestrelo, superintendente executiva de Corporate: "Seguimos sendo o banco do RenovaBio”

Flexibilidade que protege sua produtividade.

ELEVE O NÍVEL DE SEGURANÇA CONTRA AS PLANTAS DANINHAS DO CANAVIAL.

Pré-emergente e pós-emergente inicial de amplo espectro

Altamente seletivo à cultura em pré-emergência

Flexível no uso durante as épocas semi-úmida e úmida

Dois mecanismos de ação consagrados na cultura da cana

OTANGO DA SAFRA ARGENTINA

Sob temperaturas de até 45 graus e ausência de chuvas nos últimos quatro meses, país vizinho vê seus produtores de soja e milho perderem mais de 50% da área plantada, com prejuízos estimados em cerca de US$ 10 bilhões. Como isso impacta o mercado?

Ag Internacional

Agricultor vislumbra o tempo seco na região do Pampa argentino: chuvas não vieram quando deveriam fotos:

Shutterstock

Opêndulo da quebra da safra de grãos entre Brasil e Argentina está em pleno movimento mais uma vez. Enquanto no ano passado as maiores dificuldades estiveram do lado dos produtores nacionais de soja e milho, agora não resta dúvida de que os argentinos irão colher um dos piores resultados de sua história recente. O fator principal é o clima, que tem castigado as lavouras do país vizinho com temperaturas de até 45 oC e uma ausência de chuvas que perdura desde o início do plantio, em setembro do ano passado. Apenas no final de janeiro, os mapas climáticos apontaram uma possível elevação dos índices pluviométricos para os meses mais próximos das colheitas de grãos na Argentina, a partir de maio, mas essa previsão não é suficiente para animar o mercado local. Em valor de comercialização, as perdas já são estimadas em US$ 10 bilhões para este ano, com mais de 50% da área plantada afetada pela seca e o calor.

Com 18 anos de atuação dentro da Cooperativa Agrícola General Paz, no coração rural da Argentina, em Córdoba, o engenheiro agrônomo Maurizio Lattanzi está impactado pela situação. “Nunca vi um quadro de tanta devastação nas lavouras da nossa região e da Argentina como um todo”, disse ele à PLANT PROJECT. Situado no Departamento de Marcos Juárez, Lattanzi presta assistência agrícola a um grupo de 300 produtores de grãos. “É o pior momento da nossa agricultura”, sentencia. “Além de estarmos este ano sofrendo com a seca e as temperaturas altíssimas, temos também contra nós o câmbio, os impostos e a falta de incentivo do governo à produção do campo”, diz Lattanzi. “Um produtor de soja argentino perde pelo menos 60% de sua safra em taxas, impostos e diferença cambial”, contabiliza. Ele calcula em 50% a quebra da safra de milho em todo o país, mas ainda acredita em uma recuperação da soja, cujo plantio tardio, nesta época do ano, está sendo

Ag Internacional

Lavoura de soja e açude seco no Pampa: mais de 50% da área plantada foi afetada

beneficiado por chuvas que só estão chegando agora. “Já notamos uma diminuição nas temperaturas e melhores condições para as plantas florescerem”, assinala o profissional. “Mesmo assim, enquanto no ano passado tivemos uma média de 11 toneladas de soja por hectare, agora os produtores que obtiveram 6 toneladas por hectare poderão dizer que tiveram sorte”, compara. A Bolsa de Cereais de Buenos Aires vem cortando, semana a semana, as projeções para o tamanho da safra. Das 50 milhões de toneladas previstas em setembro pela entidade para a colheita de milho, o

boletim da última semana de janeiro cortou essa projeção para 37,8 milhões de toneladas, considerando o pior cenário. Para a soja, o panorama é igualmente negativo. O índice de lavouras em condições ruins ou muito ruins passou de 56% para 60% em janeiro, com apenas 3% da soja em bom estado. “As chuvas registradas continuam sendo insuficientes para melhorar o cenário das áreas já semeadas”, aponta o relatório da Bolsa. “A ausência de precipitações junto com as altas temperaturas, desde o início da temporada, afetaram o desenvolvimento das plantas”, acentua o documento.

DEVASTAÇÃO NAS LAVOURAS

“O cenário é desolador”, relata o engenheiro agrônomo Cristiano Palavro, diretor da Pátria Agronegócios, especializada em relatórios sobre a produção do campo. Ele realizou este ano uma viagem de 5 mil quilômetros para observar de perto o estado das lavouras ao sul do Rio Grande do Sul e nas principais regiões produtoras da Argentina. Voltou ao Brasil bastante impressionado, negativamente, com o que viu. “Temos, sim, problemas em razão das altas temperaturas no Sul do Brasil, mas nada comparável ao que está acontecendo na produção argentina. Não vi nenhuma lavoura boa, sem exceção, mas sim plantações inteiras com grande dificuldade de floração em razão da estiagem mais grave das últimas décadas”, relata.

Palavro passou pelas regiões produtoras de Santa Fé, Entre Rios, Córdoba e Buenos Aires. Em todas elas amealhou lamentos dos produtores argentinos pelo clima desta safra, especialmente, mas também pela falta de socorro por parte do governo local. “Eles terão condições de, no máximo, colher 42 milhões de toneladas de soja”, contabiliza. “A área plantada não aumenta a sete anos, o maquinário está defasado e não há nada da tecnologia aplicada que vemos aqui no Brasil. Em todos os sentidos, a agricultura argentina, que não tem sido incentivada pelo governo, está andando para trás”, define o técnico.

Com uma colheita historicamente tardia, a soja argentina pode experimentar uma recuperação se, conforme as mais recentes previsões climáticas, as chuvas voltarem. Isso porque a soja é uma oleaginosa conhecida por sua capacidade de recuperação, o que não é característica do milho. Mesmo assim, no entanto, a perspectiva é mesmo de uma quebra histórica. Entre trigo, soja e milho, a quebra projetada é de 28,5 milhões de toneladas, uma queda de 23% sobre a produção esperada inicialmente, segundo a Bolsa de Comércio de Rosário. Com isso, o governo deixará de arrecadar, de acordo com a mesma fonte, cerca de US$ 3,5 bilhões em

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g Internacional

impostos, agravando a situação de penúria dos cofres públicos.

REFLEXO NO BRASIL

Para o produtor brasileiro, ao contrário do que possa parecer inicialmente, o tango da safra argentina não soa como samba para o mercado nacional, que normalmente repercute as quebras de lá com elevação nos preços nos grãos brasileiros. “O mercado já precificou essa quebra e não se espera nenhum boom no valor de comercialização dos nossos grãos”, indica o diretor da Pátria Agronegócios. “Este ano, o volume de vendas antecipadas foi menor do que no ano passado, mas isso também significa que os compradores estão à espera do melhor momento para fazer suas

ofertas”, diz ele. “Deveremos ter, no Brasil, uma safra recorde, com excelente desempenho das lavouras de soja em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e na região Nordeste, o que vai pressionar os preços para baixo, compensando, ao menos em parte, a falta dos grãos argentinos.” Tudo indica que os produtores nacionais estão segurando suas vendas à espera de novos reflexos no mercado das perdas na Argentina. “Ao mesmo tempo, os compromissos financeiros dos nossos produtores começarão a chegar em breve, o que sinaliza que essa retenção tem hora para acabar – e os compradores conhecem bem essa situação”, aponta o especialista Palavro.

Milho foi a cultura mais atingida: quebras devem superar 50% da produção

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Ag Personagem

68 foto: Divulgação Esalq

O EFEITO THAIS

Como a escolha da primeira mulher a assumir a diretoria da Esalq em 122 anos pode estimular o protagonismo estudantil e valorizar soluções construídas de forma coletiva

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P or L ívia a ndrade

dia 17 de janeiro de 2023 é um marco na história da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), a USP Piracicaba. Na data, a professora Thais Maria Ferreira de Souza Vieira assumiu a diretoria da escola e se tornou a primeira mulher a ocupar o posto em 122 anos de Esalq.

A conquista da engenheira agrônoma Thais reflete um movimento observado no agronegócio como um todo: as mulheres vêm assumindo protagonismo, seja à frente de grandes empresas do agro – caso da esalqueana Malu Nachreiner, líder da Bayer Brasil –, seja como docentes, pesquisadoras, consultoras ou gestoras de propriedades rurais. “Acho sensacional a presença feminina. Na agropecuária elas estão dando um show de talento e dedicação. Puxam a agenda do bem-estar animal e da sustentabilidade no agro. São mais colaborativas e abertas às mudanças. A Esalq está de parabéns!”, diz Xico Graziano, engenheiro agrônomo esalqueano, hoje professor no MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV).

