LYRA SUJA

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LYRA SUJA

LYRA SUJA

Casa de Ferreiro

Glauco Mattoso
São Paulo

Lyra suja

© Glauco Mattoso, 2023

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

LYRA SUJA/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023

116p., 21 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

Appenas cem poemas bastaria junctar para que eu tenha a anthologia mais breve e essencial da minha lyra? Talvez, pois me repito muito nesses milhares que compuz, mas sempre fica de fora algum que importa analysar. Em todo caso, faço uma peneira e ponho nesta LYRA SUJA appenas aquelles que contenham palavrão, tirados de volumes mais extensos, taes como o SONNETTARIO SANITARIO, ou mesmo o dos SONNETTOS DE BOCCAGEM, nos quaes me rotulei “pornosiano”. Quem nunca achou algum livrinho meu agora poderá dizer que leu quaesquer mattosianos versos, mesmo que sejam os mais cheios de calão. Cem outros entrarão num novo livro, chamado LYRA PURA. Bom proveito.

DISSONNETTO PAULOPOLITANO [0110]

Alguns passos alem do Marco Zero a cathedral da Sé, quasi accabada, resume em neogothico a salada humana e deshumana onde me gero. No leste nordestino ja fui vero bambino da rural Villa Hinvernada. Nasci, porem, na Lapa, que é pegada à toca dum poeta que é panthero. Elyseos, Campos, Braz, Bixiga e Mooca, Belem, Limão, Carrão, Pary, Moema, Jardins, Villa Mariana, Villa Ema: Qual minha casa, cova, taba, toca?

Não fosse eu paulistano tão da gemma!

Até sinto saudades da malloca!

Na rua Lavapés me desembocca a lingua, que alli lave, goze e gema!

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DISSONNETTO NATAL [0951]

Nasci glaucomatoso, não poeta. Poeta me tornei pela revolta que contra o mundo a lingua suja solta e a vida como barathro interpreta.

Bastardo como bardo, minha meta jamais foi ao guru servir de excolta nem crer que do Messias venha a volta, mas sim invectivar tudo o que veta. Compenso o que no abuso se me impoz (pedal humilhação) com meu fetiche podolatra, cumprindo o que propoz a lyra, a desdenhar de quem me piche. Attraz vou dos Artauds e dos Rimbauds, mas não compenso, nem que o gozo exguiche, masoca, esta cegueira, e meus pornôs poemas de Bocage são pastiche.

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MAIS UMAS LINHAS [5556]

Dois mil e doze, maio. Eis que decido pôr fim ao sonnetismo. Zeus não quiz, de modo que, feliz ou infeliz, terei que proseguir, está assumido. Mas, para não dizer que foi torcido meu braço, usar irei de taes ardis que poucos notarão o que é que eu fiz naquillo que sonnetto tinha sido. Vejamos. Bastaria acceitar mais dois versos no total, e bem que posso chamar de dissonnetto o bello troço que mede em dezeseis os actuaes.

Fugir ao sonnettismo? Não, jamais! Porem, quattro quartettos dão ao nosso projecto um molde estrophico que endosso à guisa de futuros carnavaes.

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DISSONNETTO DO ORGULHO REVOLTADO [1500]

Brazil lembra floresta, e esta a bandeira. Bandeira lembra clube, e clube a bolla, que lembra pé, que lembra o que elle cheira, que lembra queijo, e queijo o gorgonzola. O queijo lembra um doce, e este a doceira, que lembra assucar, e este o que o controla: dieta lembra a gorda e a terça-feira, que lembra feriadão, que lembra eschola. Eschola lembra livro; o livro, a cappa, que lembra a nossa patria tão servil, que lembra quem nos rouba e quem excappa, que lembra um muro e um tiro de fuzil. Fuzil lembra uma balla, e esta uma agulha. Agulha lembra a aguda, a vil, subtil inveja dalgum gringo que se orgulha e orgulho é o que mais falta no Brazil.

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VICIO DE OFFICIO [5640]

Sonnetto lembra amor, a musa, a lyra, que lembra alguem que toca com o dedo, que lembra quando o enfio, ou seja: fedo. Feder lembra sovaco que transspira. Cecê lembra que vence (Eu que confira!) aquella compta, cada vez mais cedo, da luz, do telephone, neste enredo battido, que me lembra ziquizira. Azar lembra que treze é sexta-feira, que lembra lobishomem, gatto preto, que lembra, num espelho, uma caveira, que lembra atrozes versos que eu commetto. Atrozes themas lembram a sujeira que nunca achei ser topico obsoleto num genero que lembra brincadeira mas pode ser bem serio: o dissonnetto.

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VICIO DE HOSPICIO [5641]

Sonnetto lembra amor, a lyra, a musa, que lembram exaggero na dor, casos que lembram finaes rapidos e prazos curtissimos, que lembram voz confusa. Tamanha confusão lembra quem blusa colloca pelo advesso, quem em rasos prattinhos toma sopa, quem em vasos de plantas faz xixi e lelé se accusa. Loucura lembra andar pellado; o nu ja lembra Adão e como ficou preto seu caso ante o Senhor, que disse: “Tu terás que trabalhar, eu te prometto!” Trabalho, no caroço, lembra angu, que lembra algum enguiço onde me metto, que lembra toda quebra de tabu, que lembra a creação dum dissonnetto.

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VICIO DESVIRTUADO [8574]

Poema lembra lettra de canção, que lembra as porcarias actuaes. Funkeiro lembra droga, que jamais deixar vae de lembrar uma poção.

Lembrou o philtro magico um machão brochando. Um impotente não tem mais tesão. E quem não goza, só dos ais se lembra. As dores lembram afflicção.

Angustia lembra as trevas da cegueira, que lembra a alva bengala, que calçadas nos lembra, de buracos attulhadas. Buraco lembra a atroz caranguejeira.

A aranha chama a morte, eis que a caveira é symbolo das coisas ja passadas. Azar é o que nos lembram as más fadas, que lembram, de creanças, brincadeira.

Brinquedo lembra a vida sem problema. Problema lembra prova que elimina.

O zero lembra a facil sabbatina. Não ha cuzão que notas más não tema.

As notas lembram musica. Cinema, na trilha musical, climas culmina.

A linha alli de cyma aqui não rhyma. A rhyma lembra, às vezes, um poema.

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ODE CIRCUMSTANCIAL [8170]

Ode optimo formato pode dar, si a lyrica, de Apollo ou Dionyso, lembrar um movimento circular.

Um circulo formato tem preciso si lembra a silhueta dum planeta visivel, que reflecte este em que eu piso.

A Terra lembra a crença, antes, a peta que expalha quem pretende vel-a plana em vez dum porte espherico “careta”.

Planura lembra campo e, ao longe, enganna a vista, si a montanha mais distante tamanho tem menor que uma cabana.

Cabana lembra um bardo que, a sós, cante romanticas serestas para a lua, saudoso dum amigo ou... duma amante.

Saudade lembra alguem que continua presente em nossa mente, mesmo appós a morte, sem que um outro o substitua.

A morte lembra nossos paes, avós, e lembra que estaremos, qualquer dia, com elles nuns, dos Judas, cafundós.

O Judas lembra as botas que perdia, mas nunca a andar descalço alguem o vira e achal-as, ninguem acha, todavia.

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As botas lembram thema que, na lyra não entra dum poeta appaixonado, a menos que fetiches taes prefira.

Paixão relembra scenas do passado, passagens duma triste meninice masoca, a depender sempre dum sado.

Menino lembra alguem que, rindo, disse ao outro, que era quasi cego, ja: “Me chupa!” Natural que disso risse!

Cegueira lembra alguem que perderá aquillo que, no sonho, volta: a cor. A cor lembra a politica, si é má.

Perder lembra ganhar, e vencedor nos lembra alguem que cospe e tira sarro em cyma do vencido ou do eleitor.

Cuspida lembra ranho, lembra excarro e excarro lembra alguem cuja sahude ruim é como a minha: nem lhes narro!

Sahude lembra medico, um que allude somente aos bons effeitos da dieta, embora, no que eu coma, nada mude.

Comer nos lembra a mesa que, repleta de doces e salgados, me convida à gula, a ver si nada alli me affecta.

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Sabores lembram algo, na comida, que a torna palatavel: o tempero. Tempero algo piccante põe na vida.

Pigmenta lembra a lingua, cujo exmero está na lambeção mais sensual das partes onde o cheiro é um exaggero.

Olfacto lembra a practica nasal capaz de perceber quem toma banho diario, semanal, até mensal.

Folhinha lembra o tempo que eu não ganho si fico sem compor algum poema e perco si dou trella a algum extranho.

Conversa molle lembra quem problema nos traga, não bastasse o que ja temos.

Problema lembra medo, caso eu tema.

O medo nos remette a nossos demos, phantasmas dos peores pesadellos, nos leva a commetter actos extremos.

Terror lembra arrepio nos cabellos. Cabello lembra barba, a do vizinho, que, quando queima, allerta nossos zelos.

Vizinho lembra alguem que, eu ja adivinho, barulho faz. Fez barba, faz bigode.

Bem alto, toca funk em rollezinho!

A musica nos lembra alguem que pode pôr lettra sobre as notas ou cantar, appenas por escripto, o que é, pois, ode.

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CHARTILHA DO INFINITILHO [8092]

Si duas parallelas no infinito se encontram, trez ou quattro terão sua estrophe equivalente, que lhes rhyme no mesmo ordenamento. Sendo assim, os versos serão brancos entre si por dentro duma estrophe, mas terão egual a sua rhyma na seguinte.

O numero de versos que repito em cada estrophe pode ser, de lua, bastante variavel. Que me anime, o thema será vario. Para mim, melhor é quando alguem provoca, ri, perguntas faz. Respondo com tesão a um interlocutor qualquer que pincte.

Ou seja: variavel e restricto, ao mesmo tempo, quero que elle inclua a metrica. Perdel-a será crime. Comtudo, o meu poema não tem fim preciso, obrigatorio. Vou aqui chamar de “infinitilho” o que lerão meus sadicos leitores, com requincte.

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INFINITILHO TRABALHADO [8150]

{Pergunto-lhe: será que dá trabalho as rhymas espelhar nesse parelho eschema, Glauco? O seu infinitilho paresce-me composto, não a olho, mas muito calculado, sem barulho nem falsas theorias. Si não falho na minha appreciação, nem o bedelho eu metto no seu verso sem ter brilho de critico, percebo que ferrolho não é, para você, nem pedregulho.}

-- Notou bem. Na verdade, me attrapalho até mais com estrophes sem espelho que com infinitilhos. Desvencilho meu verso do problema, não me tolho nem perco muito tempo si vasculho as rhymas mais frequentes. Meu caralho consigo punhetar e meu pentelho dá tempo de coçar: eis que me pilho fechando outro poema, que trambolho na certa não será, siquer entulho.

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DISSONNETTO MINEIRO [0337]

Collinas? Belzontinas? Diamantinas?

Como defines Minas? O caminho?

A pedra? Matto Dentro? Muzambinho?

Talvez, mineiramente, não definas. Meninas recaptadas não são Minas.

Nem é só Milton, Rosa, Alleijadinho, o alferes, o politico, o meirinho, gurys traquinas, criticos sovinas.

Gilberto Freyre falla dos mineiros eguaes sempre, dos tempos attravés, affeitos a bolinas em seus pés descalços das botinas de tropeiros. Não sei dizer si um és ou si não és dos ultimos, eternos ou primeiros. Só quererei teus queijos e teus cheiros, anonymo João entre os Josés!

