MALVADOS
MALVADOS
Casa de Ferreiro
Malvados
© Glauco Mattoso, 2023
Revisão
Lucio Medeiros
Projeto gráfico
Lucio Medeiros
Capa
Concepção: Glauco Mattoso
Execução: Lucio Medeiros
FICHA CATALOGRÁFICA
Mattoso, Glauco
MALVADOS/Glauco Mattoso
São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023
102p., 14 x 21cm
CDD: B896.1 - Poesia
1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.
NOTA INTRODUCTORIA
A minha trilogia mais fiel, chamada “Feios, Sujos e Malvados”, retracta a verdadeira face dessas pessoas que nos cercam, das quaes somos vizinhos, ou parentes, ou amantes. São esses que governam o paiz, ou este estado, ou esta aqui, cidade natal, de residencia nossa, a propria cidade em que seremos enterrados.
São esses que, em fallante multidão, na rua agglomerados vão comnosco, os mesmos que, na cama, a nossa bocca com beijos ou com tapas silenciam, ou mesmo com o membro que lhes seja fiel à propria cara, aqui descripta.
DISSONNETTO MASOCHISTA (2) [0060]
Masoch é, travestido de Gregorio, quem tanto foi submisso à sua amada que a propria vida dá por empenhada no texto dum contracto de chartorio. Mas Wanda vae alem do que é notorio no dia em que resolve ser malvada e, em vez de lhe applicar a chibatada, delega a um outro amante o gesto inglorio. Appós ser açoitado pelo extranho, Gregorio, abbandonado pela Wanda, cansado dessa sova nada branda, conclue que a coisa está de bom tamanho. Gregorio agora é Glauco, e quem me manda é o sadico rapaz do qual appanho e, ja que seus pisões de graça ganho, lhe lambo a bota e faço propaganda.
DISSONNETTO LOMBROSIANO [0373]
Os typos mais crueis teem, sob a pelle, um traço humilde, fragil, desvalido.
São como um monstro timido, sahido dos albuns de Lourenço Mutarelli. Ainda que sensivel se revele, nenhum de nós é sancto, e não duvido que até seja capaz de ter comido o cu da propria mãe, a quem repelle.
Percebe, meu leitor, de que se tracta?
Dois lados temos todos, certamente. Carrasco arrependido emfim se macta.
Evita o masochista a sopa quente.
O sadico tem medo de baratta. A fera raciocina como gente.
Adora flor o frio psychopatha. Nos pés o extripador cocegas sente.
DISSONNETTO INVECTIVADO [0637]
O cego tomba e a molecada berra, sarrista: “Ahi, cegão! Beija a calçada!”
O cego tromba e a sadica moçada caçoa: “Ahi, ceguinho! Olé! Se ferra!”
O cego ralla os braços pela terra e escuta: “Ahi, ceguinho! Varre a estrada!”
O cego entra na publica privada ouvindo: “Ei, cego! Senta, sinão erra!”
O cego sae de casa com bengala e volta de muleta, accidentado, passando mais ridiculo, coitado. E a turma: “E ahi? Que foi? Cahiu na valla?”
O cego chega em casa e, injuriado, esboça um desabbafo, mas se cala, por causa duma rolla que se entalla na sua bocca, a ouvir: “Ahi, veado!”
DISSONNETTO SEM DOR NEM DÓ [1071]
Ficou cego? O problema não é meu! A minha vista é boa! Eu approveito a vida como quero! Foi bem feito você perder a pose! Se fodeu! Tá achando tudo escuro que nem breu?
Tem mais é que soffrer! Eu me deleito sabendo que não tenho esse defeito nos olhos! Cê que chore o que perdeu!
Emquanto eu vejo o mundo livremente, você tem que chupar a minha rolla calado! Como a Monica ou a Lola!
Engula! Si eu gozar, você que aguente!
E tire da cabeça a idéa tola de que outros vão ter dó! Cê tá impotente!
Não pode ver, não pode achar que é gente!
Quem pode põe-lhe a picca, e eu posso pol-a!
DISSONNETTO DAS NECESSIDADES ESPECIAES [1088]
Vem vindo o cadeirante pela via deserta. Seus “amigos” são malvados, meninos que nem elle. Para os lados olhando, teme a turma, que o vigia. Abbordam-no, e accontesce o que temia: seus braços segurando, calam brados de supplica. Depois que são chupados, um delles do garoto ‘inda judia. Mal tira-lhe da bocca a rolla dura, começa a mijar, rindo, e dá-lhe um banho. Os outros participam da tortura e, quando ouço o que contam, ja me assanho. Por fim, o cadeirante tudo attura. Molhando-se, humilhando-se, um extranho prazer supera o medo, e elle procura ser util aos “normaes” do seu tamanho.
DISSONNETTO FOLGADO [1103]
Eu gosto é de batter em quem não tem defesa nem excappa do castigo!
O cego é um bom exemplo do que digo: sem venda nem algema, appanha bem!
Que seja covardia! Não tô nem ahi! Supplique, implore, que eu nem ligo!
Compare um cara invalido commigo: eu gozo da visão, e elle tá sem!
Que soffra! Vae levar relho no lombo, emquanto eu vou ficando de pau duro!
Assim é meu melhor orgasmo, juro!
Si o cego ja viu antes, mais eu zombo!
Pergunto: quem mandou ficar no escuro?
Então mando: ou me chupa, ou eu lhe arrombo o rabo! Na rasteira dou-lhe o tombo e empurro o pé no dente: é tesão puro!
DISSONNETTO DA MORTE DE SADE [1814]
Não sei si morreu louco, ou si ja era, o tempo todo, em vida. Mas, em termos de sexo e perversão, não é chimera dizer que em toda a França havia enfermos. Na praça, o povo inteiro estava à espera daquillo que nos causa especie ao lermos: tortura é um espectaculo à gallera e um réu só soffre para prazer termos. Cruel, malvado, perfido, perverso: assim, antes de Sade, em prosa e verso, define-se quem é como elle foi, quem causa, a rir, nas victimas um ai. Agora o termo “sadico” diz tudo: por mais que sua vida renda estudo, é nosso aquelle nome dado ao boi, embora a nossa tara tenha pae.
DISSONNETTO DA MORTE DE MASOCH [1895]
Si, antes de Sade, “sadico” era dicto “malvado”, “impiedoso” ou “sanguinario”, antes do Cavalheiro os termos cito: “estoico”, “penitente”, “voluntario”. Não ha sentido lato que equipare-o ao termo “masochista”, que maldicto deixou de ser faz tempo, ja que vario é seu emprego, que jamais evito. A gente facilmente o nome incute. O proprio Leopoldo, todavia, usava outra expressão, na qual havia sentidos que Deleuze hoje discute. Palavra sempre exsiste que permute: Foi “suprasensual” o Cavalheiro e, sob o pé de Wanda prisioneiro, até dum outro macho levou chute.
(1)
Si as “costas quentes” tem um protegido e as “costas largas” tem um accusado, as nossas costas são, por outro lado, um poncto por poetas ommittido. Só vistas pelo espelho, seu prurido exige adjuda para ser coçado. Tambem a gente acceita, de bom grado, massagem feita em lombo dolorido. Do dorso só notamos o valor si estamos reclinados na poltrona e enorme do cansaço o peso for. Quem é que tal prazer não ambiciona? A menos que eu ser queira soffredor. É quando do chicote aquella zona acceita umas lambadas, sem expor as partes mais sensiveis à má dona.
(2)
Eu não fallei Madonna, e sim “má dona”! Refiro-me à cruel dominadora e não a quem posou, como impostora, de mestra do sadismo mais cafona. Mulher, na relação, se posiciona mais espontaneamente em soffredora e humilde condição. Mas, si não fora escrava, nenhum homem a desthrona. Entreguem-lhe a chibata, a impunidade, e todos vocês, machos, sentirão nas costas quão philosopho foi Sade ou quanto uma Dalilah amou Sansão!
Louvemos das mulheres a maldade! Vergões esconde o typico machão por baixo da camisa: ninguem ha de suppor que suas costas “largas” são.
DISSONNETTO SOBRE UMA DOMINADORA BEM HUMORADA [2932]
Sorris da minha dor, mas eu te quero. Escravo sou, farei o que quizeres, pois tens a malvadeza das mulheres e pões, sobre meu rosto, o pé severo. Si affirmo ser escravo, sou sincero e o salto com o qual, rindo, me feres, supporto, mesmo quando tu tiveres vontade de testar o que eu tolero. Mulheres, quando usarem salto agulha, estão escravizando algum rapaz que em sonhos masochisticos mergulha. Tambem eu desse transe estou attraz. Sim, banco o teu palhaço, sou teu pulha! A ti sei que pertenço, e tanto faz si pisas em meu rosto ou si vasculha teu salto o meu tesão, pois rindo estás.
Por isso não extranhem caso eu peça a algum correspondente o seu relato de tudo que soffria, si de facto tambem elle humilhado foi à bessa. Si attende ao que pedi, mais que depressa, emquanto o email “leio” ouvindo, eu batto punheta, imaginando um pezão chato na cara do subjeito que confessa. Mas, quando lhe pergunto o que faria commigo, elle, que sempre foi pisado, responde: “Essa era a chance que eu queria! Faltava só pegar o seu recado! Assim é que a desforra se sacia! Preciso descomptar este meu lado malvado! Só lambi, mas quero, um dia, pisar em quem lambesse o meu solado!”