De fato, a entrada de Thais na diretoria da Esalq é um divisor de águas no campus da USP-Piracicaba, em que a maioria dos ingressantes dos cursos de graduação (Administração, Ciências Biológicas, Ciências dos Alimentos, Ciências Econômicas, Engenharia Agronômica, Engenharia Florestal e Gestão Ambiental), nos últimos quatro anos, é do sexo masculino. Segundo a pesquisa realizada pela Esalq, 2019 foi o único ano em que o número de estudantes ingressantes do sexo feminino e masculino se igualou.

Mas o ambiente nem sempre empático às mulheres nunca intimidou esta paulista, nascida em Indaiatuba, filha de pai músico e professor e mãe professora. Ainda pequena,

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Ag Personagem
foto: Gerhard Waller

mudou-se com a família para Piracicaba e logo se encantou pela Esalq, palco de piqueniques e pedaladas quando criança.

A menina cresceu e, em 1995, se formou em Engenharia Agronômica pela Esalq. Apaixonada pelos estudos, em 2003 se tornou doutora em Tecnologia de Alimentos pela Unicamp, com um período sanduíche no Cirad, um organismo de pesquisa agronômica situado em Montpellier, no sul da França. Nos anos seguintes, 2003-2005, foi pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, cargo que deixou em 2006, quando teve a oportunidade de entrar como docente na Esalq.

No período de 2012-2015 se tornou vice-coordenadora da Comissão de Coordenação de Curso da Engenharia Agronômica e levou duas estatuetas: Prêmio Excelência em Docência de Graduação da Esalq e Prêmio Excelência em Docência da USP, ambos em 2013. Dois

anos depois, em 2015, chegou a livre-docente pela USP, o mais alto grau de titulação acadêmica, que implica em possuir o título de doutor há pelo menos cinco anos e ter vasta experiência no ensino e pesquisa com linha própria.

EFEITO THAIS

O legado da professora Thais na vida de seus alunos e orientandos ficou evidente na elaboração desta reportagem. Bastou o envio de uma mensagem para um grupo de esalqueanos no WhatsApp para o celular não parar mais de pipocar, todos querendo mandar suas impressões sobre a nova diretora da Esalq. Nos depoimentos, algumas características foram recorrentes: “Ela está sempre aberta ao diálogo”, “Dá muita liberdade” e “Estimula o protagonismo do aluno no processo de ensino e aprendizagem”.

Diogo Tau Zymberg Tomaszewski, que cursou Ciências dos

A professora Thais e a sede da Esalq: “Se um docente não tem afinidade com a graduação, algo muito errado está acontecendo”

Alimentos, teve um convívio próximo à Thais em 2014 e 2015, quando participava da Comissão de Graduação do curso como discente, e ela como docente. “A Thais acredita no estudante como protagonista, não é do tipo de pessoa que dita o que deve ser feito, mas está sempre aberta a discutir ideias e possibilidades”, conta. “Ela vê o estudante como semelhante – o que abre a possibilidade de uma relação ganha-ganha, não de subordinação. Isso faz toda a diferença na formação profissional e pessoal”, acrescenta. Naquela época, foi criado o Fórum Interno de Ciências dos Alimentos (Fica). “Os estudantes estavam em dúvida de como iniciar o movimento. Num

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foto: Divulgação Esalq

Ag Personagem

processo conjunto com a Thais veio a ideia de uma aula inaugural de Ciências dos Alimentos, com os egressos de três áreas de atuação: Academia, Indústria e Empreendedorismo. O evento fez tanto sucesso que é adotado até hoje, mesmo com os desafios impostos pela educação à distância”, diz Tomaszewski.

Em 2019, Thais assumiu a presidência da Comissão de Graduação da Esalq e aqui cabe lembrar o apreço dela por esta primeira etapa do ensino superior. “Claro que a pós-graduação é importantíssima. Claro que pesquisa é importante. Mas, antes de tudo, nossa função é formar recursos humanos. Formar

profissionais na área de Ciências Agrárias é a razão de nossa existência e do nosso reconhecimento nacional e internacional”, escreveu Thais no blog da Associação dos Ex-Alunos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Adealq) por ocasião do aniversário de 116 anos da Esalq, completados em 2017.

Se um docente não tem afinidade com a graduação, algo muito errado está acontecendo. Somos docentes, não apenas pesquisadores. Somos a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Ministrar boas aulas, atualizar conteúdos e formatos, buscar maior envolvimento com alunos, é obrigação de todos, mesmo que seja cumprindo a mínima carga horária exigida para um docente da USP. Infelizmente a graduação é o que menos importa na carreira de alguns docentes hoje em dia. Mas de onde vêm nossos alunos da pós-graduação?”, escreveu Thais.

Na graduação, Thais inspira e motiva alunos de diferentes maneiras. “Ela incentiva a criatividade, me deixou superaberta para a escolha do tema do TCC [Trabalho de Conclusão de Curso], de como queria elaborar o trabalho, sempre foi gentil nas orientações e nos palpites, principalmente relacionados a como deixar o projeto mais completo”, diz a cientista dos alimentos Izabela Couto

Esalq tem cerca de 3 mil estudantes, 660 servidores, 12 departamentos e 140 laboratórios em uma área de mais de 3.800 hectares

fotos: Divulgação Esalq

Espindola, que foi orientada por Thais em 2018.

Já Giulia Cardoso da Silva Martins Benites, que está terminando o curso de Ciências dos Alimentos e tem Thais como orientadora do TCC, ressalta o lado acolhedor da professora.

“Tive muitas dúvidas sobre como conduzir o trabalho, inseguranças e problemas pessoais. Mas a Thais encontrava a luz no fim do túnel. Sempre disposta a ajudar, escutava a minha opinião e dava um norte de como executar as ideias da melhor forma. O apoio dela nas situações adversas tem sido imprescindível para finalizar a graduação conforme sonhei”, diz.

Empatia é a característica mais marcante da Thais para Vanessa Vizioli Melo, que se formou em Ciências dos Alimentos em 2016. “Estava grávida em 2015, meu filho nasceria em dezembro e tinha um seminário da disciplina da Thais para apresentar. Em novembro, ela me puxou e disse: ‘Seu filho vai nascer em dezembro, faz o trabalho com o grupo, mas não precisa apresentar’”, conta.

Mas Vanessa estava bem e apareceu no dia do seminário.

“Na sala, tinha um palco montado, onde ficava a mesa e o projetor. Ela me deixou apresentar com uma condição: teria que ficar sentada”, relata.

“A Thais fazia tudo que podia para ajudar, enquanto outros professores implicavam com coisas pequenas”, diz.

Em 2016, no retorno do ano letivo, Vanessa deixava o filho com o marido e ia para as aulas, que começavam às 19 horas. Às vezes, o bebê dava um baile em casa e a estudante precisava sair correndo. “A Thais sempre perguntava como ele estava e me deixou à vontade para levá-lo para as aulas. Um dia levei e ela deu aula com ele no colo”, conta. Mais tarde, em conversas com a aluna, Thais compartilhou:

“Engravidei enquanto estudava e foi difícil, porque não tive apoio dos professores. Quando me vi na posição oposta, fiz questão de ajudar”.

EXEMPLO DE VIDA

Se a reflexão de Thais no blog da Adealq ressalta a importância de os docentes valorizarem a graduação, a trajetória da profissional deixa claro o quanto ela preza pela indissociabilidade do tripé acadêmico: ensino, pesquisa e extensão. Thais foi pesquisadora visitante na Universidade da Califórnia, em Davis (2018 -2019), e coordena convênios de cooperação internacional (Oniris, Institut Agro, Bordeaux Sciences Agro, VetAgro Sup, Ufro) e do programa de duplo diploma Esalq/Oniris (França).

Também ministra disciplinas de graduação e pós-graduação em desenvolvimento de produtos e processos e coordena projetos de pesquisa com foco na obtenção de ingredientes funcionais, a partir de coprodutos e resíduos agroindustriais, o que

tem tudo a ver com o 12º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, que é assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis.

Richtier Gonçalves da Cruz foi orientado por Thais no mestrado e doutorado, voltados à extração de antioxidantes naturais de diferentes matrizes alimentares e avaliação do efeito antioxidante com o intuito de promover a substituição de aditivos sintéticos adicionados em alimentos. “A Thais é uma orientadora dinâmica, sempre aberta ao diálogo e à discussão

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vice-diretor:
visto
uma combinação perfeita
O professor Marcos Milan,
parceiro é
como
para uma boa gestão

de novas ideias, tudo de uma forma muito plural e focada na troca de conhecimentos. Ela não impõe ou exige algo que não seja construído na base da troca de pensamentos e da reflexão conjunta”, diz o cientista do alimento. “Sempre vi este jeito dela como qualidade, pois me induziu a amadurecer as ideias e enxergar a relação professor/ aluno de maneira mais participativa, tendo o professor como instrutor e condutor, mas fornecendo um protagonismo importante ao aluno no processo de ensino e aprendizagem”, explica.

