Seleção
Guzerá em sintonia com a modernidade Toninho de Salvo seleciona a raça com foco no mercado de carne, mas sem abrir mão da dupla aptidão. Defende a descorna e aposta em importação da Índia “Meu pai [Antônio Ernesto Werna de Salvo, ex-presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil, CNA] recebeu esse legado e deu iniciou ao trabalho de melhoramento genético do rebanho, em 1956. Em 1958, ele implantou o controle leiteiro na fazenda e, em 1959, o Controle de Desenvolvimento Ponderal, ferramentas que utilizamos ininterruptamente, pois acreditamos no duplo propósito do zebu”, conta Toninho de Salvo, que comanda a Marca S junto com os irmãos Gustavo e Patrícia, além de ser presidente da Câmara Setorial da Carne Bovina, junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Matrizes têm de ser boas de leite, para desmamar bezerros pesados
Larissa Vieira,
R
de Uberaba, MG
aça bovina mais populosa da Índia, com mais de 2,5 milhões de cabeças, o Guzerá (Kankrej, como é conhecido por lá) experimenta uma fase promissora no Brasil. Com a demanda crescente por carne no mundo, deixou para trás os tempos de purismo genético, quando falar em cruzamento industrial era praticamente uma “heresia” para os criadores de zebu. Nos últimos anos, o posicionamento da raça no mercado é ser uma opção para quem busca alto desempenho em cruzamento com outros bovinos de corte, taurinos ou zebuínos, tanto para a produção de cruzados F1 quanto de tricruzados. Um dos protagonistas dessa atual fase é o pecuarista mineiro Antônio Pitangui de Salvo, o Toninho, cuja família cria Guzerá há nove décadas. Uma história que começou a ser escrita por seu bisavô, Major Antônio Salvo, imigrante italiano que, na década de 1930, se estabeleceu em Curvelo (MG), cidade localizada a 130 km de Belo Horizonte. Lá, ele atuava como invernista, engordando animais Guzerá e Charolês. Na década seguinte, os negócios passaram a ser conduzidos pelo avô de Toninho, Ernesto de Salvo. Foi ele quem deu os primeiros passos para formação do rebanho Guzerá Marca S, em 1942, adquirindo matrizes puras de plantéis pioneiros da época, como o de Christiano Penna, também de Curvelo.
86 DBO setembro 2020
Dupla aptidão Na Fazenda Canoas, o foco da seleção é uma genética versátil, que pode ser usada para cruzamento com raças de corte, valorizando-se desempenho individual e ganho de peso, mas que também traz benefícios para quem atua na pecuária leiteira, uma vez que, segundo Toninho, também são valorizados atributos como habilidade materna e produção de leite, via controle leiteiro. “Acreditamos no Guzerá da forma que é criado na Índia, com muita força (pois é utilizado para tração animal), porém com boa aptidão leiteira, pois lá as vacas são sagradas e utilizadas para a produção de leite. Somos favoráveis a esse Guzerá natural, mas melhorado por nós, pecuaristas brasileiros”, defende o criador, cujo lema é “Leite para produzir carne e carne para produzir leite”. Toninho de Salvo explica que as matrizes precisam ter alta habilidade materna, pois precisam produzir um excelente bezerro de corte, ou seja, que tenha capacidade de ganho de peso para transformar o leite recebido da mãe em carne. Outras características priorizadas na seleção das fêmeas são a estrutura corporal, bom ligamento de úbere e tetos pequenos. Aliás, tetos grandes são critério de descarte na Fazenda Canoas, mesmo que a vaca tenha boa produção de leite. Essa é uma característica que vem sendo corrigida no Guzerá, para que a raça tenha cada vez mais aceitação por quem trabalha na pecuária comercial a pasto. Com tetos menores, evita-se problemas de mamada do bezerro, dificuldade na ordenha e lesões causadas pelo atrito com capins altos. Já em relação à idade ao primeiro parto, a fazenda trabalha para atingir a meta de 30 meses, tendo atualmente uma média de 32 meses. Segundo o produtor, na região