Edição 479- Setembro de 2020

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Pastagens

Mosca-dos-estábulos: um grande desafio a ser vencido

Bezerro com dorso coberto pela moscados-estábulos (no detalhe), inseto que se alimenta de sangue e causa perda de peso nos animais.

Prejuízos pesados A mosca-dos-estábulos se parece muito com a mosca comum. As duas pertencem à mesma família (Muscidae), mas a Stomoxys calcitrans tem aparelho bucal picador prolongado e manchas no abdômen. Trata-se de um inseto hematófago (se alimenta de sangue). Além da picada dolorosa, que gera muito estresse nos animais, essa mosca

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transmite doenças como a tripanossomose e a anaplasmose. Nas vacas leiteiras, registra-se redução de até 60% na produtividade e, no gado de corte, queda de 20% a 30% no ganho de peso. Em 2014, o prejuízo potencial causado pela mosca-dos-estábulos aos pecuaristas brasileiros foi estimado em US$ 335 milhões por ano. Esse valor, contudo, pode ser bem maior atualmente, pois não se considerou, na estimativa, surtos da dimensão dos ocorridos nos últimos anos, nem as consequências indiretas do ataque do inseto, como abortos, mortalidade de animais, ausência de cio e queda de vários índices zootécnicos. Também ficaram de fora dessa conta as perdas das usinas. É importante lembrar que, apesar do maior sofrimento ser certamente do pecuarista e dos animais afetados, o setor socroenergético também acumula prejuízos com a mosca. Despesas com pessoal, consultores externos e produtos para controle da praga são facilmente calculados, mas há vários custos intangíveis, difíceis de perceber e medir, como a adoção de manejos que interferem na produtividade da cultura e o comprometimento da imagem da empresa. Relação com a cana A mosca-dos-estábulos sempre esteve presente nas propriedades rurais, mas sua proliferação em rebanhos bovinos aumentou nas duas últimas décadas, principalmente associada às usinas de cana-de-açúcar. Mudanças na legislação brasileira voltada ao setor, iniciadas em 1998, determinaram a proibição gradativa da queima pré-colheita dos canaviais e isso levou à posterior mecanização do processo de corte. A palhada, que outrora era queimada, agora permanece sobre o solo e é encharcada com vinhaça usada na fertirrigação, criando um ambiente propício para o desenvolvimento do inseto, antes restrito às propriedades pecuárias.

https://www.bioimages.org.uk/

Thadeu Barros É veterinário com doutorado em entomologia pela Louisiana State University e pesquisador da Embrapa Gado de Corte

C

arquivo pessoal paulo cançado

Paulo Cançado É veterinário com doutorado em parasitologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e pesquisador da Embrapa Gado de Corte

om a aproximação do início da estação chuvosa e a safra de cana-de-açúcar ainda em andamento (termina em novembro), a possibilidade de ocorrência de novos surtos de mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) volta a preocupar os produtores. Há mais de 10 anos, essa praga causa prejuízos ao agronegócio brasileiro. Recentemente, técnicos do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo realizaram um levantamento sobre sua incidência, cujos dados estão sendo utilizados, inclusive, como ferramenta de Business Inteligence para planejamento de ações de combate ao inseto. Neste levantamento, constatou-se que 13% dos municípios pesquisados tiveram problemas com surtos de mosca-dos-estábulos em 2019. Trata-se de um percentual expressivo. Na prática, isso significa 16.000 estabelecimentos pecuários e 900.000 animais sob risco de ataque da praga. Segundo o levantamento, cerca de 2/3 dos municípios atingidos pelo problema em São Paulo estão concentrados na região noroeste, onde há forte presença de indústras sucroenergéticas. Produtores de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também têm sofrido bastante com a Stomoxys calcitrans. O problema ocorre em outros Estados brasileiros, porém em menor intensidade. Hoje, já temos mais de 200 municípios afetados por surtos, dos quais 160 têm relação com usinas.


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