Thais também fundou o grupo de extensão conhecido como Esalq Food, que ajuda empreendedores e empresas do setor alimentar desenvolvendo produtos e realizando treinamento sob a orientação de profissionais especializados. Para a cientista dos alimentos Ana Carolina Loro, que foi orientada por Thais no doutorado, participar do Esalq Food fez toda a diferença. “Uma das atividades do grupo de pesquisa é auxiliar pequenos produtores que nos procuravam com suas demandas, com seus

problemas durante o processamento da matéria-prima. Isso acrescentou e mostrou quão importante é sairmos de dentro da instituição de ensino e expandir os horizontes”, diz Ana Carolina, que graças a professores como Thais, resolveu seguir a carreira acadêmica.

NOVOS DESAFIOS

O estímulo de Thais em concorrer ao cargo máximo de administração da Esalq nasceu da experiência adquirida como docente, dos cargos administrativos que ocupou e da percepção de que alguns pontos necessitam de ajustes. “Se queremos mudanças, precisamos estar disponíveis para esse processo”, diz.

Ao vencer o pleito eleitoral, Thais se surpreendeu com o número de mensagens de felicitações, principalmente de mulheres. “Temos que ir eliminando essas barreiras que existem hierarquicamente na sociedade. Esse é um movimento que vem ganhando força e esperamos que assim continue, num processo com equidade, com mulheres e homens ocupando os mesmos espaços, mantendo as diferenças de cada um”, comenta.

Daqui até janeiro de 2027, Thais e o professor Marcos Milan, a quem considera a combinação perfeita para uma boa gestão, terão o desafio de dirigir uma das unidades fundadoras da USP, que conta com cerca de 3 mil estudantes, 660 servidores entre docentes e técnicos administrativos, 12 departamentos, 140 laboratórios e uma área de mais de 3.800 hectares, o que corresponde a 48% da área total da USP.

Governança estratégica é a bandeira da nova gestão, que tem como eixo norteador os compromissos com a comunidade, a partir dos quais será desenvolvido o Projeto Acadêmico da Esalq alicerçado nos seguintes pilares: Gestão, Ensino, Pesquisa e Inovação, Cultura e Extensão, Inclusão e Pertencimento, Ações Integrativas e de Infraestrutura. Se depender da capacidade de Thais de escutar e construir soluções conjuntas, os próximos quatro anos devem ser emblemáticos na história da centenária Esalq.

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"Se queremos mudanças, precisamos estar disponíveis para esse processo. " Thais, sobre a experiência adquirida como docente
Ag Personagem

“Em ambientes geralmente iluminados pelas luzes coloridas dos leds, as fazendas verticais despontaram nos ambientes urbanos e estão colocando à prova a atuação de agfoodtechs, o paladar de consumidores e o apetite de investidores”

F FORUM o

Ideias e debates com credibilidade

foto: Shutterstock

BABILÔNIA 4.0 E OS

JARDINS SUSPENSOS DA SUA PRÓXIMA SALADA

RICARDO CAMPO*

Às margens do Rio Eufrates, na região que hoje é conhecida como Iraque, ficava uma das sete maravilhas do mundo antigo, os Jardins Suspensos da Babilônia. Com relatos históricos que datam de 600 a.C., foi um jardim exótico construído nas alturas e de magnitude impressionante, com sistema de irrigação e engenharia muito à frente daquele tempo.

Se é verdade ou não, é um empreendimento que segue vivo no imaginário do presente em passagens bíblicas, em letra de música pop da Rita Lee e como inspiração para instalações futuristas de algumas startups. Dando um salto temporal, saindo dos andares verdes do Oriente Médio e chegando ao frescor dos ecossistemas de inovação, também é possível abrir o cardápio e discutir uma salada de ideias sobre a agricultura vertical.

Em construções que mais lembram cenários de ficção científica, pela alta tecnificação e ambientes geralmente iluminados pelas luzes coloridas dos leds, as fazendas verticais despontaram nos ambientes urbanos e estão colocando à prova a atuação de agfoodtechs, o paladar de consumidores e o apetite de investidores.

Neste contexto de agricultura de ambiente controlado, também conhecida como agricultura indoor, startups e grandes grupos econômicos estão fazendo as suas apostas com a produção de hortaliças, vegetais e frutas dentro

de prédios e outras edificações, em experimentações que podem mudar o futuro da alimentação.

Num segmento que aproveita o bom momento de maior atenção para vida e alimentação saudáveis, em tendência alavancada pela pandemia e pelos cuidados com a saúde e o bem-estar, como destacou o relatório “A Fresh Start?” da Fruit Logistica, as cifras impressionam e colocam um tempero nas expectativas de quem está fincando raízes no setor.

É o caso da Bowery Farming de Nova York, que, de acordo com dados da Crunchbase, já levantou mais de US$ 640 milhões em nove rodadas de investimento e da paulista Pink Farms, que acabou de fechar captação de R$ 15 milhões contando com a participação da SLC Ventures, braço de investimentos de um dos maiores grupos rurais do País, a SLC Agrícola.

Aparentemente mais palatáveis na aceitação do público do que a carne de laboratório, que ainda sofre com o ceticismo do mercado e dos consumidores, parece que os produtos cultivados nos centros de inovação em andares têm ganhado um bom espaço nas gôndolas de varejistas e nas participações de fundos de investimento de risco. Mas, como toda inovação, há um custo de consolidação e validação do modelo desse negócio que está em maturação e que ainda poderá render um bom prato.

* Ricardo Campo é coordenador de inovação digital da Raízen e gestor do Pulse Hub. Especialista em Marketing e Inovação do Agronegócio, ajuda a conectar o campo à cidade, aproximando startups e produtores rurais. É graduado em Propaganda e Marketing pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especialista em Marketing de Varejo pelo Centro Universitário Senac, com MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e mestrando em Administração pela Esalq-USP. Atuou nos times de marketing da DSM/Tortuga e do Rabobank Brasil.

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#COLUNASPLANT

Alface nas alturas

Apesar do hype ao redor do modelo de produção vertical, recentemente algumas startups desse segmento precisaram apagar as suas luzes no exterior, mesmo tendo recebido volumes consideráveis de investimento. Isso gerou um ponto de atenção para uma equação importante em relação ao potencial de mercado versus o capital necessário para manter operações com sistemas de iluminação, climatização, ventilação, inteligência artificial para controle das condições e um alto consumo de energia elétrica.

As usinas de energia solar são uma possível alternativa para melhorar esse custo e aumentar a escala. Porém, outro fator relevante são os consumidores e a sua real disposição a pagar por produtos com valor agregado. Isso porque as fazendas verticais são direcionadas para nichos e têm como diferenciais a sua produção com menor uso de água, menos insumos para fertilização e zero aplicação de defensivos contra pragas, por não haver insetos nos ambientes fechados, algo que também colabora com uma qua-

Contêiner da portuguesa Raiz: soluções urbanas

lidade estética e de higiene para o que é produzido.

Apesar do dilema custo versus demanda das vertical farms, alguns exemplos já mostram como esse negócio está decolando, literalmente. Como a joint venture Emirates Crop One, formada entre a Emirates Flight Catering (EKFC) e a startup Crop One, para a criação do complexo de produção vertical Bustanica, de 30 mil m2 em Dubai, para servir aos passageiros da companhia aérea Emirates e de outras companhias atendidas pela EKFC.

Reconhecida como uma das maiores fazendas desse tipo no mundo, essa receita de inovação na prática também apoia o branding da Emirates, com acesso à matéria-prima diferenciada para refeições aéreas e reforço de sua oferta de valor com hortaliças que, segundo a JV, requerem 95% menos de água do que na agricultura convencional.

Saladas e cloud kitchens

O que antes ficava restrito aos polos de produção agrícolas tradicionais, como o Cinturão Verde em Mogi

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Mirim (SP), agora habita os ambientes das metrópoles com as fazendas de produção indoor e reforçam a tendência do fornecimento hiperlocal, que, segundo o relatório “Food&Tech Trends 2022”, da consultoria Galunion, atende às demandas do comércio eletrônico e ajuda a fornecer produtos mais sustentáveis, que chegam ao consumidor de forma rápida e conveniente, com disponibilidade e qualidade durante o ano inteiro.

Agricultura urbana e com pegada ambiental com startups aproveitando espaços em galpões, shoppings e coberturas de prédios. São exemplos desse ecossistema a 100% Livre, que possui parceria com Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a produção de morangos e tomates; a Fazenda Cubo, que produz mixes de folhosas, brotos e flores comestíveis; e a BeGreen, que mantém fazenda na sede do iFood, em Osasco (SP), com programa de doação para a comunidade do entorno.