UMA SUBCULTURA ULTRAVIOLENTA (1/6) [3053/3058]
(1)
A Turma da Lazinha era uma gangue temivel! Valentão, jamais sozinho, é aquelle que, ao lynchar algum vizinho, revida um exbarrão com surra e sangue. Mas mesmo que nenhum delles se zangue, o gruppo aggride: appós cachaça e vinho barato, si um novato entrar no ninho, irá virar mais puta que as do Mangue. Obrigam-no a fazer-se de cinzeiro debaixo de porrada: o cara appara as cinzas com a bocca o tempo inteiro. Depois, lingua queimada, lambe, para geral risada, o tennis do primeiro que o chuta, e o tennis nunca se lavara.
(2)
Appós lamber pisantes, a linguona ferida se refaz banhada em pinga. Então, sob os tapões de quem o xinga de bicha, sua bocca vira conna. Terá que levar rolla, egual na zona a puta, sem chiar nem da catinga. Mas este tem consolo, pois se vinga de tudo que o degrada e que o lesiona. Ja findo o seu baptismo, elle é chamado de mano e de collega, mas terá ainda que provar seu lado sado. Sahindo para a rua, noite ja, a turma levará o recemchegado aonde a juventude toda está.
(3)
Terá que descomptar, o tal calouro, a curra que soffreu, e esse é seu teste de fogo: motivado, o cara investe, na rua, contra todos, feito um touro. Aggride quem passar, e eu não agouro tal sorte nem a ti, que me fizeste desfeita! Quem na frente desse peste se mette, vae lembrar que levou couro. Os outros ficam vendo a scena e rindo, mas, caso o novo membro em desvantagem esteja, elles soccorrem o bemvindo. Coitado do passante! Os jovens agem com toda a crueldade, achando lindo jorrar o sangue em morte tão selvagem.
(4)
Qualquer leitor bidu sei que adivinha quem hoje se tornou o tal novato que um dia lambeu sola de sapato: lidera agora a Turma da Lazinha. Tambem sei que o leitor dirá que à minha memoria não excappa aquelle exacto momento em que o chefão põe seu pé chato na cara duma typica bichinha. Jamais um veadinho chega a membro da gangue, nem pretende, mas trabalha no bar onde vi tudo o que aqui lembro. Estava, então, o lider de sandalia naquelle calorão, pleno dezembro, e em publico o pisou! Jamais me falha!
(5)
Perguntam-me si eu era aquelle gay. Respondo que talvez, mas, precavido, não chego a dar certeza, pois duvido até da minha sombra e do que sei. Porem que accontesceu o que contei é certo: a bicha tinha-lhe servido bebida não pedida e, si um bandido se zanga, faz valer a sua lei. Voou garrafa e coppo para um lado, e a bicha noutro cantho se extatella, jogada pelo ponctapé bem dado. Descalço da hawaiiana, o pé que nella pisou fede suor, mas foi beijado na marra... Lenda ou vera, a scena é bella!
(6)
Contaram-me que a bicha, na verdade, mais era que somente garçonette: não falta quem, maldoso, ja interprete o caso como... um caso, na cidade.
Não ha, cabe dizer, quem mais se aggrade contando a todo mundo que se mette a besta com o lider e boquette lhe faz, que o proprio gay, na intimidade. Lendaria ou procedente, tal versão limito-me em poema a registrar, sabendo como os gays gabolas são. O facto é que quem entra nesse bar procura com os olhos onde estão os dois, antes de à mesa achar logar...
PINGOLIM DE CHERUBIM [3163]
Na classe media, rolla muito disto: Filhinho-de-mamãe, elle é mimado, mas falta faz papae, que é separado, e pode esse moleque ser malvisto. Nas redes, sem pudor se identifica. Franzino, delicado, mas tyranno, o junior não se enturma: em casa fica jogando e, connectado, impõe seu plano. Escravos virtuaes ja collecciona, mais velhos e malhados. Dum exige que seja o buccal vaso no qual mije, e o cara topa o encontro e telephona.
A scena, a quem a curte, em “scat” é rica: Gravada, bem mostrou o exgotto humano: abrindo a bocca, o adulto acceita a picca fininha, que lhe urina, e engole o damno. A fonte deste caso não despisto: Contou-me um masochista. O typo sado, na rua, é um anjo e, em casa, o algoz malvado. São muitos os que escondem perfil mixto.
A VOLTA DO MOTTE DO TESÃO [3593]
A maldade eu não invento, só com ella me punheto. Si versejo, meu intento não contempla amor e affecto. O que houver de violento meu deleite é, predilecto. Sexo é sujo, odor nojento, buccal vaso, oral dejecto. Da barbarie eu tiro a bronha como a flor na primavera, porque um homem se envergonha mas jamais se regenera, pois, não sendo o mundo cão e nem barbara esta era, “ja não tenho mais tesão, ja não sou quem dantes era.”
A VOLTA DO MOTTE DO CAIXÃO [3617]
De você faço a vontade porque, sendo masochista, quem quizer que eu me degrade mal me humilha e me conquista. Me humilhou você: qual Sade, infligiu-me toda a lista de torturas, e a maldade dóe mais quando falta a vista. Tão fiel tornei-me escravo, como aquelle que não vê, que ao extremo me depravo de servir como bidê!
Si eu morrer, prometta então, sem cahir numa deprê: “Vou mijar no seu caixão com saudade de você!”
A VOLTA DO MOTTE DO GOSTO [3634]
Por galans sempre cercada, a bellissima escriptora com nenhum delles quer nada, qual si lesbica ella fora. Longe disso! É que ella, em cada rapaz lindo, experta, agoura uma bicha indisfarsada e, insensivel, os tesoura. Eis que o quadro se completa, caso seja bem pinctado: do mais sordido poeta a beldade é vista ao lado. Neste motte eu me baseio e das linguas não me evado: “Mulher gosta de homem feio, sujo, estupido e malvado.”
A VOLTA DO MOTTE DO BRUTO [3643]
Fode um “mano” o cu da “mina” e esta finge que se dóe na fraqueza feminina ante a sanha do seu boy. Elle entende “Ai! Me domina! Me perfura, meu heroe!” si ouve “Ai! Chega!” e, com voz fina, ella em dores se corroe.
Finalmente, ao ver que arromba a mulher, que se debatte, a sangrar do rabo à pomba, elle, rindo, affrouxa o engatte. Este motte eu não discuto caso alguem do assumpto tracte: “Homem feio, burro e bruto ri só quando em alguem batte.”
CASEIRA CONFEITEIRA [4110]
Conhesço uma cruel dominadora que obriga seus escravos a comer da fedida torta que ella faz suppor a melhor das iguarias: sua merda! Quer vel-os, esta sadica instructora, comendo com vagar, a bocca lerda, daquelle “cocolate”, que ja fora thesouro, em testamento, que alguem herda!
Tambem de “guariná” lhes enche a taça!
Será sortudo quem tal drinque ganhe! Imploram e supplicam que ella faça xixi para que alguem beba e se banhe!
Chamar de “cocolate” e “guariná” jamais foi linguajar que à moça accanhe: dá tanto prazer nella quanto dá comer bombons, beber fina champanhe!
PARAPHRASE DE SONNETTO SOBRE UM CONTO DE THIAGO BARBALHO [4531]
Os velhos não teem tempo, mas nós temos. Teem medo, mas de skate, em turma, andamos bem rapido e não temos. Nós fallamos em giria e, tattuados, somos demos. Na bronha elles, frustrados, em extremos comnosco se imaginam: somos amos; escravos elles, nossos, e mandamos que chupem, no cu delles nem mettemos. Meu tennis mais gastei que um andarilho. Só temos dezesepte, elles septenta. No escuro, os olhos delles teem um brilho de cego que nos chupa e nos sustenta. Maldades commettemos: não me humilho, mas elle sim, na sola poeirenta do tennis, como um pae lambe o do filho. É nossa geração a mais marrenta.
SUPERSTIÇÃO SUBESTIMADA [4734]
“Sou foda! Sou marrento! Sou marrudo! Si alguem me questionar, nem me molesto! Só pedra eu não attiro em cego! O resto eu faço e me lixando estou p’ra tudo!” Assim disse um malandro. Não me illudo: um gajo desses pensa até no incesto!
Jogava, com certeza (eu proprio attesto) pedrada num ceguinho carrancudo. Achava-se que pedra, si attirada num cego, attrahiria a maldicção, pois bruxos de nós muitos sempre são, mas hoje não influe a praga em nada. Ao menos é o que pensa o marmanjão que adora appedrejar-me e dá risada si accerta a ponctaria: aguento cada cascalho! E o cara a rir, como dum cão!
AUPARISHTAKA EM CALCUTTÁ (1/6) [4791/4796]
(1)
Na India, até deu filme, tão frequente tornou-se o facto. Esmollas todos dão si é cega quem as pede e uma canção repete essa menina em tom dolente. Occorre que os bandidos, cruelmente, a chloroformizaram para, então, cegal-a. Agora, exploram-na: ella não só pede esmolla, caso ainda aguente... Depois de ser pedinte a tarde toda e a grana arrecadada dar ao bando, é certo que, na bocca, alguem a foda. Ensignam-na a chupar gostoso e, quando recolhem-se os bandidos, caso ecloda num delles o tesão, basta um commando.
