Vini Bezerra Amante de livros, animais, plantas e, perifericamente, de pessoas. Habita os mundos simulados pela literatura e pela vida real. Adora ficção científica. É professor e faz doutorado em Linguística.
Vento e riso
O
vento no cabelo foi muito infinito. Não dava pra olhar pro céu, mas olhou pra trás no fluxo do tempo: viu uma menina de longe com uma boneca na mão sorrindo pra mãe ansiosa à espera de sim.
Vento, ventania, ar que passa pra cima.
Luzes abaixo, sons fugitivos, um rosto rápido numa janela borrada veloz. Meio nublado, o gosto do sorvete na mão da menina, lá, se misturava com o de adrenalina ali, e o frio do vento corria pelo calor do peito batendo rápido. Suspirou longamente, surpreso. Do baú, a boneca cara, cabelo cortado Joãozinho e roupa de menino fez a mãe não sorrir. “No mercado de ser quem se é, ousar custa caro: o peso de ouro da vontade em lágrimas”, foram as palavras escritas no caderno amarelo adolescente, póstumo mais tarde. Pelo rosto e pelo corpo transformado no espelho, escorreram, lábios, seios e mãos, lágrimas e risos... Escorriam também agora, gotas salgadas de chuva a cair... mas ali, naquele bem ali, quis mais foi os risos do amor que teve por uma eternidade e meia – a única riqueza ganha, que há sete dias perdeu, deserdado muito antes de todas as outras. Foi uma longa espera pelo sim dos outros e o mero talvez de uma pessoa apenas era pesado demais. Romeu e Julieta sem Julieta. Era. Ali porém era leve, muito leve demais: Coletivo Flids | 49