NOBEL DE LITTERATURA

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NOBEL DE LITTERATURA

NOBEL DE LITTERATURA

São Paulo

Casa de Ferreiro

Glauco Mattoso

Nobel de litteratura

© Glauco Mattoso, 2023

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

NOBEL DE LITTERATURA/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023

120p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

Um premio não ganhei nem ganharei, mas, como todo bardo, dou palpite naquillo que me toca, si irmanado estou com opprimidos os mais varios, na cega condição em que me encontro. Versão abbreviada de volumes que tractam dos auctores infelizes com sua actividade de escriptor, vem esta collectanea, como livro impresso ou digital, attender aos leitores que queriam folhear poemas allusivos ao ceguinho que, embora havido ou tido como bom poeta, a ser canonico não chega. De minha frustração zoando, os taes leitores se consolam na punheta. Bom gozo lhes desejo, ja que enxergam.

PRIMEIRA PARTE

IMMERITOCRACIA NA POESIA

Pessoas ha que brilham pela ausencia e não pela presença nos eventos formaes e illustres listas de indicados a premios de melhor nisto ou naquillo. Assim me considero: uma pessoa que brilha pela ausencia. Sim, louvor em bocca propria até poderá ser, conforme diz o dicto, um vituperio. Pilheria ja fiz disso, mas agora assim me considero: fallo serio. Assim me considero, hoje, depois de, cego, ter escripto obra abundante que theses suscitou na academia. Em outra Academia, a de immortaes, que eleitos são só pelos proprios pares, amigos tenho uns quattro, dez por cento, e nunca alli estarei, delles ao lado, no meio de immaldictos, um maldicto.

Terei immeritoria trajectoria? Amigos me questionam a respeito dos premios que não ganho, premios em primeiro, primeirissimo logar e não trophéus que battam só na trave, no caso de RAYMUNDO CURUPYRA, segundo que pegou no Jaboty. Um livro ja compuz, A MALDICÇÃO DO MAGO MARGINAL, no qual me queixo de como ostracizado tenho sido, talvez (alguns commentam) esnobado, ou mesmo boycottado, como queiram. Poemas desse livro, outros tambem,

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usar vou para acharmos os motivos de tanta má vontade em relação ao cego que verseja à fescennina. Concursos litterarios? No DOBRABIL eu disse que venci todo concurso no qual não me inscrevi. Foi uma phrase de effeito, pois em varios concorri. Commento num sonnetto o que foi dicto:

No tempo do “Dobrabil”, uma phrase dizia que os concursos eu venci todinhos… O segredo é bom que vaze: experto, em nenhum delles me inscrevi. Torneios litterarios, nessa phase, como este, badalado, agora e aqui, ja eram marmellada pura, ou quasi: se salva algum Nobel ou Jaboty. É coisa tão manjada quão famosa. Os votos nunca vão para quem sae por sello independente e faz haikai, quadrinha, “limeirique” ou grossa glosa, nem mesmo dissonnetto ou pornô prosa. Mais ponctos só recebe, de quem julga, a casa que publica e que divulga, jamais a lingua suja e pegajosa.

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DISSONNETTO DO BRILHO PELA AUSENCIA [1418]

Em outro dissonnetto, o poncto chave tentei, da mesma forma, analysar:

DISSONNETTO DAS CHARTAS MARCADAS [1417]

Ha premio que é melhor si não foi ganho! Si a lista finalista inclue o cara de estylo tosco e espirito tacanho que, quando era editor, me boycottara, ou si, na commissão, for o tamanho dos membros menor, quando se compara ao meu e ao de qualquer que seja extranho àquella panellinha tão preclara, emfim, é premiavel o mais chato. Emfim, si rolla grana, o favorito é algum appadrinhado, e não maldicto, ou, quando é só o trophéu, algum novato. Não posso ser, portanto, tão cordato. Portanto, si escholado estou no ramo, mais lucro si homenagens não programmo e a premios taes jamais me candidato.

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A coisa, na verdade, não se prende appenas a problemas do mercado de livros ou das midias viciadas. Exsistem preconceitos que precisam ser muito francamente examinados. Apponcto, neste caso, um pouco disso:

REUNIÃO DA COMMISSÃO [4154]

Jurados, combinemos o seguinte: si o cego concorrer, não premial-o de jeito nenhum! Vamos embromal-o! Depois o preterimos com accincte!

Na lista finalista, que entre os vinte figure, permittamos… Mas no callo pisemos, p’ra que, quando dão gargalo os dez primeiros, elle ja não pincte!

Quem manda ser pornô, ser fetichista, fazer de diversões seu torpe parque?

Com duras consequencias, então, arque! Jamais elle entrará na nossa lista!

Ainda que recordes elle marque, neguemos chance ao cego sonnettista!

Da nossa parte, nada elle conquista! Só vale premiar Chico Buarque!

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Que causa allegar para que eu não seja inscripto na canonica listinha? Meus themas? Quantos classicos bandeira fizeram de taes themas? Meus fetiches?

Dos vicios qual artista não se gaba? Chulismos? O calão immortaliza até Dercy Gonçalves… e Bocage famoso mais será pela boccagem. Talvez mais incommode esta cegueira, que tracto sem nenhuma correcção politica… Mas acho que incommodo mais pela forte inveja que desperta um cego talentoso (ou genial) naquelles que, enxergando bem, não teem o minimo talento para as lettras. Bem, seja como for, desabbafei assim, ja, muitas vezes, em sonnetto:

DISSONNETTO DO GRITO NO GOGÓ [1444]

“Vão ter que me engolir!”, fallou Zagallo, e a phrase virou symbolo de alguem que, embora controverso, si ignoral-o a critica é que é digna de desdem. Assim se dá commigo: piso o callo de muito mau poeta que só tem prestigio si a editora divulgal-o e a claque, ao premiar, disser amen. Modestia sempre tive, e “simancol” tomei, me resguardando desse agito. Luctei para não ver-me nesse rol de estrellas que só brilham pelo grito. Mas, vendo que os gabolas só teem gloria, posando aos holophotes que eu evito, e minha poesia ha quem ignore-a, “Engulam-me e vomitem!”, lhes repito.

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Ja neste infinitilho os pingos puz:

AUREA PHASE CRITICA (1/6) [8006]

(1)

Preciso lhes fazer um desabbafo, amigos internautas. É o seguinte: Estou ja detectando um preconceito assaz sophisticado contra a minha cegueira, alem de tudo o que ja venho soffrendo ou passa alguem deficiente.

(2)

Não vem de quem ja desce em mim sarrafo, mas sim de quem prefere que se pincte minh’obra antes de cego como um feito melhor que esta actual. Vão, depressinha, dizendo que o DOBRABIL teve engenho maior que o dos sonnettos, minha gente!

(3)

Alguns até sustentam que me sapho melhor no MANUAL que nestes vinte anninhos de cegueira quanto ao jeito de entrar na narrativa que, excarninha, explana o masochista desempenho da victima ante o sadico inclemente!

(4)

Jamais renego aquillo que autographo faz tempo, mas convenham que é um accincte milhares desdenhar do mais perfeito formato de poema! Si eu ja vinha maduro me tornando, ora detenho total controle sobre minha mente!

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(5)

Agora que, em heroico ou no de Sappho, cultivo o decasyllabo no ouvinte compasso da memoria, não acceito que façam pouco caso dessa linha esthetica que sigo! Franzo o cenho e torço o meu nariz! Ha quem aguente?

(6)

Aos posteros mensagens engarrafo que, justo, me darão valor! Pedinte não sou quando os malevolos rejeito! Exijo que percebam: quem caminha ha tanto tempo, como eu, que me embrenho no breu, quer mais respeito! Francamente!

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Mais longe fui no poncto que me importa:

CLAUSULA TESTAMENTARIA [5604]

Tractado tenho sido como mero ceguinho que verseja, mas confio, tranquillo, no meu tacco, tenho brio. Resisto, creio, ao crivo mais severo. Por isso deixo claro: chance zero terá quem, só depois que eu desça ao frio sepulchro, homenageie-me, eu que chio:

-- Não quero premios posthumos, não quero! Recuse meu herdeiro, não permitta qualquer typo de evento onde alguem queira, do morto, celebrar esta cegueira maldicta, a minha mystica maldicta!

Alguem em mim achou qualquer certeira visão da poesia? Alguem me cita ja como um immortal padrão de escripta?

Meu rosto observe, e não minha caveira!

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Em vida, como Nelson Cavaquinho ja disse, é que se deve premiar, honrar alguem que merito terá tambem depois da morte: elementar. Em dois outros poemas synthetizo aquillo que me cabe por direito humano, ou si intellecto um pouco honesto alguem ainda tenha por aqui:

CERTIFICADO DE CONCLUSÃO (1/3) [8032]

(1)

Entrar na Academia não consigo, por causas mais politicas que, em summa, theoricas ou criticas, mas quero logar proprio no canone, isso sim. Cadeira, simplesmente, não confere tal posto. Nem desejo uma cadeira si for municipal, estadual ou mesmo uma secreta associação. Sou supranacional e só postulo aquillo que meresço por justiça poetica, lusophona, terrena.

(2)

Pergunto ao meu collega, ao meu amigo, então: Como é que eu faço? Quem me arrhuma um premio, um attestado? Não um mero registro midiatico (que, emfim, não vale como numero na serie historica), mas uma verdadeira sentença em pedra inscripta, esculptural, cabal, definitiva, como são as obras de Rabello ou de Catullo.

Linguagem mais vulgar ou mais castiça nem compta assim. A penna vale a pena.

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Pergunto: quantas theses, das que instigo aos mestres e doutores, valem uma vaguinha nesse crivo tão severo? Milhares de sonnettos, como os vim compondo, quantos querem que eu espere compor? Quantos mais annos de cegueira febril e productiva, antes de tal espaço conquistar? Hem? Por que não me entregam tal em vida? Fico fulo sabendo que, de septimo, uma missa preparem quando eu saia, ja, de scena.

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(3)

PARNASO DE AQUEM TUMULO [8554]

Pretendo requerer um attestado de bardo, mas Estado nenhum emitte aquelle documento. Quem sabe si eu não tento pedir à Academia Brazileira de Lettras? De maneira nenhuma, me responde alguem de la. Será porque não ha padrão pro documento, ou porque não meresço a distincção? Em todo caso, quero ver si ganho cadastro do tamanho da minha competencia ainda em vida, provando que quem lida ha tempos com o verso trabalhado faz jus a um attestado de eximio soprador de bolha ao vento. Appenas eu lamento que mais ninguem agora saber queira da lyra punheteira que outrora a tantos bardos fama má legou e que fará da nossa maldicção um pantheão das luctas do povão… De comptas affinal, eu não me accanho por ser aquelle extranho ceguinho que leitores seus convida a rir duma soffrida cegueira, pois entendo que meu brado será recompensado, ainda que somente pelo lado esthetico estudado.