Outro aspecto relevante dessa nova agricultura na paisagem das cidades é a contribuição na revitalização de áreas abandonadas em centros urbanos, que passa a atrair uma comunidade de consumidores engajados e trazem a reboque a oportunidade de valo -

rização cultural e econômica para a região com instalação de restaurantes e bistrôs ao redor desses “oásis orgânicos”. Tendência puxada pela startup portuguesa Raiz, que pretende utilizar espaços urbanos inutilizados para conversão em polos descentralizados de agricultura com o modelo de “Flagship Farm” construída em contêineres com uso híbrido de leds e luz solar.

Sobre a comercialização do que é produzido nas fazendas da “Babilônia 4.0”, além da venda direta pelo serviço de assinatura ou comercialização nas redes de varejo, as hortaliças também podem chegar aos lares dos consumidores pela oferta de startups de refeições saudáveis com saladas preparadas nas dark ou cloud kitchens, como são chamadas as cozinhas para atendimento exclusivo de delivery de aplicativos ou plataformas online. É o que acontece na Liv Up, com seu portfólio do Salad Stories, e nas variadas opções da Olga Ri, que tem entre seus investidores o fundo Kaszek Ventures e o cineasta Fernando Meirelles.

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Produto da brasileira Pink Farmers e a sede da Bustanica, em Dubai: apetite sem fronteiras

#COLUNASPLANT

Depois desse menu degustação do que há de mais fresco nas novas formas de plantio nas cidades, é hora de falar de uma verdade que, para alguns, pode ser um pouco mais indigesta. A tecnologia das fazendas verticais e outros agentes de inovação estão acelerando a cultura da alimentação saudável nas metrópoles, com alimentos funcionais, orgânicos e de alta qualidade. Mas como ficam os moradores de regiões periféricas, com menor poder aquisitivo e que costumam “plantar na janta o que sobrou do almoço”?

Da mesma forma, com novas bolhas de produção e consumo, como viabilizar o acesso ao mercado para produtores tradicionais e com modelo de pequena escala, alguns em situação de subsistência, dependendo de intermediários (para não dizer atravessadores) que condicionam o acesso aos canais de venda e ao consumo final? Quem planta colhe e faz a diferença quem compartilha.

De acordo com a Sampa+Rural –plataforma da prefeitura de São Paulo, financiada pela Bloomberg Philanthropies, que reúne iniciativas de agricultura, turismo e alimentação saudável –, há cerca de 105 hortas urbanas na cidade, sendo parte desse contingente

iniciativas coletivas e de livre acesso. Como a Horta na Laje, projeto desenvolvido pela Associação de Moradores de Paraisópolis com suporte do Instituto Stop Hunger, que aplica oficinas de cultivo de hortaliças na maior favela de São Paulo, com 120 mil habitantes.

Em outra frente, olhando para a questão da produção rural, a startup Raízs conecta mais de 800 pequenos produtores de orgânicos à mesa dos grandes centros urbanos em modelo que elimina intermediários, barateia o preço na ponta e aumenta a renda dos produtores. A empresa atende a mais de 60 mil clientes e utiliza tecnologia para previsão de demanda, roteirização de entregas e aprendizado de máquina para definir oferta customizada.

Se as startups nascem, em sua essência, com fome de revolucionar mercados e democratizar o acesso a novas tecnologias, por que não fazer isso para gerar impacto com empoderamento de agricultores e acesso a alimentos diferenciados àqueles que mais necessitam? Empreender no ecossistema de inovação não é uma receita fácil. Mas talvez seja o momento de semear uma nova ideia de inclusão, que resulte em notas e folhas verdes, nos bolsos e nos pratos de quem pode e para quem precisa. Os ingredientes estão aí. É começar o preparo e servir!

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Quem está no vermelho não pensa no verde

Fruto do cacau cultivado na Amazônia:

métodos agrícolas de povos antigos ajudaram a formar a floresta como é hoje

As regiões produtoras do mundo

foto: Shutterstock
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As regiões produtoras do mundo

FRONTEIRA

A SABEDORIA DOS PRIMEIROS AGRICULTORES

Novos estudos apontam que os povos indígenas que habitaram a Amazônia há mais de 8 mil anos ajudaram a moldar a floresta por meio do manejo e da domesticação de espécies

P or A ndré S ollitto | F oto S M A uricio de P A ivA
foto: Shutterstock

Há uma antiga crença de que a Amazônia é uma mata virgem, cuja maior parte de seu vasto território foi intocada pelo homem e é uma representação da natureza em estado bruto. A realidade, no entanto, é bastante diferente. De fato, a floresta amazônica abriga a maior biodiversidade do planeta. São mais de 1.294 espécies de aves, 427 de mamíferos, quase 400 de répteis, 3 mil espécies de peixes e 400 de anfíbios, além de mais de 100 mil invertebrados. Somados, representam 20% de toda a fauna da Terra. Não é só isso. Em seus mais de 6,7 milhões de hectares, estão 40 mil espécies vegetais, sendo cerca de 16 mil espécies de árvores. Tudo isso não é ação exclusiva e autônoma da Natureza. A formação dessa floresta é, em grande parte, resultado direto da ação dos humanos que lá viveram há milhares de anos. Apenas 227 espécies, ou 1,4%, correspondem a quase metade de todas as árvores existentes na região. O manejo agrícola de indígenas ajudou a moldar a Amazônia que conhecemos hoje.

Estudos recentes mostram que a região amazônica é habitada há pelo menos 8 mil anos – talvez mais. Ao contrário do que se pensava, os indígenas se estabeleceram em grandes cidades, sem a arquitetura grandiosa de outros povos pré-colombianos, mas em grandes povoados. De acordo com o arqueólogo Eduardo Góes Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e autor do livro Sob os Tempos do Equinócio: Oito Mil Anos de História na Amazônia Central, quando a

cidade de Santarém, no Pará, foi fundada, em 1661, já moravam nela 6 mil indígenas – o quádruplo da população do Rio de Janeiro na época. E, também de forma diferente do que se acreditava antes, esses indígenas não dependiam apenas da caça e da coleta para sobreviver, mas já conheciam o manejo agrícola e haviam domesticado algumas espécies vegetais.

Na região próxima a Porto Velho, em Rondônia, há indícios do plantio de feijão, abóbora e mandioca, de acordo com pesquisa da arqueóloga britânica Jennifer Watling publicada no periódico científico Plos One. Os indígenas queimavam algumas árvores para abrir espaço para o manejo e a domesticação de árvores. Vestígios escavados no local indicam o cultivo do tubérculo ariá (Calathea allouia). Foram encontrados também vestígios do cultivo de goiaba (Psidium) e castanhas-do-pará (Bertholletia excelsa), e já se sabia que a mandioca foi domesticada há cerca de 8 mil anos, antes de se espalhar pelo resto do País.

O processo de domesticação era primitivo, feito de forma empírica e lenta. Mas os vestígios encontrados pelos pesquisadores mostram que havia um conhecimento na maneira como espécies de fora da floresta, como o feijão e a abóbora, originalmente domesticadas nas partes baixas da Cordilheira dos Andes e na América Central, foram adaptadas para o clima distinto da Amazônia. Ao longo de milhares de anos, os indígenas foram fazendo experiências que resultaram em características genéticas consideradas superiores, como

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Geoglifos
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frutos maiores e mais doces ou árvores mais baixas, que facilitam a colheita.

Além do cultivo, os indígenas manejavam árvores de maior interesse social, como o açaí, o cacau, a castanha, a seringa e o cupuaçu. Por meio do manejo, obtinham densidades muito maiores do que as naturais. Essas plantas não foram domesticadas porque eram encontradas em abundância na floresta. Não havia necessidade de tirá-las de seu habitat natural. Bastava cuidar. E, aos poucos, a floresta foi se transformando.

Essas descobertas só foram possíveis graças à descoberta de novos indícios e vestígios e à aplicação de novas técnicas. As principais revelações vêm sendo feitas graças à análise da chamada “terra preta”. Trata-se de um solo escuro, de cor muito negra, que pode apresentar textura oleosa. São criadas pela ação humana e costumam conter materiais culturais, como restos de cerâmica. Também têm algumas características que os especialistas ainda não sabem explicar totalmente. Mantém a fertilidade mesmo em condições climáticas das zonas tórridas equatoriais, de acordo com o antropólogo Eduardo Góes Neves em seu livro. Por conta dessa fertilidade, é muito procurada pelas populações locais e é muito comum que roças sejam feitas sobre sítios arqueológicos de grande importância. Nela também se encontram restos de animais e plantas. Ainda não se sabe se eram feitas de forma proposital para enriquecer o solo de baixa fertilidade natural da região amazônica. Mas há certo consenso de que a presença da terra preta indica o processo de sedentarização que aconteceu na Amazônia.