(2)
De furtos vive o bando, mas tambem da esmolla que ella pede e do dinheiro cobrado do freguez que, putanheiro, na bocca da ceguinha gozo tem. Franzina, mas bonita, a tal refem fugir não pode: deve, o tempo inteiro, pedir e obedescer. Chupa o primeiro que manda adjoelhar-se e rindo vem. Na rolla a cega serva sente o cheiro de mijo, sebo e porra, mas ninguem tem pena della, alli no captiveiro e, muitas vezes, chupa a cega quem cegou-a: esse carrasco é o mais rueiro moleque e, aqui, estaria na FEBEM.
(3)
Não come e appanha a cega, caso não esmolle e se recuse a chupar rolla. Conforma-se a coitada: não é tola, entende como as coisas, alli, são. Dispor-se à fellação foi a licção mais dura: até deixar na bocca pol-a, da rolla se affastava, por suppol-a immunda e malcheirosa, com razão. Na marra foi, porem, se accostumando e, agora, si um marmanjo isso lhe ordena, a cega se adjoelha e vae mammando. Somente se revolta si, sem pena, chupar manda o pivete que, no bando, é aquelle de estatura mais pequena.
(4)
Estava, então, dormindo e, pois, certeza não pode ter si fora esse pivete aquelle que a cegou. Mas lhe repete alguem: “Foi elle, claro, o Malvadeza!” Jamais enxergará de novo, accesa, a lampada que vira antes dos septe anninhos, ao sahir de casa. Mette quem queira, nella, agora: está indefesa. Vagara pelas ruas e, dos dez em deante, com o bando se junctara, buscando protecção contra os gambés.
Peor lhe foi a emenda: pela cara levou o chloroformio. Agora, aos pés dos outros se adjoelha e aguenta a tara.
(5)
Sorrindo, o Malvadeza chega e diz:
{Ahi, ceguinha, chupa! Vae, capricha!} Ouvindo aquella secca voz, espicha a lingua, a contragosto, a fellatriz. Odeia esse maldicto, que infeliz tornou sua visão. Elle se lixa, é claro, para a dor della. A salsicha lhe mette e zomba, em rasgos juvenis: {Ficou cega? Tadinha! Agora chupa!
Tem mais é que chupar! Só quem enxerga direito goza! A cega a gente “estrupa”!}
E a rolla do moleque nem se verga, entrando na boquinha. Ella se occupa com isso e seu destino, assim, posterga.
(6)
Com outro pivetinho elles quizeram fazer, em vão, o mesmo. Mais experto, a tempo este excappou. Mas eu, decerto, me vejo em seu logar. Elles me esperam. Não fujo. Elles me aggarram. Ja puzeram um panno em meu nariz. Quando eu desperto, estou cego! Medicam-me: por perto soccorre-me um adulto. Me disseram: “Você se accidentou. Nada mais resta sinão viver assim...” E me libera o medico à gallera. Fazem festa!
Me levam ao mocó. Quem os lidera é o proprio Malvadeza. Agora, nesta cegueira, os chuparei: é o que me espera.
CAPTIVO ADOPTIVO [4936]
Paraste por que? Vamos, continua! Estás muito mollenga, meu rapaz!
Paresces nem ser esse que, ja faz um tempo, fui buscar alli na rua! De novo! Assim que eu gosto! Quero a tua linguona trabalhando! Tu me dás prazer como ninguem! Si não tens gaz, te vira! Juncta as forças! Soffre! Sua!
Mais fundo! Abre-me a chota com a mão!
Agora mette a lingua! Ai, como eu fico molhada! Ai, que delicia! Que afflicção!
Recuas, meninão? Não faças bicco!
Estica bem a lingua, meninão! Não tenhas nojo! Quando estou de chico, tu sabes como eu gosto! Por que, então, te fazes de coitado? Paga o mico!
MARRENTOS CEM POR CENTO [5613]
Adeptos dum accordo que, por bem, no sadomasochismo tenha base, practicam tudo aquillo que essa phrase “Só mando quando pedem!” de mau tem. Bem sadico precisa ser alguem que queira ter prazer completo, ou quasi, embora ninguem haja que extravase de facto seus desejos num refem.
Pudessemos fazer aquillo tudo com outrem, que quizessemos, talvez ninguem sobrevivesse, pois vocês noção teem dum mandão ou dum marrudo!
Commigo mattutando, não me illudo. Pudessem me cegar, como o marquez de Sade diz em these, em tempos trez eu era, alem de cego, surdo-mudo!
MISERICORDIA DA MISERIA [5782]
Protectores da pobreza muitos querem ser. Porem, o que sobra em sua mesa não repartem com ninguem. Quem a vista tem illesa chocolates tem, tambem. Mas dirá, por malvadeza, que ao ceguinho não dá, nem... Não fui nunca algum mendigo, mas bastante eu implorei que cegueira, por castigo, não constasse mais da Lei. Lei divina, que commigo foi severa, bem ja sei. Não bastasse um inimigo a zoar dum cego gay.
FARRA NA MARRA [5919]
Um typo cafageste eis que eu estudo faz tempo. Descrevel-o ora, aqui, tento. É cynico, orgulhoso. Tem nojento sorriso de desdem. Sorri de tudo. Briguento, mas covarde, elle é mehudo e finge luctador ser, violento. Alguns o rotularam de “marrento”, mas outros o chamaram de “marrudo”.
Cruel e fanfarrão, abusa à bessa do fracco ou indefeso, que não pode, no braço, reagir. Quem mais se fode na mão delle é o ceguinho, que se estressa. O cego, que excorrega, até tropeça depois de rasteirado, emfim, p’ra mode poupado ser, por mais que se incommode, terá que lhe chupar o pau, sem pressa.
ACCERTO DE TRACTAMENTO [5921]
Hem? Como cê se sente, infeliz? Hem? Responde, infeliz! Cego cê se diz?
Então vae se foder só porque eu quiz!
Ahi, cara! Adjoelha! Muito bem! Assim que eu gosto! Sabe chupar sem ter nojo? Vae saber! Lambe, infeliz!
Vae, passa a lingua porca no que eu fiz! Xixi tem gosto bom? Que gosto tem?
Engole, infeliz! Abre bem a sua boccona de ceguinho! Quem mandou perder sua visão? Agora sou
quem manda! Chupa, cego! Soffre! Sua!
Assim, vae! Vou gozar! Ah! Continua! Ah! Tem que engolir tudo, ou eu lhe dou porrada! Ah! Gostou, cego? Não gostou?
Azar! Bebe meu mijo! Não recua!
HASHTAG VAMOS À FORRA [6163]
Ja tenho o meu ORVIL, Glauco! Não fallo dum Orwell, não! ORVIL mesmo, o contrario de “livro”! Um detalhado promptuario dos methodos que pisam no seu callo! Surpreso ficará! Vou impactal-o! Você reparará, caso compare-o aos livros esquerdistas, que scenario diverso olhei: de Sade fui no emballo!
Proponho torturar, no captiveiro, os nossos inimigos, com requincte maior de crueldade, tendo uns vinte carrascos para cada prisioneiro!
Sim, typo lynchamento, Glauco! Pincte la, quando nós vencermos! Mas, primeiro, teremos que sahir deste atoleiro chamado “pandemia”! Ah, puta accincte!
(1)
Bengala ainda nova, vem o cego battendo o troço deste e doutro lado.
Alguem que se irritou, ja bengalado que fora, quer vingança: “Ah, ja te pego!” Glaucão, que isso diverte, meu, não nego!
Um trecho da sargeta está tomado de merda! Algum exgotto vazou! Dá, do fedor, enjoo! Penso nisso, offego!
Num tranco, o gajo obriga aquelle chato cegueta a mergulhar na cocozeira! Depois de chafurdar, elle está à beira da valla, procurando pelo tacto! Perdeu sua bengala! Até desapto a rir! Ninguem adjuda a quem mal cheira! Só ficam rindo! Glauco, não me queira mal, ja que de empurral-o foi meu acto!
(2)
Não posso ver um cego de bengala que fico ja com raiva! Aquella vara o cara vae battendo, sempre para la, para ca! Que sacco! Me resvalla! E mesmo que não pegue em mim! De olhal-a batter, ja me emputesço! Porra, cara!
Meresce essa licção sahir bem cara! Lhe ensigno que a mim cego não se eguala! Ah, Glauco, ja tomei a vara dum, joguei longe e fiquei alli, curtindo a sua reacção! Achei que lindo foi disso o resultado! Foi pa, pum!
Pisou bem no cocô, que é tão commum haver pela calçada! Foi bemvindo seu tombo! Se borrou! Glaucão, eu brindo à dor dum cego! Sem problema algum!
Ja devem ter descripto para ti o video. Pediu sopa, ao restaurante, o cego, mas um passaro, durante a pausa, passa e caga por alli.
Cocô cae noutra sopa, mas eu vi que, rapido, o garçon ja se garante. O pratto sujo passa, astuto, addeante e serve ao cego o caldo! Ah, como eu ri! Ah, Glauco! Precisavas ver a cara de gosto do ceguinho! O desgraçado pensou que estava super temperado o liquido cocô que degustara!
Um dia, satisfaço minha tara e enganno um cego assim! Mais eu me aggrado si a merda for a minha! Estou errado?
Magina! Adoro quando alguem se azara!
