Chanana Mestiza Sapatã desde que se entendeu. Todo dia aprende a dizer o que pensa e a calar o que deve ser esquecido. Faz de cada encontro uma coisa pequena e necessária.
Em-bula-chando
C
edo, a garotinha tinha, para ela, a curiosidade. Saber várias coisas e reações. Sobre os reflexos das ações. E com aquele jeitinho meio levado e arteiro, que os meninos do sítio também tinham, foi descobrindo. Aprendeu a andar sob duas grandes rodas na bicicleta Monark barra circular de seu Luiz. Era o meio de transporte do senhor e a diversão da meninada. A pequena a enfiar sua perninha naquele círculo, na busca por alcançar o pedal do outro lado. Lá ia dando suas primeiras longas pedaladas, de modo que se independeu das pequenas rodinhas. Não sem quedas e arranhões. - Levanta pra cair, menina. Ouviu. E na peraltice ia se afeiçoando pelas brincadeiras com bila, pião, pipa e subir em árvores esgalhadas... Nas quedas maiores, chorava. E podia expressar sua dor em lágrimas, diferente dos meninos que eram reprimidos ou achincalhados caso fizessem um beiço com um joelho arranhado. As seriguelas, goiabas e mangas doces foram fazendo esse gosto pela escalada. Viu, nas visitas à casa da tia, que a prima de seus primos brincava de um jeito curioso. Se abraçando e dando beijinhos na brincante. E foi ali sua primeira experiência erótica com uma menina. Elas tinham quase a mesma idade, 9 e 11 anos. Não achou uma oportunidade para depois falar sobre aquilo com ninguém. Era dito como feio, sujo, nojento, pecaminoso... cruzes! Depois disso, com sua prima, brincando de casinha, se fingia de pai para a outra ser mãe das crianças, bonecas. 28 | Poesia para amar de toda forma