A terra preta é uma formação conhecida pela ciência desde o século 19, mas que ficou sem receber a devida atenção durante décadas. A partir de pesquisas

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GEOGLIFOS ENCONTRADOS NA REGIÃO: VESTÍGIOS MILENARES
Fr Geoglifos

Fr Geoglifos

Exemplo de cerâmica encontrada em sítios arqueológicos: pesquisas recontam história da Amazônia

feitas nos anos 1980, voltou a ser estudada e hoje representa a melhor evidência para a validação dos princípios da chamada ecologia histórica. A linha de pesquisa busca compreender as relações das sociedades humanas com o seu ambiente local e os efeitos cumulativos dessas relações. No caso da Amazônia, é uma forma de compreender como viveram os povos indígenas que a ocuparam inicialmente há milhares de anos. Esses ocupantes deixaram alguns vestígios, como cerâmicas e algumas ferramentas, além das enigmáticas estruturas conhecidas como geoglifos, formações em baixo relevo escavadas usando instrumentos de madeira, com centenas de metros de diâmetro. Aos poucos, os pesquisadores vão desvendando pequenas peças desse extenso quebra-cabeça, mas ainda há muito a descobrir. Novas tecnologias de análise genética devem ser usadas para obter ainda mais informações sobre essas populações. O novo Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva, da Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, tem diversas linhas de pesquisa cujo objetivo é estudar os povos indígenas e, a partir deles, compreender muito da história do Brasil antes da chegada dos europeus. Além de ajudar na compreensão de nosso passado, os estudos podem dar pistas importantes para o futuro. Há uma movimentação crescente para entender de que maneira a sabedoria indígena pode inspirar o manejo responsável das frutas nativas, gerando renda para populações locais sem provocar a destruição do bioma. Enquanto frutas exóticas, como maçã e laranja, estão sendo analisadas e transformadas há muitos séculos, ainda se produz pouco conhecimento sobre as mais de 220 plantas produtoras de frutos comestíveis na região. Algumas, como a pupunha, já foram totalmente domesticadas. Mas outras ainda dependem do extrativismo. Existem iniciativas que são referência mundial, como os Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs) mantidos pela Embrapa Amazônia Oriental e pela Embrapa Amazônia Ocidental, com coleções de fruteiras e palmeiras nativas da Amazônia. As pesquisas na região vêm sendo feitas junto com as populações tradicionais, que podem ser beneficiadas pela união entre sabedoria milenar e técnicas modernas de cultivo.

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Cachaça Pindorama, da família Almeida

Braga:

Herdeiras do banqueiro Braguinha produzem no paraíso

WORLD FAIR

WA grande feira mundial do estilo e do consumo

WAs regiões produtoras do mundo

Vista aérea da Fazenda Palmas, no interior do Rio: natureza e bons negócios

WORLD FAIR

A AGROFLORESTA DAS ALMEIDA BRAGA

Da cachaça exportada para a Europa ao café sintrópico plantado à sombra, Fazenda Palmas é tocada por herdeiras do banqueiro Antônio Carlos de Almeida Braga sob rígidos critérios de sustentabilidade ambiental e a missão de gerar produtividade e lucros

Por Marco Damiani | Fotos Isabel Coração

Filhas de peixe, “peixinhas” são. Mesmo com a adaptação de gênero, o conhecido ditado popular recai sob medida para uma trajetória de sucesso no campo dos empreendimentos rurais sustentáveis que vai sendo construída, gota a gota, pelas irmãs Joana e Maria de Almeida Braga. Elas são destaques no, digamos assim, Conselho de Administração da Fazenda das Palmas, no interior do Rio de Janeiro. Comprada em 2012 pelo casal Luiza e Antônio Carlos

Almeida Braga, o conhecido Braguinha, banqueiro e mecenas dos esportes falecido em 2021, aos 94 anos de idade, o empreendimento tem hoje objetivos bem definidos. A matriarca, é claro, preside o Conselho.

“A gente atua para ter uma fazenda com produção absolutamente sustentável e sabemos que só vamos conseguir manter isso se gerarmos produtividade, rentabilidade e lucros”, crava a filha Maria, com a concordância tácita da irmã Joana, deixando

Sede da fazenda e detalhe do alambique: local recebe visitas de estudantes da rede pública

exposta a gene familiar marcada por bons negócios e boa imagem junto ao público.

Em seus 170 hectares na região do Vale dos Cafés, no norte fluminense, a Palmas mantém preservada uma área de Mata Atlântica Secundária de 100 hectares. A sede com seus espaços de lazer, com quadras para esportes e piscinas, é aberta para a frequência regular de crianças e jovens estudantes de escolas públicas da região. Uma ideia concretizada por Luiza,

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Dinastia

atenta à questão da sustentabilidade social. Nos negócios rurais, em lugar de carteiras de ações, apólices de seguro e títulos de valores que fizeram a fortuna de Braguinha com a sua seguradora Atlântica Boa Vista – e depois o grupo Icatu –, agora os produtos e serviços tocados pelas herdeiras são cachaça tipo exportação, café de sombra e recuperação de matas degradadas. Tal qual nos tempos idos, o sucesso já entra pela porteira.

33 EUROS POR GARRAFA

Com produção iniciada em 2017, a cachaça Pindorama já está próxima do breakeven, isto é, o momento em que começa a retornar o investimento inicial. Numa “vaquinha” familiar, arrecadou-se R$ 2,5 milhões para o início dos trabalhos, com acompanhamento pessoal do próprio Braguinha em seus últimos anos de vida. Ao atingir o padrão de qualidade desejado pelos empreendedores, as vendas começaram pelo mercado externo para depois alcançar pontos nobres no Brasil, como hotéis cinco estrelas e mercados gourmet.

A Pindorama é feita a partir da cana-de-açúcar plantada em 6 hectares da fazenda. Uma caldeira especialmente construída para ser movida por energia de biomassa – e não a lenha, como na maioria dos casos – se sustenta com o próprio bagaço da cana local. Premiada com a medalha de prata no Internatio-

nal Spirits Challenge, em Londres, em 2019, a aguardente repetiu o feito no Brasil, sagrando-se vice-campeã no V Ranking da Cúpula da Cachaça, em 2022. Lá fora, pode ser encontrada em Portugal, Reino Unido, Áustria, Alemanha e, em breve, Holanda, ao preço de 28 a 33 euros por garrafa de 700 ml. A variação se explica porque há dois rótulos, prata e ouro. Este último produto descansa por um ano em barris de amburama. Para compensar a utilização da árvore tipicamente brasileira, a família planta dez destas árvores para cada tonel existente. Nos próximos dois anos, ao chegarem a dez tonéis, a ideia é já terem plantado 100 novas amburanas. Para 2028, a produção deve chegar a 100 mil garrafas, com faturamento mensal previsto em R$ 500 mil. “Aí chega!”, avisa a matriarca, Luiza, atenta à capacidade máxima do atual canavial em fornecer matéria-prima. “Para aumentar a produção, teríamos de transformar floresta em cana, e não iremos fazer isso”, acrescenta. Entre os sócios e com presença no Conselho está, com igual entusiasmo, o artista plástico Rafael Deló, casado com a também artista plástica Maria, com quem tem duas filhas. Hoje radicado em Londres, o casal viveu na Fazenda Palmas durante seis anos, quando o sonho da produção sustentável começou a se materializar. “Nossa estratégia de crescimento tanto com a

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Maria: "Ele foi um banqueiro e mecenas muito importante, mas como pessoa, com os princípios e valores que nos passou, foi ainda mais incrível”

cachaça como com o café passa pela sustentabilidade ambiental e financeira a cada passo que vai sendo dado”, diz ele. Para iniciar a produção da caninha especialíssima, as Almeida Braga e Deló investiram cerca de R$ 2,5 milhões em recursos próprios. Um dinheiro dedicado à formação do canavial, construção da caldeira ecológica, logística para a comercialização e contratação de pessoal como os técnicos especializados Sérgio Olaya, expert em agroflorestas, e Bruno Zille, mineiro craque na produção da popular pinga.

CAFÉ SINTRÓPICO

Uma nova frente em termos de produto diferenciado está sendo aberta na Palmas com o plantio de café de sombra, pelo modelo de agricultura sintrópica. Esse método utiliza plantas e raízes para adubar a terra, em lugar de produtos industrializados ou químicos. A ideia veio a Maria durante a vivência na fazenda e o aprendizado em cursos de produção agrícola sob critérios ESG. “Para abrir veios na terra para melhor irrigação e agregar minerais ao solo, plantamos mandioca, que deixa entradas de até 30 centímetros no subsolo”, exemplifica Deló. Um conjunto de dez plantas

forma o núcleo dos elementos que são agregados aos 5 mil pés de café existentes na fazenda. “Começamos com 6 mil, mas mil pés não vingaram e essa tentativa e erro nos serve hoje de experiência acumulada”, conta Maria. Em breve, ainda sem marca revelada, o cafezal estará produzindo um tipo que, a exemplo do canavial, deve render um produto diferenciado para exportação.