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DISSONNETTO BAHIANO [0338]

Caymmi ja cantou. Não quero tanto.

Gregorio poetou. Appenas sigo.

Amado descreveu, e estou comtigo: é tua terra altar de todo sancto.

Me toca o berimbau. Me encanta o banto.

Retoca o pellourinho meu castigo.

Attraz do trio electrico me instigo: sou posttropicalista, e aqui te canto.

Bahiano, tens meu sonho e meu tesão!

Promettes melhor terra que Moysés:

bananas, cocos, caras, cores... yes!

Pirocas, carurus, cuscuz, pirão, moquecas, vatapás, acaragés, farofas de dendês no meu cação...

Delicias que, de longe, abbaixo estão do gosto salgadinho dos teus pés!

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MANIFESTO COPROPHAGICO (2) [0006]

A merda na latrina desse bar da exquina de officina cheiro tem. De fina serpentina tem, tambem, si folga com roptina combinar.

Cocô com cocaina, em tal logar, commum é tanto quanto ter alguem cagado as hemorrhoidas. Alli vem o povo do Brazil todo cagar. Cocô kosmopolita, palindromico, até kaleidoscopico e mutante, a rio polluido tresandante, se caga no latino reino momico.

Vagina americana advessa, cante meu verso a merda metrica, de vomico sabor e cheiro fetido, com comico cynismo, e faça a antithese de Dante!

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REMANIFESTO OBSONETO [0008-B]

Não quero poesia que se escreva si forem só pornôs Adão com Eva! Não, essa lyra, ainda que se attreva, não sae do que dá Adão, ou Eva leva!

Eu quero a poesia mais lasciva, chulé na lingua, sebo na saliva, a porra no pigarro, na gengiva o mijo, pau e chota em carne viva!

É ranho, como o chico, o que faltava!

Se lambam pregas! Rabo não se lava!

Sujemos sungas! Fora a meia nova!

Mais mucos, pois giló vae bem com uva!

A merda no pau calha como luva!

Erecto cago! Nojos? Uma ova!

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DISSONNETTO REMANIFESTO [0507]

Depois de tanta eschola e tanta egreja desde o barroco aos “pós” em que hoje vivo, archaico, iconoclasta ou constructivo preceito em manifesto é o que sobeja.

Tambem quero propor! Que o verso seja mais sujo e chulo: um rallo e não um crivo; mais curto e grosso: expresso e não exquivo; mais duro e rijo: o metro não fraqueja! Emfim, nada de novo: appenas quero respeito à tradição do fescennino, do excarneo na cantiga, que imagino tão velho em poesia quanto Homero. Abbastardar não basta, vaticino porem: convence o vate si é sincero no olhar confessional, no verso vero, e conta o que soffreu desde menino.

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DISSONNETTO EVACUADO [0613]

Cocô, materia fetida e salobra, formato entre um cylindrico e um espherico, que às vezes liquefaz-se, dysenterico, ou fere o anal canal pelo qual obra!

Cahindo em terra firme, elle se dobra e n’agua elle fluctua como iberico velleiro. Num exgotto peripherico encalha, sem espaço de manobra. Marron, tonalidade do tolete: de olhar ninguem, de perto, fica a fim. Destacca-se, mais claro, o amendoim que os gommos lhe craveja e não derrete. Não nego, o troço causa nojo em mim e a casos escabrosos me remette, mas vem donde, na marra, fiz cunnette. Ainda o comerei si achar ruim!

26

COPROPROSOPOPÉA [5620]

Cocô, quem te cagou? Tem tripas finas?

Alguma dama rica, joven, bella?

Será talvez algum gury traquinas, um reles rapazelho magricella?

Cocô, que teu formato tu definas não peço, ora cylindrico, ora aquella lodosa massa que enche essas latrinas do povo de cortiço ou de favella!

Cocô, qual cu cagou-te? De meninas ou velhas? De vadias ou donzellas?

Daquelles agiotas mais sovinas ou desses pobres recos sentinellas?

De todas as toxinas que eliminas, aquella que, nos ares, mais mazellas nos causa, contamina das propinas mais altas às mais baixas bagatellas.

27

CASEIRA CONFEITEIRA [4110]

Conhesço uma cruel dominadora que obriga seus escravos a comer da fedida torta que ella faz suppor a melhor das iguarias: sua merda!

Quer vel-os, esta sadica instructora, comendo com vagar, a bocca lerda, daquelle “cocolate”, que ja fora thesouro, em testamento, que alguem herda! Tambem de “guariná” lhes enche a taça!

Será sortudo quem tal drinque ganhe! Imploram e supplicam que ella faça xixi para que alguem beba e se banhe!

Chamar de “cocolate” e “guariná” jamais foi linguajar que à moça accanhe: dá tanto prazer nella quanto dá comer bombons, beber fina champanhe!

28

DISSONNETTO FLATULENTO [0192]

O peido, mais que o arrocto, inspira o riso gostoso, desbragado, gargalhado, da parte de quem pode ter peidado, emquanto os outros fazem mau juizo. Com base no meu caso é que analyso, pois, mesmo estando a sós, enclausurado, gargalho appós os gazes ter soltado e adspiro meu fedor, feito um Narciso. Me ponho a imaginar a reacção de alguem affeito a normas de ethiqueta, do typo mais esnobe e mais ranheta, colhido de surpresa ante o rojão. Meu sonho era peidar fumaça preta na mesa dum banquete, desses tão formaes e, appós a explicita expulsão, deixar que a gargalhada me accommetta.

29

GAZES COMBUSTIVEIS [4581]

Eu fico imaginando aqui: si o nosso fedido peido fosse fumacento, fogoso, até... Que sarro, hem? Nosso vento soltando a labareda... Que destroço! As calças virariam trappo... Posso até ver chammuscado o meu assento depois dum peido... E quando eu arrebento a colcha, até o colchão, si o peido engrosso? Estou vendo na mente: um estampido echoa no banquete! A mesa inteira assusta-se e suspeita! A fumaceira se expalha, preta, e deixa um ar fedido! Alguem viu, por detraz, minha cadeira querendo decollar, com seu ruido de rhoncho de motor, foguete erguido do solo... Mas não voa: appenas cheira!

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MOTTE GLOSADO [7438]

Si não fede, si não cheira, não tem graça a poesia.

Si for rosa da roseira não é lama do chiqueiro. Ou é falso, ou verdadeiro.

Si não fede, si não cheira, não é verso que se queira portavoz da porcaria nem fugaz perfumaria.

Eu prefiro a fedentina! Sem um faro que a defina, não tem graça a poesia!

Poesia não é mera padaria nem é pura, multicor floricultura.

Si não ousa, nada altera.

Si não suja, odor não gera.

Si não fura, é voz macia.

Si não fere, é ducha fria.

Si não fode, é punheteira.

Si não fede, si não cheira, não tem graça a poesia.

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ODE NAUSEABUNDA [8155]

Sentado, pensativo fico, à toa, tal como Otis ou Milton Nascimento, tambem philosophando, qual Pessoa, à beira do caes onde estou, ao vento maritimo, ou à beira donde echoa ruido de navio: o pensamento.

O mais bello horizonte que uma boa visão possa alcançar! O olhar attento poder dos transatlanticos a proa ou poppa distinguir! O movimento notar até das nuvens, me magoa não possa, a mim, caber neste momento!

Mas posso viajar, ja me appregoa Pessoa, mentalmente e, si lamento a physica cegueira, livre voa o olhar da phantasia, quando tento uns versos decorar, antes que doa o ventre constipado, o cu no assento.

Ai! Quando ja concluo quasi a loa que quero dedicar a algum evento feliz, a um thema ameno, me resoa o rhoncho intestinal, um flatulento fedor pollue a brisa que a canoa da lyra me arejava, e me appoquento!

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Emquanto cago, finjo que caçoa de mim meu inimigo mais cruento, que é elle quem me caga, quem me zoa da cara enlameada, que me aguento debaixo do seu rego, até que roa, como osso duro, o troço fedorento!

Deliro nesse quadro que se excoa aos poucos da visão, voltando ao lento compasso peristaltico. Destoa o surto do que agora, somnolento, figuro. Ja o tuphão uma garoa virou. Estou tranquillo, cem por cento.

A atroz constipação sempre me enjoa durante este descharte tão nojento das fezes. Todavia, quem remoa seus odios e exorcize um violento impulso se refaz, como um Pessoa, um Redding, ou um Milton Nascimento.

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RHAPSODIA PESSOANA [8372]

Foi Alvaro de Campos quem fez essa maritima, terrivel ode, embora tambem calma, nostalgica, na qual o bardo vae, no porto, divagando.

Tambem vou divagar. Elle começa navios descrevendo, dos de agora. Aos poucos, retrocede ao infernal dominio dos piratas, nem sei quando.

Importa-me tocar no que não cessa, cruel, de incommodar-me: o que vigora no codigo dos mares e fatal se torna a quem refem foi do desmando.

Commum, a quem os mares attravessa, é o berro de quem perde a vista. Chora, ou, como diz o Campos, uiva, tal e qual cachorro uivando, quando em bando.

Gostavam os piratas, rindo à bessa, duns olhos arrancar, arrancar fora das orbitas, appenas pelo mal que, em gozo, practicavam... É nefando!

Calculo, ca commigo, si interessa tal coisa pesquisar. Barasch ignora, tal como outros auctores, o gruppal prazer de quem estava no commando.

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Appós tomar, pilhar, não ha quem meça a sanha desses sadicos. Affora demais crueis supplicios, ritual virou enuclear, ver nego urrando.

Cegados, os coitados ja sem pressa vagueiam a gemer. Nada melhora o quadro. Ja correram, carnaval fizeram. O scenario ficou brando.

Depois, implorarão. Numa promessa qualquer ‘inda crerão. Alguem explora aquella vil cegueira. Sexo oral alguem exigirá, delles gozando.

Assim os interpreto, pois processa meu verso o que o leitor, sem culpa, adora da culta lyra: a abjecta bacchanal que Campos suscitou e que eu expando.

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SIGNA DIONYSIACA [4906]

“Poeta não se inspira! Elle transspira!” A phrase não é nova: ja foi dicta de muitos modos. Numeros, os cita quem falla em porcentagens para a lyra. Noventa, ou mais, por cento: ha quem confira assim o grau de exforço. Em dez limita o grau de “inspiração”. Portanto, evita suppor que baixe um demo em quem delira. Eu fico dividido na questão, que deve ser polemica divina. Me sinto um apollineo porque opina meu lado racional, mas não sou tão. Nem sempre o raciocinio predomina, porem: quando o commando é do tesão, à sanha subordina-se a razão e a signa subordina a disciplina.

36

ODE AO AEDO [8154]

Alguem pode ignorar si foi amado. Bastante é que um amante ame em segredo. Nem sempre satisfiz minha libido si alguem me está fodendo ou si alguem fodo. Amor pode ser cego, surdo ou mudo.

Nem sempre é o melhor verso o mais agudo. Mais alto é um canto grave, mas nem todo.

Às vezes mais aggrido sem ruido. Mudez coragem pode ser, ou medo. Um grito não ouvido é mudo brado.

Surdez é como ouvir somente um lado. Cegueira é si erro vejo mas não cedo. Não li si só decoro o que foi lido. Mais rico, mais se affunda alguem no lodo si lucro só procura sempre em tudo.

Utopico sou quando ja me illudo achando que alguem pode, sem engodo, entrar para a politica, partido fundar e se eleger. Enganno ledo! Pragmatico sou della si me evado!

