Edição 479- Setembro de 2020

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Nutrição

A importância do fósforo na nutricão de ruminantes Júlio César Santin é químico com mais de 30 anos de experiência no desenvolvimento, produção e aplicação de fosfatos de cálcio feedgrade. Especialista em processos químicos, granulação, secagem e bioquímica dos fosfatos de cálcio.

O

organismo animal contém aproximadamente 1% de fósforo (P), mineral que desempenha inúmeras funções vitais, participando da formação dos ossos e dentes, manutenção da integridade do esqueleto, processos metabólicos, proteção da membrana celular, composição do DNA, contração muscular, impulsos nervosos, manutenção do pH do sangue etc. A concentração de fósforo nas plantas forrageiras, contudo, depende de vários fatores: fertilidade do solo, cultivar adotada, seu estágio de maturidade, sistema de pastejo, clima da região – todos esses fatores são decisivos para a qualidade nutricional da forragem. Sabe-se ainda que a concentração de P é maior nas sementes do que nas folhas e caules, partes da planta consumidas pelos animais. Há deficiência do mineral em pastagens, especialmente aquelas formadas por gramíneas, em diferentes regiões do mundo. Isso compromete a eficiência da produção de carne e leite, exigindo um balanceamento das dietas. No Brasil, onde boa parte dos solos são deficitários em fósforo, a suplementação torna-se obrigatória. Considerando-se os teores médios desse nutriente nas forrageiras brasileiras, conclui-se que apenas 70% das demandas do animal são providas pelo pasto; os 30% restantes devem ser fornecidos via suplementação. Esses são percentuais médios, mas é importante considerar no cálculo o efeito do manejo da pastagem e a qualidade de cada forrageira, bem como o estágio de desenvolvimento do animal. A tabela acima mostra as exigências do mineral para funções específicas em bovinos. Fontes de fósforo Para atender tais exigências, é funcamental usar produtos com uma boa fonte de P. O fósforo usado na suplementação mineral tem sua origem nas rochas fosfáticas, que contêm fosfato tricálcico. Por meio de processos químicos e purificações, essa matéria prima é transformada em um produto apto à nutrição animal. Durante tais processos químicos, usa-se principalmente ácidos fortes como o nítrico, o clorídrico e o sulfúrico (mais adotado) para tratar a rocha fosfática e produzir ácido fosfórico, que, posteriormente, reage com uma fonte de cálcio (calcário ou cal hidratada), dando origem aos fosfatos bicálcico e monocálcico usados em suplementos. Rocha fosfática

Fosfato tricálcico

Para cada função, uma demanda de fósforo Função orgânica

Exigências

Manutenção

12 mg/kg de peso vivo

Crescimento

8 g/kg de ganho

Lactação

0,96 g/kg de leite

Gestação

Início

1,57 g/dia

Meio

3,40 g/dia

Final

4,75 g/dia

Para verificar a qualidade dos fosfatos nutricionais, é preciso observar a presença de contaminantes indesejáveis, como o arsênio, cádmio, chumbo, mercúrio e flúor, além de outros indicadores, como a solubilidade do P, que, nos bicálcicos, é avaliada em ácido cítrico. Essa não é uma medida de biodisponibilidade, mas está relacionada com ela. Em produtos de qualidade, tem-se índices de 90% (bom) a 95% (excelente). Já os tricálcicos possuem fósforo pouco solúvel em ácido cítrico, daí a necessidade de processamento. Algumas situações, durante a fabricação, também geram esse fenômeno. A secagem em altas temperaturas, por exemplo, propicia a formação de pirofosfatos de baixa biodisponibilidade e o uso de cal hidratada, quando se opera com relações Ca:P elevadas, também podem apresentar redução da solubilidade do fósforo em ácido cítrico, pela formação de fosfato tricálcico. Outro indicador de qualidade é a solubilidade do P em água, usado para análise de fosfatos monocálcicos, já que os bicálcicos e o tricálcicos são insolúveis neste líquido. Teores muito altos de P solúvel em água geram instabilidade química e levam à conversão do fosfato monocálcico em bicálcico, causando empedramentos. Conclusão: para comparar fontes de P, é preciso entender como estas interagem com múltiplos fatores ambientais, sistemas de pastejo e características do animal suplementado. Há vários trabalhos sobre fontes de fósforo, mas fazendo comparações apenas de custo, sem verificar a maximização de resultados. É importante deixar claro que a quantidade de P absorvida pelos animais não depende apenas da fonte usada. Devemos entender esse fenômeno de forma integral e não a partir de componentes isolados. n Fosfato bicálcio

Fosfato monocálcico

Aumento da biodisponibilidade do fósforo

72 DBO setembro 2020


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