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Nas universidades, é verdade, até que venho sendo pesquisado em theses de diversas abbordagens. Na “visibilidade” midiatica será que vale, mesmo, confiar? Quem sabe, sendo cego, si invisivel eu deva, mesmo, ser, para meu bem? A midia, affinal, sempre foi ephemera… Os premios? Ora, premios só ganhamos si nós nos inscrevemos nos concursos, si nos candidatamos aos trophéus, assim como, nas vagas immortaes, nós temos que propor candidatura a alguma das cadeiras, si quizermos logar entre collegas que estão la. Agora lhes pergunto: não seria o caso dum trophéu não concorrido, dum premio que pedido pelo proprio não fosse e sim por outrem concedido a titulo de merito por tudo ja feito por quem seja premiado?

Exacto: no conjuncto do que escreve alguem é que reside seu valor, pesado, mensurado, quotejado com todos os parametros do genero. Por isso resumi, na conclusão do caso, o meu recado nestes trez poemas mais recentes, ja sem rhyma:

PUDDIM

Disseram que estou bebado, Glaucão, appenas porque, em pauta, alcei seu nome! Você fez mais de septe mil sonnettos, alem de madrigaes, mottes glosados, rhapsodias, odes, trovas e balladas… Ja contos e romances publicou,

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DE PINGA (1) [8786]

de versificação fez um tractado e mesmo um orthographico glossario… Mas nunca conseguiu na Academia assento ter! Siquer um Jaboty ganhou em primeirissimo logar! Ao menos poderiam obra como a sua premiar com o devido trophéu pelo conjuncto do que fez! Da pauta fiz constar isso, mas mal seu nome levantei, um medalhão chamou-me de puddim de pinga, appenas!

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CONJUNCTO DA OBRA [9118]

Um bebado me tinha dicto, Glauco: você ja deveria ter ganhado um premio litterario, mas que fosse geral, pelo conjuncto dos seus livros, não só dado por isto ou por aquillo!

Passou da hora, Glauco, mas passou faz tempo! Logo, logo, será tarde! Você terá morrido! Um premio posthumo não tem graça nenhuma, achei eu sempre!

É mesmo? Você pensa que é melhor nenhum trophéu ganhar, si for signal da morte que, bem rapida, ja chega?

Tahi, nem pensei nisso! Certos premios são como os necrologios que, na midia, estão ja preparados para quando alguem batter as botas! Mau agouro, concordo com você, sim, menestrel!

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PREMIO DE DESCONSOLO [9155]

Você? Ganhar um premio pela sua obrinha toda, agora que está velho e quasi que battendo suas botas? Ficou maluco? Pode exquescer, Glauco! Até me surprehende que em segundo ou quarto logar tenha ja ficado! Não! Uma poesia assim nojenta, marrenta, violenta, fedorenta, não vale nem trophéu mambembe, Glauco! Eu fallo, mano, como seu amigo! É claro que tiveram paciencia demais com um ceguinho revoltado, mas isso ja passou do razoavel! Você que se preoccupe em ter um bom final de vida, agora septentão! Está no lucro, caso soffra pouco até desencarnar! Eu, que sou eu, que escrevo livros serios e decentes, ja fico feliz sendo premiado aqui, na associação dos moradores do bairro! Ora, você que se contente com essa sua fama de maldicto!

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Não perco mais meu tempo, nem dinheiro, em premios me inscrevendo. Os meus amigos que entendam o recado, que se empenhem, consigam que meu nome cogitado se torne para algum premio do typo, que tenha seu prestigio ja firmado e venha coroar o que ja fiz. Ou pode ser o caso de que estou ja tão envelhescido que deliro? Mas, pelo sim ou pelo não, deixar eu quero tal questão a quem estuda as lettras e pesquisa as minhas coisas.

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SEGUNDA PARTE

IMMENCIONAVEL DESHONROSO

DISSONNETTO PREMIADO [0417]

Tu pensas que és a gloria da nação appenas por ter condecoração?

Estás mas é por fora, camarada! Teus titulos não valem mas é nada! Hem, gajo? Um simancol, por que não tomas?

Trophéus, estatuetas, coppas, taças, medalhas, laureas, placas e diplomas, os pés no calçadão, bustos nas praças… Commendas não são tudo nesta vida!

Doutor honoris causa é qualquer um que, só porque tambem soltou seu pum, ja julga ter a merda mais fedida!

Hem? Quanto mais tu fallas, mais embromas! Do meu anonymato não desfaças, pois com o mais terrivel dos glaucomas ganhei o campeonato das desgraças! Exijo mais respeito, cidadão! Não sou tão pouca porcaria, não!

Enfia toda a tua papellada no rabo! O teu curriculo me enfada!

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PREMIO OBSCURASTRAL [0417-B]

Melhor do que ganhar um Jaboty, Nobel, ou mesmo um Oscar, é ganhar o premio Obscurastral. Parlamentar qualquer, “conservador”, bastou a ti chamar de “pornographico” (ja vi tal filme) e tua obra, para azar dos outros escriptores, passa a dar motivo para muito mimimi. Ter livro censurado sempre, em vez de ser um desprestigio, será boa noticia ao editor, pois a pessoa se torna midiatica, não vês?

Então, não te preoccupes, pois freguez terás que não tiveste! Em tal canoa pudesse eu ter meu pé! Melhor que loa é estar “banido” desse breu burguez!

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PREMIO BOCAGE [0417-C]

Não, Glauco, tu jamais irás ganhar um Premio Camões. Nunca! Ganharias, comtudo, merescidas honrarias si premio houvesse digno dum teu par, talvez “Premio Bocage”. Esse exemplar trophéu, si distinguisse quem, por vias lettradas, convertesse putarias em versos, reservava-te logar.

Alguem tem que inventar tal premio, ué! Passou da hora, appós tantas escholas, correntes e modismos. Tu, que bollas bons classicos, não percas tua fé!

Ninguem mais, por signal, tornou o pé tão fertil thema. Alguem compara as solas aos labios com tal arte? Te consolas com menos? Um Bocage é que teu é!

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CYBERCONSPIRACIONISMO [0417-D]

Fiquei sabendo, Glauco, quem seria que está te boycottando no mercado das lettras, nos jornaes, por todo lado: um desses editores, que chefia aquella lucrativa companhia e impede que tu sejas mencionado, lembrado, commentado ou premiado! Verdade, Glauco! Odiosa covardia! Contaram-me, em sigillo, que estás sendo até por algorithmos no ostracismo mantido! O facebook está, que eu scismo, postagens de teus livros escondendo! Tens cinco mil “amigos”! Não entendo que esteja sem curtidas o lyrismo das tuas obras, tantas, que um abysmo separa desses joios que estão lendo!

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DISSONNETTO RANCOROSO [1013]

Dei chances, mas daqui por deante adopto a drastica medida, e assim revido pedradas que ‘inda tenho recebido: fui muito boycottado; hoje boycotto. A premios nenhum jury me deu voto, malgrado algum valor reconhescido. Barrado por expor minha libido, não saio, entre os collegas, nem na photo. Agora, quem quizer me ler que leia num livro ou na columna da revista! Ao vivo, mais ninguem me homenageia! Dos palcos o ceguinho puto dista!

A midia, revoltado, dispensei-a! Palestra ja não dou, nem entrevista, e mesmo a lançamento de obra alheia quem pensa em convidar-me que desista!

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DISSONNETTO DA MALDICÇÃO DO CEGO [1120]

Mais uma anthologia se publica e deixam-me de fora. Até de amigo recebo tal desfeita. Mas lhes digo: vingança é pratto frio, e a mesa é rica! Si o thema é a crueldade, a dura picca, ou tracta do homoerotico, é commigo.

Em prosa ou poesia, não mendigo espaço: que me ommittam não se explica.

Se cuidem, pois nem sempre sou de paz!

Não brinquem com um cego rancoroso!

Não sabem do que um mystico é capaz!

À toa não serei tão venenoso!

A praga vae alem da voz mordaz!

O cancer vai pegal-os! Quando o gozo que agora teem tornar-se dor, se faz justiça, e lembrarão Glauco Mattoso!

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DISSONNETTO DO DESRESPEITADO EM PUBLICO [1167]

Me querem num evento; marcam hora; curriculo, erregê, photographia e até nota me cobram; todavia, ninguem me leva e traz nem assessora! Me pedem isso e aquillo, sem demora! Se exquescem de que um cego merescia mais consideração! Burocracia é para quem enxerga! Eu estou fora!

Não ha, neste paiz, nenhum respeito nem sopa ao escriptor deficiente! Assim, novos convites não acceito!

Não vivo de plantão, eternamente disposto, para tudo quanto é pleito! Não querem nos honrar: tractam a gente appenas como um numero, em proveito do circo onde o palhaço se appresente!

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DISSONNETTO DA IMMORTALIDADE MALCHEIROSA [1230]

Na Casa dos Quarenta, entre os que são, de facto, bons auctores, sempre occorre alguma distorção e, assim que morre o proximo “immortal”, ha votação. E quaes os candidatos? Um é tão famoso quanto mais meu sacco torre. Um outro foi politico, e concorre mais como “merdalhão” que “medalhão”. Nenhum como escriptor pode ser tido, mas querem, porque querem, a cadeira, mais rara que as que almeja algum partido na Camara, a appromptar a bandalheira. Na minha “Academia Brazileira” a vaga não disputo nem divido, pois é “dos Exquescidos” e nem cheira, nem fede, como fedo, quando lido.

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DISSONNETTO DA CRISE DE VALORES [1301]

Quem vê que, mais e mais, se promiscue bandido com politico, dirá que tudo está perdido e que, assim, dá vergonha ser honesto, como Ruy. Ha crise de valores? Tambem fui temptado a concluir que, si gagá ficou a geração que escreveu ja bom livro, outra não ha que a substitue.

Será? Não accredito! Embora agudo o grau de incompetencia appadrinhada, quem tem talento nunca fica mudo! Um dia, até darei muita risada!

Razão isso dará a bastante estudo: Passada essa entresafra, a molecada verá que do azarão se salva tudo; do favorito não se salva nada!

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DISSONNETTO DA ENTREVISTA PREVISTA [1312]

Ja fui entrevistado vezes tantas que perco a compta, e penso si seria melhor que eu, doradvante, em poesia responda ao que gargalham as gargantas: Perguntam-me que sopa tomo às jantas?

Sonnettos ja fiz sobre o que vicia meu gosto e, si o assumpto é putaria, em verso conto como lambo as plantas. A tudo um dissonnetto prompto guardo que, rapido, responda. Si preciso, uns tantos novos a compor não tardo, que aos velhos jamais causam prejuizo. Num alvo sempre cabe mais um dardo. Com practica, sae quasi de improviso qualquer thema proposto a um cego bardo, si causa, no auctor, choro e, ao leitor, riso.

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DISSONNETTO DOS PARALLELOS, PARA LEL-OS [1358]

Disseram que meu nome corresponde, até pelas fataes iniciaes, à Gilka, que é Machado, e não esconde que ao caso do Gregorio deve mais. Querer que a semelhança se arredonde, tambem eu quereria! Mas eguaes em tudo vae a gente encontrar onde? Não só nos nomes busco meus signaes! Luiz Delphino muito a ver commigo teria, pois tambem se disse amigo dos pés, seu peccadilho mais sincero, os quaes, ao meu jeitão, amo e venero. Em outro poncto irá se assemelhar a mim, ja que passamos do milhar na compta dos sonnettos… Que mais quero, si, um dia, nem sonhei sahir do zero?