Perguntam-me si quero ser lembrado mais como um menestrel ou um aedo, um bardo, um trovador, mas não duvido que o verso, seja ao lyrico ou rhapsodo, só vale como espada, não escudo.

Humor, parodia, satyra, desnudo principio teem: eu mesmo ponho appodo, num cego que perdeu, de alguem “fodido”.

Assim posso apponctar a Deus o dedo e ao mundo que creou, o desgraçado!

37

O POLYGLOTTA QUE CONNOTA [3240]

Francophono ou anglophono, me viro. Cabeça não é teta, nem pescoço é cu! Garçon, si é velho, não é moço!

A qual vocabulario me refiro?

A logica, mandei-a logo aos demos. Si formos confundir gatto com cha (aquelle da chaleira), que diremos do bollo? Exsiste um gatto de fubá?

A culpa é do francez, que não nos soa fazendo, em portuguez, egual sentido. No inglez, tambem, às vezes, eu collido com termos bem oppostos pela proa.

Perante tal impasse, que faremos?

Si digo a alguem que puxe, não será correcto fallar “push”? Outros extremos commette quem empurra um “pull” p’ra la?

A lingua que enrollei ja deu seu gyro. Batata quente engulo e, com caroço, o angu, no francez fino e no inglez grosso. Mais uma traducção dessas, eu piro!

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PORTENHO PORTUNHOL PORNÔ [8462]

Portunhol nos tem levado a deslizes que eu destacco. Pornographico eu entendo estes versos que punheta nos suggerem, desde quando uma duvida aqui paire:

Mira! Allá viene un tarado! Si, pelado, con su saco en las manos! Si, corriendo viene atrás de la buseta! La perdió y quedó dando puñetazos... pero al aire.

Um careca doido visto foi trazendo o paletó na mão: vinha elle correndo pois perdendo estava o seu microomnibus. Perdeu. Ficou dando ao ar uns socos.

A versão accyma, insisto, é plausivel, mas um nó deu naquelles que um horrendo nexo viram neste meu poeminha. Se fodeu quem achou uns chulos ocos.

39

AUTO PRO MOÇÃO [3409]

Meu coração por ti gela! Meus affectos por ti são! Ja que não posso amar ella, ja nella não penso, então!

Ja beijei a bocca della, que me disse: “Ja que tão pouca fé, depois, revela teu amor, tu me tens não!” Francamente, eu acho peta que uma mão não se prometta nesse pappo tão sincero!

Crê-me: ja passei por cada revés! Si excappei da amada, eu ca, agora, a ti, só, quero!

40

DISSONNETTO CACOEPICO [0343]

É má cacophonia “heroico brado”, que faz o nosso hymno ser por cada macaco no seu galho de piada motivo, mytho presto prophanado. Galhofo quando grapho “deputado”, um réu por cuja mãe a patria brada e cuja nota tem que amar mellada a puta que a recebe de ordenado. Por ti gela meu pincto, e por ti são meus bagos exmagados qual sardinha em latta, e eu mofo dessa ladainha, ó lingua de tão baixo palavrão!

Dos cacos que cuspi, calou Caminha, que tracta só de expor raça à nação. A mim toca, comtudo, uma questão: Si ja Camões fez caca em “Alma minha”.

41

LINGUA PUTANHEIRA [1012]

A lingua deflorada, puta bella, a um tempo é despudor e compostura. Menina virgem, sim, porem impura: tem cabacinho mas caralhos fella.

Quero-te assim, cu doce e picca dura, caricia, acto de amor, curra barrella, que tens o dom e o vicio da donzella e o ardor da crueldade e da tortura!

Amo teus bardos, anjos de Sodoma, bastardos de olho vivo e de anus largo!

Amo-te, ó grosso e doloroso idioma, em que o Pae me chamou “da puta filho” e em que eu choro a cegueira e canto o encargo de usar-te a lamber botas, dando um brilho!

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DISSONNETTO PARA UMA SÓ PALAVRA [2525]

A lusa poesia fez eschola cantando os septe mares, mas eu faço questão de terra firme, e meu pedaço de chão ninguem demarca nem controla. Mais amplo que a terrestre esphera, ou bolla menor que o proprio espaço do meu passo, o chão que um cego pisa, tão excasso e immenso, mais que um solo, é o termo “sola”. Assim, no feminino, a sola é minha lembrança da visão, quando o menino pisou na minha cara e eu nove tinha. Combino masculino e feminino. Combino o que pés lambe e o que expezinha. Si tenho de compor, portanto, um hymno ao maximo vocabulo, uma linha bastava: escrevo “sola” e aqui termino.

43

PRIMEIRAS LETTRAS [3525]

Na chartilha, que é pudica, não se diz “B” de “boceta”, “C” de “cu”, nem “P” de “picca”, nem de “pau”, nem de “punheta”. Numa eschola, bem não fica que na gatta o gatto metta nem contar que a dona Chica mostra a chota a algum cheireta. Um poeta que eu conhesço ja de cara o balde chuta: vira tudo pelo advesso e diz “Ivo viu a vulva”!

Suppor cabe si a tal chana, si não for dalguma puta, é da avó, da mãe, da mana, e si a dona é ruiva ou fulva...

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DISSONNETTO TATIBITATE [0387]

A aranha arranha a aranha, e o ratto roe a roupa rococó do rei de Roma.

Trez tristes tigres trepam em Sodoma.

A plebe applaude o pleito do playboy.

Mammão maduro mancha a mão que o moe.

A dama do masoca o soca e doma.

Glaucomatoso é o globo com glaucoma.

O dedo do detento é duro e dóe.

Bilu, tetéa, pincto, pingolim.

Escubidu, Banzé, Pluto, Cappeto.

Em lista dessas só bassês não metto.

Esnupe, Rintintim, Milu, Tintim.

Só sinto somno si me sae sonnetto.

Pirlimpimpim p’ra mim é pó marfim e paus podem ser Pés Papaes p’ra mim, pois o peito do pé do Pedro é preto.

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VOCALICA VOCAÇÃO [3366]

Questão mais alphabetica não ha: aberta é que a vogal idéa dá daquillo que na foda incluso está?

Resposta promptamente tenho ja: A foda se contenta e cabe em si. Curriculo da puta e do michê, o erotico é, tambem, do travesti: chardapio de quem coma ou de quem dê. Exerce o mesmo officio, si é pornô, a lyra que um ephebo exhibe nu, comendo uma boceta, enchendo um cu de porra, ou qualquer bocca de cocô.

No affan sadomasô, proponho aqui: chupar pau é dever de quem não vê, mas, antes, lambe um cego o que eu lambi: artelhos, si o chulé for seu buquê.

Linguagem corporal jamais é má nem boa, appenas tactil beabá. Officio do orificio, a foda irá, fechando e abrindo, aonde a vogal va.

46

DISSONNETTO IMPERFECCIONISTA [0401]

Agora lhes descrevo o pé que adoro: Maior que o meu, portanto masculino, ainda que pertença a algum menino, suado até, por tudo quanto é poro.

Fedido de chulé: nunca inodoro.

Sapato ou bota: em couro nada fino. Assim, folgado e sadico, o imagino, egual aos que da infancia rememoro. Mais longo o indicador que o pollegar, na planta é plano, e não do typo cavo.

Alguem desconfiou que me depravo?

Percebem onde, emfim, quero chegar?

O pé que idealizo, beijo e lavo usando a lingua, até não mais babar, centrando o meu tesão no paladar, é aquelle que me tracta como escravo.

47

DISSONNETTO PEDICURADO [0740]

A planta humana é plana como um mappa que o corpo appoia e explana, poncto a poncto. Sem vel-a, deante della me defronto e o rosto inteiro sinto que me tapa. De poncta a poncta é chata como chapa. De lado a lado é larga e, emquanto compto centimetros, o cheiro me põe tonto do masculo suor que a meia empappa. Appalpo a pelle grossa e a massageio. Lambendo lavo o vão de cada dedo.

Do gosto de chulé não tenho medo: o sujo succo sugo e amargo sei-o. Mais grego o dedo grande, mais eu cedo à tactil temptação de dar-lhe asseio. A lingua sente aquillo entrando em cheio: fellando, engulo a glande, no arremedo.

48

DISSONNETTO PERVERSIVO [0423]

No sexo, tudo vale e tudo fede. Um penis, uma chota, e está completo o coito, si é politico e correcto, mas quem corrige o sexo? Quem o mede?

Na mente, ja suppuz que me controlo. Nem tudo, todavia, no tesão, se rege por sciencia ou protocollo.

Trepada não é só penetração. Uns gozam quando cheiram um sovaco.

Pentelho na saliva é estimulante.

E mesmo bananeiras ha quem plante si o clima entre dois corpos está fracco.

Tesão acho entre a sola e o proprio solo.

Em mim, fica debaixo do pisão, na planta onde esta immunda lingua exfollo, a fonte da mais louca excitação.

Pois é, minha libido pouco pede. Um tennis, uma bota, sem affecto: assim é meu orgasmo predilecto, ainda que, na bronha, se arremede.

49

DISSONNETTO DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO [1204]

O couro preto enruga-se e, dos pós que a bota ja batteu, ainda resta um pouco accumulado em cada fresta da sola, gasta e grossa como noz. Biqueira arredondada e varios nós aptados no cadarço dão a esta especie de cothurno um ar de festa de gala, ornando ilhoz appós ilhoz. Não é, porem, um reco quem a calça, aquelle que marchou como “ordinario”, e sim um punk, o symbolo contrario do orgulho militar. A gala é falsa. Não marcha: pulla e chuta. De operario é a perna que elle, irado, aos ares alça; é o pé, chato e calloso, que uma valsa jamais dansou. Seu cheiro é meu themario.

50

DISSONNETTO DA BOTA QUE NÃO DESBOTA [1416]

Emquanto o dum soldado é de cor preta, do dum paraquedista, que em nó cego passou todo o cadarço, e na sargeta evita se sujar, eu me encarrego. Marron, este cothurno na punheta sonhei que lamberia, isso não nego. Porem nunca suppuz que alguem remetta, no bojo duma caixa, o tal burzego. Só quando esse pacote desembrulho (e mão não ha mais soffrega que a minha), appalpo o couro gasto. Ah, quanto orgulho calculo que seu dono delle tinha!

Da sola, ‘inda o relevo sulcos guarda, aos quaes meu cego dedo se encaminha. Suppondo que era verde aquella farda, na bota passo a lingua vermelhinha.

51

RHAPSODIA MACHADIANA [5902]

Coitado do sapato social! Está, sempre engraxado, quasi sem ter uso, e pensa: “A bota, sim, mantem mais cheiro, mais battida que é!” Que tal? Que inveja boba, né? Pois desse mal a bota tambem soffre: “Que desdem de mim tem o cothurno! Oh! Delle vem fortissimo chulé! Sim, sou banal!” Por sua vez, o sujo cothurnão inveja tem do tennis encardido que cheiro bem mais podre e mais fedido exhala: “Aquelle, sim, pisou mais chão!”

O tennis se lamenta: “Muitos são contrarios ao meu cheiro! Só tem sido dum cego o meu chulé bom à libido! Pudesse eu ser sapato chique, então!”