QUEM VÊ CARA... [6391]
Soffreu, quando menina, muito dum padrasto violento, que a currara com outros gajos, rindo-lhe da cara chorosa das creanças em jejum. Agora quer vingança. Ja bebum, morreu seu malfeitor. Tem ella, para os homens em geral, severa vara, aquella de marmello, mais commum.
Tambem tem a chibata, tem a bolla, que serve de mordaça, tem a venda, que serve para que esse verme entenda que deve ser quem, cego, ora rebolla. Assim cada machão lambeu a sola daquella revoltada. A cara horrenda não chega a ter, mas, caso só dependa de rosto, sua tactica não colla.
MAGOA DA TABUA [6420]
Pois é, seu Glauco! Perna ja não tenho! Agora me tornei um cadeirante, mas, quando menorzinho, foi, durante um tempo, num pranchão meu desempenho! Ah, tinha que ver, porra! Fui ferrenho athleta, ou parathleta! Quem garante é minha patotinha de estudante, por isso é que, seu Glauco, depor venho!
Sim, houve sarro! Ousei de jacaré andar: só com os braços, impellia a prancha! A turma toda de mim ria!
Pisavam-me nas costas, sim! Pois é! Um delles adorava pôr o pé na minha cara! Puta covardia!
Achando que, de bruços, uma enguia eu era, de xixi me enchia, até!
ZOADO MAGOADO [6421]
Por que mais quer saber, seu Glauco, disso? Naquella minha prancha de rodinha a gente se excarrancha, bem na linha do piso! Dava aquillo grande enguiço! Me vendo desse jeito, tão submisso, alguem sempre pisava, gosto tinha, sabendo que um perneta se abbespinha mas fica nisso: um verme irritadiço!
Alguem me punha o pé na cara, assim dizendo: “Nem tem perna! Nem tem pé! Não pode nem calçar a chanca, até!
Ahi, não tem inveja, não, de mim?”
Soltava a gargalhada. Achei ruim, mas elle me chutou: “Você não é humilde! Quer levar um bello olé na bocca!” Fez beijar, lamber... Fez, sim!
MALFADADA FACHADA [6440]
Horror, Glauco! Um horror! Estou chocada! Você bem sabe, Glauco, que sou bruxa! De nada tenho medo! Não! Mas, puxa, aquella apparição foi malfadada! Nós todas, que treinadas como fada ja fomos, vemos gente tão gorducha, magrella, feia, bella... Mas na bucha pergunto: ja viu cara tão fechada?
Malvada, aquella fada nem collega eu quero que, na vida, minha seja! Na face tem feição tão malfazeja que, só de vel-a, a praga a gente pega! Si vista for à noite, ninguem nega, nos causa tal pavor, que quem esteja sozinho, si cagou-se, nem lhe peja contar que em propria merda se excorrega!
SABOR ABUSADOR [6443]
“Si pego um tetraplegico de jeito, eu ponho o pé na cara, cheirar faço, eu peido bem na bocca, folgadaço, e excarro-lhe nos olhos! É bem feito!” Abusos desse typo um mau subjeito deseja practicar, Glauco! Com braço e perna sem mover, é dum devasso refem quem tenha aquelle atroz defeito! O gajo que deseja abusar dum inerte (e inerme) está, todo pimpão, na rede virtual e faz questão de, sadico, mostrar o seu bumbum! Calcule, Glauco, o fetido futum do cu dum gajo desses! Você não suppoz na sua bocca sabor tão amargo? Um masochista acha commum!
MAL GRADUAL [6474]
Defines como o caso, seu Mattoso? Maldade tendo um gajo, qual será o typico vocabulo que dá idéa delle? Pode ser “maldoso”? Mas si elle malvadeza tem, bondoso demais será chamar alguem que ja tão mau é de “maldoso” só, pois ha sadismo intencional, ou seja, gozo! “Malvado” ou só “maldoso”? Mais perverso não é quem dá risada da agonia alheia? Achas que a gente chamaria appenas de “cruel”? Ou me disperso? Pergunto-te, Mattoso, pois teu verso mais tracta de quem só se delicia com tantos soffrimentos! Eu seria, então, alguem que em gozo vive immerso!
PEIXE EM OFFERTA [6500]
Eu ajo como um gajo rancoroso, deveras! Não, jamais ensceno, Glauco!
Não sou egual a Alê, que foi por Malcolm McDowell enscenado! Ouviu, Mattoso? Actuo na real! Não tenho gozo appenas a fingir que estou num palco!
Si ponho o pé na cara -- Ah, porra! -- accalco com força, até chegar a ser damnoso!
Você, não sei, mas muita gente não supporta aqui debaixo do meu pé ficar, Glauco! Pisei num gay até sangrar seu beiço torpe e porcalhão!
Detalhes quer saber? Tinha dentão ponctudo, se feriu sozinho, ué! Então, se convenceu? Você não é masoca? Tá temendo o meu pezão?
RAPAZ AUDAZ [6532]
Glaucão, eu sou fodão! Eu sou cruel!
Eu sou um socialista à moda antiga!
Eu brigo, nessa guerra, a boa briga!
Eu sou que nem o Jones Manoel! Em vez de mais um golpe do quartel, proponho dictadura que consiga punir os direitistas duma figa com canna dura, ao nosso prazer bel!
Defendo violenta repressão
àquelles que discordem do regime do proletariado, o mais sublime, capaz de converter um exemptão!
Até Caetano ouviu o meu refrão! Então, quem pense egual que se approxime!
Si não fizerem parte do meu time, vocês estão jurados! Morrerão!
BISADA BIZARRIA [6553]
Que estás pensando? Cego tu ficaste! Direito tu não tens de exigir nada!
Tens nojo? Que te fodas! Cheira! Aggrada a ti? Não? Quem dó sente? És mesmo um traste! Fedor sentes? Cafunga! Não te baste cheirar! Tens que lamber! Vae, lambe cada centimetro! Tens lingua bem molhada! Sentiste dos sabores o contraste?
Vae, lambe, infeliz, lambe! Eu sempre quiz gabar-me da visão boa que tenho, emquanto um cego mostra desempenho lambendo cegamente! Entendes? Diz!
Agora chupa! Vamos, infeliz!
Vae, abre mais a bocca! Teu engenho porás à prova! Assim! Ah! Ja me venho!
Engole, infeliz! Logo terás bis!
STALINDISSIMO [6583]
Si Stalin não foi Lucifer, então um Hitler não seria Satanaz! Tyrannos são tyrannos, tanto faz o lado, os fins, o lemma, a posição! Si for por preferencia, ahi, Glaucão, eu acho bem fataes, bem vis, bem más as obras do Marquez! Tu, Glauco, dás tambem tal importancia! Não dás, não? Bonito por bonito, nem tem cara um russo, nem siquer um allemão! De Sade ninguem sabe qual feição teria, si retracto não restara! Mas, Glauco, mesmo assim nem se compara a cara limpa delle e o bigodão dum lider extremista! Dizer vão que pellos pelo rosto occultam tara?
COMPORTAMENTO REPROVAVEL [6585]
Glaucão, faço questão de ser causão! É foda appromptar! Gosto dum excracho!
Alguem se incommodou? O bicco eu racho!
Não achas divertido, Glauco, não? De chato ser, Glaucão, não abro mão!
Não quero nem saber si o pato é macho!
Eu quero é ovo, ouviste bem? Eu acho um sarro quando causo sensação!
Na moto, de proposito, accelero, dou susto na velhinha, passo rente ao cego na calçada! Quem aguente meu jeito não exsiste, nem meu lero!
Mas, Glauco, te serei muito sincero! Si fosse do Brazil o presidente, eu ia foder toda aquella gente que ja me deu, nas provas, nota zero!
JEITO SUSPEITO [6586]
Passou por mim, correndo, o molecão que tinha ja assaltado uma velhinha!
Nem mesmo vacillei! Estiquei minha botina! Ah! Foi de cara bem no chão! Então eu comecei a dar pisão, dar chutes! Essa raça acho damninha!
Depressa a multidão accorrer vinha! Dispostos a lynchar todos estão!
O rosto do moleque ficou tão sem formas que, depois, deu mais trabalho p’ra ser reconhescido! Quem o galho quebrou foi a velhinha, a seu jeitão!
Fallou ella: “Certeza, mesmo, não terei eu si foi, gente, esse pirralho! Menor achei que fosse, mas me valho da dica de vocês! Morreu, então?”
EJACULAÇÃO OCULAR [6605]
Filmei no cellular, Glauco! Um bandido fugiu appós roubar uma senhora edosa, coitadinha! Ah, sem demora, pegaram-no! Foi muito divertido! Um guarda civil (bruto, não duvido) tractou de segural-o! O gajo chora, dizendo-se innocente, mas agora é tarde! Ja ficou, no chão, rendido! Ahi foi que curti! Lhe poz na cara o guarda a suja bota! Gravei tudo! Aquelle pezão largo, botinudo, pisando firme! Eu tenho nisso tara!
Não, Glauco! Dum bandido que se azara não fico no logar! Eu só me illudo com essa phantasia! De velludo é minha pelle! Não, nem se compara!
Hem, Glauco? Si de bicha alguem te xinga, depois outro te xinga de maricas, depois te enfia a turma algumas piccas, que fazes? És do typo que se vinga? Appellas para a fé? Para a mandinga? Num delles te transformas? Cruel ficas?