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DISSONNETTO DA AUTOSUFFICIENCIA SUSTENTADA [1400]

Noventa e nove até dois mil e trez: foi quando completei o meu milhar. Febril, no pique vejo-me, outra vez, buscando aquella marca duplicar. Si faço dez por dia, só num mez terei mais de trezentos! Me humilhar ja não almejo tanto, como fez aquella voz poetica pensar. Não ha por que encarar com azedume. Mais viva e libertada do premente desejo de expressar tudo que sente um cego, minha mente agora assume: Com tal recorde é bom que me accostume. Si tanto, no sonnetto, practiquei, por que não pretender ser delle um rei, alem da forma, em themas e em volume?

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DISSONNETTO DA CONCLUSÃO OBVIA [1402]

Um critico francez foi bem succincto: “Si fosse o portuguez fallado aqui, você seria celebre e distincto, maior dos sonnettistas que ja li…” Por certo que orgulhoso ja me sinto. O titulo “maior” não é, por si, bem claro, porem: une o que requincto àquillo que advolumo, é o que entendi. Como diria alguem que é desaffecto, appenas quantidade não me faz melhor, mas, quando vejo ser capaz de nivel sustentar no que sonnetto, ahi paresce claro o que completo, não resta a menor duvida: si alguem meu merito não acha, elle é que tem a falha no seu nivel de intellecto.

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DISSONNETTO DE QUEM FEDE MAIS [1405]

Que soffro rejeição não é segredo: boycottam-me em revistas e jornaes.

Não sei por que de mim teem tanto medo, si em tudo, quero crer, me são eguaes. Paresce que ammeaça eu, a taes paes da velha materinha sou! Que ledo enganno! Não percebem que jamais mixturo ao seu perfume o odor que fedo?

Não quero uma razão que me redima. Appenas numa coisa, e que desista quem pensa em contestar, o sonnettista Mattoso de outros nomes fica accyma.

Na gloria não, siquer em grande estima. Em summa, em quantidade e qualidade: por mais que meu aroma desaggrade, insisto que “escriptor” e “odor” dão rhyma.

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DISSONNETTO DE QUEM FEDE MENOS [1406]

Quem tem seu proprio merito, e aqui cito alguns, ja reconhesce meu valor:

Roberto Piva, Paulo Henriques Britto, Augusto, Leila Míccolis, Millôr. Portanto, sou canonico e maldicto ao mesmo tempo, ainda que o fedor da minha bocca mostre-se exquisito demais a quem perfume quer impor.

Nem causa criminal, nem causa civel.

Emfim, quem é poeta e no seu tacco confia, não me inveja quando emplaco milhares de sonnettos de bom nivel.

Se tracta de questão appenas crivel. Só mesmo quem talento tem de menos me vê, como poeta, entre os pequenos. Inutil: é meu verso irreductivel!

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DISSONNETTO DO THRONO QUE TEM DONO [1427]

A historia litteraria dum paiz inteiro não é omnibus nem mesa de bar ou restaurante, onde quem quiz entrou, e onde ninguem tem bunda presa. Em prosa ou poesia, o que ja fiz garante-me o logar: basta a proeza dos mil, dois mil sonnettos, tantos “mis”, [sic] mantendo-lhes rigor, juncto à rudeza. Daquillo que compuz estou seguro. Captiva, permanente, é-me a cadeira, talvez na Academia Brazileira, ou só mesmo em compendios, no futuro. Mas certos desafforos não atturo, pois “a bolla da vez”, ou baboseira que o valha, é o pau no cu de quem me queira negar justo valor, e um pau bem duro!

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DISSONNETTO DAS ONDAS E DAS PRAIAS [1428]

“De gloria seu minuto passará”, um optimo contista e romancista me disse, pois “a bolla da vez” ja seria outro poeta numa lista. Passada a peor decada, hoje está provado que meu nome à frente dista, quer seja do novato ou do gagá, quer como glosador ou sonnettista.

Veremos qual, emfim, é meu assento!

Veremos, Trevisan, é o que veremos! O barco rhumará conforme os remos que temos, e não como sopra o vento.

Vencer vou as tormentas que ora enfrento! Você tem seu logar. Não precisava tentar desmerescer quem lucta trava, tão brava, contra a treva e o vão momento.

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DISSONNETTO DA FIGURINHA CARIMBADA [1460]

De novo? O tal trophéu premia o cara de sempre, a mesma e cynica figura que a mesma companhia publicara nos annos anteriores! Quem attura? Precisa ser, demais, de pau a cara de quem, na commissão, decide e appura! Podiam variar agora, para nos dar uma impressão de haver lisura!

Será qu’inda preciso de mais linhas?

Será que o premiado não se toca que faz papel ridiculo essa troca de votos e favores nas lettrinhas?

É claro que se toca! Não são minhas, appenas, as denuncias! Mas se presta ao circo que prepara, faz a festa e imputa o malestar às “piccuinhas”.

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DISSONNETTO DO REPENTE PERMANENTE [1470]

Perguntam-me: “Mas Glauco, quanto dura fazer um dissonnetto?” Eu lhes diria que é coisa de minutos: a factura sae logo, quando a idéa não exfria. Não tenho “inspiração”, a mera, pura “verdade” revelada: a poesia será sincera appenas quando cura feridas, ou, ao menos, allivia. Occorre isto não só na lingua lusa. A dor é o principal, urgente prazo que mede este processo, e não o acaso, o cerebro, o chronometro, uma musa. Espero não passar noção confusa. Passou mais que um minuto da pergunta, mas, desde que a memoria disso assumpta, talvez a toda a vida se reduza.

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DISSONNETTO DA MANIA DE MIDIA [1487]

Poeta não tem nada que “ser visto”, ter “visibilidade”! Isto é negocio de actor ou de politico e, alem disto, de quem quer que num cargo alguem emposse-o. Algum publicitario, alguem malquisto bollou essa bobagem! Mesmo em ocio, com “visibilidade” um bobo, insisto, não passa dum “visivel” que é beocio. Quer vendas? Va fazer commercial! Quem quer apparescer é quem se vende! O meu logar na historia não depende de luz, “bolla da vez” ou peta egual! Como é que quer ser visto quem vê mal? Qual “visibilidade”, qual caralho! Si alguem quizer saber quanto é que eu valho, que veja quem me leu e deu aval!

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DISSONNETTO DA VISIVEL CREDIBILIDADE [1488]

A tantos idiotas que meu justo valor excammoteiam e outro auctor promovem, simplesmente apponcto Augusto e apponcto, de lambujem, o Millôr. Me bastam esses dois, e ja degusto o que pensa de mim um bom leitor, alguem qualificado que, sem custo nem preço, tem mais credito ao depor. Não quero nem saber de quem só posa! Si quero, como quero, ser lembrado por ter, principalmente, sonnettado de forma rigorosa e volumosa, não tenho que invejar gente famosa! Preciso, não de midia ou duma feira, mas sim de quem não fede, porem cheira e duma fama justa sempre goza.

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DISSONNETTO DO LABYRINTHO LABORIOSO [1508]

Das lettras não se lembra o proprio Chico, de tantas que compoz! Por que vou eu lembrar-me dos sonnettos, eu, que fico perdido entre um pé jambico e um trocheu? Depois de ter milhares, nem applico demais minha memoria! Ja me deu surpresa descobrir algum que rico achei e, feliz, vejo que elle é meu! “Incrivel! Compuz este? É bom, no duro!” Complexo, um universo thematiza tamanha variedade que, indecisa, a mente não situa o que procuro. Bem sei que esta questão não inauguro. Fallei ja num sonnetto deste assumpto. Mas onde? É o que, perplexo, me pergunto. Retorno ao labyrintho, então, no escuro.

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DISSONNETTO DO DRUMMOND MENOR [1585]

Preguei-lhes uma peça! Nos septenta, estavam os concursos ja na moda. Auctor novato ou velho arrisca e tenta um premio facturar e entrar na roda. Ao ver que é só Drummond que se commenta e critical-o é coisa que incommoda a claque, que é que o Glauco faz? Inventa um nome falso, a ver si alguem o poda.

Não quero nem saber si é de bom tom: inscrevo um poeminha de Drummond tal como si meu fosse: não um bom, mas um dos sem valor, um perescivel. Que posso eu esperar de quem appure? Foi desclassificado pelo jury. Então desmascarei quem quer que jure que tudo que elle fez tinha alto nivel.

47

DISSONNETTO DO DRUMMOND MAIOR [1586]

Mas nem só de José, solução, rhyma, foi feito o bom Drummond: tambem do duro sonnetto, que de muitos paira accyma e irrita as officinas do futuro! É nelle que o poeta se approxima dos mestres e se affasta do monturo ephemero: eis que o metro da obra-prima varia, verso a verso, mas sem furo!

Heroico, provençal, martello, sapphico: tetrametro, seu deca foge ao graphico traçado pelo canone camonico e cria bello effeito desharmonico.

Androgyno, anarchista, esse seu deca: si em tudo que ja lemos não defeca, o mijo do cachorro soa ironico àquelles que isso querem mais euphonico.

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DISSONNETTO DA BOLSA SEM BRILHO [1641]

Mas é mesmo um panaca! Por ter sido brindado com a bolsa, está gabola! Faz todo esse barulho e esse ruido por causa duma merda de saccola! Tá certo que a saccola é premio tido por gordo patrocinio e, numa eschola, qualquer um ficaria convencido! Mas elle, no ridiculo, extrapola! A todos gesticula. Agita a mão, dá “chau”, sorrindo. Para as photos posa. Accena. Joga beijo. Aggarra a rosa que alguem lhe attira… Ah, va lamber sabão! Não tem desconfiometro, o bundão! Ainda si essa bolsa garantisse bom livro! Mas dá chance à gabolice, appenas: pratta falsa em promoção!

49

DISSONNETTO DA DEFESA DE THESE [1643]

Sonhei que minha these defendia e a banca era formada só por quem ja tinha fallescido: a poesia julgada pelos que, de facto, a lêem. Luiz, Gregorio, Emilio… A turma lia meus versos e o que nelles se mantem: em termos de thematica, a ironia e em termos de rigor formal tambem.

Melhores professores, quem almeja?

Bocage, ou Madragoa, me questiona si quero ser lembrado pela conna que falta ou pelo pé que me sobeja.

Entrego uma resposta de bandeja.

“Da conna”, digo, “todos teem cuidado e o pé tem muito callo a ser tractado…” E todos votam que approvado eu seja.

50

DISSONNETTO DA RECORRENCIA RECORDISTA [1703]

Delphino, de mim antes, ultrapassa, em sonnettos, a casa do milhar.

Tambem elle passou pelo que passa alguem depois de tanto sonnettar. Repete-se no thema, a rhyma excassa evita e se vicia na vulgar; chavões accaba usando, ‘inda que faça questão de que o rigor deve imperar.