52

DISSONNETTO DIDASCALICO [0437]

Um normovisual me disciplina. Apprendo a descalçar sapato e meia usando, não a mão, que elle me freia, porem a bocca, affan que não termina... Por fim a meia sae. A pelle fina do dorso, onde advoluma-se uma veia, e a sola grossa a lingua massageia, emquanto a voz do Mestre instrue, ferina. Lambidas sejam lentas: “Não tem pressa!”, exige o Superior, refestelado e tendo uma cerveja alli do lado. Somente seu prazer é o que interessa. “Assim que eu gosto!”, falla com enfado. O trampo mal termina, recomeça e, em cada vão de artelho que attravessa, a lingua leva um tempo demorado.

53

DISSONNETTO DO APPRENDIZADO [0653]

O cego é commandado na primeira sessão de fellação que experimenta. O mestre, calmo e commodo, se senta. Se aggacha o cego em frente da cadeira. De inicio, identifica: lambe e cheira o sacco. Pellos prova. A lingua, lenta, a pelle do prepucio acha nojenta mas lava aquelle bicco de chaleira. Ja semiarregaçada, a glande exige total titillação, tacto total, alheia à humilhação que ao cego inflige. O labio ao pau se admolda e, no final, que bocca addentro o mestre até lhe mije o cego, accostumado, acha normal. Aos poucos, com o tempo, se corrige alguma falha à foda funccional.

54

DISSONNETTO SEM DOR NEM DÓ [1071]

Ficou cego? O problema não é meu! A minha vista é boa! Eu approveito a vida como quero! Foi bem feito você perder a pose! Se fodeu!

Tá achando tudo escuro que nem breu? Tem mais é que soffrer! Eu me deleito sabendo que não tenho esse defeito nos olhos! Cê que chore o que perdeu! Emquanto eu vejo o mundo livremente, você tem que chupar a minha rolla calado! Como a Monica ou a Lola! Engula! Si eu gozar, você que aguente!

E tire da cabeça a idéa tola de que outros vão ter dó! Cê tá impotente! Não pode ver, não pode achar que é gente! Quem pode põe-lhe a picca, e eu posso pol-a!

55

BISADA BIZARRIA [6553]

Que estás pensando? Cego tu ficaste!

Direito tu não tens de exigir nada!

Tens nojo? Que te fodas! Cheira! Aggrada a ti? Não? Quem dó sente? És mesmo um traste!

Fedor sentes? Cafunga! Não te baste cheirar! Tens que lamber! Vae, lambe cada centimetro! Tens lingua bem molhada!

Sentiste dos sabores o contraste?

Vae, lambe, infeliz, lambe! Eu sempre quiz gabar-me da visão boa que tenho, emquanto um cego mostra desempenho lambendo cegamente! Entendes? Diz!

Agora chupa! Vamos, infeliz!

Vae, abre mais a bocca! Teu engenho porás à prova! Assim! Ah! Ja me venho!

Engole, infeliz! Logo terás bis!

56

RIJO DE MIJO [5064]

Chamar de “picca” ou “pau” me dá vergonha!

Melhor chamar o penis de “menino”. Assim, ja me accostumo e me previno: “brincar com o menino” é batter bronha. Si acaso eu a brincar não me disponha, assanha-se o menino, que é ladino e fica a dar pullinhos quando urino, não volta para dentro. E o que elle sonha? Não sonha, só: delira! Quer brincar de heroe, de superhomem, de galan, de athleta, de rockeiro e superstar! Quer tudo ser, tomado dum affan de satyro, de macho cavallar!

Às vezes, só se alegra si é Satan ou Sade, si de alguem quizer gozar... Mas dóe-me, ao levantar, pela manhan!

57

BUNDA DE SEGUNDA [4761]

Vi gente, ja, exquescendo até a cabeça, mas bunda eu nunca tinha visto! Aquella, perdida num brechó, me intriga e appella ao senso de quem tudo perca e exquesça!

Ainda que uma nadega envelhesça e murche mais que a outra, o que revela o sesso em promoção é sua bella, symmetrica harmonia, ao tempo advessa. É bunda feminina? Masculina?

Difficil de dizer. Tem muita dobra, covinha, muita curva... é o de roptina naquillo que de Deus foi feliz obra. Agora, deschartada, alli termina. De banha algum volume sempre sobra, convida-me a appertar, feito buzina. Sae caro o que o brechó por ella cobra!

58

DULCE SALGADO DE AZEVEDO CAMARGO (2) [0001]

Airosa, maneirosa, delicada, vestida de advental, Dulce suspira e arranca da platéa, que delira, applausos calorosos pela empada. Famosa quituteira, sempre aggrada o opiparo acepipe que, na lyra dos bardos, celebrado foi. “Confira você, depois me diga!”, falla a fada. Faz magica, ao fogão. Quem seu croquette, seu kibbe, seu pastel, sua coxinha (legitima, com carne de gallinha) provar, louva os sabores e repete. O publico, porem, nem adivinha que Dulce é constipada e, na retrete, ainda que banal tolete excrete, tão facil não faz quanto na cozinha.

59

PORCARIA SEM PERFUMARIA (1) [5047]

Sejamos francos: sexo é sujo. A picca é suja. Uma boceta é tambem suja. Fodeu o dicto cujo a dicta cuja? Junctou sujo com sujo: justifica. Tambem no cu metter, si alguem fornica assim, é muito sujo. Sobrepuja, porem, qualquer sujeira quem babuja de lingua num caralho ou numa crica. Beijar, bocca com bocca, eu não confundo com sexo oral: embora troque baba, a bocca não desceu ao mais immundo, ainda não se torna tão vagaba. Cacete, sim! Cacete é vagabundo, pois quando aquelle mesmo pau que enraba penetra numa bocca, faz, no fundo, alguem se emporcalhar: no lodo accaba.

60

PORCARIA SEM PERFUMARIA (2) [5048]

Verdade seja dicta, agora: a graça do sexo oral consiste mesmo nisso, sujar-se ao practicar um vil serviço. A scena, por ser suja, é que é devassa. Tentar amenizal-a, pois, não passa de inutil camuflagem. Não me ouriço sabendo que elle faça esse postiço papel de “bem lavado”, ou que ella o faça. A graça está em vencer essa barreira do nojo, em obrigar-se ao humilhante contacto, via oral, com tal sujeira, e creio que terei dicto o bastante. Ninguem dirá que eu fallo uma besteira. Portanto, é natural que o pau levante si um sadico na bocca foder queira de alguem que casto e puro ser garante.

61

BACALHAU [6208]

As partes, tanto em homens ou mulheres, fedendo a bacalhau nos são descriptas e tu tambem tal cheiro nellas citas.

Explica-me isso, Glauco, si puderes! Então, caralho ou conna, dizer queres que tudo tem odor egual? Evitas fazer a differença? Que repitas te peço, Glaucão, isso que suggeres! Achar que a conna feda bacalhau eu acho, mas somente si está suja. Tambem a rolla, caso a dicta cuja sebinho juncte, exhala cheiro mau.

Suggeres tu, portanto, que no pau ninguem se lave? Então machão babuja em conna sem lavar? Ninguem que fuja exsiste da sujeira? Ahi, babau!

62

CAPTIVO ADOPTIVO [4936]

Paraste por que? Vamos, continua!

Estás muito mollenga, meu rapaz! Paresces nem ser esse que, ja faz um tempo, fui buscar alli na rua!

De novo! Assim que eu gosto! Quero a tua linguona trabalhando! Tu me dás prazer como ninguem! Si não tens gaz, te vira! Juncta as forças! Soffre! Sua! Mais fundo! Abre-me a chota com a mão!

Agora mette a lingua! Ai, como eu fico molhada! Ai, que delicia! Que afflicção! Recuas, meninão? Não faças bicco!

Estica bem a lingua, meninão! Não tenhas nojo! Quando estou de chico, tu sabes como eu gosto! Por que, então, te fazes de coitado? Paga o mico!

63

EXGUEDELHADA PENTELHEIRA [5099]

Na forma accidentada dos terrenos está, do corpo, o erotico na femea, comtanto que, na bronha, o macho embleme-a dos seios ao monticulo de Venus. O symbolo, talvez, que mais accenos e appellos faz (ainda que blasphemia alguns o considerem), não o teme a lasciva bocca, a lingua muito menos. Refiro-me ao pentelho, que rodeia a vulva, feito cerca de araminho farpado, a ser pullada, volta e meia. A bocca não dá pullos, a caminho da grutta, porem: perde-se e passeia por entre a trama lubrica do ninho, e nem importa ao caso si ella é feia ou não, si é só tesão, si é com carinho.

64

DISSONNETTO BOCETEIRO [0309]

Pequenos, grandes labios, um clitoris. Pentelhos. Secreção. Quentura molle, que envolve meu caralho e que o engole. Não saio até gozar, nem que me implores. Diana. Dinorath. Das Dores. Doris. Aranha. Taturana. Ovelha Dolly. Pelluda, cabelluda, ella nos bolle na rolla, das pequenas às maiores. Boceta exsiste só para aguçar a fome dos caralhos em jejum. Não, isso não é para qualquer um! Eu quero bedelhar, fuçar, buçar!

Agora não me fallem do bumbum, siquer de gorduchões seios dum par, dos pés tampouco! Vou despucellar o buço dum cabaço, acto incommum!

65

CREAÇÃO DA BOCETA [4464]

Creada foi por homens de valor nas suas profissões: um açougueiro chegou, com faca, e talho deu, certeiro. Depois, um marceneiro quiz propor: Com malho ou com formão, seja o que for, um furo fez no centro. Ja um terceiro que veiu era alfaiate e, por inteiro, velludo poz no forro interno, em cor. O quarto, um caçador, raposa poz por fora. Um pescador, o quincto, quiz um peixe lhe passar e odor propoz que poucos consideram infeliz. Ainda não estava finda, pois o sexto, um padre, a benze e só xixis permitte que ella faça. Mas, depois, lhe fode o fundo o septimo... e quer bis!

66

OBSOLETA BOCETA [8564]

Amigo meu diz: “Para que boceta, si tem filmes pornôs e tem punheta?” Quem vive solitario certamente concorda, punhetando-se contente. Nem todos que concordam, todavia, appenas quererão pornographia. Não fazem mais questão de penetrar, mas querem quente imagem no logar. Se tornam voyeuristas, mas não basta aquillo que ja choca a mente casta.

Precisam ver tortura, sangue, morte em scena realista, clara, forte. Alguem mais solitario em desvantagem está, pois muitos traumas o coagem. É o cego, que ja fora voyeurista mas hoje só saudades tem da vista. Si fosse masochista, que nem eu, teria qual proveito de seu breu?

Suggiro-lhe: imagine-se a mercê daquelle que bem vive e que bem vê. Jamais penetrará, mas sua bocca, por sua vez, não ia ficar oca.

Teria que chupar, mas não appenas chupar: engoliria a duras penas. Peor: nem poderia ver a cara, o corpo de quem nelle penetrara. Na certa, si masoca, gozará, mas ‘inda, a alguem que assiste, gozo dá. Um outro voyeurista, ao ver a scena, gozou duma cegueira tão obscena. Assim, não é por falta de motivo que somos pouco castos, diz Tardivo.

67

DISSONNETTO DO GENTIL SERESTEIRO [1463]

Amada Clara, minha amada Clara, em versos cantarei a tua cara!

Amada Beatriz, tu, Beatriz, verás que cantarei o teu nariz!

Querida Conceição, canto-te a mão!

Querida Nazareth, canto-te o pé!

De ti canto, Raymunda, como não

podia me ommittir, a bunda, né?

Cantei, da Julieta, a bocetinha, alem de, em Portugal, cantar a conna. O cu cantei, tambem, da Luluzinha. Nem fallo das mammonas da Ramona!