Para completar o tripé de sustentação da Fazenda Palmas, os sócios se dedicam à preservação da grande área de Mata Atlântica que possuem e à recuperação de áreas degradadas. “Por onde passamos, queremos espalhar sustentabilidade”, aponta Deló. Neste sentido, a família tem procurado incentivar a formação de consórcios de produtores da região para tornar o Vale dos Cafés um grande polo agrícola de produção sustentável. “Mas não é fácil vencer barreiras culturais que estão aí há séculos”, admite Deló. “Mesmo assim, já temos pelo menos 20 pequenos produtores do nosso entorno que entendem a nossa proposta e estão migrando para modelos produtivos menos agressivos à natureza”, contabiliza.

O espírito bonachão e

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colaborativo do patriarca Braguinha está em cada elemento da fazenda que os sócios gostam de chamar de agrofloresta. Luiza, Joana, Maria e Rafael sabem que o sobrenome rico e famoso abre portas para bons negócios, mas igualmente reconhecem que, se as promessas de respeito à natureza não forem cumpridas e os produtos que surgirem dela não forem bons, não há milagre que traga os lucros almejados.

“Procuramos usar da melhor maneira nossas vantagens competitivas”, aponta Maria, logo complementada pelo marido Rafael. “Começamos a exportação da Pindorama por Portugal porque o meu sogro viveu lá por muito tempo e deixou muitos amigos e contatos”, reconhece. “Mas se o nosso produto não fosse verdadeiramente bom e diferenciado, nenhum sobrenome nos garantiria o mercado que estamos conquistando”, completa. Para a filha mais nova de Braguinha, o sucesso de hoje é mais um reconhecimento ao pai.

“Ele foi um banqueiro e mecenas muito importante, mas como pessoa, com os princípios e valores que nos passou, foi ainda mais incrível”, diz Maria, lembrando que “até os últimos dias de vida” seu pai saboreou a cachacinha bem feita na Fazenda Palmas.

A matriarca, Luiza, com a filha Joana: “Para aumentar a produção, teríamos de transformar floresta em cana, e não iremos fazer isso”

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Detalhe do pôster da mostra Nordestern:

Faroeste à brasileira ganha as telas

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campo para o melhor da cultura

BANGUE-BANGUE NO SERTÃO

O Nordestern, gênero cinematográfico que retrata o fenômeno do cangaço, ganha mostra na Cinemateca e mostra que o interesse pelos lendários bandidos continua vivo

Logo após os créditos iniciais, a câmera mostra o céu repleto de nuvens sobre o ambiente árido. Um grupo de homens, todos montados em cavalos e fortemente armados, se aproxima lentamente. À medida que avançam, espalham o medo pela região. Cientes da chegada dos bandoleiros, os fazendeiros buscam abrigo para evitar o confronto. Por onde passam, deixam um rastro de destruição.

A cena poderia fazer parte de algum clássico filme de faroeste norte-americano dirigido por John Ford, com seus cowboys de moral duvidosa, tiroteios em bares e perseguições a cavalo. Mas trata-se da sequência de abertura de O Cangaceiro, o clássico longa-metragem de Lima Barreto (1906-1982), lançado em 1953 – completa agora, portanto, 70 anos. É o seminal representante de um gênero que passou a ser conhecido como Nordestern, uma junção de Nordeste, ambientação principal dessas produções, e western, ou os populares bangue-bangues de Hollywood.

O termo foi cunhado pelo crítico Salvyano Cavalcanti de Paiva, ainda na década de 1960, para se referir aos filmes que buscam retratar, de forma bastante ficcional, o período do cangaço, o fenômeno do banditismo que dominou o sertão nordestino até meados do século 20. Já naquele tempo os filmes de cangaceiros eram populares. Mas ficariam ainda mais, e continuariam a despertar o fascínio do público. No final de janeiro, a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, exibiu 16 filmes na Mostra Nordestern: Bangue-Bangue à Brasileira. Pouco antes, a Netflix havia lançado a série de comédia O Cangaceiro do Futuro. E apenas alguns anos antes o longa Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, recebeu o importante Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2019. Figuras como Lampião, Corisco e Jesuíno Brilhante podem ter morrido há tempos, mas a memória de seus atos de terror – e, para alguns, de heroísmo – continua viva.

Definir as características do que é o nordestern não é tarefa fácil, dada a diversidade de produções do gênero. A relação com o western norte-americano fornece algumas pistas. “O que

Imagens de O Cangaceiro , de Lima Barreto ( foto maior ), e de O Cangaceiro do Futuro , série do Netflix: um gênero que resiste ao tempo

todos eles têm em comum é o povo. Um grupo de fora invadindo um território, e o povo originário daquele lugar se organizando para defender”, afirma o produtor cultural César Turim, organizador da Mostra Nordestern na Cinemateca. “Há uma ambiguidade entre os heróis e os anti-heróis. Lampião é um bandido, mas também um herói, de certa forma. Há um código de valores claros, repetidos dos cowboys”, diz Turim. Hoje, há produções que olham para o tema sob a ótica do riso, ou da ação, ou do drama.

Boa parte do imaginário que existe hoje foi consolidada a partir das imagens de O Cangaceiro “Ele estabeleceu o Nordeste como gênero”, diz Turim. E fez isso ao não escolher entre ser um filme de arte ou de entretenimento. Há cenas de ação e trilha sonora envolvente, mas a crítica social também está lá, ao retratar as agruras vividas pelo povo no sertão.

Mas o tema rendeu obras fundamentais da cinematografia brasileira. É o caso de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, recentemente restaurado. O filme retrata o cangaço e a figura de Corisco (vivido por Othon Bastos), do bando de Lampião, e é considerado um marco do Cinema Novo, movimento que se distanciou de Hollywood e se inspirou na vanguarda europeia dos anos 1960 para retratar a desigualdade do Brasil. O cineasta voltaria ao tema em O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de 1969, seu primeiro longa-metragem colorido. Anos depois, em 1996, Baile Perfumado, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, foi outro marco da retomada do cinema brasileiro. É baseado na história real do mascate libanês Benjamin Abrahão, que conviveu com o bando de Lampião e produziu as únicas imagens em vídeo do cangaceiro.

O próprio sucesso de Bacurau mostra o quanto a figura do cangaceiro ainda desperta interesse, não só no Brasil. Ambientado no futuro próximo, na cidade fictícia de Bacurau, mostra como os habitantes do povoado se defendem dos ataques de estrangeiros que viajam para lá apenas para caçar seres humanos. A resistência é organizada por Lunga (Silvero Pereira). “O

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rA Cinema

longa nordestino pode, também, ser enquadrado como legítimo representante do New Cangaço. Como não ver o personagem Lunga (Silvero Pereira) como uma espécie de Lampião dos tempos contemporâneos?”, escreve a crítica de cinema Maria do Rosário Caetano, organizadora da obra Cangaço – O Nordestern no Cinema Brasileiro. Além de prêmios e exibições em festivais internacionais, o filme recebeu

críticas positivas da imprensa mundo afora. Apesar das liberdades tomadas pelos cineastas, são obras que traduzem um sentimento de revolta contra as injustiças. “Cinema é isso. Pegar o que está acontecendo e reproduzir de um jeito, a partir de um olhar de subjetividade dos autores”, afirma César Turim. “São produções que dão poder aos personagens. Eles olham o horror e a miséria, pegam em armas e lutam contra ela”, diz.

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rA Cinema

ONDE ASSISTIR AOS

FILMES

Bacurau

Disponível para locação no YouTube

Baile Perfumado

Disponível no Prime Video

O Cangaceiro

Disponível no YouTube

Cangaceiro do Futuro

Disponível no Netflix

Deus e o Diabo na Terra do Sol

Disponível no Globoplay

O Dragão da Maldade

Contra o Santo Guerreiro

Disponível no Globoplay

Pôster de Baile

Perfumado, cena de Bacurau e o clássico Deus e o Diabo na Terra do Sol: reconhecimento da crítica

O interesse pelo cangaço, obviamente, não fica restrito ao audiovisual. Há uma variedade de obras literárias para quem quer entender mais sobre o fenômeno. A literatura produziu grandes obras sobre o tema. Sagarana, de João Guimarães Rosa, é uma delas. Elementos também aparecem em livros como Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz, e Menino de Engenho, de José Lins do Rego, embora não sejam dedicados totalmente ao assunto. E existem ainda bons registros de não ficção, como Apagando o Lampião –Vida e Morte do Rei do Cangaço, de Frederico Pernambucano de Mello, e Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, de Adriana Negreiros, dedicado a esmiuçar a participação feminina. Até autores de quadrinhos se debruçaram sobre o tema. É o caso de Bando de Dois, de Danilo Beyruth, vencedor do importante prêmio HQ Mix em 2011, que conta a história de dois sobreviventes de um bando que buscam vingança; e Estórias Gerais, de Wellington Srbek e Flavio Colin, clássico das HQs brasileiras lançado originalmente em 1998. Ambientado no interior de Minas Gerais, uma terra sem lei, acompanha Antônio Mortalma e seu bando de criminosos.