Sim, temos copioso poemario!

Milhares de sonnettos dão idéa dum kosmo percorrido em odysséa, si a um vasto repertorio alguem compare-o.

Seria nosso thema assim tão vario?

Mas mesmo a variedade só varia naquillo que, na practica, seria appenas o detalhe secundario.

51

DISSONNETTO PARA UM QUASI ACADEMICO FALLESCIDO [1764]

Morreu o jornalista que, insistente, queria tanto entrar na Academia. Passou a vida inteira a toda gente dizendo que só isso pretendia. A cada vaga aberta, elle, contente por ver alguem morrendo, repetia na casa uma inscripção, mas delle à frente na fila estava alguem que se premia. Politicos, artistas, cineastas, astrologos e suas amizades, alguem sempre o pretere nessas gastas espheras da feirinha de vaidades. Até que chega o dia em que elle vae… é para o Cemeterio das Saudades, na tumba mais commum! E appenas sae na imprensa uma notinha dos confrades…

52

DISSONNETTO PARA UM NEGRO E UM CEGO [2039]

“As quotas para negros são, no ensigno e mesmo no mercado de trabalho, urgente providencia, em que um menino creado na favella encontra attalho! Si sou o presidente, determino medida immediata nesse falho systema e implanto as quotas! Um destino mais justo eu, que sou afro, agguardo e valho! Portanto, companheiro, não acceito que como opportunista alguem me veja, que alguem lettrado contra o nosso pleito deponha, e que a favor você não seja!”

-- Embora seja branco, eu lhe seria, sem duvida, a favor nisso que almeja, mas só si quota houver na Academia de Lettras para um cego que verseja!

53

DISSONNETTO PARA UM CORTADO QUE CORTOU [2043]

Amigo, era você quem mais podia appresentar meu livro, pois entende do assumpto e viu que minha poesia é boa e, si editada, até que vende. Por isso lhe pedi que recommende a obra: si um poeta me elogia, a critica academica ja tende a achar que minha escripta não é fria.

Quem mais podia appoio dar-me? Quem?

Mas, como ficou longo o seu prefacio, mandou meu editor que alguem passasse-o a limpo, até o tamanho que convem.

“Ah é, me’rmão? Que cara de pau, hem? Pois bem! Então nenhum auctor me venha pedir, que, alem de orelha e de resenha, não faço mais prefacio p’ra ninguem!”

54

DISSONNETTO PARA UMA MENSAGEM DE APPOIO [2045]

Escrevo, caro Glauco, para appenas lhe dar os parabens, pois ninguem tem coragem de se expor ante as hyenas do jeito que você se faz refem. Os outros se repetem nas amenas bobagens, mas seus versos mostram, sem o minimo pudor, aquellas scenas que nunca contariamos a alguem.

Você tem valentia, a gente nota. Vazar tudo em sonnetto o valoriza ainda mais, no olhar de quem lhe pisa no callo da cegueira e faz chacota.

“Bacchana a fé, me’rmão, que você bota! Muitissimo obrigado pela força, mas, mesmo que um amigo por mim torça, mais pode quem me poda e me boycotta…”

55

DISSONNETTO PARA UMA VELHA PERGUNTA [2046]

Accerca do motivo por que escrevo perguntam-me outra vez… Respondo ja: si espero, na cegueira, ser longevo, para mactar o tempo não será. Ganhar dinheiro? Fama? Não me attrevo a dar dessas respostas. Quem as dá até pode ser franco, mas relevo seu nome só na lapide terá.

Escrevo porque, cego, ja não leio. Escrevo porque entendo o que me soa. Si abuso, ao versejar, do nome feio, é para não fallar, na rua, à toa.

Escrevo e não me drogo, nem me macto. Escrevo em primeirissima pessoa. Escrevo porque vivo, e fico grato ao verso, ja que a vida não é boa.

56

Devido a serio trauma que soffri, sahindo à rua, dia desses, quero pedir perdão a todos, mas daqui por deante, a quem chamar, serei sincero: Não topo! Não acceito! Recupero a tal “privacidade”: resolvi ficar em casa! A chance é egual a zero que eu saia, até si ganho um Jaboty! A um hermitão alguem ja me compara! Pensando bem, ao premio eu comparesço, sinão paresceria desappreço por uma estatueta honrosa e rara. Até que reflecti, mesmo: Tomara! Mas, como tal hypothese affastada está, posso dizer que não, que nada me leva, então, na rua a pôr a cara.

57 DISSONNETTO PARA UMA RECUSA IRREFUTAVEL [2151]

DISSONNETTO PARA UMA QUEBRA QUE SE CELEBRA [2280]

A todos communico: agora accabo de ultrapassar a marca que commove qualquer pesquisador, e ja me gabo de não haver quem tanto assim desove! Refiro-me aos sonnettos: que comprove quem queira contestar! Leva no rabo!

Dois mil, duzentos e septenta e nove deixara Belli, em nome do Diabo!

Porem, amor eu tenho à minha pelle.

Assim, sem fazer pacto com o Demo, nem ser temente a Deus, que um Pae não temo, supero aquelle numero do Belli!

Taes numeros não haja quem cancelle! Agora nem me importo si ‘inda chego aos trez, aos quattro mil, pois meu sossego não vem, nem que um milhão de paus eu felle!

58

DISSONNETTO PARA UM VERBETE VIRTUAL [2379]

Ao menos neste poncto está concorde commigo toda a midia: a quantidade, por mais que aos invejosos desaggrade que um cego batta o bellico recorde. Em vez de celebrarem que eu engorde o saldo belliano e nem metade da marca alcance algum outro confrade, só cedem ao desdem, que o beiço morde. “Pascenza!”, é o que diria o proprio Belli. Emquanto a malta ladra, a caravana dos bardos fescenninos salva a pelle e quem nos censurou é quem se damna. Que contra mim algum censor appelle! Que eu faça cem sonnettos por semana o Demo quer. Que um cego se rebelle deseja Deus. Desdenha quem se enganna.

59

DISSONNETTO SOBRE UM POETA MENOR [2864]

Eu posso ser pequeno, mas por fora. Por dentro, sou grandão, ja que tamanho não era documento la no antanho, nem prova coisa alguma, ainda agora. Sou magro, sou franzino, mas melhora bastante o meu conceito quando eu ganho um premio litterario, e nem extranho si o proprio imperador me condecora. Va la que o tal monarcha tenha só um titulo ficticio e que não seja capaz de medalhar a própria avó. Não faço trova, glosa nem pelleja, mas só no madrigal e no rondó meresço mais o bollo que a cereja. Não sou poeta cego, tenha dó! Faltava só quererem que eu não veja!

60

DISSONNETTO SOBRE UMA SAHIDA HONROSA [3038]

Tentei diversas vezes, mas prometto agora a serio, mesmo, e a mim appenas: vou logo apposentar-me e, nas pequenas coisinhas roptineiras, só, me metto. Em publico, mais nada. Algum sonnetto, talvez, ja não milhares ou centenas.

Desistam os que esperam ver-me em scenas pornôs de novo, em cor ou branco e preto!

Completo meus sessenta em vinte e nove de junho, onze passados dos dois mil, e encerro. Ninguem disso me demove!

Jamais, de novo, um transe tão febril! Que posso fazer para que isso prove? Columnas, só as mantenho emquanto o vil metal não me offerescem. Si não chove dinheiro, é que ao poder não fui servil.

61

SONNETTISTAS DE CASA [3086]

Supponha-se um inglez, que compuzesse mil elizabethanos, no rigor do metro, ou que um francez, dos mil auctor no verso alexandrino, em livro os desse. Melhor: um italiano, que enlouquesce e accyma dos de Belli quer compor, tambem petrarchianos, no que for formal, mas fescenninos… Que accontesce?

Por certo elle será considerado, no minimo, um prodigio! Caso esteja privado da visão, é “Bravo!” o brado. Trophéus lhe serão dados de bandeja.

A coisa muda, aqui por este lado, pois, sendo um brazileiro, que verseja à margem do poder e do mercado, milagres não fará, veja ou não veja.

62

VICIOS VITALICIOS [3103]

“Parou por que? Por que parou?”, me indaga o amigo. “Me disseram que você cansou de ser poeta! Mas por que?”

Respondo: Não! Não dá! Paresce praga!

Parei foi de esperar que alguem me traga e leve, em casa e em publico, me dê carona até um estudio de tevê, um palco, um recital… Passei a vaga!

Durante estes dez annos, ja dei chance ao premio, à midia, à critica, ao mercado. Não ha quem de ser trouxa não se canse!

Preciso me valer, olhar meu lado!

Conhesço o meu objecto, o meu alcance! Só dão proveito e fama a appadrinhado mettido a auctor de conto ou de romance!

Mas ser poeta não é premio, é fado!

63

PROMESSAS PREGRESSAS [3107]

No fim do anno passado, um desaffio me fiz: como quem para de fumar, tambem eu vou parar de sonnettar!

Questão só de attitude, orgulho, brio! Si eu mesmo no meu tacco não confio, ninguem no pantheão dará logar a um bardo cujo sujo linguajar succumbe a mero vicio doentio!

“Vou só, por despedida, neste mez final, exaggerar na comelança, sabendo que, em janeiro, entra a excassez e menos gorda fica a minha pança…”

Da boa mesa sempre fui freguez. Então, sem me importar com a ballança, comi e compuz sonnetto… Ora, vocês desculpem, mas ninguem dos dois se cansa!

64

LINGUA QUEIMADA [3143]

Serviram um pastel de Sancta Clara (que é feito, por signal, com muita gemma) no cha da Academia. Si o problema previsse, aquelle velho o recusara. A massa, que é folhada, não lhe para na bocca e se esphacela. Bello thema, flagrar o que um poeta occulte e tema: deixar-se lambuzar por toda a cara!

Migalhas no nariz e até no queixo mixturam-se ao recheio amarellinho que excorre pelos beiços! Que desleixo!

Peor, só si fizesse este ceguinho!

Commigo, não! Jamais me desallinho! Scismado, nos saraus appenas deixo que queijos me offeresçam, com bom vinho!

Não saio, não, por nada, do meu eixo!

65

GRAVE OFFENSA [3519]

Offendeu-se um tal poeta porque é frouxo e alguem lhe apponcta um versinho na selecta: é inseguro, e isso o ammedronta. Mesmo a metrica incorrecta não lhe abballa a cama prompta, si ninguem na midia o veta e é citado alem da compta. Mas o cara vira arara quando a gente se depara com aquelle pé quebrado num sonnetto publicado. Olha torto, ergue o nariz. Tambem victima se diz o editor, puto, ao seu lado, ja que é o cara appadrinhado.

