Revista Ruminantes 46

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#46 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

SAÚDE E BEM-ESTAR | BOVINOS DE LEITE

CRIAR VITELAS DE LEITE EM GRUPO OU ISOLADAS? 2ª PARTE – OS (POTENCIAIS) CONTRAS - ANALISÁMOS NA EDIÇÃO ANTERIOR AS VANTAGENS DE AGRUPAR, EM PARES OU EM PEQUENOS GRUPOS, AS VITELAS DE LEITE ATÉ AO DESMAME. A CONCLUSÃO A QUE SE CHEGOU É QUE O CONTACTO SOCIAL TEM ENORMES VANTAGENS EM TERMOS DE DESENVOLVIMENTO FÍSICO E MENTAL. MAS SERÁ QUE NÃO OFERECE QUALQUER RISCO?

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Por George Stilwell, Médico Veterinário, Faculdade Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, email: stilwell@fmv.ulisboa.pt Fotos FG

esta segunda parte iremos avaliar e discutir os fatores que mais frequentemente são apontados para recusar a adoção de sistemas com contacto entre animais desde tenra idade. Iremos ver até que ponto a evidência científica suporta esses medos e, se realmente forem reais, de que forma os riscos podem ser minimizados ou eliminados. RISCOS PARA A SAÚDE A ideia de que agentes responsáveis por doenças entéricas (diarreia neo-natal) e respiratórias podem ser transmitidos de animal para animal (transmissão horizontal), especialmente por contacto direto ou por via fecal-oral, está na base da prática comum na maior parte das vacarias de leite, de alojar vitelas recémnascidas em compartimentos individuais (McGuire, 2008). Adicionalmente foi também proposto que a manutenção

de uma vitela por box, permite uma melhor monitorização e identificação dos animais que não se alimentam convenientemente ou que estão doentes necessitando de assistência (Kung et al., 1997). No entanto, apesar dos fundamentos parecerem lógicos, a investigação dos últimos anos vem contradizer em grande parte estes dogmas. Na verdade, há pouca evidência de uma relação consistente entre alojamento individualizado e uma melhor saúde do vitelo. É verdade que alguns estudos (Webster et al., 1985; Gulliksen et al., 2009) sugerem existir mais problemas de saúde em vitelos criados em grupo, mas outros estudos não encontraram qualquer vantagem da habitação individual em comparação com alojamento em pares ou em pequenos grupos (Waltner-Toews et al., 1986; Perez et al., 1990; Johnson et al., 2011; Jensen e Larsen, 2014). Uma análise cuidada dos resultados dos primeiros 044

estudos referidos, mostra que a maior morbilidade se encontra mais associada a outros fatores como um maneio deficiente, qualidade fraca do colostro, desnutrição (pouca quantidade de leite por refeição), mau maneio da cama ou grupos demasiado grandes e pouco homogéneos. Também é verdade que em situações de reduzida higiene ou ventilação, a manutenção de vários animais na mesma área (e especialmente se forem de idades muito diferentes) pode ser considerado um fator de risco para estas doenças. A situação é particularmente grave em casos de sobredensidade. Uma principal razão explica a constatação de que é mais o maneio do que o agrupamento que origina surtos de doenças – as bactérias e os vírus são normalmente ubiquitários no ambiente em que se alojam os animais e, portanto, não é tanto a presença desses que importa combater, mas os fatores que reduzem as defesas dos vitelos ou que aumentam


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