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Uma nova visão da agricultura:

Grupo dono do Google lança empresa com foco na agricultura computacional

SSTARTAGRO

103 PLANT PROJECT Nº26
As inovações para o futuro da produção

As inovações para o futuro da produção

O GOOGLE PÕE OS PÉS NA TERRA

Ao lançar a startup Mineral como um novo braço de negócios independente, a Alphabet, dona do Google, aposta em inteligência artificial e machine learning para ampliar o papel da agricultura digital no aumento da produtividade global

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SSTARTAGRO

Protótipos da Mineral em campo: robôs construídos para colher informações

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Há mais de uma década, o Google tem olhado com atenção e feito alguns investimentos certeiros. Em 2011, por exemplo, o Google Ventures, braço de venture capital da gigante da tecnologia, participou de uma rodada de US$ 42 milhões na empresa de agricultura digital WeatherBill, que mais tarde se tornaria a The Climate Corporation e seria comprada pela Monsanto em 2013 por mais de US$ 1 bilhão. Em 2015, investiu US$ 15 milhões na Farmers Business Network, startup americana que reúne uma base com mais de 33 mil produtores dos Estados Unidos, do Canadá

e da Austrália e, no ano passado, estudava começar uma operação no Brasil. Mais recentemente, em 2020, o Google anunciou um pacote de US$ 10 bilhões, que seriam usados, em um período de cinco a sete anos, para digitalizar diversos setores da Índia, incluindo a agricultura. É um histórico respeitável que mostra como a companhia tem feito apostas certeiras no ecossistema agtech.

A mais nova iniciativa da Alphabet (o conglomerado que controla o Google) é a startup Mineral, uma plataforma de agricultura digital e robótica que passou cinco anos sendo

Técnico da Mineral em campo: empresa diz já ter analisado 10% das terras agrícolas do planeta

incubada no Google X, o laboratório secreto que foi apelidado de “moonshot factory”, uma referência ao “moonshot thinking”, startups que oferecem soluções radicais para grandes problemas. No caso da Mineral, o objetivo é resolver o velho dilema de produzir mais e melhor em um cenário de mudanças climáticas e crescente demanda por alimentos. A maneira como a startup quer fazer isso, no entanto, é ainda pouco comum, e em uma escala inédita.

Apresentada pela primeira vez em 2020, quando foi oficialmente batizada de Mineral após passar três anos conhecida

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apenas como “Projeto de Agricultura Computacional”, a empresa propõe uma análise individual de cada planta na lavoura. E faz isso usando simpáticos robôs que atravessam os talhões coletando quantidades enormes de informações. A solução foi aperfeiçoada ao longo do tempo. Inicialmente, a Mineral coletou informações que já existiam sobre as condições do campo, como os dados sobre o solo, o clima e o histórico de produtividade de diferentes culturas em diferentes regiões. O passo seguinte foi analisar como cada cultura estava crescendo e reagindo ao ambiente e às mudanças climáticas. Foi assim que a empresa desenvolveu os robôs, capazes de atravessar o campo coletando imagens de alta precisão sem danificar os talhões. Foram feitos testes em fazendas de morangos na Califórnia e soja em Illinois, e as análises de cada cultura foram computadas em um grande banco de dados. O robô, no entanto,

não é o produto final da Mineral. Embora sua capacidade seja impressionante – imagens divulgadas mostram como o hardware é capaz de separar por cores cada grão de soja analisado –, o foco é em traduzir esse enorme volume de informações em algo que possa, de fato, ser utilizado pelos produtores. “Nossa missão é ajudar a escalar a agricultura sustentável. Estamos fazendo isso ao desenvolver uma plataforma e ferramentas que ajudam a reunir, organizar e traduzir informações nunca antes conhecidas ou compreendidas sobre o mundo das plantas – e tornar tudo isso útil”, escreveu o CEO da Mineral, Elliott Grant, em um post em que anunciou o lançamento da empresa. Usando inteligência artificial e machine learning, eles conseguem identificar padrões e oferecer insights aos produtores. Até agora, a Mineral afirma ter analisado 10% de todas as terras agrícolas do planeta. Para treinar seu algoritmo,

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S AgTech

Até 2050, empresa espera aumentar em 20 vezes o número de dados extraídos de qualquer fazenda

criou reproduções perfeitas de plantas que as máquinas nunca viram na vida real, mas conseguem identificar com precisão.

Com essa vasta base de dados, a Mineral consegue prever o rendimento das colheitas, aumentar a produção, atacar pragas e ervas daninhas, reduzir o desperdício, minimizar o uso de insumos químicos e água e reduzir o impacto da agricultura no planeta, de acordo com a companhia. Segundo Grant, isso só é possível porque as informações são coletadas em grande escala, muito mais do que é feito até agora. Até 2050, a empresa espera aumentar o número de pontos de dados extraídos e analisados de qualquer fazenda em mais de 20 vezes, de uma média de 190 mil pontos de dados por dia coletados em 2014. Ou seja, é um volume inédito de informações que vão alimentar e treinar de forma cada vez mais precisa seus algoritmos.

O segmento de agricultura digital é um dos mais concorridos do ecossistema agtech, e a briga é acirrada. Há inúmeros players importantes, incluindo algumas das principais candidatas a unicórnios do agro. O Brasil, inclusive, tem representantes de peso, como a Solinftec, cuja atuação já avançou para outros países da América Latina e da América do Norte, e a Agrosmart. Outras agtechs, como a Indigo Ag, que em 2020 valia US$ 3,5 bilhões, e a Granular, também oferecem plataformas de agricultura digital. Apesar da expansão em ritmo acelerado de todas elas, ainda existem barreiras. O principal dilema enfrentado por todas é convencer os produtores de que realmente vale a pena investir nesses sistemas. Mas não é o único. Algumas dessas empresas estão associadas a gigantes do setor agrícola, como a Granular, controlada pela Corteva, ou a Climate FieldView, da Bayer. Ou seja, é preciso escolher uma e se ater a ela.

A Mineral tenta contornar esses problemas. Para começar, as empresas “graduadas” do Google X precisam ter comprovado sua viabilidade econômica. A decisão de lançar a startup como um novo braço de negócios mostra um interesse

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S AgTech

de longo prazo com a plataforma. Embora não tenha dado definições precisas de seu modelo de negócios, as declarações de Grant até agora sugerem que a empresa deve adotar um sistema de machine learning como um serviço, provavelmente em um modelo de pagamento recorrente. Para construir sua vasta base de dados, vem trabalhando há anos com três grandes parceiros: a Driscoll’s, tradicional produtor de morango, framboesa e outras frutas vermelhas; a Syngenta, gigante produtora de insumos agrícolas; e a CGIAR, grupo de pesquisa global com

um vasto conhecimento de culturas menos cobiçadas, mas que são importantes para assegurar a segurança alimentar. Segundo o analista canadense Shane Thomas, em sua newsletter Ag Insights, essa atitude mostra que a empresa está disposta a trabalhar em conjunto com o agribusiness, e não competir com esses grandes players ou tentar chegar diretamente no produtor, cortando os intermediários. Ainda é cedo para afirmar com precisão se a Mineral terá sucesso em sua ambiciosa missão. Afinal, o anúncio oficial de seu lançamento foi feito em

meados de janeiro, e ainda faltam informações sobre quais os mercados que serão explorados inicialmente, além dos Estados Unidos. Mas a proposta é promissora. Em entrevista ao AgFunder News, Grant afirmou que seu objetivo é “organizar dados agrícolas de fontes diferentes”. Esse pode ser um caminho interessante: trabalhando junto com empresas tradicionais, que possuem grande conhecimento agrícola, mas não possuem capacidade de análise de dados tão avançada, a Mineral poderá encontrar solo fértil para se consolidar como referência.