66

MENESTREL SEM ESTRELLA [3544]

Quando eu paro e penso, entendo por que temo um caranguejo: sou de cancer, nome horrendo que é meu signo malfazejo. Si antes pouco estava vendo, eu agora nada vejo. Mas reflicto e comprehendo por que nunca tive ensejo. Septe mil sonnettos faço, quer em livros, quer em zines, e ninguem me cede espaço no mercado nem no Guinness! Si eu nascesse inglez, francez, e estivesse nas vitrines, meu horoscopo talvez desse sorte e um thema aos cines…

67

FILHARADA DAMNADA [3546]

De milhares, mais feliz, sempre algum se sobresae. Mas será que o ja não fiz? Ou ainda sahir vae? Volta e meia, alguem me diz que do genero sou pae, mas os impetos febris não dão tregua a quem se trae. A crear sempre me pilho, como um pae que não tem filho predilecto e a todos ama, até mesmo uns de má fama. Quando faço algum que creio ser bonito, um filho feio choraminga e “Papae!” chama, lamentando-se na lama.

68

SONNETTORRHAGIA RECORRENTE [3992]

Elles fallam do milagre mas não fallam sobre o sancto: o sonnetto era vinagre, hoje é vinho, em todo cantho. Caso um nome se consagre, uma lebre eu ja levanto: si não for o meu, me flagre no semblante qual o expanto. Tudo quanto se practica ou commenta vem da dica mais formal e elementar que estou dando ao sonnettar: Este genero não morre, mas não ha ninguem que exporre tanto, ou tome o meu logar sem bordel nem lupanar.

69

POESIA CONCRETA [4014]

Tem “visualidade” meu poema?

Tem “visibilidade” seu auctor?

Um delles a terá, seja qual for, comtanto que seu thema nada tema. Com olhos livres ver, eis o dilemma: eu posso, si quizer, ver qualquer cor num verbo e, nelle, um verso, ao me suppor poeta e ao me proporem um problema.

“Visivel”? “Visual”? Faz differença a alguem cuja visão não é concreta, si é nitida a palavra de quem pensa?

Hem? Como tal dilemma se interpreta?

Eu vejo com poetica licença.

Eu vejo cada lettra, a curva, a recta, na mente, ora minuscula, ora immensa. Ver tudo, sem ser visto, é ser poeta!

70

QUESTÃO CONTROVERSA [4023]

“Fulano é um polemista!” Quem commenta pretende elogial-o. A mim, comtudo, taes typos não convencem. Não me illudo: “polemica” é só prosa barulhenta. Prefiro crear algo que accrescenta mais numero e valor. Não fico mudo si sou desaffiado, mas me escudo no verso, que perdura e se sustenta. Palavra debattida é folha ao vento, que o tempo annulla e macta: só me attrevo a dal-a por escripto a alguem que enfrento e dar satisfacções a mais não devo. Si vae ou não virar um monumento, si está gravado em baixo, alto relevo, não sei, mas é na pedra que o momento do embatte se eterniza no que escrevo.

71

CADASTRO NACIONAL DOS POETAS JUBILADOS [4115]

“Pessoas” somos, “physicas”, duzentos milhões! É só “juridica” uma empresa!

Pessoa sou, e assim me sento à mesa, palestro e participo dos eventos! Mas fico puto quando alguns jumentos, na hora de pagar-me, manteem presa a grana! Uma pessoa está indefesa, pois, sem “nota fiscal”, perde os proventos!

Peor é quando querem “quebrar galho”

e pedem que um terceiro passe a nota!

Ahi que mais me offendo! Então não valho?

Sou cego e apposentado! Minha quota exijo como gente! Meu trabalho é verso e não commercio de chochota!

Não pago nem recebo si caralho eu chupo, nem si lambo um pé de bota!

72

CADA MACACO NO SEU TACCO [4116]

Tambem me deixa puto alguem que vem pedir que eu participe dum evento fallando de outro auctor, por mais attento que esteja eu aos que a ver commigo teem. Ja muito pelas lettras fará quem fallar sobre si mesmo! Eu me contento si posso interessar quando commento meus proprios versos e elles entreteem! Dos outros, pois, que falle um professor, um critico! O poeta, sendo cego, fará rir si fallar da sua dor! Me chamem para isso, e eu me encarrego de expor-me e à gargalhada alheia expor meu rosto: a ser palhaço não me nego, nem quando, no auditorio, um gozador gargalha si nas rhymas excorrego!

73

TERRITORIO TRANSITORIO [4454]

Si longa for demais a minha estrada, talvez nem haja tempo de voltar.

Si houver, voltar aonde? A qual logar pertenço? Algo acharei, voltando, ou nada? Na duvida, prosigo. Penso, a cada momento, si na vida vou deixar alguma coisa prompta e, quando o par de botas pendurar, si a coisa aggrada.

A vida passa rapido! Me enganno achando que algum plano poderia bollar, pois muda tudo, ao fim dum anno, e exquesço de fazer o que fazia.

Ephemero demais é o ser humano. Melhor, mesmo, é prever uma utopia mensal, ou semanal, cumprindo um plano a cada minutinho do meu dia.

74

CHUTOMETRO ACADEMICO [4466]

Garrett teria dicto que claudica Bocage quanto à metrica e que rhyma, talvez, forçadamente. E quem se estima, pergunto, este ou Garrett? E quem mais fica? Do meu “pornosianismo” uma pudica mineira disse o mesmo e que obra-prima não faço como allego. E se approxima, indago, ella do Almeida, ao dar tal dica?

Mal sabe a professora que claudico só quando quero e forço a rhyma tanto ou menos que Bilac, um caso rico!

Milagres não farei, pois não sou sancto!

Só faço poesia, não critico! Que lesse meu tractado e, tendo expanto com minha perfeição, fechasse o bicco! Mas, ja que criticou, mais me allevanto!

75

PEDIDO REPETIDO [4469]

Tambem você me pede, amigo, que eu escreva de seu livro alguma nota, resenha, orelha… a lista não se exgotta! Prefacio, até postfacio, lhe occorreu! Desculpe si estou cego e si este breu me impede de attender, pois quem adopta a machina fallante tem a quota bem curta e largo tempo ja perdeu! Si até recuso a amigo mais chegado, não posso, assim, abrir um precedente, e creio que você me entende o lado! Lhe peço que insistir, então, nem tente! Espero que você tenha sacado. Desejo-lhe successo, amigo, e crente esteja de que, emquanto me degrado no breu, você, enxergando, está contente!

76

SUPPLICA POSTHUMA [4694]

Parodia, então, me occorre. Penso em quem? Na musica do Nelson Cavaquinho.

Diz elle que é melhor ter o carinho dos outros ‘inda em vida, e razão tem. Por isso, tambem digo: caso alguem fazer por mim deseje, seu pezinho me deixe tactear agora! O vinho me sirva ja! Commigo brinde! Eu, hem?

Depois de morto, quero uma esculptura de grego pé no tumulo! Aggradesço que pisem no caixão, da cara à altura, pois creio que sou digno desse appreço!

Assim terá meu quadro uma moldura! Mas vale, mesmo, obter o que meresço ainda vivo, o Nelson assegura! Eu peço um pé de carne, não de gesso!

77

SIGNA DIONYSIACA [4906]

“Poeta não se inspira! Elle transspira!” A phrase não é nova: ja foi dicta de muitos modos. Numeros, os cita quem falla em porcentagens para a lyra. Noventa, ou mais, por cento: ha quem confira assim o grau de exforço. Em dez limita o grau de “inspiração”. Portanto, evita suppor que baixe um demo em quem delira. Eu fico dividido na questão, que deve ser polemica divina. Me sinto um apollineo porque opina meu lado racional, mas não sou tão. Nem sempre o raciocinio predomina, porem: quando o commando é do tesão, à sanha subordina-se a razão e a signa subordina a disciplina.

78

NINA, A POETIZA FESCENNINA [4969]

Mulher na Academia? Está na hora, collegas, de pensarmos nisso… E quem seria a candidata? Mais ninguem preenche os requisitos? Puxa! E agora? Será que a Nina Nunes não se cora, na posse, ao discursar? Será que vem trajando a roupa certa? Ou virá sem pudor, bumbum grandão, seios de fora?

É muito preoccupante essa maneira maluca, affora os foras que ella dá! Discurso, qual fará? Será que beira o escandalo? Justiça se fará ao ultimo occupante da cadeira? Quem sabe ella se toca e um bafafá evita… Ah, la vem ella! Nina, queira entrar! Quanta elegancia! Acceita cha?

79

IRRESISTIVEL RESISTENCIA [4994]

Paresce recorrente esta questão: Resiste a poesia? Resistente seria a tudo e todos? Ou somente alguns poetas podem ser, ou são? Respondo por um cego que a visão perdeu e revoltou-se: o bardo sente a dor mais dolorosa, o sol mais quente, o amor mais amoroso e o chão mais chão.

Si amar é resistir, resiste a lyra.

Si odeio quem me opprime, ella resiste. Si anxeio ver, resiste quem delira. Quem versos faz nas trevas não desiste.

Real é, mesmo sendo de mentira. Em summa, resistente por ser triste, ou mesmo quando alegre, o bardo tira de lettra a dor, da lagryma faz chiste.

80

SONNETTAR E COÇAR, EIS A QUESTÃO [5077]

De amigos escutei que alguem commenta a minha posição na poesia, dizendo que à exhaustão eu ja teria levado o sonnettismo. Gente attenta! Procede essa attenção, mas, aos sessenta, ainda não parei. Que eu gostaria de ter levado, é claro! Quero, um dia, dizer que o fiz, que nada se accrescenta. Depois de alguns milhares, dez ou vinte, talvez à conclusão chegar eu possa de, emfim, tel-o exgottado, e com requincte, com meu estylo, minha propria bossa. Evito commetter algum accincte. Não creio que, comtudo, nesta grossa e vasta producção, tal chance pincte. Emquanto eu não morrer, mais um me coça.

81

TRAPALHONAS PERSONAS [5254]

No prelo, meu “Raymundo”, de pesquisa, trabalho deu ao mestre que o commenta num lucido postfacio. Penna attenta, João Adolpho Hansen analysa sonnetto por sonnetto, com precisa noção do que o poeta cego tenta dizer. Hansen apponcta donde venta o vento e onde é que cada typo pisa. Achou que minhas rhymas são toantes, talvez por orthographicos detalhes, ainda que eu as faça consoantes. Notou que do palacio de Versalhes meus sujos personagens são distantes: me exempta, caso o livro tenha encalhes. Ao critico direi: “Não te levantes mais contra a minha lyra! Não me malhes!”

82

Oi! Você me remetteu seu trabalho e, aggradescendo, recebi com prazer. Eu tava lendo, tá valendo. Como estou cego e, no breu, ler é um obice tremendo, numa fila ponho o seu texto e, em breve, ouvil-o agendo. Ou alguem para mim lê em voz alta, ou, caso dê, meu fallante micro o faz, sem gastar demais o gaz. Como o micro é muito lento e quem leia, no momento, falta, eu ja nem corro attraz e a preguiça curto, em paz.

83
DISSONNETTO DUM TEXTO SEU E DUM PRETEXTO MEU [5324]

DISSONNETTO DUMA EXQUIVANÇA À COBRANÇA [5325]

Si milhares ja compuz e do vicio só peoro, facilmente se deduz que meus versos não decoro. Quem tem sorte e enxerga a luz ler consegue e em qualquer foro se appresenta. Eu faço jus ao perdão que agora imploro. Si em sarau ou recital não estou presente, tal desvantagem é motivo do sumiço relativo.

