Revista Ruminantes 46

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#44 | jul. ago. set. 2022

REVISTA RUMINANTES

OBSERVATÓRIO DAS MATÉRIAS-PRIMAS

AFINAL, HÁ OU NÃO HÁ INFLAÇÃO? Por João Santos

INFLAÇÃO! As notícias dos últimos tempos têm sido o SNS, a falta de crescimento da economia, a invasão Russa da Ucrânia, e também a muito falada inflação. Vamos então dissecar este assunto: i) temos que lembrar-nos que com a crise financeira de 2008, os bancos centrais de todo o mundo, para conter a crise, injetaram triliões de dólares nas economias, algo que durou até meados de 2018. Com pequenas nuances, mas de forma continuada, foram 10 anos a injetar liquidez no sistema financeiro, o que, mais cedo ou mais tarde, iria inevitavelmente conduzir a um período longo de inflação que agora estamos a iniciar. Só uma pequena parte destes triliões foi aplicado de maneira racional em investimentos produtivos e rentáveis, sendo que o grosso desse dinheiro terminou em políticas públicas nefastas que não conduziram a um crescimento sustentável. Mais não foram do que dinheiro publico mal gasto, de que no nosso país tivemos muitos exemplos, mas também no setor privado existem muitos

casos. O dinheiro barato também conduziu a um incremento de capacidade em setores que já tinham capacidade instalada suficiente e, consequentemente, a investimentos ruinosos. ii) o forte investimento em capacidade de produção antes de 2008, em particular no setor energético, conduziu a um longo período de baixos preços na energia, que posteriormente se traduziu num longo período sem grandes investimentos. E, assim, chegamos às vesperas da guerra na Ucrânia já com preços altos da energia. iii) não nos podemos esquecer que em fevereiro de 2018 começámos a ver a China a atacar a crise da peste suína, que conduziu a uma redução de mais de metade do seu efetivo e que, no início de 2021, finalmente recuperou os efetivos que tinha antes de fevereiro 2018. iv) tivemos a guerra comercial entre USA-China, em 2018, que levou a uma mudança de fluxos agrícolas. v) a Covid-19 a partir do início de 2020. vi) graves problemas de colheitas pequenas nos

hemisférios sul e norte desde junho de 2020. Se tivermos por base uma colheita média, podemos considerar um valor total destes últimos 2 anos de 120 milhões de toneladas perdidas de produção, que conduziram a uma redução importante dos stocks finais (ver tabela). vii) a transição energética levou muitos Estados a decidirem fechar as suas centrais nucleares, as de carvão, e a reduzirem a produção de gás natural, e assim a inflação começou a consolidar-se no final do 4º trimestre de 2021. E depois chegamos a 24 fevereiro de 2022, com a Rússia a invadir a Ucrânia. Com isto temos uma combinação de fatores reais que alteram a relação da procura e da oferta e outros nominais de natureza inflacionista. Hoje, voltamos aos preços nominais, na maioria das matérias-primas, a níveis pré-covid ou mesmo pré-2008. Donde, a níveis reais, temos preços mais baixos do que já tivemos na última década (descontando a inflação). No setor agroalimentar, temos que separar os óleos vegetais,

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aqueles que sofreram mais o aumento dos preços. A um nível intermédio temos os cereais, os produtos lácteos e a carne, que tiveram uma subida moderada. E por fim o açúcar e o café que não subiram de preço, para nomear alguns. E então perguntamos: e não houve nenhuma revolução pelo mundo? E a resposta é, não, e o motivo é simples, para mais de metade da população mundial o arroz é a base da sua alimentação, e este não subiu de preço; e na África sub-Sahariana, a base da alimentação é a mandioca, e esta também se manteve estável. Aprofundando a questão: - em junho de 1973, o futuro de soja chegou a 11.51$/bushel, que equivale hoje a 74.87$, atualizada com a inflação dos USA, o recorde da soja em Chicago foi 17.95$ em setembro de 2014 que, ajustado à inflação, seria hoje equivalente a 22.3$. Hoje, junho de 2022, estamos a 16.80 $/bushel. Espero que com este exemplo, fiquemos esclarecidos entre a diferença de preços nominais e reais (ajustados pela inflação). Continuando, quanto de


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