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A TIM SEMEIA O FUTURO

Projetos de implantação de tecnologia 4G no campo se expandem pelo País, ajudando a melhorar a produtividade das fazendas e a transformar vidas no meio rural

Na safra 2022/23, os agricultores brasileiros cultivaram mais de 73 milhões de hectares. Ao final dela, devem colher mais de 310 milhões de toneladas de grãos, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Trata-se de um volume recorde, obtido graças a muito trabalho e investimento. Também tem peso relevante nesse desempenho a adoção crescente de tecnologias, sobretudo digitais. Nos últimos anos, uma série de iniciativas lideradas por empresas do agronegócio e de tecnologia ajudou a levar a conectividade 4G para as principais regiões produtoras do País. Atualmente, a TIM tem mais de 12 milhões de hectares de propriedades rurais com 4G – e ainda há muito a se fazer.

“Fazemos parte da transformação digital do agronegócio, um setor que estava em grande medida desconectado”, afirma Alexandre Dal Forno, diretor de Desenvolvimento de Mercado IoT e 5G da TIM. A operadora foi uma das pioneiras em levar soluções de conectividade ao campo. Já em 2018, equipes da empresa percorreram o País com o objetivo de conhecer a realidade do produtor brasileiro e entender as dores que enfrentam para digitalizar seus processos de trabalho. A principal conclusão foi de que o agro é muito avançado tecnologicamente, mas pouco conectado. Ou seja, há muita tecnologia embarcada nos equipamentos, mas as lacunas de conectividade impedem que seja extraído todo o potencial dos recursos.

Desde então, a TIM desenvolveu uma série de projetos personalizados, com equipamentos e infraestrutura desenhados sob medida para atender às demandas do ambiente rural. Embalados na solução 4G TIM no Campo, esses projetos ganharam espaço no setor, permitindo que empresas agrícolas e produtores conseguissem conectar suas propriedades, potencializando a coleta de dados e o monitoramento

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remoto das lavouras, criando assim condições para uma melhor gestão de seu negócio. “Hoje conseguimos adotar melhores estratégias com base em dados”, afirma Edgar Alves, gerente agrícola da Jalles, segunda maior produtora de açúcar orgânico do mundo e cliente da TIM desde 2018. Para ele, a conectividade é fundamental para o progresso do agronegócio principalmente por permitir a tomada de decisões em tempo real.

Na solução 4G TIM no Campo os projetos de cobertura são feitos sob medida para os clientes, utilizando a frequência de 700 MHz. A tecnologia é a mesma já instalada nas cidades, o que permite plena integração entre terminais e projetos. Mas, para

ampliar a cobertura tradicional e assim atender às necessidades de levar conectividade IoT a grandes áreas, a solução 4G TIM no Campo incorporou a tecnologia NB – IoT (Narrow band – também conhecida como Banda larga estreita e Internet das Coisas). Com ela, a cobertura aumenta em até 40%, além de ser uma tecnologia com baixo consumo de bateria, fundamental para aplicações em setores IoT.

PARCERIA PELA CONECTIVIDADE

A missão de ampliar a conectividade no meio rural é compartilhada com outras empresas. Em 2019, a TIM foi uma das fundadoras da ConectarAGRO, associação que reúne empresas de

diversos segmentos ligados ao agro, como as indústrias de máquinas e equipamentos agrícolas e de serviços de tecnologia, para fomentar o acesso à internet móvel 4G nas áreas rurais de todo o País. A associação ajudou a levar aos produtores uma visão mais ampla dos benefícios do investimento em conectividade.

A instalação de antenas posicionadas em pontos estratégicos da propriedade fornece acesso à internet móvel 4G e habilita a integração de tecnologias que permitem acompanhar e correlacionar, remotamente, informações de um pulverizador e dados climáticos, garantindo o uso eficiente da aplicação de agroquímicos. Assim, colabora

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para melhorar o desempenho de todas as operações agrícolas. O uso de tablets ou smartphones permite a colaboradores controlar equipamentos remotamente, agilizando a transmissão de dados e a tomada de decisões. A conectividade, combinada a aplicações e equipamentos, ajuda a acompanhar, monitorar e avaliar as atividades em toda a propriedade.

A internet 4G facilita ainda a integração de máquinas, o uso de câmeras e chips para acompanhamento de animais à distância, o rastreamento de vacinas e medicamentos, os ciclos de gestação e de abate, a nutrição e o ganho de peso dos rebanhos. Com o uso de drones, é possível monitorar a propriedade em tempo real, acessando imagens que auxiliam em tarefas cruciais como análise de falhas em plantio e detecção de pragas. Sensores de agricultura de precisão colaboram no acompanhamento, também em tempo real, de indicadores como umidade do solo, facilitando eventuais decisões dos gestores.

INCLUSÃO DIGITAL

A conectividade não transforma apenas a gestão das fazendas. Ela é fundamental para transformar a vida de quem depende delas ou mesmo habita no seu entorno. Ao levar a tecnologia 4G para o campo, promove-se a inclusão digital

das famílias, ajudando a manter a nova geração no campo e estimulando o ensino à distância. Gestores ganham novas ferramentas de comunicação entre a sede da fazenda e as equipes de campo, permitindo decisões mais assertivas e melhor controle da execução de tarefas. Tudo fica mais ágil, da notificação sobre uma máquina quebrada na lavoura ao acionamento do suporte técnico, que pode ser feito à distância.

Nas grandes empresas do setor, esses avanços são claramente percebidos.

A Citrosuco, uma das maiores produtoras de suco de laranja do mundo, conectou todas as suas indústrias, fazendas e terminais logísticos com a TIM. O resultado? Uma melhor gestão das atividades produtivas e a modernização dos sistemas de monitoramento de veículos, máquinas e equipamentos agrícolas. “É preciso ter tecnologia e aporte de conectividade para manter a produção e o transporte de suco para mais de 100 países ao redor do mundo”, diz Claudio Coelho, diretor de Operações da companhia.

HISTÓRICO DE INOVAÇÃO E INVESTIMENTOS

Detentora da maior rede de Internet das Coisas do Brasil, com 4.714 cidades com a tecnologia NB-IoT, conectando máquinas e pessoas para apoiar a transformação e inclusão digital no campo, a TIM foi

pioneira ao oferecer a funcionalidade aos clientes corporativos. A solução TIM 4G no Campo alcançou a marca de 12 milhões de hectares cobertos com o 4G e mais de 24 milhões de hectares cobertos com o NB-IoT, uma funcionalidade que permite ampliar a cobertura tradicional em até 40%, com baixo consumo de bateria, fundamental para aplicações de IoT. Hoje, são beneficiadas, potencialmente, 1,1 milhão de pessoas, em 12 estados diferentes e 485 cidades em território rural. A meta da operadora é chegar a 16 milhões de hectares, ou 20% do total da área agricultável do Brasil.

Além da Jalles e da Citrosuco, citadas, a TIM tem projetos de conectividade implementados com outros grandes produtores rurais do País, como Adecoagro (MS), Amaggi (MT), SJC Bioenergia (GO), Agropalma (TO), SLC Agrícola (BA), Usina Santa Vitória (MG), Usina Santa Adélia (SP) e Usina São Martinho (SP), entre outros. A TIM trabalha com empresas vinculadas às verticais-chave para o crescimento do País, desenvolvendo propostas de valor específicas (Agronegócio, Mobilidade, Utilities e Mineração).

As iniciativas da TIM no agro vão além da implantação de rede e conectividade. A companhia tem o primeiro marketplace IoT de uma operadora no Brasil, com ofertas de parceiros inclusive

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para o agronegócio. O produtor pode consultar as soluções disponíveis no marketplace e solicitar o contato de um representante TIM, que fará a ponte com a empresa. São 11 soluções para o agronegócio, conectando escritórios, fazendas ou máquinas, capazes de otimizar a gestão de equipe, o monitoramento de lavouras e acompanhamento, em tempo real, do transporte de mercadorias tanto para centros de distribuição quanto para o cliente final.

Com todas as iniciativas, a operadora torna cada vez mais sólido e efetivo um ecossistema de inovação no agronegócio: a TIM desenvolve alianças estratégicas e parcerias com hubs de negócios e aceleradora de startups para fomentar o desenvolvimento de soluções e promover,

por meio do uso das tecnologias móveis e IoT, a digitalização e automação do campo. O agro representa 1/4 do PIB nacional quando se considera toda a cadeia de produção e, com a conectividade, tem potencial de multiplicar esses números. A conectividade no campo transforma processos que antes eram manuais em digitais, com informações sendo transmitidas em tempo real. Isso coloca a produção em outro patamar. Consegue-se produzir mais (aumentar a eficiência) com menos recursos empregados e muito mais responsabilidade com o meio ambiente. A TIM entende que o setor é estratégico para o País e traduz essa importância olhando para o futuro e investindo no avanço tecnológico do segmento.

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