Todos levam seu papel annotado, mas, revel, me desculpo e ja me exquivo, mesmo estando, ainda, vivo.

84

DISSONNETTO DUMA CASA QUE NÃO CASA [5358]

Demonstrou-se que dá só bom exemplo a Academia elegendo quem ao pó não retorna e as massas guia. Quem virá? Michel Teló?

Si Coelho entrou, podia!

Si Sarney, Getulio, a avó do Zagallo estão… Enfia!

Mas, no tempo do Machado, não teriam collocado na cadeira um dictador!

Não seria de suppor!

Nem teriam posto, agora, quem a midia condecora como “mago” ou senador!

Decadencia? Só si for!

85

DISSONNETTO DUM ANTIPATHICO MIDIATICO [5409]

Sim! Fallou outra abobrinha o escriptor mais premiado. Si é tolice o que escrevinha, mais bobagem tem fallado. Não será, jamais, a minha editora a que tem dado chance a typos dessa linha asneirenta no mercado. Mais fuleira a minha praia é, mas nunca levo vaia por ter dicto tal besteira la dos livros numa feira.

Ser vaiado, é claro, eu posso, mas é sempre porque engrosso, pois sou flor que não se cheira. Esnobar-me ninguem queira!

86

EM PENTA PINCTA A PONCTA [5555]

Scarlatti fez quinhentas e cincoenta e cinco sonatinhas para cravo.

Eu quero a mesma marca, mas aggravo o exforço, si addiciono mais um penta. São cinco, cinco, cinco, cinco! Aguenta alguem tanto algarismo? Eu, cego, travo combatte em dissonnetto, o bruto e bravo conflicto, desde os nove dos noventa.

Foi, quando comecei, aos poucos, quasi utopico, impossivel, tal recorde. Agora superei aquella phase, mas faltam muitos ponctos que eu abborde. Relogios haverá que eu não attraze? Missão cumprida? Resta que eu engorde ainda mais de dados esta base?

Não creio. Como Milton, clamo: “Oh, Lord!”

87

MAIS UMAS LINHAS [5556]

Dois mil e doze, maio. Eis que decido pôr fim ao sonnetismo. Zeus não quiz, de modo que, feliz ou infeliz, terei que proseguir, está assumido. Mas, para não dizer que foi torcido meu braço, usar irei de taes ardis que poucos notarão o que é que eu fiz naquillo que sonnetto tinha sido.

Vejamos. Bastaria acceitar mais dois versos no total, e bem que posso chamar de dissonnetto o bello troço que mede em dezeseis os actuaes.

Fugir ao sonnettismo? Não, jamais! Porem, quattro quartettos dão ao nosso projecto um molde estrophico que endosso à guisa de futuros carnavaes.

88

PENNIPOTENTE MITHRIDATISMO [5559]

Bobagem! Invejoso, eu? Imagine! Inveja nunca tenho, de ninguem!

Mas, para ser veraz, pensando bem, só tenho da Renata Pallottini… Talvez do Antonio Cicero, tambem, a ter uma ponctinha até me incline, pois, desde os velhos tempos de fanzine, eu ja me questionava: Quem não tem?

Qualquer auctor que entrar p’ra Academia Paulista ou Brazileira me provoca inveja, mas benefica, si, em troca, fé faço que tal vaga lhe cabia.

Rancor só sinto quando se colloca la dentro algum politico que allia vaidade e incompetencia à villania. Cadeira de immortal não é baldroca!

89

CANONYMO [5698]

Nem fama nem proveito me dá gozo, mas acham que do canone eu à beira estou. Tantos eus lyricos vaidoso me deixam, mas não fede isso, nem cheira. Fallar em heteronymos, famoso não fico por ser Pedro nem Ferreira, mas desde que excolhi Glauco Mattoso não viro Zé da Sylva alli na feira. Fui Pedra-Ferro, Pedro, o Podre e fui até Padre Feijó, xará dum Sade. Ja Pedro Ulysses Campos faculdade de lettras deu a tudo o que me inclue. Ganhou identidade quem foi mui satyrico ou pornographo, mas ha de surgir quem me pesquise e que se enfade dos rotulos, si generis fui sui.

90

POLEMICO ACADEMICO [5756]

Fui eleito, em Canindé, para a ACLAME e se commenta que guardado um logar é meu na Casa dos Quarenta. Para os cegos quota até ter devia na agourenta ABL e até do Zé a cadeira bem me assenta. Mais polemico um ceguinho é que muito maldictão. Os poemas que escrevinho causariam sensação. Conformado, meu caminho desviou do pantheão. Mas prefiro beber vinho do que cha, numa sessão.

91

MISCELLANEA IRRESIDENTE [6010]

A gente meio nomade é na vida. Bastava eu ter ficado, certo dia, no Rio, e meu conceito outro seria. Mas sempre nós estamos de partida. Partimos porque a vida nos convida a novos ares, como quem confia no tacco, procurar. A poesia nos leva ao Pão de Assucar, suicida.

Morei por pouco tempo la. Fatal foi ter voltado a Sampa, porque aqui é sempre um escriptor tractado mal. Ganhei alguma chance e um Jaboty.

Porem maior valor, na capital, teria um justo premio ao que escrevi. Foi algo que perdi, mas não faz mal. Amigos eu conservo por alli.

92

IRONICA CHRONICA (2) [6512]

Enquete do CORREIO BRAZILIENSE listou auctores vivos mais quotados por gente de respeito nestes lados e, nesse ranking, Glauco, você vence! Ainda que em seu nome ninguem pense nos circulos de elite entre lettrados, você foi vinte e seis quando taes dados comptaram-se! Isso, Glauco, me convence! Si fossemos formar academia que tenha appenas trinta, até quarenta cadeiras preenchidas, não se ausenta Mattoso dessa lista! Quem diria?

À frente está você da maioria dos celebres! Você ja se contenta com isso? Por que, então, Glaucão, não tenta entrar na Academia? Sim! Não ria!

93

O XIZ DA QUESTÃO DO XIZ [6673]

O premio Nobel uma poetiza ganhou, americana: “poetess” é! A turma, por aqui, não usa, até se exquesce da palavra que se visa! Insistem que é “poeta” quem reprisa a lyra da Francisca, da Zabé, da Gilka, da Chiquinha! Botam fé nas modas idiotas, sem pesquisa!

Si querem “egualar”, de “presidente”, ahi, sim, chamar devem a mulher que queira governar e seu mester refere, em portuguez, correctamente! Mas quando tem a lingua differente palavra feminina, quem quizer usar a masculina causa “affair” inutil, Glauco! O motte irrita a gente!

94

PREMIO CAMÕES [6752]

Foi Victor Aguiar e Sylva quem ganhou o premio maximo da nossa amada lingua. Dizem, não endossa a nova orthographia. Faz mui bem! Mas “Vítor” elle assigna, veja, alem de “Silva”! Concordar haja quem possa! Depois elles não querem que da troça ser victimas consigam! Graça tem!

Você, que assigna Sylva no civil, Mattoso seu pseudonymo bem cria com duplo “T”! Portanto, orthographia defende, coherente, no Brazil!

Por isso o não premiam! Ser subtil jamais foi o seu forte, Glauco! Um dia alguem perceberá que poesia tambem pode ser these, ‘inda que vil!

95

DESPEITO DO DEFEITO [6842]

Não gosto de ver gente empoderada, ainda mais um cego, Glauco! Porra!

Nem posso supportar que elle concorra a premios litterarios! Não, qual nada! Eu, sendo um escriptor de nomeada, espero-me immortal depois que morra!

Magina a Academia, a puta zorra que fica si, entre cegos, entrar cada!

Não dá para acceitar! Quem advaccalha assim as lettras perde meu respeito! Um cego menestrel eu não acceito!

Talvez um cantador, ou o que o valha!

Você, Glauco, não passa de gentalha da lyra! Si se fode, eu me deleito! Tomara que seu tragico defeito jamais se immortalize pela malha!

96

MADRIGAL RESIDENCIAL [7739]

Bastava eu ter ficado, certo dia, no Rio, e meu conceito outro seria.

Morei por pouco tempo la. Fatal foi ter voltado a Sampa, porque aqui é sempre um escriptor tractado mal. Ganhei alguma chance e um Jaboty, porem maior valor, na capital, teria um justo premio ao que escrevi.

97

MADRIGAL ASTRAL (1/2) [7764]

Actriz famosa, é linda, mas precisa ainda se passar por poetiza.

(1)

Não basta estar na midia? Necessita a viva diva entrar p’ra Academia? Não seja, então, por isso: alguem lhe edita um livro de poemas que, do dia p’ra noite, faz successo. Eis que a bonita auctora ganha a vaga que queria!

(2)

Com isso, a poetiza que teria direito mais legitimo está fora. Explica-se: esta é feia, para thia ficou… E quem prefere uma senhora à joven cortezan que se premia sozinha e por si só se condecora?

98

MADRIGAL DESCEREMONIAL (1/2) [7807]

Na nossa Academia são quarenta os membros. Trinta e nove, pois mal senta um “novo”, outro levanta e ja se ausenta.

(1)

Em video registraram a lambança que fez um “immortal” da Academia na hora do chazinho: elle comia enchendo mais os dedos do que a pança! Brioches, brevidades… Não se cansa emquanto sua gula não sacia, farellos derramando da macia fatia que nos labios lhe ballança! Gagás, outros auctores tambem comem aos trancos e barrancos, num assommo, babando e lambuzando os beiços, como aquelle porcalhão, de lettras homem! Trajados de fardão, nem o rei Momo lhes rouba o carnaval! Como consomem! Que gula! Que banquete! Elles que tomem seu cha com bollo! O amargo pomo eu como!

99

A lenha, às vezes, desço, e com razão, na nossa Academia, mas não é por ella ser a casa dos que estão morrendo, mas não morrem… bons, até! Desdenho é dos penetras, que só dão “ibope” na politica e o bonné não pedem quando perdem eleição. Nos outros, como auctores, boto fé! Collegas, desde sempre, os considero, assim como qualquer homem lettrado, e tenho mesmo, para ser sincero, vontade de sentar delles ao lado. Em termos de cha faço, caso eleito, questão de tudo estar do meu aggrado: geléa nas torradas eu acceito, alem do biscoitinho ammanteigado!

100 (2)

MANIFESTO QUOTISTA [7882]

Tem quota para tudo no momento. Os negros conseguiram achar uma nas universidades. A contento conseguem outra quando vaga arrhuma alguem num gabinete. Dez por cento de gays, na sociedade, teem alguma funcção remunerada. Mais augmento consegue de salario quem não fuma, ainda mais mulher si for. Detento que varias engravida, caso assuma um cargo na prisão, engulo e aguento mais essa. Cadeirante, até, vae numa qualquer repartição ter seu sustento. O cego, não! Nem quando elle perfuma seu cu, na Academia tem assento! Calcule então aquelle que se estruma!