Performas as taes scenas que, tão ricas de excarneo, são eguaes às do Coringa?
Sim, elle ja passou por muitas frias e exemplo dei daquillo que comtigo fizeram... Mas responde: que castigo bollaste? Quaes torturas, Glauco, crias? Com todas essas sadicas manias concordas? No teu verso dás abrigo àquelles curradores? Ja me ligo! Te vingas, sim! Entendo que tu rias!
PEDAGOGIA DA AGONIA [6668]
O methodo de Milgram eu queria testar nos meus alumnos, Glauco! Ouviste fallar? Ao electrodo não resiste quem erre na licção de todo dia! Pensaste? Cada alumno ammarraria eu numa cadeirinha! Dedo em riste, lhe faço uma pergunta que elle, triste, não sabe responder, nem saberia!
Errou? Não respondeu? Levou um choque electrico, num nivel que incommoda, aos poucos, mais e mais! Elle se açoda, se estressa, até que, soffrego, se toque!
Hem? Sou ou não bom mestre? Se colloque alguem no meu logar, e será foda deixar de desfructar! Está na moda ser sadico! Percebes meu enfoque?
Às voltas com a vara, a caminhar, o cego topa alguns amigos meus commigo, que não somos bons plebeus.
Ficou sem a bengala. Deu azar. Sabendo que ia, às cegas, appanhar, com medo, qual Sansão, dos philisteus, o cego pediu “pelo amor de Deus”.
Dissemos então: “Pede p’ra chupar!”
Ouvindo gargalhadas, adjoelha, sem outra alternativa. A gente enfia a rolla numa bocca fugidia que irá degustar carne bem pentelha: Sabor que, entende o cego, se assemelha àquelle da linguiça ainda fria. A porra que engoliu paresceria, talvez, algo contrario ao mel de abelha.
THEMAS DE TELEPHONEMAS (9) [6725]
Alô? Você que é cego? Não, não vou fallar quem sou! Ahi, que tal, velhinho? Quem sabe? Ser eu posso seu vizinho de rua, de edificio... Se tocou? Zoei você na rua! Sempre zoo um cego quando passa! Ja adivinho o que elle sente: raiva! Sou damninho, não sou? Caçoo mesmo! Não perdoo! Ahi, cê ja levou tapa na cara? Eu tenho uma vontade, você nem calcula, de lascar um tapão bem na fuça dum cegueta que me encara! Velhinho, ver um cego olhando para mim como si me visse... Ja me vem vontade de batter! Mas eu, porem, nem batto si consente em chupar vara!
DESAGGRAVO DE ESCRAVO [6832]
“Da minha dor sorris, mas eu te quero ainda! Até farei o que quizeres, pois tens a malvadeza das mulheres, embora sendo o macho que venero!” Assim fallei àquelle que, sincero, me disse: {Enamorado si estiveres, reciproca qualquer tu não esperes de mim, ja que machão me considero!}
Porem não foi por isso que fiquei tão puto! Foi por causa das besteiras que disse do meu pappo: {Tu não queiras serestas plagiar, pois dellas sei!}
Serestas? Quaes serestas! Eu sou gay masoca, Glauco! O gajo com asneiras vem para censurar minhas maneiras? No cu que va tomar! Ah, me cansei!
DADIVA DIVINA [6867]
Não achas uma dadiva divina, poeta, seres cego? Ora, repara no gesto tão humilde que prepara Deus para quem ficou nessa ruina! Que chance teem os cegos! Imagina si podes num pezão metter a cara, a lingua! Qual escravo se compara ao cego, que a quaesquer se subordina? Sabendo-te inferior pelo destino, irás, sem excolher, servir ao feio, ao sujo, ao mais malvado, no recreio que tenham, qual brinquedo de menino! Hem? Achas humilhante? Sim, defino a tua condição como um sorteio: Tu perdes a visão, mas ganhas, creio, um meio de elevar-te! Eis o teu tino!
Um cego vem usando, na avenida, a mascara, tentando protecção manter contra a covid. Elle questão fez sempre de seguro ser na vida. Mas elle é vulneravel e convida a sua desvalida condição aquelles que, sorrindo, logo vão barrar sua passagem, ja soffrida. Lhe tomam a bengala. A malfazeja gallera, celebrando o “finalzinho” da aguda pandemia, no caminho lynchar quer quem mais fragil ‘inda seja. Rasteiras, ponctapés em quem esteja no piso rastejando, o tal gruppinho diverte-se em bisar. Eu ja adivinho, Glaucão, que outro masoca até festeja!
(1)
Os cegos, perfilados de joelho no pateo do orphanato, em oração, dão graças ao Sanctinho. Outros dirão: “Por sermos cegos, gratos? Mau conselho!” Mas oram, obrigados. Um gruppelho assiste e dá risada: teem visão normal, os monitores. Gratos são, pois pode, quem quizer, usar o relho. Um delles usa. Batte num ceguinho teimoso, que o xingou. O cego jura ser bom, pede perdão. A picca dura lhe chega, agora, à força no focinho. Que chupe, então! Um joven excarninho sorri. Gozou gostoso. Farra pura, mandar nesses ceguinhos em escura roptina, adjoelhados ao Sanctinho!
(2)
O joven monitor goza, folgado, na bocca dos ceguinhos. Faz questão de sempre ter o relho bem à mão:
“Os cegos são uns chucros! (diz) São gado!” Emprego não surgiu outro. Frustrado, ganhando uma merreca, a diversão ao menos arranjou, nesse sertão, sem nada que fazer, naquelle enfado... Os outros monitores engraçado acharam o jeitão descontrahido do joven colleguinha. Divertido foi verem um ceguinho castigado.
“Dá toda disciplina resultado egual! Mandar chupar, eu não duvido, funcciona!” Falla assim um assumido algoz dos que, nas trevas, teem seu fado.
(3)
Os cegos trabalhavam: manuaes serviços, um qualquer artezanato. Assim rollava a vida no orphanato, até que esse rapaz fez algo mais. O novo monitor, com seus normaes instinctos juvenis, bollou o tracto que cegos dão nos pés de quem é grato por ter boa visão: funcções oraes! Agora, cada cego faz na sola de todo monitor o seu serviço buccal: limpar cascão, empregar nisso a lingua, bollação que fez eschola. Vaidoso, o monitor que tudo bolla diz: “Cego tem que estar sempre submisso, sinão fica teimoso! Um compromisso do typo o faz melhor, mais o controla!”
DELEITE QUE SE APPROVEITE [6956]
Deleite é subjugar alguem vendado, immovel, ammarrado, que, indefeso, fará tudo que eu quero, neste vezo que tenho de abusar do fracco lado! Deleite é ver um homem assustado, temendo o que farei com elle preso: irá sentir de immundos pés o peso na cara, vae lamber, porco, um solado!
Porem maior deleite é dispensar a venda, si for cego quem irá chupar o meu caralho, que tem ja aroma accumulado no logar!
Maior ainda, Glauco, o seu azar seria meu deleite, pois não ha quem seja feliz quando cego está aos poucos, tendo visto! O fiz chorar?
VENUS IN FURS [6958]
Achei pouco, Glaucão, o que Lou Reed fallou do Severino! Ora, a chibata ninguem usa somente si se tracta de beijos exigir quem bem decide! Não, Wanda não ficou, ninguem duvide, só nisso! Beijar botas? Coisa chata será, si não passar duma cordata sessão de servidão que mal aggride! Commigo o Severino, Glaucão, ia passar uns maus boccados! Na veneta me dava que lambesse esta boceta que encharco, ouvindo um disco, todo dia! Sim, antes lamberia, ah, lamberia a minha bota! Appenas não se metta ninguem a duvidar, pois não é peta que esteja, sim, sujissima! Ah, não ria!
PERDEDOR DA VISÃO [6960]
Quem foi que disse, Glauco, que feliz ja pode ser qualquer deficiente? Feliz sou eu, que enxergo bem! Não tente ninguem me convencer, pô! Que imbecis! Precisam é daquillo que se diz “licção de moral”! Ora, simplesmente um cego de mim fica dependente em tudo que eu quizer, como ja fiz!
Mostrei-lhe que feliz elle não é nem nunca mais será! Dei, à vontade, porrada nelle! Fui peor que Sade!
Mandei que elle perdesse sua fé!
Tambem fiz que lambesse, sim, meu pé, no chão a rastejar! Quando me invade aquella sensação de liberdade, obrigo que me lamba a sola, até!
BAD BOY [6961]
Não é por nada, não, mas me imagino peor que um diabrete, que um traquinas! Terror eu sou de todas as meninas!
Menino mau, eu sou o mau menino! Pudor, eu não respeito o feminino, siquer o masculino! Me imaginas cabaços deflorando, umas vaginas estreitas arrombando? Te previno:
Não roubo, não, somente virgindades de moças innocentes, não, Glaucão! Tambem estupro um cego, caso não me faça, por bem, todas as vontades! Em summa, Glauco, caso não aggrades meu pau com tua bocca, te serão pesadas estas botas, pois no chão te irei pisar, peor que quaesquer Sades!