Cantei, por ser pequena, a Magdalena e, fina, a Josephina. Quem, grossona, cantei foi a Godiva. Mas a pena nem vale Amor cantar à minha dona.

68

DISSONNETTO DO TROVADOR PROVOCADOR [1464]

Accorda, minha amada, que te espero debaixo da janella! Mas ruido não faças, que teu mano é mui severo e, caso me descubra, estou fodido! Tambem, meu bem, a outra fui sincero e estive-lhe à janella... Mas bandido é seu troncudo irmão, e aqui nem quero lembrar quando pegou-me, alli, despido. Ao ver-me assim exposto, o marmanjão, na sua adolescente e verde edade, me fez logo chupar e, como não bastasse, me enrabou sem piedade! Por isso, meu amor, toma cuidado, pois corre grande risco quem se evade e, si teu mano pega-me pellado, Deus sabe la o que eu faça que lhe aggrade!

69

DISSONNETTO DA FUGA SUBITA [1249]

Cagava a nymphetinha quando, rente ao vaso sanitario, a enorme aranha do pé se lhe approxima. Muita manha tem feito a adolescente, ultimamente. Recusa-se a comer, a boba, crente que assim mantem a forma. Nem se accanha ao ver-se pelladinha e, mal se banha, desfila e posa, dum espelho em frente. Agora, sentadinha na privada, exquesce, por um tempo, seu corpinho ao qual ainda falta algum carinho e exforça-se em cagar, compenetrada. A aranha, cujo pello é como o espinho, lhe roça a pelle pallida, coitada! A joven nympha corre, ‘inda pellada, e excorre-lhe o cocô pelo caminho.

70

DISSONNETTO DA BARATTA EMBARAÇADA [1362]

Andavam, na calçada, mãe e filha. Sahida do boeiro, uma baratta nojenta, gigantesca, mal se pilha no pé da garotinha, a marcha engatta!

Subindo pela perna, na armadilha das roupas fica presa! Muito ingrata, aquella situação: não desvencilha as pattas, nem que puxe e se debatta!

A filha berra, pulla, em desespero!

Não entra alguem em panico? Pudera!

A mãe logo percebe que exaggero não era. Assim, tambem se desespera!

Mas, quando a barattona, emfim, fugia, mais medo tendo feito do que fera, estava pelladinha, ja, a gurya, causando os commentarios da gallera...

71

SENSUAL COMMERCIAL (dissonnettilho) [3477]

Sabe, gente? Eu, appesar de charmosa e de bonita, demorava a evacuar!

Sim, verdade seja dicta!

Ja de dias mais de um par eu passei (Quem accredita?)

sem fazer! Tão devagar, o intestino! Estive afflicta! Mas, tomando Cagarol, do qual sou, agora, fan, eu passei a ver o sol com bons olhos, de manhan!

Nem preciso mais de enema!

Accredite, minha irman! Hoje eu como, sem problema, a mais acida maçan!

72

SENSUAL COMMERCIAL (dissonnetto) [7167]

Belleza? Sabe, gente? Eu, appesar de ser assim charmosa, assim bonita, soffria, demorava a evacuar!

Verdade! Sim, verdade seja dicta! Eu juro! Ja de dias mais de um par, com colicas, passei (Quem accredita?) sem nada fazer! É tão devagar, às vezes, o intestino! Estive afflicta! Mas vejam só! Tomando Cagarol, remedio do qual sou, agora, fan, passei, como vocês, a ver o sol de novo com bons olhos, de manhan! Incrivel! Nem preciso mais de enema! É magica! Accredite, minha irman! Estou san! Hoje eu como, sem problema, de todas a mais acida maçan!

73

IMPROSTITUCIONALISSIMAMENTE [4981]

Ficou fodidamente emputescida, putissima ficou, vaginalmente fallando! E, si a mulher puta se sente, inexporradamente não revida! Revida, pois, no exporro e, caso aggrida o macho, machucado elle, analmente, não fica inenrabavel! Sae da frente, portanto, quem com femeas lindas lida!

Aquella de quem fallo, a mais ferrenha das antiphallocraticas, não deixa barato e, emmachescida, desce a lenha, pois superpredicados mil enfeixa!

Não ha quem propudor com ella tenha! Si, immasculinamente, o homem se queixa, mettido a desmetter, depois não venha recaralhalizar, pois perde a gueixa!

74

PUTA DE RECRUTA [3450]

Foi suffoco, na Argentina, o regime militar!

Torturou-se até menina bem novinha! Vou contar:

Estudante, ella termina como puta em lupanar: admarrada, se destina a morrer e, antes, chupar! Que nem pense em ser experta!

Ja tapado o seu nariz, a coitada ainda quiz respirar de bocca aberta. Bocca assim é como offerta!

Um soldado, até a goela, mette a rolla, que ella fella. Si demora, a morte é certa!

75

CANNA SULAFRICANA [3425]

Robben, duro, foi um osso: o apartheid usa, alli, farda. O fardado é bem mais moço. São os presos de cor parda. Enterrado até o pescoço, o detento negro agguarda que lhe urine, qual num poço, bocca addentro, o branco guarda. O branquello abre a braguilha, tira o pau e se imagina superior. Sorrindo, humilha quem engole o que elle urina. Rente ao piso, o prisioneiro, que a vingança só rumina, bebe o mijo. Mas, primeiro, lambe a sola da botina.

76

VEGETARYANISMO [4797]

Não pode comer isso. Nem pensar naquillo. Isto tambem não. Permittido, de facto, só legumes sem ter sido cozidos, sem tempero, sem frictar. Deixemos claro: em nada o paladar prazer pode sentir. Nosso partido quer tudo prohibir, quer que o sentido do gosto, emfim, se annulle, é bom fallar. Assim como o clitoris, que a mulher exstirpa à força, vamos impedir que façam dos “refris” um elixir, que todo mundo coma o que quizer. Gastronomo? Qual nada! Só fakir meresce vez! No garfo e na colher, sem molho, sem pigmenta, alho qualquer, só matto insosso! Hitler fez-se ouvir!

77

EXSILIO NA MORGADO [8538]

Aos homens bons que achei, si me comparo, percebo que serei dos menos maus. Si em termos affectivos fui avaro, subi, na raça humana, alguns degraus. Recluso, si no escuro vejo claro, la fora meu paiz recae no chaos.

Imponho-me, a mim mesmo, o mais severo exsilio na Morgado de Mattheus. Amigos me convidam, mas não quero cruzar, no quarteirão, com phariseus. Ouvindo Stones, penso não ser mero passivo observador dos dias meus.

Supposta humanidade em que me inspiro, a minha, ao menestrel, faz infeliz. Sou franco attirador só quando attiro meus versos, mas não macto quem eu quiz. Quem vejo da janella, ao dar um gyro geral, são outros pariahs do paiz.

Nem tudo, todavia, só deploro. Irei sobreviver, annos appós. Aquillo que suei por cada poro será, depois de morto, minha voz. Jamais, como immortal, me condecoro, mas honro a voz que herdei de meus avós.

Emfim, commigo mesmo não sou duro a poncto de rasgar o que compuz. No maximo, direi talvez impuro ter sido, mas não fodo tantos cus.

Ao menos a libido eu asseguro que, em sonho, libertei de alguns tabus.

78

PAPEL SEDOSO (dissonnettilho) [3971]

Eu sou mesmo muito rico, muito mesmo, mesmo muito. Quanto mais eu multiplico, tanto mais é meu intuito.

Appesar de estar no picco dos que brilham no circuito social, me mortifico por motivo o mais fortuito: Tambem cago, como os pobres!

Tambem fedo ao soltar flato!

Mesmo todos os meus cobres não me livram de tal acto!

Toda a grana não impede, nesse instante sujo e chato, que o papel se empappe! E fede minha mão, ao seu contacto!

79

PAPEL SEDOSO (dissonnetto) [7174]

Assumo que sou mesmo muito rico, mas muito, muito mesmo, mesmo muito! As comptas, quanto mais eu multiplico, não fecham, tanto mais é meu intuito!

Porem eu, appesar de estar no picco daquelles que mais brilham no circuito das rodas sociaes, me mortifico à bessa, por motivo o mais fortuito: Tambem cago! Sim, cago, como os pobres!

Tambem fedo demais ao soltar flato!

Malgrado mesmo todos os meus cobres, jamais eu fico livre de tal acto!

Não, toda a minha grana não impede -- Que merda! -- nesse instante torpe e chato, que um rollo de papel se empappe! E fede a minha fina mão, ao seu contacto!

80

DISSONNETTO DAS TROUXAS DOS TROUXAS [0748]

Um bando embandeirado dos sem-tecto occupa um edificio abbandonado. Installam-se as familias. Lado a lado, convivem rosto e pé, rango e dejecto. Cubiculos estão onde o selecto e vasto condominio foi lembrado. Até o momento ausente, agora o Estado se mexe, cerca o predio, afflicto, inquieto. Os novos moradores barricada constroem, se entrincheiram e resistem sem terem horizonte algum que advistem, até que o hostil bloqueio os dissuada. Por fim seus dados deixam que se allistem na fila das promessas vans, armada por lideres “pragmaticos”, e cada sem-tecto sae sem rhumo. Outros assistem.

81

MOTTE GLOSADO [7414]

Ora, deixa como está para ver como é que fica!

Em politica, não ha melhor phrase que defina o que fica na latrina:

“Ora, deixa como está!” Quem alli cagou não dá a descarga, mas dá dica de que egual acha a titica ao seu voto, a merda ao motte. No cagão você que vote para ver como é que fica!

Ja na merda até o pescoço, fazes tu reclamação ao politico, que não vê perigo nesse fosso:

-- Tu te adaptas! Guenta, moço! Si lamentas tua zica, o politico replica e risada ainda dá:

-- Ora, deixa como está para ver como é que fica!

82

ARTISTICA SCIENCIA [3511]

Da politica alguem ja, definindo-a, deu a dica, quando “deixa como está para ver como é que fica”.

O povão a identifica como o rabo de quem dá, enrabado pela picca de quem fama tenha má. Não ha muito o que fallar: Por ser “arte de exercer sobre os outros o poder e manter-se popular”, ella pode ser vulgar, pois nos leva à conclusão que masocas todos são e se deixam copular.

83

MANIFESTO ESQUEERDISTA [7874]

Confesso-me e professo a fé num “esqueerdismo” eschizo, no qual scismo que faço meu progresso: no verso, ja nem peço licença de ser dextro nem “gauche” e tenho um sestro politico a favor do lado “fingidor” que aos cegos eu sequestro.

Por mais conservador que possa parescer, masoca é meu prazer de escravo aos pés da dor, mas, como bom actor, sou sadico: gracejo e zombo do desejo. Portanto, liberal me vejo e, como tal, engajo-me sem pejo.

84

DISSONNETTO DO DECORO PARLAMENTAR [0795]

“O illustre senador é um semvergonha!”

{O que?! Vossa Excellencia é que é saphado!}

E os dois parlamentares, no Senado, disputam palavrão que descomponha.

Um grita que o collega usa maconha. Responde este que aquelle outro é veado. Até que alguem apparte, em alto brado

anima-se a sessão que era enfadonha. Inutil tentativa, a da bancada, de a tempo separar o par briguento: aos tapas, se engalfinham por um nada. Torcendo outros estão pelo momento fatal da verdadeira punhalada.

Imagem sem pudor do Parlamento, são ambos mais sinceros que quem brada:

-- Da pecha de larappio me innocento!