101

MANIFESTO CONTINUISTA [7897]

Parar accreditei eu que podia, diversas vezes. Nunca, porem, pude. Sonnettos, foram muitos, mas, um dia, cansei de sonnettar. Alguem se illude achando que eu, com isso, pararia tal como si dum vicio que a sahude destrua, a gente excappe, em alforria? Só fica nesse molde quem não mude! Alem do mais, a midia nos premia com tanto besteirol de magnitude local e nacional, até diria eu internacional, que juventude poetica recobro para, via de regra em decasyllabo, ser rude e rispido, ou, por meio de ironia, costumes castigar, caso me adjude a mystica presença de quem ia morrendo, mas não morre, pois tem grude na terra a lyra chula de quem chia.

102

MANIFESTO EGOISTA (1/2) [7927]

(1)

“Explico-me: quem gosta de mim sou eu, Glauco! Mais ninguem! De accordo, ou não? Você tambem crê nisso, Glauco! Certo? Então! Si dependesse só de mim, justiça me fariam! Eu teria ganhado tantos premios, Glauco, puxa! Meu livro quem lê fica a perguntar por que razão não ganho um Jaboty, Nobel, ou Oceanos! E você? Tambem ja se sentiu injustiçado? Mas vamos e venhamos! Muito mais injusto foi aquillo que commigo fizeram! Com você nem fazem tanto, pois sentem até pena dum ceguinho!”

(2)

-- Não, pena acho que sempre me faltou. Mas premios não dependem dos que são bomzinhos ou amigos. Sou aberto a criticas, mas nunca foi assim a coisa. Não criticam poesia, criticam a cegueira, fria ducha me jogam. Não toleram que este azar eu possa superar. Mas, quanto a ti, escreves bem, teu livro ninguem lê sem bellos commentarios. Desaggrado tu causas mais por tuas pessoaes acções e reacções. Não te maldigo, appenas te suggiro que em teu cantho mais quieto fiques. Menos borborinho.

103

“LOSER” DAS LUZES (1/2) [8000]

(1)

Ter dado a cara a tapa sempre foi meu vicio na cegueira. Desta vez tentei à Academia Brazileira de Lettras pertencer, ser immortal. Um “loser” assumido não iria perder sinão por trinta e nove a zero. Assim suppuz, e voto nenhum tive, de facto, o que renova a velha teima. Não sinto, pois, nenhum constrangimento de expor-me a tal ridiculo e fazel-o de novo certamente vou, emquanto viver e, alguem morrendo, abrir-se vaga.

(2)

Não tenho muito tempo, pois sou boi ja rhumo ao mactadouro e sou freguez dos males da velhice, de maneira que posso me arriscar sem pejo a tal vexame de perder. Na Academia Paulista meu assento tambem quero, pois, quanto mais um cego bruxo vive, mais “ultimos cartuchos” elle queima. Tão logo aberto o posto, outra vez tento entrar, quebrar daquelle espaço o gelo. Ao menos dizer posso que em meu cantho não fico, só no assento de quem caga.

104

DISCURSO SEM CONCURSO (1/2) [8059]

(1)

Surpresa nunca, para ser sincero, causei quando deixei de mencionar o meu antecessor na cobiçada cadeira, até porque não discursei, ou seja, nem tomei posse no dicto assento. Por signal, siquer eu fora eleito, ou antes, nunca concorri. Jamais seria, assim, uma surpresa aquella assignalavel ommissão.

(2)

Por outro lado, disto tambem quero fallar: Não lhes paresce singular que eu seja boycottado sempre em cada discurso ou premio, como cego ou gay? Motivo não lhes falta, si maldicto sou, seja para a critica censora ou para alguma justa gloria, aqui em vida, antes que façam a defesa da minha fama à beira do caixão.

105

ODE AO PODIO (1/11) [8157]

(1)

Segundo logar? Nada representa! Primeiro elle é dos ultimos, dizia um desses campeões quaesquer, um penta.

(2)

Não era a phrase olympica, na fria e logica noção de quem compete com azes. Competir, porem, urgia!

(3)

Si a um “second to none” urge que se vete qualquer “fair play” na vida, que se pode dizer de quem terceiro é na manchette?

(4)

Nas lettras ou no esporte, faz bigode, cabello e barba alguem que premios ganha. Quem bronze receber é quem se fode.

(5)

Até no Jaboty não é tamanha a fama do terceiro, muito embora estar entre dez fosse uma façanha.

(6)

Eu mesmo fui terceiro, ja: de fora fiquei até da photo. Nem carona na volta descollei àquella hora.

(7)

Serviu-me de licção. Quem ambiciona trophéus e para titulos, só, liga accaba accommodado na poltrona.

106

(8)

Agora dou banana, faço figa e fujo de concursos. Sei que venço aquelles em que ponctos nem consiga.

(9)

Nem sempre a toda gloria sou infenso, comtudo, pois honrou-me esse diploma que, em quinze, recebi dum clube immenso.

(10)

Sou membro, ja, da ACLAME, que me somma aos bardos nordestinos, pois pertence aos quadros della alguem que me renoma.

(11)

Naquelle pantheão canindeense não sou primus nem tertius, mas me assenta tal posto ao sol em solo cearense.

107

ODE AUTOPROCLAMADA (1/9) [8164]

(1)

Ser autoproclamado presidente qualquer um pode! Aquillo que eu proclamo tão facil não consegue ser a gente!

(2)

Exemplo: quando quero ser um amo escravo nenhum tenho e chupo o dedo. Si escravo sou, me frustro e em nada mammo.

(3)

Si excolho um nobre titulo e concedo a mim mesmo a medalha de Marquez, dirão que outro “Divino” o foi, mais cedo.

(4)

Si, desde que honraria ninguem fez ao cego sonnettista, eu mesmo a faço, dirão que esperar devo a minha vez.

(5)

Si canone, no metro ou no compasso da lyra, reivindico, um despeitado qualquer no pantheão me barra o passo.

(6)

Si vaga a Academia tem barrado aos cegos e pretendo uma cadeira, me poda da eleição o resultado.

(7)

Recorde sonnettista, caso eu queira no Guinness conseguir, dizer ja vão que a vez não poderá ser brazileira.

108

(8)

Si quero me julgar rei do calão, dizer que, em palavrão, outro ja fode melhor a poesia, logo irão.

(9)

Emfim, si nada disso um cego pode, restar me vae somente que eu sustente que pode este poema aqui ser ode!

109

ODE NEGATIVISTA (1/12) [8168]

(1)

Que sou discriminado, disso sei bastante, mas notei ser, nesta vida, mais mesmo como cego do que gay.

(2)

Me negam, como cego, a merescida cadeira numa casa em que, aos quarenta collegas, incommoda que eu resida.

(3)

Me nega, como cego, o que me assenta, nos canones de historia litteraria, a critica academica, avarenta.

(4)

Me negam, como cego ou como pariah, a minima passagem na calçada tomada pela claque partidaria.

(5)

Me negam, como cego que mais nada espera dos amigos, um convite siquer para a animada churrascada.

(6)

Me negam, como cego, que eu me irrite si meu logar na fila alguem occupa ou quando me degrada alguem de elite.

(7)

Me negam, como cego, na garuppa até dos litterarios festivaes, espaço, si não leio nem com lupa.

110

(8)

Me negam, como cego, que meus ais escute quem prepara anthologia poetica de meros marginaes.

(9)

Me nega, como cego, o que eu queria comer, salgado ou doce, esse doutor que mede minha altinha glycemia.

(10)

Me nega, como cego, um só favor que eu peça, aquelle joven que chulé tem forte e nariz nelle quero pôr.

(11)

Me nega, à minha cega bocca, até quem minhas cervas bebe e mija à bessa, seu proprio mijo… e timido nem é!

(12)

Nos noves fora, appenas interessa que soropositivo não serei. Pudera! Me faltava só mais essa!

111

JURISPRUDENTE PRAGMATISMO (1/4) [8474]

(1)

Agora por qualquer coisa se appella aos foros da Justiça! Pois tambem eu quero recorrer! Para a querella chamei meu defensor e lhe fui bem explicito: um processo contra aquella selecta Academia que me tem de fora, quando eu quero estar é nella!

(2)

Meresço ou não meresço? Então me vem o practico advogado e diz na latta: “Seu Glauco, o senhor nisso não tem nem a minima chancinha! Causa ingrata, a sua! Antipathia ganha quem pleiteia a vaga assim! Imagem chata terá o senhor na midia! Disso alem…”

(3)

Pensando bem, é mesmo: si se tracta de merito, não fica bem cobrar na marra a vaga… Ahi que tal bravata effeito tem contrario! Meu logar accaba apparescendo sem que eu batta nas portas do Poder! Nem liminar compensa requerer! Ninguem me accapta!

(4)

Razão tem meu causidico em fallar sem pappas: “Não, seu Glauco, o senhor mella de vez sua carreira! Seu azar de cego ja não basta? Nada bella é sua fama! Ainda quer queimar o filme totalmente?” Elle revela ter tino: grato estou ao lhe pagar.

112

LEFT BEHIND [8593]

“Hem, Glauco? Fique experto, ouviu? Sinão você será deixado para traz!”

Viviam me dizendo, os taes amigos, que eu fosse experto, ouvisse esses conselhos… Mas sempre fui passado para traz por elles mesmos, todos que editavam revistas, publicavam livros, eram lembrados, premiados, convidados.

Só “visibilidade” é que importava, viviam a dizer. Eu, que enxergava ainda meu restinho, ouvi, calado. Agora, que não vejo nada, tudo ficou mais claro: fico para traz só pelo simples facto de que não conseguem acceitar que possa alguem cegar e escrever versos tidos como à frente de seu tempo, ja, perdido.

113

NOBEL DE LITTERATURA [8608]

Suecos não premiam, hoje em dia, appenas europeus ou esquerdistas mais typicos, direi, “convencionaes”.

Auctores premiados ja são negros, islamicos, mulheres de paizes terceiro-submundistas, immigrantes nos themas, cidadãos refugiados, apatridas ou pariahs, Terra affora.

Seria razoavel que esses doutos e illustres academicos pensassem num cego brazileiro, outsider mesmo?

“Magina!” (amigo meu logo replica)

“Tirando o cavallinho va da chuva! Nem mesmo o Jaboty você ganhou no duro, um primeirão, second to none!

Ganhar, você ganhava algum Lebon, o opposto do Nobel, que bom seria a alguem do seu perfil, Glauco! Não acha?”

Sim, acho. Mas sonhar ninguem prohibe.

114

SAZONADO? [9702]

Não, Glauco! Um premiado não precisa provar, anno por anno, que tem merito capaz de lhe valer outro trophéu! Ganhou seu Jaboty? Seu Oceanos? Ah, pode fazer merda, agora, com totaes direitos, Glauco! Não concorda?

A Ritta Lee ja disse que é gostoso a gente ser famoso para, à bessa, dizer qualquer besteira por ahi!

