O Gênio do Cristianismo
linguagem e obras de Roma e Grécia, os solitários da Tebaida e de outros asilos de infelizes, os missionários da China, do Canadá, do Paraguai, e bem assim as ordens militares, geradoras da cavalaria. Antigos usos, pintura de velhos tempos, poesia, romances até, o secreto da vida, tudo fizemos cooperar em nossa causa. Pedimos sorrisos ao berço, e lagrimas à sepultura: umas vezes, estanciamos nas cumeadas do Carmelo e Líbano com o monge maronita; outras, velamos à cabeceira do enfermo com a filha da caridade; aqui, dois esposos americanos nos chamam ao interior dos seus desertos; além, ouvimos gemer a virgem nas solidões do claustro; da glória de Homero e Virgílio compartem Tasso e Milton; às ruinas de Mênfis e Atenas contrapomos as dos monumentos cristãos, aos mausoléus de Ossian as lousas dos nossos cemitérios aldeãos; em S. Diniz, visitamos o cinerário dos reis; e, se o assunto nos manda tratar o dogma da existência de Deus, bastam-nos as provas que nos dão as maravilhas da natureza: finalmente, o nosso fito é abalar o coração do incrédulo, com tudo que pudermos; não nos jactamos, porém, de possuir a vara miraculosa da religião que faz brotar da rocha as águas vivas. Esta obra compõe-se de quatro partes, e cada uma se subdivide em seis livros. A primeira trata dos dogmas e da doutrina. A segunda e terceira encerram a “poética” do cristianismo, ou as alianças desta religião com a poesia, literatura, e artes. A quarta contém o culto, isto é, tudo que diz respeito a cerimônias de igreja, e ao clero secular e regular. Além de que, muitas vezes comparamos os dogmas e doutrina dos outros cultos com dogmas, doutrina, e cultos evangélicos: com o intuito de comprazer a todas as classes de leitores, algumas vezes bosquejamos a parte histórica e mística da religião. Agora que o leitor conhece o plano geral da obra, entremos no exame dos Dogmas e da doutrina, e, para melhor entendermos os mistérios cristãos, analisemos primeiro a natureza das coisas misteriosas.
II Da natureza do mistério As coisas misteriosas são o que há mais belo, grandioso, e doce na existência. Os mais maravilhosos sentimentos são os que nos agitam com certa confusão: pudor, amor casto, amizade virtuosa, rescendem misterioso perfume. Diríeis que os corações amantes com meias palavras se compreendem e se franqueiam. A inocência, santa ignorância, não é per si o mais inefável dos mistérios? Exulta a infância porque tudo
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