85

HILARIO PLENARIO [5953]

Tem methodo o jargão parlamentar. Debatte de alto nivel bem transcorre na Camara, mas, caso alguem desforre, bem pouca coisa pode se salvar.

Alguem pede palavra para dar palpite sobre thema que ja morre por falta de quem grana nisso torre, mas, mesmo assim, papel faz exemplar.

-- O nobre deputado se equivoca!

{Jamais! Vossa Excellencia não sabia?}

-- Sei muito bem! Não vivo de fofoca!

{Mas vive de mammata e mordomia!}

-- Não falle assim commigo, seu boboca!

{Ah, foda-se, Excellencia! Chupa! Enfia!}

-- Commigo ninguem nesse assumpto toca!

{Si toco! Não tolero baixaria!}

86

DISSONNETTO RODADOR [1001]

Palindromo perfeito é o “oroboro”, a cobra que devora o proprio rabo. Com esse talisman começo e accabo um thema que dos bruxos é namoro. Porem, como sou falto de decoro e de ser pornographico me gabo, engulo meu caralho, até me enrabo e rindo dessa dor gozo meu choro. Assim sempre vivi, junctando extremos, insomne em todo leito onde me deito, tirando da agonia meu proveito, casando maus anjinhos com bons demos.

Erotico e autophagico é o conceito, portanto, do “oroboro”: nomeemos seu cyclo de “infinito”. Eis como vemos a cobra do palindromo perfeito.

87

DISSONNETTO PARA UM CAFETEIRO PHILOSOPHANTE [2365]

Na Terra, a mesma merda os homens são: não passam de grãozinhos de café! Na machina, os grãos descem, pois não é possivel excappar pela ascensão! Um appós outro, todos elles vão na mesma direcção, quer tenham fé, quer não, do pequenino e fracco até o grande e forte: sempre rhumo ao chão! Si mudam de logar ou posição, si seguem lé com lé, si cré com cré, em nada arreda a machina seu pé: na lamina elles todos cahirão! Assim é que, no mundo, essa ralé chamada “humanidade” tem funcção ephemera, didactica allusão ao grão que vira pó, sem marcha à ré.

88

DISSONNETTO DO PESADELLO BIBLICO [1435]

Às margens do Mar Morto está Sodoma. Gomorrha fica perto. De má fama são ambas: quem não quer que alguem lhe coma o cu, la seus poemas não declama. Um bardo que conhesço e, de glaucoma ja cego, tem visões, cahiu da cama sonhando que la chega e logo toma no rabo, chupa rolla e nem reclama. Poemas recitou, só sobre thema sacana, que fetiches não sublima. Se expoz, accreditando que alguem tema um bardo bom de metro e bom de rhyma. Inutil! Suas glosas, de uma em uma, vaiaram! Não havia, mesmo, um clima... Agora, si lhe peço que resuma a historia, diz: “Gozei, ‘inda por cyma!”

89

O padre está sentado na privada, pellado. Nem tomou seu banho ainda. Lembrou-se da mulher que, loira e linda, temptou-o, mas com ella não quiz nada. Medita, emquanto agguarda que a cagada comece: appós trez dias, é bemvinda.

Emfim, a Natureza vibra e brinda! Afflicto, o padre offega e um “Oh!” ja brada. Segura o barrigão e mais um “Oh!”

lhe excappa: eis que expelliu o cagalhão maior, cujo diametro era tão demais, que em suas tripas dava um nó. Emquanto mais toletes, “Oh!”, lhe vão sahindo, elle repete: “Oh!”... Falta um só. Supplica, “Oh! Virgem Sancta! Oh! Tenha dó!” “Oh!”, geme, “Oh! Vade retro, temptação!”

90
“Ô PADRE! MEU, QUE MERDA, PÔ!” ou SENSAÇÃO E TEMPTAÇÃO [5035]

PROPRIEDADE DE EXPRESSÃO [4404]

Um padre não diz “Ui!”, siquer um “Ai!”. Jamais exclama “Porra!” nem “Caralho!”, siquer numa afflicção, num acto falho. São taes interjeições offensa ao Pae!

Será mais impensavel dizer “Vae p’ra puta que o pariu!”, mesmo si o ralho for contra, entre os pestinhas, o pirralho que empurra a estatueta, e o sancto cae. No exacto instante, um padre só diz “Oh!”, que, alem de ser euphonico o tal brado, é termo mais solenne e mais sagrado, quer seja de alegria, dor ou dó! Diria o padre Sylvio, o padre Amado, ou mesmo o Julio um “Oh!” discreto, um só, que vem de la, de dentro do loló, si fosse no local massageado.

91

FATAES NATAES [3089]

Natal! Que desejar, sendo sincero, a alguem que considero? Peço então que aquelle homem do sacco vermelhão penetre no buraco, dizer quero, da sua chaminé! Que ganhe, espero, algum peru carnudo e, pelo vão, lhe venha a pomba! Vão das pernas? Não! Da telha! E agoure sorte à hora zero! Emfim, neste Natal, eu lhe desejo, affora que Noel não seja avaro, exguichos, gritos, risos! Fique claro, refiro-me à champanhe! E vale o ensejo: Pendure a meia usada! Assim, meu caro, que a noite escurescer, eis o que almejo: trocar por nova a sua! Ahi, festejo cheirando a que ganhei, um mimo ao faro!

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FELIZES DESLISES, PERIGOSO GOZO [3383]

Fugir à temptação é tentativa inutil, si o peccado nos diz sim. Pudera! De Satan ninguem se exquiva!

Não ha mysterio nisso, para mim.

Malgrado um crucifixo, uma agua benta, Satan temptar-nos tenta, e elle consegue!

Quem tenta se exquivar, si o Demo o tempta, percebe onde admarrou, ja tarde, o jegue!

Por mais que esteja attento ao attemptado mortal que nos expreita em todo cantho, não tarda e, da sereia, attende ao canto aquelle que exquivar-se tem tentado.

Nenhuma norma sancta se sustenta!

Um cego asceta, mesmo que renegue a tactil temptação, suja e nojenta, irá para o Diabo que o carregue!

Não ha, para quem pecca, alternativa: poupar-se de peccar é que é ruim!

Ou prova o que deprava, ou só se priva aquelle que prevê do mundo o fim.

93

ORAÇÃO DO PAGÃO [4117]

Satan, que estaes no Inferno, seja o vosso prophano nome egual a zero e esteja bem longe o vosso reino desta egreja na qual rezo, desfeita, ja, em destroço! Pão fresco, todo dia, não vos posso pedir, que não me venha, de bandeja, aquelle que admassastes, nem cereja no bollo pedirei, Padrasto Nosso! Tambem não vou pedir que perdoeis as dividas que temos pactuado ha seculos, por meu antepassado, tamanha a temptação que offeresceis!

Só peço, ó Satanaz, estar zerado: livrar-me de cumprir as vossas leis; trocar, por meia duzia, seis seis seis; quitar, ficando cego, o meu peccado!

94

EXAME DE CONSCIENCIA [5280]

Pae nosso, que no Inferno estaes, que nome vos posso dar? De sancto, não, é claro! Não venha o vosso reino a nós, meu caro Papae, si infernal fogo vos consome!

Vontade, caso seja a vossa fome de sadicas vinganças, eu declaro que tenho medo della! Não é raro topal-a pela frente! E o bicho come! Aqui na terra, a gente pede pão e leva pau no rabo! Eu devo o cu e os olhos, propriamente, em termo cru, mas, quando vos imploro, choro em vão!

Cahir em temptação virou tabu!

Peccar não tem siquer a redempção! Que faço, então? Vos peço algum perdão?

Ou mando-vos dar rabo a Belzebuth?

95

DISSONNETTO SOBRE UM LAÇO LASSO [2881]

Eu te amei como pude, feito gente. Fui inteiro, metade, fui ferida e faca, fui a volta, fui partida, fui tudo e nada: o opposto, simplesmente. Opposto presuppõe, logicamente, confronto. Entre dois sexos, appellida o coito dum casal, que convalida aquillo que se goza e que se sente. Mas, si por monosyllabos os dois parceiros dialogam, o sentido ficando vae menor, diminuido, estreito, e faltam nomes para os bois. Laconicos, succinctos, eu duvido que tenham mesmo amado a tempo, pois a vida muito curta foi. Depois de tudo, nada resta, aptado, unido.

96

Agua que a chuva empoça no telhado e cria o mosquitinho que nos picca...

Agua que, mal brotando la da bicca, aqui ja chega suja, e a bebe o gado...

Agua fedendo a lodo que, cagado no corrego, o empesteia e por la fica...

Agua residual de quem fabrica venenos e agrotoxicos ao lado...

Agua que a gente bebe da torneira, insipida, mas, caso a gente observe, com cheiro de alga podre e que não serve siquer para lavar uma lixeira...

Agua que, mesmo quando a gente ferve, nos sabe a mau sabor, que mal nos cheira, que aquella da latrina até ja beira e irriga, no meu verso, o verme e a verve...

97
DISSONNETTO SOBRE UM PLANETA MAL MOLHADO [2988]

REPALINDROMIZANDO [6871]

Mais este bom palindromo se somma a alguns que de mim deram testemunho, agora pelo Fabio Aristimunho:

“Amo cu! Alguem ama meu glaucoma?”

Não digo que desejo que me coma alguem por via anal, nem com o punho penetre-me, mas nunca me accabrunho com certas allusões neste idioma.

{Gustavo, um joven sadico, varia e allude a mim: “Ô, dá-me, Glauco, o cu, algemado”, provando que sabia: Alem de definir-me e expor-me a nu...

O bom palindromista a poesia achou, por traz me pondo seu peru!}

Assim sonnetizei eu, certo dia... De novo o cu quebrar vem um tabu!

98

COISAÇÃO COISISTA [4777]

Que coisa! Quando a coisa está coisada, ninguem acha que as coisas coisarão. Deixemos, pois, as coisas como estão, que é coisa de um tantinho assim, mais nada. Estou coisando tudo e, em breve, cada coisinha coisarei. Por isso, não preciso que me coisem. A questão é como descoisar a coisarada. Melhor coisificarmos a coisinha que pormos a perder a coisa toda. Eu mesmo não descoiso muito a minha, sinão ja vão dizer que a “cousa” é “douda”. Bem antes que essa coisa toda exploda, descoiso o que coisei! Alguem ja tinha coisado coisa assim tão coisadinha?

Coisissima nenhuma! Que se foda!

99

DISSONNETTO BIZARRO [0111]

Coprophilo é quem gosta de excremento.

Pedophilo só trepa com creança. Defuncto fresco em paz jamais descansa nos braços do necrophilo sedento.

Voyeur assiste a tudo, sempre attento ao exhibicionista, que até dansa.

O fetichista transa até com trança, e o masochista adora soffrimento. Libido, pelo jeito, é mero lodo.

A sensualidade faz sentido conforme a morbidez sob a qual fodo. O sexo quasi sempre é reprimido, mas, claro, não me privo o tempo todo.

Não basta o pé, precisa ser fedido. Si tenho de excolher, pois, um appodo, serei um podosmophilo assumido.

100

CADA MALACO NO SEU MALHO [5554]

É vario o vicio: em pinga ha quem se affogue.

Rockeiro que se preza ama a maconha.

Não passa um bom pornographo sem bronha.

Absintho deixa um bardo meio grogue.

Ainda nos cavallos ha quem jogue.

Nos bichos quem apposta sempre sonha.

Nenhum anarcho achei que não se opponha.

Um hacker tem perfil falso e tem blogue.

Não joga dominó quem joga dado.

“Teenager”, nos taes “games”, ninguem batte.