TORTURA JAPONEZA (1/2) [6971/6972]
(1)
Eu gosto de pisar, mas quem me accusa de sadico jamais pensou naquillo que rolla si commette algum vacillo o membro duma gangue da Yakuza! Precisa ver, Glaucão! A turma abusa! Calçando o tal tamanco nesse estylo banal dos samurais, vae aggredil-o o gruppo lynchador! Você deduza! Então, ja deduziu? Exacto! O tal subjeito, de cabeça ao nivel raso, se enterra até o pescoço, tendo o prazo de vida reduzido ao principal: Pisado foi! Chutado tambem! Mal pediu, mal implorou! Acho o seu caso bastante divertido, pois me embaso na scena quando penso num rival!
(2)
Em outro filme, está bem ammarrado o gajo que lynchado ja será! Da gangue japoneza alguem lhe dá innumeros pisões de todo lado! Precisa ver, Glaucão! Do seu aggrado seria aquelle lance em que elle está de cara ante excarninho tennis, la não muito branco, um tanto detonado! Em close, esse pisante era do cara que fora seu rival e namorara a mesma companheira! Assim, iria vingar-se e, ciumento, o cara ria!
Os chutes se succedem! Na agonia, aquelle condemnado viu a fria risada do rival, de cuja tara foi victima, ao beijar a sola amara!
O CEGO E SEU IRMÃO [6978]
Ficou cego o mais velho. Seu irmão do meio bem enxerga. Tem myopia, sem damnos, o caçula, que sacia no cego o seu despeito, o tendo à mão. Sentindo o seu rancor por não ser são de todo, desforrar quer, pela via oral, no mano cego. Sempre enfia o pau na sua bocca, com tesão. Fiquei sabendo disto, Glauco, por um primo do caçula, que tambem abusa do ceguinho. Tu refem ja foste de parentes, trovador? Verdade? Si verdade mesmo for, precisas me contar, pois gozo sem usar a mão, embora de ninguem abuse... E então? Me julgas gozador?
O CEGO E SUA BENGALA [6988]
A vara muito leve facilita a vida do ceguinho pela rua, mas sua desvantagem se situa no risco de excappar da mão afflicta. Sim, basta que elle encontre quem se excita com scenas de sadismo, para a sua tranquilla caminhada virar nua e crua diversão do troglodyta.
O sadico lhe chuta a bengalinha bem longe e finge ser quem não chutou, a fim de appreciar melhor o show do cego engattinhando. Pegadinha?
Sim, claro! Pegadinha que ser tinha!
O cego, crendo nesse que fallou “Ahi! Mais à direita! Quasi achou!”, rasteja aos pés, talvez, dalgum pestinha.
O CEGO E SEU CHAPÉU [6989]
Aos cegos não suggiro usar bonné, não, Glauco! O vento o leva facilmente! Você não sabe disso? Ora, não tente teimar commigo! Foi bem feito, ué! Bem feito! Foi cahir justo no pé daquelle molecão mais delinquente aqui da vizinhança! Dessa gente espera-se que seja má, não é? Sahiu você no lucro! O cappetinha appenas lhe pisou no chapéu, certo? Podia ter chutado longe! Experto, prefere ver você como engattinha! E então? Ficou de quattro? Claro, tinha que estar bem do seu jeito! Sei que perto ficou a sua bocca dum coberto de pó, surrado tennis, um Rainha!
O CEGADO E O CEGADOR [6999]
Alguem furou-lhe os olhos por maldade. Foi coisa de moleque. Nem viu quem. Não ha quem accusar, pois elle, sem visão, nenhum “delega” persuade. Ficou impune, então, esse que Sade lhe fora. Agora arrhuma funcção bem propicia a cegos: faz massagem em quem goza, da visão, a faculdade. Occorre que lhe fica frente a frente aquelle que o cegara. Quer massagem nos pés, sabe que cegos assim agem na sola de quem nisso prazer sente. O cego o serve. Caso o gajo tente zoal-o, de enxergar conte vantagem, humilde lhe dirá: “Mais nos ultrajem, mais doceis nós seremos!” E não mente.
ZICA DUPLA (1/2) [7035/7036]
(1)
O cego com a cega caminhava. A gangue de moleques os attacca. Não pode defendel-a, mas bem saca que tinha sido feita, ja, de escrava. Si a cega se recusa, a coisa aggrava. Então, o cego ouve: {Eia! Chupa, vacca! Ahê! Gostoso! Chupa!} Fodem paca. Emfim, elle tambem ja se deprava. Mas elle nem sabia bem chupar e teve que apprender, alli, na hora, debaixo de porrada. Chupa, agora, chorando, mas entende seu logar. Emquanto chupa, pensa: “Puta azar!” E escuta a molecada: {Cego, chora! Vae, eia, sente o gosto!} Commemora a sadica turminha, a gargalhar.
(2)
A cega me contou. Accostumada estava, mas o cego não sabia. Achou que excappariam, pela via, andando os dois junctinhos, mas qual nada! {É claro que eu estava appavorada! Temi mais, foi por elle, que engolia caralho sem ter nunca da follia tomado parte! Eu era callejada! Coitado delle, Glauco! Chupei picca ja muito, bem sabia abboccanhar!
Mas elle nunca tinha desse azar provado! Meu temor se justifica!
Batteram nelle, Glauco! O ouvi chorar!
Até que elle entendeu: o cego mica na vida! Qualquer dia, sua zica chegar pode num simples caminhar!}
AZAR D’OCÊ [7049]
Ei, olha la, gallera! Aquelle cara otario, o tal ceguinho, passeando! Que trouxa! Nem calcula que nefando destino boa peça lhe prepara! Ahi! Segurem elle! Deixem para mim certas attitudes de commando!
Tomaram a bengala? Boa! Quando tentar fugir, à frente elle se azara!
Tá vendo? Tropeçou! Cahiu foi bem nos nossos pés! Assim que eu pisoteio! Legal, hem? Uau! Chutei-o bem em cheio na cara! Agora forças ja nem tem!
Vem, fica de joelho! “Ocê” refem é nosso! Vae chupar, cego! “Ocê” veiu à rua? Pois fará nosso recreio ficar mais divertido! Chupa, vem!
ALGOLAGNIA [7090]
Não, Glauco! Masochista não sou, não! Appenas porque gosto de levar algumas chibatadas e sangrar, não podem fazer essa affirmação! Dor quero sentir, forte, essa dor tão aguda das lambadas! Meu logar é o desse flagellado mais vulgar, do tronco ou pellourinho, pelladão!
Não sou como você, que se degrada lambendo, rebaixado, o pé dum cara! Preciso que quem batta tenha tara bem sadica, a da mestra mais malvada!
Megera assim ainda não vi: cada mulher foi boazinha! Mas dá para ser servo dum machão quem não repara na cara desse bruto camarada!
APPOSTA NA BOSTA [7105]
Malvada sou, Glaucão! Si poderosa eu fosse, castraria algum machão, seus olhos vazaria, quando, então, promptinho ficaria à minha prosa! Então eu lhe diria: Aqui quem goza sou eu e mais ninguem! Os homens são escravos da boceta! Como um cão, lambidas dê nas petalas da rosa! Seus labios que em meus labios se inundar consigam da sopinha vaginal! Um cego bem cappado um animal se torna, de exquisito paladar! Depois, approveitando que cagar eu quero, vae comer meu trivial cocô que, comparado, tem mais sal que sangue menstrual! Quer appostar?
SITUAÇÃO ANALOGA [7151]
Virou “trabalho analogo” o forçado serviço dum escravo clandestino, Glaucão, mas relatorios examino que indicam muito abuso camuflado! Até deficientes, em estado de extrema submissão, como um menino ceguinho, resgatou desse destino cruel a acção audaz dum delegado! Comia até cocô na refeição, no meio do pheijão, sob a risada dum bruto capataz, alguem que nada fazer podia para dizer não! Fodiam o ceguinho, sem perdão, os outros membros dessa molecada que explora cegos para que, de cada, esmollas arrecade, eis a questão!
CITANDO UM MESTRE [7186]
Foi Wanda quem fallou! Eu tambem digo, Glaucão, mas nos meus termos: “Quem deseja viver bem nesta vida não se peja de impor aos outros sadico castigo!”
Pensar devo: “Talvez meu inimigo fizesse assim commigo! Caso veja bem, elle cegará quem ja rasteja a seus pés! Mas serei eu que fustigo!”
Sabendo que outro algoz me tractaria assim si me tivesse em seu poder, prefiro ter eu mesmo tal prazer e quero desfructar essa alegria!
Cegal-o, vel-o triste emquanto o dia ver posso! Obrigar que elle va comer o meu cocô, o meu mijo va beber, emquanto tenho o nectar, a ambrosia!
O CEGO E OS CAPITÃES (1) [7221]
Está LOS OLVIDADOS numa minha banal filmographia da cegueira, pois acho natural que a gangue queira visar um pobre cego, que expezinha. Tocar seu instrumento o cego vinha na praça. A molecada brincadeira fazia, perturbando a violeira performance, de resto bem fraquinha. O cego reagia: de bengala em punho, golpeava às tontas, mas a gangue era peor que Satanaz. Difficil com taes golpes affastal-a. Aquillo promettia. Si filmal-a eu fosse, esses pivetes de tão más tendencias pisariam, como faz commigo, bem no rosto, um Pedro Balla.
O CEGO E OS CAPITÃES (2/3) [7223/7224]
(2) Emquanto o cego pega na viola e canta, alli na praça, ja seu pote de esmollas vae se enchendo. Um molecote se chega por traz delle e rouba a esmolla. O cego percebeu. O rapazola, porem, faz que foi outro quem o bote deu. Falla: “Ahi, ceguinho! Ocê que enxote melhor a molecada, quando colla!”
