O Gênio do Cristianismo

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PREFÁCIO1

Ressurgia a França do caos revolucionário, quando o Gênio do Cristianismo apareceu; todos os elementos da sociedade estavam confusos: a mão terrível que intentara ordená-los, não conseguira ainda seu intento: despotismo e glória não tinham podido criar a ordem. Foi, pois, entre as ruínas dos nossos templos que eu publiquei o Gênio do Cristianismo, chamando a esses templos as pompas do culto e os ministros dos altares. S. Diniz estava deserto: era cedo ainda para que Bonaparte se lembrasse de que havia mister uma sepultura: difícil lhe seria vaticinar o torrão em que a providência lhe destinara. Relíquias de igrejas e mosteiros, que se esboroavam, era o que em toda a parte se via: vaguear por entre essas ruínas era uma espécie de recreio. Se os críticos contemporâneos, os jornais, os panfletos e os livros sonegavam a influência do Gênio do Cristianismo, não me compete a mim dizê-lo; porém, não me tendo eu nunca arrogado influência pessoal, aliando-me sempre nos destinos do meu país na generalidade, sou forçado a reconhecer verdades que ninguém me contesta: julgassem-nas embora sob diversas faces; que elas existiram, isso está evidenciado. A literatura, até certo ponto, adotou o colorido do Gênio do Cristianismo; escritores houve que me honraram imitando frases de René e Atala; e bem assim o púlpito repetiu e repete ainda o que eu disse acerca das cerimônias, missões, e benefícios do cristianismo. Creram-se salvos os fiéis com a aparição de um livro que tão cabalmente quadrava com as suas íntimas disposições: sentia-se sede de fé, avidez de consolações 1  Prefácio do autor à edição francesa de 1828.

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