Não sabe ser masoca quem é sado.

Jamais um torcedor engole empatte.

TV tem fan que vê só seriado.

Chocolatras adoram chocolate e, emfim, no dissonnetto é viciado o cego que, na insomnia, virou vate.

101

REUNIÃO DA COMMISSÃO [4154]

Jurados, combinemos o seguinte: si o cego concorrer, não premial-o de jeito nenhum! Vamos embromal-o!

Depois o preterimos com accincte!

Na lista finalista, que entre os vinte figure, permittamos... Mas no callo pisemos, p’ra que, quando dão gargalo os dez primeiros, elle ja não pincte! Quem manda ser pornô, ser fetichista, fazer de diversões seu torpe parque?

Com duras consequencias, então, arque! Jamais elle entrará na nossa lista!

Ainda que recordes elle marque, neguemos chance ao cego sonnettista! Da nossa parte, nada elle conquista! Só vale premiar Chico Buarque!

102

MANIFESTO MASOCHISTA [7878]

{Eu quero que me battam, mas não quero sentir dor! Quero o latego na pelle lanhando-me! Porem, sendo sincero, poupando o corpo, sempre que eu appelle, de todo o descomforto! Bem severo desejo o meu senhor! Mandar que eu felle e engula, anxeio que elle mande e mero brinquedo, que eu lhe seja! Que elle zele por minha integridade é o que eu espero, sem penas duras, caso eu me rebelle!}

-- Folgado, né? Você se considera escravo, mas vontades tem e falla que “quer” isto ou aquillo! Quem lhe dera que alguem com paciencia, na senzala, comforto tal lhe desse! Eu viro fera si pego um typo desses! Você cala a bocca na porrada! Appanha à vera! Lhe mijo antes que engula a minha galla! Você me teme, claro, mas venera, na bronha, a minha rolla e quer chupal-a!

103

MANIFESTO ONANISTA [7914]

{Glaucão, eu batto muita bronha, todo o tempo! Um punheteiro se tacteia com jeito, sabe? Nunca a gente malha o sacco quando cobre com a mão o thallo. Phantasio, nos momentos finaes, alguma puta, num puteiro de guerra, alguma presa. Ah, si funcciona! Mas, quando demorado, o gozo bom não vindo, o jeito é, claro, ver o damno que attinge algum politico na fria masmorra, si for preso. A gente vê o cara appavorado, ja que agguarda chegar um habeas corpus. O logar lhe sendo bem incommodo, duvido que falhe esse meu ecstase tão lindo! E ahi, Glaucão? Egual tesão lhe accirro?}

-- Não, bronha nunca batto. Appenas fodo, de bruços, o colchão, com uma meia suada no nariz. Uma toalha colloco por debaixo, para não sujar o meu lençol. Os movimentos de foda accelerando vou si cheiro o poncto mais molhado da meiona, até que, loucamente, exporro com gemidos abbafados pelo panno da meia. Quanto à minha phantasia, varia, mas concordo com você bem nesse poncto: quando o orgasmo tarda, é só nalgum politico pensar, que esteja preso ou venha a ser detido, chorando, pelo amor de Deus pedindo. O gozo vem mais rapido que expirro!

104

MANIFESTO VOYEURISTA [7942]

{Mas Glauco, por acaso torturei, mactei ou estuprei alguem? Me diga! Magina! Você sabe muito bem que eu, pobre de mim, macto só mosquito! Adoro tão somente ver quem faz taes coisas em detalhe, como batte, flagella, queima, fura, fode, enraba, admarra, arranha, affoga, pisa, chuta... Você tambem não curte scenas taes?

Mas ficam me imputando maus valores, segundas intenções ou fins excusos, somente porque vejo, porque gozo aqui, remotamente, no comforto da minha poltroninha, Glauco! Pode?}

-- Não podem accusal-o, não, que eu sei. Só podem allegar que quem se liga em scenas violentas pensa, sem escrupulos, na alheia dor, do grito das victimas chacota faz, mordaz. Peor é minha tactica de vate privado da visão, que é quem accaba chupando, otario, o dedo, pois escuta, com audiodescripção, appenas ais...

Me cabe imaginar aquellas dores, os actos practicados, os abusos. Podemos divergir, ja que não doso meu gozo como algoz, por esse torto enfoque, mas soffrendo como o bode...

105

MANIFESTO REDUCCIONISTA [7947]

{Em these, é tudo a mesma coisa, sabe?

Não passa de cocô toda essa bosta! Me deixa emputescido quem consente que estado bem differe de governo e patria de nação ou de paiz! Não somos brazileiros todos? Não fazemos o papel do viralatta? Bobagem, caro Glauco, pretendermos achar que merda pode ter perfume! Cocô fede a cocô! Paiz maior resume-se, é fatal, a um cocozão!}

-- Até lhe dou razão. A mim me cabe, comtudo, ser poeta. Alguma apposta eu faço num Brazil independente. Talvez um presidente mais moderno nos seja dictador e quem se diz mau lider de estadista tenha mão. Mas algo nos restou, alem da matta ja quasi devastada. Meros termos não medem nosso lyrico costume de sermos utopistas. Nem major perdura num quartel, nem capitão...

106

MANIFESTO DESHUMANISTA [7960]

{Não creio que tu devas te envolver só com perversidade e perversão, meu caro Glauco! Vejo tua lyra tractando unicamente desses themas nojentos, violentos, chulepentos... Paresces obcecado com tal lado da vida, como si outro não houvesse! Precisas pensar, Glauco, na faceta humana das pessoas, na bondade que exsiste ‘inda nos homens, por Jesus! Ou achas que sensato não me faço?}

-- Te fazes, com certeza. Mas dever eu tenho, como bardo, de ver não appenas as bondades de mentira. Tambem dos mais veridicos problemas eu tracto. Não descharto os bons momentos, mas, como vês, sou cego, revoltado, maldicto. Ja perdi tempo com prece inutil, com protesto. Na trombetta a bocca ja puz muito. De maldade, porem, quando te fallo, lingua puz na chaga. A mais denuncia dei espaço...

107

MANIFESTO DESILLUMINISTA [7971]

{Caralho, Glauco, porra! Tu não pensas que um despota não deve nem precisa ser culto ou, propriamente, “exclarescido”? Um lider, si for firme e auctoritario, precisa ter colhão! Ou tu discordas? Tambem, si discordares, vae à merda! Mas dize-me, Glaucão, para que serve a porra da cultura? Tu, que cego ficaste, falta sentes da leitura? Não basta a ti meus pés massagear? Então, Glaucão! Um coppo mais de vinho e posso concluir o raciocinio... Que merda! Me exquesci donde eu estava! Te lembras, Glauco, disso que fallei? Ah, foda-se! Que importa? Agora quero tirar uma pestana, addormescer, sonhar que, como sempre, sou tyranno, sou grande dictador! Tu, que me dizes?}

-- Massagem nos pés pode essas doenças mentaes alliviar, digo-lhe à guisa de thema ao responder. Mas não duvido da sua tyrannia, não. Otario seria si perdesse eu o melhor das banaes occasiões em que, na lerda passagem duma tarde, quando ferve o clima de mormaço, no seu ego applico uma massagem. Sim, sem cura é minha condição, mas meu azar compenso nestas horas. Um pouquinho de vinho tambem quero. Posso? Opine o que venha à sua mente. Não nos trava a lingua mais um gole. Bem, um rei você disse querer ser, um severo monarcha, alguma coisa que o poder envolva, né? Fallou, si não me enganno, você disso. Mas somos, ja, felizes...

108

MANIFESTO SARRISTA [7972]

{Permitta-me dizer: você provoca na gente, caro Glauco, uma tremenda vontade de gozar, de tirar sarro! Um cego tão escroto nunca vi!

Cegueira, por si mesma, bom motivo de riso causa àquelle que vê bem, mas quando um cego o comico papel faz, como no seu caso, gargalhadas de gozo nem consigo reprimir!

Pudera! Reprimir p’ra que? Bem faço!}

-- Sim, claro. Mas melhor faz si a piroca tirar você p’ra fora, não se offenda, e boa punhetinha batter. Narro ja muita scena assim, sobre quem ri da minha condição. Ja que me privo de tudo que você desfructa, sem problema aguento quando sou, ao bel prazer do seu humor, thema às piadas. Não perca, pois, a chance, que engolir consigo um pau, emquanto sou palhaço...

109

MANIFESTO SEXORALISTA [7973]

{Sei por experiencia propria, cego: um pau os travestis chupam melhor que muita mulher! Numa festa ja flertei com um bonito -- ou mais bonita que muitas putas, Glauco! Sussurrei em seu ouvido: “E então? Quer me chupar com essa bocca linda que me excita?”

Nós fomos ao banheiro. Ahi tirei p’ra fora a rolla. Aquella gatta fez na vida a chupetinha mais gostosa que tive! Percebi, cego: uma puta não chupa assim tão bem, tão delicada nos labios e na lingua! Se empenhava bastante na cabeça, até que, emfim, na hora de gozar, me punhetou de leve com a bocca. Ah! Que deleite! A porra foi todinha para dentro daquella gargantinha! Arrancou minhas golfadas sem perder nenhuma gotta! Assim é que se faz! Não como as putas, que não se especializam em tirar a porra dum caralho numa bronha buccal tão bem battida, cego! Ou não? Você não sente inveja dum traveco?

Queria no logar della ficar?

Que gloria para um cego chupador, não acha? Performar com sua bocca

aquillo que faria com a mão alguem que se punheta, não é facto?}

110

-- Razão, caro Diego, não lhe nego, pois desses argumentos sei de cor. Esposas, namoradas, não está ninguem de fora nessa. A favorita chupeta, quem faz mesmo, alem do gay, é a mais transsexual, essa exemplar mulher que ja foi homem. Quem imita, usando a propria bocca, como usei, aquillo que sentiu alguma vez no pau, quando chupado, melhor dosa os toques labiaes, linguaes -- labuta que puta alguma nunca fará, nada egual, jamais, ainda que de escrava se faça. Nada novo, para mim. Ao cego, ja faz parte de seu show mostrar-se efficiente. Que approveite quem delle se servir! Eu me concentro e faço meu melhor, não nestas linhas, appenas, mas tambem na mais escrota das practicas buccaes, sob ordens brutas, bebendo mijo, ouvindo o mais vulgar e chulo commentario, sem vergonha nenhuma, adjoelhado pelo chão. Inveja sinto, claro, mas eu secco, tal como o travesti, meu paladar curtindo, o doce semen de sabor salgado, amargo, ou acre. Jamais oca a bocca dum ceguinho fica, tão fatal a vocação que tem ao acto.

111

MANIFESTO METEORISTA [7975]

{Você concorda, Glau, que ninguem vê a merda como coisa comestivel? Então! Si ninguem topa aquillo entrando na bocca, como acceitam sentir cheiro daquillo no nariz entrando, Glau? Ninguem acceita, não, Glau! Cê percebe por que que peido offende tanto, Glau? Ahi que eu entro! Gosto de peidar nas horas, nos logares mais lotados de gente, Glau! Adoro ver que vão meus gazes engolir, sentir o gosto do cheiro! Sim, no fundo, o peido offende por causa disso, Glau! No fundo, comem cocô virtualmente, Glau! Entende o gozo que me dá peidar assim, anonymo, civil, socialmente?}

-- Concordo plenamente com você. A coisa justamente nesse nivel eu vejo. Um thema desses, nada brando, meresce ser tractado com inteiro enfoque intelligente, em alto grau de senso philosophico. P’ra plebe, assumpto desse typo nem é mau, pois acham engraçado que, no bar de exquina, na calçada, alguem, aos brados, reclame do fedor da digestão mal feita, da batata doce, rosto franzido, do pheijão que sempre rende mais gazes, do repolho, quando um homem assume que comeu... Claro, ninguem, de bom grado, cheirará coisa ruim. Por isso dão risada de quem sente...

