O Gênio do Cristianismo

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O Gênio do Cristianismo

dos lábios lhe fluía um rio de luz. Os sete espíritos de Deus, diante dele, como sete lâmpadas cintilavam, e debaixo do seu supedâneo saíam vozes, raios e relâmpagos”.19

IV Da redenção Assim como a Trindade encerra os segredos da ordem metafísica, a redenção encerra as maravilhas do homem, com a história dos seus desígnios e do seu coração. Com que assombro, se nos detivéssemos breve espaço em tais meditações, não veríamos enlaçarem-se aqueles dois mistérios que em seus arcanos escondem as primeiras intenções de Deus, e o sistema do universo! A Trindade confunde a nossa pequenez, deslumbra-nos os sentidos, e afugenta-nos desalentados. Mas a afetuosa redenção, velando-nos de lágrimas os olhos, não nos deixa deslumbrar, e deixa-nos fitá-los, um momento, na cruz. Deste mistério vê-se primeiramente sair a doutrina do pecado original, que explica o homem. Rejeitada esta verdade, identificada à tradição universal, é tudo trevas. Sem a primitiva mácula, como se há de explicar a propensão viciosa de nossa natureza, contrastada por uma voz que nos diz termos sido formados para a virtude? Como explicar-se esta nossa aptidão para a do? E os suores que fecundam um sulco de angústias? E as lágrimas, as tristezas, e as desgraças do justo? E os triunfos e as vitórias impunes do mal? Repito, como, sem a queda primitiva, se há de isto explicar? Por ignorância desta degeneração é que os filósofos da antigüidade desvairaram absurdamente, e inventaram o dogma da reminiscência. A maldição proferida contra Eva, maldição que, todos os dias, se cumpre à nossa vista, é sobeja prova da fatal verdade, que é origem do mistério do resgate. Que coisas não vão aí nesse doer de entranhas, e ao mesmo tempo nas delícias da maternidade! Que misteriosos vaticínios do homem e do seu duplo destino, predito conjuntamente pela dor e pela alegria da mulher parturiente! Não é possível desconhecer os desígnios do Altíssimo, descortinando os dois máximos destinos do homem no padecer maternal, e força é confessar um Deus até na maldição! E, além de tanto, nós vemos aí, cada dia, o filho expiando as culpas do pai, e a repercussão do crime de um mau ir ferir um descendente virtuoso: sobeja prova do 19  Apoc., cap. I e I V.

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