{Não posso fazer nada!}, diz, tentando render-se na moral. {Elles que estão por cyma, aqui por toda a região!
Que faço, si estão elles no commando?}
“Tem mesmo que engolir! Aquelle bando é barra pesadissima!” Ja vão os outros rodeando o cego. Não se accanham, gargalhadas ja vão dando.
(3) Cercado de moleques, elle implora: {Dó tenham do ceguinho! Dependente sou desse dinheirinho!} O delinquente mais velho delles diz: “Cego não chora! Quem manda somos nós! A grana agora é nossa! Fica tudo para a gente!
Você que esmolle, toque, cante, tente junctar! No fim do dia, a gente explora!”
{Mas como vou viver? Ja fome passo!}
“Lhe damos nosso resto! Ocê se vira!
Apprenda a curtir sua ziquizira!”
A turma se diverte em riso lasso e, para confirmar o seu devasso intento, o lider para fora tira a rolla, mija nelle, que sentira, ja, cheiro dessa urina a cada passo.
O CEGO E OS CAPITÃES (4/5) [7226/7227]
(4)
Depois disso, o ceguinho se submette àquillo que será sua roptina: cantar, pedir esmollas, da matina à tarde, e dar a grana a algum pivete. Aos poucos, ja não ha pudor que vete as taras dos moleques: imagina um delles do refem fazer latrina; um outro o quer pagando bom boquette.
O quarto do coitado, no porão da casa de repouso, poncto vira da rude molecada. Minha lyra não basta para achar a descripção. Do cego todos zoam, todos são algozes juvenis: um delles tira o tennis e, na sola que transspira, a lingua dum escravo tem funcção.
(5)
O lider dos pivetes tem estylo bem proprio de foder uma garganta: do cego a nucha appoia (Virgem Sancta!) na beira do colchão, para punil-o. Vae fundo penetrando, sem vacillo, até que o pobre engasgue e, ja de tanta delicia, goza a jacto. Se levanta, feliz, da posição de crocodillo. O cego, que irrumado foi sem dó, sem follego se deixa alli ficar, até que outro moleque queira dar tambem sua bimbada no bocó.
Aos jovens, os orgasmos são o “mó barato”, mas ao cego tal azar confirma algum boato mais vulgar accerca do que rolla num mocó.
O CEGO E OS CAPITÃES (6) [7229]
Alguem, por fim, tem pena do ceguinho ao ver que elle, doente, ja definha emquanto pede esmolla. A ladainha que canta desaffina como o pinho. Formar de voluntarios um gruppinho foi facil: quando querem, depressinha se forma. Aquella gente que se appinha expulsa a molecada de seu ninho. Resgatam o ceguinho, ao hospital o levam. Sobrevive, emfim, o gajo. Depois de renovado o seu andrajo, um numero fará, mais musical. Si fosse menestrel, a mim egual, em versos contaria, como eu ajo, aquillo que soffreu. Mas eu me engajo, por elle, num papel tão principal.
MOTTE GLOSADO [7385]
Disse um cego em Fortaleza: “Me fizeram sacanagem!”
Quem degusta a malvadeza um ceguinho nunca poupa.
“Me tiraram toda a roupa”, disse um cego em Fortaleza.
“Eu sozinho, sem defesa, fui refem da malandragem.
Perdi tudo, sim, pois agem desse jeito os trafficantes.
Mas tambem chupei, pois antes me fizeram sacanagem!”
MOTTE GLOSADO [7648]
Adjudar um cadeirante é dever de quem tem perna.
Vi na rua como um bando de moleques zoa quem, na cadeira, vindo vem.
“Alleijado!” (e o vão cercando)
“Ja chupou? Não? Até quando?”
Nesse clima de baderna, o rapaz se desgoverna e a turminha ri bastante.
Adjudar um cadeirante é dever de quem tem perna.
MADRIGAL SUPRACONSENSUAL (1/4) [7792]
Si for para “lacrar”, então eu “lacro”! O sexo não é sancto nem é sacro! Si pecco, assumo: odeio o simulacro!
(1)
Sim, sempre questionado sou accerca dum pacto que se quer “consensual” no sadomasochismo. Que “seguro” e “adulto” o tal “accordo” ser precisa, e porra e tal... Caralho! Mas que raio de jogo ou de brinquedo acham que estão fingindo performar? Vão se foder!
“Seguro” contra que? Contra algum “crime”? É nojo da sujeira, algum resguardo da lingua contra as coisas mais immundas? “Adulto” por que, si era eu um menino emquanto me curravam os da minha edade? Isso é que guardo e que me fez masoca, que podolatra me faz!
(2)
Agora vão querer que masochista eu seja como o auctor da linda Wanda, que “suprasensual” qualificava seu acto de humildade ante a “belleza”? Ah, fodam-se! De Sade é que sou fan e quero que a tal ethica, ou esthetica, se foda! Sade exalta a feia, a suja, a crua, a cruel cara de quem tem poder de dominar! Escravo não excolhe seu algoz! Por isso é bom vendal-o, até cegal-o, pois assim mais facil um abuso é commettido! Ao menos na punheta assim eu gozo, sabendo que veridico foi tudo!
(3)
Ao sadico é melhor que o servo perca de facto a visão, vendas sendo, em tal hypothese, sem uso! Quando atturo alguem que assim me zoa, sou, à guisa de misero Sansão, fodido e caio do fragil philisteu, facil, na mão! Assim vejo do sadico o prazer!
Que graça tem um acto que reprime qualquer delirio orgastico do bardo?
Que graça teem na lingua as limpas bundas?
Sem merda alli grudada, fescennino poema nem exsiste! Me expezinha alguem sem violencia? Alguem cortez espera seja a bota dum rapaz?
(4)
“Politico” e “correcto”, quem insista na porra desse “pacto”, pense! Expanda limites, seja escravo ou seja escrava, assuma-se indefeso ou indefesa! Um cego será sempre aquella van figura, sempre fragil e pathetica, tal como si menino fora, cuja cegueira servirá de sarro a alguem! Por isso o masochismo em mim é tão intrinseco e me empresta a verve, o dom poetico, que humano faz de mim no corpo, mas a mente não duvido que seja demoniaca! Não poso nem brinco de escravinho: não me illudo!
INFINITILHO IMPATRULHAVEL (1/2) [8096]
(1)
{Glau, sabe o que rollou em Curityba? Pegaram os collegas um ceguinho, alumno que ja bullying atturava, levaram ao banheiro do collegio, fizeram que chupasse e em plena cara mijaram! Do occorrido foi lavrada a queixa na policia, mas... Seria capaz aquella victima de ter alguem reconhescido? Ficou tudo pendente, Glauco, nada se appurou! Depois, aquelles mesmos que na curra gozaram, gozariam mais ainda, zombando delle, em khoro gargalhada lhe dando pela frente! Só por voz ninguem indiciado poderia ser como auctor do trote no ceguinho, siquer das piadinhas, Glauco! Pode?}
(2)
-- Não ha patrulhamento que prohiba tal trote, nem a curra. Ja adivinho o gosto que sentiu, de quem não lava a pelle, esse ceguinho. Privilegio assim eu tive. Nada se compara a tal humilhação. Somente cada um pode saber como uma agonia transforma-se em prazer, mas num prazer masoca. Não, nem todos desse mudo boquette fallarão tal como vou fallando. Uma fofoca appenas burra noção expalhará. Jamais bemvinda, a triste experiencia desaggrada a muitos moralistas, mas a nós, os cegos, restaria a poesia, retracto do oppressor mais excarninho, que nossa voz não prende emquanto fode.
INFINITILHO LHEGUELHÉ (1/2) [8136]
(1)
{Eu tenho, Glauco, um velho camarada do qual ias gostar! Elle não diz “Segura, peão!”, “Força ahi!” nem “Venha depressa!”, mas diz tudo com um “lhé”: “Segura, lhé!”, “Depressa, lhé!” Marrento, não achas? Gostarias de serviço prestar-lhe? Elle diria, ao te ver bem na frente, de joelhos, ao invés de “Chupa, cego!”, “Chupa, lhé!” Paresce mais vil, mais arrogante, não estás commigo nessa crua advaliação?}
(2)
-- Estou. Do que me excita, não ha nada mais sadico que, vendo-me infeliz, alguem egual costume bruto tenha. Talvez isso ja fora “lheguelhé” e, emfim, se abbreviou. Aqui nem tento linguagens estudar. Mas, sim, submisso eu ia ser ao gajo, que não tem escrupulo nenhum, e nos seus pés lambidas eu daria. Que não cesse você de analysar intenções más nas fallas, que circulam, do povão!
ODE CEARENSE (1/5) [8176]
(1)
De videos pornographicos me falla, em audiodescripção, quem classifica o cego como objecto de total e oral humilhação. Um delles ja virou meu “cult movie”: o do gordinho que irruma, até a garganta, alguem que venda nos olhos tem, mas fica combinado que assim os videos mostram o subjeito, si é cego, prompto para a putaria. Vão outros indo nessa direcção.
(2)
O cego um faz chupar e lamber galla pingada, appós, no piso. Em vez da picca, num outro o cego lambe colossal pé nu que o pisoteia. Lamberá, no proximo, botinas que caminho rueiro percorreram. Que se entenda por cego quem, num outro, está vendado emquanto bebe mijo, o que eu acceito mais como condição que se annuncia a quem se escravizou sob olho são.