112

MANIFESTO SEXISTA [7977]

{Ahi, gostosa! Quero lhe comer a chota! Arrombar tudo o que você não abre, sua vacca! Cê não nota, peituda, bocetuda, nadeguda, que eu morro de tesão? Você devia suppor, adivinhar! Devia até pedir para chupar o meu caralho, cadella, vagabunda! Ah! Volte aqui! Não fuja, pistoleira do cacete! Ahi, Glauco! Não fallo que essa nova facção da mulherada nem escuta mais quando grito ou chamo de gostosa alguma pela rua? Ah, Glauco! Falla bem franco: cê não acha a maior pena?}

-- Achar, eu acharia, a bem dizer, si fosse do Roy Orbison o que você põe para fora, mas remota seria qualquer chance de, desnuda, a moça a você vir, nessa macia linguagem, chupar rolla, lamber pé, em summa, tudo aquillo a que eu bem calho, modestia à parte, claro. Você ri, mas sabe que um ceguinho do macete entende, pois ja teve disso prova. Emfim, quando mais nada com a puta do bairro cê consegue, bem que goza de forma alternativa, bem que a galla exguicha, à bocca grande, e não pequena...

113
SUMMARIO NOTA INTRODUCTORIA................................ 7 DISSONNETTO PAULOPOLITANO [0110].................. 9 DISSONNETTO NATAL [0951]......................... 10 MAIS UMAS LINHAS [5556].......................... 11 DISSONNETTO DO ORGULHO REVOLTADO [1500].......... 12 VICIO DE OFFICIO [5640].......................... 13 VICIO DE HOSPICIO [5641]......................... 14 VICIO DESVIRTUADO [8574]......................... 15 ODE CIRCUMSTANCIAL [8170]........................ 16 CHARTILHA DO INFINITILHO [8092].................. 19 INFINITILHO TRABALHADO [8150].................... 20 DISSONNETTO MINEIRO [0337]....................... 21 DISSONNETTO BAHIANO [0338]....................... 22 MANIFESTO COPROPHAGICO (2) [0006]................ 23 REMANIFESTO OBSONETO [0008-B].................... 24 DISSONNETTO REMANIFESTO [0507]................... 25 DISSONNETTO EVACUADO [0613]...................... 26 COPROPROSOPOPÉA [5620]........................... 27 CASEIRA CONFEITEIRA [4110]....................... 28 DISSONNETTO FLATULENTO [0192].................... 29 GAZES COMBUSTIVEIS [4581]........................ 30 MOTTE GLOSADO [7438]............................. 31 ODE NAUSEABUNDA [8155]........................... 32 RHAPSODIA PESSOANA [8372]........................ 34 SIGNA DIONYSIACA [4906].......................... 36 ODE AO AEDO [8154]............................... 37 O POLYGLOTTA QUE CONNOTA [3240].................. 38 PORTENHO PORTUNHOL PORNÔ [8462].................. 39 AUTO PRO MOÇÃO [3409]............................ 40 DISSONNETTO CACOEPICO [0343]..................... 41 LINGUA PUTANHEIRA [1012]......................... 42 DISSONNETTO PARA UMA SÓ PALAVRA [2525]........... 43 PRIMEIRAS LETTRAS [3525]......................... 44 DISSONNETTO TATIBITATE [0387].................... 45 VOCALICA VOCAÇÃO [3366].......................... 46
DISSONNETTO IMPERFECCIONISTA [0401].............. 47 DISSONNETTO PEDICURADO [0740].................... 48 DISSONNETTO PERVERSIVO [0423].................... 49 DISSONNETTO DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO [1204] ...... 50 DISSONNETTO DA BOTA QUE NÃO DESBOTA [1416]....... 51 RHAPSODIA MACHADIANA [5902]...................... 52 DISSONNETTO DIDASCALICO [0437]................... 53 DISSONNETTO DO APPRENDIZADO [0653]............... 54 DISSONNETTO SEM DOR NEM DÓ [1071]................ 55 BISADA BIZARRIA [6553]........................... 56 RIJO DE MIJO [5064].............................. 57 BUNDA DE SEGUNDA [4761].......................... 58 DULCE SALGADO DE AZEVEDO CAMARGO (2) [0001]...... 59 PORCARIA SEM PERFUMARIA (1) [5047]............... 60 PORCARIA SEM PERFUMARIA (2) [5048]............... 61 BACALHAU [6208].................................. 62 CAPTIVO ADOPTIVO [4936].......................... 63 EXGUEDELHADA PENTELHEIRA [5099].................. 64 DISSONNETTO BOCETEIRO [0309]..................... 65 CREAÇÃO DA BOCETA [4464]......................... 66 OBSOLETA BOCETA [8564]........................... 67 DISSONNETTO DO GENTIL SERESTEIRO [1463].......... 68 DISSONNETTO DO TROVADOR PROVOCADOR [1464]........ 69 DISSONNETTO DA FUGA SUBITA [1249]................ 70 DISSONNETTO DA BARATTA EMBARAÇADA [1362]......... 71 SENSUAL COMMERCIAL (dissonnettilho) [3477]....... 72 SENSUAL COMMERCIAL (dissonnetto) [7167].......... 73 IMPROSTITUCIONALISSIMAMENTE [4981]............... 74 PUTA DE RECRUTA [3450]........................... 75 CANNA SULAFRICANA [3425]......................... 76 VEGETARYANISMO [4797]............................ 77 EXSILIO NA MORGADO [8538]........................ 78 PAPEL SEDOSO (dissonnettilho) [3971]............. 79 PAPEL SEDOSO (dissonnetto) [7174]................ 80 DISSONNETTO DAS TROUXAS DOS TROUXAS [0748]....... 81 MOTTE GLOSADO [7414]............................. 82 ARTISTICA SCIENCIA [3511]........................ 83 MANIFESTO ESQUEERDISTA [7874].................... 84
DISSONNETTO DO DECORO PARLAMENTAR [0795]......... 85 HILARIO PLENARIO [5953].......................... 86 DISSONNETTO RODADOR [1001]....................... 87 DISSONNETTO PARA UM CAFETEIRO PHILOSOPHANTE [2365] ..... 88 DISSONNETTO DO PESADELLO BIBLICO [1435].......... 89 “Ô PADRE! MEU, QUE MERDA, PÔ!” ou SENSAÇÃO E TEMPTAÇÃO [5035]................................. 90 PROPRIEDADE DE EXPRESSÃO [4404].................. 91 FATAES NATAES [3089]............................. 92 FELIZES DESLISES, PERIGOSO GOZO [3383]........... 93 ORAÇÃO DO PAGÃO [4117]........................... 94 EXAME DE CONSCIENCIA [5280]...................... 95 DISSONNETTO SOBRE UM LAÇO LASSO [2881]........... 96 DISSONNETTO SOBRE UM PLANETA MAL MOLHADO [2988].. 97 REPALINDROMIZANDO [6871]......................... 98 COISAÇÃO COISISTA [4777]......................... 99 DISSONNETTO BIZARRO [0111]...................... 100 CADA MALACO NO SEU MALHO [5554]................. 101 REUNIÃO DA COMMISSÃO [4154]..................... 102 MANIFESTO MASOCHISTA [7878]..................... 103 MANIFESTO ONANISTA [7914]....................... 104 MANIFESTO VOYEURISTA [7942]..................... 105 MANIFESTO REDUCCIONISTA [7947].................. 106 MANIFESTO DESHUMANISTA [7960]................... 107 MANIFESTO DESILLUMINISTA [7971]................. 108 MANIFESTO SARRISTA [7972]....................... 109 MANIFESTO SEXORALISTA [7973].................... 110 MANIFESTO METEORISTA [7975]..................... 112 MANIFESTO SEXISTA [7977]........................ 113
São Paulo Casa de Ferreiro 2023

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MANIFESTO SARRISTA [7972]

3min
pages 109-113

MANIFESTO DESHUMANISTA [7960]

1min
pages 107-108

MANIFESTO REDUCCIONISTA [7947]

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page 106

MANIFESTO VOYEURISTA [7942]

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page 105

MANIFESTO MASOCHISTA [7878]

1min
pages 103-104

COISAÇÃO COISISTA [4777]

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REPALINDROMIZANDO [6871]

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PROPRIEDADE DE EXPRESSÃO [4404]

3min
pages 91-97

DISSONNETTO PARA UM CAFETEIRO PHILOSOPHANTE [2365]

1min
pages 88-90

DISSONNETTO DO DECORO PARLAMENTAR [0795]

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pages 85-86

MOTTE GLOSADO [7414]

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page 82

PAPEL SEDOSO (dissonnetto) [7174]

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page 80

EXSILIO NA MORGADO [8538]

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pages 78-79

VEGETARYANISMO [4797]

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page 77

IMPROSTITUCIONALISSIMAMENTE [4981]

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pages 74-75

DISSONNETTO DA FUGA SUBITA [1249]

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page 70

DISSONNETTO DO GENTIL SERESTEIRO [1463]

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pages 68-69

DISSONNETTO BOCETEIRO [0309]

1min
pages 65-67

EXGUEDELHADA PENTELHEIRA [5099]

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page 64

CAPTIVO ADOPTIVO [4936]

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page 63

PORCARIA SEM PERFUMARIA (2) [5048]

0
pages 61-62

PORCARIA SEM PERFUMARIA (1) [5047]

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page 60

BISADA BIZARRIA [6553]

1min
pages 56-58

DISSONNETTO SEM DOR NEM DÓ [1071]

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page 55

DISSONNETTO DO APPRENDIZADO [0653]

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page 54

DISSONNETTO DIDASCALICO [0437]

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page 53

RHAPSODIA MACHADIANA [5902]

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page 52

DISSONNETTO DA BOTA QUE NÃO DESBOTA [1416]

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page 51

DISSONNETTO DO BORZEGUIM DESBURGUEZADO [1204]

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page 50

DISSONNETTO PERVERSIVO [0423]

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page 49

DISSONNETTO PEDICURADO [0740]

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DISSONNETTO IMPERFECCIONISTA [0401]

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page 47

VOCALICA VOCAÇÃO [3366]

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page 46

LINGUA PUTANHEIRA [1012]

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pages 42-43

DISSONNETTO CACOEPICO [0343]

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page 41

O POLYGLOTTA QUE CONNOTA [3240]

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pages 38-40

SIGNA DIONYSIACA [4906]

1min
pages 36-37

RHAPSODIA PESSOANA [8372]

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pages 34-35

ODE NAUSEABUNDA [8155]

1min
pages 32-33

DISSONNETTO FLATULENTO [0192]

1min
pages 29-31

DISSONNETTO EVACUADO [0613]

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page 26

DISSONNETTO REMANIFESTO [0507]

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page 25

INFINITILHO TRABALHADO [8150]

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page 20

ODE CIRCUMSTANCIAL [8170]

2min
pages 16-19

VICIO DESVIRTUADO [8574]

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page 15

DISSONNETTO DO ORGULHO REVOLTADO [1500]

1min
pages 12-14

DISSONNETTO NATAL [0951]

0
pages 10-11

NOTA INTRODUCTORIA

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page 7
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