115
SUMMARIIO [1] IMMERITOCRACIA NA POESIA DISSONNETTO DO BRILHO PELA AUSENCIA [1418]...... 10 DISSONNETTO DAS CHARTAS MARCADAS [1417]......... 11 REUNIÃO DA COMMISSÃO [4154]..................... 12 DISSONNETTO DO GRITO NO GOGÓ [1444]............. 13 AUREA PHASE CRITICA (1/6) [8006]................ 14 CLAUSULA TESTAMENTARIA [5604]................... 16 CERTIFICADO DE CONCLUSÃO (1/3) [8032]........... 17 PARNASO DE AQUEM TUMULO [8554].................. 19 PUDDIM DE PINGA (1) [8786]...................... 20 CONJUNCTO DA OBRA [9118]........................ 22 PREMIO DE DESCONSOLO [9155]..................... 23 [2] IMMENCIONAVEL DESHONROSO DISSONNETTO PREMIADO [0417]..................... 25 PREMIO OBSCURASTRAL [0417-B].................... 26 PREMIO BOCAGE [0417-C].......................... 27 CYBERCONSPIRACIONISMO [0417-D].................. 28 DISSONNETTO RANCOROSO [1013].................... 29 DISSONNETTO DA MALDICÇÃO DO CEGO [1120]......... 30 DISSONNETTO DO DESRESPEITADO EM PUBLICO [1167].. 31 DISSONNETTO DA IMMORTALIDADE MALCHEIROSA [1230] 32 DISSONNETTO DA CRISE DE VALORES [1301].......... 33 DISSONNETTO DA ENTREVISTA PREVISTA [1312]....... 34 DISSONNETTO DOS PARALLELOS, PARA LEL-OS [1358].. 35 DISSONNETTO DA AUTOSUFFICIENCIA SUSTENTADA [1400].. 36 DISSONNETTO DA CONCLUSÃO OBVIA [1402]........... 37 DISSONNETTO DE QUEM FEDE MAIS [1405]............ 38 DISSONNETTO DE QUEM FEDE MENOS [1406]........... 39 DISSONNETTO DO THRONO QUE TEM DONO [1427]....... 40 DISSONNETTO DAS ONDAS E DAS PRAIAS [1428]....... 41 DISSONNETTO DA FIGURINHA CARIMBADA [1460]....... 42 DISSONNETTO DO REPENTE PERMANENTE [1470]........ 43 DISSONNETTO DA MANIA DE MIDIA [1487]............ 44 DISSONNETTO DA VISIVEL CREDIBILIDADE [1488]..... 45 DISSONNETTO DO LABYRINTHO LABORIOSO [1508]...... 46
DISSONNETTO DO DRUMMOND MENOR [1585]............ 47 DISSONNETTO DO DRUMMOND MAIOR [1586]............ 48 DISSONNETTO DA BOLSA SEM BRILHO [1641].......... 49 DISSONNETTO DA DEFESA DE THESE [1643]........... 50 DISSONNETTO DA RECORRENCIA RECORDISTA [1703].... 51 DISSONNETTO PARA UM QUASI ACADEMICO FALLESCIDO [1764] . 52 DISSONNETTO PARA UM NEGRO E UM CEGO [2039]...... 53 DISSONNETTO PARA UM CORTADO QUE CORTOU [2043]... 54 DISSONNETTO PARA UMA MENSAGEM DE APPOIO [2045].. 55 DISSONNETTO PARA UMA VELHA PERGUNTA [2046]...... 56 DISSONNETTO PARA UMA RECUSA IRREFUTAVEL [2151].. 57 DISSONNETTO PARA UMA QUEBRA QUE SE CELEBRA [2280] . 58 DISSONNETTO PARA UM VERBETE VIRTUAL [2379]...... 59 DISSONNETTO SOBRE UM POETA MENOR [2864]......... 60 DISSONNETTO SOBRE UMA SAHIDA HONROSA [3038]..... 61 SONNETTISTAS DE CASA [3086]..................... 62 VICIOS VITALICIOS [3103]........................ 63 PROMESSAS PREGRESSAS [3107]..................... 64 LINGUA QUEIMADA [3143].......................... 65 GRAVE OFFENSA [3519]............................ 66 MENESTREL SEM ESTRELLA [3544]................... 67 FILHARADA DAMNADA [3546]........................ 68 SONNETTORRHAGIA RECORRENTE [3992]............... 69 POESIA CONCRETA [4014].......................... 70 QUESTÃO CONTROVERSA [4023]...................... 71 CADASTRO NACIONAL DOS POETAS JUBILADOS [4115]... 72 CADA MACACO NO SEU TACCO [4116]................. 73 TERRITORIO TRANSITORIO [4454]................... 74 CHUTOMETRO ACADEMICO [4466]..................... 75 PEDIDO REPETIDO [4469].......................... 76 SUPPLICA POSTHUMA [4694]........................ 77 SIGNA DIONYSIACA [4906]......................... 78 NINA, A POETIZA FESCENNINA [4969]............... 79 IRRESISTIVEL RESISTENCIA [4994]................. 80 SONNETTAR E COÇAR, EIS A QUESTÃO [5077]......... 81 TRAPALHONAS PERSONAS [5254]..................... 82 DISSONNETTO DUM TEXTO SEU E DUM PRETEXTO MEU [5324] . 83 DISSONNETTO DUMA EXQUIVANÇA À COBRANÇA [5325]... 84
DISSONNETTO DUMA CASA QUE NÃO CASA [5358]....... 85 DISSONNETTO DUM ANTIPATHICO MIDIATICO [5409].... 86 EM PENTA PINCTA A PONCTA [5555]................. 87 MAIS UMAS LINHAS [5556]......................... 88 PENNIPOTENTE MITHRIDATISMO [5559]............... 89 CANONYMO [5698]................................. 90 POLEMICO ACADEMICO [5756]....................... 91 MISCELLANEA IRRESIDENTE [6010].................. 92 IRONICA CHRONICA (2) [6512]..................... 93 O XIZ DA QUESTÃO DO XIZ [6673].................. 94 PREMIO CAMÕES [6752]............................ 95 DESPEITO DO DEFEITO [6842]...................... 96 MADRIGAL RESIDENCIAL [7739]..................... 97 MADRIGAL ASTRAL (1/2) [7764].................... 98 MADRIGAL DESCEREMONIAL (1/2) [7807]............. 99 MANIFESTO QUOTISTA [7882]...................... 101 MANIFESTO CONTINUISTA [7897]................... 102 MANIFESTO EGOISTA (1/2) [7927]................. 103 “LOSER” DAS LUZES (1/2) [8000]................. 104 DISCURSO SEM CONCURSO (1/2) [8059]............. 105 ODE AO PODIO (1/11) [8157]..................... 106 ODE AUTOPROCLAMADA (1/9) [8164]................ 108 ODE NEGATIVISTA (1/12) [8168].................. 110 JURISPRUDENTE PRAGMATISMO (1/4) [8474]......... 112 LEFT BEHIND [8593]............................. 113 NOBEL DE LITTERATURA [8608].................... 114 SAZONADO? [9702]............................... 115
São Paulo Casa de Ferreiro 2023

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NOBEL DE LITTERATURA [8608]

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pages 115-116

JURISPRUDENTE PRAGMATISMO (1/4) [8474]

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ODE AUTOPROCLAMADA (1/9) [8164]

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ODE AO PODIO (1/11) [8157]

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DISCURSO SEM CONCURSO (1/2) [8059]

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“LOSER” DAS LUZES (1/2) [8000]

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MANIFESTO EGOISTA (1/2) [7927]

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MANIFESTO CONTINUISTA [7897]

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MADRIGAL DESCEREMONIAL (1/2) [7807]

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DESPEITO DO DEFEITO [6842]

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MISCELLANEA IRRESIDENTE [6010]

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CANONYMO [5698]

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MAIS UMAS LINHAS [5556]

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EM PENTA PINCTA A PONCTA [5555]

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TRAPALHONAS PERSONAS [5254]

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SONNETTAR E COÇAR, EIS A QUESTÃO [5077]

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IRRESISTIVEL RESISTENCIA [4994]

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NINA, A POETIZA FESCENNINA [4969]

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SIGNA DIONYSIACA [4906]

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SUPPLICA POSTHUMA [4694]

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PEDIDO REPETIDO [4469]

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CHUTOMETRO ACADEMICO [4466]

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CADA MACACO NO SEU TACCO [4116]

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QUESTÃO CONTROVERSA [4023]

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SONNETTORRHAGIA RECORRENTE [3992]

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LINGUA QUEIMADA [3143]

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PROMESSAS PREGRESSAS [3107]

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VICIOS VITALICIOS [3103]

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SONNETTISTAS DE CASA [3086]

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DISSONNETTO SOBRE UMA SAHIDA HONROSA [3038]

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DISSONNETTO SOBRE UM POETA MENOR [2864]

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DISSONNETTO PARA UM VERBETE VIRTUAL [2379]

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DISSONNETTO PARA UMA QUEBRA QUE SE CELEBRA [2280]

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DISSONNETTO PARA UMA VELHA PERGUNTA [2046]

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DISSONNETTO PARA UMA MENSAGEM DE APPOIO [2045]

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DISSONNETTO PARA UM CORTADO QUE CORTOU [2043]

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DISSONNETTO PARA UM NEGRO E UM CEGO [2039]

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DISSONNETTO PARA UM QUASI ACADEMICO FALLESCIDO [1764]

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DISSONNETTO DA DEFESA DE THESE [1643]

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DISSONNETTO DA BOLSA SEM BRILHO [1641]

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DISSONNETTO DO DRUMMOND MAIOR [1586]

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DISSONNETTO DO DRUMMOND MENOR [1585]

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DISSONNETTO DO LABYRINTHO LABORIOSO [1508]

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DISSONNETTO DA VISIVEL CREDIBILIDADE [1488]

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DISSONNETTO DA MANIA DE MIDIA [1487]

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DISSONNETTO DO THRONO QUE TEM DONO [1427]

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DISSONNETTO DE QUEM FEDE MENOS [1406]

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DISSONNETTO DE QUEM FEDE MAIS [1405]

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DISSONNETTO DA CONCLUSÃO OBVIA [1402]

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DISSONNETTO DA AUTOSUFFICIENCIA SUSTENTADA [1400]

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DISSONNETTO DOS PARALLELOS, PARA LEL-OS [1358]

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DISSONNETTO DA ENTREVISTA PREVISTA [1312]

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DISSONNETTO DA CRISE DE VALORES [1301]

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DISSONNETTO DA IMMORTALIDADE MALCHEIROSA [1230]

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page 33

DISSONNETTO DA MALDICÇÃO DO CEGO [1120]

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page 31

DISSONNETTO PREMIADO [0417]

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page 26

PREMIO DE DESCONSOLO [9155]

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pages 23-24

CONJUNCTO DA OBRA [9118]

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PARNASO DE AQUEM TUMULO [8554]

1min
pages 19-21

CERTIFICADO DE CONCLUSÃO (1/3) [8032]

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pages 17-18

CLAUSULA TESTAMENTARIA [5604]

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pages 16-17

AUREA PHASE CRITICA (1/6) [8006]

0
pages 14-16

DISSONNETTO DO BRILHO PELA AUSENCIA [1418]

2min
pages 10-14

PRIMEIRA PARTE IMMERITOCRACIA NA POESIA

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