O Gênio do Cristianismo
homens se devem amar, porque assim o digamos, através de Deus, que espiritualiza o seu amor, e só lhes deixa a imortal essência, facultando-lhes a passagem. Mas se a caridade é uma virtude cristã, diretamente emanada do Eterno e do seu Verbo, também é estreita aliança com a natureza. O caráter da verdadeira religião conhece-se nesta contínua harmonia do céu e terra, de Deus e humanidade. As instituições morais e políticas da antigüidade estão, a cada passo, desavindas com os sentimentos da alma. Pelo contrário, sempre em paz com os corações, o cristianismo não requer virtudes abstratas e solitárias, mas virtudes tiradas das nossas precisões, e a todos proveitosas. Colocou a caridade como poço de águas vivas nos desertos da vida. “A caridade é a paciência”, diz o Apóstolo; “é branda, não porfia primazias com outrem; não procede com temeridade, não se ensoberbece. “Não é ambiciosa; não visa a ganâncias; não se irrita, nem julga mal. “Não folga na injustiça; e exulta com a verdade. “Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre”.61
IV Das leis morais ou decálogo É humilhante para o nosso orgulho ver que as máximas da sabedoria humana cabem em poucas páginas. E como, ainda nessas poucas páginas, abundam erros! As leis de Minos e de Licurgo ficaram em pé, após a queda das nações para quem foram eretas, como pirâmides dos desertos, imortais alcáceres da morte. Leis do segundo Zoroastro O tempo ilimitado e incriado é o criador de tudo. A palavra foi filha dele, e de sua filha nasceu Orsmus, deus do bem, e Arimhan, deus do mal. Invoca o touro celeste, pai da erva e do homem. A obra mais meritória é cada qual lavrar bem seu campo. Ora com pureza de intenção, de ação, e de palavra.62 Ensina o bem e o mal a teu filho em tendo cinco anos.63 61 S. Paul., Ad Corinth., cap. XIII, v. 4 e seg. 62 Zend-Avesta. 63 Xenoph., Cyr.; Plat., De Leg., lib. II.
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