(3)
Então eis que me conta alguem na salla um caso verdadeiro. O cego fica parado, a mendigar, num terminal dos omnibus, na praia. Ao Ceará refere-se quem narra. Alli pertinho, alguns jovens malandros offerenda lhe fazem no trajecto: attravessado a rua tendo, o levam e proveito farão de seus trocados. Antes, ia alguem querer brincar. Que diversão!
(4)
Levado para a praia, nem à balla precisam coagil-o. Sua zica começa quando, roupa sem, o tal malandro brincalhão quer que elle va rollando pela areia. Qual pezinho pisou mais em seu rosto? Então alguem da turminha quer gozar mais no coitado, cobrando-lhe boquette. Seu defeito nos olhos dá maior tesão ao guia fingido que lhe dera conducção.
(5)
Sem roupa, sem esmollas, sem bengala, o cego chupa rolla. A gangue estica o tempo: photos battem, digital filmagem fazem. Logo se verá na rede esse espectaculo excarninho. Tirado do youtube, quem se offenda não falta com o video. Revoltado nem fico, pois senti no proprio peito os pés da molecada. Quem iria dizer que eguaes os jovens todos são?
ODE GOYANA (1/4) [8177]
(1)
Um caso que, escabroso, me contou lettrado professor la de Goyaz tambem tracta do cego como objecto de sarro, curra, surra, até tortura. Foi este, embora pobre, dono duma pequena rural granja. Apposentado ja por invalidez, ficou da irman inerme dependente. A mulher tinha dois filhos, jovens sadicos que, como recreio ou brincadeira, começaram a achar no cego um optimo motivo de estupro ou pura practica nojenta.
(2)
Cegado em accidente, elle ficou invalido, sem animo, das más pessoas bom refem. No seu trajecto obstaculos armavam. Queimadura causavam-lhe nos dedos quando alguma bituca de cigarro, pelo lado contrario, lhe extendiam. Mais affan achavam cada dia. Da gallinha cocô punham no rango. Cada gommo de bosta de cachorro! Mas não param ahi taes aggressões, ja que, passivo, o cego as supportava. Alguem aguenta?
(3)
Appós tudo tomar-lhe, como sou sciente, terra, grana, a mana nas mãos deixa aquelle cego, como abjecto brinquedo, dos moleques. Quem attura tortura, attura foda. Quem resuma o caso, diz, por alto, que estuprado foi elle. Mas os jovens, ammanhan, dirão que foi treinado numa linha bem sadomasochista para pomo comer, do mais amargo. Que o forçaram ao coito oral aqui nunca me exquivo de, em gozo, repetir. Mais se accrescenta?
(4)
Escravo dos sobrinhos, rendeu show de scenas pornographicas, pois gaz tiveram elles para armar, sem veto moral, uns pornovideos que a censura cortou da rede. Importa que eu assuma a minha posição. Jamais me evado de dal-a. A molecada folgazan foi, como no meu caso, uma excarninha faceta social que às demais sommo. Hypocritas aquillo condemnaram, mas lavam as mãos. Eu, que não me privo do orgasmo, em ode exalto o que me tempta.
BALLADA DA MOLECADA (1/4) [8199]
(1)
Primeiro, elles bullyingam o collega ceguinho, que chamaram de Mané. Dão gritos perto delle, com um “Pega!” simulam que um cão quasi no seu pé está, ficam a rir si elle excorrega. O cego não reage, docil é. Indaga a Deus por que seus olhos cega.
(2)
Depois, passam a dar-lhe tapas por detraz, depois até lhe dão rasteira.
Cahido, alguem no rosto o pé lhe pôr é facil. Lhe caçoam da cegueira, dizendo que distinguem cada cor.
O cego de chorar ja fica à beira. Alguns o chamarão de Chupador.
(3)
Um dia, a molecada delle quer que chupe, que a chupar caralho apprenda. O cego quer fugir, mas nem siquer dois passos dá. Por baixo na contenda, accaba adjoelhado. O que puder fará com sua bocca, até que attenda a todos e se exmere em seu mester.
(4)
Agora, Chupador ja nem discute nem tenta fugir. Chupa alguem que mande. Não chora nem se queixa caso escute piadas dum piá, pequeno ou grande. Lembrar-se de quem delle bem desfructe irá, pois logo uns versos elle escande, cantando que levou pisão e chute.
GRATIFICANTE OPPORTUNISMO [8471]
Herdaram, elle e ella, a propriedade. Tambem dos paes herdaram a cegueira. Agora ambos estão orphans e Sade achar não ia historia tão certeira. Um primo sem escrupulos invade a casa e se appropria, de maneira covarde, do inventario: persuade os cegos, que lhe outhorgam quanto queira. Aos poucos, tyranniza os dois. Quem ha de suppor que estão captivos? Fazendeira, a sede está distante da cidade.
Escravos lhe serão a vida inteira.
Farão, agora, tudo que lhe aggrade. O primo os invejava, pois, sem eira nem beira, nada tinha. Utilidade dois cegos terão logo, à putanheira. Amigos dessa laia, si o malvado lhes conta, se divertem, e eu me inteiro:
“Ah, como me vinguei! Eu os degrado, os faço sentir gosto, sentir cheiro!
A cega a me chupar eu persuado na base da chibata! Seu fuleiro irmão dos pés me cuida! Bem treinado, tambem se accostumou ao captiveiro! Me tracta elle, a lamber, do callejado e fetido pezão! Ja meu leiteiro caralho, ella me mamma, bem mammado!”
Será que falla a serio o trappaceiro? Prefiro accreditar que tal legado do sadico não seja verdadeiro trophéu, mas, quanto aos cegos, sou levado a crer que não trabalhem por dinheiro.
LICÇÃO DE RUA [8566]
A gorda, que perdeu recentemente os olhos, é bonita, mas bobinha. Andando na calçada, ella apporrinha, com sua bengalinha, muita gente. Ainda que medir os passos tente, não sabe caminhar em recta linha. Dois brutos marmanjões, que ella ja tinha trombado, vão parar na sua frente. Fingindo offerescer adjuda, dão o braço, mas a levam a local fechado, onde estupral-a acham “legal”, pois querem que ella “apprenda uma licção”. Na bocca a fodem fundo, gozação fazendo: “Engole, cega! Ahi, que tal?”
A gorda, adjoelhada, grunhe e mal consegue, mas curtindo os dois estão. Na rede virtual, a dupla posta o video que gravou, no qual a gorda se fode. Todos acham bom expor da coitada a bocca cheia. A turma gosta.
A cara lembra alguem que comeu bosta. Os jovens, sem deixar que a cega morda a rolla que lhe mettem, ao sabor da sucção junctam sebinho, em grossa crosta.
CASCA GROSSA [8567]
Accabo de saber: um cego tão usado quanto eu digo ser ficara submisso aos proprios primos! Tinha avara mania aquelle cego, quando são da vista fora. Quando sem visão ficou, sem mais parentes vivos para cuidar delle, aos primões cedeu a cara mansão e lhes passou procuração. Ficou, pois, de dois sadicos na mão. Alem de usarem tudo que junctara, puniram o ceguinho. Um tinha tara podolatra: queria no pezão a lingua do coitado, pois cascão bem grosso sua sola se tornara, de tanto andar descalço! Quem compara a pelle com a lixa sabe quão difficil é lamber um pé que não se lava com sabão! Historia rara, não acham? Qualquer cego não se azara assim, mas deu tal sorte, em mim, tesão...
DUVIDA CRUEL [9100]
Você me entenderá, Glaucão! Me explico, pois consta que Jesus teria dicto: “Eu amo o peccador, não o peccado.”
Occorre que, em meus contos, idolatro bandidos perigosos e malvados, do mesmo jeito como você faz naquelles seus sonnettos, menestrel! Sim, fallo do chulé do bandidão, dos tennis encardidos, tal e qual!
Alguns não entenderam! Me censuram, achando que enaltesço os crimes delle! Appenas comprehendo o seu papel de victima da nossa sociedade, mas isso não implica acceitar como normaes os mesmos crimes, caso sejam por ricos commettidos, ou politicos! Me entende você, Glauco? Ora, accontesce que está me censurando o proprio cara que tanto, como heroe, enaltesci, o mesmo bandidão! O que elle disse foi isto: {Porra, sancto nunca fui, nem quero ser! Gostoso sempre eu acho mactar, barbarizar e causar medo!
Não curto que me incensem!} Que farei agora, Glauco? Um crime entender como virtude? Vicios como predicados?
ESCALA DEGRADANTE [9195]
Refere-se você, diversas vezes, àquella sexual hierarchia que exsiste entre pessoas mais bonitas e gente menos rica desses dotes estheticos. Exemplos você deu da bella que domina seu bellissimo parceiro, o qual domina varias outras mulheres não tão bellas, as quaes são, por sua vez, patroas de machões mais feios, que são cada vez mais feios conforme essa feiura feminina. Até chegar no poncto crucial no qual um cego serve sempre como escravo do subjeito mais horrendo, malvado, repellente e desprezivel. Mas acho que você exaggera, Glauco! O cego não precisa ser escravo dum typo tão malefico, pois eu, que sou até bomzinho, um cego gosto de, sadico, opprimir, sem culpa alguma!